Abdome agudo inflamatório Flashcards
O que é “abdome agudo inflamatório”?
Envolve as afecções intra-abdominais que geram o quadro de peritonite secundária a processo infeccioso ou inflamatório.
Como é a dor do abdome agudo inflamatório?
Caracteriza-se por dor lenta, insidiosa e progressiva no início.
Quais são as causas mais comuns de abdome agudo inflamatório?
Apendicite, colecistite, pancreatite, diverculites agudas.
Qual a principal causa de abdome agudo?
Apendicite aguda.
Apendicite aguda acomete mais quem?
Crianças, adolescentes e adultos jovens.
Apendicite aguda tem diagnóstico tardio em quais faixa etárias?
< 4 anos e > 80 anos.
Apendicite aguda - Fisiopatologia
Decorre de obstrução da luz apendicular por: fecálito, tecidos linfoides hiperplásicos, aderência, corpo estranho, cálculos, tumor ou parasitas.
- Após obstrução (inicia fase hiperêmica) há proliferação bacteriana (principais são: E. coli e B. fragilis) e produção de secreção que se acumula, gerando aumento da pressão intraluminal e edema da parede (fase edematosa), o q ocasiona inicialmente estímulo visceral -> como o apêndice é inervado por nervos aferentes de T8 a 10, a dor se inicia na região epigástrica ou periumbilical. Com o passar do tempo (24h-48h), a secreção persistente, estase e aumento da pressão intraluminal, o edema atinge a serosa (fase fibrinoide), levando à diminuição da drenagem linfática (fase flegmonosa -> secreção purulenta), e posteriormente, obstrução venosa e arterial, com consequente isquemia (fase gangrenosa) -> iniciando a dor parietal (por acometimento da serosa), com dor localizada em FID (ou outro local que esteja o apêndice), podendo evoluir para necrose e perfuração (> 48h, fase perfurativa) -> e consequentemente abscesso, peritonite.
Quais as fases evolutivas da apendicite aguda?
1- Fase hiperêmica: intraluminal, mucosa.
2- Fase edematosa: secreção persistente, aumento da pressão luminal, edema da parede.
3- Fase fibrinosa: estase, proliferação bacteriana. Extensão até a serosa.
4- Fase flegmonosa: edema, obstrução linfática, ulceração da mucosa. Secreção purulenta no lúmen.
5- Fase gangrenosa: obstrução venosa e arterial, isquemia.
6- Fase perfurativa.
Apendicite aguda - Como é feito o diagnóstico?
É clínico (história + exame físico).
Qual a história clínica da apendicite aguda?
Dor abdominal inicialmente periumbilical, em cólica, acompanhada de anorexia, náuseas e vômitos, que posteriormente migra pra a FID, passando a caráter contínuo, acompanhada de sinais inflamatórios (como piora da dor à palpação, mobilização, tosse e sinais sistêmicos = taquicardia, estado subfebril ou ausência de febre no início do quadro).
Apendicite aguda - Exame físico
- Tax: normal ou febre baixa.
- Ausculta: ausência ou diminuição de RHA.
- Percussão: dolorosa.
- Palpação: dor e/ou plastrão palpável no ponto de McBurney com DB+.
Onde está localizado o ponto de McBurney?
Terço lateral de uma linha imaginária que vai da espinha ilíaca anterossuperior D até o umbigo.
Cite os sinais propedêuticos da apendicite aguda (11).
Blumberg, rovsing, lennander, summer, lapinski, punho-percussão, dunphy, obturador, psoas, ten horn, aaron.
Sinal de Blumberg?
Descompressão brusca dolorosa após palpação da FID no ponto de McBurney (exclusivamente, NÃO pode ter nos demais quadrantes do abdome).
Sinal de Rovsing?
Dor na FID quando se palpa a FIE, ocasionando retorno gasoso com distensão do ceco.
Sinal de Lennander?
dissociação entre temperatura retal e axilar > 1 ºC.
Sinal de Summer?
Hiperestesia na FID.
Sinal de Lapinski?
Dor à compressão da FID enquanto se solicita ao paciente para elevar o MID.
Sinal de Punho-percussão?
Dor na FID à punho-percussão do calcâneo.
Sinal de Dunphy?
Dor desencadeada pela percussão abdominal ou referida quando se solicita que o paciente tussa.
Sinal do Obturador?
Dor durante a rotação interna (do quadril) passiva da coxa direita flexionada. Irritação retroperitoneal.
Sinal de Psoas?
Dor na flexão ativa da coxa direita contra uma resistência (pcte em decúbito dorsal) ou dor na extensão passiva da coxa direita (pcte deitado em DLE). Irritação retroperitoneal.
Sinal de Ten Horn?
Dor causada pela tração suave do testículo direito.
Sinal de Aaron?
Dor ou desconforto no epigástrio ou região precordial ao se comprimir o ponto de McBurney.
Cite as apresentações clínicas atípicas da apendicite aguda e em qual grupo de pacientes elas surgem
Dispepsia, alteração do hábito intestinal, diarreia, mal-estar generalizado.
