Gastroenterologia Flashcards
Mulher de 62 anos, procedente de área rural do sul da Bahia, com história de disfagia há 20 anos. Refere retorno do alimento para cavidade oral após alimentação. Esofagograma baritado demonstra esôfago com 8 cm de diâmetro e sinal do bico de pássaro.
Qual é o diagnóstico, a patogênese, o exame confirmatório e o tratamento?
Paciente com quadro clínico-radiográfico de ACALASIA, cuja etiologia mais comum é a IDIOPÁTICA (primária). Porém, dentre as causas secundárias, a chagásica é a mais comum.
Fisiopatologia = destruição do plexo mioentérico de Auerbach → relaxamento inadequado do esfíncter esofageano inferior → estase do conteúdo alimentar → aumento do risco de CEC DE ESÔFAGO.
O padrão-ouro para o diagnóstico é a ESOFAGOMANOMETRIA, que demonstra as pressões elevadas dentro do esôfago.
Para os esôfagos com 7-10cm de diâmetro (Mascarenhas 3), trata-se com CARDIOMIOTOMIA À HELLER.
Classificação de MASCARENHAS e estimativa de tratamento:
- Grau 1 = normal (< 4cm) com afilamento distal → CONSERVADOR (nitrato, BCC ou botox);
- Grau 2 = megaesôfago de 4-7cm → DILATAÇÃO ENDOSCÓPICA;
- Grau 3 = megaesôfago de 7-10cm → CARDIOMIOTOMIA A HELLER com fundoplicatura parcial;
- Grau 4 = dolicomegaesôfago ≥ 10cm → ESOFAGECTOMIA subtotal.
📌 Atenção: é diferente da classificação de REZENDE! Enquanto a de Mascarenhas avalia a dilatação em centímetros, a de Rezende avalia a conformação da distribuição de contraste. Ou seja, a classificação que usa ‘C’entí’M’etros é a de ‘M’as’C’arenhas.
Definição e tratamento de espasmo esofágico difuso
Contrações simultâneas não-propulsivas, vigorosas (> 120mmHg) e longas (> 2,5s) do esôfago, gerando disfagia e PRECORDIALGIA desencadeadas por ESFORÇO OU ALIMENTAÇÃO (é um diagnóstico diferencial importante de dor anginosa).
O padrão-ouro para o diagnóstico é a ESOFAGOMANOMETRIA, que revela contrações de alta amplitude (diferentemente da acalasia, que tem contrações de baixa amplitude).
📌 Na esofagografia baritada, assim como na acalasia, podemos observar um estreitamento distal em “bico de pássaro” em esôfago distal. Porém, o corpo do esôfago apresenta uma imagem semelhante a uma pseudodiverticulose, referida como em “saca-rolha” ou “contas de rosário”.
Tratamento = ANSIOLÍTICOS, NITRATO E NIFEDIPINO. A cirurgia de miotomia longitudinal é uma opção para os refratários.
Homem de 35 anos com queixa diária de queimação retroesternal há 6 meses. O quadro piora quando se deita à noite, quando consome molho de tomate ou refrigerantes. Nega sintomas de epigastralgia ou plenitude pós-prandial. Iniciou uso de IBP por conta própria há 2 semanas, com melhora dos sintomas.
Qual é a HD? Qual é o tratamento?
Quadro típico de DRGE.
Como esse paciente é jovem e sem sinais de alarme, podemos considerar o diagnóstico clínico a partir de teste terapêutico com IBP por 4 semanas. Caso haja resposta, prolonga-se o uso até completar 8 semanas.
Não é necessário solicitar EDA neste momento, pois sua sensibilidade é baixa para o diagnóstico. Ela é útil na suspeita de COMPLICAÇÕES ou com SINAIS DE ALARME para a pesquisa de neoplasia → idade ≥ 40 anos, anemia, disfagia ou perda ponderal.
Paciente de 35 anos com queixa de pirose e regurgitação ácida há 5 anos, dependente do uso de IBP em dose dobrada. Apresenta peso corporal normal, boa adesão às medidas dietéticas e ao uso de IBP.
