Queimaduras Flashcards
Quais medidas salvadoras para a vítima de queimaduras?
Garantir VA e ventilação, interromper o processo de queimadura e garantir acessos venosos.
O que é uma queimadura?
É uma lesão tecidual provocada por trauma térmico, elétrico, químico ou radioativo.
Qual a epidemiologia das queimaduras no Brasil?
Homens, 20-29 anos e crianças < 10 anos.
Qual dado é de importantíssima relevância prognóstica na queimadura?
A superfície corporal queimada (SCQ), profundidade da lesão, localização, comorbidades (mais grave em crianças e idosos).
O que significa o termo grande queimado?
Qualquer um dos seguintes: ≥ 25% SCQ entre 10-40 anos, ≥ 20% SCQ em < 10 ou > 40, ≥ 10% com 3° grau, qualquer envolvendo olhos/face/ouvidos/mãos/pés/períneo que resulte em comprometimento funcional, elétricas de alta voltagem, qualquer queimadura com trauma grave ou lesão por inalação e todos que tiverem comorbidades graves.
*A QUEIMADURA DE 1° GRAU DEVE SER SEMPRE EXCLUÍDA!!! (não traz repercussões sistêmicas ou funcionais).
Como é a mortalidade nos pacientes queimados?
É bimodal, ocorrendo o 1° pico inicialmente após a queimadura (p) e o 2° após semanas do evento, tendo como principal etiologia a SDMOS (por sepse e choque séptico).
Quais os passos do primeiro atendimento à vítima de queimadura (pré-hospitalar)?
É o mesmo do ATLS (segurança de cena, ABCDE), porém com a adição de algumas medidas extras: afastar o paciente da fonte de calor, avaliar se há a necessidade de resfriar a lesão, se for resfriada prevenir hipotermia e decidir se precisa ou não de um centro de tratamento especializado em queimadura (CTEQ).
Qual lesão é de extrema importância no paciente vítima de queimadura?
A lesão da via aérea, sendo que eu devo afastar/identificar essa lesão o mais rápido possível.
Quais as evidências do envolvimento da via aérea no primeiro atendimento ao paciente vítima de queimadura?
Queimaduras cervicais/faciais, chamuscamento dos cílios e vibrissas nasais, depósitos de carbono e alterações inflamatórias agudas na orofaringe, escarro carbonado, rouquidão, hx de confusão mental ou confinamento no local do incêndio, explosão com queimadura de cabeça e pescoço e níveis de carboxi-hb > 10% (queimadas em recintos fechados devem levantar a suspeita para intoxicação por MO).
Quando eu devo realizar a IOT precoce no paciente vítima de queimadura?
Sinais de obstrução da VA (rouquidão, estridor, musculatura acessória/retração esternal), SCQ > 40-50%, queimaduras faciais profundas e extensas, queimaduras no interior da boca, edema significativo ou risco de edema, dificuldade de deglutição, sinais de comprometimento respiratório (fadiga, oxigenação insuficiente), rebaixamento do NC e transferência do paciente com equipe não treinada para IOT.
Qual a importância do estridor na queimadura?
É um sinal tardio de comprometimento da VA e exige VA avançada imediatamente.
Qual a conduta após o controle da VA do paciente vítima de queimadura?
Interromper o processo da queimadura: retirar toda a roupa do doente, além de joias e aneis (pois o edema se instala rapidamente), irrigar a área queimada (Sabinston: temperatura ambiente nos primerios 15 min; ATLS 10a salina morna). Após isso, recobrir o paciente com lençois secos e limpos para evitar hipotermia.
*O uso de gelo está CONTRAINDICADO (pode aumentar a área queimada ou provocar hipotermia).
Qual a próxima etapa após interromper a queimadura no paciente vítima de queimadura?
Obter acessos periféricos calibrosos (mínimo 16G), com preferência para MMSS (se grande SCQ, posso puncionar sob área queimada). Após isso, para todos com SCQ > 20%, infundir volume o mais rápido possível.
*A segunda opção de acesso é a safena (mas precisa ser dissecada para isso) e a terceira é uma veia profunda.
Quanto de voluem realizar no pré-hospitalar para o paciente vítima de queimada?
Peso estimado x SCQ/8 por hora.
Como decidir se eu vou levar ou não o paciente para um CETQ?
Se o CETQ mais próximo estiver a 30 minutos do local, devo levá-lo inicialmente para o serviço de emergência mais próximo para o atendimento intra-hospitalar inicial.
