T2 - Farmacocinética (terminado) Flashcards
Definição de farmacocinética
É o estudo da absorção, distribuição, metabolização e
excreção de fármacos (ADME). Assim, enquanto a farmacodinâmica estuda os efeitos
que o fármaco exerce no organismo, a farmacocinética estuda precisamente o contrário,
ou seja, o modo como o organismo interage com os fármacos
Caraterísticas dos fármacos
Características dos fármacos que determinam sua mobilidade e biodisponibilidade no
local de ação: peso molecular, conformação estrutural, grau de ionização,
lipossolubilidade e ligação a proteínas plasmáticas ou teciduais
Tipos de transporte dos fármacos: transporte passivo
Transporte a favor do gradiente de concentração;
Não há gasto energético;
Nos casos de composto iónicos, as concentrações em equilíbrio dependem do
gradiente eletroquímico e das diferenças de pH através da membrana;
O transporte paracelular é relevante no compartimento vascular; atenção ao facto dos
capilares no SNC e alguns tecidos particulares possuírem “tight junction” que limitam
o transporte paracelular de fármacos
Tipos de transporte dos fármacos: transporte ativo
Ocorre contra o gradiente de concentração;
Ocorre gasto energético, sendo que se a fonte energética for diretamente hidrólise do
ATP, trata-se se um transporte ativo primário; se a fonte for energia eletroquímica
armazenada num gradiente (em muitos casos é o gradiente de Na+), trata-se de um
transporte ativo secundário
Fatores físicos e químicos que influenciam o transporte: membranas celulares
Consistem numa dupla camada de fosfolipídios associada ao colesterol e diversas
proteínas membranares. A transferência de um fármaco através da membrana geralmente
se limita à sua forma livre; por essa razão, os complexos formados por fármacos e
proteínas constituem um reservatório inativo, que pode influenciar os efeitos terapêuticos
e adversos de um fármaco
Fatores físicos e químicos que influenciam o transporte: Influência do pH e grau de ionização dos fármacos
Muitos fármacos são ácidos ou bases fracas, presentes em solução sob forma
ionizada e não ionizada. Em geral, as moléculas não-ionizadas (ao contrário das
ionizadas) são mais lipossolúveis e podem difundir-se facilmente pela membrana celular.
Por essa razão, a transmissão transmembranar de um eletrólito fraco é influenciada pelo
seu pKa e pelo gradiente de pH através da membrana
pKa
É o pH no qual metade do fármaco está na sua forma
ionizada
A equação de Herderson-Hasselbalch (representada ao
lado) é utilizada para calcular o pH de uma solução tampão a partir
do pKa e das concentrações do equilíbrio ácido-base (fração
ionizada sob não ionizada)
pH = pKa + log (A-)/(HA)
Os ácidos fracos ionizam…
(dificulta
transporte) mais em meios básicos, de
modo que se acumulam no lado mais
básico da membrana (pH mais alto)
Os fármacos básicos fracos…
Ionizam mais em meios ácidos,
acumulando-se então em pH mais baixo
Efeitos da ionização de fármacos
Os efeitos desse fenómeno são observados em diversas partes do corpo, como
exemplo nos túbulos renais. O pH da urina pode variar amplamente (de 4,5 a 8,0). À
medida que o pH urinário diminui (concentração de H+ aumenta) estão presentes
predominantemente na urina as formas protonadas de ácidos (HA – não ionizada; menos
concentrada na urina) e bases (BH+ - ionizada; mais concentrada na urina). Desse modo,
a urina ácida facilita excreção de fármacos básicos fracos, e urina alcalina facilita
excreção de fármacos ácidos fracos
O aumento do pH por administração de bicarbonato de sódio, por exemplo, estimula
a secreção urinária de ácidos fracos, como o ácido acetilsalicílico (aspirina) e o urato
Absorção - definição
Absorção é a transferência do fármaco do seu local de administração para o
compartimento central. No caso de preparações sólidas, a absorção depende inicialmente
da dissolução do comprimido ou cápsula, que então liberta o fármaco
