Chikugunya Flashcards
Quais as informações do vírus da Chikugunya?
O Chikungunya (CHIKV) é um arbovírus de RNA fita única pertencente ao gênero Alphavirus, da família Togaviridae.
Quais os vetores e a forma de transmissão?
Os principais são os mesmos da dengue: Aedes aegypti e albopictus. Na África o culex pode estar envolvido e o anopheles.
A transmissão é pela picada da fêmea.
É uma doença de notificação compulsória?
Sim
Qual a epidemiologia?
Mais comum em meses mais quentes e chuvosos. No inverno os vetores diminuem.
Qual o quadro clínico?
- Incubação de 1-12 dias (média 3-7 dias).
- Fase aguda: Febre alta (>38,5°C) que dura em média 7 dias; intensa poliartralgia (a partir do 2° ao 5° dia, que predomina em mãos, punhos e tornozelos; O acometimento é simétrico e distal, no entanto, em 30-50% pode ocorrer acometimento doo esqueleto axial; Edema periarticular ao exame físico; Pode ter linfadenopatia (cervical é a mais comum) e manifestações gastrointestinais; Rash eritematoso maculopapular (por volta do 3° dia e pode ter prurido e formação de bolhas, principalmente em crianças).
- Fase subaguda: Permanência ou volta de queixas articulares, como rigidez matinal, dor e edema, geralmente nas mesmas articulações anteriormente afetadas! A duração é variável, com a maioria dos casos regredindo em até três meses.
- Fase crônica: poliartralgia/artrite por > 3 meses. Estes pacientes podem evoluir com deformidades (artropatia crônica destrutiva), semelhante à artrite reumatoide ou artrite psoriásica, mas a maioria se recupera sem sequelas. // Cerca de 20% desenvolve fenômeno de Raynaud, que aparece no segundo ou terceiro mês após a fase aguda. Outras queixas descritas na fase crônica são: fadiga, cefaleia, prurido, alopecia, dor neuropática, alterações cerebelares, distúrbios do sono, deficit de atenção e memória, depressão e turvação visual. A fase crônica pode durar de três a seis anos!
Quanto tempo pode levar a fase crônica e subaguda?
- Mais do que 3 meses ( podendo chegar a 3-6 anos).
- Subaguda: Até 3 meses.
Quais os principais fatores relacionados com uma evolução crônica?
- Idade > 45 anos (principalmente entre mulheres)
- Doença articular prévia;
- Maior intensidade dos sintomas na fase aguda.
Qual a manifestação atípica mais comum?
Crises convulsivas (indivíduos com história prévia de epilepsia e/ou alcoolismo).
Quais as especificidades da doença em gestantes?
Não passa por aleitamento materno, porém pode passar se a mãe desenvolver viremia no período perinatal.
Não é teratogênico.
A via de parto não altera a transmissão.
Gestantes com chikungunya aguda devem ser acompanhadas diariamente devido à possibilidade de sofrimento fetal! Se a infecção na mãe ocorreu nos sete dias que
antecedem o parto, mãe e filho devem permanecer internados sob observação por pelo menos sete dias após o parto.
Quais populações podem ter desfecho mais grave?
Apesar da morbidade osteoarticular persistente, que interfere na qualidade de vida, de um modo geral a Chikungunya é uma infecção de curso benigno e autolimitado.
No entanto, nas últimas epidemias têm sido relatadas formas graves e atípicas da doença (ex.: meningoencefalite, pneumonite, miocardite, nefrite.
Esses desfechos são mais comuns em gestantes, idosos (>65 anos), crianças < 2 anos, usuários crônicos de AINES, bem como portadores de comorbidades.
Quais as alterações laboratoriais?
- Na fase aguda, é comum o surgimento de leucopenia (com linfopenia) e, mais raramente, trombocitopenia.
- As aminotransferases podem estar elevadas.
- A maioria dos pacientes que evolui com sintomas persistentes desenvolve crioglobulinemia concomitante.
- Os níveis de VHS e proteína C-reativa costumam ficar aumentados por várias semanas.
