Reumatologia Flashcards
Homem de 56 anos, obeso, apresenta há 3 dias dor de forte intensidade e início súbito em joelho direito, com aumento de volume e calor local. Tem episódios prévios de artrite da primeira articulação metatarsofalangeana direita.
Qual seria o exame confirmatório da principal HD e o tratamento agudo?
A principal hipótese é de ARTRITE GOTOSA: monoartrite aguda de articulações periféricas, em paciente com perfil epidemiológico compatível.
O exame confirmatório, importante para a exclusão de artrite séptica, é a ANÁLISE DO LÍQUIDO SINOVIAL, demonstrando birrefringência negativa nos leucócitos (principalmente macrófagos sinoviais).
O tratamento agudo é feito com AINES (primeira escolha atualmente) e/ou COLCHICINA.
Como é feito o tratamento de manutenção na artrite gotosa?
A longo prazo, para evitar a recorrência de crises agudas de gota, utiliza-se hipouricemiantes → ALOPURINOL (inibidor da xantina-oxidase, de modo que reduz a síntese de ácido úrico).
Quais medicações não podem ser utilizadas no tratamento da gota aguda?
Classicamente, contraindicamos AAS, alopurinol (inibidor da xantina oxidase) e probenecida (uricosúrico) no manejo da gota aguda.
Porém, uma atualização da ACR de 2020 dizendo que o ALOPURINOL PODE SER INICIADO DURANTE A CRISE AGUDA, sendo introduzido em baixas doses (100 mg/dia). Mas ressalta-se a importância do manejo antiinflamatório adequado com AINEs (1ª linha), colchicina ou corticóides.
Se o paciente já fizer uso do hipouricemiante, ele deve ser mantido durante a crise.
📌 Reforçando → AAS NÃO PODE SER UTILIZADO NA GOTA AGUDA!!!
Quais são as indicações atualizadas pela ACR 2020 em relação ao tratamento hipouricemiante crônico da gota?
Antes, lembremos que o tratamento crônico é feito principalmente com os seguintes hipouricemiantes:
- ALOPURINOL (inibe a síntese de ácido úrico através da inibição da xantina oxidase) → é preferível quando há DISFUNÇÃO RENAL, HP DE NEFROLITÍASE POR ÁCIDO ÚRICO ou URICOSÚRIA ELEVADA (≥ 600mg/dia).
- PROBENECIDA (uricosúrico) → útil diante de FUNÇÃO RENAL NORMAL, AUSÊNCIA DE HP DE NEFROLITÍASE e URICOSÚRIA BAIXA (< 600mg/dia).
📌 A recomendação atual é PREFERIR O ALOPURINOL e iniciar em baixas doses, com titulação progressiva em busca da META DE ÁCIDO ÚRICO < 6.
📌 Caso o paciente esteja utilizando alopurinol ou probenecida, mas está falhando em atingir a meta (ácido úrico < 6) e tenha crises frequentes ou tofos que não estejam resolvendo, a ACR 2020 recomenda fortemente a troca por pegloticase. Porém, se não apresente tais fatores complicadores, é preferível manter o hipouricemiante atual apesar da falha para atingir a meta.
Agora, vamos às recomendações mais atuais, segundo a ACR 2020:
- Presença de TOFO*;
- Crises FREQUENTES (≥ 2 CRISES/ANO)*;
- ALTERAÇÃO RADIOGRÁFICA*;
- Crises INFREQUENTES (> 1 durante a vida mas < 2 CRISES/ANO);
- PRIMEIRA CRISE, mas em associação com DRC ESTÁGIO III, UROLITÍASE ou URICEMIA > 9 mg/dL.
As com * são as recomendações mais fortes.
Assim, o tratamento hipouricemiante crônico NÃO é indicado em:
- Primeira crise (exceto nas condições descritas acima);
- Hiperuricemia assintomática (> 6,8 + ausência de nefrolitíase por urato, artrite ou tofo).
📌 Um ajuste interessante é trocar em hipertensos, se possível, diurético por losartana.
