Psicopatologia II Flashcards

Continuação

1
Q

Impulsividade

A
  • Tomada de decisões de forma instintiva, sem deliberação ponderada sobre os riscos ou as consequências dessas decisões.
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2
Q

A impulsividade pode ser por:

A
  • secundário a perturbações mentais agudas,
  • um traço de personalidade
  • sintoma de uma síndrome neuropsiquiátrica crónica
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3
Q

Impulso

A
  • sentimento/ desejo súbito que compele a pessoa a agir
  • com frequência está em conflito com normas sociais/ objetivos, valores ou autoconceito do indivíduo.
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4
Q

Perturbações do controlo do impulso

A
  • dificuldade no autocontrolo emocional ou comportamental
  • DSM-5 inclui nesta categoria:
    • a perturbação explosiva intermitente,
    • a piromania
    • a cleptomania
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5
Q

Incongruência/ Inadequação afetiva

A
  • Afetos ≠ conteúdo do discurso/ pensamento/ contexto.
  • Ex. Esquizofrenia, episódio maníaco
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6
Q

Melancolia

A

briso que, or men no grego melancholia = mtlas -
do cola dependencia edorina pré-moderna, surge como
lantes: sangue,
un concito na depa, bilisa da teoria dos quatro humores circu-fleuma, bílis amarela e bílis negra. De acordo com
Caleno, o excesso deia, is negra, sobre as faculdades intelectuais, conduziria à melanco lid m estado mórbido caracterizado poratia rimento do espírico e ideias fixas (ruminantes) de culpa, ruína ou Abandono. Na atualidade, a melancolia corresponde a um subtipo de perturbação depressiva (APA, 2013). A depressão melancólica, também conhecida no passado por «depressão endógena», caracteriza-se por variação diurna no humor e nível de energia (agravamento matutino), humor não reativo, anedonia, agitação ou lentificação psicomotora, alterações cognitivas, diminuição do apetite e insónia
APA, 2013; Harald & Gordon, 2012; Parker et al., 2010; Thase,
2013). A melancolia ocorre em 15 a 30% dos episódios depressivos.
As implicações terapêuticas não são claras neste subtipo de depres-
sao, embora seja essencial a abordagem farmacologica (preferencial-
mente com antidepressivos tricíclicos) ou a eletroconvulsivoterapia (Harald & Gordon, 2012; Parker et al., 2010; Thase, 2013).

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7
Q

Memória

A

Função mental superior que consiste na capacidade de relembrar informação. Não é um sistema único, nem tem uma localização exclusiva, existindo diversos tipos de memória que desempenham funções distintas (Ferro & Pinto, 2017). Globalmente, a memória pode ser classificada segundo diferentes referenciais, por exemplo, como motora (memória implícita) (ver Memória impli-cita) ou não motora (memória explícita e memória de trabalho) (ver Memória explícita e Memória de trabalho); como memória de longo prazo (memória implícita e memória explícita) e memória de curto prazo (memória de trabalho) (Ferro & Pinto, 2017).
As estruturas anatómicas base da memória são o diencéfalo e as formações hipocâmpicas dos lobos temporais mesiais, incluindo as estruturas associadas (giro dentado, hipocampo, giro hipocâmpico e córtex entorrinal) (Gordon, 1997). As lesões bilaterais nestas regiões perturbam a memória de forma desproporcional às outras funções cognitivas. Na prática clínica é importante distinguir defeito de mães ria de queixas subjetivas de memória que correspondam a diferentes problemas cognitivos como defeito de linguagem, atenção ou perceção (Ferro & Pinto, 2017).

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8
Q

Memória de curto prazo

A

Tipo de memória que inclui a memória de trabalho (ver Memória de trabalho).

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9
Q

Memória de longo prazo

A

Tipo de memória que inclui memória implícita (ver Memória implicita) e memória explícita (ver Memória explicita).

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10
Q

Memória de trabalho

A

Tipo de memória de curto prazo com acesso consciente, dependente da atenção, que permite evocar uma quantidade de informação limitada, possibilitando manipular e reter informação para utilização imediata na resolução de proble-mas. Em termos neurobiológicos, relaciona-se com a rede neuronal pré-frontal, as suas conexões subcorticais e o sistema reticular ativador ascendente.

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11
Q

Memória episódica

A

Tipo de memória explícita que se refere a retenção de episódios ou experiências pessoais específicas. E a memória que grava e evoca acontecimentos pessoalmente relevantes que ocorreram numa data específica (por exemplo, a memória do dia do casamento).

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12
Q

Hiperbulia

A
  • Aumento da energia volitiva e da motivação para a ação.
  • Pode ocorrer na mania
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13
Q

Hipercinesia

A
  • Motilidade patologicamente excessiva (involuntária)
  • Inclui
    • tremores,
    • tiques,
    • estereotipias,
    • mioclonias,
    • distonia,
    • coreia,
    • atetose e
    • hemibalismo.

≠ Hiperatividade (voluntária, dirigida)

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14
Q

Hiperesquemazia/ Macrossomatognosia

A
  • Distorção da imagem corporal
  • Partes do corpo são percecionadas com dimensões/ peso exagerados.
  • Pode ocorrer:
    • secundariamente a doenças neurológicas
    • estados de intoxicação aguda com substâncias psicoativas
    • perturbações psiquiátricas
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15
Q

Hiperestesia

A
  • Distorção sensorial
  • Aumento da intensidade dos estímulos sensoriais.
    Outro
  • Pode ocorrer:
    • nas intoxicações por substâncias psicoativas
    • esquizofrenia,
    • episódios de mania
    • epilepsia,
    • enxaqueca
    • hipertiroidismo
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16
Q

Memória explícita

A

Tipo de memória de longo prazo, tambem designada por memória declarativa, envolvida na manipulação, retenção e evocação de eventos, factos e acontecimentos. Divide-se em memória semântica (ver embria semântica) e em memória episódica (ver Memória episódica).

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17
Q

Ipseidade

A
  • Deriva do latim «ipse - Eu/Self».
  • componente nuclear do self, também designado por self básico ou mínimo, que se refere ao sentido mais básico da experiência do Eu.
  • É o nível fundamental da experiência de consciência, do pensamento e da agência na 1a pessoa constituindo o ponto de partida sobre o qual se constrói o nível superior do self, isto é, o self narrativo ou social (identidade, personalidade, hábitos, etc.).
  • É o ponto de partida da experiência, do pensamento e da ação e meio de tomar consciência do mundo.
  • Há autores que propõem modelos que conceptualizam a esquizofrenia enquanto uma perturbação da ipseidade.
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18
Q

Memória implícita

A

Tipo de memória, também designada memória procedimental, que inclui os reflexos condicionados e as habilidades morora aprendidas. Constitui, portanto, a capacide as para armazenar e evocar desempenhos motores complexos (por exemplo, andar de bicicleta ou conduzir).

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19
Q

Psitacismo

A
  • Alteração do discurso
  • Repetição de palavras ou frases sem significado.
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20
Q

Memória semântica

A

Tipo de memória explícita que regista e evoca os factos e os conceitos, isto é, o fundo de conhecimentos e dos referentes das palavras e das imagens. A memória semântica está organizada conceptualmente sem referência cronológica.

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21
Q

Pulsão

A
  • Representação psíquica dos estímulos originados no corpo
  • Conceito psicanalítico situado na fronteira entre o psíquico e o somático.
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22
Q

Qualia

A
  • Qualidade única da consciência
  • Experiência fenomenal, consciente e subjetiva, acessível por meio de introspeção.
  • Constitui o carácter particular de todo o objeto/ estado mental que existe na nossa experiência consciente.
  • Ex. vermelhidão da cor vermelha tal como a percecionamos.
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23
Q

Querelante

A
  • Tendência patológica para se colocar no lugar de vítima e lamentar-se de injustiças.
  • Pode reclamar a satisfação dos seus desejos de forma agressiva/ provocadora, inclusive recorrer à justiça de forma obstinada para exigir reparação.
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24
Q

Repressão

A
  • Teoria psicanalítica
  • Mecanismo de defesa
  • As ideias e os impulsos indesejáveis são impedidos de entrar na consciência e ficam armazenados no inconsciente.
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25
Q

Respostas ao lado

A
  • Perturbação do pensamento e do discurso
  • Dá uma resposta errada/ tangencialmente relacionada.
  • Mas compreende uma questão colocada
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26
Q

Ressonância emocional

A
  • Capacidade de reatividade afetiva
  • Capacidade do indivíduo se deixar afetar pelo interlocutor e pelo ambiente
  • Relacionado com a capacidade de estabelecer uma relação empática.
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27
Q

Retração emocional

A
  • Limitação da variabilidade habitual de respostas emocionais,
  • poucas respostas emocionais em qualquer sentido
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28
Q

Rigidez afetiva

A
  • Alteração da mobilidade afetiva
  • perda da capacidade de modulação dos afetos
  • resposta emocional que inicialmente pode ser congruente, mas que não se altera com a mudança da situação.
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29
Q

Ritmos circadianos

A
  • origem no latim «circa - cerca de» e «diem - dia» (cerca de um dia)
  • conjunto de alterações físicas, mentais e comportamentais que ocorrem ciclicamente em períodos de cerca de 24 horas nos organismos vivos, a nível genético, molecular, unicelular e até aos organismos mais complexos
    OUTRO
    O sistema circadiano é responsável pela organização temporal de uma ampla gama de funções biológicas fisiológicas, incluindo funções neuroendócrinas, temperatura corporal, metabolismo, funções cognitivas, humor e alguns aspetos do ciclo sono-vigília (Jones & Benca, 2015). Em termos neurobiológicos, os ritmos são estabelecidos por «relógios biológicos» endógenos que incluem um conjunto de neurónios que constituem o núcleo supraquiasmático, localizado ao nível do hipotálamo. O sistema circadiano mantém os ritmos sem necessidade de estímulos externos, embora, sem estes, a duração de cada ciclo se aproxime, mas não corresponda exatamente a um período de 24 horas. Por esta razão, para que se verifique uma adequada sincronização entre o ritmo interno e o ambiente exterior é necessária a exposição a zeitgebers (sincronizadores). Um exemplo de zeitgeber é a exposição à luz, que constitui o sincronizador mais potente para o núcleo supraquiasmático. Apesar disso existem outros fatores sincronizadores tais como a disponibilidade de alimento, as interações sociais e a atividade física (Jones & Benca,
    2015; Roenneberg & Merrow, 2016). Estão descritas alterações nos ritmos circadianos em várias doenças psiquiátricas, incluindo nas perturbações do humor (depressão e perturbação bipolar) e, em menor grau, na esquizofrenia. Existem também intervenções terapêuticas que procuram ressincronizar os ritmos biológicos (por exemplo, cronoterapia e fototerapia) que têm evidência de eficácia clínica (Jones & Benca, 2015).
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30
Q

Afasia de Wernicke

A
  • Perturbação da linguagem
  • também conhecida por afasia sensorial ou de compreensão.
  • perda da capacidade de compreensão da linguagem
  • resulta numa alteração da fala, leitura e escrita: um discurso fluente, logorreico, com parafasias, alterações da nomeação e da repetição.
  • Resulta de lesões na área de Wernicke localizada na primeira circunvolução temporal esquerda.
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31
Q

Xantopsia

A

NEURO
Perturbação visual em que se vê os objetos com tonalidade amarelada.

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32
Q

Zoofobia

A

EXTRA
Medo patológico de animais.

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33
Q

Zoopsia

A
  • Alucinação visual em que se observam pequenos animais.
  • Tipicamente ocorre nas síndromes de privação alcoólica
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34
Q

Sinal de Veraguth

A
  • aspeto particular da mímica facial típica do indivíduo com depressão
  • sulcos oblíquos partindo das pálpebras superiores
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35
Q

Verbigeração

A
  • Perturbação do discurso
  • tipo particular de estereotipia verbal
  • repetição incessante e sem sentido de palavras, frases ou expressões, integradas na conversa ou fora do seu contexto.
  • NÃO requer estímulo externo

OUTRO
Difere da perseveração verbal, na medida em que não requer um estímulo externo, tal como ser colocada uma questão.

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36
Q

Verborreia

A

Sinónimo Conceito sobreponível ao de logorreia (ver Logorreia).

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37
Q

Vergonha

A

Extra
- Emoção desagradável
- autoconsciente
- surge da ideia de existir na sua conduta ou circunstância, algo de desonroso, desonesto ou indecoroso.

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38
Q

Vertigem

A

NEURO
- ilusão de movimento,
- pode ser sensação de rotação do próprio indivíduo ou do ambiente externo em relação a si,
- o sintoma mais marcante de disfunção a nível vestibular.
- A sua etiologia é mais frequentemente periférica, embora possa também ter causa central

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39
Q

Vida instintiva

A
  • estruturas inatas do comportamento,
  • incluindo o sono, o comportamento alimentar e o comportamento sexual.
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40
Q

Vigília

A
  • Nível de consciência m
  • o indivíduo se encontra desperto, alerta a estímulos externos e internos.
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41
Q

Violência

A

Uso intencional de força física ou poder, sob a forma de ameaça ou na realidade, sobre o próprio, outra pessoa, comunidade ou grupo, que provoca ou tem grande probabilidade de provocar privação, dano físico ou psicológico e até resultar na morte.

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42
Q

Viscosidade

A
  • Tendência para prolongar interações interpessoais
  • Apresentar discurso repetitivo, circunstanciado, sobre temas limi-tados
  • Descrita inicialmente na epilepsia do lobo temporal
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43
Q

Perturbações da Vivência do Eu

A

Perturbações do self que incluem: a alteração da consciência da atividade do Eu, isto é, alteração da sensação de existência e consciência da atividade psíquica, de ser o agente que executa os seus pensamentos e ações (por exemplo, a despersonalização, delírios niilistas e fenómenos de passividade); a alteração da continuidade do Eu, ou seja, alteração da consciência de continuidade de ser a mesma pessoa (por exemplo em algumas perturbações dissociativas e na esquizofrenia); alterações da unidade do Eu, com alteração da consciência de ser uma pessoa única (por exemplo, a autoscopia e a síndrome de duplos subjetivos); alterações dos limites do Eu, isto é, consciência de ser distinto e independente de outras coisas, pessoas e do mundo externo (por exemplo, os fenómenos de passividade e de alienação do pensamento) (Casey
& Kelly, 2007; Oyebode, 2018).

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44
Q

Volição

A

Processo cognitivo pelo qual um indivíduo se decide a praticar uma ação em particular.

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45
Q

Quais podem ser as alterações do volume do discurso?

A
  • Aumentado - Hiperfonia
  • Diminuido - Hipofonia, Mussitação
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46
Q

Lassitude

A

Estado de fadiga ou cansaço que se traduz adicionalmente numa falta de energia e iniciativa para a ação. Sobrepõe-se aos conceitos de fadiga, anergia e abulia.

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47
Q

Leitura do pensamento

A

Perturbação da posse do pensamento, mais especificamente de alienação do pensamento, em que o doente acredita que os seus pensamentos podem ser ativamente lidos por terceiros. Distingue-se da difusão do pensamento por existir o pressuposto de que há uma transferência passiva dos pensamentos para o mundo exterior (ver Difusão do pensamento). Ocorre na esquizofrenia (Casey & Kelly, 2007).

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48
Q

Lentificação psicomotora

A

Diminuição da velocidade dos movimentos voluntários de presumível causa psíquica. É uma manifestação comum observada na perturbação depressiva e na esquizofrenia e, menos comum, na síndrome confusional aguda (delirium hipoativo)
(APA, 2013). Pode ocorrer secundariamente à intoxicação por substâncias depressoras do sistema nervoso central (álcool, opiódes, benzodia-zepinas) (APA, 2013). Na neurologia, o termo bradicinesia é utilizado para descrever o mesmo fenómeno, sem presunção de etiologia psí-quica, geralmente associado a parkinsonismo ou aos efeitos extrapira-midais dos antipsicóticos (ver Bradicinesia e Efeitos extrapiramidais).

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49
Q

Letargia

A

Estado acentuado de fadiga, falta de energia, redução do comportamento motivado por dificuldade em manter a atenção e o nível de vigília, que se traduz numa redução global da atividade espontânea. Distingue-se da apatia, na qual a falta de iniciativa se deve a uma ausência de emocionalidade; ou seja, o doente está atento ao meio envolvente e tem energia para realizar as suas atividades de rotina, mas não reage a estímulos sociais ou emocionais (ver Apatia). Ocorre nas perturbações do nível de consciência, na síndrome confusional aguda (delirium hipoativo), nas encefalopatias metabólicas ou endócrinas (anemia, hipotiroidismo), na intoxicação aguda por substâncias depressoras do sistema nervoso central (álcool, opioides, benzodiazpinas), na perturbação depressiva grave (na oral, 2016na) e na esquizofrenia (ma formacata-rónica) (Stadje et al., 2016; WHO, 1992).

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50
Q

Letologia

A

Perturbação da memória que se caracteriza por incapacidade de recordar palavras.

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51
Q

Libido

A

Sinónimo de desejo sexual. Segundo Freud, corresponde a energia psíquica, associada às pulsões vitais, especialmente, à pulsão sexual.

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52
Q

Linguagem

A

Sistema para comunicar pensamentos e sensações através da produção e compreensão de símbolos escritos, falados ou gesticulados.

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53
Q

Logoclonia

A

Perturbação do discurso que se caracteriza pela repetição espática de sílabas que ocorre no parkinsonismo.