- Comum em variações anatômicas do apêndice, imunocomprometidos (HIV, DM, LES, esclerodermia), uso de imunossupressores (corticoide, QT), gestante, mulher em idade fértil.
Cite as variações anatômicas do apêndice.
Retrocecal e retrocólica, subcecal e pélvico, retro-ileal e pré-ileal.
Qual a principal posição anatômica do apêndice?
Retrocecal.
Comprimento e espessura do apêndice?
5-12cm de comprimento; 0,5-1,0 cm de espessura.
Quanto tempo não posso esperar para indicar apendicectomia quando clínica sugestiva de apendicite?
Não espere > 24h!
Quais exames complementares posso pedir na apendicite aguda?
- Lab: beta-HCG, EAS (hematúria ou piúria pode ter na apendicite), hmg (leucocitose > 10.000 com DE), PCR (elevada).
- Exames de imagem: TC é o de escolha. Outros: US de abdome, RNM, RX de abdome, videolaparoscopia.
Qual é o melhor exame de imagem para diagnóstico de apendicite aguda?
TC de abdome.
Vantagens da TC de abdome para apendicite aguda?
Sensibilidade e especificidade boas, auxilia em outros diagnósticos, diminui internações e apendicectomias desnecessárias, diagnóstico precoce em idosos.
Desvantagens da TC de abdome para apendicite aguda?
Radiação, demora (quando usado contraste oral), nefropatia ou reação alérgica ao contraste EV.
Para que é usado o escore de alvarado?
Triagem para identificar paciente com alto risco de apendicite aguda, para prosseguir com avaliação radiológica s/n (TC).
Parâmetros do escore de alvarado?
MANT2REL2S: migration of pain, anorexia, nausea/vomiting, tenderness in RLQ (defesa de parede em QID), rebound tenderness (dor à palpação), elevation of temperature, leukocytosis, leftward shift (DE). (1 ponto pra cada, menos os que tem 2 ali).
- TOTAL = 10!
Pontuação final do escore de alvarado e condutas?
- Pontuação < 3: risco muito baixo de apendicite. Observação clínica.
- Pontuação 4-6: indica TC.
- Pontuação ≥ 7: apendicite em 93% dos homens e 78% das mulheres. Indicar apendicectomia.
Para quem é bom US de abdome na investigação de apendicite aguda e pq?
Gestantes e crianças, porque ñ há exposição à radição e criança tem pouco panículo adiposo.
US de abdome tem sensibilidade e especificidade boas p/ apendicite?
Sim, mas não melhor que TC.
Critérios diagnósticos de apendicite pelo US de abdome
Diâmetro > 6 mm, dor à compressão (apêndice ñ é compressível aqui, imóvel), fecálito na luz, líquido peritoneal ao redor.
Dificuldades no US de abdome para apendicite?
apêndice não é visualizado em 25-35% dos exames, ou é visualizado parcialmente. Aí temos que fazer TC.
RNM para apendicite, quando realizar? Vantagem? Desvantagem?
- Indicado quando ñ posso fazer TC e p/ gestante é boa opção (ñ usar contraste de gadolíneo).
- Vantagem: sem radiação.
- Desvantagem: pouco disponível, alto custo, demorado.
Quando pedir RX de abdome para apendicite aguda?
Quando não tenho outros exames disponíveis.
Vantagem e desvantagem do RX de abdome p/ apendicite
É rápido e disponível, mas raramente faz diagnóstico.
Quantas incidências fazer no RX de abdome e pq?
Em 3: abdome AP em pé (vê níveis hidroaéreos e pneumoperitônio) e deitado (mostra as alças intestinais e parede intestinal), e tórax PA em pé (pra ver cúpulas diafragmáticas, se tem pneumoperitônio ou doença torácica).
Quando indico videolaparoscopia para diagnóstico de apendicite aguda?
Obesos, gestantes e em casos de dúvida diagnóstica (mulheres em idade fértil).
Qual conduta terapêutica em caso de diagnóstico duvidoso de apendicite aguda?
Observação clínica, realizar hidratação EV e analgesia.
Qual o tratamento para apendicite aguda?
Apendicectomia é o tratamento definitivo!
Além de hidratação, analgesia, antiemético e ATB pré-operatório.
Qual a incisão clássica p/ apendicectomia? e as outras?
- McBurney = oblíqua. (Clássica)
- Rockey-Davis: transversa, sobre o ponto de McBurney.
- Battle: paramediana, pararretal externa, infraumbilical à direita.
- Mediana: indicada se diagnóstico tardio, presença de plastrão palpável e suspeita de complicações (fístula).
O que fazer se evidenciar apêndice normal no intraoperatório de apendicectomia?
Procurar por divertículo de Meckel, salpingite aguda e doença de Crohn e remover apêndice mesmo normal a todos submetidos à incisão de McBurney ou de Rockey-Davis.
Vantagens da videolaparoscopia para apendicite e p/ quem é preferencial?
