CLM - Nefrologia, DHE e DAB Flashcards
Insuficiência renal aguda e crônica, glomerulopatias, distúrbios tubulointersticiais, distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-base
Quais são os distúrbios hidroeletrolíticos mais frequentes em paciente com vômitos persistentes?
Pacientes com vômitos perdem secreção gástrica rica em HCL, e além disso encontram-se desidratados, com ativação compensatória do SRAA.
Com isso a tendência é que se instale ALCALOSE METABÓLICA HIPOCLORÊMICA e HIPOCALÊMICA
Paciente com gasometria mostrando: pH = 7,32 / pCO2 = 59 / HCO3 = 32.
Qual é o diagnóstico do distúrbio hidroeletrolítico? Cite uma condição clínica que poderia causar esse quadro.
Este paciente apresenta pH baixo com pCO2 muito elevado: trata-se, portanto, de ACIDOSE RESPIRATÓRIA. O bicarbonato também está elevado, sinalizando um distúrbio CRÔNICO, em que já ocorreu uma atuação compensatória dos rins.
Esse quadro é compatível, portanto, com um paciente que apresente hipoventilação crônica. O exemplo clássico é o DPOC.
Homem sem comorbidades submetido à RTU de próstata. 18 horas após a cirurgia, apresentou crise convulsiva tônico-clônica generalizada.
Qual distúrbio hidroeletrolítico foi o provável responsável e qual deve ser o tratamento?
A RTU de próstata gera risco de HIPONATREMIA HIPOTÔNICA AGUDA, devido ao uso de soluções hipotônicas para irrigação do trato urinário do procedimento (que são amplamente absorvidas pela mucosa).
Na hiponatremia aguda grave (geralmente < 120) pode ocorrer ENCEFALOPATIA HIPOSMOLAR, que cursa com edema cerebral, causado pela translocação do excesso de água livre para o meio intracelular.
O tratamento nesses casos envolve SALINA HIPERTÔNICA (3%), visando a elevar a natremia em 3 mEq/L a cada 3h (com limite de 12 mEq/L/dia).
Qual deve ser o cálculo para reposição de sódio no paciente com hiponatremia aguda grave?
Para identificar o déficit de sódio, utiliza-se a fórmula: déficit de Na = água corporal x variação desejada de sódio.
A água corporal corresponde a 50% do peso nas mulheres e 60% do peso nos homens.
Em seguida, para determinar o volume de solução salina a 3% que deverá ser utilizado, deve-se dividir o déficit de sódio encontrado por 17 (convertendo de mEq para gramas), e fazer regra de 3.
Menino de 3 anos com crise de asma grave, internado, recebendo oxigenioterapia e nebulização com droga beta-2-agonista a cada 2 horas. No segundo dia de internação, evoluiu com vômitos, distensão abdominal e diminuição dos ruídos hidroaéreos.
Qual é o distúrbio hidreletrolítico provavelmente associado e o tratamento?
Beta-2 agonistas predispõem a HIPOCALEMIA, por promoverem o influxo de K para o meio intracelular.
A criança evoluiu com quadro de íleo adinâmico, que é um dos sinais possíveis nos distúrbios de potássio, além de fraqueza muscular, câimbras e arritmias.
O tratamento nos casos agudos e graves deve ser feito com solução salina a 0,45% + KCL para reposição de potássio.
Paciente de 65 anos de idade com diagnóstico recente de carcinoma pulmonar do tipo pequenas células apresentou dosagem de sódio sérico igual a 125 mEq/L nos exames de acompanhamento. Ao exame físico está euvolêmica. Nega mudanças nos hábitos alimentares ou ingestão hídrica.
Qual é a hipótese mais provável e a conduta?
Euvolemia com hiponatremia deve levantar a hipótese de SIADH - síndrome da secreção inapropriada de ADH.
É uma síndrome paraneoplásica tipicamente associada ao CARCINOMA DE PULMÃO DE PEQUENAS CÉLULAS. Também ocorre em pneumonia por LEGIONELLA, DOENÇAS DO SNC, ROT e com o uso de algumas medicações psiquátricas (ex: CARBAMAZEPINA).