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54
Q

Logorreia

A

Discurso de débito aumentado, frequentemente associado a episódios de mania da perturbação bipolar e à intoxicação aguda por psicostimulantes (cocaína, metanfetaminas). Pode ser uma característica crónica nas perturbações de personalidade his-triónica e borderline (ver Borderline, Perturbação de personalidade e Histriónica, perturbação de personalidade).

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55
Q

Luto

A

Conjunto de reações emocionais normais a uma perda sig-nificativa, geralmente a morte de um ente querido.

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56
Q

Macropsia/ Megalopsia

A

Distorção da perceção visual em que os objetos no campo de visão do indivíduo parecem ser amplificados, assumindo maiores dimensões do que são na realidade. Sinónimo de megalopsia e antónimo de micropsia (ver Micropsia).

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57
Q

Macrosomatognoia

A

Perturd hiperiqueen corporal, one-ririndo um subipo particular de ciada uemaria em que une dereminada parte do corpo é vivealidade (vero parecendo str de maiores dimensões do que é met resociada dr Hiperesquemacia Miro matognasia), ode ocorrer asacias ou doenças neurológicas, a incoxicação com substâncias psicoativas ou, ainda, após traumatismo ou cirurgia (Oyebode, 2018).

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58
Q

Maneirismos

A

Ação ou movimento do corpo, peculiar e repeti-tivo, de carácter voluntário, por vezes de características bizarras por ser exagerado ou despropositado. Pode ter um significado especial para o doente. Classicamente este tipo de alteração do movimento ou do discurso encontra-se associado a perturbações psicóticas, sobretudo à esquizofrenia, embora também ocorra na perturbação de personalidade histriónica e nas perturbações do desenvolvimento intelectual (Dalgalarrondo, 2008).

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59
Q

Mania

A

Episódio de alteração do humor, caracterizado por aumento da energia e humor expansivo, elevado ou irritável, acompanhado por uma combinação variável dos seguintes sintomas: grandiosidade ou excesso de autoestima, redução da necessidade de dormir, verborreia ou pressão do discurso, aceleração do pensamento ou fuga de ideias, distratibilidade, aumento da atividade dirigida ou agitação psicomotora, aumento dos comportamentos de procura de prazer e/ou comportamentos de risco, e sintomas psicóticos (por exemplo, ideias delirantes de grandeza ou de conteúdo mis-tico/religioso). E um critério de diagnóstico nuclear da perturbação bipolar (tipo 1) e pode manifestar-se na perturbação esquizoafetiva (ver Bipolar, perturbação e Esquizoafetiva, perturbação).

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60
Q

Mania à potu

A

Estado de intoxicação por álcool caracterizado por comportamento marcadamente desinibido e violento.

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61
Q

Mentalização

A

Capacidade de inferir acerca dos estados mentais (crenças, atitudes, sentimentos, intenções) dos outros. Sinónimo de teoria da mente.

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62
Q

Metamorfopsia

A

Distorção da perceção visual em que a forma externa de um objeto percecionado se apresenta alterada.

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63
Q

Metonímia

A

Alteração do discurso em que uma expressão apro-ximada é usada para se referir a algo.

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64
Q

Micropsia

A

Distorção da perceção visual em que objetos no campo de visão do indivíduo parecem ser de menores dimensões do que são na realidade.

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65
Q

Microsomatognosia

A

Perturbação da imagem corporal, constituindo um subtipo particular de hipoesquemazia em que uma determinada parte do corpo é vivenciada como parecendo ser de menores dimensões do que é na realidade (ver Hipoesquemazza e Macrosomatognosia). Pode ocorrer associada a doenças neurológicas, nomeadamente a doenças do sistema nervoso periférico e a lesões medulares (Casey & Kelly, 2007; Oyebode, 2018).

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66
Q

Perturbação de personalidade obsessivo-compulsiva

A

Perturbação de personalidade pertencente ao grupo C (DSM 5), correspondendo às personalidades ansiosas/receosas (obsessivo-compulsiva/ anancástica, evitante e dependente). Caracteriza-se por um padrão global de perfecionismo, meticulosidade, inflexibilidade, preocupação com a ordem e rigidez excessiva que se manifesta nas diferentes esferas da vida do indivíduo (APA, 2013). Estes indivíduos têm uma grande preocupação com os detalhes, regras, listas, organização que pode atingir uma proporção tal que o propósito inicial da atividade se dilui (Afonso, 2015). Deste modo, é frequente que a sua rigidez e o seu perfecionismo excessivo interfiram com a sua produtividade.
Têm a tendência a dedicar-se exageradamente ao trabalho e à pro-dutividade, não por uma necessidade financeira, com repercussões a nível da vida pessoal e familiar. Ao nível das relações interpessoais podem surgir dificuldades, pois, pela sua obstinação, insistem em que os outros ajam exatamente de acordo com a sua forma de pensar. São pessoas que revelam uma acentuada conscienciosidade, sendo escrupulosos em relação a valores éticos e morais (Afonso, 2015). É importante salientar a distinção entre esta perturbação de personalidade e a perturbação obsessivo-compulsiva e os traços obsessivos de personali-dade, que existem em indivíduos sem patologia, sendo até valorizados na nossa sociedade (Oyebode, 2018). A prevalência desta perturbação de personalidade varia entre 2,5% na comunidade e 10,5% em populações clínicas Torgersen, 2014). Na ICD-10 (WHO, 1992), esta corresponde à perturbação de personalidade anancástica.

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67
Q

Obstrução motora

A

Alteração da atividade motora em que no processo de levar a cabo determinada ação o indivíduo interrompe a mesma sem a concluir e, após um período de pausa, avança para uma outra ação. Corresponde ao equivalente motor do fenómeno de bloqueio do pensamento.

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68
Q

Ocorrência delirante

A

Sinónimo de intuição delirante (ver
Intuição delirante).

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69
Q

Sinal de ómega

A

Sinal que foi identificado por Charles Darwin
(1872) na sua obra A Expressão das Emoções no Homem e nos Ani-mais, ao descrever os «músculos do luto» referindo-se, entre outras características, a uma expressão facial particular provocada pela contração excessiva do músculo corrugador da face que provocaria uma série de pregas acima da pirâmide nasal e entre as sobrancelhas, cuja configuração se assemelha à letra ómega do alfabeto grego. Posteriormente veio a ser associada à depressão com características melancólicas (Shorter, 2009) (ver Veraguth, sinal de).

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70
Q

Atitude de oposição

A

Sintoma que integra a síndrome de negativismo (ver Negativismo).

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71
Q

Perturbação mental orgânica

A

Perturbações que resultam de alterações estruturais ou funcionais do sistema nervoso central ou até secundárias a outras condições médico-cirúrgicas. A designação «orgânica» é pouco aceite atualmente uma vez que hoje em dia se integram as perturbações psiquiátricas como doenças que têm a sua origem a nível cerebral, pelo que a distinção entre orgânico e não orgânico parece não fazer sentido no enquadramento atual.
Orientação: Capacidade de o indivíduo consciente se situar a si e no meio, avaliando corretamente o tempo, o espaço e a pessoa no contexto situacional em que se encontra. Para efeitos de avaliação é possível decompor a orientação nos seus vários componentes: tem-poral, espacial, autopsíquica e alopsíquica.

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72
Q

Síndrome de Otelo

A

Síndrome cuja designação foi atribuída como referência à personagem Otelo da peça clássica de Shakes-peare, correspondendo à existência de delírio de ciúme, também designado por alguns autores como delírio de infidelidade ou ciúme patológico (ver Delírio de ciúme). Ocorre na perturbação delirante.

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73
Q

Palialia

A

Repetição involuntária de sílabas, palavras ou frases.

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74
Q

Palinacúsia

A

Persistência ou recorrência de um som depois de o estímulo ter sido removido.

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75
Q

Palinaptia

A

Persistência ou recorrência de uma sensação táctil depois de o estímulo ter sido removido.

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76
Q

Palinopsia

A

Persistência ou recorrência de imagem visual depois de o estímulo ter sido removido.

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77
Q

Perturbação de pânico

A

Perturbação de ansiedade caracterizada pela presença de ataques de pânico recorrentes e inesperados acompanhados de um período mínimo de um mês de preocupação em ter novos ataques de pânico ou mudança no comportamento de forma a evitar situações que possam precipitar um ataque de pânico
(APA, 2013).

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78
Q

Paracinesias

A

Dificuldade no controlo e coordenação de movimentos voluntários.

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79
Q

Paraesquemazia

A

Perturbação da imagem corporal caracterizada por sensação de aumento ou diminuição das dimensões, dis-torção, torção ou sensação de separação de uma parte ou de todo o corpo, podendo ainda verificar-se a sensação de fusão com o ambiente externo (Oyebode, 2018). Pode ocorrer sobretudo na intoxicação aguda com certas substâncias psicoativas (Casey &
Kelly, 2007).

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80
Q

Paraestesia

A

Alteração da sensibilidade cutânea com sensação de formigueiro, picada, queimadura.

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81
Q

Parafasia

A

Perturbação da linguagem em que a palavra apropriada é substituída por uma outra não apropriada que mantém, no entanto, uma certa relação com a palavra correta. As parafa-sias podem ser literais (por exemplo, caneta/capeta), semânticas (por exemplo, livro/papel) ou neologísticas. Pode ocorrer nas afa-sias, esquizofrenia, demências, estados confusionais agudos, entre
outros.

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82
Q

Parafrenia

A

O termo tem origem no grego «para» significando «ao lado» e «frenia» referindo-se ao diafragma que traduziria uma forma de loucura provada por inflamação do diafragma que, na Grécia Antiga, se acreditava estar envolvido nas alterações do pensamento (Borja Santos, 2015). Foi introduzido na literatura científica por Kahlbaum (1828-1899) para se referir a subtipos de demência (parafrenia hebética e parafrenia senil), traduzindo perturbações mentais que surgiriam em idades transicionais da vida (Borja Santos, 2007). Posteriormente, Kraepelin (1912) utiliza o termo num sentido diferente para definir um subgrupo de doentes com demência precoce que apresentaria um início entre os 30 e 50 anos, uma evolução mais favorável, sem alterações volitivas e dos afetos e manutenção da personalidade intacta (Ferreira, 2015). Mais recen-temente, Munro (1999) enquadrou a parafrenia no que designou por espectro paranoide, numa posição intermédia entre a perturbação delirante e a esquizofrenia. Este autor propôs também critérios de diagnóstico que incluem: 1) preocupação com uma ou mais ideias delirantes semissistematizadas frequentemente acompanhadas por alucinações auditivas, não encapsuladas da restante personali-dade; 2) afetos preservados e relativamente adequados; 3) ausência de deterioração intelectual, alucinações visuais, incoerência, perda marcada de associações, afetos aplanados ou desadequados e desorganização comportamental; 4) compreensibilidade das alterações do comportamento em relação ao conteúdo delirante e alucinatório;
5) ausência de perturbações orgânicas cerebrais (Munro, 1999; Borja Santos et al., 2010). Nos sistemas de classificação atuais ICD-10 NHO, 1992) e stica inA, 2013), a parafrenia não constitui uma categoria diagnóstica independente .

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83
Q

Sedativos

A

Grupo de fármacos que atuam como depressores no sistema nervoso central e, por esse motivo, têm ação clínica seda-tiva. Incluem-se neste grupo os barbitúricos, as benzodiazepinas, hipnóticos não benzodiazepínicos, anti-histamínicos, anestésicos, opioides, alguns antidepressivos e antipsicóticos. (ver Ansiolíticos, Antidepressivos e Antipsicóticos).

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84
Q

Semântica

A

Ramo da linguística que estuda o significado das palavras, frases e expressões de uma língua.

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85
Q

Sensibilidade

A

Semiologia do sistema nervoso que se divide em sensibilidade superficial, que se refere à superfície da pele e mucosas e sensibilidade profunda, que se refere à sensibilidade dos órgãos que estão por baixo da pele.

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86
Q

Sensorium

A

Consciência total de todas as sensações internas e externas que se apresentam ao organismo (ver Clareza de consciência).

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87
Q

Sentimentos

A

Reação positiva ou negativa a uma experiência ou acontecimento, experiência subjetiva da emoção.

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88
Q

Serotonina

A

Neurotransmissor do grupo das catecolaminas que tem como aminoácido percursor o triptofano. É produzida nos neurónios serotoninérgicos do sistema nervoso central e nas células enterocromafins do sistema gastrointestinal e respiratório, exercendo funções fundamentais, influenciando o humor, a agres-sividade, o sono, o apetite e a temperatura corporal.

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89
Q

Sialorreia

A

Excesso de salivação. É um dos possíveis efeitos secundários da terapêutica antipsicótica (ver Antipsicóticos).

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90
Q

Sinal

A

Manifestação clínica observável de modo objetivo pelo médico ou profissional de saúde.

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91
Q

Síndrome

A

Conjunto de sinais e sintomas que caracterizam uma condição médica e que é independente da etiologia.

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92
Q

Sindrome de adaptação geral de Selye

A

Processo de três fases que descreve as mudamei a iológicas que ocorrem quando o corpo está sob stresse. A primeira fase é a reação de alarme, semelhante à resposta de ataque ou fuga, tem como função mobilizar todos os recursos do organismo. De seguida surge a fase de resistência, altura em que o organismo se tenta adaptar ao fator causador de stresse.
Por último, surge a fase de exaustão em que há estimulação fisiológica prolongada causada por acontecimentos traumáticos de vida
(Selye, 1950).

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93
Q

Síndromes funcionais

A

Presença de sintomas físicos, pouco específicos, inexplicáveis e relacionados com um sistema de órgãos.
O sofrimento psicológico parece predispor para o aparecimento destes sintomas, mediado pelo sistema nervoso autónomo, eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal e sistema imunitário. Podem incluir diferentes entidades, tais como fibromialgia, síndrome do intestino irritável, síndrome da fadiga crónica e dispepsia funcional.

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94
Q

Síndromes psiquiátricas ligadas à cultura

A

Condições mentais ou síndromes psiquiátricas, cuja ocorrência ou manifestação estão intimamente relacionadas com fatores culturais e que, portanto, merecem uma compreensão e abordagem do ponto de vista cultu-ral. As síndromes ligadas à cultura (Culture Bound Syndromes) foram inicialmente descritas, durante a década de 60, por Yap Pow-Meng, um psiquiatra originário de Hong Kong que veio a lecionar psiquiatria transcultural na Universidade de Toronto (Yap, 1969). A psiquiatria transcultural, ramo da psiquiatria dedicada a estudar estas síndromes psiquiátricas ligadas à cultura, obteve um enorme sucesso nas décadas seguintes. Os seus defensores conseguiram finalmente ver incluídas no DSM IV (1994), no apêndice I (pág. 898), sob a forma de glossário, 25 síndromes de SI.C. No DSM 5, mantém-se, no apêndice deste manual, a descrição de várias destas síndromes, embora sob a designação de «conceitos culturais de sofrimento».

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95
Q

Sinestesia

A

Experiência em que o estímulo numa modalidade sensorial produz uma experiência sensorial em outra.

96
Q

Sintaxe

A

Ramo da linguística que estuda as regras e os princípios que regem a organização dos constituintes das frases.

97
Q

Sintoma

A

Manifestação subjetiva percebida pelo doente e rela-tada ao médico ou profissional de saúde.

98
Q

Sintomas negativos

A

Conjunto de sintomas presentes na esqui-zofrenia, por oposição aos sintomas positivos (delírios e alucina-ções), incluindo a anedonia, a abulia, a alogia, o embotamento afetivo e a diminuição da interação social (ver Esquizofrenia).

99
Q

Sitiofobia

A

Medo patológico da alimentação.

100
Q

Pensamento sobreinclusivo

A

Alteração formal do pensa-mento, descrita por Norman Cameron (1944), em que se verifica uma incapacidade para preservar limites conceptuais com ideias que são relacionadas de forma remota e passam a ser incorporadas no mesmo conceito. Um exemplo classicamente citado é o doente que, quando questionado sobre qual dos seguintes elementos será essencial na constituição de um quarto (paredes, cadeira, chão, janela), responde «cadeira» (Oyebode, 2018). Ocorre tipicamente na esquizofrenia.

101
Q

Perturbação de personalidade sociopática

A

Conceito sobre-ponível ao de perturbação de personalidade antissocial (ver Antisso-cial, perturbação da personalidade).

102
Q

Perturbação de somatização

A

Perturbação caracterizada pela presença de sintomas físicos múltiplos e recorrentes que podem pertencer a qualquer parte do corpo ou sistema de órgãos. A maioria dos doentes tem história de contacto com os cuidados de saúde quersutrar, 1002), gages negairas e mesmo cirurgjias cxplo-
ratórias (WHO, 1992).

103
Q

Somatoparafrenia

A

Síndrome caracterizada por delírio monotemático da negação da propriedade de um membro ou corpo inteiro e confabulação sobre de quem é essa parte do corpo.

104
Q

Sonambulismo

A

Perturbação do sono (parassónia do sono
NREM) em que o doente se levanta da cama, usualmente no primeiro terço do sono. Em geral o paciente mostra-se confuso, com fala arrastada e baixa interação com o ambiente, podendo mimetizar algumas ações do dia a dia. O doente pode acordar durante o episódio (não tendo recordação do evento) ou retornar para a cama e continuar a dormir.