Qual a temperatura da água que eu jogo no paciente vítima de queimadura?
Em temperatura AMBIENTE (ou ≥ 12°C), não gelada. Quando queimadura química: temperatura morna.
Por que eu não devo jogar água na queimadura após 15-30 minutos da lesão?
Pois a lesão já se estabeleceu, não havendo benefício.
Qual o significado da queimadura em face e pescoço?
Implica que a VA estava próxima dessa fonte de calor e que a pessoa possivelmente inalou fumaça muito quente.
Como a queimadura pode comprometer a ventilação do paciente?
Por: lesão térmica, lesão pulmonar por inalação, intoxicação por CO, por cianeto e restrição à expansão torácica.
Qual o efeito da fumaça quente na VA?
Queima APENAS VAS - lesão térmica da VAS (NÃO QUEIMA PULMÃO, pois perde calor conforme seu trajeto). O que queima pulmão é VAPOR DE ÁGUA QUENTE.
Qual a lesão da inalação de fumaça suja? Qual a diferença para lesão térmica da VA?
Há lesão pulmonar por inalação (se estiver quente, pode haver lesão térmica de VAS também). Ou seja, fumaça quente pega VAS e lesão suja pega VA inferior.
Até onde se extende a lesão térmica de via aérea na queimadura?
Geralmente fica restrito à VAS, alcançando as cordas vocais e, mais raramente, até a bifurcação da traqueia,
Quais as possíveis consequências da lesão térmica de VA?
Como compromete VAS, o edema em mucosa/submucosa e o sangramento e ulcerações de faringe, laringe e cordas vocais podem comprometer agudamente a ventilação (obstrução - rouquidão e estridor).
Qual o QC da lesão térmica de VAS?
A queimadura da VAS promove edema e hiperemia. Hiperemia de orofaringe, rouquidão e estridor. Pode haver insuf respiratória imediatamente após o trauma.
Como fazer dx da lesão térmica da VAS e o tratamento?
Dx: clínica, laringoscopia.
Tto: suporte ventilatório (a forma depende do paciente). É importante considerar a intubação PRECOCE (pois esse paciente, em breve, pode ter fechamento da VA).
Qual a importância no estridor nos pacientes com lesão térmica de VAS?
Significa que esse paciente está evoluindo para obstrução de VAS, sendo URGENTE a necessidade de IOT desse paciente, pois senão, após o fechamento, eu não consigo mais intubar.
Quando ocorre a lesão pulmonar por inalação?
Ocorre quando a fumaça produzida pela combustão de elementos do ambiente alcançam a VA infraglótica, promovendo lesão em brônquios, bronquíolos e alvéolos. Ou seja, é diferente da lesão térmica da VAS, pois na lesão por inalação de fumaça não há lesão térmica, pois o calor é perdido conforme a fumaça passa pela VAS. Geralmente ocorre em locais fechados.
Qual o QC da lesão pulmonar por inalação?
Sibilos, escarro carbonáceo, pode ter insuf respiratória em +/- 24h (não é tão rápida quanto a lesão térmica por inalação). Há maior risco de pnm.
Como fazer dx e tratar a lesão pulmonar por inalação?
Dx: clínico, broncoscopia, cintilografia com xenônio 133.
Tto: suporte ventilatório, NBZ com broncodilatador +/- NBZ com heparina ou hemiacetilcisteina (para promover a fluidificação e eliminação desses resíduos). Posso chegar a fazer broncoscopia para retirar esses resíduos.
O que pode ter acontecido em um cenário de queimadura em face e pescoço e o que pode ter acontecido em queimadura em recinto fechado (sem necessariamente queimadura em face)?
Cenário 1: lesão térmica das VAS ou lesão pulmonar por inalação.
Cenário 2: intoxicação por MO ou cianeto.
Qual o QC da intoxicação por CO?
Cefaleia (principal) e redução da consciência. Pode haver coloração vermelho-cereja da pele.
Como fazer o dx da intoxicação por CO?
Dosar CARBOXIHEMOGLOBINA (ideal), pois a SaO2 pode estar normal (o oxímetro de pulso não consegue diferenciar COHb de oxiemoglobina).
Qual a fisiopatogenia da intoxicação por CO?
O CO tem uma afinidade infinitamente maior pela Hb do que o O2, deslocando o O2 da Hb e impedindo a liberação de O2 para os tecidos.
