Medicina do estilo de vida - mudança de comportamento (terminado) Flashcards
Estimativas de carga de doença atribuível a fatores de risco comportamentais (% de DALY) - principal
Tabaco
Estimativas de carga de doença atribuível a fatores de risco comportamentais (% de DALY) - 4 principais, por ordem decrescente de importância
1º tabaco
2º álcool
3º riscos alimentares
4º sedentarismo
O profissional de saúde que procure promover a mudança comportamental deve compreender que: (3)
- existem diferentes tipos de MOTIVAÇÃO
- nem todos os utentes apresentam o mesmo grau de PRONTIDÃO para a mudança
- é desejável que estes comportamentos se perpetuem a longo prazo
A MOTIVAÇÃO autónoma (regulada internamente): (3)
- promove sensações de prazer e satisfação durante a prática
- adesão aos comportamentos necessários mais prolongada
- maior bem-estar psicológico
O profissional de saúde pode recorrer a dois indicadores de PRONTIDÃO: (2)
- importância que o utente atribui à ação
- confiança que o utente sente nos seus recursos para mudar
Motivação - teoria de autodeterminação: compreensão…
compreensão da sustentação dos comportamentos a longo-prazo e princípios-guia para a prática
Motivação - teoria de autodeterminação: maior ênfase…
maior ênfase na capacidade de autorregulação do utente, tendo por base a motivação
Motivação - teoria de autodeterminação: definição de motivação
energia psicológica para a ação → deve ser o mais autónoma possível, e não controlada por pressões quer externas, quer internas
Motivação - teoria de autodeterminação: 2 comportamentos que têm menor probabilidade de serem mantidos ao longo do tempo
comportamentos que são realizados por obediência (pressão externa), ou para evitar sentimentos de culpa ou
desconforto (pressão interna) → menor probabilidade de ser mantidos ao longo do tempo
Motivação - teoria de autodeterminação: comportamento estável e que possa ser mantido a longo prazo
valorização consciente da ação, por parte do indivíduo → que faça parte da forma como o indivíduo se reconhece a si próprio → que seja realizada pelo prazer do desafio do comportamento
Motivação controlada VS motivação autónoma
Motivação controlada:
- “só vou andar porque o meu médico me assustou com a ideia de poder vir a acabar numa mesa de operações”
- “inscrevi-me no ginásio porque me sinto mal comigo e tenho de perder peso para aumentar a minha autoestima e sentir-me apreciado”
Motivação autónoma
- “faço as minhas caminhadas regularmente porque me fazem sentir bem, ágil, e ajudam-me a dormir e respirar melhor; isso é importante para mim”
- “eu costumo caminhar porque sou uma pessoa fisicamente ativa; não me vejo a usar o elevador ou a passar muito tempo sentado”
- “adoro dançar, não só me divirto muito, como posso explorar as minhas capacidades e limites aprendendo novos passos e ritmos”
Motivação controlada
- “só vou andar porque o meu médico me assustou com a ideia de poder vir a acabar numa mesa de operações”
- “inscrevi-me no ginásio porque me sinto mal comigo e tenho de perder peso para aumentar a minha autoestima e sentir-me apreciado”
Motivação autónoma
- “faço as minhas caminhadas regularmente porque me fazem sentir bem, ágil, e ajudam-me a dormir e respirar melhor; isso é importante para mim”
- “eu costumo caminhar porque sou uma pessoa fisicamente ativa; não me vejo a usar o elevador ou a passar muito tempo sentado”
- “adoro dançar, não só me divirto muito, como posso explorar as minhas capacidades e limites aprendendo novos passos e ritmos”
Prontidão - 2 indicadores de prontidão
Importância: passar a fazer atividade física é algo que é valorizado pelo utente?
Confiança: o utente sente confiança na sua capacidade para realizar atividade física?
Indicadores de prontidão - importância: exemplo
passar a fazer atividade física é algo que é valorizado pelo utente?
Indicadores de prontidão - confiança: exemplo
o utente sente confiança na sua capacidade para realizar atividade física?
Indicadores de prontidão - importância: como perguntar?
