problemas correntes do lactente Flashcards
Regurgitação
- É preocupante sempre que um recém-nascido tenha história de vómitos ou refluxo acompanhado de perda de peso.
- A regurgitação pressupõe a chegada do conteúdo alimentar à boca, sendo o resultado visível do refluxo gastro-esofágico. A regurgitação é comum em todas as faixas etárias e não se traduz necessariamente numa patologia. O vómito pressupõe uma expulsão forçada com recurso à contração dos músculos abdominais e respiratórios.
- A passagem de conteúdo gástrico para o esófago é um processo fisiológico normal que ocorre em adultos, crianças e recém-nascidossaudáveis.
Peso RN
É expectável que o aumento de peso seja maior nos primeiros meses de vida. Segundo as curvas de peso normais, esperamos que:
- Haja perda de peso imediatamente após o nascimento
- Haja recuperação de peso entre os 10 e os 14 dias de vida
- Haja duplicação de peso em relação ao registado no nascimento aos 4 meses
- Haja triplicação de peso em relação ao registado no nascimento aos 12 meses
Doença do refluxo GE
A doença de refluxo gastro-esofágico é comum no lactente sendo até mais comum no lactente do que na criança ou no adulto. O refluxo vai diminuindo progressivamente com a idade devido ao aumento do controlo sobre a posição sentado ou de pé. Na verdade, esta posição é bastante útil na prevenção do refluxo dada a ação da gravidade.
- É frequente a resolução do refluxo gastro-esofágico ou uma diminuição significativa da sua prevalência até aos 12 meses de idade.
- A DRGE é sugestiva de preocupação quando há complicações. Populações com doenças neurológicas, síndromes genéticos, atrésia do esófago, doença pulmonar crónica ou recém-nascidos pré-termo são de risco para o desenvolvimento destas complicações e, por isso, são grupos aos quais devemos prestar especial atenção.
- maioria das crianças apresenta uma DRGE sem complicações (designados de “happy spitters”) e o diagnóstico depende essencialmente da história clínica e do exame objetivo. Os sintomas/sinais de que podemos estar perante uma DRGE com alguma gravidade são uma má progressão ponderal, recusa alimentar, irritabilidade e hematemese (sugestiva de esofagite) ou sangue nas fezes. Devem evitar-se exames complementares de diagnóstico em excesso e, mediante os achados no exame objetivo,deve proceder-se ao tratamento
TX refluxo
- sem doença: refeições fraccionadas, confiança, posição a dormir e apos refeições, evitar movimentos pós alimentação
- Esofagite: antiacidos (IBP, ranitidina)
- Má progressão: reabilitação nutricional, nutrição entérica +/- fundoplicatura
- Apneia: monitorização +/- fundoplicatura
- Aspiração: +/- fundoplicatura
- As medidas básicas iniciais na ausência de sinais de alarme são fraccionar as refeições, utilizar fórmulas espessas e promover a continuação do aleitamento materno. Caso estas medidas não melhorem as queixas, devem ser consideradas 2 a 4 semanas de administração de proteína hidrolisada em crianças em amamentação, suspendendo o leite de vaca(considerando a hipótese de uma possível alergia às proteínas do leite de vaca). Caso a ausência de melhoria se mantenha,o caso clínico deve ser referenciado a um gastroenterologista pediátrico.
- Decúbito ventral diminui o índice de refluxo. Porém, o decúbito dorsal é o aconselhado dado que o decúbito ventral está associado a um aumento do risco de morte súbita. Assim, numa criança com DRGE continua a aconselhar-se o decúbito dorsal, mas com elevação da cabeceira da cama.
Cólica
o choro persistente ou excessivo e apresenta-se como um dos problemas mais angustiantes da infância. É uma condição benigna autolimitada que se resolve com o tempo.
- chorar sem razão aparente com duração igual ou superior a 3 horas por dia e que ocorre em 3 ou mais dias por semana numa criança saudável com menos de 3 meses de idade.
- tem início às 3 semanas de vida e, normalmente, resolve-se aos 3 meses de idade.
Etiologia cólica
- GI • Técnica de alimentação • APLV (alergia às proteínas do leite de vaca <10%) • Intolerância à lactose • Imaturidade gastrointestinal • Hipermotilidade intestinal
- Biológica • Regulação motora imatura • Serotonina aumentada • Exposição à nicotina • Forma de enxaqueca
- Atualmente considera-se que as alterações na microflora fecal também podem estar implicadas na etiologia da cólica. No estudo apresentado abaixo, verificou-se que as crianças com cólica têm mais calprotectina (proteína que se liga ao cálcio e zinco, presente nos granulócitos, e cuja quantidade nas fezes depende da migração de neutrófilos da parede intestinal inflamada para a mucosa–marcador de doença infamatória intestinal).-> Conclui-se que as crianças com cólica têm mais calprotectina, um importante marcador da doença inflamatória intestinal que resulta da degradação dos neutrófilos.