Quais as manifestações da intoxicação por CO?
Cefaleia e náuseas > confusão > coma > morte.
Qual o tto da intoxicação por CO?
FiO2 a 100% para deslocar o CO da Hb = IOT (caso apenas suspeita, pode-se adm por uma máscara não reinalante), cateter de alto fluxo, medicina hiperbárica (ideal) por 4-6h.
Quais componentes que, quando queimados, liberam o cianeto (CN)?
O poliuretano, lã, náilon e algodão.
Qual a fisiopatogenia da intoxicação por cianeto?
O CN impede a respiração celular (o uso celular do O2), promovendo metabolismo anaeróbio com produção de lactato.
Qual o QC da intoxicação por cianeto?
Rebaixamento do NC (principal). São manifestações extremamente inespecíficas e pode resultar no óbito rapidamente, por isso o tratamento deve ser feito mediante suspeita (rebaixamento NC em queimadas em recinto fechado). Uma alteração é a acidose metabólica inexplicada.
Como fazer dx da intoxicação por cianeto?
Elevação do lactato (dosagem do lactato > 90 mg ou 10 mmol) e elevação do CN (dosagem do cianeto > 5 mg/L).
Como tratar a intoxicação por cianeto?
Tiossulfato de sódio e hidroxicobalamina em altas concentrações, visando a ligação ao CN e sendo convertido em cianocobalamina, que é inerte. Pode ser usado (+/-) tiosulfato de sódio.
*Lembrar que o tratamento deve ser EMPÍRICO (dx leva tempo e o paciente pode morrer antes).
Como a queimadura pode promover restrição à expansão torácica? Como tratar?
As queimaduras de 3° grau (espessura total) deixam a área queimada com textura semelhante a um couro, com perda completa da elasticidade do local acometido. Quando toda (ou quase toda) a circunferência torácica é acometida, ocorre a insuficiência respiratória por restrição à expansão. O tratamento é a escarotomia da lesão (incisão até o subcutâneo), reestabelecendo de imediato a expansibilidade torácica.
Por que pacientes com SCQ > 20% necessitam de reposição volêmica imediata?
Pois há a grande produção de citocinas pró-inflamatórias que irão promover uma resposta sistêmica inflamatória, havendo aumento importante da permeabilidade vascular e perda generalizada de fluidos e ptn para o 3° espaço. Isso promove redução do DC e aumento do tônus adrenérgico, havendo hipoperfusão de vísceras e pele (pode agravar a área queimada, aumentando sua profundidade). Por isso a reposição volêmica deve ser IMEDIATA nesses pacientes.
Como acompanhar a resposta à reposição de volume?
Através da passagem de uma sonda de Foley para quantificar a diurese do paciente, sendo o melhor parâmetro para avaliar a resposta ao volume.
Qual DU almejado na reposição de volume do queimado?
0,5 ml/kg/h (1 se < 30 kg).
Como calcular a SCQ?
Para adultos: através da regra de Wallace (regra dos 9) - 9 em cada MMSS (4 1/2 anterior e 4 1/2 posterior) e cabeça/pescoço, 18 em cada MMII e 36 no tronco (18% anterior e 18% posterior). A mão do paciente e genitália = 1% da SCQ.
Já para crianças, a regra dos 9 não é a melhor (pois maior a desproporção crânio-caudal), portanto eu uso a regra de Berkow (esquema de Lund-Browder).
Como classificar a queimadura de acordo com a espessura? Quais entram para o cálculo da SCQ?
É diferente para a literatura habitual e o ATLS. Naquela, é classificada em 1°, 2° e 3° graus. Nesta, é classificada em espessura parcial (1° e 2° graus) e espessura total (3° grau).
1° grau: apenas epiderme, não sendo usada no cálculo da SCQ. 2° grau: superficial (papilas dérmicas) e profunda (reticular). 3° grau: SC.
Como se manifestam as queimaduras de 1° grau?
Eritema (vasodilatação) e dor moderada, sem formação de bolhas ou comprometimento de anexos cutâneos (folículo piloso e glândulas). Não há fibrose em sua resolução.
Como tratar a queimadura de 1° grau?
Analgesia com AINEs e hidratantes tópicos.
Qual a diferença entre a queimadura de 2° grau superficial e profunda?