De 0 a 10, sendo 0 nada e 10 muitíssimo, quão importante é para si passar a fazer atividade física (dar exemplos específicos da atividade a adotar?)
Indicadores de prontidão - confiança: como perguntar?
De 0 a 10, sendo 0 nada e 10 muitíssimo, quão confiante se sente de que conseguirá fazer atividade física (dar exemplos específicos da atividade a adotar?)
Indicadores de prontidão - como explorar a resposta?
Estratégia: identificar expectativas positivas, valorização do comportamento e/ou autoeficácia
- “poderia ter sido mais baixo… disse que o seu nível de confiança/ importância se situa num 7; porquê um 7 e não um 5 ou 4?”
Estratégia: identificar barreiras, desvalorização e/ou falta de confiança
- “poderia ter sido mais alto… disse que o seu nível de confiança/ importância se situa num 3; porquê um 3 e não um 6 ou 7?”
Indicadores de prontidão - como aumentar a prontidão e promover a estruturação de planos de ação?
Estratégia: promover soluções geradas pelo próprio
- “o que acha que seria necessário para que o 3 passasse a ser um 6 ou um 7?”
Estratégia: construir menus de soluções
- “passar um 3 para um 6 pode implicar vários caminhos; quais identificaria?”
Estratégia: encorajar a escolha e oferecer suporte
- “qual dos caminhos que indicou gostaria de tentar primeiro? em que sente que posso ajudar? o que gostaria de saber?”
Em vez de apontar soluções, incentivar o utente…
A ultrapassar a resistência face à mudança:
o ajudar o utente a verbalizar a resistência
o explorar a ambivalência (prós e contras)
o valorizar ambos os lados do balanço decisional
Construir bases para uma…
MOTIVAÇÃO interna de mudança, explorando valores e fundamentos pessoalmente relevantes para aquela ação, numa atmosfera de aceitação e de confiança nos recursos e qualidades que a
pessoa possui
Quando é que se deve avançar com o delinear conjunto de planos de ação concretos?
Apenas quando as questões relativas à IMPORTÂNCIA e CONFIANÇA estão asseguradas se deve avançar com o delinear conjunto de planos de ação concretos
o erro frequente: desvalorizar sinais de resistência e assumir um estado de prontidão para a mudança superior aquele que o utente tem → inicia-se muito cedo a implementação dos objetivos
O papel do profissional de saúde passa sobretudo por:
o facilitar o desenvolvimento de capacidades e competências de autorregulação no utente
o promover mudanças informadas e consentidas, desencadeadas internamente, consideradas e refletidas
O profissional de saúde é um facilitador do processo de decisão:
o promove o autoconhecimento dos padrões comportamentais típicos e das suas limitações e dificuldades
o ajuda a avaliar os prós e contras de cada decisão
o abandona um papel mais diretivo e passa a assumir um papel mais consultivo
o promove sistematicamente a exploração da motivação e a resolução de ambivalências, sem recorrer ao uso excessivo da persuasão
Entrevista motivacional - competências comunicacionais (4)
- Fazer perguntas abertas
- Afirmar
- Refletir
- Resumir
Entrevista motivacional - competências comunicacionais: fazer perguntas abertas
- permitem a reflexão e elaboração, por parte do utente, fortalecendo a relação de colaboração
- Exemplo: “Fale-me de como tem sido a sua prática de atividade física” vs “Tem feito atividade física?” →
pergunta fechada que evoca um sim/não sem grande possibilidade de exploração/reflexão
Entrevista motivacional - competências comunicacionais: afirmar
- reforço dos recursos do utente que facilitam o processo de mudança comportamental
- implica a expressão de valorização pelas ações do utente durante o processo, promovendo a autoeficácia
do mesmo - Exemplo: “Foi realmente uma semana muito positiva em que investiu na prática de atividade física” vs
“Excelente trabalho na manutenção dos registos desta semana”
Entrevista motivacional - competências comunicacionais: refletir
- permite ao profissional de saúde verificar que compreendeu o quadro de referência do utente
- esta reflexão não é interpretativa, assume o efeito de um espelho, devolvendo a imagem que é dada
