Abdome Agudo Inflamatório - Colecistite e Colangite aguda Flashcards
A metabolização da hemoglobina gera a biliverdina, que posteriormente é convertida em bilirrubina. A bilirrubina inicialmente formada é insolúvel em água e por isso é transportada no plasma ligada a albumina. Essa fração da bilirrubina é chamada de:
bilirrubina não conjugada ou bilirrubina indireta
Essa bilirrubina não conjugada é transportada até o fígado, onde é captada pelo hepatócito. No retículo endotelial do hepatócito, 80% da bilirrubina é conjugada pela enzima glucoronil-transferase ao ácido glicurônico. Aproximadamente 10% da bilirrubina é conjugada ao sulfato e 10% se junta a outras substâncias. Após a conjugação, a bilirrubina, que agora é chamada de (1), é excretada pelos hepatócitos para os dúctulos biliares.
bilirrubina conjugada ou bilirrubina direta
As principais causas de hiperbilirrubinemia às custas da bilirrubina indireta (não conjugada) são:
hemólise,
eritropoiese ineficaz,
síndrome de Gilbert,
síndrome de Crigler-Najjar,
icterícia neonatal fisiológica,
medicamentos (gentamicina e cloranfenicol).
Dentre as causas de hiperbilirrubinemia direta podemos citar:
Processos obstrutivos da via biliar,
hepatites virais
colestase intra-hepática da gravidez
síndrome de Dubin-Johnson
síndrome de Rotor
hepatopatia alcoólica,
medicamentos (esteroides anabolizantes, contraceptivos e eritromicina),
hepatite autoimune,
doença de Wilson,
colangite biliar primária e muitas outras condições colestáticas.
As principais causas de colestase intra-hepática são:
hepatites virais,
hepatite alcoólica,
hepatite medicamentosa,
cirrose biliar primária,
colangite esclerosante,
hepatopatia congestiva,
hepatite isquêmica,
gestação,
nutrição parenteral total,
sepse,
colestase pós-operatória benigna,
síndromes paraneoplásicas,
doença veno-oclusiva,
doença do enxerto versus hospedeiro,
doenças infiltrativas (linfoma e amiloidose)
e doenças infecciosas (tuberculose, malária e leptospirose).
Dentre as causas de colestase extra-hepática, tem-se:
colangiocarcinoma,
câncer pancreático,
câncer da vesícula biliar,
câncer ampular,
comprometimento de linfonodos da porta hepática,
coledocolitíase,
estenoses biliares,
colangite esclerosante,
pancreatite crônica,
colangiopatia da AIDS,
síndrome de Mirizzi e
ascaridíase.
Infiltração celular inflamatória crônica da vesícula biliar, cuja clínica é de cólica biliar, dor em epigástrio ou hipocôndrio direito, que pode irradiar para a escápula, causada pela obstrução temporária do ducto cístico e tende a ocorrer após as refeições, principalmente as ricas em lipídios.
Colecistite crônica
Síndrome de dor no quadrante superior direito, febre e leucocitose associada à inflamação da vesícula biliar.
Colecistite aguda
Na maioria dos casos (90%), desenvolve-se em pacientes com histórico de cálculos biliares sintomáticos.
Colecistite Aguda
É responsável por cerca de 5% a 10% dos casos de Colecistite aguda
Colecistite Acalculosa
A diferenciação entre cólica biliar e colecistite aguda é
o bloqueio não resolvido do ducto cístico
Na cólica biliar, a obstrução
é (1) e, na colecistite é (2), gerando o processo inflamatório.
(1) temporária
(2) constante
EPIDEMIOLOGIA
Colecistite aguda é a complicação mais comum da colelitíase (6% a 11% dos pacientes sintomáticos). Principais fatores de risco para a colelitíase são: (lembre-se do mnemônico dos 4 Fs, do inglês)
- Sexo feminino (Female)
- Idade > 40 anos (Forty)
- Obesidade/dislipidemia (Fat)
- Gravidez/multiparidade (Fertility)
1ª e 2ª maior causa de abdome agudo não obstétrico na gravidez?
- 1ª apendicite aguda
- 2ª colecistite aguda
Nos idosos, essa doença é a indicação de cirurgia de urgência mais frequente:
Colecistite Aguda
Qual a principal causa da Colecistite aguda?
Obstrução do ducto cístico, geralmente por cálculo impactado no infundíbulo.
A infecção da bile “estagnada” é considerada um fenômeno secundário e nem sempre ocorre. Por isso, no início do quadro, a inflamação da colecistite é dita “estéril”. As principais bactérias isoladas foram:
Escherichia coli (41%),
Enterococcus (12%),
Klebsiella (11%) e
Enterobacter (9 %) e
Anaeróbios (ex: Bacterioides fragilis).