Realizou exames: videoendoscopia digestiva alta mostrando hérnia hiatal tipo 1 de 3,5 cm e esofagite erosiva; manometria mostrando peristalse do esôfago normal e hipotonia acentuada de esfíncter inferior; pHmetria de 24 horas evidenciando refluxo ácido patológico.
Qual é o tratamento indicado?
Temos um paciente jovem com DRGE de longa data, refratária ao tratamento clínico otimizado.
Em caso de sintomas refratários ao IBP ou recorrentes após sua suspensão, pode-se indicar tratamento CIRÚRGICO. Outras indicações seriam a presença de ESTENOSE péptica ou ÚLCERAS esofágicas.
Os exames solicitados confirmaram o diagnóstico e são os exames utilizados para planejamento pré-operatório:
- PHMETRIA DE 24h: padrão-ouro para DRGE, indispensável no pré-op para confirmação do diagnóstico;
- MANOMETRIA: auxilia na indicação da técnica cirúrgica.
A técnica utilizada é de FUNDOPLICATURA. Quando a manometria do esôfago demonstrar peristalse preservada, como nesse caso, faz-se a fundoplicatura TOTAL (NISSEN), com confecção de válvula curta.
📌 Fundoaplicatura é uma técnica que sutura o fundo gástrico ao redor do esôfago distal, de modo a aumentar a pressão no esfincter esofágico inferior (EEI). Logo, diante de um EEI já hipertônico (ex: acalasia), preferimos fundoaplicaturas parciais (ex: Dor e Lind = 180º; Toupet = 270º). Por outro lado, diante de um quadro de DRGE com motilidade esofágica preservada, já passa a ser mais interessante uma fundoaplicatura total (Nissen = 360º).
Homem de 72 anos internado na ortopedia por fratura de fêmur apresenta diarreia aquosa > 10 evacuações ao dia, sem sangue ou muco, e dor abdominal difusa na última semana. Nega náuseas ou vômitos. Temperatura entre 37 e 37,5°C por 2 dias.
GL 17.500 com 4% de bastões; PCR = 50; função renal normal e exames de fezes negativos. Retossigmoidoscopia flexível = pseudomembranas no cólon.
Qual é a HD e conduta?
Paciente com fratura de fêmur certamente fez uso de ATB e evoluiu com diarréia e presença de pseudomembranas no cólon. Trata-se de COLITE PSEUDOMEMBRANOSA, causada pelo C. DIFFICILE. Deve ser feita a pesquisa de TOXINAS A e B (ELISA) ou PCR nas fezes para o diagnóstico.
📌 A negativação das toxinas não exclui completamente a possibilidade, pois têm baixa sensibilidade. Existe outro exame sensível além do PCR, porém pouco específico, chamado ‘GDH’ (glutamato desidrogenase), que pode auxiliar por ter bom VPN.
Tratamento:
- Casos leves = METRONIDAZOL VO.
- Casos graves (imunossuprimidos, GL > 15.000, IRA ou hipoalbuminemia) = VANCOMICINA VO → nosso paciente.
- Casos fulminantes (hipotensão, choque, megacólon tóxico) → metronidazol EV + vancomicina VO.
📌 No íleo paralítico associamos as duas pois fica prejudicado o efeito tópico no intestino que ocorreria pela via oral → é feito metronidazol EV + vancomicina retal.
Em caso de refratariedade → colectomia subtotal com posterior reconstrução do trânsito.
OBS1: diante de recidivas, profilaxia pode ser feita com floratil → vancomicina em desmame → TRANSPLANTE FECAL.
OBS2: paciente deve ser mantido em PRECAUÇÃO DE CONTATO até 48h após o final de diarreia. A equipe deve fazer higienização com água e sabão, pois o ÁLCOOL NÃO É EFETIVO contra C. difficile.
📌 Cerca de 20% dos pacientes internados possuem C. difficile nas fezes, mas a maioria é assintomática.
Quadro de diarréia + mioarritmia oculomastigatória é sugestivo de qual diagnóstico? Qual é o tratamento?
O quadro de MIORRITMIA ÓCULO-MASTIGATÓRIA (paciente mastiga e o olho se move ao mesmo tempo) é patognomônico da DOENÇA DE WHIPPLE, causada pela bactéria Tropheryma whipplei. É mais comum em pacientes na ZONA RURAL, com exposição ao solo e animais.
