CLM - Cardiologia Flashcards
Semiologia cardíaca, cardiopatias valvares, arritmias, parada cardiorrespiratória, síndrome coronariana aguda, insuficiência cardíaca
Drogas que tem impacto sobre a sobrevida bem estabelecido na síndrome coronariana aguda
AAS, beta-bloqueador e clopidogrel (ABC)
- Lembre-se que o beta-bloq deve ser propranolol, atenolol ou metoprolol; carvedilol NÃO deve ser utilizado
Um paciente de 65 anos de idade, hipertenso, diabético e dislipidêmico procurou o PA pois evoluiu com dor torácica em aperto com irradiação para o dorso e braço esquerdo, desencadeado por esforço físico. Relata que após sentar-se e se acalmar, a dor passou espontaneamente. Relata episódios prévios semelhantes, cuja frequência aumentou na última semana.
No momento do atendimento, estava assintomático. O ECG demonstra ondas T de polaridade invertida e morfologia simétrica em D2, AVL, V5 e V6. PA = 130:90 mmHg; Fc = 90 bpm; ausculta cardíaca sem alterações.
Qual é o diagnóstico e a conduta?
Esse paciente apresenta dor anginosa típica, sugerindo suboclusão coronariana. O ECG demonstra alterações sugestivas de isquemia: ondas T de polaridade invertida e simétricas nas derivações da esquerda. Já temos um diagnóstico de SÍNDROME CORONARIANA AGUDA SEM SUPRA DE ST.
Deve-se, então, DOSAR MARCADORES DE NECROSE para diferenciar entre angina instável e IAM sem supra.
Em seguida, devem ser utilizados escores clínicos para avaliação da gravidade (TIMI ou GRACE) e para direcionar a conduta. Pacientes de médio/alto risco (como esse) devem ser internados e monitorizados por 24-48h, com realização de ECG e marcadores de necrose seriados. A conduta farmacológica imediata consiste no uso de AAS, clopidogrel, heparinas e beta-bloqueadores. Nitratos são os antianginosos de primeira escolha.
A maioria dos casos será encaminhada para cateterismo e ANGIOPLASTIA PRECOCE (<24h): pacientes de risco médio/alto, presença de infra de ST ao ECG, elevação de troponinas.
Em quadros de instabilidade hemodinâmica, TV ou FV ou dor refratária faz-se a angioplastia imediata (<2h).
📌 Lembre-se que na suboclusão NUNCA devemos fazer trombolíticos (aumento paradoxal da mortalidade).
Qual é o trio que promove aumento de sobrevida na ICC com fração de ejeção reduzida?
O famoso “trio” da ICFER é:
- BB específicos: carvedilol, bisoprolol ou succinato de metoprolol → não pode atenolol e nem tartarato de metoprolol;
- IECA (ou BRA);
- Espironolactona.
Porém, outras drogas TAMBÉM: podem reduzir a mortalidade:
- Ivabradina;
- Sacubitril-valsartana;
- iSGLT2;
- Hidralazina + nitrato (principalmente em negros).
📌 Ou seja, DIGITÁLICOS, DIURÉTICOS e BCC NÃO AUMENTAM a sobrevida!!!
Paciente apresentou SCA, foi realizado manejo inicial e manteve-se hemodinamicamente estável. 72h depois evoluiu com PIORA SÚBITA DO QUADRO, apresentando sopro holossistólico em BEE baixa, hipotensão e estertores crepitantes no pulmão.
Qual é a principal HD e o tratamento?
Note que, após um IAM, esse paciente evoluiu subitamente com sinais de insuficiência ventricular esquerda: CHOQUE e EDEMA AGUDO DE PULMÃO. Considerando também o sopro HOLOSSISTÓLICO, o mais provável é que tenha ocorrido RUPTURA DO SEPTO INTERVENTRICULAR, uma complicação mecânica do IAM anterior (coronária DA).
O tratamento é SEMPRE CIRÚRGICO
Obs: o principal diagnóstico diferencial é a ruptura de músculo papilar, que mais comumente decorre de IAM inferior. Nesse caso, o sopro é apenas sistólico, mas muitas vezes a distinção só é possível com ECO.
Quais são os exames iniciais para investigação de ANGINA ESTÁVEL?