A dor é constante, intensa e geralmente prolongada, superior a 4 horas a 6 horas. Pode irradiar-se para o ombro direito (sinal de Kehr) ou para a escápula direita. Geralmente vem associada a febre, náuseas, vômitos e anorexia.
Colecistite aguda
Síndrome decorrente da obstrução do ducto hepático comum, causada por compressão extrínseca de um cálculo impactado no ducto cístico ou no infundíbulo da vesícula biliar.
Síndrome de Mirizzi
É o sinal mais importante no exame físico e que SEMPRE CAI EM PROVA, que consiste na interrupção abrupta da inspiração durante a palpação profunda do rebordo costal direito, ou ponto cístico. Esse sinal tem alta sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de colecistite aguda
SINAL DE MURPHY
QUAIS OS 5 PRINCIPAIS SINAIS, SINTOMAS E ACHADOS DA COLECISTITE CLÁSSICA:
✓ Dor em hipocôndrio direito constante, geralmente após ingesta alimentar
✓ Náuseas e vômitos
✓ Febre baixa
✓ Sinal de Murphy positivo
✓ Leucocitose
As 3 principais alterações laboratoriais da COLECISTITE AGUDA são:
- leucocitose com desvio à esquerda;
- aumento da proteína C reativa (PCR);
- elevações leve a moderada da fosfatase alcalina, amilase sérica, bilirrubinas e transaminases
É O PRIMEIRO EXAME SOLICITADO NA SUSPEITA DE COLECISTITE AGUDA:
ULTRASSONOGRAFIA
ACHADOS ULTRASSONOGRÁFICOS QUE PODEM SER ENCONTRADOS NA COLECISTITE AGUDA
✓ espessamento da parede vesicular (≥ 4 mm) ou edema (sinal da dupla parede);
✓ cálculo impactado e imóvel no infundíbulo;
✓ aumento da vesícula biliar - hidropsia (eixo longo ≥ 8 cm, eixo curto ≥ 4 cm);
✓ líquido perivesicular (halo hipoecoico);
✓ sinal de Murphy ultrassonográfico: hipersensibilidade na topografia da vesícula notada durante a palpação com o transdutor do ultrassom;
✓ presença de gás no fundo da vesícula (sinal de Champagne), indicativa de colecistite enfisematosa;
✓ líquido livre na cavidade (perfuração de vesícula com coleperitônio)
É considerado o exame de imagem PADRÃO-OURO na investigação de Colecistite Aguda, quando a USG é duvidosa:
Cintilografia
A CINTILOGRAFIA POSITIVA PARA COLECISTITE AGUDA =
VESÍCULA NÃO VISÍVEL
Não é rotineiramente necessária para diagnosticar colecistite aguda. Geralmente, é solicitada para descartar complicações de colecistite aguda em pacientes com sepse, ou seja, necrose ou gangrena da parede vesicular (mais comum), abscesso perivesicular (perfuração bloqueada), peritonite generalizada com coleperitônio (perfuração), empiema de vesícula, abscesso hepático, colecistite enfisematosa ou obstrução intestinal (íleo biliar).
TOMOGRAFIA
TC é menos sensível que a USG para o diagnóstico de colecistite aguda
Tem sensibilidade e especificidade para colecistite aguda de aproximadamente 90% a 97% e 71% a 90 %, respectivamente, e é mais confiável em pacientes não ictéricos, com BT < 5 mg/dL.
Cintilografia
MODO DE REALIZAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA CINTILOGRAFIA
É realizada com a injeção intravenosa do ácido iminodiacético (HIDA) marcado com tecnécio 99m, que é absorvido seletivamente pelos hepatócitos e excretado na bile. Geralmente, a visualização do contraste no ducto biliar comum, na vesícula e no duodeno, ocorre dentro de 30 a 60 minutos.
Se a vesícula não for visualizada, pode-se obter imagens tardias, após 3 a 4 horas, ou aplicar morfina, que determina a contração do esfíncter de Oddi, com consequente refluxo da bile através do colédoco.
Se a vesícula biliar for preenchida após 30 minutos da aplicação da morfina, afasta o diagnóstico de colecistite aguda.
