T5_Bactérias anaeróbias Flashcards
Que bactérias apareceram primeiro, as aeróbias ou anaeróbias?
Anaeróbias
Quais as bactérias predominantes na nossa flora habitual?
Anaeróbias
Definição de bactéria anaeróbia
Bactéria que necessita uma pressão de oxigénio reduzida para crescer e que é inibida pelo ar; (18% O2)
Podem ser:
- Anaeróbia estrita (vive sem, e morre com O2);
- Anaeróbia facultativa; A sensibilidade ao O2 varia de espécie para espécie:
- Anaeróbios obrigatórios => não toleram O2 > 0,5%;
- Anaeróbios aerotolerantes => toleram entre 2-8% O2;
Toxicidade ao O2
- Enzimas que só são ativas na forma reduzida;
- Produção de substâncias tóxicas que resultam da redução parcial da molécula de O2 => causa + importante de toxicidade;
- Aniões superóxido;
- Peróxido de hidrogénio;
- Radicais hidroxilo;
- Estes produtos tornam-se tóxicos:
- Causam danos no DNA;
- Destroem componentes lipídicos;
- Inativam enzimas essenciais para as atividades metabólicas;
- As bactérias aeróbias e anaeróbias facultativas têm enzimas protetoras => transformam moléculas nocivas em inóquas:
- Catalase;
- Peroxidase;
- Superóxido dismutase;

Fatores de virulência
2 tipos:
- Ação direta: componentes estruturais e outras substâncias (toxinas e enzimas);
- Ação indireta: sinergismo das populações, produção de enzimas inativadoras;
Epidemiologia
- Estão disseminadas na Natureza;
- Colonizam a pele e as mucosas do Homem, em alguns locais superam as outras bactérias (intestino, pele, aparelho genital feminino, cavidade oral);
- Algumas encontram-se nos solos;
- Maioria das infeções resulta da rutura de uma barreira anatómica em que os anaeróbios da flora acedem a um local habitualmente estéril;
Infeções mais frequentes por anaeróbios
Sinais clínicos sugestivos de infeção anaeróbia
- Cheiro da amostra: odor pútrico (putrescina/cadaverina);
- Local da infeção: perto de mucosa;
- Necrose tecidular, gangrena ou formação de abcesso;
- Infeção secundária a mordedura de animal;
- Presença de gás nos tecidos;
- Tratamento AB prévio com aminoglicosídeos ou outros pouco ativos contra anaeróbios;
- Exsudados hemáticos ou de cor negra;
- Grânulos sulfúrics: Actinomicose;
- Pneumonia por aspiração;
- Aborto sético, cirurgia intraabdominal;
Diagnóstico laboratorial
Colheita não por zaragatoa
Amostra para diagnóstico laboratorial
NÃO PROCESSAR:
- Exsudado faríngeo, nasofaríngeo e boca;
- Expectoração (induzida ou não), LBA e aspirado brônquico;
- Conteúdo gástrico ou do intestino delgado;
- Fezes (exceto C. difficile);
- Exsudados retal, uretral, vaginal e endocervical;
- Urina (colheita espontânea ou por sonda);
Amostras mais adequadas para diagnóstico laboratorial
- Sangue;
- MO;
- Líquidos biológicos estéreis;
- Urina (por punção supra púbica);
- Tecidos obtidos por biópsia
- Exsudados purulentos obtidos por punção aspirativa;
- Aspirado transtraqueal ou biópsia pulmonar;
- Conteúdo uterino (obtido com cureta protegida)
Transporte para diagnóstico laboratorial
- CRUCIAL para isolamento de anaeróbios => Proteger bactérias do O2;
- Usar sistemas de transporte que assegurem a anaerobiose;
- Manter amostras à temperatura ambiente (refrigeração diminui nº de amostras viáveis);
Exame cultural - atmosfera de incubação
Após sementeira rápida, incubar a 35-37ºC em condições de anaerobiose durante 7 dias.