Cursa com natriurese (sódio urinário > 40), hiponatremia e normovolemia hiposmolar. Outro achado não muito bem elucidado é a hipouricemia.
O tratamento dos quadros crônicos e assintomáticos é feito com o uso de furosemida.
📌 Lembre-se: o Ca pulmonar de pequenas células se associa a diversas síndromes paraneoplásicas. Além da SIADH, pode causar Síndrome de Cushing e Síndrome miastênica de Eaton Lambert.
Qual distúrbio ácido-base é esperado em crises de asma?
Em crises de asma leves-moderadas o distúrbio hidroeletrolítico mais associado é a ALCALOSE RESPIRATÓRIA, devido à hiperventilação.
Entretanto, em casos mais graves associados à fadiga da musculatura respiratória, o paciente pode evoluir com acidose mista, devido à deficiência nas trocas gasosas e hipoxemia.
Paciente politraumatizado vem evoluindo com anúria nas últimas 24h e retenção de escórias nitrogenadas. Ao exame, apresenta ruido rude sisto-diastólico em sopror à ausculta cardíaca.
Qual deve ser a conduta?
Um paciente com uremia aguda apresenta ATRITO PERICÁRDICO ao exame, sinalizando o diagnóstico de PERICARDITE URÊMICA.
Esta consiste em uma indicação de DIÁLISE de urgência, pois há grande risco de evoluir com tamponamento cardíaco (por derrame sanguinolento, já que o pericárdico fica “friável” e esses pacientes frequentemente apresentam diátese hemorrágica).
Quais são os estágios de KDIGO da DRC?
A classificação atual da DRC é baseada na TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR (G) e na EXCREÇÃO URINÁRIA DE ALBUMINA (A):
TFG:
- G1: > 90
- G2: > 60
- G3a: > 45
- G3b: > 30
- G4: > 15
- G5: < 15
Albumina:
- A1: ausente (< 30 mg/dL)
- A2: microalbuminúria (30-300)
- A3: albuminúria (> 300)
Criança de 9 anos apresenta edema de face e de membros inferiores há 1 dia, associado à urina mais escura e de menor volume. Apresentou quadro de faringite há 2 semanas, tratada com amoxicilina. Apresentava PA = 160:100.
Os exames laboratoriais mostravam creatinina = 2.5, hematúria dismórfica, antiestreptolisina O = 750 e C3 diminuído.
Qual é o diagnóstico e o tratamento indicado?
Esse paciente possui um quadro de síndrome NEFRÍTICA: oligúria, edema, HAS e hematúria dismórfica.
O quadro se iniciou 2 semanas após uma faringite, nos direcionando para o diagnóstico da etiologia mais comum de síndrome nefrítica: a GLOMERULONEFRITE PÓS-ESTREPTOCÓCCICA.
Essa hipótese foi confirmada pelos exames laboratoriais: a ASLO positiva (>500) comprova a infecção recente por S.pyogenes e a HIPOCOMPLEMENTEMIA é importante para excluir outras causas.
O tratamento é basicamente SUPORTIVO/ sintomático, já que o quadro é geralmente autolimitado: restrição hidrossalina e FUROSEMIDA.
Utiliza-se antibióticos para prevenir a transmissibilidade, mas eles NÃO influenciam a história natural da doença.
Quais são as indicações de biópsia na glomerulonefrite pós-estreptocóccica e quais são os achados esperados à histopatologia?
Biópsia na GNPE só é necessária para os quadros de evolução atípica ou agressiva, para diagnóstico diferencial:
- Oligúria > 7 dias;
- Complemento NORMAL ou persistentemente diminuído (> 8 SEMANAS);
- PROTEINÚRIA NEFRÓTICA;
- Evidências de doença sistêmica ou de GNRP;
- AUSÊNCIA de evidências laboratoriais de infecção estreptocócica (ASLO e anti-DNAse B negativos).
Os achados esperados são:
- MO: glomerulonefrite proliferativa difusa;
- Corcovas (HUMPS) à microscopia eletrônica, que são patognomônicas;
- Imunofluorescência direta com padrão de CÉU ESTRELADO ou EM GUIRLANDA.
