T10- Insuf cardíaca e programa de manejo Flashcards
Def insuf cardíaca
- Insuficiência cardíaca não é uma doença, mas sim uma síndrome, caracterizada por sintomas típicos (dispneia, edema dos MI e fadiga), e sinais (ingurgitamento venoso jugular, fervores na auscultação pulmonar e edema periférico). Tal deve-se a uma anomalia estrutural ou funcional cardiaca que leva a uma diminuição do DC ou elevação das pressões intracardíacas em repouso ou durante o exercicio
Epidemiologia
- patologia muito prevalente –1 a 2 % da população adulta nos países desenvolvidos tem IC
- O risco aumenta com a idade -prevalência >10% a partir dos 70 anos
- Prevalência a nivel global: 26 milhões
- Incidência: > 2 milhões novos casos por ano
- Europa relativamente aos EUA tem uma maior incidência, prevalencia e mortalidade
- IC é a 2ª principal causa de morte a nivel mundial
- O estudo EPICA é um estudo epidemiológico de IC em Portugal(publicado em 2002, Professor Fátima Ceia e Candido da Fonseca), mostra-nos que a incidência da IC aumenta, à medida que a população vai envelhecendo, independentemente do sexo.Comparando os valores da prevalência da IC, de acordo com o censo, de 1988-2000 para 2014, observamos que de facto aumentou
- Estima-se que o nº de doentes com IC irá aumentarnos próximos anos, porque a população está a envelhecer, logo como este grupo é tem maior probabilidade de ter IC, a prevalência irá assim aumentar proporcionalmente
- Em relação aos custos desta doença (representaram 2,65% das despesas para a saúde, em 2014), têm vindo a aumentar, devido ao aumento da sua prevalência e prevê-se que assim tenda a ser, estando mais alocados aos internamentos (faixa amarela) –daí que seja essencial atuar na prevenção dos internamentos
- 1 internamento/IC a cada 28 min (apesar de não estar a aumentar)
- 1 morte a cada 3,8h(mas a mortalidade não está a diminuir)
- > 400 mil doentes em PT
- 1ª causa de internamento após os 65 anos
- Pelo facto de ter um dx tardio, os fármacos também não são iniciados na altura devida, sobretudo pelos medicos de MGF que têm maior receio para iniciar terapêutica modificadora de prognóstico e preferem deixar isso para os cardiologistas especialistas –atrasa o tratamento e internamento
História natural da IC
- Existe alguma estabilidade e deterioração, que não é facilmente percebida pelo doente, até ao momento em que há um fator precipitante ou agravamento súbito da IC que o leva ao SU e ao internamento –momento em que se faz o dx- ocorre a estabilização do doente, que melhora a sua capacidade funcional e tem alta, mas nunca recupera totalmente para o estado inicial
- E cada vez que ocorre uma intercorrência na vida do doente e uma agudização, este perde cada vez mais a sua capacidade funcional, relativamente ao estadio prévio, até que chega a um estado de IC terminal que culmina na morte, por falência de bomba.Em qualquer um dos pontos de agudização, o doente também tem o risco de falecer por um episódio de taquidisritmia fatal e morte súbita.