- Os sistemas mais usados são:
- Jarra de anaerobiose - usado na maioria dos laboratórios;
- Câmara de anaerobiose;
- Bolsa de anaerobiose (onde se transporta biópsia) - útil para poucas placas;
Sempre que há crescimento => passar para outro meio; As placas são observadas a cada 48h (até ao 7º dia);
Se suspeita de Actinomyces prolongar até ao 15º dia
Classificação das bactérias anaeróbias
Bacilos Gram -
- Presentes em > 50% das infeções por anaeróbios;
- Bacteroides fragillis é o + frequente e o + resistente;
- Possuem catalase e superóxido dismutase => toleram exposição ao O2;
- Produzem enzimas citotóxicas;
- Colonizam aparelho respiratório superior, intestino e aparelho genito urinário;
- Causam infeções endógenas (subdiafragmáticas):
- Intraabdominais;
- Ginecológicas;
- Pele e tecidos moles;
- Aparelho respiratório;
- Abcessos cerebrais;
- Bacteriemia;
- Gastrenterite;
- 4 principais: 1. Bacteroides; 2. Fusobacterium; 3. Prevotella; 4. Porphyromonas;
Géneros Prevotella e Porphyromonas, 5 caracteristicas
- Bacilos Gram -
- anaeróbios produtores de pigmento preto na gelose sangue;
- Parte da flora da boca, aparelho genital e intestinal;
- Agentes patogénicos importantes nas infeções da boca, cabeça, pescoço e pleuropulmonares (supradiafragmáticas);
- Podem produzir beta lactamases => resistência à penicilina e às cefalosporinas;
Género Bacteroides (5 características)
- Bacilos Gram - anaeróbios;
- Chegam a atingir 10^11/g nas fezes;
- Agentes patogénicos + comuns: B. fragilis e B. thetaiotaomicron;
- Infeções anaeróbias supradiafragmáticas, genitas e sépsis;
- Podem produzir beta lactamases => resistência à penicilina e às cefalosporinas;
Cocos Gram -, qual é o género principal e 3 caracteristicas
Veillonella;
- Raramente se isolam e quando se encontram são frequentemente contaminantes;
- Predominam na orofaringe;
- <1% dos anaeróbios isolados;
Cocos Gram +: 4 Géneros e 4 características
- Finegoldia;*
- Micromonas;*
- Peptostreptococcus;*
- Schleiferella;*
- Cocos de tamanho irregular;
- Colonizam a cavidade oral, intestino, aparelho genito urinário e pele;
- 25% das bactérias anaeróbias isoladas;
- Infeções polimicrobianas e mistas;
Bacilos Gram + não esporulados: 3 Géneros
- Propionibacterium;*
- Mobiluncus;*
- Actinomyces:*
Características do género Actinomyces: (7)
Actinomicose cervico facial, 5 dados
- A + frequente: >50% dos casos;
- Maus hábitos de higiene oral, após procedimento dentário invasivo ou traumatismo oral;
- Processo inflamatório de evolução lenta, quase indolor, com fibrose e fístulas no ângulo da mandíbula;
- Também produz doença periodontal;
- Vêm-se grânulos sulfúricos;
O que é a Actinomicose e suas caracteristicas (4)
Bacilos Gram + esporulados, género e espécies principais. Características gerais (4)
-
Clostridium spp:
- C. perfringens;
- C. tetani;
- C. botulinum;
- C. difficile;
- Anaeróbios estritos, móveis, formadores de endosporos => sobrevivência em condições adversas;
- Ubíquos (solo, flora intestinal do Homem e animais);
- Capacidade de patogenicidade:
- Sobrevivência em condições adversas pela esporulação;
- Produção de toxinas: histolíticas, enterotoxinas e exotoxinas;
- Clostridium perfringens é o + vulgar;
Clostridium perfringens: características gerais (4)
- Bacilos Gram + esporulados anaeróbios;
- Bacilos grandes, imóveis (único dos Clostridium);
- Raramente se observa esporo;
- Cresce rapidamente em gelose sangue (24-28h);
Clostridium perfingens: toxinas (5)
Produção várias toxinas para destruição dos tecidos:
- Fosfolipase C;
- Permease;
- Hemolisina;
- Hemolisina citolítica;
- Enterotoxina A;
Clostridium perfringens: Tipos de infecção
- Existem 5 tipos diferentes. O tipo A é o que habitualmente causa doença; Os restantes existem no instetino de animais e reramente provocam doença.
