IRC Flashcards
Como se define IRC?
Existe Doença Renal Crônica (DRC) quando há “dano renal” (geralmente detectado pela presença de albuminúria ≥ 30 mg/dia, ou alterações equivalentes) e/ou “perda de função renal” (definida como uma taxa de filtração glomerular < 60 ml/min/1.73 m2), por um período maior ou igual a três meses.
Este pré-requisito temporal é importante para diferenciar entre DRC e IRA…
Qual a diferença na fisiopatologia da IRC e DRC?
Fisiopatologia DRC
De um modo geral, as causas de doença renal crônica são processos patológicos lentamente progressivos. Ao contrário do que se observa na maioria dos casos de IRA, na DRC não ocorre regeneração do parênquima renal, e por isso a perda de néfrons, por definição, é irreversível.
Em que dois exemplos clássicos se pode verificar DRC de instalação aguda?
Às vezes, no entanto, a doença renal crônica pode se instalar de forma aguda, tal como acontece em dois exemplos clássicos – necrose cortical aguda e glomerulonefrite rapidamente progressiva. Nestas entidades, a capacidade de regeneração do parênquima renal pode ser abolida, e o paciente “se torna agudamente um nefropata crônico” (pois previsivelmente continuará em insuficiência renal após três meses)…
Qual a definição de DRFT?
Quais as alterações histológicas dos rins nessa fase?
Todas as nefropatias crônicas, após um período variável (geralmente entre 3 a 20 anos), podem evoluir para a chamada Doença Renal em Fase Terminal (DRFT), em que se observam níveis residuais de TFG (< 15% do normal).
Neste momento, a histopatologia renal perde as características específicas da nefropatia inicial, apresentando uma alteração universal: fibrose glomerular e intersticial, aliada à atrofia dos túbulos (ou seja, “perda total” dos néfrons).
Como é feita a classificação e diferenciação em diversos estadios de DRC?
Como você pode perceber, além da taxa de filtração glomerular, valoriza-se também o grau de albuminúria, uma vez que este parâmetro é capaz de predizer o prognóstico independentemente da TFG…
Assim, a classificação final será composta pela combinação dos estágios “G” +
“A”, devendo-se acrescentar a letra “D” se o paciente estiver em diálise
Quais as 2 principais etiologias de DRC em até 70% dos casos?
Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial
Existem meios de prevenir ou retardar a instalação
da DRFT?
Sim!!! O segredo está no diagnóstico e intervenção precoces… Uma albuminúria ≥ 30 mg/24h, quando persistente, sinaliza os pacientes com maior risco de evoluir para DRC progressiva e rins em fase terminal, independentemente da etiologia. Na realidade, quanto maior for o nível de proteinúria, mais rápida será a queda anual na taxa de filtração glomerular.
Fisiopatologia da DRC4
3 fases
À medida que a perda de néfrons progride, os néfrons remanescentes vão sendo “sobrecarregados”, isto é, eles tentam excretar – além de sua carga básica de solutos os solutos que os néfrons perdidos excretariam, um processo conhecido como Hiperfiltração Adaptativa
Entretanto, a própria hiperfiltração adaptativa acaba induzindo lesão glomerular, inicialmente pelo processo de glomeruloesclerose segmentar focal (justificando a proteinúria crescente), que com o tempo evolui para glomeruloesclerose global difusa, acompanhada de fibrose e atrofia de todo o néfron (justificando a DRFT)…
Assim, após certo grau de injúria renal já ter se estabelecido (com perda de grande número de néfrons), mesmo que a doença inicialmente responsável pela lesão seja controlada ou eliminada, a própria DRC entrará numa fase de autoperpetuação, um ciclo vicioso!!!
Qual o objectivos do uso de IECAs e ARAs na DRC?
