Psicopatologia Flashcards
1º ano
Definição de delírio (= Ideia delirante)
- Perturbação do conteúdo do pensamento
- Segundo Jaspers (1963), se caracteriza por ser uma
- ideia falsa de
- conteúdo implausível,
- mantido com irrebatível convicção,
- resistindo a qualquer contra-argumentação ou ao confronto com evidência em contrário,
- não sendo congruente com o contexto social, cultural ou religioso do doente.
Os delírios podem ser…
- primários - quando são irredutíveis do ponto de vista psicológico,
- secundários - quando surgem secundariamente como elaborações delirantes a partir de outro fenómeno psicopatológico.
Classicamente os delírios são também subdivididos de acordo com a temática central dos mesmos, estando, entre os mais frequentes, os delírios persecutórios e de referência, delírio de grandeza, delírio místico, entre outros.
A caracterização de uma ideia delirante deve incluir diferentes elementos como …
- grau de convicção - intensidade com que o doente mantém a sua crença (pode variar no curso da doença e do tratamento)
- grau de sistematização das ideias delirantes - a organização, coerência e consistência interna do sistema delirante, o modo como se desenvolve, podendo ser progressivamente em setor/ cunha, integrando diferentes interpretações delirantes com o passar do tempo (característico das perturbações delirantes) ou de modo interpretativo, em rede, procurando integrar desde o início diferentes ideias delirantes (típico da esquizofrenia);
- complexidade da temática delirante - distinção entre delírios elementares/ monotemáticos (existe um tema central que se mantém estável) ou delírios complexos/ politemáticos (existem ramificações delirantes com múltiplas interligações entre si);
- grau de bizarria da temática delirante;
- dinamismo;
- impacto que os delírios têm a nível afectivo e as alterações comportamentais que advêm como consequência das crenças delirantes
Definição delírio primário
- Surge sem ter origem num outro fenómeno psicopatológico, surgindo à consciência do indivíduo de um modo automático e espontâneo, sendo, por conseguinte, incompreensível do ponto de vista psicológico.
- Conceito criado por Karl Jaspers (1963)
- Identificar os delírios intrínsecos característicos da esquizofrenia.
- Incluem:
- Intuição ou ocorrência delirante,
- a perceção delirante,
- humor ou atmosfera delirante
- as memórias ou recordações delirantes.
Definição delírio secundário
- Delírio
- Surge de modo compreensível
Definição ideias deliroides
- Ideias de carácter delirante
- Surgem de forma compreensível como os delírios secundários, mas são menos irredutíveis.
Definição ideia sobrevalorizada
- Crenças erróneas
- Compreensíveis - podem ser entendidas de acordo com a história pessoal do indivíduo e da sua personalidade (mts vezes disfuncional)
- Aceitáveis
- Elevada carga afetiva
- Não surgem a partir de outro fenómeno ou estado psicopatológico.
Diferença entre ideia sobrevalorizada e delírio
As ideias sobrevalorizadas:
- não surgem a partir de outro fenómeno ou estado psicopatológico ao contrário das ideias delirantes secundárias/ deliroides
- Apresentam um menor grau de convicção relativamente às ideias delirantes.
- Dão para entender parcialmente de onde vem tendo em conta o contexto do individuo
As ideias deliroides estão para ideias delirantes secundárias como a ideia sobrevalorizada está para delirios primários.
Dinamismo de um delírio
- modo como as ideias delirantes se mantém ativas e se vão desenvolvendo na mente do doente, condicionando um determinado grau de envolvimento do mesmo com a atividade delirante.
- está relacionada com o impacto afetivo e comportamental do delírio
Intuição delirante/ delírio autóctone
Delírio que surge de forma súbita, como uma revelação imediata, sem que surja a partir de um suporte percetivo.
Perceção delirante
- Delírio primário
- Um sintoma de primeira ordem de Schneider
- Típico da esquizofrenia.
- A uma perceção normal é, de modo incompreensível do ponto de vista emocional e irracionalmente, atribuído um significado anormal de conteúdo autorreferente.
- Estrutura bimembre com a captação de um objeto (perceção normal) e, posteriormente, a atribuição de um novo significado ao objeto percecionado (significado delirante).
Humor delirante
- Delírio primário
- Estado pré-delírio (Trema de Conrad)
- O indivíduo vivencia o seu mundo como peculiar.
- Sensação de estranheza e antecipação, com significados escondidos e que geram uma tensão e desconforto que se libertam quando finalmente eclode o delírio na totalidade (Apofania de Conrad).
OUTRO
É um conceito equivalente ao de atmosfera delirante, embora a designação utilizada tenha implicações quanto à posição perante este fenómeno:
- a visão cognitiva, em que se considera existir uma alteração percetiva em relação ao mundo que desencadeia uma resposta emocional secundária (atmosfera delirante);
- a visão dinâmica, em que se considera que existe uma alteração do humor que potencia uma perceção alterada do mundo (humor delirante).
Memória delirante (= Recordação delirante)
- Reconstrução delirante de uma memória real.
- 1 dos 4 tipos de delírios primários definidos por Jaspers
Fenomenologia
- Tem por base a corrente e o método filosófico introduzidos por Edmund Husserl
- Exploração de como a realidade objetiva é vivida através da experiência subjetiva individual.
- Contexto clínico contemporâneo, refere-se ao método de Psicopatologia descritiva de Karl Jaspers (1963),
- Baseado no registo e descrição detalhada e não interpretativa de fenómenos psicopatológicos,
- Estudo das experiências e vivências conscientes individuais, tal como relatadas pelo indivíduo e observadas a partir do seu comportamento.
