14 – Farmacologia dos Anestésicos Locais Flashcards
Qual foi o primeiro anestésico local introduzido na prática
clínica? Qual é a sua classe estrutural?
O primeiro anestésico local introduzido na prática clínica foi a cocaína na década de 1880. A estrutura de aminoéster da cocaína foi adaptada para criar a benzocaína (tópica), a procaína,
a tetracaína e a cloroprocaína (injetável)
Qual foi o primeiro anestésico local aminoamida introduzido
na prática clínica?
O primeiro anestésico local aminoamida introduzido na
prática clínica foi a lidocaína em 1948. Era considerada mais
estável e apresentou menor potencial alérgico do que os
anestésicos locais aminoéster
Quais são as duas diferenças entre os anestésicos locais
aminoéster e aminoamida que tornam importante a classificação
dos anestésicos locais?
O metabolismo e, possivelmente, o potencial para produzir
reações alérgicas diferem entre os anestésicos locais
aminoamida e aminoéster, o que faz com esta classificação dos
anestésicos locais seja importante
Cite sete anestésicos locais aminoamida.
Os anestésicos locais aminoamida incluem lidocaína,
mepivacaína, bupivacaína, levobupivacaína, etidocaína,
prilocaína e ropivacaína. Como regra geral, os anestésicos locais
aminoéster terão apenas um “i” em seu nome genérico, enquanto
as aminoamidas terão dois.
O que distingue a ropivacaína e a levobupivacaína dos outros
anestésicos locais?
A ropivacaína e a levobupivacaína são enantiômeros puros, e
não misturas racêmicas, que caracterizam os outros anestésicos
locais. Estes foram desenvolvidos em um esforço para reduzir o
potencial de toxicidade cardíaca
O que medeia a condução nervosa quando um nervo é
estimulado em circunstâncias normais?
Em circunstâncias normais, quando um nervo é estimulado,
há um aumento na permeabilidade da membrana dos canais de
sódio aos íons de sódio, que fluem para o nervo. O potencial da
membrana muda de negativo para positivo; quando um potencial
crítico é alcançado, há um influxo rápido de íons de sódio que
propagam uma onda de despolarização e um potencial de ação.
Quais são as três características pelas quais as fibras nervosas
são classificadas? Quais são os três principais tipos de fibras
nervosas?
O diâmetro da fibra, a presença ou ausência de mielina e a
função são as três características pelas quais as fibras nervosas
são classificadas. A, B e C são os três principais tipos de fibras
nervosas
Como o diâmetro de um nervo influencia a velocidade de
condução nervosa?
. Um diâmetro maior de um nervo correlaciona-se com uma
maior velocidade de condução nervosa.
Quais tipos de fibras nervosas são mielinizadas? Qual é a
função da mielina?
As fibras nervosas dos tipos A e B são mielinizadas, enquanto
nas fibras nervosas do tipo C a mielina está ausente. A mielina é
composta de membranas plasmáticas de células de Schwann
especializadas que envolvem o axônio durante o crescimento
axonal. A mielina funciona para isolar o axolema, ou a
membrana das células nervosas, do meio condutor que o cerca.
Ela também força a corrente despolarizante a fluir através de
interrupções periódicas na bainha de mielina chamada
de nódulos de Ranvier. Os canais de sódio que são fundamentais
na propagação e na condução do pulso nervoso estão
concentrados nesses nódulos da Ranvier. A mielina aumenta a
velocidade de condução nervosa
Qual é o mecanismo de ação dos anestésicos locais?
Os anestésicos locais atuam produzindo um bloqueio de
condução dos impulsos neurais no nervo afetado. Isto é
alcançado pelo impedimento da passagem de íons de sódio
através de canais de sódio voltagem-dependentes nas
membranas nervosas. A incapacidade dos íons de sódio de
passarem através de seus canais seletivos de íons resulta na
desaceleração da taxa de despolarização. Como resultado, o
potencial limiar não é alcançado, e um potencial de ação não é
propagado
Onde é o principal sítio de efeito dos anestésicos locais?