Um menino de 6 anos apresenta atualmente sintomas de faringite, e evoluiu com hematúria macroscópica. Os exames demonstraram presença de dismorfismo eritrocitário, leve proteinúria, níveis de creatinina normais e dosagem de C3 sérico normal.
Qual é a principal HD?
Não se engane: essa criança apresenta HEMATÚRIA MACROSCÓPICA ASSINTOMÁTICA com sistema do complemento NORMAL. O quadro mais provável é de Doença de Berger (também chamada de nefropatia por IgA).
📌 Lembre-se que a glomerulonefrite pós-estreptocócica possui um período de incubação > 1 semana para as faringites e > 2 semanas para as piodermites, antes do surgimento do quadro renal. Ou seja, mesmo do ponto de vista cronológico, a GNPE não era uma opção de diagnóstico.
Menino de 5 anos iniciou há 20 dias quadro de edema em rosto, abdome e MMII com piora gradual. Ao acordar, apresente edema periorbitário intenso, que alivia ao longo do dia. É levado hoje ao PA com história de febre alta e dor abdominal há 2 dias. Nega infecção recente ou uso de medicamentos. Ao exame,apresenta abdome globoso, difusamente doloroso, com descompressão brusca positiva; sem visceromegalias, porém apresentando macicez móvel.
Qual é a hipótese diagnóstica mais provável?
Esse paciente apresenta quadro clássico de SÍNDROME NEFRÓTICA, provavelmente por LESÕES MÍNIMAS, por se tratar de uma criança. Além disso, na vigência de um episódio febril, apresenta exame abdominal indica a presença de ascite e sinais de peritonite.
Na síndrome nefrótica há um estado de imunossupressão devido à perda urinária de imunoglobulinas e fatores do complemento. Uma das repercussões clássicas é a ocorrência de PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA. Nesses pacientes, diferentemente do que ocorre nos cirróticos, o principal agente é o PNEUMOCOCO.
Ambos os diagnósticos devem ser confirmados, com a proteinúria de 24h (>3,5g) e paracentese.
Quais são as principais causas de síndrome nefrótica?
- Crianças: doença de lesões mínimas
- Adultos: glomerulosclerose segmentar focal (GESF
- Idosos: glomerulopatia membranosa
Quais são as principais etiologias secundárias de nefropatia por lesões mínimas?
Linfoma de Hodgkin e uso de AINES (também ampicilina e rifampicina)
Na suspeita de GNPE, qual exame pode confirmar piodermite prévia por estreptococcus?
Nas infecções estreptocócicas da pele, o exame laboratorial mais sensível é a dosagem do anticorpo anti-DNase B.
Paciente de 17 anos de idade, sexo feminino, é levada ao pronto socorro devido à urina avermelhada e espumosa. Ao exame, apresenta edema com cacifo positivo em membros inferiores e PA normal.
Nos exames laboratoriais: Cr = 4,8 / IgA com títulos normais / queda acentuada de fração C3 do complemento / proteinúria 3+, hematúria microscópica com hemácias eumórficas e cilindos hialinos.
Qual é a HD e quais seriam os achados esperados à biópsia renal?
Não se engane: essa paciente apresenta quadro de proteinúria nefrótica e hematúria SEM dismorfismo eritrocitário.
Síndrome NEFRÓTICA com CONSUMO DO COMPLEMENTO é típico da GLOMERULONEFRITE MESANGIOCAPILAR (também chamada de mebranoproliferativa).
Ela pode se apresentar como uma síndrome mista, nefrítico-nefrótica, como nesse caso. À microscopia, há espessamento da membrana basal capilar e expansão mesangial com sinal do duplo contorno.
📌 É o principal diagnóstico diferencial da GNPE, tendo como diferenças o fato de que cursa com proteinúria nefrótica e hipocomplementemia PROLONGADA (>8 semanas).
📌 Vale ressaltar que há associação com a hepatite C (mesangioCapilar)
Paciente de 1 ano está internado à 1 semana devido à pneumonia, tratada com amoxicilina. Evoluiu com letargia, palidez cutaneomucosa e diminuição do débito urinário.
