Meningite Bacteriana - Veronesi Flashcards
Definição
processo inflamatório das membranas leptomeníngeas que, com a meníngea dura-máter, envolvem o encéfalo e a medula.
A infecção pode atingir, por contiguidade, estruturas do sistema nervoso central (SNC), constituindo: meningomielite, meningoencefalite ou meningomieloencefalite
Quando ocorre uma paquimeningite (comprometimento inflamatório da dura-máter), os espaços virtuais subdurais e epidurais que se interpõem entre a dura-máter e, respectivamente, a pia-aracnoide e a estrutura óssea, coletam secreção purulenta.
Aguda x Crônica
agudo: particularmente por bactérias e vírus
crônico: causado por protozoários, espiroquetas, helmintos, fungos ou micobactérias
Epidemiologia
No mundo, estima-se a ocorrência de mais de um milhão de casos de meningites bacterianas, com cerca de 200 mil óbitos por ano.
No Brasil, os poucos dados existentes do MS e indicam a ocorrência de cerca de 30 mil casos ao ano
A ocorrência de meningite se dá durante todo o ano, com pequeno aumento sazonal nas épocas de clima frio e, comumente, ocorre sob a forma endêmica, ao passo que a meningite meningocócica pode evoluir epidemicamente
Etiologia
As bactérias e os vírus são os microrganismos implicados com mais frequência, e, em geral, a ocorrência é endêmica. Entretanto, eles podem produzir grandes epidemias abertas, atingindo toda a população, ou microepidemias explosivas, limitadas geralmente a comunidades institucionalizadas (creches, escolas, quartéis, presídios, enfermarias etc.).
Principais agentes - Gram -
- Neisseria meningitidis;
- Haemophilus influenzae b;
- Escherichia coli K;
- Salmonella sp;
- Proteus sp;
- Klebsiella pneumoniae;
- Serratia sp;
- Citrobacter sp;
- Aerobacter sp;
- Pseudomonas aeruginosa
Principais agentes - Gram‑positivas Micobactérias e “oportunistas”
- Streptococcus pneumoniae;
- Streptococcus beta‑hemolítico;
- Staphylococcus aureus;
- Mycobacterium tuberculosis;
- M. avium‑intracellulare;
- Anaeróbicos (Bacteroides sp e Streptococcus);
- Listeria monocytogenes;
- Ravobacterium meningossepticum;
- Acinectobacter calcoaceticus;
- Streptococcus alfa-hemolítico;
- Staphylococcus epidermidis.
Principais agentes - Vírus
- Coxsackie 13;
- Echo 9;
- Pólio 1, 11 e 11;
- Herpes simplex 1 e 2;
- caxumba;
- sarampo;
- raiva;
- coriomeningite linfocitária;
- rubéola;
- varicela‑zóster;
- EBV;
- HIV;
- arbovírus;
- citomegalovírus;
- vírus Epstein-Barr.
Principais agentes - Fungos
- Cryptococcus neoformans;
- Candida albicans;
- Histoplasma capsulatum;
- Paracoccidioides brasiliensis;
- Aspergillus fumigatus.
Principais agentes - Espiroquetas
- Treponema pallidum;
2. Leptospira sp.
Principais agentes - Protozoários
- Naegleria sp;
- Acanthamoeba sp;
- Plasmodium falciparum;
- Toxoplasma gondii;
- Schistosoma mansoni.
Principais agentes - Helmintos
- Ascaris lumbricoides;
- Cisticercus cellulosae;
- Onchocerca sp;
- Echinococcus granulosis.
Principais agentes - Outros
- Leucemias;
- linfomas;
- pós‑vacinal;
- sarcoidose;
- neoplasias;
- síndrome eosinofílica;
- vírus lentos;
- tóxicos (chumbo);
- irritação química (drogas).
Agentes mais frequentes
entre 50 e 90% dos casos são:
- Streptococcus pneumoniae
- Neisseria meningitidis
- Haemophilus influenzae.
Fatores de risco
- idade do paciente;
- porta de entrada ou foco séptico inicial;
- tipo e localização da infecção no SNC;
- estado imunitário prévio específico e geral;
- situação epidemiológica local
Letalidade
Com a antibioticoterapia, a letalidade decresceu: de cerca de 90%, foi reduzida para um nível global em torno de 15 a 30%.