Acredita-se que os anestésicos locais exerçam sua ação
predominante no nervo por ligação a um receptor específico no
canal de íons de sódio. A ligação altera a estabilidade relativa
dos estados conformacionais do canal de sódio. A localização do
sítio de ligação parece ser dentro do vestíbulo interno do canal
de sódio
O que é o bloqueio frequência-dependente? Como o
bloqueio frequência-dependente se relaciona com a atividade
dos anestésicos locais?
De acordo com o modelo do receptor modulado, os canais
de íons de sódio alternam entre vários estados conformacionais
e os anestésicos locais se ligam a esses diferentes estados
conformacionais com diferentes afinidades. Durante a excitação,
o canal de sódio passa de um estado de repouso fechado para um
estado aberto ativado, com passagem de íons de sódio e
consequente despolarização. Após a despolarização, o canal
assume um estado conformacional fechado inativado. Os
anestésicos locais se ligam aos estados ativados e inativados com
maior facilidade do que ao estado de repouso, atenuando a
mudança conformacional. A dissociação do fármaco do estado
conformacional inativado é mais lenta do que do estado de
repouso. Assim, a despolarização repetida produz uma ligação
anestésica mais efetiva. A consequência eletrofisiológica deste
efeito é o aumento progressivo do bloqueio da condução com a
estimulação repetitiva, um efeito denominado bloqueio usodependente ou frequência-dependente. Por este motivo, o
bloqueio seletivo da condução das fibras nervosas por
anestésicos locais pode, em parte, estar relacionado à frequência
característica da atividade do nervo.
. Como a mielina afeta a ação dos anestésicos locais?
A mielina torna a membrana do nervo mais suscetível ao
bloqueio da condução induzido por anestésico local.
Quantos nódulos de Ranvier consecutivos devem ser
bloqueados para o bloqueio efetivo do impulso nervoso por
anestesia local?
Em geral, três nódulos de Ranvier consecutivos devem ser
expostos a concentrações adequadas de anestésico local para que
ocorra o bloqueio efetivo dos impulsos nervosos.
Como o potencial de repouso da membrana e o potencial
limiar são alterados nos nervos que foram infiltrados pelo
anestésico local?
Nem o potencial de repouso da membrana nem o potencial
limiar são alterados de forma perceptível por anestésicos locais.
Como o efeito de um anestésico local no nervo é
interrompido?
O bloqueio de condução produzido por um anestésico local
costuma ser completamente reversível (isto é, a reversão do
bloqueio é espontânea, previsível e completa).
Qual é a estrutura básica dos anestésicos locais?
O bloqueio de condução produzido por um anestésico local
costuma ser completamente reversível (isto é, a reversão do
bloqueio é espontânea, previsível e completa).
Por que os anestésicos locais são comercializados como
cloridrato?
Os anestésicos locais são bases que são pouco solúveis em
água. Por este motivo, eles são comercializados como sais de
cloridrato. A solução resultante é, geralmente, ligeiramente
ácida com um pH de cerca de 6
O pKa dos anestésicos locais é maior ou menor que 7,4?
O pKa da maioria dos anestésicos locais é maior que 7,4
(a benzocaína é uma exceção notável, com um pKa de
aproximadamente 3,5). Isto significa que o pH em que a forma
catiônica e a forma não ionizada serão equivalentes é superior a
7,4 para quase todos os anestésicos clinicamente utilizados.
No pH fisiológico, a maioria dos anestésicos locais existe
na forma ionizada ou não ionizada? Em que forma o anestésico
local deve estar para atravessar as membranas das células
nervosas?