Ao exame físico, apresenta: Fc = 180, FR = 32, PA = 160:110. Exames laboratoriais: Hb = 5,6 / presença de esquizócitos ao esfregaço / Plaquetas = 60.000 / Cr = 1,5.
Qual é o diagnóstico?
Apesar de ser mais comum após gastroenterites invasivas por E.coli entero-hemorrágica (SHU O157:H7) e Shigella, a SÍNDROME HEMOLÍTICO-URÊMICA também pode ocorrer após infecção por pneumococo!
Apesar de o quadro estar “disfarçado”, perceba que essa criança apresenta ANEMIA HEMOLÍTICA MICROANGIOPÁTICA, PLAQUETOPENIA e IRA OLIGÚRICA, completando a tríade clássica da SHU! Ela ocorre devido a lesão do endotélio glomerular por toxinas bacterianas.
📌 Se fosse apenas um sepse, não esperaríamos a anemia!
O tratamento é suportivo e NÃO devem ser utilizados antibióticos, que poderiam agravar o quadro
Qual é a patogênese e como deve ser feito o tratamento da anemia na DRC?
O principal fator envolvido na patogênese da anemia na DRC é a DEFICIÊNCIA DE ERITROPOETINA, que normalmente é produzida por células do insterstício renal em resposta à hipóxia tecidual.
Além disso, contribuem para a anemia a presença de toxinas dialisáveis e síndromes carenciais (principalmente ferropenia).
É normocítica, normocrômica e hipoproliferativa.
Para o tratamento, o primeiro passo é excluir e, se necessário, tratar anemia ferropriva associada (dosagens de ferritina e saturação da transferrina).
Após a correção da cinética do ferro, é feita a REPOSIÇÃO DE ERITROPOETINA recombinante, por viai subcutânea, com meta de Hb > 10.
Qual é o padrão laboratorial e imaginológico da osteíte fibrosa cística?
A osteíte fibrosa cística (ou “osteodistrofia renal”) é a forma mais comum de doença óssea associada à DRC, e se caracteriza por um ALTO TURNOVER ÓSSEO.
Cursa com HIPERPARATIREOIDISMO SECUNDÁRIO (PTH > 450), devido à RETENÇÃO DE FOSFATO (P > 6,5) e DEFICIÊNCIA DE CALCITRIOL, que culminam em HIPOCALCEMIA.
O aumento do PTH determina aumento da atividade osteoclástica, e deposição de colágeno frouxo sobre os ossos (woven bone) → as manifestações incluem dor lombar, fraturas patológicas, prurido, fraqueza, e aumento da fosfatase alcalina. Ao RX, a REABSORÇÃO SUBPERIOSTEAL DAS FALANGES DISTAIS é patognomônica.
📌 O TRATAMENTO com reposição de cálcio ou com quelantes de fosfato REDUZ O PTH e pode converter para uma doença de BAIXO TURNOVER ÓSSEO, a DOENÇA ÓSSEA ADINÂMICA. A outra doença com baixo turnover é a osteomalácia relacionada à deposição de alumínio no osso (antigamente, o alumínio era usado na diálise).
Quais são as etiologias clássicas de necrose tubular aguda?
A NTA ocorre por obstrução ao fluxo tubular renal, devido a células lesadas do endotélio tubular. As causas consistem basicamente em isquemia e substâncias nefrotóxicas (contraste, drogas, mioglobina).
Mnemônico CARAI:
- Contraste
- Aminoglicosídeos
- Rabdomiólise
- Anfotericina B
- Choque → a etiologia isquêmica é a principal; decorre de uma IRA pré-renal grave e/ou prolongada
Outras causas, menos comuns, incluem etilenoglicol, paraquat e venenos de cobras e aranhas.
📌 Lembre-se que a NTA é responsável por >80% dos casos de IRA intrínseca
Quais são as etiologias clássicas de nefrite intersticial alérgica?
A nefrite intersticial alérgica consiste em um processo inflamatório do interstício renal secundário a alergia medicamentosa.
Os fármacos classicamente envolvidos são do mnemônico BRAS:
- Beta-lactâmicos
- Rifampicina
- AINEs
- Sulfas
Quais são as etiologias clássicas de necrose de papila renal?
