Abdome Agudo (Gastroenterologia) Flashcards
Abdome agudo: definições conceituais
“Afecção aguda intra-abdominal que necessita de uma operação imediata”
(Bostford & Wilson, 1979)
“Condição mórbida súbita, inesperada, manifestada por dor abdominal aguda, que requer tomada de decisão urgente quanto à terapêutica - clínica ou cirúrgica - a ser instituída de imediato”
(Adapt. Zuccaro, 1993)
Abdome agudo: epidemiologia básica e situações etiológicas especiais
- 5 a 10% de adultos que procuram o PS;
- 18 a 42% das consultas ocorrem internações, sobretudo idosos;
- 40 % apresentam etiologia desconhecida;
Busca etiológica se torna ainda mais difícil:
a) Idoso: comorbidades, demência, intolerância alimentar
b) Imunocomprometidos (HIV/transplantados): doenças infecto-parasitárias oportunistas
c) Grávida: possível apendicite, colecistite, diverticulite
d) Mulher em fase reprodutiva: FID (Fossa Ilíaca direita ou quadrante inguinal direito) no homem é geralmente apêndice; na mulher, pode ser cisto de ovário, endometriose, entre outros;
Tipos de Abdome Agudo I
Inflamatório e Obstrutivo
Enquadrar o paciente no tipo de Abdome Agudo é ação primária no PS:
a) Inflamatório: pancreatite, apendicite, colecistite, diverticulite, febre do Mediterrâneo; doença inflamatória pélvica (muito comum em mulheres, a tendência é operar todos os processos inflamatórios da mulher da parte distal por videolaparoscopia,); adenite mesentérica (opera muito pouco, a nível do íleo terminal, confunde muito com apendicite aguda, usa RM, TC, pode tratar sem cirurgia) e tiflite (processo inflamatório que aparece no intestino em quem faz quimio para linfoma e doenças hematológicas, pode levar, às vezes, à necrose e perfuração).
b) Obstrutivo: fecaloma (fezes endurecidas presas), bridas (pontes de tecido cicatricial fibroso que ligam órgãos, comuns em intervenções pós-cirúrgicas) e aderências, hérnia encarcerada, tumor intestinal; Intussuscepção (parte do intestino invagina, causando obstrução própria); paciente vomitando, distensão abdominal e parada de eliminação de flatos e fezes.
Tipos de Abdome Agudo II
Perfurativo, Hemorrágico e Vascular
c) Perfurativo: úlcera péptica, amebíase, câncer gastrointestinal, febre tifoide, diverticulite, doença de Crohn (apesar de ser mais comum obstrução). Pneumoperitônio na radiografia.
d) Hemorrágico: gravidez ectópica, rotura de aneurisma abdominal; traumático por armas de fogo ou branca; pode iniciar quadro de choque hemorrágico (palidez cutaneomucosa, taquicardia, sudorese, queda
da PA, aumento da FC)
e) Vascular: Inadequado fornecimento de O2 para o intestino; dor abdominal desproporcional ao exame clínico;
Embólico (paciente com arritmia acaba ‘jogando” êmbolo no intestino); trombótico (vasos mesentéricos)
torção do grande omento, torção do pedículo de
cisto ovariano, infarto esplênico.
Tipos de Obstrução
a) Alta ou baixa
b) Funcional ou mecânica
a) alta = acima da válvula ileocecal; pouca distensão e muitos vômitos precoces;
baixa = inferiormente à válvula - muita distensão, evolução insidiosa, vômitos tardios, aspectos fecaloides;
b) funcional: típica do pós-operatório - íleo paralítico, obstrução difusa;
mecânica: de fato, há obstrução por algo impedindo a
passagem de alimentos.
Qual o principal meio diagnóstico para Abdome agudo?