Como é feito o diagnóstico?
- RT-PCR para identificação do genoma viral no sangue, liquor ou tecidos. Pode ser feito até o
quinto dia após o início dos sintomas, que é o período de maior viremia; - Pesquisa de anticorpos IgM anti-CHIKV (pela técnica ELISA), devendo idealmente ser
realizado a partir do sexto dia de doença; - sorologia “pareada” com anticorpos IgG anti-CHIKV, com a primeira coleta a partir do sexto dia do início da doença,
repetindo-se o exame após 15 dias. Um aumento nos títulos de IgG anti-CHIKV maior ou igual a 4x permite o diagnóstico retrospectivo da infecção.
Tem como pegar a chikugunya duas vezes ou mais?
Acredita-se que após a infecção o paciente fique permanentemente imunizado contra o vírus, não se infectando uma segunda vez.
Qual o tratamento?
- Fase aguda: Na fase aguda é feito com medidas de suporte clínico, como o uso de antitérmicos /analgésicos para alívio da febre e da poliartralgia. A droga de escolha é o paracetamol, podendo-se associar dipirona ou mesmo opioides (codeína, tramadol, oxicodona) em casos refratários. A CRIOTERAPIA, com aplicação de compressas frias nas articulações dolorosas, também é medida útil em todos os casos. Deve-se evitar o uso de AINE durante a fase aguda, pelo risco de coinfecção pelo vírus da dengue e consequente aumento no risco de hemorragias! Não há tratamento antiviral específico comprovadamente eficaz, assim como não há vacina.
Em até 30% dos casos pode haver um componente de dor neuropática na fase aguda da Chikungunya que não responde aos analgésicos convencionais. Nestes pacientes (ex.: dor intensa e refratária, principalmente se associada a certas características clínicas como sensação de “choque elétrico”, “queimação” ou parestesias) está indicado
associar drogas específicas para dor neuropática, como a amitriptilina em baixas doses (ex.: 50 mg/dia) ou a gabapentina (300-1.200 mg/dia). Em idosos e cardiopatas (ex.: história de arritmias) deve-se preferir a gabapentina, pelo fato desta última causar menos efeitos colaterais do que a amitriptilina em tais grupos.
Existem evidências de que o repouso articular reduz a chance de evolução para as fases subaguda e crônica da doença, logo, todo paciente com Chikungunya deve ser afastado de suas atividades laborativas durante a fase aguda (seja generoso ao fornecer um atestado médico para esses doentes)!
- Na fase subaguda os AINE ou mesmo os glicocorticoides podem ser usados (estes últimos serão preferidos nos pacientes com manifestações dolorosas mais intensas). Se uma ou poucas articulações apresentarem artrite, pode-se optar por injeções intra-articulares de glicocorticoide.
- Na fase crônica, com sintomas persistentes ou progressivos, pode-se tentar a hidroxicloroquina (associada ou não à sulfassalazina), uma medicação com efeito imunomodulador bastante eficaz no tratamento de manifestações musculoesqueléticas em doenças reumatológicas. Hidroxicloroquina por seis semanas atualmente é considerado o tratamento de primeira linha para pacientes na fase crônica da Chikungunya. O metotrexato, por ser mais tóxico, figura como opção de segunda linha para os casos que não respondem à combinação de
hidroxicloroquina + sulfassalazina. Pacientes que evoluem com artralgia crônica incapacitante podem receber analgesia com morfina ou derivados.
Nas fases subaguda e crônica também há benefício com o emprego de fisioterapia, que ajuda a preservar a função musculoesquelética, evitando a atrofia por desuso e o
surgimento de deformidades.
Quais as medidas profiláticas?
As principais medidas preventivas são as mesmas já descritas para a dengue, isto é, basicamente controle ambiental da população de mosquitos (p. ex.: evitar água
parada no peridomicílio), estratégias de proteção individual contra a exposição (ex.: repelentes, telas mosquiteiras) e o pronto tratamento dos doentes num ambiente livre de mosquitos, a fim de quebrar o principal elo na cadeia de transmissão.