Hepatites virais Flashcards
Hepatite
Inflamação do fígado, pode ser de causa infecciosa ou não infecciosa
Causas não infecciosas de hepatite
Alcoolismo
Consumo de drogas
Tóxica
Doenças autoimunes
Causas infecciosas de hepatite
Vírus com tropismo primário de tecido hepático = hepatite A,B,C,D,E;
Outros vírus causadores de hepatite = EBV, CMV, HSV, Parvovírus B19;
Bactérias
Clínica das hepatites
=> Doentes com demência prévia ou HIV têm quadro mais complicado
Depende da idade e do hospedeiro;
- Pródromo (em quase todas as hepatites): síndrome gripal, com fadiga, mialgias, artralgias e anorexia;
- Náuseas, vómitos, diarreia, obstipação, febre com 39ºC;
- Hepatomegalia, por vezes dolorosa;
- Emagrecimento (em situação arrastada);
- Icterícia, prurido, colúria (alteração da cor da urina) e acolia (alteração da cor das fezes);
- Casos fulminantes: alteração da consciência e coagulopatia (pode levar à morte);
Evolução das hepatites virais
=> Marco temporal agudo vs. crónico: 6 MESES:
A/E: só têm fase aguda;
B/D: 5% avançam para doença crónica;
C: 85% avançam para doença crónica;
Transmissão: VIAS
Duas vias:
- Via entérica => HEPATITE A e E = via fecal oral;
- Via parentérica => HEPATITE B, C e D = sangue ou outros líquidos biológicos, mais frequentemente em:
- Toxicodependentes;
- Institucionalizados;
- Múltiplos parceiros sexuais (B e C);
- Portadores de tatuagens;
- Profissionais de saúde;
- Transmissão vertical;
Hepatite A
Vírus RNA, família Picornaviridae, género Hepatovirus;
Cápside icosaédrica, sem invólucro;
Genoma de RNA linear, cápside formada por 4 proteínas estruturais (VP1 a VP4);
Alta estabilidade: resistente a altas temperaturas, ácidos e bases;
CLÍNICA:
- Período de incubação de 10-50 dias;
- Maioria dos casos são relativamente benignos, sem grandes complicações;
- 70% crianças e 30% adultos são aaintomáticos = só achado laboratorial;
- Quadro súbito de febre, astenia, mialgias, artralgias, anorexia, náuseas e vómitos, pode haver obstipação, diarreia, dor no hipocôndrio direito, icterícia e prurido que pode durar 1 a 2 semanas;
- 20% adultos requerem hospitalização;
- 1/1000 casos desenvolve hepatite fulminante => insuficiência hepatocelular grave
DIAGNÓSTICO:
- Clínica semelhante entre as várias hepatites não permite a sua distinção;
- Laboratorial: deteção Acs específicos classe IgM e IgG em amostra de soro ou plasma;
- IgM anti VHA: primeiros a surgir (5-10 dias antes da sintomatologia) e permanecem durante 3-6 meses;
- IgG anti VHA: marcadores de infeção antiga, surgem durante a fase de convalescença, coexistem com IgM e persistem durante toda a vida, conferindo imunidade permanente;
- Enzimas hepáticas: aumento ALT e AST;
Hepatite E
=> Causa + frequente de hepatite que hepatite A;
Vírus RNA, família Hepeviridae, género Hepevírus;
Cápside icosaédrica, sem invólucro, tamanho pequeno;
Genoma de RNA simples;
4 genótipos conhecidos: I e II atingem exclusivamente o Homem, III e IV o Homem e os animais (++ suínos);
Alcança o fígado onde se replica -> acumulação na vesícula biliar -> excretado nas fezes em grande quantidade => FECAL ORAL;
Insuficiência hepática fulminante (taxa de mortalidade 20-30%) - pode ser muito grave em grávidas (3º trimestre);
CLÍNICA: muito semelhante a hepatite A;
- Período de incubação: 15-60 dias;
- Excreção fecal inicia-se uma semana antes da sintomatologia e até 2-3 semanas depois;