A necrose de papila é usualmente a complicação de algumas doenças sistêmicas que determinam lesão do parênquima renal e comprometimento isquêmico grave da região medular. A papila é o ponto de perfusão terminal no rim (que ocorre à partir do córtex, em direção à medula) e, portanto, está mais sujeita a isquemia
As etiologias são PHODA:
- Pielonefrite
- Hemoglobinopatia S (falciforme)
- Obstrução urinária
- Diabetes
- AINEs
Paciente de 72 anos apresenta náuseas, vômitos e diarréia profusa há 7 dias. Familiares relatam recusa alimentar e redução significativa do volume urinário. Ao exame, encontra-se sonolenta e desidratada; Fc = 120 bpm e PA = 100:60 mmHg; o abdome é difusamento doloroso, sem sinais de peritonite.
Exames laboratoriais mostram:Cr = 2,0 / Ur = 120 / Na = 138 / K = 3,5 / Osmolalidade urinária = 720 / sedimento urinário sem alterações.
Qual é a HD para insuficiência renal?
Nessa idosa com hipovolemia, a IRA pode ser de causa pré-renal, por hipovolemia, ou pode já ter se instalado uma necrose tubular aguda. Para definirmos a etiologia, é necessário atenção à bioquímica urinária.
A urina está com alta osmolaridade, de 720. A relação uréia/creatinina é > 40. Além disso, há redução do potássio sérico, sugerindo hiperaldosteronismo.
Esses dados nos sugerem que a etiologia seja PRÉ-RENAL, em que há ativação do SRAA e reabsorção intensa de água e sódio pelos túbulos, culminando em uma urina muito concentrada, com sódio urinário baixo (<20) e fração de excreção de sódio também baixa (<1%).
Uma adolescente de 15 anos apresentou quadro de amigdalite e foi medicada com amoxicilina. Vinha evoluindo bem, até 1 semana após o início do antibiótico, quando iniciou com febre, mal-estar, rash cutâneo e redução do volume urinário. Os exames laboratoriais mostraram Cr = 2,37 / Ur = 51 / sedimento urinário: micro-hematúria sem dismorfismo ou cilindros hemáticos; leucocitúria com numerosos eosinófilos e raros cilindros leucocitários.
Qual é o diagnóstico mais provável e a conduta?
Paciente com IRA, febre, RASH cutâneo e EOSINOFILÚRIA após uso de medicamento (beta-lactâmico) constitui o quadro clássico da NEFRITE INTERSTICIAL ALÉRGICA.
Deve-se suspender a medicação e avaliar a evolução; em quadros graves, pode-se utilizar corticosteróides sistêmicos.
📌 Não se confunda: apesar da amigdalite recente, a paciente não apresenta os achados esperados para uma glomerulonefrite pós-estreptocóccica, como hipertensão arterial, edema ou hematúria dismórfica com presença de cilindros.
Um homem de 26 anos procurou atendimento devido à mialgia, fraqueza muscular e urina escurecida. Participou de maratona há 3 dias. Ao exame: BEG, corado, desidratado, PA = 120:100 mmHg, dor à palpação de membros inferiores.
Qual é a hipótese diagnóstica para o caso?
Quais são os achados laboratoriais esperados?
Mialgia + urina escura após atividade física intensa deve nos remeter à RABDOMIÓLISE, um quadro de necrose aguda de um grande número de células musculares (espera-se CPK > 1000). Há, então, liberação de grande quantidade de mioglobina, que deixa a urina pigmentada (mioglobina e grupo heme positivo na urina) e que pode causar necrose tubular aguda, evoluindo com IRA.
Há também liberação de íons intracelulares, causando: HIPERCALEMIA, HIPERMAGNESEMIA, HIPERFOSFATEMIA e HIPOCALCEMIA (lembre-se que o cálcio vai no sentido inverso do fosfato, pois se combina ao excesso de fosfato liberado e precipita nos tecidos).
Tratamento = principalmente HIPER-HIDRATAÇÃO. Podemos utilizar também bicarbonato para alcalinizar a urina e manitol.
