Síndrome metabólica (terminado) Flashcards
Definição
A Síndrome metabólica é uma designação que não se refere a uma doença específica, mas a uma constelação de fatores de risco de origem metabólica que têm tendência para se agruparem: obesidade central (abdominal), triglicéridos elevados, colesterol HDL baixo, intolerância à glucose e hipertensão
Epidemiologia
A prevalência do SM nos EUA é de aproximadamente 23%1. Nos países europeus as prevalências parecem ser mais reduzidas, identificaram-se prevalências de 9,5% nos homens e 8,9% nas mulheres; revela alguma variação nos componentes entre indivíduos, sobretudo entre diferentes grupos étnicos, no entanto as diferenças geográficas na prevalência da síndrome metabólica podem ser explicadas pelos métodos de avaliação utilizados, mas mais
provavelmente pelos diferentes estilos de vida e comportamentos individuais incluindo os níveis de prática de
atividade física. Relativamente à influência do género na estimativa da frequência da SM, tende a ser mais baixa no
sexo masculino. No entanto, estima-se que, na maioria dos países, entre 20 e 30% da população adulta pode ser
caracterizada como tendo a síndrome metabólica
Em Portugal, numa investigação realizada na cidade do Porto, com uma amostra representativa de 1436 adultos,
tendo em consideração a definição de síndrome metabólico do NCEP-ATPIII, foi identificada uma prevalência de 23,9% (27% nas mulheres e 19,1% nos homens)
Etiologia - fatores desencadeantes
O excesso de gordura corporal, particularmente a gordura que se acumula junto dos órgãos, à qual chamamos gordura visceral, conjuntamente com a suscetibilidade metabólica de cada indivíduo, parecem ser os fatores desencadeadores desta síndrome
Etiologia - suscetibilidade metabólica
A suscetibilidade metabólica pode ser entendida como a propensão que cada individuo tem para desenvolver
determinados distúrbios no sistema metabólico, ela está relacionada com a genética, inatividade física, doenças do
tecido adiposo, idade avançada e algumas disfunções endócrinas como por exemplo de tiroide.
Etiologia - início do desenvolvimento
O excesso de adiposidade visceral dá início ao desenvolvimento da SM, justificando a hiperinsulinémia que pode, durante anos, não estar associada a aumento da glucose em jejum ou pós-prandial enquanto a função das células-β responder
Contudo, nos indivíduos geneticamente predispostos, essas alterações surgem na sequência do defeito na secreção da insulina ou da diminuição da tolerância à glucose
Este mecanismo patogénico, a resistência à insulina, que é difícil de medir no dia a dia na prática clínica, e o processo inflamatório desencadeado pela obesidade justificam quase tudo da SM
Etiologia - excesso de gordura corporal
Embora se trate de uma conjugação de fatores, o excesso de gordura corporal parece estar sempre presente
E o aumento progressivo de peso faz com que os adipócitos se acumulem junto dos órgãos – aumento da gordura visceral
A disfunção do tecido adiposo (adipócitos) está na origem do risco da obesidade visceral associado à dislipidemia aterogénica (triglicéridos elevados, HDL baixo, elevação da ApoB, das pequenas partículas LDL densas e
das pequenas partículas HDL), disfunção endotelial e hipertensão arterial
Neste processo complexo, todavia, além da obesidade, interferem outros fatores metabólicos e patológicos: fatores inflamatórios, adipocitocinas (leptina,
adiponectina, resistina), cortisol, stress oxidativo, fatores vasculares, hereditariedade e fatores relacionados com
estilos de vida
Etiologia - genética
Na verdade, não se pode explicar tudo pela genética na medida em que a prevalência da SM tem aumentado nas
últimas décadas e a nossa caracterização genética não mudou
Isto sugere a interação entre fatores ambientais e a
predisposição genética para acumular energia sob a forma de gordura no desenvolvimento da síndrome metabólica
Definição mais consensual
Existe ainda muita discussão à volta da correta definição desta síndrome
Propôs-se uma definição, que de momento
está globalmente aceite e que define os critérios clínicos da SM:
Podemos dizer que a síndrome metabólica é o termo médico para a combinação de diabetes, tensão arterial elevada e obesidade, ainda que uma destas possa não estar presente
Diagnóstico de síndrome metabólica
Para o diagnóstico de síndrome metabólica é necessária a presença de 3 dos 5 fatores de risco apresentados:
Obesidade abdominal – perímetro da cintura aumentado (definições específicas para a população e para o país) – admite-se que poderá ser superior a 102 cm no homem e 88 cm na mulher
Triglicerídeos - triglicéridos elevados (≥150mg/dL) ou sob medicação com fibratos, niacina ou a fazer altas doses de ácidos gordos ω-3
Colesterol HDL - HDL baixo (<40mg/dL em homens e <45mg/dL em mulheres) ou sob medicação com fibratos ou
niacina
Tensão arterial - pressão arterial elevada (pressão sistólica (≥130 e/ou diastólica ≥85mm Hg) ou em tratamento com anti-hipertensores
Glicemia - glucose em jejum elevada (>100mg/dL) ou em tratamento com antidiabéticos
Risco cardiovascular
Pela evidência disponível, os indivíduos com SM têm um risco cardiovascular elevado
Tratamento primário
A hipótese de que a síndrome metabólica é uma resultante da resistência à insulina permite definir uma estratégia de
controlo
O objetivo principal é a perda de peso
A perda de peso reduz a resistência à insulina, a restrição calórica associada a uma atividade física regular e a uma alimentação saudável são medidas a adotar na prevenção e tratamento da SM As recomendações internacionais apontam para uma perda de, pelo menos, 10% para indivíduos com excesso de peso ou obesos e a normalização do índice de massa corporal para valores inferiores a 25kg/m2
Para isso é necessária uma dieta equilibrada com restrição da ingestão de gorduras e açúcares e rica em fibras
Esta perda de peso deve ser acompanhada de um aumento da atividade física de, pelo menos, 30 minutos por dia
com uma intensidade moderada, como por exemplo, caminhada a passo ligeiro
Tratamento de alterações de estilo de vida não suficientes
Nos indivíduos em que as alterações dos estilos de vida não forem suficientes e que sejam considerados com risco
cardiovascular elevado, o tratamento do risco cardiovascular pode justificar a necessidade de controlar as alterações metabólicas (no metabolismo da glicose), lipídicas (dislipidemias) e a hipertensão arterial com terapêuticas adequadas
Tabagismo
Quando o tabagismo está presente é também impreterível que os doentes deixem de fumar, caso contrário o
aumento do risco, mesmo com todas as medidas terapêuticas, continua a aumentar exponencialmente
O abandono do hábito tabágico permite reduzir a resistência à insulina própria do distúrbio metabólico bem como reduz o estado de inflamação crónica
Resumo
A síndrome metabólica é complexa, multifatorial, contribuindo para o risco
cardiovascular, bem como o risco geral de saúde