Além da profundidade, há importância no resultado estético da lesão, pois na reticular estão as estruturas mais importantes para reepitelização da lesão. Isso implica que o tratamento na profunda é mais agressivo pelo componente estético.
Quais as característiacs de coloração e sensibilidade da queimadura de 2° grau?
Coloração: superficial é eritema E BOLHAS e profunda é rósea E BOLHAS (queimadura de 2° grau TEM BOLHAS - se tem bolhas é 2° grau).
Sensibilidade: a superficial é mais dolorosa.
*Quando houver comprometimento da sensibilidade, é da tátil com preservação da de pressão (barestésica).
Quanto tempo leva a cicatrização das queimaduras de 2° grau?
3-9 semanas.
Como tratar a bolha na queimadura de 2° grau?
- Se a bolha já estiver rompida: retirar a pele.
- SCQ grande: retirar a bolha (pois quero usar ATB tópico, e a bolha impede a penetração do ATB).
Como tratar a queimadura de 2° grau?
Limpeza (tirando ou não a bolha), curativo + ATB tópico (sulfadiazina de prata - tirar a bolha).
*Para profunda: posso fazer enxertia cutânea.
Como é o curativo da queimadura de 2° grau? Explique.
É oclusivo, pois na queimadura de 2° grau há exposição das terminações nervosas, sendo extremamente doloroso, fazendo com que o curativo oclusivo exponha menos essas terminações e seja menos dolorosa.
Quais as características da queimadura de 3° grau?
Gordura subcutânea, coloração marrom amarelado ou esbranquiçada (ou mesmo enegrecida ou vermelho amarelada), podendo ser vista em sua base vasos coagulados, porém é INDOLOR na região de queimadura de 3° grau (mas geralmente ao redor tem uma de 2° grau, e aí doi). A textura é firme (~couro), com redução do tato e pressão.
Qual o tratamento da queimadura de 3° grau?
Desbridamento + enxertia cutânea PRECOCE (quanto mais precoce melhor, pois ainda estou na fase inflamatória da cicatrização). A cicatrização só ocorre mediante enxertia ou contração da lesão.
O que pode ocorrer na evolução de uma queimadura de 3° grau?
Pode haver RETRAÇÃO dessa ferida (da “pele dura”, da escara), podendo até mesmo promover comprometimento vascular (especialmente em lesões circulares), como por exemplo hipoperfusão distal em membros.
Qual a conduta quando a escara está prejudicando a vascularização ou a expansibilidade (ex: tórax)?
Escarotomia.
O que seria a queimadura de 4° grau?
É a queimadura que ultrapassa o SC e atinge músculos e ossos, sendo comum em queimadura elétrica grave.
O que é uma queimadura elétrica grave?
> 1000V (a tomada de casa geralmente não ultrapassa esse valor).
Como é a REMIT na queimadura?
Como em qualquer REMIT, há a liberação de mediadores inflamatórios que irão promover aumento da permeabilidade capilar no local e à distância, porém na queimadura, como a lesão tende a ser mais extensa, essa liberação pode ser absurda, podendo levar o paciente rapidamente ao choque. Se não houver infecção, essas manifestações CV desaparecem em 24h, porém o hipermetabolismo permanece até epitelização da lesão.
Por que ocorre o hipermetabolismo na queimadura?
Pela liberação dos hormônios contrainsulínicos na REMIT (GC, glucagon, catecolaminas, etc), aumentando a TMB em até 200%, havendo intensa proteólise e lipólise, podendo promover desnutrição proteica rapidamente caso não haja suporte nutricional. Ocorre esteatose hepática pela lipólise e reesterificação de AG no fígado.
Quais as necessidades calóricas do paciente queimado?
Curreri: 25 kcal/kg/dia + 40 kcal para cada % de SCQ.
Outras recomendações: cálcilo da TMB por calorimetria indireta e multiplicar esse valor por 1,4x.
Qual a composição da dieta do paciente vítima de queimadura?
1-2 g/kg/dia de ptn pelo Sabinston (supre necessidade e atenua proteólise - diminui a perda muscular). O resto da caloria por ser por carbo ou gordura, preferindo-se por enteral por sonda nasojejunal (pós-pilórica). A NPT possui maior taxa de complicação e óbito.
*Sociedade europeia de nutrição clínica e metabolismo: 1,5-2 de ptn para adultos e 1,5-3 para crianças.
Quais as formas de reduzir o hipermetabolismo desses indivíduos?