Homem de 64 anos, hipertenso e diabético, procura atendimento após longo período sem uso de medicamentos. Apresenta PA = 150:110 mmHg, estertores crepitantes em bases pulmonares, edema de MMII, redução do pulso pedioso à direita e diminuição da sensibilidade vibratória nos pés. Os exames laboratoriais mostram Na = 141 / K = 4,0 / Cr = 1,0 / Ur = 56.
É iniciado tratamento com metformina, furosemida, captopril e atenolol. Após 10 dias, colheu novos exames que mostraram Cr = 1,87 e Ur = 105.
Qual é a HD e a propedêutica indicada para confirmação?
Temos um paciente com múltiplos fatores de risco para aterosclerose, que evoluiu com IRA após início de IECA. Esse quadro é clássico de NEFROPATIA ISQUÊMICA POR ESTENOSE DE ARTÉRIAS RENAIS BILATERAL.
Nesses pacientes, a introdução do IECA desequilibra os mecanismos adaptativos: reduz a PA sistêmica e a vasoconstrição da arteríola eferente do glomérulo, que é promovida pela angiotensina. Com isso, provoca queda da perfusão renal e da TFG (descompensação aguda da função renal).
O diagnóstico pode ser inicialmente pesquisado por USG com doppler das artérias renais ou cintilografia. A confirmação é feita com angio-TC ou arteriografia.
Mulher de 78 anos apresentou SCA e foi submetida à intervenção coronariana percutânea. Alguns dias após, na enfermaria, evoluiu com injúria renal aguda. Ao exame, observa-se livedo reticularis e cianose fixa em dois de seus pododáctilo; ao exame de fundo de olho, foram notados êmbolos de aspecto amarelado nas arteríolas retinianas (placas de Hollenhorst). O hemograma mostrou eosinofilia.
Qual é a HD?
Paciente evoluiu com IRA após a realização de um procedimento endovascular. Apresentou também os achados típicos de placas de Hollenhorst e EOSINOFILIA, sugerindo fortemente o diagnóstico de ATEROEMBOLISMO.
Ele ocorre por pequenos fragmentos gordurosos que se desprendem devido à laceração de uma grande placa ateromatosa (normalmente na aorta abdominal) e se alojam na microvasculatura de órgãos e dos membros inferiores, cuja biópsia mostraria os cristais de colesterol causando a obstrução (fissuras biconvexas).
📌 Lembre-se de algumas particularidades laboratoriais do ateroembolismo: geralmente cursa com eosinofilia/eosinofilúria, fazendo diagnóstico diferencial com NIA; pode cursar com HIPOCOMPLEMENTEMIA.
📌 Outro diagnóstico diferencial importante para IRA após angiografia cardíaca é a nefropatia por contraste, causando NTA.
O que é a Síndrome de Gitelman?
Quais são os achados laboratoriais esperados nos exames desses pacientes?
A síndrome de Gitelman consiste em uma doença autossômica recessiva em que há falha no cotransportador de Na-Cl no túbulo contorcido DISTAL. O quadro clínico é o mesmo de uma intoxicação por TIAZÍDICOS.
Lembre-se, primeiramente, que o TCD reabsorve sódio OU cálcio.
Nesse caso, a incapacidade em reabsorver sódio promove aumento da reaborção de cálcio e HIPOCALCIÚRIA → cálcio urinário baixo.
Além disso, o aporte excessivo de NaCl à mácula densa, tornando o filtrado hiperosmolar, ativa o SRAA. A aldosterona irá atuar no túbulo coletor na tentativa de tentar reabsorver o excesso de sódio, gerando HIPOCALEMIA e ALCALOSE METABÓLICA, que se associam também a HIPOMAGNESEMIA.
O que é a Síndrome de Bartter?
Quais são os achados laboratoriais esperados nos exames desses pacientes?
A síndrome de Bartter consiste em uma doença AUTOSSÔMICA RECESSIVA em que há falha no cotransportador de Na-K-2Cl na ALÇA DE HENLE. O quadro clínico é o mesmo de uma intoxicação por FUROSEMIDA.
Lembre-se que a porção ascendente da alça de Henle é impermeável à água, e a reabsorção isolada de solutos nesta porção permite concentrar o interstício medular. Isto, por sua vez, é o que permite a atuação do ADH no túbulo coletor: abre canais de aquaporina e, por diferença osmótica, ocorre reabsorção de água livre.
