Penal (crime culposo) Flashcards

1
Q

Por que no direito penal tem se preferido utilizar o tempo imprudência ao invés de culpa?

A

No Direito Penal mais contemporâneo não se tem utilizado mais a expressão “culpa”, mas sim o termo imprudência.

Sobre o tema, assim explica Juarez Cirino dos Santos: “O substantivo culpa e o adjetivo culposo são inadequados por várias razões:
1. primeiro, confundem culpa, modalidade subjetiva do tipo, com culpabilidade, elemento do conceito de crime;

  1. segundo, induzem perplexidade no cidadão comum, para o qual crime culposo parece mais grave que crime doloso, ampliando a incompreensão de conceitos jurídicos;
  2. terceiro, o substantivo imprudência e o adjetivo imprudente exprimem a ideia de lesão do dever de cuidado ou do risco permitido com maior precisão do que os correspondentes culpa e culposo.
    (CIRINO DOS SANTOS, J. Direito penal: parte geral. Curitiba: ICPC; Lumen Juris, 2006, p. 165).
How well did you know this?
1
Not at all
2
3
4
5
Perfectly
2
Q

Como pode ser conceituado o crime culposo?

A

Crime culposo é o que se verifica quando o agente, deixando de observar o dever objetivo de cuidado, por negligência, imperícia ou imprudência, realiza voluntariamente uma conduta que produz um resultado naturalístico involuntário, não previsto nem querido, mas objetivamente previsível (culpa inconsciente), ou excepcionalmente previsto e querido, que podia, com a devida atenção, ser evitado (culpa consciente).

Nos dizeres de Cezar Bitencourt, culpa é a inobservância do dever objetivo de cuidado manifestada numa conduta produtora de um resultado não querido, mas objetivamente previsível. Pune-se a conduta mal dirigida, normalmente dirigida a um fim penalmente irrelevante, quase sempre lícito. Assim, o núcleo do tipo de injusto consiste na divergência entre a ação efetivamente praticada e a que devia realmente ter sido realizada, se tivesse sido observado o dever objetivo de cuidado.

How well did you know this?
1
Not at all
2
3
4
5
Perfectly
3
Q

Existe vontade no crime culposo?

A

SIM. A conduta voluntária é um dos elementos do crime culposo. Nesse caso, a vontade está na prática da conduta, e não no resultado naturalístico.

How well did you know this?
1
Not at all
2
3
4
5
Perfectly
4
Q

Quais são as três modalidades de culpa?

A

IMPERÍCIA: é também chamado de CULPA PROFISSIONAL, pois somente pode ser praticada no exercício da arte, ofício ou profissão. Sempre ocorre no âmbito de uma função na qual o agente, em que pese esteja autorizado a desempenhá-la, não possui conhecimentos práticos ou teóricos para fazê-la a contento.

é a falta de capacidade, de conhecimento técnico necessário, habilidade, ou discernimento necessário para a conduta. A imperícia somente pode acontecer no exercício de arte, profissão ou ofício.

A inabilidade para o desempenho de determinada atividade fora do campo profissional ou técnico tem sido considerada, pela jurisprudência brasileira, na modalidade de culpa imprudente ou negligente, conforme o caso, mas não como imperícia.

IMPRUDÊNCIA: imprudência é a prática de uma conduta arriscada ou perigosa e tem caráter comissivo. É a imprevisão ativa, e se caracteriza pela intempestividade, precipitação, insensatez ou imoderação do agente.

Uma característica especial da imprudência é a concomitância da culpa e da ação. Enquanto o agente pratica a ação, vai se desenvolvendo ao mesmo tempo a imprudência. Ou seja, ela se desenvolve de MODO PARALELO À AÇÃO.

NEGLIGÊNCIA: é a displicência no agir, a falta de precaução, a indiferença do autor, que, podendo adotar as cautelas necessárias, não o faz. É o não fazer o que deveria ter ido feito antes da ação descuidada.

Ocorre previamente ao início da conduta.

