Cirúrgica V - Vascular (Insuficiência Venosa) Flashcards
Conceito de Insuficiência Venosa Crônica
Pode ser definida como o conjunto de manifestações clínicas causadas pela anormalidade (refluxo, obstrução ou ambos) do sistema venoso periférico (superficial, profundo ou ambos), geralmente acometendo os membros inferiores.
Causas de Insuficiência Venosa Crônica
- Refluxo venoso (trombose ou genético): a válvula que direciona o sangue do sistema venoso superficial para o profundo se torna insuficiente, invertendo o fluxo. Isso gera congestão, sobrecarregando as válvulas, aumentando a coluna de pressão. Quanto mais alto o problema, maiores os sintomas!
- Obstrução venosa (trauma ou trombose): TVP pode gerar passagem do sangue por vias alternativas, que pode causar destruição de válvulas.Trauma (lesão do vaso com processo cicatricial, gerando dificuldade de fluxo), tumor que invade o vaso.
- Associação das duas
Fatores de Risco
- Aumento da idade.
- Sexo feminino (particularmente no CEAP C1 e 2, nos CEAP C4 a 6 parece não haver diferenciação.)
- Numero de gestações.(multiparidade)
- Obesidade.
- Histórico familiar
As varizes podem ser:
- Primárias: quando há um erro na formação do vaso. Normalmente são imperceptíveis e passam a ser visíveis com o passar da idade;
- Secundárias: secundária a um refluxo, à uma obstrução venosa (ex: trombose que recanaliza);
Complicações da Insuficiência Venosa Crônica
- Congestão (por falta de drenagem);
- Causa dor, edema, alteração da cor da pele;
- Podendo chegar até à formação de úlceras
Epidemiologia da Insuficiência Venosa Crônica
A doença venosa é uma das patologias mais prevalentes no mundo. Estudos internacionais apontam que até 80% da população pode apresentar graus mais leves como o CEAP C1, os graus intermediários podem variar de 20 a 64% e a evolução para os estágios mais severos com CEAP C5 e 6 entre 1 e 5%. Estudos nacionais apontam números semelhantes nos estágios iniciais e intermediários, porém com uma maior tendência a evolução aos mais graves podendo chegar a 15 ou 20% dos casos.
Classificação da Insuficiência Venosa Crônica
Para nós, vai interessar mais a classificação C, que é a classificação clínica. A etiologia, descobrimos pela história. A classificação anatômica e fisiopatológica vai ser determinada pelo US com doppler.
- A grande maioria (80%) são C1 = telangectasias (menores que 3mm de diâmetro)
- C0 é aquele paciente que não tem nenhum sinal clínico, mas em um achado de um US doppler identificou uma insuficiência venosa de safena, por exemplo.
- C6 é o paciente mais grave, com úlcera ativa. Se essa úlcera cicatriza vira C5. A úlcera apresenta borda elevada, fundo limpo.
- O C4 é quando tem alteração da pele, mas sem nunca ter uma úlcera (nem ativa nem cicatrizada). O 4a é a dermatite ocre. 4b: lipodermatoesclerose, o tecido subcutâneo fica duro e fica um mesclado de dermatite ocre com a pele branca
- O C5 é quando o paciente tem uma área de dermatite ocre e o paciente fala que teve ferida, as vezes você nem vê a cicatriz.
Dermatite Ocre
A dermatite ocre ocorre porque na insuficiência venosa há extravasamento de hemácias dos capilares, causando degradação e liberação de hemossiderina (que gera a coloração). Além da saída de hemácias, há passagem também de células e proteínas inflamatórias, que causam inflamação local e úlceras. Como diferenciar se é dermatite ocre ou cicatriz? Precisa perguntar para o paciente se já teve úlcera.
Fisiopatogenia da Insuficiência Venosa Crônica
A função da veia perfurante, que é uma comunicante, é equalizar a pressão entre a profunda e a superficial. Mas há situações em que tem um refluxo tão grande da profunda que ela começa a jogar para a superficial. Para realizar o tratamento cirúrgico é obrigatório realizar o doppler, para saber se o problema é superficial, perfurante ou profunda. Então, o paciente pode ter:
- Obstrução de veia profunda ou refluxo / lesão valvar de veias profundas.