Atmosfera delirante
- Delírio primário
- Globalmente sobreponível ao de humor delirante.
Sintomas de primeira ordem de Schneider
- perceção delirante,
- alucinações auditivo-verbais na terceira pessoa na forma de comentários ou vozes que dialogam entre si,
- eco do pensamento,
- fenómenos de difusão, inserção e roubo do pensamento e
- fenómenos de passividade.
- Sintomas psicóticos descritos por Kurt Schneider (1939), considerados sugestivos do diagnóstico de esquizofrenia.
Sintomas de 2a ordem de Schneider
- intuição delirante,
- alucinações auditivas na segunda pessoa e
- perplexidade, entre
outros. - sintomas descritos por Kurt Schneider (1939) como acessórios na esquizofrenia
Trema
- Primeira das fases do desenvolvimento de uma psicose segundo o modelo de Klaus Conrad (1958).
- A palavra deriva do latim «tremere - estremecer, abalar»,
- Corresponde a um humor ou atmosfera delirante.
- Mudança na perceção do mundo, com tensão geral, clima ameaçador mal definido, ainda sem significado
- Estreitamento do campo vivencial.
Apofania
- Fase a seguir ao Trema do desenvolvimento de uma psicose segundo Conrad
- deriva do grego «apóphansis - declaração, afirmação, revelação; parte da lógica que trata o juízo»,
- corresponde à procura e revelação de significados previamente escondidos com alteração do mundo e os seus objetos na sua relação com o indivíduo.
Anástrofe
- Fase a seguir à apofania do desenvolvimento de uma psicose segundo Conrad
- deriva do grego «anastrophè - inversão»,
- vivências experienciadas na apofania com a fixação do indivíduo enquanto centro do mundo.
4 tipos de delírios primários definidos por Jaspers (1963)
- Memória delirante
- Intuição delirante
- Atmosfera delirante
- Perceção delirante
Psicopatologia
Ciência que se dedica ao estudo sistemático das experiências anormais e do comportamento anómalo no ser humano.
Psicopatologia descritiva
- Descrição e categorização das experiências anormais subjetivas e observação do comportamento.
- É obtida através do método empático utilizado na entrevista clínica.
Psicopatologia explicativa
Explicações sobre o comportamento, cognição e experiências anormais baseadas em conceitos teóricos, tais como a teoria psicanalítica ou comportamental.
Sintomas fundamentais de Bleuler (4As)
- perturbação da associação de ideias,
- perturbação dos afetos,
- ambivalência e
- autismo.
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* sintomas que o psiquiatra suíço Eugen Bleuler (1908) considerava como fundamentais na esquizofrenia.
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Afrouxamento associativo
- Alteração da forma do pensamento
- existe uma perda da normal associação entre as ideias.
- ocorre uma perda da tendência determinante do pensamento.
- É uma alteração típica da esquizofrenia, constituindo um dos sintomas fundamentais de Bleuler.
Confusão
- Perturbação do estado de consciência
- diminuição do nível de alerta + alteração da capacidade de pensar de forma clara,
- geralmente acompanhada de desorientação
- No seu estado extremo é definida como delirium.
Consciência
- estado contínuo de estar ciente de si próprio e alerta para o meio envolvente, bem como a resposta aos estímulos externos e as necessidades do próprio.
- O conhecimento do self inclui todos os sentimentos, atitudes, emoções e impulsos.
- nenhuma área cerebral isolada parecer ser responsável pela consciência, contudo, parece haver um papel relevante das conexões neuronais entre o córtex temporo-occipital, tálamo e núcleos da formação reticular do tronco encefálico.
Outro - Apesar de alguma sobreposição, existe uma distinção entre o nível de consciência (variabilidade do estado de alerta que varia entre vigília, obnubilação, sonolência, estupor e coma) e o conteúdo da consciência - qualidade e coerência dos pensamentos e comportamentos. A consciência humana relaciona-se ainda com a capacidade de «estar consciente da sua própria consciência», isto é, o pensar sobre estar a pensar, o que pode ser definido como meta-representação - capacidade de representar o seu próprio estado mental e também o dos outros, facilitando e modelando as interações sociais complexas. Do ponto de vista neurobiológico,
Definição de estado oniroide
- Alteração qualitativa do estado de consciência
- caracterizada por desorientação e confusão mental, alterações da perceção, principalmente alucinações visuais, com elevado envolvimento afetivo.
- qualidade dramática e fantástica como se se tratasse de um sonho.
- Após o regresso a uma qualidade de consciência normal, não existe amnésia para o episódio.
- Associa-se a doenças neurológicas (por exemplo, epilepsia), intoxicação aguda com substâncias psicoativas ou ainda a estados dissociativos.
Paramnésia
- Perturbação da memória na evocação ou reconhecimento
- Incapacidade de recuperar adequadamente a informação correta, levando a que tenha falsas recordações (que acredita serem verdadeiras) e que substituem as recordações corretas que não consegue recordar.
- Ocorre no alcoolismo, na esquizofrenia e em síndromes cerebrais orgânicas.
Paramnésia reduplicativa
- Subtipo de síndrome de falsa identificação delirante
- o indivíduo acredita que um determinado espaço foi duplicado e existe simultaneamente em duas localizações geográficas distintas, ou seja:
- crença em dois lugares idênticos que existem simultaneamente;
- dois lugares aparecem combinados num só;
- a crença de que a localização atual, geralmente um local familiar, é, na verdade, outro local.
Fenómeno de reduplicação
- Associado a doenças neurológicas e psiquiátricas.