Ao estabelecer as modalidades de culpa (negligência, imprudência e imperícia), o legislador brasileiro esmerou-se em preciosismos técnicos, que apresentam pouco ou quase nenhum resultado prático. Tanto na imprudência quanto na negligência há inobservância de cuidados recomendados. E a imperícia, por sua vez, não deixa de ser somente uma forma especial de imprudência ou de negligência; por essas razões é que a doutrina e os diplomas legais europeus preferem utilizar a terminologia genérica de “delitos imprudentes”, ignorando as especificações adotadas pelo legislador brasileiro.

How well did you know this?
1
Not at all
2
3
4
5
Perfectly
5
Q

O que é a culpa consciente, com previsão ou ex lascivia?

A

É a que ocorre quando o agente, após prever o resultado objetivamente previsível, realiza a conduta acreditando sinceramente que ele não ocorrerá.

Ou seja, o autor representa a possibilidade de realização do tipo, mas confia na ausência do resultado lesivo, ou porque subestima o perigo, ou porque superestima sua capacidade pessoal, ou porque simplesmente acredita na sorte.

How well did you know this?
1
Not at all
2
3
4
5
Perfectly
6
Q

Qual a diferença entre culpa própria e culpa imprópria?

A
  • Culpa própria é aquela em que o agente não quer ou não assume o risco de produzir o resultado. É a culpa propriamente dita.
  • Culpa imprópria, também conhecida como culpa por extensão ou culpa por equiparação ou por assimilação, é doutrinariamente conhecida como aquela que ocorre nas hipóteses de erro sobre elemento constitutivo do tipo penal ou sobre a existência ou limites de uma causa de justificação. Neste caso, não temos culpa “propriamente dita”, pois o resultado foi obtido dolosamente.

Em todas as hipóteses em que se fala em culpa imprópria existe uma conduta dolosa objetivando a produção de um resultado típico, embora a motivação esteja calcada em erro.

Ela decorre de erro vencível sobre a legitimidade da ação realizada, e é referida pela doutrina mais antiga como erro culposo. Convém, desde logo, esclarecer que essas são terminologias superadas, que não são mais utilizadas no âmbito da mais moderna dogmática jurídico-penal. O abandono tanto do termo culpa imprópria como do termo erro culposo, deve-se, principalmente à sua carência de rigor científico e porque conduzem a equívocos sobre o objeto do erro.

A punição a título culposo é mera questão de política criminal, para mitigar a sanção penal nos casos de erro inescusável.

Nesses termos, a culpa imprópria, culpa por extensão ou assimilação, decorre do erro evitável sobre as causas de justificação e, dependendo do ponto de partida metodológico no estudo da teoria do erro, poderá abranger:

a) o erro vencível sobre os pressupostos objetivos das causas de justificação;
b) o erro evitável sobre os limites da própria excludente da antijuridicidade, nos casos de excesso nas causas de justificação; c) erro evitável sobre a existência de uma causa de justificação.

How well did you know this?
1
Not at all
2
3
4
5
Perfectly
7
Q

O que é a culpa inconsciente, sem previsão ou ex ignorantia?

A

É aquela em que o agente não prevê o resultado objetivamente previsível. Ou seja, o sujeita atua sem se dar conta de que sua conduta é perigosa e que não atende aos cuidados necessários para evitar a produção do resultado típico, por puro desleixo ou desatenção. Ela se caracteriza pela absoluta ausência de nexo psicológico entre o autor e o resultado de sua ação.

How well did you know this?
1
Not at all
2
3
4
5
Perfectly
8
Q

Existe participação culposa em crime doloso ou participação dolosa em crime culposo?

A

NÃO. Agora, aquele que colabora culposamente para a conduta alheia responde por delito culposo, enquanto o autor, que age com consciência e vontade, deve ser imputado um crime doloso.

How well did you know this?
1
Not at all
2
3
4
5
Perfectly
9
Q

Os crimes culposos passaram ser punidos com o advento da escola positiva.