- A infeção pode ser:
a) Endógena: flora fecal na pele, perfuração do intestino;
b) Exógena: Feridas contaminadas com terra;
Clostridium perfringens: apresentação clínica
-
Infeção dos tecidos moles e pele:
- celulite
- fasceíte ou miosite supurativa
- mionecrose ou gangrena gasosa;
Gangrena gasosa: muito grave, rapidamente evolui para choque sético, CID, insuficiênca renal e morte;
- Intoxicação alimentar: curto período de incubação, cólicas abdominais e diarreia aquosa, sem febre, náuseas ou vómitos, resultante da ingestão de carne contaminada com enterotoxina A;
- Enterite necrosante: doença rara causada pela toxina beta e caraterizada por cólicas, diarreia sanguinolenta, ulceração e perfuração do intestino delgado que evolui para peritonite e choque, com taxa de mortalidade a chegar aos 50%, sendo mais comum na Papua Nova Guiné;
- Septicemia: isolamento na hemocultura deve ser sempre valorizado conforme clínica, podendo resultar de bacteriemia transitória ou contaminação da pele;
Clostridium perfringens: diagnóstico laboratorial
- Coloração de Gram: bacilos Gram + sem esporos, sem leucócitos
- Cultura: gelose sangue, em anaerobiose a 37ºC, produz padrão característico:
- duplo halo de hemólise (toxina alfa e teta)
- prova de Nagler positiva
- teste de Camp invertido (estes 2 últimos estão em desuso);
Clostridium perfringens: terapêutica de prognóstico
Terapêutica:
- Desbridamento e limpeza da ferida
- Antibioticoterapia: penincilina
- O2 hiperbárico
Prognóstico:
- Severo
- Mortalidade 40-100%
Prova de Nagler positiva
Clostridium perfringens;
Precipitação em meios que contêm lecitina (toxina alfa) e inibida pela antitoxina;
Teste de Camp invertido
Clostridium perfringens;
Beta hemólise sinérgica com estirpe de S. agalactiae;
Clostridium tetani: Características gerais (5)
- Bacilo Gram + esporulado anaeróbio estrito;
- Móvel;
- Esporo terminal que deforma parede;
- Torna-se facilmente Gram - na coloração;
- Ubíquo;
Clostridium tetani: toxinas (2)
Produz 2 toxinas:
- Tetanolisina
- Tetanoespamina
(ver imagem)
Clostridium tetani: mecanismos de acção das toxinas
Clostridium tetani: apresentação clinica (4 aspectos)
Clostridium tetani: diagnóstico (4)
Clostridium botulinum: aspectos gerais (5)
- Botulismo;
- Bacilos Gram + longos, anaeróbios estritos;
- Ubíquo;
- Produz vários tipos de toxinas (A-G);
- Estirpes patogénicas produzem lipase, gelatinas;
Clostridium botulinum: toxinas
- Doença humana: toxina A, B, E e F;
- Subunidades neurotóxicas que impede libertação da aceticolina;
- Subunidades não tóxicas que protegem as tóxicas da inativação no estomago;
- Produz a exotoxina mais potente que se conhece;
Clostridium botulinum: Patogenese
- Ingestão da toxina;
- Absorção;
- Período de incubação;
- Alteração funcional do SNP;
- Inibição da libertação de acetilcolina na união neuromuscular;
- Paralisia flácida => não há transmissão dos impulsos motores;
Clostridium Botulinum: apresentação clínica
-
Botulismo alimentar: mais comum, intoxicação provocada pela ingestão da toxina existente nos alimentos contaminados:
a) 12-36h após ingestão: náuseas, boca seca, dor abdominal, dificuldade na deglutição;