- Síndromes de falsa identificação delirante
- O indivíduo pode acreditar que pessoas (delírio de Fregoli, Capgras e do duplo subjetivo), espaços (paramnésia reduplicativa) ou o próprio tempo (fenómenos de déjà vu) foram duplicados.
Regressão
Mecanismo de defesa
Leva à reversão do ego para uma fase anterior do desenvolvimento.
Representação delirante
Conceito introduzido por Karl Jaspers
(1963)
Sinónimo de memória delirante, um tipo de delírio primário.
Falsa memória
Recordação distorcida de um evento factual ou evocação de um evento que nunca aconteceu, mas que a pessoa tem a convicção de ter acontecido.
Compulsões
- Comportamentos ou atos mentais
- Repetitivos
- Indesejados
- Incontroláveis
- Surgem geralmente em resposta a um pensamento obsessivo,
- Forma de reduzir a ansiedade causada pelos pensamentos obsessivos.
- Compulsões mais frequentes: os rituais de contagem, de verificação e de limpeza.
Concentração
- Função mental superior
- Capacidade de focar e suster a atenção durante um determinado período.
Confabulação
- Perturbação da memória
- Resposta inventada ou discurso com conteúdo errado, embora com nexo, de forma a preencher lacunas, na impossibilidade de evocar corretamente memórias para responder a uma questão ou produzir discurso.
Mioclonia
- Movimento involuntário
- Contração abrupta, não rítmica e irregular de um músculo ou grupos musculares.
- Pode ocorrer em indivíduos saudáveis, sobretudo formas simples, por exemplo, os soluços ou o espasmo súbito de um membro ao adormecer (mioclonia hipnagógica).
- As formas mais generalizadas podem ocorrer na epilepsia, esclerose múltipla, doença de Parkinson, doença de Alzheimer ou doença de Creutzfeld-Jakob.
- Podem ser desencadeadas por lesões estruturais, vasculares, infeciosas, tóxicas ou metabólicas.
Misoplegia
NEURO
- Perturbação da consciência do corpo
- Ódio do indivíduo dirigido a um dos seus membros que se encontra parético
- Associado a lesões parietais do lado direito e a anosognosia.
- Também pode ser utilizado em situações não associadas a qualquer défice neurológico.
Mitomania
- Frequente compulsão para mentir
- Por vezes envolvendo a autodeceção.
- Um dos sinais típicos da perturbação de personalidade antissocial
Pseudobloqueio do pensamento
- Perturbação do curso do pensamento
- Semelhanças ao bloqueio do pensamento, mas em que existem fatores emocionais ou situacionais a contribuir para o fenómeno.
- O indivíduo posteriormente volta ao pensamento perdido.
Pseudocompulsões
- Atos motores ou mentais tipo compulsões mas
- São egosintónicos
- O indivíduo não lhes oferece qualquer resistência
Pseudologia fantástica
= Mentira patológica
- Falsos relatos, por vezes de temática grandiosa
Pseudoparkinsonismo
Perturbação do movimento secundária ao uso de antipsicóticos caracterizada pela presença de tremor, rigidez, bradicinesia e acinesia.
Criptamnésia
Perturbação da memória em que o indivíduo não se recorda de que a informação que lhe surge como algo de novo é na verdade uma memória.
Criptografia
Desenvolvimento de linguagem privada sob a forma escrita. Pode surgir na esquizofrenia
Criptolalia
Desenvolvimento de linguagem privada sob a forma falada. Pode surgir na esquizofrenia
Cortical
Relativo ao córtex cerebral, a camada mais externa do cérebro.
Raciocinio dedutivo
Argumento no qual se as premissas são verdadeiras, a conclusão não pode ser falsa. Por exemplo, «todos os marcianos são verdes, o meu pai é um marciano logo, o meu pai é verde».
Raciocínio emocional
Pensar que um determinado argumento é verdadeiro porque se «sente» enquanto se ignoram provas do contrário. Por exemplo, «faço muitas coisas bem no trabalho, mas continuo a pensar que sou um fracasso».
Raciocínio indutivo
Uso de casos particulares para tirar inferências sobre casos desconhecidos, generalização de uma característica de alguns membros de uma categoria para todos os membros dessa categoria. Por exemplo, «o meu gato tem quatro patas, logo todos os gatos têm quatro patas».
Racionalização
Mecanismo de defesa inconsciente pelo qual o indivíduo procura apresentar uma justificação coerente do ponto de vista lógico ou aceitável do ponto de vista moral, para um afecto, ideia, atitude ou comportamento de cujos motivos verdadeiros não se apercebe e cuja admissão seria determinante de conflito e ansiedade.
Rapport
Ligação que o doente estabelece com o médico durante o processo terapêutico.
Reatividade afetiva
Capacidade de reatividade ou modulação dos afetos em resposta direta a estímulos ambientais externos.
Conceito que se encontra incluído na capacidade de mobilização dos afetos.
Perturbações do reconhecimento
Perturbações de falsa identificação delirante que incluem o déjà vu, déjà entendu, déjà pensé, jamais vu, que podem estar presentes em indivíduos sem patologia ou na epilepsia do lobo temporal. Estão também incluídas nas perturbações do reconhecimento as síndromes de falso reconhecimento, como a síndrome de Capgras.
Jamais vu
Sensação subjectiva de que as circunstâncias percecionadas no momento não são familiares, apesar de se ter conhecimento objetivo de terem sido experienciadas no passado. Pode ocorrer espontaneamente em indivíduos saudáveis ou como manifestação de epilepsia do lobo temporal.