Homem de 48 anos, sem uso prévio de medicações e sem comorbidades conhecidas, procura a UPA por quadro de monoartrite aguda de tornozelo que teve início na madrugada de hoje.
Fez artrocentese: líquido articular amarelado-turvo sem grumos; 8000 leucócitos (VR < 200), 65% de PMN (VR < 25%); gram não visualizou bactérias; cultura e pesquisa de cristais estão em andamento.
Qual é a HD?
Diante de monoartrite aguda, devemos realizar o diagnóstico diferencial entre artrite séptica e gota, utilizando a ARTROCENTESE.
Artrocentese na artrite INFLAMATÓRIA:
- Aparência: amarela turva;
- Gram: não visualiza bactérias;
- Cultura: negativa;
- Leucócitos: 2.000 - 50.000;
- PMN: ≥ 50%;
- Glicose e proteínas: normal;
- Pesquisa de cristais: positiva.
Artrocentese na artrite SÉPTICA:
- Aparência: turva e purulenta;
- Gram: visualiza bactérias
- Cultura: positiva
- Leucócitos: 20.000 - 150.000;
- PMN: ≥ 75% com predomínio de neutrófilos;
- Glicose: diminuída;
- Proteína e LDH: altos.
📌 Atenção às principais PEGADINHAS:
- Ambas são turvas, mas só a séptica é purulenta;
- Ambas tem leucócitos aumentados, mas na inflamatória é < 50.000;
- Ambas tem PMN aumentados, mas na séptica é ≥ 75%.
No nosso caso, então, a suspeitamos de GOTA.
Cláudio, um senhor boa praça, morador de uma pacata cidade do interior de MG, é conhecido no local como “Sr. Gota” por conta da quantidade enorme de episódios de gota que já teve.
Está em uso irregular de alopurinol. É hipertenso em uso de hidrocloratiazida. Viajou para visitar seu sobrinho Gerson… tomaram 14 caixas de cerveja e fizeram um churrasco que durou 5 dias.
Dias após a visita, o Sr. Gota comparece ao pronto-socorro com um novo episódio de artrite febril em joelho direito.
Conduta?
Com todo o respeito, f#d@-se se ele é a cara do paciente gotoso.
Diante de uma MONOARTRITE AGUDA FEBRIL, É OBRIGATÓRIO FAZERMOS UMA ARTROCENTESE para investigar artrite séptica.
Entendeu? Jamais erraremos esse tipo de questão. A conduta é realizar artrocentese.
Homem de 72 anos com dor intensa e edema em ambos os joelhos imediatamente após cirurgia de hérnia inguinal. Há sinais inflamatórios em ambos os joelhos com grande derrame articular. A artrocentese revela presença de cristais birrefringentes positivos no líquido sinovial. A coloração do gram é negativa.
Qual é o diagnóstico mais provável?
Artrocentese com cristais birrefringentes POSITIVOS aponta para o diagnóstico de PSEUDOGOTA, que é causada pela deposição de cristais de pirofosfato de CÁLCIO, mais comumente nos JOELHOS. À radiografia, é clássico observar condrocalcinose dos meniscos.
Paciente masculino de 26 anos queixa-se de dor articular e febre há 2 semanas. O quadro se iniciou com febre elevada e edema articular nos dedos das mãos durante 3 dias, progredindo para artrite em punho esquerdo e, posteriormente, joelho esquerdo.
Ao exame, notam-se lesões pustulosas em antebraços, articulações dorsais das mãos com tenossinovite, joelho com sinais flogísticos, sensível a palpação e movimentação e com limitação de amplitude. Artrocentese mostrou líquido amarelado, 15.000 leucócitos com predomínio de polimorfonucleares e glicose baixa.
Qual é a principal HD e o tratamento?
Dor articular associada a perda de arco de movimento e febre alta deve levantar a HD de artrite séptica. O derrame articular do paciente, purulento e com polimorfonucleares, fortalece essa hipótese.