São feitos TESTES PROVOCATIVOS DE ISQUEMIA:
- O exame de escolha inicial é o TESTE ERGOMÉTRICO. Mas atenção: ele só pode ser feito para pacientes com ECG de base normal (logo, não pode se tiver BRE) e com capacidade de fazer exercício físico.
- Se o ECG de base for anormal, opta-se por CINTILOGRAFIA ou ECO de esforço.
- Se o paciente não consegue fazer exercício, utiliza-se estresse farmacológico: cintilografia com dipiridamol ou adenosina; ou ECO com dobutamina.
Indicações de cineangiocoronariografia (CATE) na angina estável
- Pacientes refratários ao tratamento farmacológico
- Pacientes de ALTO RISCO nos exames provocativos: infra > 2 mm ou que dura > 5 min; arritmia ventricular; distúrbio de condução; déficit inotrópico (PAS não se eleva); isquemia no estágio 1 de Bruce (3 min andando a 4m/min)
Contraindicações ao uso de trombolítico
- PAS > 185 ou PAD > 110
- Sangramento ativo (exceto menstruação)
- Coagulopatia
- Dissecção aórtica
- Tumor craniano, malformação arteriovenosa ou AVE hemorrágico prévios
- Nos últimos 3 meses: AVE isquêmico ou TCE
📌 Lembre-se que, no caso de SCA, os trombolíticos só costumam ser indicados em até 12h do início dos sintomas (depois disso, a necrose já está estabelecida). São escolhidos quando a angioplastia não é possível, com tempo porta-agulha recomendado de 30 minutos
Paciente com supra de ST em D2, D3 e AVF, apresentando-se com hipotensão arterial, turgência jugular e pulmões limpos. Qual é o diagnóstico mais provável e a conduta?
As derivações com supra evidenciam um infarto de parede inferior. Mas atenção: esse paciente apresenta quadro clínico de falência de ventrículo direito! O INFARTO DE VD frequentemente se associa ao inferior, pois ambas as regiões são supridas pela CORONÁRIA DIREITA. Pode ser confirmado com a solicitação de V3R e V4R.
Existem algumas limitações para o tratamento no infarto de VD:
- São CONTRAINDICADAS drogas que reduzem a pré-carga ventricular: nitratos, morfina, beta-bloq e diuréticos (esse conceito é muito cobrado nas provas!).
- É necessário otimizar o retorno venoso: fazer REPOSIÇÃO VOLÊMICA seguida de reperfusão.
Contraindicações para o uso de beta-bloqueadores na SCA
- Uso de cocaína → causa vasoconstrição coronariana exacerbada;
- PAS < 100;
- Bradicardia (FC < 60 bpm);
- BAV 2º ou 3º grau;
- DPOC ou broncoespasmo graves;
- Infarto de VD;
- Sinais clínicos de falência de VE;
- Killip II, III ou IV.
📌 Cuidado aqui PO##%! Killip II, que cursa com B3 ou estertores, parece ser “de boa” mas já indica uma congestão que contraindica o beta-bloqueador!
Descreva a conduta inicial de um paciente com SCA
Os passos iniciais são MOVENDO: Monitor (obter ECG), Oxímetro, Veia e Desfibrilador
- O2 se Sat < 92%
- Aspirina (325 mg) + clopidogrel + heparina
- Para a dor: nitrato sublingual. Progredir com nitroglicerina venosa ou morfina em caso de dor refratária.
- Beta-bloqueadores (carvedilol não!)
- Estatina (após estabilização)
- IECA
Descreva a conduta específica para os pacientes com SCA e supra de ST
ANGIOPLASTIA o mais rápido possível: tempo porta balão de 90 min, ou até 120 min se transferência for necessária.
Se não é possível transferir para angioplastia em tempo hábil, fazer TROMBOLÍTICO com tempo porta-agulha de 30 min. A tenecteplase é a opção preferencial.
- Para os pacientes em choque, com IC grave ou contraindicação ao uso de trombolítico, preferir a angioplastia independente do tempo.
Diagnósticos diferenciais da SCA em caso de supra de ST
- PERICARDITE: supra côncavo difuso + infra de PR.
- ANGINA VASOESPÁSTICA (Prinzmetal): geralmente em jovens tabagistas ou usuários de cocaína. O supra desaparece em até 30 minutos. Trata-se com BCC e nitrato → NÃO pode dar BB.