105
Q

Sono

A

Estado fisiológico complexo, essencial à saúde e ao bem-estar, resultando da interação de vários sistemas cerebrais, caracterizado por alteração reversível do estado de consciência, redução da atividade e diminuição da reatividade aos estímulos. O sono, através da polisso-nografia, pode ser dividido em dois estados que vão alternando ciclicamente ao longo da noite: o sono NREM (non rapid eye movement), também chamado de sono lento que, por sua vez, se divide em três fases, N1 a N3, correspondendo esta última à fase de sono mais pro-fundo; e o sono REM (rapid eye movement) também chamado de sono paradoxal, ocupa cerca de um quarto do sono, é a fase do sono de maior atividade cerebral, existindo habitualmente atividade onírica, os olhos movem-se rapidamente e há diminuição do tónus muscular.

106
Q

Sonolência

A

Alteração do nível de vigília caracterizada pela diminuição da atenção e do alerta, na qual o doente está acordado, mas adormece se não houver estimulação sensorial.

107
Q

Stresse

A

Conceito complexo e com múltiplos sentidos que se pode definir como uma série de reações fisiológicas e psicológicas, específicas e inespecíficas, que ocorrem no organismo do indivíduo em resposta a estímulos stressores externos ou internos que perturbam o seu equilíbrio.

108
Q

Perturbação de stesse pós-traumático

A

Perturbação relacionada com a exposição ao stresse em que, após confronto direto ou indireto com um evento traumático caracterizado por uma enorme violência física ou psicológica, no qual esteve presente a possibilidade de ameaça de morte, lesão grave ou violência sexual. Após a exposição a esse episódio traumático, são desenvolvidos sintomas intrusivos relacionados com o evento (por exemplo, os flashbacks em que o doente revive o evento traumático), evitamento de estímulos associados ao evento, alterações cognitivas, do humor, na excitação e reatividade (por exemplo, com estado de hipervigilância) (APA, 2013). Apresenta grande comorbilidade com perturbações por uso de substân-cias, perturbações depressivas, perturbações ansiosas e perturbações da conduta (APA, 2013). A prevalência na Europa varia entre 0,5 e 1,0 %. (APA, 2013) É mais frequente no sexo feminino e está associado à exposição a eventos traumáticos como cenários de guerra, abusos sexuais, episódios de violência interpessoal, acidentes, entre outros (Ronald C. Kessler et al., 2014). Apesar da fisiopatologia desta perturbação não ser totalmente compreendida, verificaram-se várias diferenças a nível da neuroanatomia (por exemplo, diminuição do volume do hipocampo, amígdala esquerda e córtex cingulado anterior), de neurotransmissores (aumento dos níveis centrais de noradrenalina com diminuição do número de recetores adrenérgicos) e do funcionamento cerebral (lateralização hemisférica com hipofunção hemis-férica esquerda) em indivíduos afetados (Geracioti et al., 2001; Karl et al., 2006; van der Kolk, 1997). É uma condição que geralmente tem início poucos meses após o evento traumático e tem um curso tendencialmente crónico na maioria dos casos (Kessler et al., 1995).
O tratamento envolve fármacos (por exemplo, antidepressivos sero-toninérgicos e benzodiazepinas) e psicoterapia (por exemplo, terapia cognitivo-comportamental e terapia interpessoal).

109
Q

Sablimação

A

Segundo a teoria psicanalítica, é um mecanismo de dáta que transforme aceitáveis ou ideias indeciáveis em compor-somentos socialmente a citáveis, sendo considerada uma coma de satisfazer as pulsões do Id.

110
Q

Sugestionabilidade

A

Traço individual caracterizado pela tendência para aceitar sugestões de outros.

111
Q

Suicídio

A

Gesto autolesivo que consiste num ato intencional, iniciado e realizado pelo próprio, que resulta na sua morte. O suicídio constitui um importante problema de saúde pública sendo que, em Portugal, a taxa de suicídio por 100 mil indivíduos ronda os 10,3 (Carvalho et al., 2013). Estima-se que por cada suicídio consumado ocorram cerca de 20 tentativas de suicídio falhadas. Existem múltiplos fatores de risco para suicídio, incluindo o diagnóstico de doença psiquiátrica, história de tentativas de suicídio prévias, história familiar de suicídio, abuso de substâncias, história de comportamento impulsivo ou destrutivo, alta hospitalar recente, idades entre os 20 e os 30 anos e após os 60 anos, luto recente, doença crónica, entre outros (Kutcher & Chehil, 2007). Além disso, existem também fatores protetores que incluem a ausência de doença mental, o facto de a pessoa ter atividade profissional estável, sentido de responsabilidade perante a família, a gravidez, suporte social positivo e capacidades de adaptação positivas, entre outros. Na avaliação do suicídio, nomeadamente no que diz respeito a tentativas prévias, importa salientar a importância de identificar o método escolhido, do resultado obtido, da letalidade do método (letalidade objetiva e subjetiva) e, finalmente, o grau de intencionalidade (Guerreiro & Santos, 2014). Na abordagem de intervenção na ideação suicida e nas tentativas de suicídio pode, em alguns casos de risco elevado, ser necessário internamento. Em situações de menor risco, pode ser feita a gestão da situação em ambulatório com intervenção na crise, tratamento farmacológico e psicoterapêutico da perturbação mental associada (Guerreiro & Santos, 2014).

112
Q

Perturbações da vivência do tempo

A

Perturbações da vivência do tempo objetivo e subjetivo, sendo que ambas as alterações podem surgir em perturbações psiquiátricas. A perturbação do tempo objetivo caracteriza-se por uma alteração da capacidade de separar eventos em passado, presente e futuro, bem como da capacidade para estimar a duração de um determinado evento, observando-se ainda uma incapacidade para colocar eventos de forma sequencial.
Refere-se ao tempo cronológico, físico ou histórico, é independente do próprio indivíduo e partilhado com os outros. São exemplos, a desorientação temporal que pode ocorrer nas perturbações mentais secundárias a outra condição médica. As perturbações do tempo subjetivo incluem a perturbação do curso do tempo em que a passagem do tempo pode ser vivenciada como acelerada ou lentificada (o exemplo típico é a vivência depressiva em que o tempo parece passar mais lentamente); a perturbação da direção do tempo em que se vivencia uma alteração na progressão do passado para o futuro, através do presente; perturbação da qualidade do tempo em que a experiência do tempo se altera assumindo um carácter irreal e de estranheza, tal como pode ocorrer nas experiências de desrealização e despersonalização; e, finalmente, a perturbação da singularidade do tempo, isto é, da sensação de unidade e de que o tempo é único (um exemplo é o fenómeno de déjà vu) (Oyebode, 2018).

113
Q

Tiques

A

Perturbação do movimento caracterizada por movimentos ou vocalizações involuntárias que podem variar de movimentos simples a bastante complexos. Podem surgir em indivíduos sem qualquer perturbação psiquiátrica e serem suprimidos voluntariamente pela vontade. São observados, por exemplo, na perturbação obsessivo-compulsiva, intoxicação com substâncias psicoativas esti-mulantes, estados pós-encefalíticos e na síndrome de Gilles de La Tourette.

114
Q

Hiperfonia

A

Aumento do volume da voz, observado em condições normais, como expressão de estados emocionais (alegria, raiva) ou patológicas, como intoxicação aguda por substâncias psicoativas (cocaína, mecanfetaminas, álcool), episódios de mania da doença bipolar, perturbações psicóticas, perturbações do con-rolo os impulsos ou perturbações da personalidade (histriónica, antissocial ou bordenline) (APA, 2013; WHO, 1992). Sinónimo de megafonia.

115
Q

Hipermetamorfose

A

Alteração da atenção com tendência a focar e reagir indiscriminadamente a qualquer estímulo visual. Manifesta-se como uma resposta motora imediata de exploração e manipulação de tudo o que se encontra ao alcance do campo de visão do indivíduo. Classicamente descrita como uma das manifestações da síndrome de Kluver-Bucy (ver Kluver-Bucy, sindrome de) associada a lesões bitemporais (Lanska, 2018), embora esteja também associada a lesões frontais e dos gânglios da base (Danek, 2007).

116
Q

Hipermnésia

A

Fenómeno oposto ao da amnésia, no qual há uma capacidade extrema de registo, retenção e evocação de informação.

117
Q

Hiperoralidade

A

Comportamento persistente de levar objetos à boca, incluindo materiais não comestíveis. Ocorre tipicamente em síndromes neuropsiquiátricas associadas a lesão ou disfunção do lobo frontal.

118
Q

Hiperprosexia

A

Alteração da atenção com aumento da atenção espontânea, o que, paradoxalmente, resulta em maior distratibi-lidade, dado o indivíduo estar mais suscetível a captar e focar-se obstinadamente em estímulos irrelevantes (Pio Abreu, 2015). Tipicamente ocorre como sequela de lesões cerebrais traumáticas (Ohry & Rattok, 1990), embora possa surgir como manifestação de perturbações do espectro obsessivo-compulsivo (fixação da atenção num pensamento obsessivo) (Focseneanu, 2019), esquizofrenia (fixação num delírio monotemático) (Sarbu et al., 2018), perturbação de ansiedade social (fixação em preocupações relacionadas com os contextos sociais) (Qiu et al., 2011) ou associada ao uso de substâncias psicoativas (cafeína) (Hedges et al., 2009).

119
Q

Perturbação factícia

A

Perturbação originalmente designada por síndrome de Münchausen (em homenagem ao soldado alc-mão Baron von Münchausen (1720-1797), famoso por embelezar as narrativas das suas aventuras). Esta é uma perturbação mental caracterizada pela fabricação intencional de sintomas ou sinais de doença, motivada pela necessidade psicológica de assumir o papel de doente (Yates & Feldman, 2016). Doentes com esta perturbação tendem a exagerar ou mentir sobre sintomas ou sobre um diagnóstico, mimetizar comportamentos típicos de doença, manipular resultados de exames complementares de diagnóstico ou auto-infligir lesões (Krahn et al., 2003). Distingue-se da simulação por não ser motivada por ganhos secundários, como a obtenção de compensações pelos serviços sociais, absentismo escolar ou profissio-nal, dispensa do serviço militar ou acesso a drogas (WHO, 1992).
O DSM-5 divide a perturbação factícia em duas categorias sindro-máticas: 1) autoimposta e 2) imposta a outro (sinónimo de síndrome de Münchausen por procuração) (APA, 2013).

120
Q

Fadiga

A

Estado de cansaço e diminuição da energia necessária para realizar as atividades habituais. Pode ocorrer, transitoriamente, como resposta normal ao esforço físico, ao stresse ou à privação de sono, ou de forma crónica como sintoma de doença sistémica ou perturbação mental (por exemplo, a síndrome de fadiga crónica, previamente designada por neurastenia).

121
Q

Flexibilidade cérea (flexibilitas cerea)

A

Perturbação motora caracterizada por hipertonia plástica e por uma tendência para fixar posturas adquiridas durante a movimentação passiva (como se a pessoa fosse feita de cera). É uma das alterações motoras que faz parte do quadro da esquizofrenia catatónica, descrita por Kauhlbaum
(1874) (ver Catatonia).

122
Q

Folie à deux

A

Perturbação delirante, inicialmente descrita por Laségue e Falret (1877), na qual dois indivíduos socialmente próximos partilham o mesmo delírio. Gralnick (1942) subdividiu as perturbações psicóticas partilhadas em: 1) folie imposée, em que um indivíduo dominante (o «indutor») desenvolve uma perturbação psicótica e depois transfere o delírio para o outro indivíduo (o «asso-ciado»), que geralmente ocupa uma posição mais submissa na rela-ção; 2) folie simultanée, em que o delírio é formado simultaneamente por duas ou mais pessoas; 3) folie induite, em que uma pessoa que já tem uma perturbação psicótica adiciona ao seu sistema de crenças delirantes o delírio de outra pessoa psicótica; 4) folie communiquée, em que uma pessoa previamente saudável é contagiada pelo delírio de uma pessoa psicótica, após um período longo de resistência, e mantém-no mesmo após se separar dessa pessoa.
Funções executivas: Conjunto de funções mentais superiores que inclui a capacidade de iniciativa, planeamento, organização, decisão, resolução de problemas, inibição de impulsos e flexibilidade mental. Estão associadas a redes neuronais que incluem o córtex pré-frontal e as suas conexões. Podem estar comprometidas na esquizofrenia (Orellana & Slachevsky, 2013) e em doenças neurodegenerativas (demência frontotemporal, demência com corpos de Lewy) (Johns et al., 2009; Roca et al., 2013). Os doentes com disfunção executiva podem exibir dificuldade em iniciar ou terminar ações, resolver problemas novos, gerir tarefas, inibir emoções ou impulsos, pensar sobre conceitos abstratos, ou aderir a normas sociais (Godefroy et al., 2010).

123
Q

CID

A

International Statistical Classification of Diseases and Related
Health Problems (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde) que é publicada atualmente pela Organização Mundial da Saúde. Nas suas origens, no final do século XIX, era designada por Classificação Internacional de Causas de Morte, tendo vindo a ser publicada e revista periodicamente até ter sido amplificada para incluir uma listagem de doenças, altura em que a sua denominação foi atualizada para a atual. As perturbações psiquiátricas surgiram pela primeira vez nesta classificação na sua sexta edição, a CID 6, publicada em 1948. A sua décima edição (CID 10), publicada em 1992, encontra-se atualmente em vigor, sendo o quinto capítulo dedicado às «Perturbações Mentais e Com-portamentais». A versão experimental da décima primeira edição
(CID 11) está disponível para consulta na internet.

124
Q

Claustrofobia

A

Medo patológico de espaços fechados ou confinados.

125
Q

Cleptomania

A

Perturbação do controlo do impulso que consiste no furto de objetos, sem relação com o ganho pessoal ou financeiro.

126
Q

Clivagem

A

Conceito psicodinâmico que traduz a dificuldade em integrar num todo unificado o seu self e os outros. É um mecanismo de defesa imaturo em que há tendência a agrupar as qualidades positivas e negativas em relação a si e aos outros separadamente, pensando em extremos de «tudo ou nada» e alternando entre a idealização e a desvalorização em relação aos outros (num momento só se consideram as qualidades positivas e no seguinte só as qualidades negativas). Trata-se de um mecanismo de defesa que se observa com frequência na perturbação de personalidade estado-limite (per-turbação de personalidade borderline) (ver Borderline, perturbação de personalidade).

127
Q

Cloropsia

A

Alteração na perceção visual em que os objetos no campo de visão aparecem com coloração avermelhada.

128
Q

Cognição

A

Capacidade de adquirir, reter e utilizar de modo adequado o conhecimento através da utilização do pensamento, das ideias, da lógica e da razão. Engloba várias funções corticais e processos cognitivos conscientes e inconscientes, incluindo a orientação, a memória, a atenção, a perceção, a linguagem e o juízo crítico.

129
Q

Coma

A

Perturbação do nível de consciência na qual o indivíduo não reage ao meio envolvente e não é despertável por estímulos externos. Resulta de uma perturbação que envolve o tronco encefálico (formação reticular) e/ou ambos os hemisférios cerebrais.
O indivíduo em estado comatoso é incapaz de responder adequadamente a estímulos externos ou a necessidades internas, mostrando pouco ou nenhuns movimentos, com a exceção da respiração, e não evidencia atividade mental (Fernadez, 2005).

130
Q

Comportamentos autolesivos

A

Comportamentos suicidários não letais, em que é infligida intencionalmente uma agressão a si mesmo, sem intencionalidade suicida. Inclui atos como automu-tilações, defenestração, ingestão medicamentosa voluntária, entre outros (ver Parasuicídio).

131
Q

Contacto

A

Definido como atitude geral de predisposição à comunicação englobando a postura, a atitude, a mímica facial, a gesticulação corporal, o contacto visual, a comunicação verbal, entre outros elementos. Todos estes fatores podem estar em sintonia entre os dois intervenientes no processo comunicativo, com abertura ao estabelecimento de uma relação comunicativa e empática, nesse caso, consideramos o contacto sintónico e empático. As alterações no contacto podem verificar-se quando este é superficial, reticente, autista, indi-ferente, querelante, difícil, hostil, em oposição, negativista ou até mesmo impossível no caso de alterações do nível de consciência
(Pio Abreu, 2015).

132
Q

Contágio emocional

A

Fenómeno no qual o reconhecimento de uma emoção no outro desencadeia, de forma automática e não intencional, a mesma emoção no próprio (Bloom, 2017).