O quadro é sugestivo de ARTRITE SÉPTICA GONOCÓCICA, que é a principal etiologia em adultos JOVENS (20-30 anos) SEXUALMENTE ATIVOS. Possui 2 apresentações típicas que podem ter caráter evolutivo, como ocorreu com nosso paciente:
1) Síndrome ARTRITE-DERMATITE (fase da GONOCOCCEMIA) → febre alta + envolvimento poliarticular (pode haver tenossinovite) + lesões cutâneas (vesículas ou pústulas indolores, com predomínio em extremidades). Nessa fase, geralmente hemoculturas são positivas e artrocentese negativa;
2) ARTRITE SUPURATIVA (fase monoarticular).
A conduta é ATB inicialmente empírica (atraso no início do tratamento pode resultar em destruição articular) + ARTROCENTESE diária por 7-10 dias → OXACILINA (cobertura de S.aureus) + CEFTRIAXONA (cobertura de Hib, gonococo e pneumococo).
Como é feito o diagnóstico da febre reumática de acordo com os critérios de Jones?
CRITÉRIO OBRIGATÓRIO = EVIDÊNCIA LABORATORIAL de infecção recente pelo S. PYOGENES → ASLO, anti-DNase B, cultura de orofaringe positiva ou escarlatina recente.
Além disso, de acordo com os critérios de Jones, deve haver 2 ACHADOS MAIORES ou 1 MAIOR + 2 MENORES:
A) MAIORES (“Js2NES”):
- J = juntas → ARTRITE (ou poliartralgia);
- s2 = coração → CARDITE;
- N = NÓDULOS subcutâneos;
- E = ERITEMA marginado;
- S = coreia de SYDENHAM.
B) MENORES:
- Monoartralgia;
- Alargamento do iPR;
- Febre ≥ 38ºC;
- Aumento de PCR (≥ 3) / VHS (≥ 30).
📌 Para a recidiva, bastam 3 critérios menores.
📌 Em uma população de baixo risco, mudaria para febre ≥ 38,5ºc e VHS ≥ 60. Além disso, poliartralgia seria critério menor, sendo apenas as artrites maiores.
OBSERVAÇÕES:
📌 A ARTRITE é a manifestação mais COMUM, mas geralmente é autolimitada e não deixa sequelas. Por sua vez, a CARDITE é a mais GRAVE → “a FR lambe as articulações e morde o coração”.
📌 A Coreia de SYDENHAM isoladamente pode confirmar o diagnóstico, mesmo sem completar os demais critérios. Costuma ser uma manifestação mais TARDIA desta doença. Ocorre mais em MULHERES é identificada através de movimentos rápidos involuntários incoordenados, que DESAPARECEM DURANTE O SONO e são ACENTUADOS COM ESTRESSE E ESFORÇO.
📌 A FR só ocorre após FARINGITE (e não piodermites). O tratamento precoce da faringite com penicilina, nos primeiros 9 dias, é prevenção primária para a ocorrência da FR.
📌 Os nódulos e o eritema estão relacionados à cardite. Especialmente, os nódulos denotam mau prognóstico.
Quais são as indicações de profilaxia secundária na febre reumática?
Pacientes com febre reumática tem chance de recorrência de doença aguda em torno de 50% na presença de um novo contato com o S. pyogenes.
Por isso, TODOS os pacientes com FR devem receber PROFILAXIA SECUNDÁRIA com PENICILINA BENZATINA a cada 21 DIAS (ou sulfadiazina, em caso de alergia):
- SEM CARDITE → até os 21 ANOS (ou por 5 anos → considera o que durar mais);
- CARDITE LEVE curada ou insuficiência mitral leve → até 25 ANOS (ou por 10 anos → considera o que durar mais);
- VALVOPATIA MODERADA/GRAVE → até 40 ANOS (para pacientes que têm muito contato com crianças, considerar manter ad eternum).
Paciente de 32 anos de idade relata quadro de dor lombar iniciada há 4 dias, seguida de dor em joelho esquerdo, tornozelo direito e punho direito. Nega comorbidades ou uso de medicamentos. Relata ter apresentado quadro diarréico 1 semana antes dos sintomas atuais.