Classificação da IC
- de acordo com a fração de ejeção
- Fração de ejeçãodo VE(FEVE) <40%-IC com FE deprimida
- FEVE 40-49%+ outros parâmetros-IC com FE intermédia
- FEVE >50%+ outros parâmetros-IC com FE preservada
- Para fazer o diagnóstico de IC precisamos de ter primariamente: sinais e sintomas + evidência eletrocardiográfica/ ecocardiográfica
- outros parâmetros: péptidos natriuréticos elevados, pelo menos um critério eletrocardiográfico: 1- alt. estrutural relevante (HTVE OU aumento da AE), 2- evidência de disfunção diastólica (ecocardiograma)
Sinais e sintomas
- típicos: o Ortopneia o DPN o Baixa tolerância ao exercicio o Fadiga o Dispneia o Edema M - Menos típicos: o Confusão mental (+idosos) o Tosse noturna o Anorexia o S. depressivo o Palpitações - específicos: o Ingurgitamento venoso jugular (a 45º) o Refluxo hepato-jugular (à compressão do figado no HD, observa-se uma onda sanguínea ascendente ao nivel da jugular) o Ritmo de galope (S3) o Desvio apical do choque de ponta (5º EIC, linha medio-clavicular)
ECDT
- Ecocardiograma
- Avaliação analitica completa(com os peptidos natriuréticos)
- ECG–alterações como TC/BC sinusal , flutter, FA -para saber a etiologia da IC; ondas Q patológicas -indica que já houve EAM prévio; bloqueios AV, etc
- Raio-X tórax-não ajuda a fazer mas corrobora o diagnóstico –observação de edema agudo do pulmão (hipotransparências pulmonares difusas bilaterais), cardiomegalia com cefalização vascular, estase pulmonar, derrame pleural
recomendações Associação europeia cardio
A- Avaliar aprobabilidade de IC:
1- Hx clinica-Hx de EAM, HTA, exposição a farmacos radiotoxicos ou radiação ou já foi um doente a fazer terapeutica diuretica, doente com queixas de dispneia ortopneia ou DPN, provavelmente
2- Mesmonão tendo uma hx clinica sugestiva,se tiver um exame objetivo sugestivo-Fervores, edema maleolar, sopro cardiaco, IVJ, desvio de choque de ponta)
3- ECG com alterações–sinal de sobreaviso num doente com queixas
B- Péptidos natriuréticos:
- Negativos–exclui IC
- >cutoff (NT-proBNP>125 pg/ml, BNP >35pg/ml) - C.
C- Ecocardiograma–corroborar o DX de IC
Etiologias
- D. coronária
- HTA
- Cardiomiopatia (familiar/adquirida (miocardite, endócrina/nutricional, gravidez, infiltração)
- D. valvular
- Doença pericárdica
- Doença endocárdica
- Arritmia
- Dist de condução
- Estados de elevado output (anemia, sepsis, tirotoxicose, doença de paget, fistula arteriovenosa)
- Overload de volume (IR, iatrogenia como pex infusão de volume pós-op)
Class Nyha
- baseia na capacidade funcional do doente
- Classe I–doente não tem limitações nas AVDs (nenhum esforço lhe causa fadiga ou dispneia)
- Classe II –fadiga e dispneia para atividades com esforço moderado
- Classe III –para pequenos esforços. confortável em repouso
- Classe IV –dispneia ou cansaço em repouso
Tratamento
1- Terapêutica não farmacológica/medidas gerais-muito importante, porque passa pela educação do doente,poisos medicamentos não funcionam sozinhos, sendo sempre necessária uma mudança de hábitos.
2- Fármacologica
3- Intervenção cardiológica
4- Cirurgia
5- Dispositivos (RCT, pacemaker, ICD, LVADs)
6- Transplante
- objetivo da terapêutica do doente com IC é:
o Melhorar o seu status clínico
o Melhorar a sua capacidade funcional e qualidade de vida
o Prevenir os internamentos hospitalares, de forma a reduzir a mortalidade
Programa de manejo integrado de IC crónica
- Permite melhores resultados do que cardiologista, internista ou clinico geral isoladamente, porque uma equipa multidisciplinar consegue tratar o doente como um todo e melhorará o seu prognóstico
- otimizar a terapêutica médica e o manuseamento dos devices, para os quais o doente tenha indicação
- fazer uma educação adequada, com ênfase no cumprimento terapêutico(só 20-60% dos doentes cumprem de facto a terapêutica prescrita, sobretudo aos diuréticos)
- educar o doente a monitorizar os seus sintomas
- garantir que o doente tem um follow-up e reavaliação precoce após uma alta-equipa disponível, caso haja alguma intercorrência relativamente à sua IC
- ensinar o doente a pesar-se e monitorizar o seu estado nutricional e funcional
- garantir algum suporte psicossocial quer ao doente, quer à família destes doentes
Manutenção do peso
- Um aumento ponderal num doente com IC frequentemente significa edema e congestão (retanção fluidos)e por isso pede-se aos doentes que se pesem diariamente, de manhã
1- Caso ocorra um aumento inesperado >2kg em 3 dias: - Deverá aumentar a dose de diurético ou contactara equipa que o segue
- Risco de depleção de volume
2- Se doente obeso com IMC >30kg/m2– deve ser reforçada a necessidade de redução de peso/dieta.