BB (reduzir 20% a FC reduz a perda de massa corporal de 9% para 1% - propranolol. Além disso, também reduz esteatose hepática e reduz a perda de massa muscular esquelética). A dose é 4 mg/kg em 24h.
Outras: oxandrolona (esteroide anabolizante), rhGH (possível aumento de morbimortalidade) e IGF-1.
Como é a resposta imune à queimadura?
Há disfunção na RI celular e humoral (diminuição na produção de IgG) - prolonga a vida de aloenxertos e aumenta o risco de infecções.
Quando devo iniciar a ressucitação volêmica pelo ATLS? Qual solução é preferível?
Na queimadura com > 20% SCQ. Prefere-se, pelo ATLS, o Ringer Lactato.
O uso de coloide como volume é bom na queimadura?
Não, pois a permeabilidade vascular é tão intensa nas primeiras 24h que até mesmo as macromoléculas do coloide podem atravessar para o 3° espaço.
Como deve ser a reposição volêmica do paciente queimado?
ATLS: 2 mL x peso x SCQ.
Parkland: 4 mL x peso x SCQ.
Independentemente de qual fórmula usar, 50% deve ser administrado nas primeiras 8h após O ACIDENTE (!!!), contabilizando a quantidade feita no pré-hospitalar, e 50% nas demais 16h.
É interessante comentar que esse volume pode e deve ser ajustado de acordo com A DIURESE do paciente (manter pelo menos 0,5 ml/kg/h ou 1 ml/kg/h para < 14 anos).
**Para < 14 anos: 3 mL x peso x SCQ e DU 1 ml/kg/h.
**Para crianças < 30 kg, usar SG 5% junto com o Ringer.
Qual a peculiaridade da reposição volêmica na queimadura elétrica?
Usar SEMPRE 4 mL x peso x SCQ até a urina clarear, objetivando 1-1,5 ml/kg/h de DU até a urina clarear.
Quais as possíveis consequências do excesso de volume no paciente queimado?
Pode agravar o edema, podendo promomover progressão da queimadura para planos mais profundos e síndrome compartimental abdominal ou de extremidades.
Quais as medidas obrigatórias para qualquer queimadura?
Desbridamento com retirada de CE e tecidos desvitalizados, além da limpeza da ferida (água e clorex degermante 2%).
Qual a conduta na queimadura após desbridamento?
Realização de um curativo oclusivo (protege epitélio, reduz colonização bacteriana/fúngica e redução da perda calórica por evaporação), trocando 2x/dia.
Como é feito o curativo oclusivo?
4 camadas: atadura de tecido sintético (rayon) ou morim com ATB tópico - gaze absorvente - algodão hidrófilo - atadura de crepe.
*Face e períneo devem ser feitos curativos expostos.
Qual ATB tópico usar na queimadura? Qual o objetivo dele? Comente.
Acetato de mafenida 5%, nitrato de prata 0,5% ou SULFADIAZINA DE PRATA 1%. O objetivo é a prevenção da infecção.
- Sulfadiazina de prata: inativo contra Pseudomonas e Enterococos.
- *Mafenida: atividade contra Pseudomonas e outros GNs.
Quais os curativos biológicos e sintéticos e quando podem ser usados?
Podem ser usados na queimadura de 2° grau superficial. Biológicos: pele de cadáver (aloenxerto) ou de porco (xenoenxerto). Sintéticos: silicona ou colágeno.
Como deve ser a analgesia na queimadura?
Pode ser com opioide (e é EV), pois a dor é muito intensa.
Quais profilaxias devem ser feitas no paciente queimado?
Para tétano e para TVP.
Devo fazer antibiótico profilático no grande queimado?
Não, o ATB que eu faço é tópico.
Quais as principais complicações no paciente queimado?
A infecção e a sepse, sendo as principais causas de morte nesse grupo.
Por que a infecção e sepse são tão frequentes no paciente queimado?
Por diversos fatores que predispõem a sua ocorrência: perda da integridade cutânea, IMSP, translocação bacteriana do TGI e dispositivos invasivos (VM, SVD, CVC).
Quando usar ATB profilático (não o tópico)?
Em casos de enxertia e desbridamento, sendo feito no perioperatório (não mais que 24h).
Como identificar a infecção da área queimada?
Evolução da queiamdura de 2° grau para necrose de toda a espessura da pele, surgimento de focos de hemorragia (escuros ou negros) e aparecimento de lesões sépticas na pele íntegra em torno da queimadura (como o ectima gangrenoso da Pseudomonas ou celulite).