Biodisponibilidade - definição
Biodisponibilidade é um termo usado para descrever a percentagem na qual uma
dose do fármaco chega ao seu local de ação, ou a um líquido biológico (geralmente
circulação sistémica) a partir do qual o fármaco chega ao seu local de ação. Se a
capacidade metabólica ou excretora do fígado e do intestino for grande para o fármaco, a
biodisponibilidade será reduzida significativamente (efeito de primeira passagem)
Pode ser definida pela equação:
F = quantidade de fármaco que atinge a circulação sistémica / quantidade de fármaco administrado
Bioequivalência
Os produtos farmacológicos são considerados equivalentes
farmacêuticos se tiverem os mesmos ingredientes ativos e forem idênticos em potência
ou concentração, apresentação e via de administração. Em termos farmacêuticos, dois
fármacos equivalentes são considerados bioequivalentes quando as taxas e amplitudes da
biodisponibilidade do ingrediente ativo em dois produtos não forem significativamente
diferentes sob condições experimentais adequadas
Vias de administração
Podem ser tópicas/locais (ação mais localizada) ou sistémica (atingimento da corrente
sanguínea)
Podem ser entéricas (absorção via parede digestiva, como via oral, sublingual e retal)
ou parentéricas (fora do tubo digestivo).
As principais vias de administração estão representadas na tabela abaixo. Atenção ao facto de que na via intravenosa não há absorção, portanto a biodisponibilidade é
máxima
Via intravenosa
Padrão de absorção - a absorção é evitada; os efeitos podem ser imediatos; adequada para grandes volumes e substâncias irritantes ou misturas complexas, desde que diluídas
Utilidade especial - valiosa para uso em emergências; permite a titulação da dose; geralmente é necessária para proteínas de alto peso molecular e fármacos peptídicos
Limitações e precauções - aumenta o risco de efeitos adversos; em geral, as soluções precisam ser injetadas lentamente; inadequada para soluções oleosas ou substâncias pouco solúveis
Via subcutânea
Padrão de absorção - imediata, no caso de soluções aquosas; lenta e prolongada, no caso das preparações de depósito
Utilidade especial - adequada para algumas suspensões pouco solúveis e para instilação de implantes de liberação lenta
Limitações e precauções - inadequada para grandes volumes; as substâncias irritantes podem causar dor ou necrose
Via intramuscular
Padrão de absorção - imediata, no caso das soluções aquosas; lenta e prolongada, no caso das preparações de depósito
Utilidade especial - adequada para volumes moderados, veículos oleosos e algumas substâncias irritantes; adequada para a autoadministração (por ex. insulina)
Limitações e precauções - contraindicada durante o tratamento anticoagulante; pode interferir com a interpretação de alguns exames diagnósticos (por ex. creatinocínase)
Ingestão oral
Padrão de absorção - variável, depende de muitos fatores
Utilidade especial - mais conveniente e económica; geralmente é mais segura
Limitações e precauções - depende da adesão do paciente; a biodisponibilidade pode ser errática
Via sublingual
Possui vantagens por ser cómoda e permitir autoadministração, além
de absorção rápida e ausência do efeito de primeira passagem; possui desvantagens
por sabor desagradável ou irritante de alguns fármacos, além de exigir colaboração
do doente
Via retal
Reduz efeito de primeira passagem e é útil em crianças pequenas, doentes
inconscientes ou com vómitos. Possui as desvantagens de ser menos absorvida que
a via oral e ter absorção irregular prejudicada pelas fezes
Via dérmica
Não sofre efeito de primeira passagem e permite obter níveis
sanguíneos eficazes durante muito tempo após administração, sem grandes picos de
concentração. Só podem ser administrados por adesivos (pequenas doses diárias) e alguns adesivos podem ser irritantes. Um exemplo comum é administração de
nicotina para interrupção do tabagismo