História e exame físico feitos de modo adequado;
A ideia é direcionar para algum lugar; a história deve não apenas enfocar a investigação das queixas de dor, mas problemas antecedentes e os sintomas associados;
Tipos de dor - visceral
Dor inicial na apendicite; profunda, difusa, mal definida; associada a cólicas com distensão abdominal, náuseas, vômitos; fibras aferentes tipo C; na parede das vísceras ocas e na cápsula dos órgãos diretos por isquemia, distensão, inflamação ou agente direto geralmente na região média do abdome, nem sempre na localização correspondente ao órgão afetado; não piora com movimentos contínuos; indicação com palma de mão movimentando;
Tipos de dor - parietal ou somática
Dor bem localizada, bem definida, próxima ao ponto onde ocorre a afecção; inflamação do peritônio parietal (pus, sangue, fezes, secreções GI) associada à contratura da parede abdominal, e responsável pela dor à palpação e a descompressão; agravada por movimentos ou aumento da pressão abdominal; indicação com o dedo, específica;
Tipos de dor - referida ou irradiada
Dor percebida pelo SNC como se fosse de outro
órgão
(c.f. pancreatite causando dor no dorso ou no ombro; fígado partilha parte de sua inervação com o diafragma e pode criar dor referida no ombro direito mediada pelas raízes nervosas de C3-C5);
Regra geral do abdome agudo
Pacientes que estavam previamente bem e iniciaram com dor abdominal contínua por mais de 6 horas (dor de importância cirúrgica).” Em geral, inicialmente, dor visceral pela distensão do órgão e, depois, dor parietal.
A importância da anamnese
a) Gênero
b) Idade
a) Mulher sempre se faz USG, porque se erra mais. Considerar período menstrual; nunca operar a mulher sem o diagnóstico firmado (endometriose, gravidez ectópica podem levar ao quadro doloroso).
b) Fazer TC, exames, para fechar diagnóstico, uma vez que idosos podem ter câncer;
Dor Abdominal: Bizus
- Dor visceral + Dor Somática = Suspeita de Abdome Agudo;
- Dor de início súbito: perfuração de víscera oca (principalmente a gástrica), rotura de aneurisma
de aorta e seus ramos, isquemia mesentérica, cólica biliar e renal. (A diferença da renal é que dá
muita dor, grita. O paciente de apendicite anda protegendo); - A intensidade da dor diminui após perfuração de víscera;
- Dor gradual e contínua – abdome agudo inflamatório (apendicite, colecistite, salpingite, esta última causa síndrome de Fitz-Hugh-Curtis).
Antecedentes importantes
História de úlcera péptica/Uso de AINEs = úlcera péptica perfurada;
Colelitíase = colecistite/pancreatite aguda biliar;
Mudança do hábito intestinal, melena = neoplasia;
Cirurgias prévias = bridas;
Anticoagulantes – hematoma retroperitoneal e da bainha do reto abdominal. Ruptura do reto abdominal - sangramento abundante;
Ciclo menstrual = prenhez ectópica, Mittelschmerz (dor do meio da menstruação, pela ruptura do folículo ovariano); endometriose;
Anticoncepcionais orais = adenoma hepático, infarto venoso mesentérico. (Professor acha que é melhor DIU do que anticoncepcionais orais, que levam à formação de cálculos, se orais.)
Hematúria = cálculo?
Exame físico
Inflamatório: dor à descompressão brusca (BD +),
defesa abdominal RHA ↓ (ruídos hidroaéreos)
Obstrutivo: distensão abdominal, RHA ↑ (depois
podem ficar abolidos)
Perfurativo: abdome em tábua, Joubert +
(hipertimpanismo no fígado)
Vascular: distensão e defesa abdominal, RHA ↓
(pode evoluir para perfurativo)
Hemorrágico: palidez cutânea, sudorese, BD +
Abdome:
- Da face anterior do tórax à região inguinal. Toda dor acima do umbigo suspeitar de infarto.
- Não negligenciar exames ginecológico e proctológico. Prenhez ectópica, cisto roto, infecções.
Febre:
- 37,5-38 ºC (apendicite, colecistite, pancreatite).
- 39-40 ºC na DIPA (doença inflamatória pélvica aguda), infecções graves, colangite.
- Sinais de toxemia.
Laboratório
- Leucograma normal não exclui abdome agudo.
- Em doentes graves e sempre que possível, avaliar função renal: Ur, Cr, Na, K, HCO3, gasometria
arterial. - Amilase (acima de 3x o limite superior fala a favor de pancreatite)
> Obstrução intestinal, isquemia mesentérica, úlcera péptica perfurada, cisto ovariano torcido.
> Lipase mais fidedigna para evolução. - Se icterícia = bilirrubinas, Fosfatase Alcalina (mais específica), Gama-glutamil-transferase - GGT.
- Sumário de urina = ITU? Apendicite?