*Febre e leucocitose (sem sinais de infecção da lesão) não são confiáveis, pois podem ser pela REMIT.
Como dx infecção da área queimada?
Após suspeita clínica, o dx deve ser confirmado por bx quantidativa da lesão suspeita para complementar a propedêutica.
*Quando indisponível, a clínica das lesões com leucocitose e curva térmica são suficientes.
Como está a incidência das infecções em queimados nos últimos anos?
Reduziu as infecções invasivas (principalmente por Pseudomonas - sendo mais comum em crianças e tardiamente), porém com aumento de infecções fúngicas (Cândida é o principal e Aspergillus o mais grave).
Como tratar a infecção da área queimada?
ATB sistêmico e excisão da área infectada (abordagem cirúrgica agressiva).
Qual a consequência intestinal da queimadura?
Quanto maior a SCQ, maior a atrofia das células da mucosa intestinal, favorecendo a translocação bacteriana.
Quais os principais focos de sepse no queimado?
Infecção invasiva da área queimada e pnm.
Como reduzir a incidência das complicações infecciosas da queimadura?
Monitorização constante da área queimada, ATB perioperatório caso desbridamento, higiene, cabeceira a 30-45°, nutrição enteral precoce (reduz translocação), glicemia entre 140-180.
Quais as consequências da lesão pulmonar por inalação?
Traqueobronquite e pneumonite químicas.
Qual a fisiopatologia da lesão pulmonar por inalação?
Aumento do fluxo sanguíneo nas artérias brônquicas -> edema e aumento da linfa pulmonar -> resposta inflamatória local com lesõa pulmonar -> formação de rolhas de fibrina -> obstrução da VA com formação de mecanismo valvular da passagem de ar (fica aprisionado nos alvéolos e favorece o barotrauma da VM - air trapping). Há um intenso broncoespasmo, podendo haver QC e radiológico semelhante à SDRA pelo aumento da permeabilidade capilar alveolar. Pode haver microatelectasia difusa por perda do surfactante. Pode ocorrer broncopnm 2ária
Quais os principais agentes etiológicos da pnm na queimadura? Como dx?
< 5-7 dias: MRSA.
> 5-7 dias: P. aeruginosa e outros GNs.
Dx: surgimento de nova imagem radiológica (infiltrado, cavitação ou consolidação), sepse e alterações recentes no escarro (purulento) ou cultura positiva.
Quais as principais complicações GI das queimaduras?
Íleo adinâmico, úlceras de Curling (úlceras no estômago e duodeno - raro com o uso profilático de bloqueadores H2) e a síndrome de Ogilvie (pseudo-obstrução colônica).
Outras: insuficiência hepatocelular (hipoalbuminemia, alteração da coagulação - agravada pela CIVD -, hiper brb), colecistite alitiásica.
Qual uma complicação hematológica grave na queimadura de espessura total (3° grau)?
A hemólise intravascular intensa, sendo mais comum dentro de 24-48h da lesão, havendo mioglobinúria e perda assustadora da massa eritrocitária (30% ou mais).
Qual complicação cutânea não infecciosa pode ocorrer na queimadura? Explique.
A úlcera de Marjolin, que é um carcinoma de células escamosas que ocorre na cicatriz da queimadura, ocorrendo muitos anos após o evento (média de 35 anos). Geralmente é agressivo.
Qual a peculiaridade das queimaduras elétricas em relação às térmicas?
Geralmente acometem tecidos mais profundos que as térmicas. Isso pois a pele apresenta maior resistência à corrente elétrica quando comparada a nervos, vasos e músculos.
Como a corrente elétrica circula no corpo na queimadura elétrica?
Geralmente entra pelas mãos e caminha por estruturas da baixa resistência no corpo (músculos, nervos e vasos) e deixa o corpo por uma área aterrada (geralmente os pés).
Qual a peculiaridade da ectoscopia da queimadura elétrica?
Geralmente na área de entrada da corrente há uma lesão grave (3° ou até mesmo 4° grau), porém é apenas a ponta do iceberg, pois a lesão mais grave está nos tecidos abaixo da pele, como de vísceras, músculos e feixes neurovasculares.
Como são as queimaduras de acordo com a voltagem?