Ao exame: afebril, aumento de volume e temperatura em joelho esquerdo, dor à palpação de inserção do tendão aquileu no calcâneo direito e dor à palpação e mobilização do punho direito.
Qual é a principal HD e a conduta?
Paciente jovem com quadro AGUDO de dor lombar (provável sacroileíte), OLIGOARTRITE PERIFÉRICA ASSIMÉTRICA e ENTESITE (dor na inserção do aquileu), 1 semana após um quadro de DIARREIA. O quadro é sugestivo de ARTRITE REATIVA.
Pode ter manifestações superficiais → QUERATODERMA BLENORRÁGICO, BALANITE CIRCINADA, CONJUNTIVITE, URETRITE.
Ocorre inflamação das articulações como resultado de uma infecção, porém sem que haja invasão do espaço articular (estéreis); a patogênese se deve provavelmente à deposição de imunocomplexos ou agressão direta por reação cruzada. Salmonella, Shigella e Campylobacter podem ser os agentes etiológicos relacionados ao quadro intestinal. O diagnóstico é clínico-epidemiológico, e não são necessários exames complementares.
📌 O principal agente é a CLAMÍDIA, exceto quando o fator infeccioso desencadeante for no TGI.
O tratamento é feito com AINEs.
Mulher de 38 anos, branca, refere dor e edema em articulações das mãos, bilateralmente, há seis meses. Há 2 meses, vem notando também deformidades.
Ao exame: afebril, pele com eritema descamativo periungueal em mãos, unhas com irregularidades em suas superfícies (depressões puntiformes), articulações interfalangeanas proximais e distais com aumento de volume e hiperemia.
Qual é a principal HD e o tratamento?
Paciente com ARTRITE e ALTERAÇÕES CUTÂNEAS + UNGUEAIS (pitting) direcionam o diagnóstico para ARTRITE PSORIÁSICA.
O quadro articular é muito variado e pode ser diagnóstico diferencial de diversas doenças, mas a apresentação mais frequente é de poliartrite periférica simétrica, semelhante à AR, porém soronegativa.
O tratamento inicial é feito com AINEs, progredindo para DARMs nos casos refratários. Para as lesões cutâneas, normalmente são usados CORTICÓIDES TÓPICOS. Uso sistêmicos de corticóides NÃO é recomendado.
📌 O acometimento das articulações interfalangeanas DISTAIS fala contra o diagnóstico de AR.
Um paciente de 24 anos refere lombalgia com padrão inflamatório há 1 ano. O exame físico revela a presença de entesites e, ao teste de Schober, a distância aferida entre os pontos de referência é de 12 cm. Além disso, conta que há 2 meses apresentou dor e hiperemia ocular à direita, sem secreção.
Qual é a HD, os exames confirmatórios e o tratamento?
Paciente HOMEM JOVEM (< 45 anos) com LOMBALGIA CRÔNICA (> 3 meses), teste de SCHOBER positivo (< 15 cm) ENTESITE e, ainda, história sugestiva de UVEÍTE ANTERIOR → quadro clássico de ESPONDILITE ANQUILOSANTE.
O diagnóstico pode ser confirmado pela presença do gene HLA-B27 POSITIVO OU por evidência imagiológica de SACROILEÍTE (visualizada como esclerose óssea nas articulações sacroilíacas).
O tratamento inicial é feito com AINEs e fisioterapia. Quadros refratários podem ser tratados com inibidor de TNF-alfa.
Quais características sugerem uma lombalgia de padrão inflamatório?
A presença de 4 critérios define uma lombalgia inflamatória, enquanto de apenas 3 é “sugestiva”:
- Início < 40 ANOS;
- Início INSIDIOSO;
- MELHORA com o EXERCÍCIO;
- NÃO melhora com repouso (oposto do que é esperado na dor de padrão mecânico);
- Dor durante a NOITE que tem alívio ao se levantar.
Paciente de 4 anos iniciou há 7 semanas com quadro de claudicação da marcha. Apresenta dor, calor, rubor e edema em joelho direito, que progrediu de forma cumulativa para joelho esquerdo, tornozelo direito e punho direito. Os exames complementares mostraram hemograma normal, VHS = 68, PCR > 40, látex negativo, FAN reagente = 1/320 com padrão pontilhado fino.