A

CORRETO.

How well did you know this?
1
Not at all
2
3
4
5
Perfectly
10
Q

O resultado é um dos elementos do crime imprudente?

A

SIM. Como regra, todo crime culposo é material, pois exige resultado. Exceção: artigo 38 da Lei de Drogas.

Bitencourt explica que o resultado integra o injusto culposo. Há crime culposo quando o agente não quer e nem assume o risco da produção de um resultado, previsível, mas que mesmo assim ocorre.

Se houver inobservância de um dever de cuidado, mas o resultado não sobrevier, não haverá crime. Assim, a norma de cuidado pode ter sido violada, a conduta pode ter sido temerária, mas, por felicidade, pode não se configurar um delito culposo, por faltar-lhe o resultado, que o tipificaria.

How well did you know this?
1
Not at all
2
3
4
5
Perfectly
11
Q

Existe coautoria em crime imprudente?

A

A doutrina é tranquila ao admitir a coautoria em crimes culposos. Agora, rejeita-se a possibilidade de participação em crimes culposos.

How well did you know this?
1
Not at all
2
3
4
5
Perfectly
12
Q

Um dos elementos mais importantes do crime imprudente é a violação a um dever objetivo de cuidado. O que ela significa?

A

Alguns autores se referem à violação ao dever objetivo de cuidado como o elemento central do crime culposo.

O dever objetivo de cuidado é o comportamento imposto pelo ordenamento jurídico a todas as pessoas, visando regular o convívio social. Tal dever é violado pelo agente com a prática de uma conduta descuidada.

A falta do cuidado objetivo devido é de natureza objetiva. Assim, se analisa se o agente agiu com o cuidado necessário e normalmente exigível. Essa análise, embora objetiva, deve aferir as condições concretas, existentes no momento do fato. Ou seja, no momento de determinar se a conduta do autor se ajusta ao tipo de injusto culposo é necessário indagar, sob a perspectiva ex ante, se no momento da ação ou da omissão era possível, para qualquer pessoa no lugar do autor, identificar o risco proibido e ajustar a conduta ao cuidado devido (cognoscibilidade ou conhecimento do risco proibido e previsibilidade da produção do resultado típico).

How well did you know this?
1
Not at all
2
3
4
5
Perfectly
13
Q

Quais são as espécies de culpa?

A

As espécies de culpa são:

(i) culpa própria e culpa imprópria;
(ii) culpa consciente e culpa inconsciente;
(iii) culpa mediata ou indireta e culpa presumida.

How well did you know this?
1
Not at all
2
3
4
5
Perfectly
14
Q

Quais são as hipóteses em que a culpa é excluída?

A

→ nos casos de caso fortuito ou força maior (são acontecimentos imprevisíveis. Ora, se não há previsibilidade objetiva, não há que se falar em culpa);

→ erro profissional (a culpa pelo resultado não é do agente, mas da ciência);

→ risco tolerado (quanto mais imprescindível for um tipo de comportamento humano, maior será o risco que em relação a ele se deverá enfrentar, sem que disso possa resultar qualquer espécie de reprovação jurídica. Exemplo: médico que realiza cirurgia em doente em estado grave);

→ princípio da confiança (como o dever objetivo de cuidado se dirige a todas as pessoas, pode-se esperar que cada um se comporte de forma prudente e razoável, necessária para a coexistência pacífica em sociedade. Assim, aquele que cumpre as regras jurídicas pode confiar que seu semelhante também agirá daquela forma).

How well did you know this?
1
Not at all
2
3
4
5
Perfectly
15
Q

O que é a culpa mediata ou indireta?

A

Ela se dá quando o sujeito produz o resultado indiretamente a título de culpa. É o caso do sujeito que tortura a vítima, e a solta em via pública. A vítima então corre e é atropelada. O agente responderá pela tortura e pelo homicídio, na forma culposa.

How well did you know this?
1
Not at all
2
3
4
5
Perfectly
16
Q

A culpa é elemento normativo ou subjetivo do tipo?