b) Evolução rápida: paralisia flácida periférica e morte por paragem respiratória; - Botulismo das feridas: muito raro, resulta da contaminação da ferida com esporos;
Clostridium botulinum: diagnóstico
- Maioritariamente clínico;
- Laboratorial: presença da toxina e/ou C. botulinum nas fezes e conteúdo gástrico ou presença da toxina em alimentos;
Clostridium botulinum: terapêutica e profilaxia
Terapêutica:
- Lavagem gástrica e eliminação do microorganismo;
- Antibioticoterapia: peniclina ou metronidazol;
- Suporte ventilatório;
- Antitoxina botulínica;
Profilaxia:
- Não há vacina;
- Evitar germinação de esporos, mantendo alimentos a 4ºC ou pH ácido;
- Antibioticoterapia: penicilina ou metronidazol;
Clostridium difficile: aspectos gerais (4)
- Bacilo Gram + esporulado anaeróbio estrito;
- Maior contacto a nível hospitalar;
- Produz esporos: grande capacidade de sobrevivência;
- Faz parte da flora normal do Homem e dos animais;
Clostridium difficile: factores de virulência (5)
- Toxina A: enterotoxina, infiltração de PMNs na lâmina própria do ileon com libertação de citoquinas, que potenciam resposta inflamatória, levando à hipersecreção de líquidos e necrose hemorrágica (diarreia);
- Toxina B: citotóxica, despolimeriza actina provocando destruição do citoesqueleto celular;
- Adesina: fator de aderência;
- Hialuronidase: hidrolisa ácido hialurónico;
- Esporos: grande capacidade de sobrevivência em meio hospitalar;
Clostridium difficile: tipos de infecção
Endógena: terapêutica antibiótica extensa altera a flora intestinal normal, permitindo a proliferação de C. dificile;
Exógena: contaminação com esporos, sobretudo em unidades de Cuidados de Saúde;
Clostridium difficile: factores de risco (4)
- Exposição a antibióticos e fármacos que alterem flora GI;
- Idade superior a 65 anos;
- Hospitalização;
- Imunosupressão;
Clostridium difficile: apresentação clínica
- Colite pseudomembranosa: forma + grave com diarreia profusa, febre e cólicas abdominais;
- Diarreia associada a antibióticos: após 5-10 dias de antibioticoterapia, pode ser breve e auto limitada ou mais prolongada;
- Colite associada a antibióticos: menos grave;
Clostridium difficile: caracteristicas chave sobre os testes de diagnóstico (8)
Clostridium difficile: diagnóstico laboratorial
- Nenhum dos testes deve ser usado isoladamente para o diagnóstico de infecção por Clostridium difficile
- A pesquisa das toxinas é importante pois permite obter resultados rapidamente mas tem baixa sensibilidade
- Deve ser cumprido um algoritmo de testes
Clostridium difficile: terapêutica
TERAPÊUTICA:
- Suspensão do antibiótico implicado;
-
Tratamento antibiótico:
- Vancomicina ou metronidazol;
- 2ª linha: fidaxomicina (+ eficaz na doença recorrente) ou rifaximina;
- Transplante fecal: repõe flora intestinal com diminuição do risco de proliferação do C. difficile, e consequente diminuição do risco de infeção
Antibióticos e fármacos que constituem um fator de risco para infeção por C. difficile
FREQUENTEMENTE:
- Fluoroquinolonas;
- Clindamicina;
- Penicilina;
- Cefalosporinas;
OCASIONALMENTE:
- Macrólidos;
- Trimetoprim;
- Sulfonamidas;
- IBPs;
- Velaciclovir;
RARAMENTE:
- Aminoglicosídeos;
- Tetraciclinas;
- Cloranfenicol;
- Metronidazol;
- Piperaciclina / tazobactam;
Clostridium difficile: profilaxia (8)