A cintilografia hepatobiliar com ácido iminodiacético pode auxiliar no diagnóstico diferencial entre:
Colecistite Aguda e Pancreatite Aguda
ACHADOS TOMOGRÁFICOS QUE PODEM SER ENCONTRADOS NOS QUADROS DE COLECISTITE AGUDA
✓ edema e espessamento de parede vesicular;
✓ realce da parede da vesícula;
✓ vesícula biliar túrgida, distendida;
✓ cálculo impactado no
infundíbulo;
✓ líquido perivesicular ou livre na cavidade (coleperitônio);
✓ bile de alta atenuação;
✓ a presença de interface gás-bile, ou presença de ar em parede vesicular sugere que a bactéria relacionada seja do gênero Clostridium, indicativa de colecistite enfisematosa;
✓ perdas de contornos da vesícula biliar e realce heterogêneo do parênquima hepático.
É um sinal dado pela presença de gás no fundo da vesícula, indicativo de colecistite enfisematosa;
Sinal de Champagne
Assim como a tomografia, esse exame estaria indicado quando o diagnóstico definitivo não é dado pela USG e na suspeita de complicações da Colecistite Aguda.
RNM
COMPLICAÇÕES DA COLECISTITE AGUDA:
- COLECISTITE GANGRENOSA
- PERFURAÇÃO
- ABSCESSO HEPÁTICO
- COLECISTITE ENFISEMATOSA
- EMPIEMA DE VESÍCULA BILIAR
- FÍSTULA COLECISTOENTÉRICA
- ÍLEO BILIAR
É a complicação mais comum da Colecistite (até 20% dos casos), mais frequente na Colecistite Alitiásica. Acomete, principalmente, pacientes do sexo masculino, idosos e diabéticos:
COLECISTITE GANGRENOSA
Essa complicação é uma evolução da necrose da parede e ocorre, principalmente, no fundo da vesícula biliar. Pode haver formação de abscesso perivesicular ou, se ocorrer livre para a cavidade, coleperitônio com peritonite difusa, o que aumenta as taxas de mortalidade. A presença de coleperitônio exige tratamento cirúrgico de urgência (colecistectomia):
PERFURAÇÃO
Essa complicação ocorre por disseminação direta da infecção biliar (colecistite, colangite), que está presente em 40% a 60% dos casos. As manifestações clínicas típicas são febre, presente em 90% dos casos, e dor abdominal. Ultrassom e tomografia computadorizada são os exames de imagem normalmente usados para identificação. O tratamento consiste em antibioticoterapia e drenagem.
ABSCESSO HEPÁTICO
Essa complicação ocorre nos casos de colecistite aguda com infecção secundária da parede da vesícula por bactérias formadoras de gás, como o Clostridium (Ex: Clostridium perfringens, Clostridium welchii). A clínica é semelhante à da colecistite aguda:
COLECISTITE ENFISEMATOSA
Complicação que pode apresentar crepitação da parede abdominal, sendo este um sinal bastante sugestivo. Acomete principalmente homens, com idade superior a 60 anos e
diabéticos.
COLECISTITE ENFISEMATOSA
É considerado o melhor exame para o diagnóstico de colecistite enfisematosa, que demonstra a presença de interface gás-bile, ou ar na parede vesicular.
TC DE ABDOME
Nessa complicação da Colecistite Aguda, normalmente, o paciente apresenta febre, além de massa palpável e dolorosa no hipocôndrio direito.
Empiema da Vesícula Biliar
Essa complicação resulta da perfuração da vesícula biliar diretamente na luz intestinal.
Fístula Colecistoentérica
A maioria das fístulas colecistoentéricas é do tipo:
Fístula colecistoduodenal
Cerca de 15% das físculas colecistoentéricas são do tipo colecistocolônicas, e são mais comuns na topografia de:
Flexão hepática
A fístula colecistoentérica complica em
2% a 3% de todos os casos de litíase na vesícula biliar
É uma complicação rara de litíase vesicular que ocorre com uma frequência de 0,3% a 0,5% dos casos e 2% a 3% na presença de colecistite aguda. Acomete, principalmente, pacientes do sexo feminino e idosos. Pode apresentar a síndrome de Mirizzi coexistente.
Íleo Biliar
Caracteriza-se pela impactação de um ou mais cálculos vesiculares no intestino. Decorre da passagem de um cálculo, geralmente maior que 2,5 cm, através de uma fístula colecistoduodenal, que geralmente se impacta no íleo terminal, próximo à válvula ileocecal, causando um quadro de obstrução intestinal alta, com dor e distensão abdominal associadas a vômitos bilioso:
Íleo Biliar
Síndrome decorrente de cálculo biliar que é impactado dentro do canal pilórico ou duodeno, causando obstrução da saída gástrica. Os sintomas apresentados são início abrupto de dor epigástrica, náuseas e vômitos
Síndrome de Bouveret
O diagnóstico do ÍLEO BILIAR é confirmado por exames de imagem, sendo o exame de escolha:
Tomografia de abdome