133
Q

Perturbação conversiva

A

Perturbação caracterizada por sinais e sintomas sugestivos de alterações neurológicas, ao nível das funções motoras e sensoriais, que não são consistentes com uma etiologia neurológica ou com outra condição médica geral. Caracteriza-
-se pelo desenvolvimento de sintomas aparentemente neurológicos (por exemplo, fraqueza muscular, alterações do movimento, sín-cope, crises convulsivas não epiléticas, cegueira, afonia, diminuição da sensibilidade, etc.). Um aspeto importante é que os sintomas não são fabricados conscientemente pelo indivíduo, com o objetivo de obter ganhos secundários. No passado este tipo de perturbação encontrava-se associada à entidade clássica «histeria» e o conceito de «perturbação de conversão» tem a sua origem em Sigmund Freud, que propunha o surgimento destes sintomas através de uma conversão de conflitos psicológicos inconscientes em sintomas físicos (Aliet al., 2015). Atualmente existe a designação alternativa de «per-turbação de sintomas neurológicos funcionais». Os critérios diagnósticos de acordo com o DSM 5 (APA, 2013) requerem a existência de, pelo menos, um sintoma de alteração motora ou sensitiva com evidência clínica de incompatibilidade entre os sintomas e as doenças neurológicas ou médicas conhecidas, sem que sejam melhor explicados por outras doenças ou perturbações psiquiátricas. Esta perturbação é mais comum em contextos associados aos cuidados de saúde, com uma prevalência 2-6% (Carson et al., 2012). É mais frequente no sexo feminino e em jovens, associando-se a história de eventos traumáticos (por exemplo, violência física e abuso sexual), baixo nível socioeconómico e educacional (Ali et al., 2015). A etiologia é desconhecida, embora exista uma associação com diagnóstico prévio de perturbações psiquiátricas, a existência de conflitos psicológicos inconscientes e eventos stressores recentes. Segundo a teoria psicana-lítica, os sintomas teriam um significado simbólico relacionado com o conflito intrapsíquico subjacente, em que um desejo inaceitável é parcialmente satisfeito (por exemplo, vaginismo com o desejo sexual ou paralisia com a raiva) (Ali et al., 2015). Segundo a teoria de aprendizagem, os comportamentos que resultam em consequências positivas ou que removem estímulos aversivos tendem a ser repeti-dos, podendo, caso se tornem mal-adaptativos, resultar numa perturbação conversiva quando se desenvolvem repetidamente como forma de lidar com eventos stressores (Feinstein, 2011). Em termos neurobiológicos coloca-se a hipótese de envolvimento de estruturas cerebrais a nível frontal e subcortical que se ativam perante o stresse emocional, afetando o processamento sensorial e a atividade motora consciente, existindo dados recentes que parecem revelar evidência de alterações estruturais (por exemplo, redução do volume dos núcleos da base bilateralmente e do tálamo) e de disfunção ao nível da comunicação inter-hemisférica (Feinstein, 2011; Harrison et al.,
2018). A abordagem terapêutica tem por base o estabelecimento de uma forte aliança terapêutica, intervenções psicoeducativas (sendo essencial a apresentação e explicação clara do diagnóstico), psicoterapia (por exemplo, terapia cognitivo-comportamental), fisioterapia (adjuvante na resolução dos sintomas físicos e na prevenção de complicações secundárias) e o tratamento de comorbilidades psiquiátricas (por exemplo, perturbações de ansiedade e depressão)
(Ali et al., 2015; Harrison et al., 2018).

134
Q

Mecanismos de coping

A

Estratégias usadas conscientemente para diminuir o impacto de fatores stressores externos ou inter-nos, atenuando as respostas emocionais e reações físicas, permitindo manter a funcionalidade normal perante a exposição a eventos stressantes. Podem ser do tipo de resolução de problemas, visando a redução do potencial ansiogénico dos stressores, ou de regulação emocional, cujo objetivo é, em face da exposição a fatores stresso-res, desenvolver estratégias para lidar com as emoções desencadea-das (ver Defesa, mecanismos de).

135
Q

Coprofagia

A

Alteração do comportamento que consiste na ingestão de fezes. Apesar de estar normalmente associada a perturbações psiquiátricas (secundariamente a ideação delirante na esquizofrenia ou em demências), o diagnóstico diferencial é extenso e inclui também várias doenças neurológicas, tais como a epilepsia e neoplasias cerebrais.

136
Q

Coprolalia

A

Consiste num discurso caracterizado tipicamente pela verbalização de obscenidades. Pode ser considerado um tipo de tique vocal em que se verifica a emissão descontrolada de sons por vocalização ou obscenidades, passíveis de um controlo voluntário parcial. Surge frequentemente associado à síndrome de Gilles de La Tourette (Trzepacz & Baker, 1993).

137
Q

Coreia

A

Movimentos involuntários caracterizados por serem amplos, desordenados, rápidos e irregulares, afetando vários segmentos corporais. Afeta predominante a face, o pescoço e os membros.

138
Q

Síndrome de Cotard

A

Delírio inicialmente descrito por Jules Cotard no século xIX, como «delírio de negação» que envolvia a crença delirante niilista em que o próprio indivíduo estaria morto e não existiria, em associação com crença na imortalidade e outras ideias com colorido grandioso (Dieguez, 2018). Atualmente usa-se o epónimo para referir ideias delirantes niilistas e hipocondríacas de morte e inexistência do próprio corpo ou partes dele. Do ponto de vista neurobiológico, existem estudos que apontam para a existência de disfunção ao nível do hemisfério cerebral direito e ao nível dos lobos frontais, bem como atrofia cerebral multifocal, aumento da fissura inter-hemistérica e dos ventrículos, entre outras alterações anatómicas (Dieguez, 2018). Este tipo de ideia delirante é típico da depressão com sintomas psicóticos, embora possa surgir noutras perturbações psiquiátricas.

139
Q

Culpa

A

Estado emocional normal desencadeado em consequência de determinado pensamento, decisão, atitude ou ação caracterizado por uma autoavaliação pessoal negativa e associada à sensação de necessidade de algum tipo de punição. A culpa pode surgir através do confronto entre o comportamento do indivíduo e um determinado padrão moral, ético ou religioso. A sua intensidade aumentada ou a sua total ausência podem assumir um carácter patológico, surgindo na depressão em perturbações de personalidade e na perturbação obsessiva-compulsiva (ideias obsessivas de escrúpulos).

140
Q

Perturbação Delirante

A

Perturbação psicótica que se caracteriza clinicamente pela existência de ideias delirantes que evoluem croni-camente, sem que existam outros sintomas proeminentes, nomeadamente outros sintomas característicos da esquizofrenia (alucinações, alterações comportamentais exuberantes, ideias delirantes de conteúdo bizarro ou sintomas negativos) ou de perturbações do humor.
É uma perturbação psiquiátrica que pode estar associada à perturbação de personalidade paranoide (ver Paranoide, perturbação de personalidade). Os delírios são bem sistematizados de conteúdo geralmente não bizarro e podem estar encapsulados (ver Delírio encapsulado). Embora não sejam frequentes, podem ocorrer as alucinações simples, relacionadas com a temática delirante. Nesta pertur-bação, exceto no que diga diretamente respeito à temática delirante, a funcionalidade e a personalidade do indivíduo mantém-se relativamente intacta. Os tipos de delírios mais frequentes são o persecutório e o de ciúme (ver Delírio persecutório e Delírio de ciúme), embora possam surgir outros delírios (por exemplo, delírios mís-ticos, delírios de grandeza, etc.). O DSM 5 (APA, 2013) requer que as ideias delirantes estejam presentes continuamente durante o período mínimo de um mês e, desde a última edição, foi eliminada a obrigatoriedade dos delírios não serem bizarros, característica que, no entanto, se mantém na ICD-10 (WHO, 1992). Esta é uma entidade relativamente rara com uma prevalência estimada em 0,2% (APA, 2013). Não parecem existir diferenças significativas na incidência ou prevalência entre sexos (apesar de uma ligeira preponderância do sexo feminino) e a idade de início tende a ser mais tardia do que na esquizofrenia (idade média é cerca de 40 anos) (Sadock et al., 2015). As teorias relativamente à sua etiologia são em grande parte inferidas de estudos relativos a outras perturbações psicóticas mais prevalentes. O curso é crónico e o prognóstico é favorável comparativamente a outras doenças psicóticas crónicas, tendendo a apresentar Psicopatologia global mais ligeira e menor disfunciona-lidade do que a esquizofrenia (Muñoz-Negro, 2018). É importante salientar que muitas vezes a eliminação do delírio não é um objetivo terapêutico sempre alcançável, embora seja possível reduzir significativamente o seu dinamismo e impacto afetivo e comportamental.
Não existe evidência de qualidade que permita guiar a abordagem terapêutica desta entidade, sendo que o recomendado é seguir recomendações dirigidas a outras perturbações psicóticas (por exemplo, esquizofrenia) em que a abordagem é essencialmente farmacológica, recorrendo-se aos antipsicóticos (ver Antipsicóticos) (Muñoz-Negro,
2016; Skelton, 2015).

141
Q

Delírio de ciúme

A

Ideia delirante cujo tema se prende com a crença na infidelidade do cônjuge. Em rigor, a designação mais correta é a de delírio de infidelidade uma vez que a crença delirante é focada na infidelidade e o ciúme é secundário ao delírio. (ver Otelo, sindrome de).

142
Q

Delírio de controlo

A

Ideia delirante na qual o indivíduo crê que o seu corpo ou pensamentos podem ser controlados e influenciados por entidades externas. Corresponde aos fenómenos de passividade, incluindo fenómenos de passividade somática e de alienação do pensamento (ver Alienação do pensamento e Passividade, experiências de).

143
Q

Delírio somático ou hipocondríaco

A

Delírio cuja temática se foca na crença na existência de uma doença, determinada anomalia corporal (delírio dismórfico) ou de infestação com pequenos organismos (delírio de infestação). Os delírios somáticos podem assumir características bizarras sobretudo na esquizofrenia, muitas vezes associados a alucinações cenestésicas.

144
Q

Delirium

A

Estado confusional agudo caracterizado pela alteração da consciência e redução da capacidade de focar, suster ou mudar a atenção. A principal manifestação do delirium é o défice Autuante da atenção, apesar de todas as outras funções cognitivas poderem estar afetadas. Existem outros sintomas associados, nomeadamente: alteração do ciclo sono-vigília, alterações da per-ceção como alucinações, alterações do humor e alterações auto-nómicas. O delirium desenvolve-se ao longo de um curto período e tende a flutuar durante o curso do dia. Esta condição pode surgir num doente com ou sem doença neurológica ou médica prévia ou afeções agudas. Por definição, o delirium é um estado que não pode ser resultado de uma demência pré-existente. Contudo, muitas vezes o delirium é a primeira manifestação de uma demência até aí incipiente ou pode complicar o curso de uma demência estabele-cida. De acordo com o DSM 5 (APA, 2013), os principais critérios diagnósticos são: alteração na atenção; a perturbação desenvolve-se num curto período (usualmente horas a dias), e representa uma alteração do estado de base, tendendo a flutuar durante o dia; alteração adicional na cognição (alteração da memória, orientação, lin-guagem, capacidade visuo-espacial ou perceção); evidência clínica pela anamnese, exame físico e avaliação laboratorial que a causa é uma condição médica, intoxicação ou abstinência de substâncias, ou um efeito adverso medicamentoso. A epidemiologia do delirium está mais bem estabelecida na população idosa, no entanto, o delirium pode também ocorrer em pessoas jovens, em particular, no contexto pós-operatório e na sépsis grave. Cerca de 30% dos doentes mais velhos internados desenvolve delirium, bem como 10 a 50% dos doentes mais vehos que sao operades (Dyer. 1995; Francis, 1992),
As causas de delirim são diversas e incluem doenças infeciosas, alterações metabólicas, desequilibrios iónicos, intoxicação por fármacos
c outras substincias, bem como a abstinencia dessas mesmas subs-
tâncias, e outros fatores como a dor e o pós-operatório. Em rela-
sio d cvolugao clinica, o delirium pode requerer semanas a meses
para ser resolvido por completo. Apesar da reversibilidade inerente, o delirium pode afetar adversamente do ponto de vista cognitivo os doentes com demência, em especial, os com doença de Alzheimer.
O delirium parece estar também associado ao aumento da mortalidade a curto e a longo prazo (Kiely et al., 2009). O tratamento do delirium tem como base a resolução da causa médica subja-cente. Para além disso, existem várias medidas não farmacológicas (por exemplo, protocolos de orientação e modificações ambientais) e farmacológicas que podem ajudar na prevenção e tratamento de algumas manifestações do delirium.

145
Q

Delirium tremens

A

Subtipo de delirium que ocorre como complicação grave de privação em situação de abstinência alcoólica.
E caracterizado por confusão, alucinações vívidas, tremor, agitação psicomotora, alterações do estado de consciência e hiperatividade autonómica, com risco de morte associado caso não seja prevenido e detetado precocemente.

146
Q

Demência

A

Perturbação neurocognitiva que consiste num quadro clínico de deterioração cognitiva (memória, aprendizagem, linguagem, funções executivas, atenção complexa, capacidades visuo-motoras e cognição social), condicionando interferência na funcionalidade do indivíduo com o comprometimento da sua independência e autonomia nas atividades de vida diária. A demência é uma síndrome que constitui uma via final comum de diferentes entidades clínicas heterogéneas e com diferentes apresentações e características clínicas, imagiológicas e laboratoriais (Branco et al.,
2017). As demências podem subdividir-se em demências corticais (doença de Alzheimer, demência frontotemporal e demência vascular por enfartes corticais múltiplos), que afetam predominante a memória e a linguagem e em demências subcorticais (por exem-plo, demência de corpos Lewy e demência associada à doença de Parkinson) em que predominam o defeito das funções executivas e as alterações motoras. Existem ainda outros subtipos de demên-cia, nomeadamente a demência associada ao álcool, a traumatismos crânio-encefálicos, à hidrocefalia de pressão normal, associada a doenças inflamatórias e infeciosas (por exemplo esclerose múlti-pla, VIH, sífilis e doenças priónicas) e demências potencialmente reversíveis (por exemplo, secundárias a défices vitamínicos ou alterações endócrinas) (Branco et al., 2017). Habitualmente a demência tem mais do que uma etiologia, sendo frequente o uso da expressão demência mista. De acordo com o DSM 5 (APA, 2013), os principais critérios diagnósticos incluem evidência clínica de deterioração em pelo menos um domínio cognitivo que deverá condicionar a interferência com a independência nas atividades de vida diária.
O diagnóstico de demência é fundamentalmente clínico, sendo a distinção entre os vários tipos de demência feita de acordo com as funções cognitivas afetadas, a progressão, o curso clínico e os achados ao exame físico geral e neurológico. Globalmente as formas de demência mais prevalentes são a demência de Alzheimer (respon-sável por 50 a 70% dos casos) e a demência vascular, sendo que, no seu conjunto, são responsáveis por até 80% dos casos (Ashraf et al., 2016; Santana et al., 2015; Schneider et al., 2007). Exceto nos casos de demência reversível (por exemplo, pseudodemência), a abordagem na demência é essencialmente sintomática dirigida aos sintomas psicológicos e comportamentais e neuropsiquiátricos, bem como as alterações dirigidas ao suporte funcional e às medidas de segurança no meio ambiente envolvente do doente com esta patolo-gia. O tratamento farmacológico atualmente disponível é limitado, embora possa atrasar o declínio cognitivo, envolvendo a utilização de fármacos inibidores da colinesterase e antagonistas do recetor
NDMA (ver Antidemenciais).

147
Q

Perturbação de personalidade dependente

A

Perturbação de personalidade pertencente ao grupo C, correspondendo às personalidades ansiosas/receosas (obsessivo-compulsiva/anancástica, evitante e dependente). Verifica-se a existência de um padrão persistente de funcionamento que se caracteriza por dependência excessiva de terceiros com dificuldade na tomada de decisões quotidianas, dificuldade em impor as suas opiniões e em discordar, falta de confiança para iniciar projetos por sua iniciativa, procura de obter o cuidado e apoio das outras pessoas, desconforto quando se encontra sozinho por medo de ser incapaz de cuidar de si próprio e, finalmente, medo intenso de abandono (APA, 2013). Estes indivíduos apresentam uma necessidade excessiva de cuidados, levando a uma posição de submissão e passividade, necessidade de aprovação, angústia de separação, dificuldade na tomada de decisões sem aconselhamento e tranquilização excessivos, revelando um medo de não terem capacidade de se autocuidar sem a ajuda dos outros (Afonso,
2015). Têm a tendência para não assumir responsabilidades próprias em áreas-chave da sua vida (por exemplo, obrigações do quo-tidiano, decisões pessoais e profissionais e organização de períodos de lazer), transferindo-as para terceiros, ficando as suas necessidades e desejos dependentes do indivíduo ou indivíduos a quem se subordinam (Afonso, 2015). A prevalência desta perturbação de personalidade varia entre 1% na comunidade e 15% nos cuidados de saúde sendo, a par da perturbação de personalidade borderline, uma das perturbações de personalidade mais prevalentes em populações clínicas (Torgersen, 2014).