- Refluxo de perfurante. A oclusão de perfurante não faz tanta diferença.
- Safena ocluída ou com refluxo → é a mais comum.
Então, como essa veia vai estar obstruída ou com refluxo, vai ter aumento da pressão venosa, e por isso vai extravasar líquido e células, vai ter produção de citocinas, TNF e outros.
Qual o motivo da pomada não resolver a úlcera ?
A úlcera é resultado de um processo intenso de inflamação, por isso podemos concluir que tratar com pomada NÃO vai resolver a úlcera. A única coisa que trata úlcera é descompressão do membro.
Principais sinais e sintomas relacionados a insuficiência venosa crônica
1- Formigamento;
2- Dor;
3- Queimação;
4- Câimbras musculares;
5- Inchaço;
6- Sensação de peso ou de latejamento;
7 - Prurido cutâneo;
8- Pernas inquietas;
9- Cansaço das pernas e fadiga.
De forma geral tais sintomas tendem a se acentuar durante o dia, especialmente após longos períodos em ortostase e melhoram com a elevação dos membros. Os sintomas mais comuns são queixa de queimação, dor em peso e câimbras musculares noturnas, mas a sintomatologia é extremamente variável.
O que deve ser questionado sobre o histórico do paciente?
- Presença de tromboflebite ou TVP anterior;
- Diagnóstico de trombofilia;
- Traumatismo prévio (será que o médico que fez a cirurgia fez reanastomose dos vasos?); Esses três primeiros precisa ter suspeita de obstrução.
- Mulheres na pré-menopausa com veias varicosas devem ser questionadas sobre sintomas da síndrome de congestão pélvica (dor pélvica crônica, sensação de peso em andar inferior, dispareunia). → A pessoa com varizes pélvicas vai ter dor no membro, sintomas no membro, mas a causa dos sintomas é pélvica.
- Histórico familiar de varizes – as varizes podem também ser congênitas.
- Cirurgias ou procedimentos para tratar varizes prévias.
Exame Físico do paciente com Insuficiência Venosa Crônica
- Inspeção: O exame físico deve ser iniciado com paciente em pé, a fim de facilitar para o médico definir o tamanho, localização e distribuição das veias varicosas (coluna de pressão é maior com o paciente em pé, aumentando as varizes), presença e quantificação do edema, eventuais alterações de pele como hiperpigmentação, eczema, atrofia branca e úlceras cicatrizadas ou abertas. Não examina o paciente deitado porque retira a hipertensão venosa
- Palpação: Após o exame em ortostatismo, o doente pode deitar e o restante do exame é concluído, incluindo palpação de pulsos para afastar alterações arteriais grosseiras (na palpação da veia você pode sentir ela “empurrar” o seu dedo). Analisa se ela é compressiva ou não compressiva (não compressiva tem trombo).
- Ausculta: pode auscultar junção safeno femoral na região da virilha com compressão de panturrilha para tentar auscultar sopro na junção safeno-femoral – não é comum de ouvir.
Exames Complementares na Insuficiência Venosa Crônica
- Ultrassom com Doppler duplex scan (USD)
- Flebografia
- Ultrassom intravascular
Ultrassom com Doppler duplex scan (USD)
Só solicita se o paciente tiver interesse de operar. É sem dúvida a mais útil ferramenta diagnóstica inicial na abordagem de doenças venosas crônicas. Suas vantagens incluem ser um exame não-invasivo, poder ser repetido tantas vezes quanto necessário, reprodutível, permitindo tanto a avaliação anatômica do sistema vascular venoso, quanto sua fisiologia pela avaliação hemodinâmica do fluxo. Permite identificar a fisiopatologia do transtorno venoso (refluxo, obstrução ou ambos) e localizar os segmentos venosos específicos com alterações - sistema profundo, sistema superficial, perfurantes.