Déjà entendu
Perturbação do reconhecimento que consiste na sensação de que algo que é ouvido no momento já ter sido ouvido no passado.
Déjà pensé
Perturbação do reconhecimento que consiste na sensação de que um pensamento presente já ocorreu no passado.
Déjà vu
Perturbação do reconhecimento que consiste na sensação de que um acontecimento presente já ocorreu no passado.
Perturbação da forma do pensamento
Nas perturbações da forma do pensamento (PFP) a organização e os processos associativos do pensamento conceptual e abstrato estão comprometidos.
Ao longo da história da Psicopatologia, diferentes sistemas de classificação foram propostos para estudar as PFP, alguns dos quais se sobrepõem conceptualmente. Por exemplo, Kraepelin (1919) descreveu a acatafasia como uma dificuldade em expressar o pensamento através do discurso em doentes com dementia praecox (termo que veio a ser substituído por esquizofrenia). Bleuler (1911) utilizou o termo afrouxamento associativo, ainda hoje utilizado, para descrever a perda da conexão lógica entre as ideias. Mais tarde, Schneider (1930) descreveu cinco características que poderiam ser identificadas nas PFP: descarrilamento, substituição, omissão, fusão e desagregação.
Formicação
Subtipo de experiência alucinatória de sensações corporais (alucinação tátil ou háptica) caracterizada pela sensação de pequenos organismos a mover-se sob a pele do indivíduo. Esta experiência alucinatória está associada à intoxicação por substâncias psicoativas (psicoestimulantes) ou a síndromes de abstinência de substâncias (opioides, álcool, metanfetaminas).
Frangofilia
Impulso patológico para destruir objetos. Está associado a perturbações do controlo do impulso, episódios maníacos da perturbação bipolar, perturbações psicóticas ou perturbações de personalidade (borderline e antissocial).
Fuga de ideias
Perturbação do curso do pensamento em que se verifica uma aceleração do fluxo, com discurso acelerado e transições abruptas de uma ideia para outra, sem prejuízo significativo na sequência lógica. Mantêm-se as associações entre ideias, apesar de se verificar um enfraquecimento da tendência determinante. Ocorre tipicamente na mania da perturbação bipolar, mas também pode ocorrer na esquizofrenia e na depressão com características mistas.
Descarrilamento do pensamento
Perturbação formal do pensamento em que os diferentes pensamentos não estão encadeados de modo lógico ou não existe de todo qualquer conexão entre si, implicando a existência de um grave afrouxamento da associação de ideias.a
Desorientação
Perturbação da orientação que se caracteriza pela dificuldade do indivíduo em se situar a si mesmo no tempo e no espaço. Geralmente a primeira dimensão a ser afectada é a orientação temporal. A orientação geralmente está intacta nas perturbações psiquiátricas primárias pelo que alterações acentuadas devem remeter para uma extensa avaliação clínica e laboratorial no sentido de determinar eventual etiologia secundária para o quadro psicopatológico apresentado.
Despersonalização
Perturbação da vivência do Eu que consiste numa sensação de desconhecimento/não reconhecimento de si próprio (identidade). Sentimento de estranheza e de irrealidade relativamente a sentir-se «uno» (unidade), incluindo a sensação de estar fora do próprio corpo e de que os objetivos e os propósitos pessoais não têm qualquer significado, com crítica mantida para o carácter dos fenómenos, sem qualquer elaboração delirante. E uma alteração que pode surgir associada a perturbações psiquiátricas (por exemplo, ataque de pânico, episódio psicótico, etc.), a doença neurológica (por exemplo, epilepsia) ou ao uso de substâncias psicoativas (por exemplo, canabinoi-des e álcool).
Desrealização
Perturbação da vivência do Eu, com características semelhantes à despersonalização, que consiste na vivência de uma sensação de estranheza, em que o mundo externo assume um carácter ireal, semelhante a um sonho.
Frequentemente ocorre associado à despersonalização.
Dessomatização
Perturbação da vivência do Eu, semelhante à despersonalização, mas localizada num membro ou órgão.
Diaforese
Produção excessiva de suor. É um sintoma inespecifico que pode surgir em contexto de múltiplas patologias (doenças infecciosas, doenças hematológicas, ansiedade, etc.) e como efeito adverso de fármacos, incluindo antidepressivos (ISRS, ISRSN, bupropion, antidepressivos tricíclicos) e alguns antipsicóticos (clozapina).
Difusão do pensamento
Perturbação da posse do pensamento, mais especificamente de alienação do pensamento, em que o doente acredita que os seus pensamentos não se encontram circunscritos a si mesmo, difundindo-se e podendo ser captados por outras pessoas ou entidades. Distingue-se da leitura do pensamento por esta pressupor que há um acesso ativo ao conteúdo da mente por agentes externos. Ocorre na esquizofrenia.
Mecanismos de defesa
Conceito de origem psicodinâmica, delineado inicialmente por Sigmund Freud, que se refere a mecanismos inconscientes que são usados involuntariamente pelos indivíduos em resposta a stressores externos ou em resultado de conflitos internos.