- ao refletir demonstra interesse, que ouviu realmente o que foi dito e reforça a empatia e confiança
- Exemplo: “Foi uma semana complicada para si” (no final de uma interação em que o utente expõe que
teve dificuldades em manter-se fisicamente ativo pois teve de trabalhar muito e fazer horas extra)
Entrevista motivacional - competências comunicacionais: resumir
- devolução das verbalizações do utente com o objetivo de realizar um ponto de situação
- permite que o mesmo possa completar ou corrigir, caso seja necessário
- permite confirmar a compreensão do quadro de referência do utente, sendo útil como encerramento
- Exemplo: “Está então a atravessar um período de maior cansaço e desmotivação e sente que não tem energia para sair de casa e ir caminhar ou andar de bicicleta como costumava fazer”
3 grupos de fases de mudança
Intenção
- pré-contemplação
- contemplação
- preparação
Ação
- preparação
- ação
Manutenção
- ação
- manutenção
Alvos de intervenção preferenciais nas fases de mudança: intenção (pré-contemplação, contemplação e preparação)
Conhecimento da doença, risco de saúde, suscetibilidade, benefícios, atitudes, controlo pessoal, normal social
Quantidade da motivação +-
Alvos de intervenção preferenciais nas fases de mudança: ação (preparação/ ação)
Planeamento, autoeficácia, confiança, prós e contras (balanço decisional), apoio social, competências práticas, barreiras…
Experimentar, variar, testar-se, conhecer-se
Alvos de intervenção preferenciais nas fases de mudança: manutenção (ação/ manutenção)
Autonomia, significado, valores, autoimagem, autorregulação, motivação intrínseca, objetivos de vida…
Qualidade da motivação
3 fases inativas da mudança
Pré-contemplação
Contemplação
Preparação
2 fases ativas da mudança
Ação
Manutenção
Fases inativas da mudança - pré-contemplação
Não está a pensar iniciar a mudança de comportamento
Fases inativas da mudança - contemplação
Pretende iniciar a mudança de comportamento dentro de 6 meses
Fases inativas da mudança - preparação
Pretende iniciar a mudança de comportamento nos próximos 30 dias
Fases ativas da mudança - ação
Está a praticar a mudança de comportamento há menos de 6 meses
Fases ativas da mudança - manutenção
Está a praticar a mudança de comportamento há mais de 6 meses
Lidar a ambivalência (2)
Avaliar a prontidão para a mudança
e
Técnicas comunicacionais que ajudam a aumentar a motivação
Avaliar a prontidão para a mudança
Para ajudar a resolver a ambivalência, deve avaliar-se a prontidão para a mudança, nas suas duas componentes: a importância e a confiança (autoeficácia)
Com esse intuito, use uma escala de 0 a 10
Se a importância atribuída for baixa, trabalhe essa perceção. Pode usar a técnica das questões sobre o resultado obtido na escala de importância:
- “Por que deu um valor baixo à importância que tem para si deixar de fumar?”
- “Em que circunstâncias daria um valor mais elevado?”
Em alternativa, pode utilizar a técnica do balanço decisional entre os prós e os contras de continuar vs. deixar de fumar. Imprima a folha existente no SClínico e peça à pessoa para a preencher. Discuta o resultado. Esta técnica tem maior utilidade nas fases iniciais de construção da prontidão para a mudança, quando a importância atribuída ainda é baixa.
Se o resultado obtido na escala de confiança (autoeficácia) for baixo, pergunte:
- “Por que deu este valor?”
- “O que sente que lhe falta para atribuir um valor mais elevado?”
- “O que gostaria de fazer para se sentir mais capaz de deixar de fumar?”
Ao verbalizar as respostas, a pessoa aumenta a perceção sobre os recursos internos para mudar e de que forma estes podem ser utilizados ou aumentados. Reforce a confiança. Mostre-se otimista e positivo
Técnicas comunicacionais que ajudam a aumentar a motivação
Peça permissão para falar sobre o assunto. Expresse empatia. Evite tentar “endireitar a vida” da pessoa. Não prescreva soluções. Promova a autonomia: é a pessoa que tem de encontrar as suas próprias respostas.
