Dioscope - Ebook Vulvovaginites e Infeções Sexualmente Transmissíveis (terminado) Flashcards
Epitélio da vulva e vagina
Epitélio escamoso estratificado
- vulva: folículos pilosos e glândulas
- vagina: epitélio não queratinizado
Equilíbrio da microbiota vaginal
É fundamental
- para proteção das doenças vaginais
Puberdade
Na puberdade: ↑ estrogénios provoca maturação das células epiteliais à aumenta o glicogénio vaginal
- FAVORECE O CRESCIMENTO DE LACTOBACCILUS (90-95%)
Lactobacillus - ação
Glicogénio - acido láctico - ↓ pH VAGINAL (para 3,5-4,7 na idade reprodutiva)
Outros agentes normais a nível vaginal
Para além do lactobacillus, existem outras bactérias ANAERÓBIAS e aeróbias (5:1)
Corrimento vaginal
Corrimento vaginal é NORMAL! Nem todos os corrimentos vaginais indicam infeção
* Produzido por: +++ muco cervical; fluído endometrial, exsudado glandular (Skene e Bartholin) e transudado vaginal
* Células escamosas esfoliadas da parede vaginal –> Coloração esbranquiçada e consistência
* Humidade fisiológica e prevenção de secura e irritação vulvovaginal
Frequência de infeção vaginal
Maioria mulheres terá infeção vaginal durante a sua vida –> 1 dos motivos + frequentes de urgência em ginecologia
- dx é essencialmente clínico
As 3 doenças + frequentemente associadas a corrimento vaginal anormal
Vaginose bacteriana
Candidíase
Tricomoníase
Dx
Hx clínica dirigida
+
Exame ginecológico
+-
Exames auxiliares de diagnóstico
Hx clínica dirigida
Sintomas uro-ginecológicos: Corrimento (+ comum) e caracteriza-lo; sintomas irritativos (prurido, irritação, ardor, edema), dispareunia,
disúria
Sintomas sistémicos: Febre, calafrios, dor pélvica, náuseas, vómitos – considerar DIP
Hx pessoal e ginecológica: patologias (diabetes, IST, DAI), toma recente de ATB, hx sexual, contraceção
Alguns sintomas podem não
ser de causa infeciosa
Ex. dermatoses
Exame ginecológico
Exame ginecológico (pode ser limitado pelo auto-tratamento da doente com fármacos sem prescrição)
- Inspeção vulva / introito vaginal; Exame com espéculo – caracterizar corrimento, avaliar vagina, colo uterino; Toque bimanual
Exames auxiliares de diagnóstico
Exame microscópico: Exame a fresco (+usado); Corado pelo Gram; Técnica com KOH 10%
Determinar pH vaginal
Teste das aminas ou de Whiff
Exame cultural / testes moleculares – se suspeita clínica e não confirmada por métodos anteriores (+ infeções recorrentes)
Definição de vaginose bacteriana
Síndrome clínica polimicrobiana -SUBSTITUIÇÃO DA FLORA VAGINAL (Lactobacillus sp. produtores de peróxido de hidrogénio) por ALTAS
CONCENTRAÇÕES DE BACTÉRIAS ANAERÓBIAS
(bactérias anaeróbias: Gardnerella vaginalis, Mycoplasma hominis, Prevotella sp, Bacteroides sp, Peptostreptococcus sp, Atopobium vaginae)
Causa mais comum de corrimento e mau odor vaginal
Vaginose bacteriana
- muitas vezes é assintomática (dx na citologia CV)
Vaginose bacteriana é IST?
Mulheres sexualmente ativas –> risco aumentado de VB, mas NÃO É IST
Vaginose bacteriana - clínica
- Corrimento BRANCO-ACINZENTADO, ABUNDANTE, FINO E HOMOGÉNEO
- ODOR INTENSO A PEIXE
- NÃO IRRITATIVO (Ligeira irritação vulvar em 25%)
Vaginose bacteriana - dx
Clínico (sintomas e sinais) e apoiado por testes laboratoriais
Critérios clínicos de Amsel (necessário a presença de 3 dos 4 critérios):
1. Corrimento vaginal homogéneo, branco-acinzentado
2. pH vaginal > 4,5 (↓ lactobacillus, impede que estas bactérias acidifiquem o pH vaginal)
3. Corrimento vaginal com odor a peixe (se não for reconhecido, usar gotas de KOH 10% - teste de Whiff +)
4. Presença de clue cells ao exame microscópico a fresco
As bactérias causadoras de vaginose bacteriana…
Fazem parte da flora vaginal –> a presença destas, por si só, não permite o dx
Gold-standard para dx de vaginose bacteriana
É a coloração gram
Vaginose bacteriana - esfregaço Gram
Critérios de Hay-Ison: Baseados nos achados do esfregaço Gram
* Grau 0 - não relacionado com VB, apenas células epiteliais, sem Lactobacilos; INDICA ANTIBIOTERAPIA RECENTE
* Grau 1 - Normal; predomínio de Lactobacilos
* Grau 2 - Intermédio: flora mista com presença de Lactobacilos, mas também Gardnarella ou Mobiluncus.