148
Q

Depressão

A

Perturbação do humor que pode ter várias etiolo-gias, manifestando-se clinicamente por uma constelação de sinais e sintomas (síndrome): tristeza patológica, perda de interesse e ane-donia, com incapacidade para sentir prazer, diminuição da energia e cansaço fácil, dificuldades de concentração e incapacidade para tomar decisões, ideias de culpa e inutilidade, baixa autoestima, ideias pessimistas em relação ao futuro, alterações do apetite e do sono, ideias de morte, etc. E das perturbações psiquiátricas mais comuns. A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2015, estimava que o número de pessoas a nível mundial que sofria de depressão ultrapassava os 300 milhões, constituindo por isso um importante problema de saúde pública (WHO, 2017). A prevalência global da perturbação depressiva recorrente e persistente é de 12%, sendo a sua prevalência em países desenvolvidos cerca de 18% (Kessler et al., 2011. Em Portugal a prevalência anual é de cerca de 7% (Caldas Almeida & Xavier, 2014). É mais frequente nas mulheres, sendo que estas são duas vezes mais afetadas comparativamente com os homens (Malhi & Mann, 2018; Peder-sen et al., 2014). Apesar da diferença de prevalência entre sexos, importa salientar a possibilidade de existir um viés, dado a apresentação clínica no homem poder apresentar particularidades que dificultam o diagnóstico, nomeadamente comorbilidade elevada com perturbação do uso do álcool, a resistência na procura de cuidados médicos, etc. Na sua etiologia estão envolvidos fatores genéticos e ambientais que modelam alterações neurobiológicas ao nível do funcionamento de vários neurotransmissores (principal-mente serotonina, dopamina e noradrenalina), disfunção do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal e alterações funcionais e estruturais no córtex frontal e hipocampo (Marije aan het Rot et al.,
2009). A identificação de um conjunto de sintomas permite considerar-se a existência de uma síndrome depressiva que pode ser secundária a outras condições médicas (por exemplo, hipoti-roidismo, diabetes mellitus, neoplasias do sistema nervoso central, síndromes paraneoplásicas, esclerose múltipla, artrite reumatoide, entre outros), a causas iatrogénicas (por exemplo, corticosteroi-des, interferão, antimaláricos, antihipertensores, entre outros) ou até ser enquadrada numa outra perturbação psiquiátrica (por exemplo, episódio depressivo no contexto de perturbação bipolar) (Fardet et al., 2012; Li & Rodin, 2011; Patten & Barbui, 2004).
Neste sentido é importante considerar o diagnóstico de depressão unipolar, um diagnóstico de exclusão. De acordo com os critérios diagnósticos para depressão major de SuS (APA, 2013), é sencial que se verifique a presença, durante um período mínimo destas semanas, de humor deprimido ou de perda de interesse e prazer em quase rodas as atividades, devendo também verifeat.
-se pelo menos quatro de nove possíveis sintomas acessórios que incuem alterações do apetite (aumento ou diminuição) com ou sem impacto ponderal, alterações do sono (insónia ou hiperso-nia), alterações picomotoras (agitação ou lentificação), fadiga ou perda de energia, sentimentos de menor valia ou culpa, alterações de concentração e pensamentos recorrentes de morte. Na ICD-10 (WHO, 1992), os critérios são semelhantes, embora, para além dos sintomas nucleares considerados no DSM 5, se inclua também a diminuição do nível de energia. O curso da perturbação depressiva recorrente é crónico, sendo que 80% dos indivíduos com um episódio depressivo vão sofrer recorrências no futuro (novos epi-sódios), com intervalos interepisódicos progressivamente mais curtos (Harrison et al., 2018). A abordagem terapêutica depende da gravidade clínica do episódio, podendo envolver intervenções psi-coterapêuticas, abordagem farmacológica e técnicas de neuroesti-mulação. Na grande maioria dos casos, se possível, deverá haver integração de uma abordagem psicoterapêutica associada ao tratamento farmacológico com fármacos com ação antidepressiva (ver Antidepressivos). Apesar de existirem casos ligeiros/moderados de depressão, que poderão ser eventualmente tratados apenas com psicoterapia, a depressão major deve ter sempre acompanhamento médico e, neste contexto, tratamento farmacológico. Do ponto de vista psicoterapêutico, as modalidades mais estudadas são a psicoterapia cognitivo-comportamental e a terapia interpessoal.
No caso particular dos episódios depressivos graves com sintomas psicóticos, o tratamento farmacológico é fundamental devendo incluir a associação entre fármacos antidepressivos e antipsicóticos (Taylor et al., 2018). Existem ainda outras abordagens tera-pêuticas, tais como as técnicas de neuromodulação que incluem a eletroconvulsivoterapia (ver Eletroconvulsivoterapia), a estimulação magnética transcraniana, a estimulação cerebral profunda e a esti-mulação do nervo vago (Milev et al., 2016).

149
Q

Síndrome de Diógenes

A

Síndrome neurocomportamental caracterizada por marcada negligência no autocuidado, acumulação patológica de itens desnecessários e de lixo com ausência de crítica para o carácter patológico das alterações comportamentais. Pode ser primário, quando parece surgir isoladamente, ou secundário, quando se associa a perturbações neuropsiquiátricas (psicose, perturbações do humor, perturbação obsessivo-compulsiva, demência frontotemporal, etc.). Em termos neurobiológicos, envolve défices no processo de tomada de decisão por alterações em circuitos orbi-tofrontais mediados por neurotransmissão serotoninérgica e dopa-minérgica (Assal, 2018).

150
Q

Dipsomania

A

Compulsão pela ingestão de bebidas alcoólicas.

151
Q

Disartria

A

Perturbação da articulação da fala que pode ter etiologia central quando provocada por lesões cerebrais, ou periférica quando surge por alterações neuromusculares a nível orofaríngeo e laríngeo (ver Anartria).

152
Q

Discinesia

A

Termo que inclui todas as alterações do movimento por doença dos gânglios da base e que consistem em fenómenos positivos, isto é, movimentos involuntários com excesso de movi-mento. Inclui a coreia, atetose, balismo e distonia. Inclui ainda as discinesias de pico de dose que ocorrem nos doentes com parkinsonismo como consequência do tratamento dopaminérgico.

153
Q

Discinesia tardia

A

Perturbação motora que consiste em movimentos anormais involuntários da língua, lábios, face, tronco e membros, que são repetitivos, estereotipados e rítmicos. Encontra-se associada ao tratamento a longo prazo com antipsicóticos. O DSM 5 (APA, 2013) considera que para o diagnóstico de discinesia tardia ser efetuado, as alterações motoras têm de persistir pelo menos um mês após descontinuação da medicação. É mais comum em doentes com esquizofrenia, perturbação esquizoafetiva ou doença bipolar que foram tratados com medicação antipsicótica (principal-mente da primeira geração) durante longos períodos.

154
Q

Disfonia

A

Perturbação do discurso caracterizada por alterações da qualidade do mesmo que se traduzem em rouquidão. Pode surgir em patologia laríngea primária, doenças neurológicas ou perturbações funcionais.

155
Q

Disforia

A

Termo que tem origem no grego «dysphoros - sofrimento difícil de suportar» que é utilizado para caracterizar humor de tonalidade negativa. Pode ser utilizado com diferentes sentidos, podendo no seu sentido mais lato englobar humor caracterizado por tristeza, infelicidade, sensação de desconforto, inquietação e irritabilidade.
Por outro lado, no sentido mais restrito, tende a referir-se essencialmente a um humor de tonalidade irritável. Pode surgir, por exemplo, na perturbação bipolar em fase maníaca e em episódios depressivos.

156
Q

Disgrafia

A

Perturbação da linguagem de origem neurológica em que se verifica uma perturbação da expressão sob a forma escrita
(ver Agrafia).

157
Q

Dislália

A

Perturbação da articulação da fala em que as dificuldades de articulação se encontram circunscritas a algumas consoantes.

158
Q

Dislexia

A

Perturbação do desenvolvimento caracterizada por dificuldades nas capacidades relacionadas com a linguagem escrita, incluindo a leitura, a escrita e a ortografia.

159
Q

Dismegalopsia

A

Perturbação da perceção em que o indivíduo tem dificuldade na apreciação correta da dimensão dos objetos que observa que podem parecer maiores ou menores.

160
Q

Dismorfofobia

A

Perturbação dimórfica corporal que traduz uma condição de carácter obsessivo em que se verifica uma preocupação excessiva com defeitos corporais reais ou imaginados provocando marcada angústia e disfuncionalidade.

161
Q

Dismorfopsia: Sinónimo de metamorfopsia (ver Metamorfopsia).

A
162
Q

Disprosódia

A

Perturbação do discurso em que há alteração da entoação vocal. Pode ocorrer em lesões cerebrais ou das cordas vocais (ver Prosódia).

163
Q

Perturbações dissociativas

A

Perturbações psiquiátricas caracterizadas pelo fenómeno de dissociação, que consiste na cisão inconsciente entre diferentes conteúdos e funções mentais, geralmente consequente a um evento vivenciado como traumático. Incluem a amnésia dissociativa (ver Amnésia dissociativa), a fuga dissociativa, perturbação dissociativa da identidade, perturbação de despersonalização e desrealização e a síndrome de Ganser (ver Ganser, sindrome de).

164
Q

Dissocial: Globalmente sobreponível aos conceitos de antissocial (ver Antissocial, perturbação de personalidade).

A
165
Q

Dissónias

A

Perturbações primárias do sono e vigília, envolvendo alterações ao nível da quantidade, qualidade e duração do mesmo.
Inclui a insónia e a hipersónia (ver Insónia e Hipersónia).

166
Q

Distimia

A

Perturbação depressiva persistente em que se verificam sintomas depressivos atenuados durante pelo menos dois anos, havendo predomínio de queixas de anedonia, cansaço, dificuldades de concentração, sentimentos de baixa autoestima e desânimo, sendo raras alterações da vida instintiva (APA, 2013). Pode ocorrer em simultâneo um episódio depressivo, situação que se designa por depressão dupla.

167
Q

Distonia

A

Aumento involuntário do tónus muscular, alteração da motricidade caracterizada por contração mantida em simultâneo de grupos musculares opostos, resultando numa espasticidade dolorosa, conduzindo a posturas estranhas ou movimentos repetitivos ou mantidos (ver Efeitos extrapiramidais).

168
Q

Perturbação Esquizoafetiva

A

Perturbação psicótica caracterizada por se situar na fronteira entre as doenças psicóticas primárias e as perturbações do humor, tendo como principal particularidade apresentar concomitantemente características de esquizofrenia (delí-rios, alucinações, desorganização comportamental e do discurso, sintomas negativos) durante pelo menos um mês; e de perturbações do humor (depressão ou mania) que, no seu conjunto, devem estar presentes durante a maior parte da duração total da doença.
O termo foi cunhado na primeira metade do século xx pelo psiquiatra russo Jacob Kasanin (1933), que descreveu nove casos de doentes com sintomas de esquizofrenia e de patologia afetiva. Existem dois subtipos clínicos: depressivo e bipolar, de acordo com a polaridade dos episódios de alteração do humor. Apesar de, na sua essência, serem semelhantes, os critérios do DSM 5 (APA, 2013) e da ICD-
-10 (WHO, 1992) apresentam pelo menos duas diferenças signi-ficativas. No caso do DSM 5 é necessário que ocorra um período mínimo de duas semanas em que se observa a presença de sintomas psicóticos, sem sintomas afetivos associados. Além disso, permite a existência de temáticas delirantes não congruentes com o humor, contrastando com a ICD-10 que excluí os delírios persecutórios e de grandeza. Existe alguma controvérsia em relação a esta entidade uma vez que a sua estabilidade diagnóstica a longo prazo é relativamente baixa, com muitos doentes a evoluir para o diagnóstico de perturbação bipolar ou de esquizofrenia. O prognóstico tende a ser mais favorável do que na esquizofrenia (Harrison et al., 2018; Sadock et al., 2015). O tratamento inclui uma intervenção psicofarmaco-lógica associada a intervenções psicoeducativas, psicoterapêuticas (por exemplo, terapia cognitivo-comportamental) e de reabilitação psicossocial. No tratamento farmacológico são utilizados fármacos com ação antipsicótica, estabilizadores do humor e antidepressivos.

169
Q

Esquizoforia

A

Termo cunhado pelo psiquiatra espanhol Juan López-Ibor (1970) para se referir a um conceito globalmente sobre-ponível ao de humor ou atmosfera delirante e neotimia, referindo-se à vivência de experiências afetivas novas, estranhas e potencialmente ameaçadoras que antecedem o desenvolvimento do delírio (Dalga-larrondo, 2008) (ver Humor delirante, Neotimia).

170
Q

Esquizofrenia

A

Perturbação psicótica crónica que se caracteriza clinicamente pela presença de sintomas positivos (delírios, alucinações, alterações formais do pensamento, alterações do com-portamento), sintomas negativos (isolamento social, apatia, abu-lia, alogia, anedonia, embotamento afetivo), sintomas cognitivos (défice em múltiplos domínios, incluindo cognição social, atenção, velocidade de processamento) e sintomas afetivos (depressão, ansie-dade, desmoralização). O termo esquizofrenia deriva do grego «schizein- fenda, cisão» e «phrenós - pensamento», tendo sido introduzido pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler (1911) para substituir a designação demência precoce, cunhada por Kracpelin (1919).
Os sintomas de esquizofrenia abrangem os vários domínios acima referidos, sendo que, no entanto, a principal distinção a ser estabelecida tenha sido entre sintomas positivos e negativos (Andreasen & Olsen, 1982). Ao longo dos anos, vários autores procuraram também hierarquizar os diferentes sintomas tal como Bleuler (1911) e Schneider (1959) (ver Bleuler, sintomas fundamentais de e Schnei-der, sintomas de primeira ordem). Considerando a heterogeneidade dos quadros clínicos, houve também quem, como Crow (1980), procurasse subdividir a esquizofrenia em diferentes subtipos, neste caso, com base na preponderância de sintomas positivos (esqui-zofrenia tipo 1) ou de sintomas negativos (esquizofrenia tipo 2).
Estão descritos outros subtipos baseados na apresentação clínica: simples, paranoide, desorganizada ou hebefrénica, catatónica, indi-ferenciada, residual, embora o DSM na sua 5,ª edição (APA, 2013) tenha abandonado esta subclassificação. A esquizofrenia encontra-se ainda associada a alterações metabólicas e alterações motoras (sin-tomas extrapiramidais) que, para além de poderem ser secundárias à terapêutica farmacológica, estão relacionadas com a patologia em si (Hennekens et al., 2005; Torrey, 2002). Os principais critérios de diagnóstico de acordo com o DSM 5 incluem a presença de delírios, alucinações, desorganização do discurso, desorganização comporta-mental, catatonia ou sintomas negativos por um período mínimo de 1 mês, associados a disfunção laboral, interpessoal ou no autocui-dado, devendo existir sinais contínuos da perturbação durante pelo menos 6 meses (APA, 2013). Os critérios de diagnóstico da CID-
-10 são semelhantes, embora coloquem o enfoque em tipos específicos de sintomas psicóticos, incluindo os sintomas de primeira ordem de Schneider (ver Sintomas de primeira ordem de Schneider) e a duração necessária seja de apenas 1 mês ao invés de 6 meses. Além disso retém os diferentes subtipos clínicos que foram eliminados do
DSM 5 (WHO, 1992), Atinge aproximadamente 1% da popula-ção, com alguma variabilidade a nível mundial, parecendo existir uma maior prevalência em países desenvolvidos (Harrison et al.,
2018). Pode surgir em qualquer faixa etária, embora tipicamente se inicie na adolescência. No caso dos homens, tende a iniciar-se entre os 15-25 anos e no caso das mulheres existe uma distribuição bimo-dal com um primeiro pico entre os 25-30 anos e um segundo pico na perimenopausa (APA, 2013). No início da infância e nos idosos é mais raro. Relativamente às diferenças entre sexos, verifica-se ainda que o rácio homem/mulher é de cerca de 1,4/1 (Abel et al., 2010).
Á sua etiologia é multifatorial, envolvendo uma complexa interação entre fatores psicossociais e biológicos. A sua base genética é evidenciada, entre outros dados, por uma taxa de concordância em gémeos monozigóticos de 50% e heterozigóticos de 17% (Cardno et al., 1999; Kringlen, 2000). Em relação aos fatores ambientais, incluem-se as complicações obstétricas e perinatais (hemorragias, parto pré-termo, hipoxia fetal, incompatibilidades de grupo san-guíneo, tabagismo durante gravidez), infeções maternas (influenza, toxoplasma gondii, herpes simplex), infeções bacterianas na infância precoce, estados proinflamatórios (doenças autoimunes), consumo de canabinoides, imigração, entre outros. Vários neurotransmissores encontram-se também envolvidos, incluindo hiperfuncionamento dopaminérgico, hipofuncionamento dos recetores de glutamato, disfunção gabaérgica e alterações de recetores colinérgicos (Afonso,
2014; Harrison et al., 2018; Sadock et al., 2015). Há vários modelos etiopatogénicos, incluindo o modelo do neurodesenvolvimento (Insel, 2010), bem como modelos que pretendem unificar a heterogeneidade dos sintomas, integrando os aspetos fenomenológicos, neurobiológicos e farmacológicos, tais como o modelo de perturbação da ipseidade (ou do self básico) (Sass et al., 2018) (ver Ipseidade) ou o modelo da saliência aberrante (Kapur, 2003) (ver Saliência aberrante). O curso da doença é variável, havendo alguma heterogeneidade na sua evolução. Contudo, é consensual que se trata de uma doença crónica que evolui habitualmente por períodos de agudização (surtos psicóticos) que, em certas situações, requerem internamento. A taxa de suicídio é mais elevada na esquizofrenia face à população geral, sendo que 10% dos suicídios consumados verificam-se em doentes com esquizofrenia (Arsenault-Lapierre et al., 2004). A abordagem terapêutica, com vista à recuperação/ reabilitação psicossocial, envolve a terapêutica farmacológica (ver Antipsicóticos) juntamente com intervenções psicossociais/reabili-tação baseadas na evidência.

171
Q

Esquizofreniforme, perturbação

A

Perturbação psicótica aguda caracterizada por uma apresentação sintomática sobreponível à da esquizofrenia, exceto no que diz respeito à sua duração (dura entre 1 a 6 meses). Os critérios diagnósticos segundo o DSM 5 (APA, 2013) são semelhantes aos da esquizofrenia, com a exceção do critério temporal já referido e pelo facto de não ser necessário verificar-se disfunção social e ocupacional. Esta entidade não existe na CID 10 (WHO, 1992), segundo a qual os doentes seriam diagnosticados com esquizofrenia. Tem um início rápido, sem que se verifique um período prodrómico alargado, dura entre um a seis meses, com retorno ao nível de funcionamento prévio. É mais comum em adolescentes e adultos jovens, com maior incidência no sexo masculino. Em termos etiológicos parece ser uma entidade heterogénea com alguns casos aparentemente indicando maior proximidade de perturbações do humor, embora existam dados que suportam a sua proximidade da esquizofrenia (Harrison et al., 2018;
Sadock et al., 2015). O curso da doença, regra geral, é pautado por recorrência de episódios, com a maioria dos casos (60 a 80%) a progredir para esquizofrenia (Sadock et al., 2015) (ver Esquizofrenia).