A maioria das moléculas de anestésicos locais existe na
forma hidrofílica e ionizada no pH fisiológico. No entanto, os
anestésicos locais devem estar na forma não ionizada e
lipossolúvel para atravessar as membranas lipofílicas das células
nervosas. Por vezes, adiciona-se bicarbonato às soluções
anestésicas locais antes da injeção para aumentar a fração não
ionizada e, assim, acelerar o início da anestesia
O bloqueio da condução nervosa é facilitado pelo aumento
da concentração de anestésico local ou pelo aumento do
comprimento do nervo exposto a concentrações mais diluídas de
anestésico local?
O bloqueio da condução nervosa é facilitado tanto pelo
aumento da concentração do anestésico local quanto pelo
aumento do comprimento do nervo exposto a concentrações
mais diluídas de anestésico local
A acidose do tecido local cria um ambiente para uma
analgesia local de maior ou menor qualidade? Por quê?
A acidose do tecido local está associada a uma analgesia
de menor qualidade. Presume-se que isso se dê pelo aumento da
fração ionizada do anestésico local em um ambiente acidótico,
com menos quantidade da forma neutra disponível para penetrar
a membrana celular.
Qual é o principal determinante da potência do anestésico
local?
O principal determinante da potência de um anestésico
local é sua lipossolubilidade.
O que se entende por bloqueio diferencial?
O bloqueio diferencial refere-se à observação clínica de que,
ao usar concentrações diluídas de anestésico local, há um
bloqueio de nervos autonômicos e sensoriais com relativa
preservação da função motora.
Como os anestésicos locais se difundem através das fibras
nervosas quando depositados em torno de um nervo? Quais
fibras nervosas são bloqueadas primeiro?
Os anestésicos locais se difundem ao longo de um gradiente
de concentração da superfície externa, ou manto, do nervo para
o centro, ou núcleo, do nervo. Como resultado, as fibras
nervosas localizadas no manto do nervo são bloqueadas antes
daquelas no núcleo do nervo.
Como as fibras nervosas estão dispostas do manto ao núcleo
em um nervo periférico no que diz respeito à inervação de
estruturas proximais e distais? Qual é a implicação clínica disso?
Em um nervo periférico, as fibras nervosas no manto
geralmente inervam estruturas anatômicas mais proximais. As
estruturas anatômicas distais são mais frequentemente inervadas
por fibras nervosas próximas ao núcleo do nervo. Esta
orientação fisiológica das fibras nervosas em um nervo
periférico explica a analgesia proximal inicial observada, com
subsequente disseminação distal progressiva à medida que os
anestésicos locais se difundem para atingir fibras nervosas mais
centrais do núcleo.
Qual é a progressão temporal da interrupção da transmissão
de impulsos neurais entre o sistema nervoso autônomo, sistema
motor e sistema sensorial após a infiltração de um nervo
periférico misto com anestesia local?
Após a infiltração de um nervo periférico misto com
anestésico local, a progressão temporal da interrupção da
transmissão de impulsos é o bloqueio nervoso autônomo,
sensorial e, depois, motor.
Quais são os dois tipos de fibras nervosas que funcionam,
principalmente, para conduzir impulsos de dor aguda e vaga?
Qual dessas duas fibras nervosas é mais rapidamente bloqueada
pelo anestésico local?
A fibra nervosa de tipo A-δ, que é mielinizada, conduz
impulsos de dor aguda ou primeira/rápida. A fibra nervosa do
tipo C, não mielinizada, conduz impulsos de dor vaga e em
queimação. A fibra tipo A-δ de diâmetro grande parece ser mais
sensível ao bloqueio do que a fibra tipo C de menor diâmetro.
Isso sustenta a teoria de que a mielinização dos nervos tem maior
influência do que o diâmetro das fibras nervosas no bloqueio da
condução produzido por anestésicos locais. Na prática clínica, o
uso de concentrações relativamente altas de anestesia local
superará essa diferença. (
Quais são os dois tipos de fibras nervosas que funcionam,
principalmente, para conduzir impulsos que resultam em
atividade motora ampla e fina?