* GRAU 3 - VAGINOSE BACTERIANA: predomínio de Gardnarella e/ou Mobiluncus e clue cells. Poucos ou nenhuns Lactobacillus
* Grau 4 - Não relacionado com VB; apenas cocos Gram +; ausência de lactobacilos (flora de vaginite aeróbica)
Vaginose bacteriana - tratamento: objetivo
Alívio sintomático e reduzir risco IST (VB associa-se a HIV, herpes e DIP)
Vaginose bacteriana - quem tratar?
Indicado tratar mulheres SINTOMÁTICAS e ASSINTOMÁTICAS QUE SERÃO SUBMETIDAS A TX CIRÚRGICO GINECOLÓGICO
Vaginose bacteriana - tratar parceiros sexuais?
Não!
Vaginose bacteriana - tratamento
Esquemas terapêuticos recomendados:
* Metronidazol oral 500mg, 2 id, 7 dias
* Clindamicina tópica 2%, 7 dias
* Metronidazol óvulos vaginais 500 mg, 5 dias
(A clindamicina e o metronidazol tem = eficácia)
Alternativas: tinidazol oral, clindamicina oral ou óvulos vaginais
Vaginose bacteriana - tratamento de recorrências
- Infeção após 3 a 12 meses do tratamento
- Medicar com Metronidazol tópico, 2x por semana, 4 a 6 meses
Vaginose bacteriana - tratamento na gravidez
- Recomenda-se o tratamento nas GRÁVIDAS SINTOMÁTICAS
- Alguns estudos: em gravidezes de alto risco, a VB associa-se a RPMPT ou PPT
- No entanto, NÃO HÁ BENEFÍCIO NO RASTREIO UNIVERSAL DE VB OU TRATAMENTO DE GRÁVIDAS ASSINTOMÁTICAS
- METRONIDAZOL OU CLINDAMICINA (nenhum é teratogénico)
Vaginose bacteriana - tratamento, na amamentação
Considerar suspender amamentação durante o tx com metronidazol e nas 12-24h após a última toma
Vaginose bacteriana - tratamento
Sintomas: corrimento com odor que piora após relação sexual
Caraterísticas do corrimento: fino, homogéneo, branco-acinzentado
pH vaginal > 4,5
Teste de Whiff +++
Microscopia: ↑ leucócitos; ↓
lactobaccilus; CLUE CELLS
Tratamento: metronidazol ou clindamicina
Candidíase vulvovaginal - causa
Maioria é causada por um SOBRECRESCIMENTO DE CANDIDA ALBICANS (as restantes são causadas por C. glabrata, C. tropicalis, C.Krusei)
Geralmente não coexistem com outras infeções e NÃO é uma IST
Candidíase vulvovaginal - parceiros
10% dos parceiros tem doença peniana concomitante
Candidíase vulvovaginal - FRs (9)
- Gravidez
- Diabetes
- Obesidade
- Imunodeprimidos
- Corticoterapia
- Contracetivos orais
- Terapia ATB largo espectro
- Roupa justa
- Uso habitual penso higiénico
Candidíase vulvovaginal - idade + frequente
Mais comum nos ANOS REPRODUTIVOS: Candida spp. requer tecidos com estrogénio
* Raro antes da menarca ou pós-menopausa
Candidíase vulvovaginal - clínica
Sintomas: Prurido vulvar (+++), ardor, disúria externa e dispareunia
Sinais: CORRIMENTO VAGINAL BRANCO, GRUMOSO E ESPESSO (tipo requeijão)
ADERENTE ÀS PAREDES VAGINAIS, INODORO E ERITEMA, edema e fissuras vulvares
Candidíase vulvovaginal - diagnóstico
Essencialmente clínico e pode ser confirmado laboratorialmente
Candidíase vulvovaginal - dx laboratorial
Blastosporos / Pseudohifas no exame microscópico a fresco ou cultura +, numa mulher sintomática
* pH vaginal NORMAL (< 4,5)
* Teste das aminas/Whiff: CORRIMENTO INODORO
* Exame microscópico a fresco: LEVEDURAS/BLASTOSPOROS E PSEUDOHIFAS
* Esfregaço Gram: LEVEDURAS/BLASTOSPOROS E PSEUDOHIFAS (+ SENSÍVEL)
* Cultura: positiva para espécies Candida
2 tipos de candidíase vulvovaginal
Candidíase não complicada
Candidíase complicada
Candidíase não complicada
Esporádica ou pouco frequente
Ligeira a moderada
Candida albicans provável
Mulher não imunocomprometida
Candidíase complicada
Recorrente
Severa
Candidíase não-albicans
Mulher imunodeprimida, com diabetes descompensada ou debilitada
Candidíase recorrente
Se ≥4 episódios SINTOMÁTICOS por ano
* 20-30% após tratamento
* Frequentemente associada a fatores de risco (diabetes, imunodeficiência, corticoides ou ATB)
* Ponderar outros dx: dermatite ou eczema vulvar
Candidíase vulvovaginal - quem tratar?