Facilita investigação mais ampla e está associada a menor período de internação hospitalar e à recuperação mais rápida, menor dor e infecção de ferida operatória, melhor avaliação da cavidade abdominal. É preferencial em gestantes, obesos, diagnostico indeterminado, peritonite difusa/perfurado.
Qual ATB pré-op p/ apendicite não complicada?
Cefoxitina.
Qual ATB pré-op p/ apendicite complicada?
Ceftriaxona ou ciprofloxacino associado ao metronidazol, ampicilina.
Apendicite hiperplásica - definição e evolução
- É um tipo peculiar de apendicite que ocorre em 7% dos casos.
- Tempo de evolução é mais longo (5-10 dias), ritmo intestinal mantido e sinais de irritação peritoneal são bem localizados e pouco intensos. Há massa palpável na FID.
Apendicite hiperplásica - pq ocorre?
O apêndice se torna intensamente bloqueado pelo epíplon, com alças do delgado próximas e o peritônio parietal formando uma massa tumoral
Apendicite hiperplásica - tto
Antibioticoterapia e observação clínica.
Diverticulose, doença diverticular e diverticulite - Definição
- Diverticulose: presença de divertículos, assintomáticos.
- Doença diverticular: presença de divertículos (diverticulose) com sintomas associados. Sua principal complicação é a diverticulite.
- Diverticulite: processo inflamatório/infeccioso relacionado aos divertículos.
Divertículos: verdadeiros/falsos, congênitos/adquiridos?
- Verdadeiros: tem todas as camadas.
- Falsos: não tem todas as camadas.
- Congênitos: presentes desde o nascimento.
- Adquiridos: surgem ao longo da vida.
Em que local do intestino não surgem divertículos e pq?
Reto. Pois não tem tênias ali, e por diferença na conformação dos vasos.
Os divertículos de cólon são verd/falsos? Cong/adquiridos?
Falsos e adquiridos.
Fisiopatologia dos divertículos
O cólon tem movimentos peristálticos (suave) e movimentos de massa (contração forte e em segmento extenso para empurrar o bolo fecal). Se na hora da contração houver pressão intracólica aumentada, onde houver áreas de fraqueza (onde penetram os vasos retos, por ex) pode haver protusão do tecido com formação de divertículos (podendo entrar fecalitos ali com consequente inflamação). Associado a isso, temos o fator degenerativo envolvido.
Os divertículos são mais prevalentes em que idade? Relação com dieta?
> 75% é em > 80 anos.
- Dieta: pobre em fibras, frutas e vegetais. Rica em carne vermelha, gordura e açúcar. Pois tem constipação e tem mais hipertonia do intestino com formação de divertículos.
Qual a localização mais comum dos divertículos?
Sigmoide (60%).
Forma hipotônica de divertículos: pq? mais comum em quem? complicações? localização?
- Camada muscular delgada e hipotrófica.
- É a forma mais comum, e é mais frequente em idosos (degeneração, musculatura fica mais delgada), mas por ser assintomático geralmente ñ é diagnosticado.
- Complicações: sangramento (devido ao óstio largo).
- Mais presente em cólon direito.
Forma hipertônica de divertículos: pq? mais comum em quem? complicações? localização?
- Camada muscular espessa e hipertrófica.
- Mais comum em jovens, constipados.
- Complicação: diverticulite (óstio estreito, favorece estase de conteúdo ali dentro).
- Mais presente em cólon esquerdo.
Diverticulite - Fisiopatologia
Inicia com a obstrução do divertículo por fecalito, ocorrendo assim abrasão da mucosa do saco diverticular e gerando inflamação e proliferação bacteriana com diminuição do fluxo venoso e isquemia. Com isso, temos a translocação bacteriana, que gera resposta inflamatória local (diverticulite) que pode evoluir, podendo levar à perfuração e peritonite.
Classificação de Hinchey - pra que é usada?
Usada com base na localização de abscessos e extensão do processo infeccioso em diverticulite aguda.
Classificação de Hinchey - Classes
I. Abscesso pericólico (microabscesso).
II. Abscesso à distância (retroperitoneal ou pélvico. Peritonite localizada).
III. Peritonite difusa purulenta.
IV. Peritonite difusa fecal.
*III e IV são abdome agudo (diverticulite aguda).
Diverticulite aguda - Quadro clínico
- Dor abdominal inicialmente difusa que se localiza na FIE,pode irradiar (ex.: região lombar).
- Defesa abdominal.
- Dor à descompressão brusca.
- Formação de massa abdominal.
- Peritonite generalizada (em virtude de perfuração intestinal).
Como é feito o diagnóstico de diverticulite aguda?
Quadro clínico (ñ protelar tto diante história e EF compatível p fazer exames de imagem).
- Lab: Rotina de abdome. Leucocitose leve, pode pedir amilase e lipase (podem estar elevadas), EAS, eletrólitos.
- Exames complementares: TC de abdome e pelve (padrão-ouro), RNM, etc.
Qual o exame padrão-ouro para diagnóstico de diverticulite aguda?
TC de abdome e pelve.