A prevalência de meningite bacteriana tem permanecido relativamente constante nos últimos 40 anos, exceção feita a períodos epidêmicos.
Ela incide nos dois sexos em proporção semelhante e não há diferenças de suscetibilidade entre as várias raças ou grupos étnicos.
Em períodos não epidêmicos, cerca da metade dos casos ocorre em pessoas com menos de 15 anos de idade.
De modo semelhante, a mortalidade varia com a idade, sendo mais alta nas faixas extremas da vida.
Infecção por via hematogênica
Na orofaringe e, através do sangue, atinge o SNC, como é o caso de meningococo, pneumococo e hemófilo;
outras provém dos intestinos (enterobactérias), dos pulmões (pneumococo) e do aparelho geniturinário (gram-negativos), sempre por disseminação hematogênica.
Infecção por contiguidade
a partir de focos próximos às estruturas anatômicas do SNC, como otites médias crônicas, mastoidites ou sinusites.
Infecção por continuidade ou acesso direto
como nos traumatismos cranianos e por manipulação propedêutica ou terapêutica do SNC e de estruturas próximas (punção liquórica e uso de cateter ou implantes sem a devida assepsia).
As meningites bacterianas têm uma porta de entrada geralmente inaparente; em apenas 10% dos casos há um foco primário detectável.
Na ausência de um foco primário detectável, para se estabelecer o início da terapêutica empírica é importante saber quais as bactérias mais prevalentes por faixa etária
Infecção em RN de até 3 meses de vida
até esse período, o recém-nascido está geralmente protegido por anticorpos maternos, transferidos por via transplacentária, contra pneumococo, meningococo e hemófilos.
As etiologias mais frequentes no período neonatal são: Streptococcus sp e outras espécies de estreptococos do grupo B; E.coli; outros gram-negativos enterobacteriáceos; e, em algumas situações clínicas e em berçários “patolólogicos”, o MRSA.
Crianças de baixo peso, cujo sistema imunológico é ainda imaturo, podem colonizar o Streptococcus agalactiae ou Listeria monocytogenes, uma bactéria saprófita dos genitais femininos que está presente no canal do parto.
Infecção em kids entre 3 meses e 10 anos
passam a prevalecer com mais frequência Neisseria meningitidis (meningococo) e Streptococcus pneumoniae (pneumococo).
É o período etário em que o Haemophilus influenzae tipo b, transmitido por secreções nasofaríngeas, é mais frequente.
A partir dos 5 anos, sua ocorrência vai decrescendo, até os 10 anos de idade, sendo rara a ocorrência depois disso.
Infecção em kids acima de 10 anos
prevalecem Neisseria meningitidis e Streptococcus pneumoniae, que respondem por 80 a 90% dos casos na ausência de períodos epidêmicos de outras bactérias.
Em pacientes idosos, o pneumococo tem participação significativa nas infecções, seja causando frequentes infecções pneumônicas, assim como otorrinolaringológicas e decorrentes de TCE.
Infecção na senilitude
o indivíduo idoso, debilitado orgânica e imunologicamente, é suscetível também a infecções por agentes “oportunistas”.
Além do meningococo e do pneumococo, prevalecem bactérias oportunistas, como Listeria monocytogenes, Streptococcus agalactiae e enterobactérias
Meningite por germes oportunistas
Em pacientes imunocomprometidos por situações patológicas como diabetes, linfomas e neoplasias malignas, esplenectomia, desnutrição, alcoolismo, uso de drogas imunossupressoras, HIV etc., a etiologia das meningites bacterianas está, com frequência, relacionada a germes “oportunistas” (listeria, estafilococo coagulase-negativo e outras bactérias normalmente não patogênicas) ou de alta virulência (estafilococo coagulase-positivo, pneumococo capsulado, pseudomona, enterobactéria, hemófilo, salmonela, Klebsiella, anaeróbio).