Os mecanismos de defesa podem classificar-
-se de acordo com o grau de maturidade dos mesmos. O psiquiatra George Vaillant (1977) propôs um sistema de classificação que divide os mecanismos de defesa em quatro níveis:
1) patológicos ou narcísico-psicóticos que podem surgir como parte de perturbações psicóticas, mas também em crianças ou nas fantasias de indivíduos adultos, tendo em comum o evitamento, negação e distorção da realidade (por exemplo, projeção delirante, negação, distorção, etc.);
2) imaturos que surgem em crianças pré-adolescentes e em certas perturbações de personalidade em adultos, sendo mecanismos que tendem a atenuar-se com a maturação pessoal (por exemplo, projeção, comportamento passivo-agressivo, passagem ao ato, regressão, somatização, introjeção, etc.);
3) neuróticos, comuns em indivíduos saudáveis e em perturbações neuróticas (por exemplo, deslocamento, racionalização, externalização, repressão, dissociação, etc.);
4) maturos, que são mecanismos saudáveis, adaptativos e úteis na integração das necessidades pessoais, sociais e relações interpessoais (por exemplo, altruísmo, humor, sublimação, antecipação, etc.).
Perplexidade
Estado de hesitação, atordoamento ou confusão, que pode ocorrer nas perturbações psicóticas, nomeadamente na fase prodrómica da esquizofrenia à medida que vão surgindo novas vivências psicóticas. Surge ainda em estados de ansiedade e em situações com diminuição ligeira do nível de consciência.
Perseveração motora
Consiste numa alteração do movimento ou ação, caracterizada pela repetição injustificada ou pela permanência de uma posição, persiste para lá do ponto em que é relevante.
Por exemplo, pede-se ao doente para fechar e abrir os olhos e este repete continuadamente esta ação.
Perseveração verbal
Repetição ilógica de uma ideia ou frase, geralmente de uma forma incontrolável, fora do contexto e de uma forma mecanizada o que impede a progressão do pensamento.
Bloqueio do pensamento
Perturbação do curso do pensamento que se caracteriza por uma interrupção total e abrupta do fluxo e continuidade do mesmo. Manifesta-se clinicamente como uma súbita interrupção do discurso do doente, sem que este seja capaz de retomar o pensamento anterior. O indivíduo pode vivenciar subjetivamente este fenómeno como alienação do pensamento. Ocorre tipicamente na esquizofrenia.
Pelopsia
Distorção da perceção espacial dos objetos em que eles parecem estar mais próximos do que na realidade estão.
P de próximos
Pensamento
Forma de processo mental, aquilo que é trazido à existência através da actividade intelectual, do latim «pensare» que significa avaliar o peso de algo.
Pensamento audível
Alucinação auditivo-verbal em que o doente ouve o seu próprio pensamento sob a forma de vozes. Esta alteração da perceção pode ocorrer em simultâneo com o desenrolar do pensamento (gedankenlautwerden - sonorização do pensamento) ou após o mesmo (eco do pensamento).
Pensamento autista/ fantasioso não dirigido/ dereístico
Criação de imagem ou ideias sem realidade externa. Para Bleuler, o pensamento autista da esquizofrenia era resultado da perturbação formal do pensamento. Também pode estar presente nas perturbações dissociativas.
Pensamento concreto
Literalidade na expressão e no entendimento, incapacidade para interpretar abstrações e símbolos. Pode ser avaliado clinicamente com a interpretação de provérbios. Ocorre na esquizofrenia, perturbação do desenvolvimento intelectual ou perturbações mentais orgânicas.
Pensamento desagregado
Designação equivalente a pensamento desorganizado. Porém, existem alguns autores que estabelecem a distinção entre estes conceitos, consoante o grau de desorganização conceptual do mesmo, considerando que, no pensamento desagregado, há uma desintegração da estrutura sintática e semântica das frases, podendo resultar em salada de palavras.
Pensamento desorganizado
Pensamento caracterizado por uma marcada desorganização do ponto de vista formal que impossibilita a transmissão adequada da ideia pretendida. Designação equivalente a pensamento desagregado, embora, segundo alguns autores, seja feita uma distinção com base na manutenção da integridade da estrutura semântica das frases, que estaria preservada no pensamento desorganizado.
Pensamento imaginativo
Modo de pensar que inclui o pensamento fantasioso e a geração de novas ideias com resultados criativos como na arte ou nas descobertas científicas. E constituído por três componentes:
- imagens mentais,
- pensamento contrafactual e
- representação simbólica.
Pensamento inibido
Experiência subjetiva da lentificação do fluxo do pensamento em que o indivíduo sente dificuldade no raciocínio, sendo necessário um esforço para a progressão do pensamento, a tomada de decisões e para a elaboração de ideias. Corresponde ao fenómeno objetivo de bradipsiquismo.
Tangencialidade
Perturbação formal do discurso e do pensamento em que as respostas às questões colocadas são dadas de forma oblíqua ou supérflua, desviando-se do assunto central.
Taquifemia
Perturbação do ritmo do discurso em que se verifica um aumento da velocidade do mesmo.
Taquipsiquismo
Perturbação do curso do pensamento em que há aumento da velocidade do fluxo do pensamento. A fuga de ideias na mania e o surto psicótico agudo na esquizofrenia são exemplos de perturbações psiquiátricas em que se pode observar esta alteração do pensamento.
Tartamudear
Perturbação do discurso em que há interrupções, pausas ou repetição de fragmentos de uma palavra.
Teleopsia
Distorção da perceção espacial dos objetos em que estes parecem estar mais distantes do que na realidade estão.
Temperamento
Corresponde a um conjunto de traços psicológicos profundamente enraizados, que são na sua maior parte inconscientes, muito difíceis de mudar e expressos automaticamente e que influenciam o comportamento do indivíduo. Esses traços psicológicos são inatos e determinados por fatores genéticos e neurobiológicos. Por conseguinte, o temperamento está associado a um certo determinismo biológico, expressando uma forte componente hereditária.
Fusão do pensamento
Perturbação da forma do pensamento descrita por Carl Schneider (1930), na qual há uma combinação de elementos heterogéneos no discurso, mantendo-se o encadeamento lógico das ideias.
