ABSORÇÃO INTESTINAL DE ÁGUA E ELETRÓLITOS Flashcards
-ocorre por 2 vias – a paracelular e a transcelular. A transcelular envolve dois mecanismos. Em um deles, o influxo celular de Cl– depende da entrada de Na+ e, no outro, do contratransporte Cl–/HCO3–. No delgado, a absorção de Cl– pela ML é realizada por mecanismo de cotransporte acoplado ao Na+, descrito anteriormente (ver Figura 63.5). Na MBL, o Cl– é transportado passivamente a favor de gradiente de potencial eletroquímico. A absorção de Cl– neste segmento intestinal também se dá por via paracelular, a favor de um gradiente de potencial elétrico transepitelial, de maneira desacoplada da absorção de Na+ e de HCO3–. No íleo e no cólon, a absorção de Cl– pela ML se faz: (1) por mecanismos de contratransportes paralelos Na+/H+ e Cl–/HCO3– já descritos (ver Figura 63.7), ou (2) diretamente, acoplada à secreção de HCO3–, por processo ativo secundário, mantido pela Na+/K+-ATPase da MBL. Nesta última barreira, o transporte absortivo de Cl– é passivo, mediado pelo trocador Cl–/HCO3– (AE-1) localizado na ML; porém, o movimento de Cl através da MBL ainda não está claramente descrito (para detalhes, ver Capítulo 11). Nestes segmentos intestinais, a absorção de Cl– também pode acontecer por via paracelular.
-A regulação dos processos absortivos de Na+ e de água no intestino é altamente dependente da modulação do transporte de Cl– pelas células indiferenciadas das criptas. Enquanto as células maduras dos ápices das vilosidades intestinais do delgado e as células superficiais do cólon são absortivas, as indiferenciadas das criptas são predominantemente secretoras. Em condições fisiológicas, ocorre um balanço entre o líquido absorvido e o secretado, com manutenção de uma determinada fluidez do conteúdo luminal. Se o processo secretor elevar-se acima do absortivo, pode surgir diarreia do tipo secretor.
A visão atual dos mecanismos de transporte iônico que funcionam nas células das criptas é mostrada na Figura 63.10. Neste modelo, o Cl– é ativamente captado do interstício, por meio da MBL, pelo cotransportador Na+:K+:2Cl– (NKCC1, descrito no Capítulo 11). Este transportador utiliza o gradiente de concentração do Na+ para transportar Cl– e o K+ para a célula, contra seus gradientes de potencial eletroquímico. A concentração intracelular de Cl– eleva-se acima do seu equilíbrio eletroquímico (ou de Nernst), e então o Cl– deixa a célula, através da ML, por canal para Cl–. O Na+ pode ser transportado para o lúmen pela via paracelular, através das tight-junctions, movido pela eletronegatividade do lúmen, gerada pela secreção de Cl–. O efluxo celular de K+ previne o seu acúmulo no citoplasma; é feito através de canais para potássio da MBL das células das criptas. Com isso, mantém-se uma diferença de potencial elétrico (citoplasma negativo) através das duas membranas – ML e MBL, o que contribui para a força eletroquímica movente do efluxo celular de Cl– pela ML.
- O tempo de abertura do canal luminal para Cl– é modulado pelo cAMP ou pelo monofosfato de guanosina cíclico (cGMP). Os canais basolaterais para K+ são ativados pelo Ca2+ ou pelo aumento de cAMP. Sendo assim, a secreção resultante de Cl– pelas células das criptas é amplificada por agonistas que elevam o cAMP intracelular [como prostaglandinas, peptídio intestinal vasoativo (VIP), cGMP, ou toxinas bacterianas (p. ex., a toxina termoestável da Escherichia coli (STa) e do Vibrio cholerae)] e pelos agonistas mobilizadores de Ca2+, como a acetilcolina. Além disso, o cAMP pode inibir a absorção de Na+ e de Cl– nos enterócitos maduros. O canal para Cl– da ML é do tipo CFTR (cystic fibrosis transmembrane conductance regulator, descrito no Capítulo 10), extremamente importante na fisiopatologia da fibrose cística (doença discutida nos Capítulos 10 e 11 e no Capítulo 61, Secreções do Sistema Digestório) e de muitos tipos de diarreias (discutidos mais adiante).