Qual é a HD mais provável?
Paciente com < 16 ANOS, apresentando artrite persistente (> 6 SEMANAS), com elevação de marcadores inflamatórios. O quadro é bastante sugestivo de ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL (AIJ).
Esta criança apresenta a forma clínica MAIS COMUM = OLIGOARTRITE (≤ 4 ARTICULAÇÕES acometidas). Assim como no caso, o pico de incidência ocorre em < 5 ANOS. O FAN pode ser POSITIVO e geralmente o FATOR REUMATÓIDE é NEGATIVO (teste do látex negativo).
Menina de 11 anos apresenta artrite crônica em ambos os joelhos, tornozelos, punhos e quadril direito há 6 meses. Apresenta fator reumatóide positivo.
Qual é a HD e o que indica ao FR positivo?
Criança/adolescente com < 16 NOS e artrite crônica (> 6 SEMANAS) sugere um grupo de doenças denominado ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL (AIJ).
Uma das formas clínicas, pouco comum e que é geralmente observada em ADOLESCENTES (10-16 anos), é a uma POLIARTRITE (≥ 5 ARTICULAÇÕES) com FATOR REUMATÓIDE POSITIVO.
Neste caso, a positividade do FR se relaciona a um PIOR PROGNÓSTICO ARTICULAR.
Menino de 2 anos apresenta vários episódios de febre ao dia (entre 38,5 e 40) nos últimos 3 meses. Durante esses episódios, frequentemente apresenta exantema evanescente associado, em tronco e raiz dos membros. Há 8 semanas iniciou com artrite persistente em pequenas articulações das mãos, punhos e joelhos, com resposta parcial a AINES.
Qual é o diagnóstico? O que é esperado em uma avaliação laboratorial?
Quadro típico de DOENÇA DE STILL, a forma sistêmica da artrite idiopática juvenil.
Se caracteriza por ARTRITE e FEBRE associadas a manifestações inflamatórias generalizadas: EXANTEMA, LINFADENOMEGALIA, HEPATOESPLENOMEGALIA ou SEROSITE.
Tipicamente, o HLA-B27, FAN e fator reumatóide são NEGATIVOS. O hemograma normalmente mostra ANEMIA + LEUCOCITOSE com NEUTROFILIA + TROMBOCITOSE.
📌 Como marcador inflamatório que é, a FERRITINA estará AUMENTADA, assim como em outras doenças reumatológicas. Porém, no Still, a FERRITINA GLICOSILADA está ABAIXO DE 20%, sendo que costuma estar ACIMA DE 20% nas outras doenças inflamatórias, conferindo alta especificidade.
Qual é a principal complicação extra-articular da artrite idiopática juvenil oligoarticular?
Qual deve ser a conduta?
Na AIJ oligoarticular, a manifestação extra-articular mais comum é a UVEÍTE ANTERIOR, presente em cerca de 20% dos pacientes. O risco é maior no sexo feminino, nos pacientes com FAN POSITIVO e naqueles que iniciam a doença mais precocemente (< 6 ANOS).
Normalmente é BILATERAL (60% dos casos) e crônica, e pode ser ASSINTOMÁTICA mesmo em fases avançadas. Por isso, os pacientes devem ser acompanhados periodicamente por um OFTALMOLOGISTA, para possibilitar o diagnóstico precoce e evitar sequelas.
O tratamento geralmente é feito com colírios de corticóides + agentes midriáticos. Entretanto, até 25% dos pacientes apresenta quadro severo e refratário, para os quais serão necessárias DARMS, como o metotrexato.
Mulher de 40 anos, há 3 meses com artrite em ambos os tornozelos + 1ª metacarpofalangeana da mão direita + 1ª e 2ª metacarpofalangeanas e 3ª interfalangiana proximal da mão esquerda. Apresenta também rigidez maginal de 40 minutos.