Consiste em um dos diagnósticos diferenciais de síndromes DISABSORTIVAS. O diagnóstico poderia ser confirmado por uma biópsia duodenal mostrando infiltração por macrófagos PAS-positivos.
Trata-se com CEFTRIAXONA IV por 2 semanas + SULFAMETOXAZOL-TRIMETROPRIMA por 1 ano
Paciente feminina de 32 anos queixa-se de dor abdominal recorrente há 6 meses, associada a aumento da frequência evacuatória e fezes menos consistentes. A dor tem alívio após as evacuações. Nega perda de peso ou relação com a alimentação. Não possui outras comorbidades, além de transtorno depressivo maior. Realizou hemograma e exame de fezes que estavam normais, dosagem semi-quantitativa de gordura fecal normal, dosagem de autoanticorpos ASCA e p-ANCA negativos, dosagem da calprotectina fecal negativa.
Qual é a HD e a conduta?
Temos uma paciente jovem, hígida, com quadro isolado de diarréia flutuante. Nossa principal hipótese é a SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL, que normalmente acomete mais JOVENS e com a forma diarreica. Porém, quando ocorre em pessoas > 50 anos, predomina a constipação.
Critérios de Roma IV:
1) Não tem causa orgânica;
2) Apresenta DOR abdominal recorrente nos últimos 3 meses (pelo menos 1 dia por semana) + 2 dos seguintes critérios:
- Aliviados pela evacuação;
- Mudança na frequência das evacuações;
- Mudança na forma das fezes.
Tratamento: psicológico, dietético, antiespasmódicos e antidepressivos.
📌 A dosagem de CALPROTECTINA FECAL, que é um marcador de inflamação intestinal, auxilia no diagnóstico diferencial com as DII.
Homem de 26 anos, em tratamento de hipotireoidismo por Hashimoto, queixa-se de dor lombar crônica há 2 anos, sem relação com esforço físico, pior pela manhã. Neste período, vem apresentando episódios de diarréia intermitente sem sem produtos patológicos, associada a desconforto abdominal. Além disso, queixa-se de saída de secreção purulenta por orifício em região perianal. Ao exame, apresenta discreta palidez e distensão abdominal.
Qual é a HD?
Temos um paciente jovem com história de doença autoimune (tireoidite de Hashimoto), com queixas sugestivas de espondilite anquilosante e fístula perianal, associadas a diarréia. A HD mais provável é, obviamente, DOENÇA DE CROHN (DC), cujas características são:
- Acometimento SALTEADO e TRANSMURAL de TODO O TGI (especialmente ileocolite);
- Lesão em pedra de calçamento da mucosa e GRANULOMAS epitelioides (patognomônico);
- Doença DISABSORTIVA, FÍSTULAS, massas, abscessos, ÚLCERA AFTÓIDE;
- Marcador ASCA (“anticorpo que sugere Crohn”).
📌 Pegadinha: enquanto o TABAGISMO FAVORECE CROHN (DC = “doença do cigarro”), protege contra RCU.
Homem de 38 anos refere diarréia há 3 semanas, média de 10 evacuações diárias com sangue, muco e pus, associadas a tenesmo, febre e perda de peso. Ao exame, abdome difusamente doloroso, sem sinais de irritação peritoneal; exames laboratoriais mostram anemia normocítica normocrômica, VHS = 68, presença de leucócitos ao EAF das fezes; RX de abdome sem alterações; colonoscopia com mucosa sangrante ao toque do aparelho, múltiplas erosões superficiais contínuas em todo o cólon e íleo terminal normal.
Qual é a HD e conduta?
Homem com diarréia de padrão inflamatório, associada a anemia e perda ponderal. A colonoscopia mostra lesões superficiais e contínuas em reto e cólon, ou seja: quadro de RETOCOLITE ULCERATIVA, cujas características são:
- Acometimento CONTÍNUO e ascendente da MUCOSA do RETO e CÓLON;
- PSEUDOPÓLIPOS, perda das haustrações do cólon (“lesão em cano de chumbo”), CRIPTITE;
- Maior associação do que a DC com MEGACÓLON e câncer colorretal (mas ocorrem em ambas)
- Marcador p-ANCA.