172
Q

Boquizoide, perturbação de personalidade

A

Perturbação de personalidade pertencente ao grupo A correspondendo às personalidades estranhas/excêntricas (paranoide, esquizotípica e esqui-zoide), que tendem a manifestar-se no início da idade adulta e a persistir ao longo da vida. Caracteriza-se por frieza emocional, isolamento social e hiposexualidade. Os indivíduos com esta perturbação exibem uma faixa restrita de expressividade emocional, que pode ser indiferença (frieza emocional) ou diminuição da intensidade das emoções (embotamento afetivo). Exibem desinvestimento nos relacionamentos sociais, que se reflete numa rede social reduzida e dispersa, e preferem atividades ocupacionais ou de lazer soli-tárias. Raramente desenvolvem vida afetivo-sexual, e habitualmente não expressam sofrimento ou angústia pela sua ausência (Afonso,
2015). Este alheamento da vida relacional pode ser acompanhado por uma maior tendência para a introspeção, à atividade imaginária e à fantasia (WHO, 2016). Tem uma prevalência de 1,9% (Jakson & Burgess, 2000). Esta perturbação de personalidade (tal como a perturbação da personalidade esquizotípica) (ver Esquizotípica, perturbação de personalidade) está associada à evolução pré-mórbida da esquizofrenia (Lyman & Wynne, 1988).

173
Q

Esquizotípica, perturbação de personalidade:

A

Perturbação de personalidade pertencente ao grupo A (DSM 5), correspondendo às personalidades estranhas/excêntricas (paranoide, esquizotípica e esquizoide) (APA, 2013). O termo esquizotipia foi originalmente adotado por Meehl (1962) para nomear a vulnerabilidade crónica às perturbações do espectro psicótico. Um modelo teórico contemporâneo propõe a existência de um espectro contínuo de gravidade de perturbações do espectro psicótico, que vão desde a perturbação de personalidade esquizoide, à perturbação esquizotípica e, no extremo máximo de gravidade, à esquizofrenia. De acordo com este modelo, as manifestações da perturbação esquizotípica podem ser agrupadas em dois tipos: 1) sintomas positivos: ideias de autorre-ferência, persecutórias, pensamento mágico ou outro tipo de crenças inconsistentes com universo cultural da pessoa; experiências percetuais anómalas, geralmente transitórias, como ilusões somá-ticas, despersonalização ou alucinações auditivo-verbais; discurso estereotipado, metafórico ou bizarro; aparência e comportamentos excêntricos; 2) sintomas negativos: afeto inadequado ou constrito; e dificuldades de relacionamento interpessoal.

174
Q

Bipolar, perturbação:

A

Perturbação do humor que se caracteriza por ser uma doença crónica com episódios recorrentes de hipomania (ver Hipomania), mania (ver Mania), depressão (ver Depressão) ou episódios mistos (ocorrência simultânea de sintomas de depressão e mania), sendo essencial a ocorrência de pelo menos um episódio hipomaníaco, maníaco ou misto para o diagnóstico. Existem diferentes formas clínicas, incluindo a perturbação bipolar tipo I que cursa com história de pelo menos um episódio maníaco e a perturbação bipolar tipo Il em que se verificam episódios depressivos recorrentes e pelo menos um episódio hipomaníaco. Para além destes subtipos, existem autores, como Hagop Akiskal (1999), que propõem a existência de um espectro bipolar alargado que integra outras formas cínicas. Os principais critérios diagnósticos do DSM 5 (APA, 2013) para episódio maníaco incluem um período mínimo de uma semana em que se verifique humor elacionado, expansivo ou irritável com aumento da energia ou atividade associado a pelo menos três ou quatro (se o humor for irritável) de sete sintomas acessórios, incluindo aumento da autoestima ou grandiosidade, diminuição da necessidade de dormir, pressão de discurso, taquipsi-quismo, distratibilidade, aumento da atividade dirigida ou agitação psicomotora e envolvimento excessivo em atividades com potenciais consequências nefastas. Caso se verifiquem sintomas psicóticos associados às alterações nucleares, é estabelecido o diagnóstico de mania.
Os critérios para episódio hipomaníaco são semelhantes, mas têm de ocorrer no período mínimo de quatro dias e não condicionar um grau de disfuncionalidade marcado, nem necessidade de internamento hospitalar e, contrariamente à mania, não cursa com sintomas psicóticos. A doença manifesta-se com episódios recorrentes de ambos os polos de humor (depressão e mania/hipomania). Esta perturbação tem uma prevalência global entre 1 e 3 % (Pederson et al., 2014). A sua forma clássica, também conhecida por doença de Cade ou perturbação bipolar tipo I, parece ter uma prevalência semelhante à esquizofrenia afetando cerca de 1% da população.
Outras formas de doença (perturbação bipolar tipo II, ciclotimia) apresentam prevalências mais elevadas (Harrison et al., 2018).
A doença pode iniciar-se na infância ou até em idosos, embora o mais frequente seja iniciar-se entre os 18 e os 20 anos de idade.
Apesar disso, alguns autores consideram a idade média de início da doença aos 30 anos de idade (Harrison et al., 2018). A prevalência é semelhante entre sexos (Sadock et al., 2015). A etiologia não está totalmente esclarecida, sabendo-se que existe um componente hereditário relevante com estudos familiares a mostrar níveis de concordância elevados (10% em familiares de primeiro grau). Em termos neurobiológicos, existe evidência de alterações ao nível da estrutura e do funcionamento cerebral, não sendo, no entanto, claro se essas alterações precedem o início da doença ou se são consequência da sua progressão (Harrison et al., 2018). O prognóstico relativo a cada episódio individual é favorável com remissão sintomática a verificar-se na maioria dos doentes. No entanto, o prognóstico a longo prazo é menos favorável, com menos de 20% dos doentes a permanecerem clinicamente estáveis durante um período de 5 anos (Harrison et al.,
2018), sendo ainda agravado pelo aumento do risco de suicídio.
Caso ocorram mais de quatro episódios de humor no período de um ano — referimo-nos a um subtipo particular de doença designado por ciclos rápidos -, apresenta um pior prognóstico a longo prazo, com uma resposta à terapêutica menos favorável (Dunner & Fieve,
1974; Kupka et al., 2005; Maj et al., 1994). O tratamento é fundamentalmente farmacológico, tendo por base fármacos de várias classes que possuam ação estabilizadora do humor (carbonato de lítio; antiepiléticos como o ácido valpróico e a lamotrigina), antipsicóticos e antidepressivos, conforme o estado clínico (Grunze et al.,
2009; Yatham et al., 2018). A terapêutica deve ainda incluir programas psicoeducativos e intervenções psicoterapêuticas (por exem-plo, terapia cognitivo-comportamental e terapia de ritmos sociais)
(Malhi et al., 2009).

175
Q

Borderline, perturbação de personalidade:

A

Perturbação de personalidade pertencente ao grupo B, correspondendo às personalidades dramáticas/instáveis (histriónica, narcísica, estado-limite/ borderline e antissocial). Caracteriza-se por um padrão persistente e global de instabilidade afetiva, ao nível das relações interpessoais e da autoimagem com marcada impulsividade (APA, 2013).
A característica central desta perturbação é a instabilidade no relacionamento interpessoal, alternando entre a idealização (consi-derando um indivíduo como repleto de qualidades e virtudes) e, através de um processo de clivagem (ver Clivagem), a desvalorização (o mesmo indivíduo passa subitamente a ser totalmente desprovido de qualidades e de valor) (Afonso, 2015). A instabilidade também se manifesta a nível afetivo com episódios de disforia, irritabilidade e ansiedade de curta duração. Outras características importantes incluem um sentimento crónico de vazio interior; a impulsividade, que se manifesta através de atitudes inconsequentes (por exemplo, abuso de álcool e outras substâncias psicoativas, promiscuidade sexual e violência); baixa tolerância à frustração, que se manifesta através de períodos de raiva em que facilmente passam ao ato (por exemplo, agressões e crises clásticas); frequentes gestos autolesivos (por exemplo, cortes nos membros ou queimaduras com cigar-ros); percurso de vida inconstante pautado por fracassos múti. plos e ausência de perseverança, podendo mudar frequentemente demorada, profissão ou estilo de vida (Afonso, 2015). Por vezes, podem surgir episódios psicóticos transitirios reativos ao stresse.
A prevalência desta perturbação de personalidade na população geral varia entre 0,5 e 5,9%, não havendo evidência de diferença de prevalência entre géneros. Contudo, em populações clínicas, 75% dos
individuos sao mulheres (Gunderson, 2011), sendo a perturbagao
de personalidade mais prevalente. Neste caso, apresenta uma incidência de 10% em ambulatório e de 15-25% em contexto de internamento (Leichsenring et al., 2011). Embora o curso seja crónico, os estudos de follow-up a longo prazo indicam que a maioria dos indivíduos melhora ao longo da vida e inclusive podem recuperar totalmente. Os preditores de bom prognóstico incluem fatores relacionados com traços de personalidade adaptativos (por exemplo, resiliência), sendo preditores de mau prognóstico uma maior gravidade e cronicidade dos sintomas, a presença de comorbilidades e história de adversidades na infância (Temes & Zanarini, 2018).
A abordagem terapêutica deve focar-se em intervenções psicotera-pêuticas (por exemplo, psicodinâmica, dialético-comportamental ou terapia baseada na mentalização). No que diz respeito à terapêutica farmacológica, esta deve ser dirigida aos sintomas psiquiátricos (ansiedade, insónia, etc.) ou à comorbilidade de perturbações psiquiátricas que podem cursar com esta perturbação da personalidade, episódios depressivos, psicoses breves, etc. (por exemplo, antidepressivos serotoninérgicos e antipsicóticos em baixa dose) (Leich-senring et al., 2011).

176
Q

Bradicinesia

A

Lentificação da atividade motora. Pode ocorrer como sintoma extrapiramidal por efeito adverso de fármacos antidopaminérgicos. Também pode ocorrer em várias patologias psiquiátricas, incluindo a depressão e a esquizofrenia.

177
Q

Bulimia nervosa

A

Perturbação do comportamento alimentar descrita pela primeira vez por Gerald Russell (1979) como «a fase crónica da anorexia nervosa» que clinicamente se caracteriza por episódios de ingestão alimentar compulsiva e comportamentos compensatórios no sentido de evitar o ganho de peso.
Segundo o DSM 5 (APA, 2013), os critérios essenciais são a ocorrência de episódios recorrentes de ingestão alimentar compulsiva, e comportamentos compensatórios recorrentes para evitar o aumento de peso, devendo estes episódios ocorrer no mínimo uma vez por semana, durante 3 meses, em indivíduos cuja imagem corporal é desproporcionalmente influenciada pela sua forma corporal e pelo peso. Associa-se a complicações médico-cirúrgicas secundárias, essencialmente às estratégias purgativas compensatórias utilizadas (por exemplo, uso de laxantes e vómitos provoca-dos). Estas podem conduzir a alterações gastrointestinais (refluxo gastroesofágico persistente, patologia hemorroidária, hematoqué-zias), alterações hidroeletrolíticas e do equilíbrio ácido-base (hipo-natremia, hipocaliemia e alcalose metabólica), e a alterações da condução cardíaca (Westmoreland et al., 2016). É mais comum que a anorexia nervosa, tendo uma prevalência de 0,9 a 3%.
É mais frequente no sexo feminino, com uma razão aproximada de três mulheres para cada homem. Pode iniciar-se em várias ida-des, embora a idade média de início seja aos 16-17 anos (Castillo & Weiselberg, 2017). À semelhança da anorexia nervosa, a sua etiologia é multifatorial, envolvendo fatores biológicos, sociais e psicológicos. O prognóstico e evolução são mais favoráveis do que na anorexia nervosa, embora cerca de um terço a metade dos doentes mantenham o diagnóstico de perturbação do comportamento alimentar após 5-10 anos (Harrison et al., 2018). A abordagem terapêutica envolve intervenções psicoterapêuticas (terapia cognitivo-comportamental e psicoterapia interpessoal) e psico-farmacológicas com recurso a antidepressivos serotoninérgicos (por exemplo, fluoxetina), que reduzem os episódios de ingestão alimentar compulsiva.

178
Q

Paranoide, perturbação de personalidade:

A

Perturbação de personalidade pertencente ao cluster A (DSM 5), correspondendo às personalidades estranhas/excêntricas (paranoide, esquizotípica e esquizoide). Caracteriza-se sobretudo por um padrão difuso de desconfiança e suspeição em relação aos outros em que as suas motivações são interpretadas como maléficas (APA, 2013). De facto, nestes indivíduos a característica que domina é a desconfiança, mantendo suspeitas generalizadas em relação às pessoas que os rodeiam, interpretando sem fundamento as suas motivações e ações de modo negativo e como sendo dirigidas em relação a si com o intuito de os prejudicar ou enganar (Afonso, 2015). Deste modo, existe uma dificuldade em estabelecer relações de confiança com terceiros, expressando frequentemente receios e preocupações em relação à lealdade e confiança dos colegas, amigos, familiares e, muitas vezes, em relação aos cônjuges (havendo uma possível associação com os quadros de ciúme patológico) (Afonso, 2015). Nas situações em que se verificam acontecimentos que lhes desagradam ou que interpretam como mal-intencionados, tendem a registar todos esses eventos, guardando ressentimento e rancor e, muito mais tarde, é frequente evocarem os mesmos, usando-os como argumento em discussões (Afonso, 2015). A sua prevalência na comunidade é de cerca de 1,7% e, em populações com patologia psiquiátrica, atinge os 9,6%
(Jorgersen, 2014).

179
Q

Paraprosopia

A

Forma de metamorfopsia que ocorre com a per-ceção distorcida da face das pessoas (ver Metamorfopsia).

180
Q

Pararespostas: Sinónimo de respostas ao lado (ver Respostas ao Lado).

A
181
Q

Parasitose alucinatória: Sinónimo de síndrome de Ekbom (ver
Ekbom, Síndrome de).

A
182
Q

Parassónias

A

Eventos físicos ou sensações indesejáveis que ocorrem durante o sono REM, o sono não REM (NREM) ou as transições do sono (inclusive na transição sono-vigília). Os even-ros podem manifestar-se como movimentos, comportamentos, emoções, perceções, sonhos ou mesmo atividades do sistema nervoso autonómico (AASM, 2014). As parassónias do sono NREM incluem sonambulismo, terrores noturnos, acordar confusional e alterações alimentares associadas ao sono. As parassónias do sono REM são a paralisia do sono, os comportamentos violentos durante o sono e os pesadelos. As outras parassónias incluem, por exemplo, a enurese noturna ou as alucinações associadas ao sono.
(AASM, 2014).

183
Q

Parasuicídio

A

Comportamentos suicidários não-letais ou comportamentos autolesivos sem intencionalidade suicida (por exem-plo, cortes, queimaduras, ingestão de fármacos em doses acima do recomendado, consumo de substâncias psicoativas com intuito autolesivo, ingestão de substâncias ou objetos não ingeríveis, entre outros). É um fenómeno complexo que, apesar de relacionado com o suicídio, difere do mesmo em vários aspetos. No parasuicídio o objetivo não é a morte, mas sim procurar uma forma de alívio para a dor e para a angústia, transformando-as em dor física, com redução da sensação de tensão psicológica (Halicka & Kiejna, 2018). Foi integrado no DSM 5 (APA, 2013) com critérios próprios, e incluído numa secção dedicada a «condições que merecem mais estudo».
Estes comportamentos autolesivos, sem intenção suicida, surgem em cerca de 7-14% dos jovens a nível mundial, embora seja também prevalente em indivíduos adultos (Shneidman, 1985). Encontra-se associado a perturbações de personalidade (por exemplo, perturbação de personalidade borderline), perturbações do comportamento alimentar, perturbações de uso de substâncias, entre outras patologias psiquiátricas (APA, 2013).

184
Q

Paratimia

A

Afetos incongruentes com o conteúdo do discurso
ou da situação.

185
Q

Pensamento paleológico

A

Segundo o psiquiatra Silvano Arieti
(1955), consiste num tipo de pensamento pré-lógico que, do ponto de vista formal, segue uma lógica primitiva ao invés da lógica aristoté-lica. Caracteriza-se por ser um estilo de pensamento concreto, surgindo na esquizofrenia, em componentes do pensamento infantil e no pensamento do Homem primitivo. Pelas suas características, este tipo de pensamento pode apresentar alguma bizarria e tornar-se incompreensível se não for possível aceder ao raciocínio subjacente (Melo, 2005).
Vejamos alguns exemplos de pensamento paleológico: «A Joana gosta de teatro; o António gosta de teatro; logo, a Joana é o Antónion ou Eu sou a Virgem Maria (eu sou virgem, tal como a Virgem Maria)..