- Icterícia de pele e mucosas com sintomas gerais semelhantes a síndrome gripal;
- Colúria, acolia, hepatoesplenomegalia com rash pruriginoso;
- Maioria são assintomáticas;
DIAGNÓSTICO:
- Laboratorial: deteção Ac específicos classe IgM e IgG em amostra de soro ou plasma;
- IgM anti VHE: são os primeiros a surgir e permanecem detetáveis durante períodos prolongados;
- IgG anti VHE: surgem quase simultaneamente com os da classe IgM e persistem durante anos. A sua presença em isolado, sem clínica acompanhante é sugestiva de infeção passada. Não há evidência de que tenham ação protetora eficaz => NÃO CONFEREM IMUNIDADE;
- RNA de VHE: deteção do RNA do VHE por TAAN pode ser útil no diagnóstico (raro) de infeção crónica
TRATAMENTO: hepatite A e E
Não existe tratamento específico;
Doença autolimitada, benigna e assintomática;
São aplicadas medidas gerais de suporte;
PROFILAXIA:
- Medidas básicas de higiene (lavagem das mãos e alimentos), saneamento básico;
- Vacinação: hepatite A está indicada em indíviduos de grupos de risco, confere proteção duradoura, e, para a hepatite E está em desenvolvimento vacina recombinante, não aprovada e não comercializada
Hepatite B
Único vírus DNA das hepatites;
Mais complexo, com cadeia dupla;
Família Hepadnaviridae, tamanho 42 nm;
Nucleocápside icosaédrica, com invólucro lipídico;
É um vírus estável - resiste álcool e éter, destruído por autoclavagem a 121ºC e inativado por hipoclorito de sódio;
CONSTITUIÇÃO:
- Invólucro: Ag HBs;
- Nucleocápside icosaédrica: Ag HBc isolúvel, Ag HBe solúvel, proteína não estrutural;
GENOMA: DNA cadeia dupla, circular, parcialmente incompleto, polaridade +;
Principais causas de hepatite crónica, cirrose, carcinoma hepatocelular;
Casos fulminantes são muito raros;
TRANSMISSÃO: parentérica, sexual, vertical;
CLÍNICA:
- Quadro agudo: mal estar geral, fadiga, febre, mialgias, artralgias, náuseas e vómitos, colúria e icterícia, alteração marcadas das provas função hepática;
- Quadro crónico: sintomas mais discretos e intermitentes, dispepsia e intolerância alimentar com cansaço e astenia, com alterações moderadas das transaminases;
- Quadro fulminante: falência multiorgânica, insuficiência hepática, alterações graves da coagulação, alteração do estado de consciência e morte;
=> COinfeção com outros vírus pode dar origem a quadros distintos;
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL:
1. Marcadores serológicos clássicos;
2. Técnicas de amplificação de ácidos nucleicos
Marcadores serológicos clássicos: HEPATITE B
Ag HBs:
- Ag de superfície ou Ag Australia;
- Marcador muito precoce, pode ser detetado no período de incubação, fase aguda ou estadio crónico;
- Se evolução favorável desaparece 3-6 meses de doença;
- Se durante 1º mês não houver descida do título => pensar em cronicidade;
- Hepatite crónica B: persistência do Ag HBs para além do 6º mês;
- Quantificação do Ag HBs: relação com resposta imune e carga viral VHB => indica replicação, pode ser útil para avaliar resposta ao tratamento com IFN e monitorização da evolução da doença, nos imunocompetentes corelaciona-se com gravidade;
Ac HBs:
- Ac neutralizante do Ag HBs;
- Último marcador a aparecer, surge quando desaparece Ag HBs;
- A sua presença indica imunidade de larga duração à reinfeção;
- Único marcador presente nos vacinados
Ac HBc IgM e IgG
- Os produzidos inicialmente são IgM, atingem valor mais elevado aquando da maior expressão clínica e depois diminui progressivamente até ao seu desaparecimento aos 3-6 meses => MARCADOR de infeção aguda;