Como trata-se de quadro moderado/grave, o tratamento deve ser iniciado com CORTICÓIDES para induzir remissão, e a manutenção feita com MESALAZINA ou sulfadiazina (+ reposição de folato).
📌 A apendicectomia é um fator protetor.
Quais são as manifestações sistêmicas das DII e quais delas são independentes da atividade de doença?
Mnemônico: RECU e DC:
- Resposta imune (febre, leucocitose, PCR);
- Eritema nodoso e pioderma gangrenoso;
- Colangite esclerosante;
- Uveíte;
- Dor articular;
- Espondilite anquilosante;
- Cálculos renais e biliares (apenas na DC).
INDEPENDENTES DA ATIVIDADE DA DOENÇA → “Esqueci as Uvas e o Pêssego”:
- Espondilite anquilosante;
- Uveíte;
- Pioderma gangrenoso.
📌 A artropatia é a manifestação extra-intestinal mais comum! Ela pode depender da atividade da doença. Porém, uma porção delas é espondilite anquilosante, que independe da atividade.
Como deve ser feita a vigilância de câncer colorretal nas DII?
COLONOSCOPIA ANUAL após 8-10 anos de doença.
📌 Tanto DC quanto RCU estão relacionados ao câncer colorretal, mas principalmente a RCU.
Como é a “escadinha” da terapia das DII?
1) Aminossalicilatos (mesalazina ou sulfassalazina) → são drogas de MANUTENÇÃO e que só podem ser feitas via enteral (pois o efeito é tópico).
2) Corticóides → dose de ATAQUE para induzir remissão nos quadros moderados a graves;
3) Imunossupressores (metotrexato, azatioprina, clclosporina);
4) Imunobiológicos (inflixamab e adalimumab).
5) Cirurgia (está indicada se houver intratabilidade clínica, malignização, retardo de crescimento, hemorragia, megacólon tóxico, perfuração e manifestações extraintestinais graves).
📌 Na DC, a presença de algum dos fatores de gravidade a seguir aponta para considerarmos a introdução já inicial de imunobiológicos: (1) idade jovem; (2) doença perianal; (3) doença estenosante; (4) necessidade de corticoterapia.
O que é a síndrome carcinóide?
As CÉLULAS NEUROENDÓCRINAS, que são enterocromafins (coram-se pelo cromato de potássio), localizam-se principalmente no EPITÉLIO DO TGI e produzem diversos hormônios, como serotonina, histamina, bradicinina e prostaglandina.
Quando essas células sofrem uma transformação neoplásica, formam o TUMOR CARCINÓIDE. Ele ocorre principalmente no TRATO GASTROINSTESTINAL (principalmente apêndice e íleo distal) e costuma ter CRESCIMENTO LENTO, mas também pode gerar METÁSTASES (principalmente para o FÍGADO).
A SÍNDROME CARCINÓIDE é a expressão clínica do excesso de hormônios produzidos pelas células neuroendócrinas dos tumores carcinoides. As consequências dessa superprodução hormonal são:
- Acúmulo de HISTAMINA → gera VASODILATAÇÃO e PRURIDO;
- Acúmulo de BRADICININA e PROSTAGLANDINAS → gera VASODILATAÇÃO.
Agora, vamos analisar com mais calma os efeitos do acúmulo de SEROTONINA:
- AUMENTO DA PERISTALSE;
- Estimula fibroblastos no coração a produzirem colágeno →FIBROSE CARDÍACA → gera principalmente VALVOPATIAS DIREITAS (ESTENOSE PULMONAR e INSUFICIÊNCIA TRICÚSPIDE), podendo levar a insuficiência cardíaca;
- BRONCOCONSTRIÇÃO;
- Redução de triptofano, que é um precursor de niacina (vitamina B3) → PELAGRA.
Logo, os principais sintomas são DIARREIA, FLUSHING, PRURIDO e DISPNEIA. Podemos notar também sopros cardíacos, dermopatia em áreas foto-expostas e demência. A clínica PIORA COM ESTRESSE OU ÁLCOOL.