- Coloque perguntas abertas:
- “Fale-me dos seus hábitos tabágicos.”
- “Quando decide fumar, em que circunstâncias o faz?”
Coloque questões que encorajem a pessoa a verbalizar a intenção de deixar de fumar (sinais de mudança). - Reforce ou valide: Faça afirmações positivas e de apreço genuíno sobre os pontos fortes e as capacidades da pessoa. As dificuldades podem ser valorizadas como uma força pessoal. Exemplo:
- “Deve ter uma força interior muito forte para ter conseguido reduzir o número de cigarros.”
Evidencie as discrepâncias entre a situação atual e o desejo de mudar. - Escute de modo reflexivo: Reflita e devolva aquilo que a pessoa está a contar ou a sentir, com o objetivo de aumentar o autoconhecimento. Nesse sentido, ouça ativamente e deixe que a pessoa se exprima.
- Faça resumos: Ajudam a assegurar que o profissional está a compreender a informação que está a ser dada. Também devem evidenciar aquilo que foi percebido de forma menos explícita (ex.: sentimentos)
Lidar com a resistência à mudança (5)
Relevância
Riscos
Recompensas
Resistências
Repetição
Lidar com a resistência à mudança - relevância
Encorajar a pessoa a indicar em que medida deixar de fumar é importante para ela, tentando ser o mais específico possível:
- Em que medida deixar de fumar é importante para si?
- Quais os motivos que o(a) levam a pensar em deixar de fumar?
- Por que razões seria importante para si deixar de fumar agora?
A informação a fornecer pelo profissional de saúde será mais motivacional se for relevante para a pessoa, tendo em conta as respostas a estas questões
Lidar com a resistência à mudança - riscos
Questionar sobre os aspetos “menos bons” do consumo:
- O que sabe sobre os riscos de fumar?
- Pessoalmente, quais desses riscos o(a) preocupam mais?
- O que não lhe agrada quando fuma?
Valorizar e aprofundar os riscos imediatos e a longo prazo identificados pela pessoa
Lidar com a resistência à mudança - recompensas
Pedir à pessoa que identifique os benefícios que deixar de fumar lhe poderá trazer:
- Se parar de fumar, que benefícios sente que poderá ter?
Os principais ganhos podem ser: sentir-se melhor, poupar dinheiro, reduzir os sintomas de doença, ter mais energia, ter um bebé mais saudável, evitar doenças no futuro, não expor outras pessoas ao fumo, etc.
Lidar com a resistência à mudança - resistências
Pedir à pessoa que identifique os obstáculos à decisão de deixar de fumar:
- O que o(a) impede de deixar de fumar?
- Que dificuldades sente que vai enfrentar se parar de fumar?
As principais barreiras podem ser: gostar de fumar, não conseguir lidar com os sintomas de privação, medo de falhar, receio de ganhar peso, sentir-se “em baixo”.
- Há alguma coisa que o(a) possa ajudar a tomar a decisão?
- Existe alguma coisa que o(a) impeça de tomar a decisão?
Se não se obtiver uma decisão de mudança, ou se a decisão for a de continuar a fumar, mostrar compreensão e perguntar:
- Podemos voltar a falar deste assunto? Quando decidir deixar de fumar, estou disponível para o(a) ajudar
Disponibilizar materiais de informação
Lidar com a resistência à mudança - repetição
Em cada novo encontro, explorar a ambivalência e criar nova oportunidade para a pessoa parar de fumar
10 estratégia para a mudança comportamental
- Explorar a ambivalência face à mudança, no sentido de a ultrapassar e ajudar o utente a assumir um
compromisso com a mudança; - Aceder às significações que são dadas à condição clínica e aos comportamentos a ela associados: que formas de
agir, sentir e pensar; - Identificar alvos de ação (Hierarquizar)
- Explorar insucessos e sucessos passados (personalizar)
- Operacionalizar objetivos específicos
- Definir planos de ação
- Ser flexível
- Antecipar problemas
- Identificar possíveis fontes de suporte/ facilitação
- Reforçar os progressos