186
Q

Personalidade, perturbações de:

A

Padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo e que afeta a cognição, afeti-vidade, funcionamento interpessoal e controlo de impulsos (APA,
2013). O DSM 5 (APA, 2013) integra dez perturbações de personalidade que organiza em três diferentes grupos. O grupo A corresponde às personalidades estranhas e excêntricas (inclui a paranoide, esquizoide e esquizotípica), o grupo B corresponde às personalidades dramáticas e instáveis (inclui a histriónica, borderline, narcísica e antissocial) e o grupo C corresponde às personalidades ansiosas e receosas (inclui a obsessivo-compulsiva, evitante e dependente). Em relação à prevalência das perturbações em cada um destes grupos é estimada em 5,7% no grupo A, 1,5% no grupo B e 6% no grupo C (APA, 2013). Apesar de, pela sua natureza, corresponderem a traços estáveis e persistentes, na verdade o curso pode diferir entre as perturbações de personalidade dos diferentes grupos. As perturbações de personalidade dos grupos A e C tendem a manifestar-se clinicamente mais tardiamente e a persistir. Por outro lado, as perturbações de personalidade do grupo B tendem a manifestar-se mais precoce-mente, na infância e adolescência, e podem verificar-se melorias, mas concretamente ao nível dos fenómenos desadaptativos, com o avançar da idade (Afonso, 2015).

187
Q

Pesimismo

A

Termo de uso corrente que se refere a um conceito que traduz de modo geral uma atitude de desesperança relativamente ao presente e ao futuro, com um viés de avaliação negativa dos mesmos. Observa-se frequentemente na perturbação depressiva.

188
Q

Pica

A

Perturbação do comportamento alimentar em que o indi-víduo se alimenta persistentemente de substâncias não nutritivas.
Pode ocorrer nas perturbações do espectro do autismo e nas pertur-bações do desenvolvimento intelectual.

189
Q

Piromania

A

Perturbação do controlo dos impulsos em que há a provocação deliberada de incêndios, acompanhada de interesse no fogo e prazer ao iniciar ou observar um incêndio.

190
Q

Poriomania: Sinónimo de dromomania (ver Dromomania).

A
191
Q

Posse do pensamento

A

Sensação de vivência do próprio pensa-mento como sendo seu e sobre o qual se exerce controlo. As per-turbações da posse do pensamento podem ser subdivididas nas perturbações do controlo do pensamento (ver Controlo do pensa-mento), que incluem as obsessões (ver Obsessões), e na alienação do pensamento (ver Alienação do pensamento), que incluem experiên-cias de passividade do pensamento.

192
Q

Postura

A

Posição relativa das partes do corpo que pode refletir o estado emocional e ter um significado quando integrada no restante exame do estado mental.

193
Q

Potomania

A

Ingestão compulsiva de elevadas quantidades de água.

194
Q

Pragmática

A

Estudo da linguagem no contexto do seu uso na comunicação, refere-se às diferentes interpretações que variam com o contexto e o sujeito (ver Sintaxe e Semântica).

195
Q

Pré-mórbido

A

Corresponde ao estado que antecede uma doença ou alteração patológica. Em psiquiatria descreve-se frequentemente a personalidade pré-mórbida ou o estado pré-
-mórbido, correspondendo ao estado de funcionamento prévio à instalação da doença.

196
Q

Pressão do discurso

A

Aumento do débito e ritmo do discurso, como se o doente fosse pressionado a produzir uma grande quantidade de discurso num curto período. Pode surgir nas perturbações de ansiedade e em episódios maniformes.

197
Q

Privação sensorial

A

Redução ou remoção deliberada de estímulos sensoriais. Usada em modelos experimentais em Psicologia e como meio de tortura.

198
Q

Pródromos

A

Conjunto de sinais ou sintomas que precedem a instalação de uma doença com a sua forma de apresentação mais específica.

199
Q

Prognóstico

A

Conhecimento antecipado do curso da doença, tendo em conta o diagnóstico, a situação clínica e outros fatores psicossociais.

200
Q

Projeção

A

Mecanismo de defesa caracterizado pela atitude de atribuir aos outros os pensamentos, os sentimentos ou as ações do próprio.

201
Q

Psicanálise

A

Psicoterapia que se baseia na teoria sobre o desenvolvimento mental criada por Sigmund Freud em 1882, tendo tido posteriormente múltiplas ramificações desenvolvidas por outros autores, tais como Carl Jung, Melanie Klein ou Jacques Lacan.
Segundo esta teoria, o comportamento humano não ocorre por acaso, mas encontra-se determinado por acontecimentos (impulsos, desejos, conflitos) psíquicos que não apenas levam a um comportamento anormal, como determinam todo o tipo de comportamento (determinismo psíquico). Neste caso, o comportamento anormal é um sintoma simbólico de acontecimentos convertidos em conflitos psíquicos e reprimidos para o inconsciente. Estes conflitos situam-se na infância e a sua repercussão estende-se sobre o desenvolvimento da personalidade do indivíduo. O processo terapêutico é realizado através do método de associação livre, em que o psicanalista vai procurar explicar as motivações e os comportamentos do indivíduo, de modo a que este possa alcançar um pleno conhecimento da origem dos seus problemas (ver Psicopatologia explicativa).

202
Q

Psicologia

A

Estudo do comportamento e dos processos mentais através de métodos comparativos e analíticos.

203
Q

Psicopatia: Sinónimo de perturbação de personalidade antissocial (ver Antissocial, perturbação da personalidade).

A
204
Q

Psicose

A

Perturbação psiquiátrica que cursa com perda de con-tacto com a realidade, na qual há dificuldade em distinguir o que é ou não real; inclui os delírios ou as alucinações, para os quais o indivíduo não tem crítica. Pode estar presente em múltiplas pato-logias, tais como a esquizofrenia, perturbação bipolar ou demência.

205
Q

Psicoterapia

A

Modalidade terapêutica, não farmacológica baseada na relação que se estabelece entre o terapeuta e o doente.
Tem como objetivos principais: o alívio do sofrimento emocional, encontrar soluções para problemas de vida, modificar formas de pensar e agir que impedem o funcionamento profissional e interpessoal. Existe uma ampla gama de psicoterapias, cada uma das quais se baseia em diferentes fundamentações teóricas, tais como a teoria psicodinâmica, cognitiva, comportamental ou existencial.
Entre as psicoterapias com maior número de estudos de qualidade e com maior evidência de eficácia encontram-se a terapia cognitivo-
-comportamental e a psicoterapia interpessoal.

206
Q

Acalculia

A

Perda da capacidade de efetuar operações e resolver problemas matemáticos, não sendo secundária a um estado de ansiedade, alterações da atenção ou concentração. A capacidadede cálculo requer o reconhecimento visual e cognitivo, a compreens-são e a utilização de símbolos, imagens e constructos matemáticos, so invés de símbolos verbais e palavras. Esta alteração pode surgir secundariamente a lesões cerebrais, com múltiplas localizações possíveis em ambos os hemisférios cerebrais, que afetem a capacidade visuo-espacial (hemisfério direito), o reconhecimento de números enquanto símbolos, a compreensão, etc. (Irzepacz. & Baker, 1993;
Sadock et al., 2015).

207
Q

Acatafasia

A

Termo utilizado por Emil Kraepelin (1919) para se referir a um conjunto de alterações que traduzem uma perturbação da expressão do pensamento, através do discurso, tipicamente associadas à esquizofrenia. Engloba alterações que são hoje em dia enquadradas noutras perturbações do discurso e da linguagem, tais como as parafasias.

208
Q

Acatisia

A

Refere-se a uma sensação subjetiva desagradável de inquietude física que impede que a pessoa permaneça sentada ou imóvel no mesmo sítio, verificando-se uma necessidade imperiosa de movimento constante. Existe uma inquietação motora perma-nente, mais frequentemente dos membros inferiores, na qual o indivíduo não consegue estar quieto, dando origem a um mal-estar significativo. E um tipo de efeito extrapiramidal causado por défice de dopamina ao nível dos gânglios da base. Corresponde geralmente a um efeito secundário, após a introdução ou elevação da dose de um fármaco antidopaminérgico, embora também existam formas
tratamento.
tardias que se iniciam habitualmente ao fim de alguns meses de

209
Q

Aceleração do pensamento

A

Alteração do ritmo do pensamento pautada por sensação subjetiva de aceleração no fluxo dos diferentes pensamentos e ideias (ver Taquipsiquismo). O pensamento encontra–se tipicamente acelerado na perturbação bipolar durante um episo-
dio hipomaníaco/maníaco.

210
Q

Agramatismo

A

Perturbação do discurso em que o indivíduo fala ou escreve hesitantemente, omitindo elementos necessários para a correta construção gramatical das frases. Esta situação resulta num discurso que mantém apenas os principais nomes e verbos para a transmissão de significado, verificando-se erros na construção frá-sica. Também conhecido por discurso telegráfico, encontra-se tipicamente associado a afasias não fluentes, podendo ocorrer, por exemplo, na esquizofrenia (ver Paragramatismo).

211
Q

Agressividade

A

Estado em que o comportamento ou atitudes do indivíduo evidenciam um conjunto de emoções negativas, tais como: raiva, medo, hostilidade, tensão elevada com potencial para culminar em ataques verbais e atos destrutivos dirigidos a si pró-prio, a terceiros ou a bens materiais (Trzepacz & Baker, 1993).
A agressividade pode ocorrer com maior frequência no contexto de dificuldade de controlo do impulso, embora possa também surgir secundariamente a sintomas psicóticos ou ser planeada de modo voluntário, intencional e premeditado (no caso, por exemplo, da perturbação de personalidade antissocial). Do ponto de vista neu-robiológico, na sua etiologia, colocam-se hipóteses relacionadas com desequilíbrio entre neurotransmissores (aumento de dopamina e redução de serotonina) com disfunção a nível do córtex pré-frontal e temporal, hipotálamo e amígdala (Stahl, 2014). É uma manifestação que pode surgir associada a uma ampla gama de situações clínicas, incluindo, perturbações de personalidade, demência, perturbações do desenvolvimento intelectual, perturbações psicóticas em fase aguda, episódio maníaco e disfunções do lobo frontal, etc.
(Trzepacz & Baker, 1993).

212
Q

Ajustamento, perturbação de

A

Perturbação que se caracteriza pelo desenvolvimento de sintomas psicológicos e comportamentais na sequência da adaptação a novas circunstâncias e a eventos que podem ser considerados stressores. A apresentação clínica pode ser diversa, estando descritas várias formas, incluindo de tipo depressivo, tipo ansioso, tipo misto ansiedade e depressão, associado a alterações da conduta e das emoções. Os principais critérios, de acordo com o DSM 5 (APA, 2013), incluem o início dos sintomas no período de 3 meses que se segue à exposição ao evento desencadeante identificável, não devendo durar mais do que 6 meses após cessação da exposição ao mesmo. Os sintomas devem ser desproporcionais ao evento stres-sor, considerando o contexto cultural do doente, e devem ser causadores de sofrimento e de disfunção socioocupacional. A prevalência estimada deste tipo de perturbação ronda os 2 a 8% na população geral, sendo duas vezes mais frequente no sexo feminino. É um dos diagnósticos psiquiátricos mais frequentes em populações de doentes internados em hospitais gerais por outras comorbilidades médicas ou cirúrgicas, podendo nesse contexto atingir os 50% de prevalência (APA, 2013; Sadock et al., 2015). Em termos etiológicos, o fator essencial é a exposição a determinado fator stressor que, no entanto, não é condição suficiente, sendo necessário existir vulnerabilidade individual para o desenvolvimento de sintomas. De modo geral, o prognóstico é favorável em adultos. Em adolescentes com perturbações de ajustamento existe uma elevada taxa de progressão para o desenvolvimento de outras patologias psiquiátricas na idade adulta (por exemplo, perturbação depressiva, esquizofrenia, perturbações de personalidade, etc.) (Andreasen & Hoenk, 1982). A base da abordagem terapêutica envolve intervenções psicoterapêuticas, sendo por vezes necessário uma intervenção psicofarmacológica de suporte
(Harrison et al., 2018).

213
Q

Alexia

A

Perturbação da linguagem de origem neurológica que se caracteriza por perda da capacidade ou alteração da capacidade de leitura, em que geralmente se verifica um défice na compreensão da linguagem escrita, não justificável por qualquer défice sensorial (Irzpacz & Baker, 1993). Pode surgir associada a agrafia, geralmente fazendo parte de uma afasia, embora possa também surgir sem agrafia.

214
Q

Alexitimia

A

Caracteriza-se pela existência de dificuldades na identificação de estados emocionais, na descrição verbal das emoções e um estilo de funcionamento cognitivo orientado para eventos exter-nos. O termo, que tem origens no grego «lexis - palavra» e «thymos - emoção», significa literalmente «ausência de palavras para a emo-
Saon. Foi originalmente cunhado por Peter Sifncos (1973), ap6s a
observação de que doentes com patologia psicossomática com tra-cos alexitímicos apresentavam restrição da sua vida afetiva e que não beneficiavam de psicoterapia psicodinâmica, amplamente utilizada à época na psiquiatria norte-americana (Donges &t Suslow, 2017;
Miyaoka et al., 1999). A prevalência na população geral é de cerca de 10%, sendo mais frequente em indivíduos do sexo masculino, com idade avançada, baixo nível de escolaridade e estatuto socioeconó-mico (Ricciardi et al., 2015). Em termos etiológicos, apesar de originalmente o seu conceito ter uma explicação de acordo com a teoria psicodinâmica, têm vindo a ser recentemente propostos modelos explicativos alternativos que envolvem um défice na integração somatossensitiva, a «teoria da mente» e os «neurónios espelho». Do ponto de vista estritamente neurobiológico, parece existir evidência de hipofunção a nível límbico e paralímbico, desconexão inter-
-hemisférica e alterações na função ao nível de várias estruturas cerebrais (por exemplo, córtex cingulado anterior, amígdala, ínsula e cerebelo) (Meza-Concha et al., 2017). Surge em 40-60% dos doentes com perturbações psicossomáticas, sendo também prevalente nas perturbações de ansiedade, depressão, perturbações do comportamento alimentar, perturbação obsessivo-compulsiva e perturbações de uso de substâncias (alcoolismo, dependência e abuso de drogas, por exemplo, canábis e heroína). Surge também associada a doenças neurológicas, tais como: doença cerebrovascular, epilepsia, trauma-tismos crânio-encefálicos, esclerose múltipla e doença de Parkinson, etc.

215
Q

Anedonia

A

Incapacidade de experienciar prazer, desejo ou satisfação em atividades que habitualmente produziam no indivíduo sensações ou sentimentos agradáveis. Apesar de ser um sintoma nuclear da depressão, pode ocorrer noutras perturbações psiquiá-tricas, nomeadamente na esquizofrenia.

216
Q

Anestesia afetiva

A

Perturbação da vivência afetiva, designada por alguns autores por atimia, referindo-se à sensação subjetiva de ausência de sentimento. Pode ocorrer, por exemplo, na síndrome de Cotard (ver Cotard, síndrome de), em episódios depressivos graves e após eventos traumáticos (Scharfetter, 1997).

217
Q

Anomia

A

Perturbação da linguagem caracterizada por incapacidade ou dificuldade na nomeação de objetos ou pessoas. Surge na afasia, manifestando-se no discurso pela presença de pausas anómi-cas, perifrasias ou circunlóquios (ver Perifrasia e Circunlóquio).

218
Q

Anorexia

A

Diminuição ou perda de apetite. É um sintoma inespecífico e um fenómeno complexo que engloba diferentes fatores (incluindo médicos, socioculturais e de natureza voluntária) que contribuem para o desenvolvimento de alterações do apetite. Pode surgir em várias patologias (neoplasias, infeções, depressão, anorexia ner-vosa, entre outras), apresentando etiologias e fisiopatologias diversas.

219
Q

Anorexia nervosa

A

Perturbação do comportamento alimentar, cujas características essenciais, de acordo com o DSM 5 (APA, 2013), incluem a restrição voluntária do consumo calórico que conduz a um baixo peso corporal, de acordo com as características do indivíduo.
Subsiste um medo intenso de aumentar de peso ou de engordar, ocorrendo comportamentos persistentes no sentido de o evitar. Estes comportamentos são motivados por uma distorção da imagem corporal, com aumento do impacto do peso na autoimagem e a negação do impacto do baixo peso nas consequências negativas para a saúde que daí advêm. Para além disso apresentam uma ampla gama de sintomas psicológicos e comportamentais associados, tais como: humor distó-rico, isolamento social, inquietação e hiperatividade motora, alterações do sono, traços de perfecionismo e um padrão de funcionamento cognitivo rígido e inflexível (Keel & McCormick, 2010). Clinicamente apresenta elevada comorbilidade com outras perturbações psiquiátri-cas: depressão, ansiedade e perturbações da personalidade (Jagielska & Kacperska, 2017). Além disso, cursa com várias consequências médicas inerentes à restrição alimentar, nomeadamente: baixo peso, alterações ao nível cardiovascular (arritmias), endocrinológicas (amenorreia, hipotiroidismo), ósseas (osteopénia e fraturas recorrentes) e a nível cerebral (redução de volume cerebral com disfunção cognitiva asso-ciada) (Becker et al., 1999). A sua prevalência é de cerca 1% no sexo feminino e 0,5% no sexo masculino, sendo a razão entre sexos de cerca de 1 homem para cada 8 mulheres (Zipfel et al., 2015). Embora possa surgir em qualquer faixa etária, tipicamente inicia-se na adolescência, sendo a idade mais comum de início entre os 14 e os 18 anos (Sadock et al., 2015). A sua etiologia é multifatorial, envolvendo fatores gené-ticos, neurobiológicos, ambientais e sociais. O curso é bastante variá-vel, podendo ocorrer ganho de peso e recaídas frequentes, sendo que, no geral, o prognóstico não é favorável, obervando-se uma mortalidade de cerca de 2% em adolescentes e 5% nos adultos (Harrison et al., 2018). A abordagem terapêutica é necessariamente multidisciplinar (psiquiatria, medicina interna, endocrinologia, psicologia, nutri-ção, etc.), envolvendo a intervenção psicoterapêutica (individual e/ou familiar), farmacológica e nutricional.