Ao exame, apresenta edema nas referidas articulações e nódulos de consistência borrachosa em face extensora dos antebraços. PCR e VHS estavam elevados.
Qual é o provável diagnóstico e os exames que devem ser solicitados para a confirmação?
Mulher de meia idade, com POLIARTRITE incluindo PEQUENAS articulações, de evolução > 6 SEMANAS e elevação de marcadores inflamatórios - representa o quadro típico da ARTRITE REUMATÓIDE. Apresenta, ainda, NÓDULOS subcutâneos, que são uma manifestação extra-articular típica da doença.
Um diagnóstico unicamente clínico seria possível caso houvesse artrite crônica de mais de 10 articulações, incluindo pelo menos 1 pequena. Para a paciente, o diagnóstico pode ser confirmado pela dosagem de autoanticorpos:
- FATOR REUMATÓIDE → no entanto, se negativo, não permite descartar a doença;
- Anti-CCP → mais ESPECÍFICO (apesar dos dois serem igualmente sensíveis).
📌 Ambos têm valor prognóstico e seus títulos estão diretamente relacionados a pior prognóstico articular e à ocorrência de manifestações extra-articulares da doença. No entanto, não são indicados para o acompanhamento dos pacientes.
Quais são as manifestações extra-articulares na artrite reumatóide?
- Pericardite;
- Nódulos → subcutâneos, cardíacos, pulmonares;
- Sjogren;
- Derrame pleural (tipicamente exsudativo);
- Vasculites;
- Síndrome de Caplan → associação de AR com pneumoconioses, que culmina em fibrose pulmonar agressiva.
Qual é o achado radiológico mais característico da artrite reumatóide?
As EROSÕES MARGINAIS são típicas da AR. Ocorrem pois a sinovite proliferativa leva à formação de pannus intra-articular, erodindo a superfície articular em suas porções periféricas.
📌 Essa é uma manifestação TARDIA e IRREVERSÍVEL, que usualmente pode ser evitada com tratamento precoce e adequado.
Mulher de 45 anos é avaliada com poliartrite em ambas as mãos (1ª, 2ª e 3ª MCF + 3ª e 4ª IFP) e em ambos os joelhos. O quadro se iniciou há 2 meses e vem piorando, associado também a febre de até 38ºC e astenia.
O hemograma e o rastreio infeccioso foram normais (HIV e hepatites virais); FAN reagente 1:80 com padrão pontilhado fino; C3 e C4 normais; Fator Reumatóide positivo (teste do látex).
Qual é o diagnóstico e a conduta?
Nossa paciente já fecha o diagnóstico de ARTRITE REUMATÓIDE de acordo com os critérios mais recentes. Ela precisa de apenas 6 pontos do mnemônico DIAS:
- Duração > 6 semanas = 1 ponto
- Inflamação → marcadores PCR ou VHS = 1 ponto;
- Articulações = podem somar de 1-5 pontos, sendo que as articulações pequenas e uma maior quantidade pontuam mais →a paciente possui mais de 10 articulações acometidas, o que pontua 5;
- Sorologia → FR ou anti-CCP positivos.
Portanto, feito o diagnóstico, devemos iniciar o tratamento com as DARMD. A principal delas é o METOTREXATO.
📌 AINES e corticóides em dose antiinflamatória podem ser utilizados para controle sintomático, embora deva ser evitado o uso crônico.
Quais são as DARMSs na artrite reumatóide?
As DARMDs são DROGAS ANTIRREUMÁTICAS MODIFICADORAS DA DOENÇA, que reduzem a progressão clínica e radiológica das deformidades articulares.
As principais são:
- METROTREXATO → pilar do tratamento;
- Sulfassalazina;
- Leflunomida;
- Cloroquina;
- Hidroxicloroquina → não deve ser feita em monoterapia, pois não retarda a progressão da doença (atualmente, questiona-se se é uma DARMD);
- Imunobiológicas: Anti TNF-alfa (infliximab ou adalimumab) e Anti CD20 (rituximab);
- Sais de ouro (em desuso).