📌 Para que a síndrome carcinóide ocorra, é quase FUNDAMENTAL a presença de METÁSTASE HEPÁTICA gerando disfunção hepática. Caso contrário, os hormônios produzidos em larga escala nas células neuroendócrinas do TGI passariam pelo fígado e seriam metabolizados antes mesmo de gerarem os efeitos sistêmicos.
No laboratório, vemos REDUÇÃO DE VITAMINA B3 (niacina) e AUMENTO DA DOSAGEM URINÁRIA DE ÁCIDO 5-HIDROXI-INDOLACÉTICO (é um produto da serotonina). Podemos também solicitar um OCTREOSCAN (cintilografia com octreotide marcado).
📌 A somatostatina é um hormônio que inibe as células neuroendócrinas. Portanto, o octreotide, que é um análogo dela, tem função tanto no diagnóstico via cintilografia quanto no tratamento, que também envolve redução de estresse e de consumo de álcool e a abordagem cirúrgica do tumor.
📌 Curiosidade sobre o tratamento cirúrgico no tumor localizado em apêndice: quando na ponta do apêndice com < 1cm, basta a apendicectomia. Porém, tamanho > 1-2cm e/ou invasão do mesoapêndice exige hemicolectomia direita.
Quais são as características da Síndrome de Peutz-Jeghers?
É uma síndrome autossômica DOMINANTE que cursa com pólipos HAMARTOMATOSOS em todo o TGI, mas sobretudo no intestino DELGADO. Há também MANCHAS MELANÓTICAS na pele.
Associa-se a um risco aumentado para adenocarcinomas de estômago, delgado e cólon, além de neoplasias extraintestinais (sobretudo de ovário e mama).
Quais são as características da polipose adenomatosa familiar (PAF)?
É uma síndrome autossômica DOMINANTE por mutação no GENE APC. Há numerosos pólipos ADENOMATOSOS no TGI, sobretudo no cólon e reto, que evoluem com câncer colorretal em 100% dos pacientes com cerca de 40 anos. Por isso, indica-se rastreio com COLONOSCOPIA ANUAL EM ≥ 10 ANOS de idade. Caso for confirmada, está indicada a PROCTOCOLECTOMIA TOTAL.
Também se associa a HIPERPIGMENTAÇÃO RETINIANA hipertrófica e várias outras neoplasias do TGI, incluindo os tumores desmóides.
📌 Suas variantes incluem a síndrome de TUrcot (associação com TUmores do SNC) e de Gardner (associação com dentes supranumerários, osteomas e tumores de partes moles). Ambas devem ser tratadas com proctocolectomia total também.
Quais são as síndromes polipóides que cursam com pólipos hamartomatosos no cólon?
Apesar dos pólipos adenomatosos terem mais chance de malignizar, os hamartomatosos, em grande quantidade, também podem.
1) SÍNDROME DE PEUTZ-JEGHERS:
- É uma síndrome autossômica DOMINANTE;
- Os pólipos são mais frequentes no DELGADO;
- Associada a MANCHAS MELANÓTICAS em lábios, bocas e dedos;
- Pode causar hemorragia digestiva, intussuscepção e obstrução intestinal;
- Risco aumentado para ADENOCARCINOMA EM TGI e NEOPLASIAS GINECOLÓGICAS (sobretudo de ovário e mama).
2) POLIPOSE JUVENIL → tem como achados hematoquezia, anemia, prolapso pelo reto, hipoproteinemia, hipocalemia.
📌 Síndrome de CRONKHITE-CANADA → variante mais MALIGNA da polipose juvenil → tem como achados alopecia, onicodistrofia e hiperpigmentação.
3) SÍNDROME DE COWDEN → associação com TUMORES DE TIREÓIDE, MAMA E DE SNC; macrocefalia; e discreto retardo mental.
Qual é a indicação de rastreio para o câncer colorretal?
E como é feito o seguimento pós-colonoscopia?
Para a população geral, segundo recomendações da USPSTF de 2020, o rastreio está indicado dos 45 AOS 75 ANOS da seguinte forma:
- COLONOSCOPIA a cada 10 ANOS; ou
- RETOSSIGMOIDOSCOPIA a cada 5 ANOS; ou
- SANGUE OCULTO nas fezes, sendo 3 AMOSTRAS POR ANO.