3- Numa fase mais avançada, pode acontecer que um doente tenha uma perda ponderal não intencional de peso importante (>6kg em 6 meses)– caquexia cardiaca –pior prognóstico
Nutrição
- restrição de sala 6g/dia (ler os rotulos dos alimentos)
- ingesta hídrica- 1,5-2L /dia, na IC severa com hiponatrémia associada
- álcool- Efeito inotrópico negativo, causa HT, risco de arritmias, deve ser limitado (10-20g/d) (Se a etiologia for etanólica, deve-se fazer a abstinência etanólica total)
- Tabaco– Desaconselhar sempre a cessar
- Imunização–Vacina da gripe (H. Influenza) anual + vacina antipneumocócica
- Gravidez - Mulher com IC prévia não deverá engravidar porque corre o risco da deterioração da sua IC (por aumento do CO e fluidos extravascular); Existem alguns fármacos modificadores de doença que são contraindicados durante a gravidez, pelo que terá de suspender, sendo isso um risco acrescido
- Viagem - devem evitar altas altitudes e climas quentes e húmidos
- Doenças do sono–devem ser rastreados
- Depressão–muito prevalente, porque IC é uma doença crónica que afeta muita as AVDs (20%); aumenta a morbimortalidade
- Exercício físico-recomendado para todos com IC estável, devendo ser supervisionado. Diminui a morbimortalidade, melhora a capacidade funcional e qualidade de vida. (melhora tanto quanto um medicamento)
- Atividade sexual - a disfunção sexual é frequente, aumenta o risco de descompensação nas classes NYHA III e IV, podemos presecrever nitratos se o doente tiver dispneia ou dor precordial, Inibidores da 5PDE estão proibidos na IC avançada
Guidelines IC ESC 2016
- Todo o doente sintomático com congestão terá indicação para fazer diurético
- Doentes IC com FE preservada terão indicações para fazer IECA e beta bloqueante
- Se se mantiverem sintomáticos com esta terapêutica e com uma FE deprimida <35%, terão indicação para associação com antagonistas dos recetores de mineralocorticoides
- À medida que vamos adicionando cada classe farmacológica, vamos tendo uma melhoria da sobrevida dos doentes: 1- IECA , 2- IECA + Beta-Bloquante, 3- IECA + Beta-bloqueante + ARM
- Para além das combinações faladas anteriormente, se mesmo com IECA+beta-bloqueante+ARM, o doente se mantiver sintomáticoe com disfunção ventricular esquerda, teremos de pensar noutras classes alternativas:
- se tolerar IECA,para uma redução adicional do internamento e mortalidade de IC,substitui-se pelo ARNI= ARA (valsartan) + inibidor da nepralisina (sarcobitril) (O ARNI, que é o sacubitril/valsartan( o sacubitril é um inibidor da neprilisina e o valsartan é o ARA associado), está recomendado em substituição do IECA para reduzir o risco de internamento ou mortalidade por insuficiência cardíaca de doentes com HFrEF deprimida que se mantém sintomáticos, ou seja em classe NYHA II ou mais, já sob terapêutica médica otimizada) -> classe I
- se ritmo sinusal, com QRS alargado superior a 130msec, é candidato a device (CRT) = sincronização cardiaca
- se ritmo sinusal, FC> 70bpm, é candidato a ivabradina -> classe IIa
EX IECA, ARA, BB e ARM
IECA- captopril, enalapril, lisinopril, ramipril, trandolapril
BB- bisoprolol, carvedilol, metoprolol succinato, Nebivolol
- ARA- Candesartan, Valsartan, Losartan
- ARM - Espironolactona, Eplerenona
- sempre iniciar qualquer um dos fármacos numa dose mais baixa.