220
Q

Ansiedade

A

Estado emocional que surge como uma a normal ao perigo real ou imaginado, caracterizado por sintomas psicológicos (tensão, apreensão, inquietação, hipervigília) e por sintomas físicos secundários como a ativação do sistema nervoso autónomo (tremor, palpitações, náuseas, taquipneia, entre outros) (Harrison et al., 2018). Pode ser desencadeada por estímulos externos ou internos e, numa situação normal, tem um carácter adaptativo. Pode assumir um carácter patológico, caso haja uma intensidade desproporcionada dos sintomas, se for muito frequente ou duradoura, e caso ocorra sem um motivo aparente ou identificável (o indivíduo não sabe o motivo que o faz estar ansioso), originado uma incapacidade socioprofissional relevante ou um sofrimento individual significativo (ver Ansiedade, perturbações de).

221
Q

Ansiedade, perturbações de

A

Conjunto heterogéneo de patologias que têm em comum o facto de o sintoma predominante e mais intenso ser a ansiedade. Os sintomas nucleares das perturbações de ansiedade podem ser subdivididos em duas dimensões: sintomas psicológicos e sintomas físicos (Stahl, 2013; Harrison et al.,
2018; Oyebode, 2018). Os sintomas psicológicos nucleares incluem medo e preocupações excessivas, muitas vezes acompanhados por sintomas acessórios, tais como: tensão psíquica, irritabilidade e dificuldades de concentração. Por sua vez, os sintomas físicos incluem hiperatividade autonómica, palpitações, hipersu-dorese, desconforto gastrointestinal, diarreia, tensão muscular, hiperventilação, tonturas e perturbações do sono, entre outros.
De acordo com o DSM 5 (APA, 2013), as diferentes perturbações de ansiedade incluem a perturbação de ansiedade generalizada (PAG) (ver Ansiedade generalizada, perturbação de), as fobias específicas (ver Fobia), a agorafobia (ver Agorafobia), a fobia social e a perturbação de pânico (ver Pânico, perturbação de).
A ansiedade pode manifestar-se continuamente com intensidade
Autuante (PAG) ou pode, por outro lado, ser intermitente, surgindo em situações particulares (fobias específicas e agorafobia), indusive sem fror desencadeante aparen te fis cupação de pânico).
A dai requentes na população são as fobias especificas e a fobia sociais m prevalências que podem atingir 11% e 8%, respe-cail, ce (Harison et al., 2018). A sua etiologia envolve uma predisposição genética ea exposição a fatores ambientais que con. direcio alterações a nível neurobiológico, conduzindo aos sinto-masoneares. A este nível verifica-se o envolvimento de circuitos que incluem a amígdala, o córtex cingulado anterior, orbitofrontal e circuitos córtico-estriado-alâmico-corticais (Stahl, 2013). Ae-sar de existirem aspetos particulares na abordagem de entidades especificas, geralmente recomenda-se uma abordagem integrada de intervenção farmacológica (envolvendo antidepressivos com uma intervenção psicoterapêutica cognitivo-comportamental).
Do ponto de vista farmacológico, existem diferentes classes de fármacos com indicação no tratamento das perturbações de ansiedade (Bragança e Marinho, 2018), incluindo os ansiolíticos (ver Ansio-líticos), antidepressivos (ver Antidepressivos) e ainda moduladores dos canais de cálcio ligados à voltagem (pregabalina e gabapen-tina), agonistas 5-HT1A (buspirona) e alguns antipsicóticos (ver
Antipsicóticos) pela sua ação histaminérgica e anticolinérgica.

222
Q

Ansiedade generalizada, perturbação de

A

Perturbação de ansiedade que se caracteriza por ansiedade e preocupação exces-siva, desproporcional e persistente sem foco particular, de intensidade flutuante em que o indivíduo vive permanentemente uma sensação de tensão e impaciência, podendo também existir outros sintomas de hiperatividade autonómica, tensão muscular e dores.
O curso tende a ser crónico com intensidade Autuante ao longo do tempo, pese embora possa também apresentar um curso episódico com períodos de remissão (Bruce et al., 2005). Verifica-se uma elevada comorbilidade com a depressão, condicionando
2004).
nesse caso uma maior incapacidade e pior prognóstico (Tyrer et al.,

223
Q

Antidemenciais

A

Categoria de fármacos utilizados no tratamento de perturbações neurocognitivas major. De acordo com as principais hipóteses neurobiológicas que explicam a etiologia das síndromes demenciais degenerativas (sobretudo a demência de Alzheimer, a mais prevalente), incluem: 1) os inibidores da colinesterase, tais como o donepezilo, a rivastigmina e a galantamina, indicados na demência ligeira a moderada; 2) os moduladores do recetor gluta-matérgico NMDA, que inclui a memantina, indicada na demência moderada a grave (Almeida e Cerejeira, 2018).

224
Q

Antidepressivos:

A

Categoria de fármacos utilizados como primeira linha no tratamento de perturbações depressivas e da maioria das perturbações de ansiedade, podendo ser utilizados ainda noutras patologias (por exemplo, na perturbação obsessivo-compulsiva).
Existem diferentes classes de acordo com o seu perfil de atuação (Bessa Peixoto et al., 2018): a) inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), que incluem a sertralina e o escitalopram;
b) inibidores da recaptação da serotonina e noradrenalina (IRSN), de que são exemplo a venlafaxina, duloxetina e milnacipran; c) inibidores da recaptação da noradrenalina e da dopamina (IRND), que incluem o bupropiom; d) inibidores da recaptação e antagonistas serotoninérgicos (IRAS), que incluem a trazodona; e) antidepressivos noradrenérgicos e serotoninérgicos específicos (ANaSE), que incluem a mirtazapina e a mianserina; f) os antidepressivos com ação antagonista serotoninérgica e agonista melatoninérgica que incluem a agomelatina; os antidepressivos multimodais (ação de inibição da recaptação de serotonina; g) agonismo e agonismo parcial em diferentes recetores serotoninérgicos, representados pela vor-tioxetina; os inibidores da monoamina oxidase (MAO) que podem ser inibidores reversíveis da MAO-A (por exemplo, moclobemide);
h) inibidores irreversíveis da MAO-A e B (por exemplo, fenelzina);
i) os inibidores irreversíveis da MAO-B (por exemplo, selegelina), estes últimos sem ação antidepressiva relevante, sendo utilizados na doença de Parkinson; j) os antidepressivos tricíclicos (ADT), que incluem, por exemplo, a amiriptilina, a domipramina, a nortrip. tilina e a imipramina.

225
Q

Antipsicóticos

A

Caregoria de fármacos utilizados sobretudo no tratamento das perturbações psicóticas, apesar de poderem tet outras indicações possíveis (por exemplo, no tratamento da ansiedade grave). Classicamente os antipsicóticos dividem-se nos de primeira geração (rambém conhecidos por típicos), de que são exemplo o haloperidol, o zudopentixol, o flupentixol, a flufenazina, entre outros e nos de segunda geração (também conhecidos por atípicos), de que são exemplo a clozapina, a risperidona, a olanzapina, a que-tiapina, entre outros. Apesar da sua utilidade, tendo em conta algumas imprecisões desta classificação, será preferível recorrer à mais recente nomenclatura que classifica os fármacos de acordo com o seu perfil de ação ao nível de recetores. Todos os antipsicóticos têm em comum a ação ao nível do recetor dopaminérgico D2 como antagonistas ou agonistas parciais, sendo que o perfil específico a nível de atuação noutros recetores varia (por exemplo, a clozapina é um antagonista dopaminérgico, serotoninérgico e noradrenérgico). O perfil de efeitos adversos é bastante variável (Marques Teixeira, 2018).
Neste caso, os antipsicóticos de primeira geração estão associados sobretudo a efeitos secundários motores, tais como sintomas extra-piramidais (bloqueio dopaminérgico na via nigro-estriada), a hiper-prolactinemia (bloqueio dopaminérgico na via túbero-infundibular) e sintomas negativos secundários (bloqueio dopaminérgico na via meso-cortical. Por sua vez, os antipsicóticos de segunda geração, para além do bloqueio do recetor D2, apresentam ainda um antagonismo dos recetores SHT2-A, o que reduz os efeitos secundários extrapiramidais e a hiperprolactinemia, obtendo-se ainda alguma vantagem na melhoria da sintomatologia negativa da doença, face aos antipsicóticos de primeira geração. Porém, estão associados a efeitos adversos do ponto de vista metabólico (aumento de peso, aumento do risco de diabetes e hipercolesterolemia) (Stahl, 2013).

226
Q

Antissocial, perturbação de personalidade

A

Perturbação de personalidade pertencente ao grupo B, correspondendo às personalidades dramáticas/instáveis (histriónica, narcísica, estado-limite/ borderline e antissocial). As primeiras manifestações surgem habi-rualmente antes dos 15 anos de idade, embora a perturbação apenas possa ser diagnosticada formalmente a partir dos 18 anos de idade.
Verifica-se a existência de um padrão persistente de funcionamento que se caracteriza por desrespeito pelas regras socialmente aceites e pela violação dos direitos de terceiros, sem qualquer arrependi-mento, sendo características centrais a mentira e manipulação (APA,
2013). Uma vez que se começa a manifestar precocemente, os primeiros sinais podem ser ainda na infância com atitudes de violência dirigida a outras crianças ou animais, problemas disciplinares na escola e, mais tarde na idade adulta, problemas judiciais. A sua vida tende a ser pautada por uma atitude de irresponsabilidade, exploração de terceiros, ausência de empatia, egocentrismo, hedonismo, impulsividade tendo como consequências, por exemplo, a incapacidade de manter emprego estável e de estabelecer vínculos afetivos duradouros (Afonso, 2015). A prevalência ao longo da vida oscila entre 2 e 5 %, sendo cerca de três vezes mais prevalente no sexo masculino (Robins, 1987; Grant et al., 2004). Na literatura também surgem referências a esta perturbação de personalidade usando outras designações, incluindo psicopatia, sociopatia e perturbação de personalidade dissocial.

227
Q

Ansiolíticos

A

Categorias de fármacos utilizados no tratamento sintomático das perturbações de ansiedade e de manifestações ansiosas de outras perturbações psiquiátricas. Incluem fármacos com diferentes mecanismos de ação que atuam em diferentes sistemas neurotransmissores envolvidos na resposta de medo e ansiedade ao nível da amígdala e dos circuitos córtico-estriado-talâmico-corticais.
Estes fármacos atuam em vários neurotransmissores (por exemplo
GABA, glutamato, serotonina e noradrenalina), que acabam por ser o alvo direto ou indireto das intervenções psicofarmacológicas na ansiedade (Stahl, 2013; Magalhães & Marinho, 2018). Os ansiolíticos têm como mecanismo de ação principal a modulação alostérica (agonistas) dos recetores GABA-A (benzodiazepinas) que potenciam a ação do principal neurotransmissor inibitório, o GABA.
As benzodiazepinas são frequentemente classificadas consoante a sua semivida plasmática em: benzodiazepinas de ação curta, intermédia (por exemplo, midazolam, alprazolam e oxazepam) e longa ação (por exemplo, diazepam, flurazepam mexazolam e clorodiaze-póxido). As benzodiazepinas distinguem-se, essencialmente, pelas suas propriedades farmacocinéticas. As diferenças na seletividade para diferentes subtipos dos recetores GABA A poderão explicar o efeito mais ansiolítico ou hipnótico de algumas benzodiazepi-nas. Os efeitos adversos das benzodiazepinas são geralmente ligeiros (Afonso, 2018; Magalhães & Marinho, 2018), podendo incluir sonolência, cansaço, cefaleias, aumento do tempo de reação, alterações da concentração, amnésia anterógrada e aumento do risco de quedas. Além disso, existe o risco de dependência com risco de síndrome de abstinência. Existem outras categorias de fármacos com ação seletiva ansiolítica, sedativa e hipnótica (ver Ansiedade, perturbações de e Insónia), incluindo os barbitúricos, fármacos Z, moduladores dos canais de cálcio, alguns anti-histamínicos, antidepressivos e antipsicóticos.

228
Q

Atenção

A

Função mental superior que consiste na capacidade de selecionar, focar, dirigir e manter os processos cognitivos em relação a estímulos externos e internos. Trata-se de uma qualidade que permite hierarquizar os conteúdos acessíveis ao campo da consciência (Pio Abreu, 2015). É um processo cognitivo fundamental que determina a clareza da nossa experiência subjetiva (Jaspers, 1963).
A atenção pode ser ativa, quando o indivíduo foca ativamente a sua atenção em determinado elemento, ou passiva, quando os elementos atraem a atenção do indivíduo sem qualquer esforço consciente da sua parte. A atenção ativa e a atenção passiva estão reciprocamente relacionadas, pois quanto mais o indivíduo foca ativamente a sua atenção, maior terá de ser o estímulo que consiga distraí-lo; ou seja, trazer a atenção passiva à ação. A distratibilidade consiste numa perturbação da atenção ativa em que a atenção do indivíduo é captada facilmente por novos estímulos e a sua fixação é mais difícil do que o normal (Casey & Kelly, 2007). Existem ainda outros aspetos importantes relacionados com a atenção, incluindo: a) atenção seletiva, que se refere à capacidade de focar um ou dois estímulos ou ideias importantes suprimindo a consciência de distrações, constituindo aquilo a que normalmente se designa por concentra-ção; b) atenção mantida ou vigilância, que envolve a capacidade de manter a atenção durante um determinado período de tempo; a atenção dividida envolve a capacidade de responder a mais do que uma tarefa em simultâneo ou a múltiplos elementos numa mesma tarefa mais complexa; c) atenção alternada que permite mudanças no foco da atenção e nas tarefas (Oyebode, 2018). Em indivíduos saudáveis, a atenção pode estar diminuída no sono, estados hipnóti-cos, cansaço e em situações entediantes. Existem alterações da atenção nas perturbações de ansiedade, depressão, perturbação bipolar, esquizofrenia e nas perturbações neuropsiquiátricas (por exemplo, nos estados confusionais agudos e na demência) (Oyebode, 2018).

229
Q

Atetose

A

Perturbação do movimento de origem neurológica que se caracteriza por um fluxo contínuo de movimentos involuntários, lentos, contínuos e contorcidos. Tipicamente envolve as extremidades superiores e tende a afetar sempre os mesmos segmentos corpo-rais, ao contrário dos movimentos coreiformes, que tendem a migrar entre diferentes zonas do corpo.

230
Q

Atitude

A

Descrição da atitude do doente perante o entrevistador no decorrer da entrevista clínica, devendo ser incluída na parte inicial do registo do exame psiquiátrico do estado mental. Os adjetivos que podem ser utilizados para descrever a atitude do doente incluem: calmo, colaborante, atento, interessado, evasivo, hostil, entre muitos outros possíveis.

231
Q

Atmosferas

A

Propriedade estética do encontro clínico correspon-dendo, do ponto de vista fenomenológico, a fenómenos intersubje-tivos vivenciados imediatamente pelos indivíduos envolvidos (neste contexto o entrevistador e o entrevistado), não sendo, no entanto, atribuível a nenhum dos intervenientes. As atmosferas pertencem ao componente pré-reflexivo da experiência, permitindo a perceção de algum tipo de significância que precede quaisquer atribuições cog-nitivas. Implica a receção e apreensão de dados sensoriais, envolvimento e participação na consciência global da situação (Costa et al.,
2018). A importância do estudo das atmosferas em Psicopatologia prende-se com o facto das alterações «atmosféricas» constituírem elementos-chave nas alterações da subjetividade existentes nas perturbações mentais (exemplos incluem a atmosfera delirante ou fenó-menos de desrealização) (ver Atmosfera delirante).

232
Q

Auto-ecolalia: Fenómeno sobreponível a verbigeração (ver
Verbigeração).

A
233
Q

Auto-ecopraxia

A

Estereotipia motora em que o indivíduo repete constantemente determinadas ações ou movimentos que o próprio havia previamente levado a cabo.

234
Q

Autoestima

A

Dimensão, relacionada com o autoconceito (ver
Autoconceito), que corresponde à avaliação que o indivíduo faz de si mesmo enquanto pessoa, do seu desempenho, das suas qualidades e do seu valor pessoal. O indivíduo pode ter baixa autoestima ou elevada autoestima, consoante avalie negativa ou positivamente os aspetos que considera relevantes na sua identidade.

235
Q

Autoimagem

A

Dimensão do Eu/Self, relacionada com o autoconceito (ver Autoconceito), que corresponde ao produto de observações do próprio, tendo-se a si mesmo como objeto, correspondendo ao modo como o indivíduo se vê a si mesmo, o que sabe sobre si próprio, sobre o que sente, como se perceciona na sua integração perante os outros e a sua perspetiva sobre como é visto por terceiros. No mesmo indivíduo coexistem diferentes autoimagens relacionadas com os vários papéis desempenhados pela pessoa (por exemplo, enquanto progenitor, profissional, côn-juge), podendo assumir em diferentes pessoas uma hierarquia distinta (Vaz Serra, 1988).

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Q

Automutilação

A

Lesão autoinfligida sem intenção suicida (por exemplo, cortes e autoagressões recorrendo a outros objetos). E um comportamento que pode ocorrer numa ampla gama de circunstâncias e patologias psiquiátricas, nomeadamente em perturbações de personalidade, depressão, perturbações de ansiedade e em estados dissociativos, nos quais o indivíduo pode inclusive não sentir dor ou ter uma diminuição da perceção da dor.