📌 Antes, a recomendação clássica era dos 50 aos 75 anos.
O seguimento pós-colonoscopia depende do resultado:
- NORMAL = repete em 10 ANOS;
- Pólipo de MENOR RISCO (< 1cm, < 3 pólipos, histologia favorável) = 5 ANOS;
- Pólipo de MAIOR RISCO (> 1cm, > 3 pólipos, viloso, história familiar) = 3 ANOS;
- ALTO RISCO (lesões sésseis, ressecção em fatias e não em monobloco, pólipo maligno, displasia de alto grau) = 6 MESES.
📌 Lembre-se que o pólipo viloso tem maior chance de malignizar do que o tubular (que é mais comum). Da mesma forma, uma lesão séssil é mais perigosa do que uma pediculada.
Um paciente do sexo masculino, de 25 anos, queixa-se de dor abdominal epigástrica há 24h horas, que evoluiu para dor em fossa ilíaca direita e febre há cerca de 6 horas. Apresentou episódios isolados de náuseas e vômitos.
Ao exame, nota-se dor e peritonismo nos quadrantes inferiores do abdome.
Qual é a HD e a conduta?
A questão traz um quadro típico de APENDICITE AGUDA SIMPLES em um homem jovem. Nesses casos, o diagnóstico é CLÍNICO.
Para os casos duvidosos (crianças, idosos, mulheres, gestantes, obesos) pode-se realizar exames complementares: TC COM CONTRASTE é o padrão-ouro, mas para crianças e gestantes prefere-se USG ou RNM (evitar radiação).
Conduta = APENDICECTOMIA DE URGÊNCIA (em até 24-36h após a admissão).
📌 Caso fosse uma apendicite aguda COMPLICADA (≥ 48h de evolução, toxemia ou presença de plastrão), a conduta consistiria em drenagem + ATB + CIRURGIA ELETIVA após 6-8 semanas.
Quais são os principais sinais semiológicos que indicam irritação peritoneal na apendicite aguda?
- DUNPHY → a dor na FID piora com a tosse;
- BLUMBERG → descompressão brusca dolorosa na FID (sobre o ponto de McBurney);
- ROVSING → pressão sobre a FIE causa dor na FID, devido ao deslocamento do ar nas alças;
- OBTURADOR → dor hipogástrica causada pela rotação interna da coxa direita; sugere apendicite pélvica;
- PSOAS → dor à extensão e abdução da coxa direita, com o paciente em decúbito lateral esquerdo; é o sinal mais específico para apendicite retrocecal;
- SUMMER → hiperestesia na FID;
- LAPINSKI → dor à compressão da FID enquanto o paciente eleva o MID;
- LENANDER → temperatura retal > axilar em 1 grau.
Escore de Alvarado para apendicite aguda
O escore de Alvarado é útil para determinarmos a necessidade de exames complementares diante de uma hipótese de apendicite aguda. É composto por 8 itens com uma pontuação máxima de 10.
📌 Não serve para dar o diagnóstico ou não de apendicite, mas sim para estimar o risco desse diagnóstico de maneira a chegarmos à conclusão se precisamos (< 7, principalmente mulheres) ou não (≥ 7) de exames complementares antes de indicar a cirurgia.
SINAIS LOCAIS:
- Dor à palpação de FID = 2 pontos;
- Dor que migra para a FID = 1 ponto;
- DB+ em FID = 1 ponto.
SINAIS SISTÊMICOS
- Anorexia = 1 ponto;
- Náuseas e vômitos = 1 ponto;
- Febre ≥ 37.3ºC = 1 ponto.
ACHADOS LABORATORIAIS:
- Leucocitose ≥ 10.000 = 2 pontos;
- Desvio à esquerda (PMN ≥ 75%) = 1 ponto.
RESULTADOS E CONDUTAS:
- 0 a 3 = baixo risco → possível alta com orientações;
- 4 a 6 = risco moderado → admissão para observação e reavaliação. Considerar TC em mulheres;
- ≥ 7 = alto risco → apendicectomia principalmente em homens. Em mulheres não grávidas, indica-se laparoscopia diagnóstica ou TC.