Galactorreia
Secreção excessiva de leite pela glândula mamária não relacionada com a amamentação. Pode ser um efeito adverso de antipsicóticos que provocam hiperprolactinemia, através do bloqueio dos recetores dopaminérgicos da via tuberoinfundibular, ou uma disfunção endócrina primária.
Ritual compulsivo
Ações motoras ou mentais repetitivas, semi-automatizadas e compulsivas, que surgem por necessidade irresistível e irracional de as levar a cabo, habitualmente em reposta a uma obsessão. O ritual compulsivo (por exemplo, lavar repetidamente as mãos) produz um alívio transitório da ansiedade provocada pela ideia obsessiva (por exemplo, ideia de contaminação).
Roubo do pensamento
Perturbação da posse do pensamento em que o doente descreve a sensação de que os seus pensamentos lhe estão a ser roubados por uma influência externa. Este fenómeno muitas vezes é a interpretação subjetiva do bloqueio de pensamento.
Ruminação
Pensamentos de carácter obsessivo caracterizados por pensamentos persistentes e repetitivos que são experienciados com sofrimento.
Obediência automática
Estado em que um indivíduo obedece às ordens ou instruções dadas de forma automática e involuntária.
Pode ser um sintoma de catatonia, podendo surgir em estados de maior sugestionabilidade, tais como na hipnose ou na privação sensorial.
Obnubilação
Alteração quantitativa do estado de consciência em que há uma alteração do pensamento, atenção, perceção e memória. Pode ocorrer associada a agitação psicomotora.
Obsessão
Ideia, pensamento, imagem ou impulso com características intrusivas, involuntárias e recorrentes, que não consegue ser eliminado da consciência (parasitismo mental), apesar de ser absurdo e causador de ansiedade e sofrimento para o indivíduo (egodistónico).
Difere do delírio e dos fenómenos de alienação do pensamento na medida em que o indivíduo reconhece as ideias como tendo origem em si mesmo, apesar de reconhecer que são exageradas e desproporcionadas. Em situações crónicas e graves, o grau de insight em relação à obsessão pode diminuir e dificultar a sua distinção de outros fenómenos psicopatológicos.
As obsessões podem ser acompanhadas de compulsões.
Ideação suicida
Pensamentos acerca do ato deliberado de pôr fim à vida (morte autoinfligida).
Identificação errónea negativa
Categoria de síndromes de falsa identificação delirante ou de hipofamiliardade em que o indivíduo acredita que pessoas conhecidas são estranhas. Inclui a síndrome de Capgras e a síndrome de intermetamorfose.
Identificação errónea positiva
Categoria de síndromes de falsa identificação delirante ou de hiperfamiliaridade em que o indivíduo acredita que pessoas que não conhece são pessoas próximas ou conhecidas. Inclui a síndrome de Fregoli e a síndrome do duplo subjetivo.
Perturbações da fluência do discurso
Grupo de perturbaçoes canterizadas pela interupção das atai normal do discurso, que incluem a tartamudez, a gaguez e as afasias.
Perturbações do fluxo do pensamento
Tipo de alterações formais do pensamento.
Fobia
Perturbação de ansiedade em que há um medo irracional e uma preocupação persistente e desproporcional face a uma situação, objeto ou atividade específica. O indivíduo experiencia sofrimento intenso, medo e ansiedade antecipatória, relativamente a situações em que há risco de exposição ao estímulo fóbico, motivando ativamente o seu evitamento. Este evitamento pode condicionar a perda de oportunidades sociais ou de responsabilidades profissionais, sempre que estas impliquem a exposição ao estímulo fóbico. Inclui a agorafobia; a fobia social (atualmente reconhecida como perturbação de ansiedade social) em que a situação temida é a exposição perante terceiros e a interação com outros indivíduos por receio de rejeição ou de uma avaliação negativa; outras fobias específicas (por exemplo de animais, ambientes, situações).
Hiper-realização
Estado de aumento da intensidade da experiência subjetiva do mundo externo, que não é específico de uma modalidade sensorial.
Hipersexualidade
Padrão de comportamento caracterizado por uma frequência elevada de atividade sexual. Nas mulheres, a procura excessiva ou descontrolada de estimulação sexual designa-se por ninfomania, enquanto que nos homens se designa por satiríase.
Hipersónia
Termo utilizado para descrever duas condições dis-tintas: sonolência excessiva durante o período diurno ou episódios anormalmente prolongados de sono durante o período noturno.
Pode ser primária ou secundária a uma perturbação do sono, como a narcolepsia, a perturbação do ritmo circadiano e a síndrome da apneia obstrutiva do sono. Apesar de ser pouco frequente (é mais frequente a insónia), a hipersónia também pode ocorrer na depressão.
Hipoacusia
Diminuição da sensibilidade aos sons com declínio da acuidade auditiva.
Hipobulia
Estado de diminuição da energia volitiva, motivação para a ação, espontaneidade, em grau mais ligeiro que a abulia. Pode ocorrer na perturbação depressiva.
Hipocondria
Perturbação psiquiátrica caracterizada pela preocupação excessiva ou crença infundada de ter uma doença física, que motiva a procura recorrente de cuidados de saúde apesar de repetidas investigações médicas negativas. A palavra hipocondria deriva
do grego «hypo- por baixo» e «chondros - cartilagem» e remonta ao período histórico da teoria dos humores, segundo a qual a produção excessiva de bílis negra seria responsável pela tendência para preocupações e sentimentos negativos em relação à saúde («melancolia mórbida»). Pode estar associada à perturbação obsessivo-compulsiva, podendo constituir uma temática dos pensamentos obsessivos nesta doença psiquiátrica.