- CARDIOPATIA ISQUÊMICA POR ESTRESSE (Takotsubo): normalmente em mulheres pós-menopausa. Tem uma clínica muito parecida com o IAM (inclusiva com supraST e elevação de enzimas), mas as coronárias são normais ao CATE (este revela o aspecto de “balonamento apical”). O quadro posteriormente é revertido.
Paciente de 52 anos, no terceiro dia após um IAM de parede inferior. Ao exame físico, apresentava quarta bulha, hipotensão arterial e irregularidade do ritmo cardíaco, caracterizada por pausas ventriculares precedidas ritmicamente por uma redução progressiva da intensidade da primeira bulha.
Ao ECG, havia prolongamento sucessivo do intervalo PR e eventuais ondas P não seguidas por QRS.
Qual é o diagnóstico?
Tanto a escuta como o ECG desse paciente demonstram o fenômeno de Wenckebach: aumento progressivo do intervalo PR acompanhado de redução progressiva do intervalo RR, culminando em uma falha de transmissão atrioventricular.
Trata-se, portanto, de BAV de 2 grau Mobitz 1, uma forma benigna e que tem boa resposta ao uso de atropina.
📌 O IAM de parede inferior, como no caso, está muito associado aos bloqueios atrioventriculares. A ocorrência de BAVT é um marcador de mal prognóstico
Quais são os critérios de INSTABILIDADE associada a taquiarritmia?
Qual é a conduta nesses casos?
- Dor torácica
- Congestão pulmonar (dispneia)
- Hipotensão arterial grave
- Alteração do nível de consciência
Sempre que houver instabilidade, a conduta é a reversão ELÉTRICA imediata, com CARDIOVERSÃO (normalmente com 100J).
Quais são os critérios de CHADSVAS?
Qual é sua aplicabilidade clínica?
CHA2DS2VAS:
- Cardiopatia = 1
- Hipertensão = 1
- Idade: > 65 = 1 / > 75 = 2
- Diabetes = 1
- Stroke (TEP, AIT, AVE) = 2
- Vasculopatia (DAP, IAM) = 1
- *Sexo feminino = 1 (apenas se já pontuar em outra categoria)
Uma pontuação maior ou igual a 2 indica anticoagulação permanente após um evento de fibrilação atrial.
Paciente de 65 anos com HAS, queixa-se de palpitações há 12 horas. Apresentava-se consciente, PA = 120:80 mmHg, Fc = 150 bpm.
Ao ECG, apresentava ondas F (em serrote).
Qual é o diagnóstico e a conduta?
Trata-se de FLUTTER ATRIAL.
No flutter, a cardioversão sincronizada com 50J é a primeira escolha, pois a eficácia é maior do que com a reversão medicamentosa. Em seguida, deve-se anticoagular o paciente devido ao período do “átrio atordoado” (cerca de 4 semanas após a cardioversão).
📌 No paciente estável, fazemos o mesmo procedimento dos pacientes com fibrilação atrial:
- Se optarmos pela cardioversão e o delta T for > 48h, precisamos de realizar ECOTE para excluir trombo intracavitário ou anticoagular por 4 semanas.
- Além disso, aplicamos o CHADSVASC para avaliar indicação de anticoagulação contínua.
Paciente de 62 anos referindo sensação de palpitações há 1 semana. Apresenta-se consciente, eupneico, Fc = 128 bpm, ritmo irregular. ECG mostrou taquiarritmia de QRS estreito, iRR irregular e ausência de ondas P.
Qual é o diagnóstico e a conduta?
Trata-se de FIBRILAÇÃO ATRIAL.
Para determinar a conduta, o passo inicial é sempre avaliar se há sinais de instabilidade, que determinam a cardioversão elétrica imediata. Em segundo lugar, deve-se avaliar se a FA se iniciou há mais de 48h, tempo que já é suficiente para a formação de trombo intracavitário.
O controle de frequência é a estratégia preferida na maioria dos quadros, com o uso de BETA-BLOQUEADORES.
Caso opte-se por controle de ritmo, com cardioversão, seria adequado fazer um ECO transesofágico para pesquisa de trombo. Se não for possível, anticoagular por 3-4 semanas antes de tentar cardioversão.
📌 Não há superioridade clara entre controle de ritmo ou de FC. O controle de ritmo é mais interessante em pacientes que tenham boas chances de manter o ritmo regular após a cardioversão elétrica (preferível) ou química, como naqueles jovens hígidos em um primeiro episódio de FA e de curta duração. Porém, como a maioria dos pacientes com FA apresentam uma cardiopatia de base, costumamos optar pelo controle da FC.