As fibras nervosas de tipos A-α e A-β, ambas mielinizadas,
conduzem impulsos nervosos motores. As fibras nervosas tipo
A-α conduzem impulsos de nervos motores grandes e as fibras
nervosas tipo A-β conduzem impulsos de nervos motores
pequenos.
Qual a diferença fundamental entre os anestésicos locais e a
maioria dos fármacos administrados sistematicamente em
relação à eficácia e absorção?
Em contraste com a maioria dos fármacos administrados
sistematicamente, os anestésicos locais são depositados no localalvo. A absorção sistêmica compete com a entrada do anestésico
local no nervo. A absorção sistêmica no local da injeção,
portanto, diminui a eficácia do bloqueio dos nervos, ao invés de
aumentá-la
Quais são algumas das propriedades físico-químicas dos
anestésicos locais e do local alvo da injeção que influenciam a
absorção sistêmica de um anestésico local injetado?
A absorção sistêmica de um anestésico local injetado no
local-alvo é retardada para os anestésicos locais com alta
lipofilicidade e ligação de proteínas. A absorção é aumentada de
áreas com alto fluxo sanguíneo no tecido local.
Depois de um anestésico local ter sido absorvido dos tecidos,
quais os principais determinantes das concentrações plasmáticas
máximas do anestésico local?
A taxa de absorção sistêmica e a taxa de depuração do
fármaco são os dois principais determinantes das concentrações
plasmáticas máximas de um anestésico local após a sua absorção
dos locais teciduais
Como são depurados os anestésicos locais aminoéster?
Os anestésicos locais aminoéster são depurados pela
hidrólise por enzimas pseudocolinesterases no plasma.
Qual é a implicação clínica da variabilidade nos anestésicos
locais para causar vasoconstrição?
A variabilidade nos anestésicos locais para causar
vasoconstrição pode explicar as diferenças no risco de
toxicidade sistêmica; por exemplo, os efeitos vasoconstritores
inerentes de um anestésico local podem diminuir sua incidência
de toxicidade sistêmica. Uma segunda implicação clínica é a
diferença no grau de prolongamento do efeito clínico de um
anestésico local com a adição de um vasoconstritor aditivo.
Como são metabolizados os anestésicos locais aminoamida?
Os anestésicos locais aminoamida sofrem metabolismo no fígado por enzimas microssomais hepáticas.
Como a adição de adrenalina a uma solução anestésica
local preparada para injeção afeta sua absorção sistêmica?
A adição de adrenalina a uma solução anestésica local
produz vasoconstrição no tecido local. Isso resulta em uma
desaceleração da taxa de absorção sistêmica do anestésico local
O que explica a toxicidade sistêmica relativamente baixa da
cloroprocaína?
A hidrólise relativamente rápida pela colinesterase
plasmática faz com que a cloroprocaína tenha menos
probabilidade de produzir concentrações plasmáticas
sustentadas.
Quais são os dois órgãos que influenciam o potencial de
intoxicação sistêmica de anestésicos locais (LAST)?
Os pulmões e o fígado influenciam o potencial de toxicidade
sistêmica de anestésicos locais (LAST). A quantidade de
anestésicos locais que os pulmões extraem da circulação, a
chamada extração pulmonar de primeira passagem, influencia a
toxicidade sistêmica, ao evitar o rápido acúmulo de anestésicos
locais no plasma. O fígado também influencia a LAST,
especialmente para os anestésicos locais do tipo aminoamida
que dependem do fígado para o metabolismo.
Os pacientes com colinesterase plasmática atípica
apresentam risco elevado para qual complicação em relação aos
anestésicos locais?
Os pacientes com enzima colinesterase plasmática atípica
podem ter risco mais elevado de desenvolver concentrações
plasmáticas excessivas de anestésicos locais tipo aminoéster. Os
anestésicos locais aminoéster dependem da hidrólise plasmática
para seu metabolismo, que pode estar limitada ou ausente nesses
pacientes.