A queimadura elétrica na voltagem doméstica geralmente se limitam à pele e se assemelham às térmicas, não existindo transmissão para tecidos profundos). Porém a grave (> 1000 V) promove lesões devastadores, sendo pior a corrente alternada pois prende a pessoa à fonte de eletricidade.
Como deve ser o atendimento inicial à vitima de queimadura elétrica?
Após segurança, ABCDE. Lembrar que aqui é mais comum a PCR por FV ou assistolia, devendo-se checar o pulso femoral e carotídeo e iniciar a RCP.
Quais cuidados devem ser tomados em relação ao paciente vítima de queimadura elétrica?
Monitorização com ECG contínua nas primeiras 24h e pode haver fraturas vertebrais por contração tetânica dos músculos. Devo sempre transferir para centro de queimados.
Quais as lesões de maior significado na queimadura elétrica? Explique.
As lesões de tecidos profundos, podendo promover edema muscular (agravado pela reposição volêmica), podendo causar sd compartimental (compressão vascular pelo edema e crescimento contra a fáscia muscular). É o paciente bem ressucitado com ausência de pulso arterial em algum membro. Outras: IRA por rabdomiólise.
Como tratar a síndrome compartimental da queimadura elétrica?
Fasciotomia de urgência.
Qual a conduta em caso de rabdomiólise por queimadura elétrica?
Hidratação intensa (para diminuir o tempo de contato da mioglobina com o rim, forçando a diurese dele em 1-1,5 ml/kg/h com a fórmula de Parkland até a urina clarear) e alcalinização com bicarbonato.
*ATLS: pode-se usar, também, o manitol.
Quando eu usarei bicarbonato na rabdomiólise?
Elevação de CPK (ou > 5000), pH < 7,5, bic < 30 e SEM hipocalcemia.
Qual a conduta na pele queimada por queimadura elétrica?
Desbridar (com repetição após 24h).
Qual uma complicação tardia da queimadura elétrica? Por que ocorre?
A catarata, ocorrendo em 30% dos casos até 1-2 anos após o acidente.
Qual o QC da sd compartimental?
Dor desproporcional ao estiramento passivo do membro (a dor é ABSURDA com o estiramento passivo). Pode haver ausência de pulso.
Como é a lesão por queimadura química?
Diferentemente das outras, ela continua após o contato inicial até neutralização tecidual do químico ou diluição por lavagem mecânica do local. São consideradas de 2° ou 3° grau.
Quais os acidentes com queimadura química?
Industrial (mais preocupante) e desinfetantes caseiros (mais comum).
Qual queimadura química é pior, por ácido ou álcali? Explique.
Por álcali, pois tende a provocar uma queimadura mais profunda por conseguir penetrar em planos mais profundos e demorar mais para ser neutralizada.
Devo neutralizar a queimadura química?
NÃO, pois a reação de neutralização libera calor e pode piorar a lesão.
Qual a conduta na queimadura química?
LAVAGEM COM ÁGUA MORNA SOB BAIXA PRESSÃO com 15-20L ou por +/- 30 minutos até manter o pH da pele = 7-7,5.
Caso pó seco: remover o pó antes de iniciar a irrigação.
Caso queimadura nos olhos: irrigação por 8 horas.
Onde ocorre o dano da lesão por inalação de calor, fumaça ou agentes químicos?
O dano persistente geralmente começa na região subglótica e vai até a traqueia, com gradual redução à jusante.
Qual o tamanho dos TOTs usados?
Ao menos 7.5 em adultos e 4.5 em crianças.
Quando será realizada a reposição de fluidos na queimadura?
A partir de SCQ de 20% (além disso, deve-se passar uma SNG).
Qual o calibre mínimo do AVP?
16G.
Qual a CD caso AVP não for possível?
CVC ou IO.
Qual medida deve ser realizada em todas as vítimas de queimadura que estão recebendo fluidos?
A colocação de uma SVD para monitorizar o DU.
Quais labs devem ser solicitados nas vítimas de queimaduras?
HMG, tipagem e provas cruzadas, PGA, eletrólitos, glicemia e teste de gravidez.
Qual a CD para queimaduras circunferenciais das extremidades e qual seu objetivo?
O objetivo é manter a circulação: remover joias e AV circulação distal.
Devo usar água fria no paciente queimado?
Não, especialmente caso SCQ > 10% pelo risco de hipotermia.
Qual a definição de hipotermia?
T° < 36° (< 32° é a hipotermia grave).