- Ac HBc IgG é detetável com a sintomatologia inicial e persiste durante toda a doença e aquando da cura, permanecendo detetável por toda a vida. A sua positividade indica contacto com o vírus mas não é um Ac protetor
Ag HBe e Ac HBe
- Ag HBe tem excelente corelação com existência de uma elevada atividade replicadora do vírus, sendo a sua determinação obrigatória em todas as amostras Ag HBs positivas => com a evolução diminui e torna-se indetetável antes do desaparecimento do Ag HBs - BOM prognóstico;
- Ac HBe quando surge, indica, geralmente, diminuição da infecciosidade. A seroconversão precoce para este marcador indica boa evolução clínica. Habitualmente há pequeno atraso entre desaparecimento do Ag HBe e aparecimento do Ac HBe, e só nas infeções crónicas é que esta seroconversão apaarece passados anos;
PERFIS SEROLÓGICOS: Hepatite B
- Ausência infeção: nada positivo;
- Infeção passada com imunidade: Ac anti HBc total +, Ac anti HBs + e Ac anti HBe +/-;
- Vacinação: Ac anti HBs +;
- Infeção aguda: Ac anti HBc IgM +, Ac anti HBc total +/-, Ag HBs +, Ag HBe +;
- Infeção crónica Ag HBe +: Ac anti HBc IgM +/-, Ac anti HBc total +, Ag HBs +, Ac anti HBs -, Ag HBe +;
- Infeção crónica Ag HBe -: Ac anti HBc IgM -, Ac anti HBc total +, Ag HBs +, Ac anti HBs -, Ag HBe -, Ac anti HBe +;
Tratamento: HEPATITE B
Hepatite B aguda não tem indicação para tratamento na maioria dos casos = autolimitado;
- IFN + antivirais: protocolos bem estabelecidos;
PROFILAXIA:
- Medidas gerais de higiene, uso preservativo, não partilha de seringas e agulhas;
- Vacinação: PNV com 3 doses aos 0,2 e 6 meses;
- AcHBs < 10 mUI/mL: revacinação se imunodeprimidos, pós exposição ou hemodiálise crónica
Hepatite D
- Vírus D ou delta, vírus defetivo que necessita da presença de VHB para produzir infeção;
- Virião tem invólucro lipoproteico formado pelo AgHBs e uma estrutura proteica interna onde se localiza o genoma viral;
- Genoma do vírus é formado por uma cadeia RNA circular simples que forma um complexo com o AgHB;
- Infeção mais frequente em crianças e jovens;
- Zonas endémicas: Europa leste, Mediterrâneo, América Central;
- Transmissão: muito semelhante à da hepatite B (sexual +++ nas regiões endémicas);
CLÍNICA: - Podem variar de formas agudas benignas, formas crónicas, por vezes assintomáticas, a hepatite fulminante;
- A infeção ocorre sempre na presença de VHB, os 2 vírus contribuem para a lesão hepática, resultando numa doença mais grave => é frequente a progressão para a cirrose;
- Coinfeção simultânea de VHD e VHD: hepatite aguda, frequente autolimitada e semelhante a hepatite B;
- Superinfeção: infeção por VHD em indivíduos previamente infetados com VHB = pior prognóstico, causa hepatite aguda grave, agravamento hepatite pré-existente => hepatite crónica grave (quase sempre) ou hepatite fulminante;
DIAGNÓSTICO:
1. Marcadores serológicos clássicos;
2. Técnicas de amplificações de ácidos nucleicos;
Marcadores serológicos clássicos: HEPATITE D
º Ag HDV: determinação mais frequente nos laboratórios de referência = nos laboratórios clínicos usa-se habitualmente Ac HDV;
º Ac HDV: detetam-se poucas semanas após a infeção. A presença exclusiva de Ac HDV IgM é indicadora desta fase de infeção, desaparece rapidamente na hepatite aguda, mas perdura mais na formas crónicas da doença (+++ sobre infeção);