- No duodeno, o HCO3– é secretado para o lúmen intestinal. No jejuno, a absorção de HCO3– depende parcialmente do Na+. A presença de HCO3– no lúmen do intestino estimula a absorção de Na+, e o Na+, reciprocamente, estimula a de HCO3–; essa reciprocidade se dá graças aos trocadores paralelos Na+/H+ e Cl–/HCO3– da ML (descritos no Capítulo 11). No processo de absorção de HCO3–, o equilíbrio da reação de hidratação e desidratação do CO2 (estimulado pela anidrase carbônica da borda em escova) se desloca no sentido de formação do CO2; isto é detectado por uma elevação da pressão parcial de CO2 (PCO2) jejunal. O HCO3– reabsorvido pode ser originado também do CO2 proveniente do metabolismo celular (Figura 63.11). O fluxo absortivo resultante desses processos é a absorção de NaHCO3 na MBL. No íleo, o HCO3– é normalmente secretado. Se a concentração de HCO3– no lúmen do íleo ultrapassa os 45 mM, o fluxo do lúmen para o sangue excede o fluxo em sentido oposto, ocorrendo uma absorção resultante. No cólon, o transporte de HCO3– é similar ao que acontece no íleo, onde este íon é secretado.
Assim, o jejuno absorve o excesso de HCO3– secretado no duodeno e, também, o neutraliza pela secreção de H+. Portanto, no jejuno, a absorção transepitelial resultante é predominantemente de NaHCO3. No íleo e no cólon, o Na+ e o Cl– também são absorvidos por estes contratransportadores, com secreção de HCO3–, que neutraliza, nestes segmentos, os produtos ácidos do catabolismo das bactérias. O HCO3– secretado provém do plasma e penetra na célula através da MBL, em acoplamento com o Na+. Portanto, ocorre secreção de HCO3– tanto no íleo como no cólon, sendo este ânion excretado nas fezes.
-O intestino tem a capacidade não só de absorver como também de secretar K+. A absorção ocorre de preferência nos segmentos proximais, enquanto a secreção se dá principalmente nos segmentos distais do intestino.
▸ Absorção de K+. No intestino delgado, o mecanismo proposto para a absorção de K+ é sua difusão passiva pela via paracelular, a favor de seu gradiente de potencial químico transepitelial, secundária à absorção de água. Sendo assim, no jejuno e no íleo, o fluxo resultante de K+ ocorre do lúmen para o sangue. Conforme o volume do conteúdo intestinal é reduzido pela absorção hídrica, o K+ se concentra no lúmen intestinal, gerando uma diferença de potencial químico transepitelial, necessária para sua absorção. Como a absorção de K+ depende da sua concentração no lúmen do delgado e esta é dependente da absorção de água, processos que afetam a absorção deste líquido neste segmento (como pode acontecer em processos diarreicos) podem conduzir a hipopotassemia, com consequentes distúrbios da contração muscular. No cólon, ocorrem, também, tanto absorção como secreção de K+, dependendo da sua concentração luminal. Somente no cólon distal se observa uma absorção ativa de K+. Neste caso, o movimento de K+ para o interior da célula colônica se dá pela isoforma gástrica da H+/K+-ATPase, localizada na ML, sendo, portanto, um mecanismo ativo primário (Figura 63.12). Contudo, o mecanismo pelo qual o K+ deixa a célula, na MBL, ainda não é bem conhecido.
-ecreção de K+. No cólon (proximal e distal), a secreção de K+ ocorre tanto de forma passiva como ativa. A passiva se dá por via paracelular, quando a concentração de K+ luminal é inferior a cerca de 25 mM. Entretanto, a ativa de K+, através da ML, depende da alta concentração intracelular do íon, decorrente de seu influxo intracelular pela MBL, através da Na+/K+-ATPase e do cotransportador Na+:K+:2Cl– (Figura 63.13), descritos em detalhes no Capítulo 11. A secreção de K+ pela ML acontece via mecanismo de eletrodifusão, através de canais específicos, sensíveis ao bário ou à tetraetilamônia (TEA). Adicionalmente, o K+ também pode deixar a célula por canais da MBL, caracterizando assim uma reciclagem de K+.