A

Dentro de uma concepção finalista, a culpa é o elemento NORMATIVO da conduta, pois a sua aferição depende da valoração do caso concreto. Somente após minucioso juízo de valor poderá o interprete afirmar se ela ocorreu ou não.

17
Q

Quais são os elementos do crime imprudente?

A

Os elementos do crime imprudente são:

  1. conduta voluntária - no crime culposo, a vontade do agente é de praticar a conduta, e não de produzir o resultado. Essa conduta, normalmente, é licita;
  2. resultado naturalístico involuntário;
  3. violação de um dever objetivo de cuidado;
  4. nexo causal;
  5. previsibilidade objetiva - é a possibilidade de uma pessoa comum, com inteligência mediana, prever o resultado.
  6. tipicidade.
18
Q

A previsibilidade objetiva é um dos elementos do crime imprudente. Como pode ser explicada?

A

A previsibilidade objetiva é a possibilidade de uma pessoa comum, com inteligência mediana, prever o resultado. É o chamado “homem médio” (standard).

Por ser a culpa o elemento normativo do tipo penal, o magistrado deve valorar a situação, inserindo hipoteticamente o homem médio no lugar do agente no caso concreto. Daí falar-se em previsibilidade objetiva, por levar em conta o fato concreto e um elemento padrão para a sua aferição, e não o agente.

O perfil subjetivo do agente fica reservado ao juízo de culpabilidade, mais especificamente da potencial consciência da ilicitude.

19
Q

Os tipos culposos normalmente são previstos em tipos penais abertos ou fechados?

A

Os crimes culposos, em regra, são previstos por tipos penais abertos, pois a lei não diz expressamente no que consiste o comportamento culposo, reservando tal missão ao magistrado na apreciação da lide.

Nada impede, no entanto, a definição de um crime culposo em tipo penal fechado, como ocorre no crime de receptação culposa.

Em respeito ao MENOR DESVALOR DA CONDUTA, os crimes culposo são apenados de modo mais brando do que os dolosos.

20
Q

Qual a diferença entre imperícia e erro profissional?

A

Erro profissional é o que resulta das falhas das regras científicas. Ou seja, o agente conhece e segue as regras da sua atividade, que por estarem em constante evolução, mostram-se imperfeitas e defasadas para a solução do caso concreto.

Assim, o erro profissional exclui a culpa.

Enquanto na imperícia a falha é do agente, no erro profissional a falha é da ciência.

A imperícia configura a culpa, enquanto que o erro profissional exclui a culpa.

21
Q

Qual a diferença ente culpa consciente e culpa inconsciente?

A
  1. CULPA CONSCIENTE, COM PREVISÃO OU EX LASCIVIA - é a que ocorre quando o agente, após prever o resultado objetivamente previsível, realiza a conduta acreditando sinceramente que ele não ocorrerá. Representa o estágio mais avançado da culpa pois se aproxima do dolo eventual. Mas aqui o agente não quer o resultado, nem assume o risco de produzi-lo.
22
Q

Qual a diferença entre culpa própria e culpa imprópria?

A
  • CULPA PRÓPRIA: é a que se verifica quando o agente não quer o resultado, nem assume o risco de produzi-lo. É a culpa propriamente dita.
  • CULPA IMPRÓPRIA: também chamada de culpa por extensão, por equiparação ou por assimilação, é aquela em que o sujeito, após prever o resultado e desejar sua produção, realiza a conduta por ERRO INESCUSÁVEL QUANTO À ILICITUDE DO FATO.

O agente incide em erro inescusável, inaceitável, injustificável quanto à ilicitude do fato. Supõe uma situação de fato que se existisse, tornaria sua ação legítima. Mas como esse erro poderia ser evitado pelo emprego da prudência, responde a título de culpa.

E diante desse caráter híbrido ou misto da culpa imprópria (dolo tratado como culpa), trata-se da única modalidade de crime culposo que comporta a tentativa.