Qual é o tratamento de primeira linha para FA crônica estável?
Prefere-se o CONTROLE DE FREQUÊNCIA, com beta-bloq ou BCC + ANTICOAGULAÇÃO, com varfarina ou dabigatran
Mulher de 20 anos queixa-se de palpitações precordiais há 30 minutos. Nega comorbidades, mas refere episódio semelhante no ano interior. Está eupneica, sem sinais de baixo débioto.
ECG mostra taquiarritmia de QRS estreito e iRR regular, e não é possível visualizar onda P em D1 e D2.
Qual é a HD e a conduta?
Mulher jovem com taquiarritmia regular, sem ondas P: trata-se provavelmente de TAQUICARDIA SUPRAVENTRICULAR PAROXÍSTICA, sendo a reentrada nodal o mecanismo mais frequente.
No paciente estável, a conduta inicial consiste em MANOBRA VAGAL.
Em refratários, tenta-se a reversão farmacológica com ADENOSINA venosa (bólus de 6 mg), que inibe o nó atrioventricular
O que é a síndrome de Wolff-Parkinson-White?
A síndrome de Wolff-Parkinson-White consiste em um fenômeno de pré-excitação ventricular em ritmo sinusal. É caracterizada por iPR CURTO (< 3 quadradinhos) + ONDAS DELTA (ramo ascendente inicial alargado e lento na onda R).
Ela demonstra a presença de uma VIA ACESSÓRIA, associada ao desenvolvimento de taquicardia supraventricular paroxística por reentrada em via acessória.
Também é frequente a associação com fibrilação atrial, que nesse caso pode degenerar para fibrilação ventricular e morte súbita (se os estímulos forem conduzidos predominantemente pela via acessória).
Paciente encontrado caído na calçada, irresponsivo, sem pulso em grandes artérias. Qual é a conduta?
Temos um caso de PCR em ambiente extra-hospitalar. Deve-se CHAMAR AJUDA, pedir que alguem busque um DEA e iniciar o BLS, na sequência CABD.
- C: iniciar compressões. Profundidade de 5-6 cm e frequência de 100-120/minuto.
- A: retificar a via aérea
- B: iniciar ventilações, em séries de 30:2. Se 2 socorristas, revezar a cada ciclo de 5 séries.
- D: desfibrilar se o ritmo for chocável (TV/FV) e retomar com novo ciclo de RCP.
📌 A principal causa de parada extra-hospitalar é doença coronariana, e o ritmo mais frequente é a fibrilação ventricular.
Paciente internado na enfermaria, evolui com taquiarritmia de QRS largo e aberrante, de morfologia constante. Não apresenta sinais de instabilidade hemodinâmica, dor precordial ou dispneia.
Qual é a HD e aconduta?
Temos paciente com TV monomórfica sem sinais de instabilidade.
A conduta deve ser a reversão química com amiodarona ou procainamida.
📌 Se houvesse instabilidade, seria feita a cardioversão elétrica com 100J.
Paciente com DPOC exacerbado internado em CTI. Evoluiu com síncope, irresponsivo e sem pulsos. O monitor mostrava atividade elétrica organizada.
Qual é a HD e a conduta?
Trata-se de parada cardiorrespiratória em AESP (atividade elétrica sem pulso). É o ritmo de parada mais comum no ambiente hospitalar, habitualmente precipitada por insuficiência respiratória ou hipovolemia.
Este é um RITMO NÃO CHOCÁVEL. Portanto, a conduta consiste em massagem cardíaca e ventilação (30:2) + administração de ADRENALINA (1 mg a cada 3-5 min). Deve-se buscar a correção das causas da parada (5H e 5T).
Quais são os bloqueios atrioventriculares benignos e a conduta nesses casos?
Os bloqueios atrioventriculares benignos são aqueles de origem supra-hissiana, que respondem bem a atropina:
- BAV tipo 1: iPR aumentado (> 0,2s ou 5 quadradinhos) e constante, sem bloqueio da condução
- BAV tipo 2 Mobitz 1: aumento progressivo do iPR seguido de falha na condução (fenômeno de Wenckebach).
A conduta imediata é o uso de ATROPINA. Para os refratários, faz-se implante de marca-passo ou adrenalina.