A presente pandemia de infecção pelo HIV tem deslocado a prevalência para faixas etárias maiores por bactérias anaeróbias tem sido pouco encontrada. Ela se associa à presença prévia de focos supurativos otorrinolaringológicos (otite média, sinusite, mastoidite) ou endocardites. A frequência de achados de anaeróbios, com bactérias aeróbias gram-positivas ou gram-negativas, em abscesso cerebral, sugere a possibilidade de esses germes serem responsáveis por infecções associadas
Meningite por TCE aberto ou pós-neurocirurgia
as bactérias mais frequentes (independente da faixa etária) são: pneumococos, hemófilos, estafilococos produtores de penicilinase, pseudomonas, enterobactérias e estreptococos
No TCE fechado, a maior prevalência é de pneumococo e, com menos frequência, de hemófilo.
Traumatismos abertos são geralmente causados por
germes saprófitas da pele. Na condição pós-cirúrgica, além do pneumococo, prevalecem infecções hospitalares por bactérias multirresistentes e, com frequência, agentes anaeróbios, principalmente o Propionibacterium acnes
Meningite como complicação da punção liquórica
é bastante rara; os germes que a ocasionam são, em geral, Staphylococcus aureus e bactérias gram-negativas, como a Klebsiella pneumoniae e a Pseudomonas sp
Uma situação particularmente grave de meningite iatrogênica é a infecção pós-anestesia raquidiana por pseudomonas. Na meningite pós-procedimentos neurocirúrgicos, têm sido isolados agentes anaeróbios, sobretudo o Propionibacterium acnes
Quais agentes etiológicos causam mais complicações supurativas
pneumococo, hemófilo, estafilococo produtor de penicilinase ou enterobactérias;
destes, o pneumococo é o mais frequente
Meningite pneumocócica
costuma ser metastática a partir de focos pulmonares ou otorrinolaringológicos e ocorre em pacientes de todas as idades.
Nos traumatismos cranianos infectados e nas meningites recidivantes, o pneumococo e o hemófilo são agentes habituais
A imunidade conferida pela infecção penumocócica é tipo-específica, e a exposição prévia a um sorotipo pneumocócico não protege contra infecção por outro sorotipo, sendo que existem mais de 80 sorotipos de pneumococos.
O pneumococo é uma causa frequente de meningite
em indivíduos alcoólatras, esplenectomizados, com anemia falciforme e em portadores de deficiências de imunoglobulinas.
O índice de letalidade varia de 10 a 50%, de acordo com o relato de vários serviços especializados, e o risco estimado de sequelas supurativas e neurológicas pós-meningite pneumocócica é de cerca de 20%. As meningites de repetição são muito frequentes por pneumococo.
Meningite por bacilos gram-
incide, caracteristicamente, em três situações: no recém-nascido (cerca de 40% das meningites); após trauma ou procedimento neurocirúrgico; e no adulto imunossuprimido.
A letalidade oscila em torno de 17%, sempre maior em faixas etárias menores.
Não há relato de comportamento epidêmico, com exceção de outbreaks em crianças confinadas (creches, orfanatos, berçários patológicos, enfermarias oncológicas etc).
Outros
Na otite externa crônica grave, a infecção por Pseudomonas aeruginosa tem particular importância pela frequência com que evolui para meningite.
A meningite por salmonelas não tifosas é predominante em crianças. A S. typhi, bastante comum antes da era antibiótica, é raramente descrita como agente causador de meningite, seja em adultos ou em crianças.
A presença de fístulas comunicando cronicamente o espaço subaracnóideo à pele pode sugerir a existência de cisto dérmico congênito, o qual se infecta com facilidade, dando origem a meningites recorrentes por bacilos gram-negativos ou Staphylococcus epidermidis.
A Listeria monocytogenes é um germe saprófito do trato gastrointestinal e geniturinário; em recém-nascidos e adultos debilitados ou senis, pode causar infecções sistêmicas e meningites.
Se tratados precocemente, a letalidade é baixa.
Em pessoas queimadas, ocorrem, frequentemente, septicemia e meningite por Pseudomonas sp, estafilococos ou Proteus sp.
A meningite gonocócica é extremamente rara e costuma acompanhar a gonococia sistêmica.
A letalidade da meningite bacteriana em geral não pode ser estabelecida com precisão; ela varia de acordo com situação epidemiológica e virulência da bactéria, uso precoce e correto do tratamento, idade, comorbidades, como o diabetes, aids e imunodeficiências congênitas, alcoolismo, linfomas e outras doenças imunodepressoras, entre outros cofatores