📌 A hidroxicloroquina foi a única que não se mostrou eficiente para retardar a progressão radiológica nos estudos recentes, não sendo considerada uma DARMs verdadeira.
Quais são as manifestações extra-articulares relacionadas à espondilite anquilosante?
- UVEÍTE ANTERIOR, geralmente recorrente, é a manifestação mais COMUM (presente em 30-50% dos casos);
- Nefropatia por IgA;
- Insuficiência aórtica;
- Fibrose pulmonar bolhosa.
Mulher de 34 anos queixa-se de que, há 6 meses, precisa de líquidos para facilitar a deglutição. Faz seguimento com oftalmologista por “irritação” e “sensação de areia” nos olhos, sendo identificadas ulcerações corneanas na última avaliação. Há 2 meses, tem tido também dor articular nas mãos e punhos.
Ao exame: artrite em punhos, 2ª e 3ª MCF bilateralmente; mucosa oral seca e dentes em mau estado de conservação.
Qual é o exame mais indicado para o diagnóstico e, se confirmado, qual é a conduta?
Paciente com XEROFTALMIA e XEROSTOMIA deve levantar a hipótese de SÍNDROME DE SJOGREN, que cursa com acometimento autoimune das glândulas lacrimais e salivares. Pode cursar, também, com acometimento articular, cardíaco, pulmonar e gastrointestinal.
Os exames indicados para o diagnóstico são a BIÓPSIA ou CINTILOGRAFIA das GLÂNDULAS SALIVARES. A pesquisa dos ANTICORPOS ANTI-RO e ANTI-LA também deve fazer parte da investigação (também chamados de anti-SSA e anti-SSB).
A princípio, o tratamento pode ser sintomático, com LÁGRIMA E SALIVA ARTIFICIAIS. No entanto, quando há manifestações sistêmicas, como a artrite, indicam-se corticóides e imunossupressores.
📌 A doença reumatológica mais associada à Síndrome de Sjogren é a AR.
📌 O teste de SCHIRMER quantifica a quantidade de lágrima produzida utilizando um papel milimetrado.
Quais são os critérios diagnósticos de LES?
O diagnóstico de LES é baseado em 11 critérios clínico-laboratoriais, sendo que PELO MENOS 4 devem estar presentes para fechar o diagnóstico.
1) Rash malar;
2) Fotossensibilidade;
3) Lupus discóide;
4) Úlceras orais indolores;
5) Artrite não deformante;
6) Serosite: pericardite ou pleurite (incluindo derrames);
7) Citopenias autoimunes;
8) Acometimento renal: proteinúria ou cilindros celulares;
9) Acometimento neuropsiquiátrico;
10) FAN positivo;
11) Autoanticorpos específicos: Anti-sm, anti-DNAdh ou anti-fosfólipide.
📌 A partir de 2019, segundo a EULAR/ACR, a presença do FAN POSITIVO é critério OBRIGATÓRIO para considerar LES.
Mulher de 20 anos é atendida com queixas de fraqueza, artrite em punho e metacarpofalangeanas, náuseas e vômitos.
Ao exame: PA = 170:100 mmHg / Hb 11 / GL 3.500 / Plaq 90.000 / Cr 3,5 / Ur 150 / VHS 60 / FAN de 1:1280 (pontilhado fino) / EAS com hematúria e cilindros hemáticos.
Qual é o diagnóstico e a conduta?
Temos um diagnóstico de LÚPUS, preenchendo 4 dos critérios: artrite + citopenias + cilindros celulares ao EAS + FAN positivo.
Note que a paciente tem uma perda aguda da função renal compatível com síndrome nefrítica, com importante elevação da creatinina e hematúria glomerular. Trata-se, portanto, de um quadro de NEFRITE LÚPICA grave, provavelmente correspondendo ao tipo IV (nefrite PROLIFERATIVA DIFUSA). Está é a forma de lesão renal mais comum no LES, e também a mais grave.
O tratamento destes casos com acometimento renal requer efeito imunossupressor rápido: CORTICÓIDES EM PULSOTERAPIA + CICLOFOSFAMIDA ou MICOFENOLATO.