Homem de 55 anos comparece ao PS com dor abdominal, principalmente em FIE, e febre. Ao exame, apresenta dor à palpação, sem descompressão brusca.
Exames mostraram leucocitose de 15.000, e um USG mostrou espessamento de alça em projeção de sigmóide, com abscesso intracavitário medindo 6 cm de diâmetro.
Qual é o diagnóstico e a conduta?
Quadro clássico de DIVERTICULITE AGUDA, que é a complicação mais comum da doença diverticular do cólon. Embora a TC COM CONTRASTE fosse o exame ideal, o USG mostrou um abscesso grande (> 4 cm), configurando uma diverticulite COMPLICADA.
📌 A classificação de HINCHEY é utilizada para caracterizar as diverticulites complicadas:
- I - Abscesso pericólico;
- II - Abscesso pélvico ou à distância;
- III - Peritonite purulenta;
- IV - Peritonite fecal.
Abscessos > 4 cm requerem drenagem + ATB EV. Para prevenção de recorrência, está indicada cirurgia eletiva 6-8 semanas após resolução do quadro agudo. Caso fosse um Hinchey III e IV, procederíamos diretamente com a cirurgia de Hartmann.
📌 A presença de pneumatúria após um quadro de diverticulite é sugestiva de uma fístula sigmoide-vesical.
Mulher de 74 anos, cardiopata, queixa-se de dor abdominal difusa que surge após a alimentação, mais intensa após refeições copiosas. Por causa disso, afirma que está se alimentando menos e está perdendo peso. O exame físico do abdome é normal, e os exames laboratoriais de função renal, íons e enzimas hepáticas estavam dentro da normalidade.
Qual é a principal hipótese diagnóstica e a conduta?
Dor abdominal CRÔNICA, APÓS AS ALIMENTAÇÕES, sobretudo em uma paciente com diversos fatores de risco cardiovasculares como essa, deve suscitar a hipótese de ANGINA MESENTÉRICA.
Esse quadro é causado por isquemia mesentérica crônica, relacionada a ATEROSCLEROSE.
O diagnóstico deve ser confirmado com ANGIOGRAFIA, e o tratamento é feito com REVASCULARIZAÇÃO (cirurgia/stent).
Paciente com fibrilação atrial e baixa adesão ao tratamento anticoagulante evoluiu com dor abdominal súbita e importante. Ao exame, o abdome está flácido, difusamente doloroso à palpação, sem massas ou visceromegalias palpáveis e sem sinais de peritonite. A temperatura retal é menor do que a axilar.
Qual é a HD e a conduta?
Esse quadro de dor abdominal súbita DESPROPORCIONAL ao exame físico é sugestivo de ISQUEMIA MESENTÉRICA AGUDA. Lembre-se que a peritonite é tardia, pois só ocorre após a necrose transmural das alças.
📌 Um sinal típico descrito nesse caso é o sinal de Lenander negativo: a temperatura retal se encontra menor do que a axilar, devido à deficiência de perfusão.
A causa mais prevalente é EMBOLIA, para a qual esse paciente apresenta como fator de risco a FA.
O PADRÃO-OURO para confirmação do diagnóstico é a ANGIOGRAFIA, mas também pode-se utilizar ANGIO-TC.
O tratamento consiste em EMBOLECTOMIA OU ENTERECTOMIA dos segmentos inviáveis. Também utiliza-se PAPAVERINA intra-arterial para redução do vasoespasmo.
Como é a clínica, diagnóstico e tratamento da colite isquêmica?
A colite isquêmica é uma doença da MICROVASCULATURA intestinal. É a forma mais comum de isquemia intestinal, e classicamente acomete IDOSOS após um período de INSTABILIDADE HEMODINÂMICA (ex: idoso no CTI).
Manifestações: HIPOTENSÃO, DOR abdominal, febre e DIARREIA COM SANGUE.
A COLONOSCOPIA mostra edema e úlceras da mucosa e o enema opaco mostra o sinal do “thumbprinting”.
O tratamento é SUPORTIVO, estando a colectomia indicada nos quadros graves, com peritonite ou hemorragia maciça