Hipoesquemazia (= microssomatognosia)
Distorção da imagem corporal em que partes do corpo são percecionadas com dimensões ou peso reduzidos.
Pode ocorrer secundariamente a lesões do lobo parietal, síndromes vertiginosas (sensação de corpo leve) ou durante a aura da enxaqueca.
Hipofonia (= Microfonia)
Diminuição do volume da voz, observado em situações normais, como parte da expressão de alguns estados emocionais (tristeza, vergonha, medo) ou de traços de personalidade (introversão), ou em condições patológicas, como na depressão, nas perturbações do espectro psicótico com delírios persecutórios, na perturbação de ansiedade social ou em síndromes neurológicas, como o parkinsonismo (iatrogénico ou idiopático).
Hipomania
Estado de humor elevado, ligeiro a moderado, expansivo ou irritável, acompanhado por aumento da energia ou da atividade dirigida, de curta duração, que não é suficientemente severo para interferir no funcionamento socio-ocupacional ou para exigir hospitalização. Por definição, distingue-se do episódio maníaco pela sua menor intensidade, gravidade e pela ausência de sintomas psicóticos.
Hipomnésias
Estados em que há uma hipofunção da memória.
Alucinações complexas
Classificação de acordo com complexidade da experiência alucinatória, referindo-se a alucinações, geralmente na modalidade auditiva ou visual, em que os diferentes elementos que as constituem são elaborados e estruturados (por exemplo, com a audição de vozes, música ou com a visão de pes-soas, animais ou objetos). Esta designação pode ainda ser utilizada para descrever vivências alucinatórias cénicas em que se verificam em simultâneo alucinações em diferentes modalidades sensoriais (visuais, auditivas, e até olfativas), constituindo cenas complexas que ocupam todo o ambiente externo integrando os objetos reais que ocupam esse espaço (Pio Abreu, 2015).
Alucinações elementares
Classificação de acordo com a complexidade da experiência alucinatória, referindo-se a alucinações, geralmente na modalidade auditiva ou visual, em que os diferentes elementos que as constituem são simples e elementares, com pouca estruturação (por exemplo, audição de sons simples, ruídos, apitos ou com a visão de formas geométricas básicas, luzes, cores).
Alucinações extracampinas
Alucinações em que o fenómeno ocorre fora do limite do campo sensorial do indivíduo. No caso das alucinações visuais, estas ocorrem fora do seu campo de visão (por exemplo, ver alguém que se encontra atrás de si). Por sua vez, no caso das alucinações auditivas, estas ocorrem longe do que seria plausível ser audível (por exemplo, estar em Lisboa e ouvir vozes a falar sobre si no Porto). Podem surgir em doenças neurológicas (por exemplo, na epilepsia), em perturbações psiquiátricas (por exemplo, na esquizofrenia) ou em perturbações mentais secundárias a outra condição médica.
Alucinações funcionais
Fenómeno alucinatório em que a alucinação só ocorre em simultâneo com uma perceção verdadeira na mesma modalidade sensorial. Um exemplo classicamente citado é o de um doente que apenas apresentava atividade alucinatória auditiva quando ouvia água a correr na torneira. À semelhança das alucinações reflexas, apesar de poderem ocorrer em doentes com perturbações psiquiátricas (por exemplo, na esquizofrenia) e, portanto, terem significado patológico, não têm implicações diagnósticas específicas.
Alucinações gustativas
Alucinação em que se verifica uma sensação gustativa, sem estímulo, geralmente desagradável. Ocorre geralmente associada a alucinações olfativas. Podem ser difíceis de distinguir de alterações do paladar iatrogénicas.
Alucinações hápticas
Alucinações táteis
Alucinações hipnagógicas
Experiências alucinatórias que ocorrem ao adormecer, podendo ser na modalidade visual, somatossen-sorial (sensação de estar «fora do corpo») ou auditiva. São mais frequentes que as alucinações hipnopômpicas. Estão associadas à narcolepsia (situação em que também podem ocorrer alucinações hipnopômpicas), à cataplexia e à paralisia do sono. Apesar de serem verdadeiros fenómenos alucinatórios, não apresentam necessariamente significado patológico, podendo ocorrer em indivíduos sem qualquer patologia.
Alucinações hipnopômpicas
Experiências alucinatórias que ocorrem associadas ao acordar (transição sono-vigília), mais frequentemente na modalidade auditiva, embora possam afetar qualquer um dos sentidos. São menos frequentes que as alucinações hipnagógicas, podendo também surgir associadas a narcolepsia. Apesar de serem verdadeiros fenómenos alucinatórios não apresentam necessariamente significado patológico, surgindo em indivíduos sem qualquer patologia.
Alucinações olfativas
Alucinações nas quais se verifica a experiência de um odor, geralmente desagradável, sem que haja um estímulo externo correspondente. Apesar de poderem ocorrer em perturbações psiquiátricas (por exemplo, esquizofrenia ou perturbações do humor com sintomas psicóticos), estão mais frequentemente associadas a doença neurológica (por exemplo, a epilepsia do lobo temporal).
Alucinações reflexas
Fenómeno alucinatório que constitui uma forma patológica de sinestesia em que um estímulo real numa determinada modalidade sensorial desencadeia uma alucinação numa modalidade sensorial distinta. À semelhança das alucinações funcionais, apesar de poderem ocorrer em doentes com perturbações psiquiátricas (por exemplo, na esquizofrenia) ou em intoxicações agudas com substâncias psicoativas e, portanto, terem significado patológico, não têm implicações diagnósticas específicas.