Clínica da cólica
- Paroxística
- Grito/Guincho
- Hipertonia
- Difícil de consolar
- Melhora com a mudança de posição e com a expulsão de gases
- diagnóstico diferencial com outras causas de choro persistente como o abcesso perianal e a fome e, por isso, é exigida uma boa colheita de história clínica e um bom exame objetivo
- história natural da cólica traduz-se na melhoria sendo que os sintomas se resolvem em 60% dos casos dos lactentes aos 3 meses e em 90% dos casos aos 4 meses.
Repercussão da colica
- Interrupção do leite materno mais cedo
- Múltiplas mudanças de leite
- Ansiedade nos pais•Maus tratos em crianças com cólica (shaken baby syndrome)–a criança maltratada tem tendência a sofrer mais episódios de cólica e, por outro lado, a criança com cólica está mais susceptível à negligência por parte dos seus cuidadores
TX colica
- Razoavelmente eficaz: o Massagem o Aconselhamento e confiança o Técnicas de alimentação, etc o Banho o Evitar comer de mais ou de menos o Pode ponderar-se a suspensão temporária do leite de vaca durante 7 a 10 dias, mas nunca retirando o leite materno, na medida em que, revisões sistemáticas de pequenos ensaios randomizados com limitações metodológicas sugerem que as fórmulas de leite hidrolisado podem reduzir o choro. o probióticos, pensa-se que haja algum efeito na redução da cólica em crianças alimentadas com leite materno -> Não há evidência clara de que os probióticos sejam mais eficazes do que o placebo na prevenção de cólica infantil
Obstipação
- O mecónio são fezes escuras, características do recém-nascido.
- As fezes do segundo dia são líquidas amareladas,com uma aparência do tipo grãos de mostarda, fezes normais do lactente do leite materno
- Padrão normal
• 99% dos RN tem 1ª dejeção nas 1as24h(mecónio);
• Se não há passagem –pensar em obstrução anatómica ou funcional;
• Prematuros: é comum ter atraso na passagem de 1as fezes;
•Para crianças > 3 anos, assemelha-se aos adultos, com uma média de 1 dejeção/dia;
• Para RN com leito materno, cerca de 3 dejeções/dia, em média. No entanto, qualquer padrão dos movimentos intestinais é aceitável(entre 5-40 dejeções/semana), desde que não haja outros sintomas acompanhantes.
Criança preparada para controlo de esfíncter
•Sinais fisiológicos:
o A coordenação voluntária do controle dos esfíncteres ocorre entre os 12 a 15 meses de idade, aquando da mielinização dos tratos piramidais dos esfíncteres,estando completa, entre os 12 e os 18 meses de idade;
•Sinais do desenvolvimento:
o Compreender e seguir instruções simples como “vai buscara bola”, “arruma o brinquedo”, etc;
o Saber apontar para as diferentes partes do corpo;
o Conseguir estar sentado, quieto e entreter-se;
o Ter fralda seca -da sesta da hora-do-almoço;
•Sinais comportamentais: o Habilidade de imitar comportamento; o Desejo de agradar o Expressa interesse no tema; o Sem comportamento de oposição (muitas vezes pode levar a uma regressão no treino de esfíncteres);
•Até aos 3 anosnão deve existir uma pressão na criança para que esta tenha um controlo dos esfíncteres. •A partir dos 18 meses(mielinização dos tratos piramidais dos esfíncteres está completa), devemos começar a falar nas dejeções e micções à criança, disponibilizando um bacio ou um redutor, assumindo o processo com naturalidade.
Reflexo de defecação
Na criança que está no processo de retirada das fraldas, ocorre uma retenção de fezes voluntária, apesar de sentir vontade de ir à casa de banho, para que haja alguma adaptação social. Isto leva a uma acumulação progressiva de fezes no reto, que sofrem uma reabsorção de água, tornando-se mais duras e volumosas, dificultando a sua passagem anal na expulsão. Numa próxima tentativa de defecação, a criança terá dor, gerando um novo padrão de retenção, caracterizado por: • Agachamento; • Cruzar os tornozelos; • Corpo rígido; • Agarrado aos moveis ou à mãe; • Sudorese, choro, irritabilidade; • Esconder-se durante a defecação; • Resultado de medo, ansiedade e DOR
Obstipação funcional
- até 4 anos: o 2 ou menos dejeções/semana o dor o fezes grandes/duras o retenção ecessiva
- >4 anos o 2 ou menos dejeções/semana o 1 episódio incontinência fecal o fezes grandes/duras o Hx de postura de retenção o hx de mov intestinais dolorosos
Escala de Bristol
- A criança deve caracterizar objetivamente a consistência das fezes, através da escala de Bristol:
o O ideal seria a criança ter fezes do tipo 5 e 6, para evitar a dor aquando a passagem pelo canal anal
Tx obstipação
- A criança tem de ter a perceção que a evacuação já não está associada a sensação dolorosa, podendo inclusivamente haver prazer em cada dejeção. Isto pode ser alcançado através de:
o Enemas: permite a limpeza da ampola retal. Estes devem ser aplicados com cautela, o mínimo possível, uma vez que esta via não é fisiológica;
o Estratégias de treino de esfíncter, como recompensas com presentes;
o Calendário positivo;
o Dieta mais rica em água e fibra;
o Posição, com apoio dos pés;
o Substâncias osmótica a longo prazo, como: macrogol, lactulose, óleo mineral;