Deste modo, o prejuízo do carreador Na-K-2Cl gera excreção aumentada de NaCl na urina e, além disso, impede indiretamente a ação do ADH. O resultado disso é a ocorrência de POLIÚRIA e hipovolemia.
Além disso, o filtrado chegará à mácula densa hiperosmolar, causando ativação do SRAA → HIPOCALEMIA e ALCALOSE METABÓLICA.
Também no TCD, o aporte excessivo de sódio irá prejudicar a reabsorção de cálcio, causando HIPERCALCIÚRIA (cálcio urinário elevado) e HIPOCALCEMIA .
Quais são os achados esperados na síndrome de lise tumoral?
Qual é a conduta para prevenção?
Na síndrome de lise tumoral, há destruição de células neoplásicas (sobretudo em neoplasias hematológicas), com grande liberação de ácidos nucleicos e de íons intracelulares.
Cursa, portanto, com HIPERCALEMIA e HIPERFOSFATEMIA, que são os ións mais abundantes no meio intracelular.
O fosfato se combina ao cálcio circulante, formando fosfato de cálcio. Portanto, há HIPOCALCEMIA associada.
Por fim, a liberação de ácidos nucléicos (purinas) causa HIPERURICEMIA.
Os cristais de ácido úrico e de fosfato podem obstruir os túbulos renais, causando nefropatia obstrutiva intratubular e IRA OLIGÚRICA.
A prevenção deve ser feita com HIDRATAÇÃO abundante; agente hipouricemiantes (alopurinol ou rasburicase); e bicarbonato para alcalinização da urina
Menina de 12 anos apresenta cefaléia há 6 meses. Ao exame, apresenta peso e estatura no percentil 50, PA = 100:50 mmHg. A TFG é normal e o sedimento urinário sem alterações. USG renal com doppler mostrou diminuição de fluxo na artéria renal à esquerda, de 70%.
Qual é o diagnóstico e aconduta?
Hipertensão arterial em crianças tem grande probabilidade de ser secundária, ou seja, associada a uma doença identificável.
O Doppler de artérias renais é um dos exames de rastreio para a ESTENOSE DE ARTÉRIAS RENAIS, que promove hipertensão renovascular por hiperativação do SRAA (hiperaldosteronismo hiperreninêmico). A outra opção de exame seria a cintilografia renal com captopril.
Essa criança já apresentou rastreio positivo, de modo que agora o diagnóstico precisa ser CONFIRMADO com ANGIO-TC, RNM ou com arteriografia (padrão-ouro).
Nessa faixa etária (sexo feminino, crianças e adolescentes), a etiologia mais provável para a estenose é a DISPLASIA FIBROMUSCULAR. Quando o quadro é unilateral, como este, a função renal normalmente está preservada. Cerca de 20% dos pacientes apresentam alcalose metabólica e hipocalemia.
O tratamento de escolha é a ANGIOPLASTIA.
Paciente de 50 anos, do sexo feminino, foi internada com quadro de anorexia, náuseas, vômitos, fraqueza muscular, poliúria e polidipsia. Durante a investigação, evidenciou-se: glicosúria a despeito de glicemia normal, aminoacidúria, bicarbonatúria com acidose metabólica, hiperfosfatúria, hiperuricosúria e hipocalemia.
Qual é o diagnóstico? Quais etiologias pode se associar a essa síndrome?
Essa paciente apresenta falha generalizada nas funções de resborção do TÚBULO CONTORCIDO PROXIMAL: glicose, fosfato, bicarbonato e ácido úrico.
A fosfatúria é responsável por boa parte das manifestações clínicas, devido às alterações no metabolismo do cálcio e fósforo. Por isso, pode cursar com osteomalácia, fraqueza muscular, náuseas e vômitos (como queixou a paciente).
A perda de bicarbonato configura a ACIDOSE TUBULAR RENAL do tipo 2 (proximal), enquando o aporte excessivo de HCO3 ao TCD promove perda de potássio, explicando a HIPOCALEMIA.