Alucinações táteis
Alucinação de sensações corporais superficiais em que o indivíduo sente que a sua superfície corporal é tocada por algo ou por alguém.
Alucinações visuais
Alucinações em que a modalidade sensorial afetada é a visão, podendo tomar a forma de alucinações elementares (por exemplo, formas geométricas simples, luzes, manchas coloridas) ou de alucinações complexas (por exemplo, pessoas, animais, cenas completas). As alucinações visuais são raras em perturbações psicóticas primárias. Estão tipicamente associadas a perturbações secundárias, a outras condições médicas ou a estados confusionais agudos com alterações do estado de consciência, devendo conduzir a uma extensa investigação etiológica secundária de modo a excluir eventual patologia orgânica subjacente.
Prolixidade
Perturbação do ritmo do pensamento caracterizada por aceleração do pensamento com a utilização de pensamentos acessórios fora da corrente principal, mas sem perder o objetivo da corrente principal. E considerada por alguns autores como uma forma menos acentuada de fuga de ideias presente na hipomania. Traduz-se através do discurso que se caracteriza como discurso prolixo.
Prosódia
Modulação da entoação vocal que influencia o significado real e emocional das palavras e frases.
Prosopagnosia
Incapacidade de reconhecer caras familiares.
Pode estar presente nos acidentes vasculares cerebrais talâmicos direitos, na demência frontotemporal ou nas perturbações do espectro do autismo.
Pseudoalucinações
Perturbações da perceção, consideradas enquanto falsas perceções a par das ilusões e das verdadeiras aluci-nações. É um termo de difícil definição, uma vez que foi usado de modo diferente por vários autores referindo-se a fenómenos distintos. Segundo alguns autores, o critério que distingue as pseudoalucinações das verdadeiras alucinações será o grau de insight em relação às mesmas, tratando-se então de alucinações em que o indivíduo apresenta insight em relação ao seu carácter falso. Por outro lado, outros autores consideram que as pseudoalucinações são em tudo semelhantes às verdadeiras alucinações exceto que se tratam de imagens mentais vívidas que se localizam no espaço subjetivo interno (por exemplo, ouvir vozes vindas de dentro da cabeça, por contraste com aquelas que vêm de fora e entram pelo ouvido). Jaspers
(1963) diferencia as pseudoalucinações de outros fenómenos alucinatórios como sendo não corpóreas, nem pertencendo ao espaço externo, estando por esse motivo mais próximas da representação.
Alucinose
Termo introduzido no início do século xx por Wernicke (1900) para se referir à alucinose alcoólica, situação clínica em que predominaria um quadro alucinatório, sobretudo auditivo, em indivíduos com consumo crónico de elevadas quantidades de bebidas alcoólicas. O termo foi-se tornando mais abrangente, englobando atualmente quadros predominantemente alucinatórios (embora possam coexistir delírios) secundários a outras condições médicas ou ao uso de outras substâncias psicoativas.
Ambitendência
Comportamento motor caracterizado por uma alternância entre movimentos opostos, sem que o objetivo primário do movimento seja atingido. Os movimentos têm um carácter hesitante e oscilante. Por exemplo, o indivíduo estende a mão para cumprimentar o seu interlocutor, mas hesita, suspende o movimento e recua a mão sem executar o cumprimento. Pode estar associado a ambivalência e a negativismo.
Ambivalência
Incapacidade de tomar uma decisão entre várias opções possíveis ou coexistência persistente de inclinações ou sentimentos contraditórios em relação a um objeto. Manifesta-se frequentemente em situações rotineiras e triviais do quotidiano em que o indivíduo não consegue tomar decisões, demorando bastante tempo para o fazer, sendo que, uma vez tomada uma decisão, pode surgir de imediato a dúvida sobre a opção tomada, voltando atrás na mesma. Por vezes associa-se a perplexidade e paralisia na ação. Pode ocorrer na esquizofrenia, na perturbação obsessivo-compulsiva ou em indivíduos com traços de personalidade anancásticos.
Teoria da mente
Constructo que se refere a um processo meta-cognitivo que consiste na capacidade de atribuir estados mentais, crenças, intenções, desejos, emoções, conhecimentos, a si próprio e a outros, e compreender que os outros têm as suas próprias crenças, desejos, intenções e perspetivas diferentes das suas.
Terrores noturnos
Perturbação do sono NREM em que ocorrem episódios de despertar abrupto do sono acompanhados de medo intenso, agitação, vocalização, ativação autonómica e amnésia para o episódio. São mais prevalentes nas crianças e habitualmente desaparecem com a idade.
Torpor
Termo que se refere a uma alteração do nível de consciência muito sobreponível ao conceito de estupor.
Transferência
Conceito psicanalítico introduzido por Sigmund Freud que se refere ao deslocamento inconsciente dos modelos infantis das relações prévias para o presente e para as relações atuais, incluindo a relação com o psicoterapeuta ou médico. E considerada parte essencial da psicoterapia psicanalítica.
Transitivismo
Conceito psicodinâmico descrito inicialmente por Charlotte Buhler (1935) em relação a crianças que não teriam a capacidade de distinguir claramente as suas próprias experiências das experiências de terceiros. Posteriormente foi novamente desenvolvido por Jacques Lacan, referindo-se à projeção para o outro dos seus próprios comportamentos e atitudes.
Tremor
Contrações musculares involuntárias e rítmicas que levam ao movimento de uma ou mais partes do corpo.