Não é recomendado o tratamento de mulheres assintomáticas e parceiros sexuais assintomáticos
- tratar mulheres sintomáticas e parceiro sexual sintomático, com balanite
Candidíase vulvovaginal não complicada - tratamento
Esquemas orais e vaginais são igualmente eficazes
- Primariamente com aplicação VAGINAL de imidazol sintético durante 7 dias (CLOTRIMAZOL, tioconazole, miconazol,
econazol,..) - Fluconazol ORAL em baixa dose (150 mg) é igualmente eficaz (seguro na gravidez)
Candidíase vulvovaginal recorrente - tratamento
Fluconazol oral 1x por semana, durante 6 meses ou tx tópico 1-2x por semana –> prevenção de recorrência
Candidíase vulvovaginal - C. glabrata: tratamento
C. glabrata é resistente a todos os imidazoles –> tx com ácido bórico ou violeta genciana
Candidíase vulvovaginal não complicada - tratamento descritivo
Tratamento oral:
- fluconazol 150 mg, toma única
ou
- itraconazol 200 mg, 2 id, toma única ou 1g 2 tomas (12h/12h)
Tratamento intravaginal:
(todos “conazol” exceto clotrimazol e nistatina - NÃO CONFUNDIR: metronidazol não é antifúngico, não se usa para tratar candidíase!)
- clotrimazol creme vaginal, 1%, 6 dias
ou
- clotrimazol comprimido vaginal 500 mg, dose única
ou
- clotrimazol comprimidos vaginais 200 mg, 3 dias consecutivos ou 100 mg, 6 dias consecutivos
ou
- miconazol creme vaginal 2%, 6 dias
ou
- econazol creme vaginal 1%, 6 dias
ou
- econazol óvulo vaginal 150 mg, 3 dias
ou
- sertaconazol óvulo vaginal 300 mg, dose única
ou
- sertaconazol comprimido vaginal 500 mg, dose única
ou
- sertaconazol creme vaginal 2%, 6 dias
ou
- isoconazol creme vaginal 1%, 6 dias
ou
- tioconazol comprimido vaginal 100 mg, 6 dias
ou
- fenticonazol creme vaginal 2%, 6 dias
ou
- fenticonazol, óvulo vaginal 200 mg, 6 dias
ou
- nistatina comprimido vaginal, id, 14 dias
-
Candidíase vulvovaginal complicada - tratamento, se severa (descrição)
Fluconazol 150 mg per os, toma única, e repetir após 3 dias (dias 1 e 4)
e/ou
terapêutica antifúngica tópica 14 dias
Candidíase vulvovaginal complicada - tratamento, se recorrente (descrição)
Tratamento inicial
- fluconazol 150 mg ou 200 mg a cada 3 dias, num total de 3 tomas (dia 1, 4 e 7)
e/ou
- terapêutica antifúngica tópica (7 a 14 dias)
Tratamento de manutenção
- fluconazol (100 mg, 150 mg ou 200 mg), 1x semana, durante 6 meses
- caso não seja possível a terapêutica oral, terapêutica tópica intermitente, após a menstruação
Candidíase vulvovaginal - resumo
Sintomas/sinais: Corrimento vaginal; dispareunia superficial; prurido vulvar; eritema e edema vulvar; fissuras vulvares
Caraterísticas do corrimento: branco, grumoso e espesso, TIPO REQUEIJÃO, PLACAS
ADERENTES
pH vaginal normal (<4,5)
Teste de Whiff negativo
Microscopia: pseudohifas;
blastosporos/ leveduras
Tratamento: Clotrimazol tópico por 7 dias; Fluconazol oral 150mg toma única