O nome dado a essa “falha generalizada” do TCP é SÍNDROME DE FANCONI. A causa mais comum em adultos é o MIELOMA MÚLTIPLO, mas também pode se associar a amiloidose, saturnismo e doença de Wilson.
Paciente de 24 anos foi vítima de acidente de moto com fratura exposta do fêmur. Apresentou hipotensão grave refratária à ressuscitação volêmica. No PO de correção da fratura, apresentou diminuição da diurese. Houve piora dos níveis de creatinina de 0,6 (1 DPO) para 6,2 (5DPO). A ureia era de 210 e a fração excretada de sódio = 7%.
Qual é a etiologia mais provável para a IRA desse paciente?
Este paciente apresenta quadro de IRA (elevação aguda da creatinina) com padrão de lesão renal INTRÍNSECA: aumento da fração excretada de sódio (>1%), evidenciando o déficit na capacidade reabortiva dos túbulos renais.
Ele possui duas etiologias possíveis para esse quadro: rabdomiólise e isquemia renal grave prolongada.
📌 Lembre-se: o tipo mais comum de IRA em pacientes críticos é a IRA intrínseca por necrose tubular aguda.
Paciente masculino de 65 anos é portador de DRC secundária à nefropatia diabética. Seus exames de rotina mostraram glicemia = 121, depuração da creatinina (fórmula CKD-EPI): 79 mg/24h e albuminúria = 73. Em qual estágio de KDIGO o paciente se encontra?
O paciente apresenta TFG > 60 → G2.
Apresenta também microalbuminúria (30-300) → A2
Quais são os critérios diagnósticos de DRC?
DRC é definida como uma anormalidade funcional ou estrutural do rim mantida por PELO MENOS 3 MESES.
A anormalidade funcional pode se traduzir por TFG < 60, presença de microalbuminúria ou anormalidades do sedimento urinário.
Já a anormalidade estrutural pode ser avaliada por exames de imagem. A tendência na DRC é que os rins fiquem diminuídos de tamanho e com perda da diferenciação corticomedular.
No entanto, não se esqueça de que existem causas de DRC com rins aumentados: diabetes, doença policística renal, anemia falciforme, amiloidose, esclerodermia, nefropatia por HIV, nefropatia obstrutiva crônica, mieloma múltiplo
Do ponto de vista epidemiológico, quais são as principais causas de DRC no Brasil e no Mundo?
O DIABETES mellitus é a principal causa de DRC no mundo. A prevalência da DRC vem aumentando em proporção direta ao aumento na prevalência de DM, relacionada à epidemia de obesidade e ao envelhecimento populacional.
No Brasil, a principal causa de DRC é nefropatia HIPERTENSIVA.
Um homem tabagista de de 25 anos, previamente hígido, procurou o PA queixando-se de tosse com hemoptóicos e “inchaço”. Ao exame, apresentava PA = 160:100, edema depressível bipalpebral e de membros inferiores. Exames laboratoriais mostraram retenção de escórias nitrogenadas e hematúria microscópica com presença de cilindros hemáticos.
Foi realizada, então, biópsia renal, que mostrou presença de crescentes em > 50% dos glomérulos, e imunofluoerescência de padrão linear.
Qual é o diagnóstico e a conduta?
Temos uma síndrome PULMÃO-RIM, cuja biópsia evidenciou crescentes em >50% dos glomérulos, ou seja: GLOMERULONEFRITE RAPIDAMENTE PROGRESSIVA.
Nosso provável diagnóstico é de SÍNDROME DE GOODPASTURE, uma doença rara que cursa com a deposição de auto anticorpos contra a MEMBRANA BASAL. Por isso, a imunofluorescência é LINEAR.
Por ser um quadro muito maligno, a conduta consiste em pulsoterapia de corticóides + imunossupressores, ou plasmaférese.
📌 Nossos principais diagnósticos diferenciais de síndrome pulmão-rim incluem as vasculites ANCA+: granulomatose de Wegener, poliangeíte microscópica e síndrome de Churg-Strauss (nesta última, o acometimento renal não é tão grave). Elas são consideradas PAUCI-IMUNES, pois não há depósitos glomerulares e a imunofluorescência é negativa.