O uso de Inibidores da ECA ou Bloqueadores do Receptor de Angiotensina II produz uma redução no grau de proteinúria bem acima do esperado somente pela queda dos níveis tensionais (fato relacionado à dilatação da arteríola eferente e redução da hipertensão intraglomerular)!
Estudos sugerem que, além de reduzir a hiperfiltração e a proteinúria (isto é, a “sobrecarga” dos néfrons remanescentes), tais drogas possuem efeito antifibrótico e anti-inflamatório no rim, retardando a progressão da nefropatia através de vários mecanismos complementares.
Assim, um dos principais “alvos terapêuticos” com o objetivo de evitar ou atrasar a evolução para DRFT é o controle da proteinúria para níveis inferiores a 0,5-1 g/dia, ou, pelo menos, uma queda superior a 50-60% em relação ao valor inicial. As drogas de escolha com este intuito, conforme já explicado, são os IECA ou os BRA
Quais os riscos da associação IECA+ARA?
A associação dessas duas classes, por outro lado, apesar de reduzir a proteinúria de forma mais intensa que a monoterapia, não é recomendada, devido a um maior risco de piora da função renal e hipercalemia.
Quais os alvos de TA na prevenção de DRC?
a PA deve obrigatoriamente ser mantida abaixo de 140 x 90 mmHg em todos os pacientes (uma vez que isso é importante para reduzir o risco cardiovascular global) e, se possível (isto é, desde que a intensificação do tratamento não acarrete muitos efeitos colaterais), o ideal é mantê-la abaixo de 130 x 80 mmHg em nefropatas, particularmente nos portadores de DRC proteinúrica.
Que outros factores devem ser abordados para minimizar o risco de DRC? 4
- tabagismo,
- controle glicêmico rigoroso (em diabéticos)
- tratamento da acidose metabólica com reposição
- de bases
- Restrição moderada de proteínas na dieta
Mecanismos fisiopatológicos da S. urêmica. 8
A partir de que valores a ureia apresenta efeito tóxico?
Quais as mainfestações?
A ureia apresenta efeito tóxico apenas quando em altas concentrações (> 380 mg/dl). Sua toxicidade é primariamente gastrointestinal (anorexia, náuseas e vômitos) e hematológica (sangramento).
É importante ressaltar que, apesar da baixa toxicidade, seus níveis elevam-se juntamente com os de outras substâncias nitrogenadas tóxicas e, por conseguinte, ela pode ser usada omo “marcador substituto” da síndrome urêmica (sendo, inclusive, de fácil dosagem laboratorial, ao contrário das demais toxinas)…
A partir de que valores de ureia se manifestam os sinais e sintomas de S. urêmica?
Os sinais e sintomas da síndrome urêmica costumam ocorrer com ureia sérica > 180 mg/dl, em não diabéticos, e > 140 mg/dl, em diabéticos.
Na falência renal crônica lentamente progressiva, esses níveis podem cursar sem sintomas importantes, devido aos mecanismos de adaptação.
O que é a S. residual?
Com frequência, pacientes em programa de diálise apresentam sintomas como astenia, falta de energia, distúrbios do sono e cognição, alterações psiquiátricas, disfunção sexual e deficit de crescimento e maturação sexual em crianças e adolescentes.
A hipótese de que o tratamento dialítico não é inteiramente capaz de depurar todas as toxinas que deveriam ser eliminadas e/ou metabolizadas no rim, causando seu acúmulo e o surgimento da síndrome residual, é corroborada pelo fato de que, estes pacientes, quando transplantados, evoluem com melhora importante dos referidos sintomas…
Quais os principais Distúrbios Hormonais na DRC? 5
O principal parece ser a elevação dos níveis de Paratormônio (PTH), devido ao hiperparatireoidismo secundário.
Eritropoietina
Calcitriol
A deficiência na produção de Amônia (NH3) pelo parênquima renal contribui para a acidose metabólica da uremia. Um deficit na produção de Óxido Nítrico renal contribui para a hipertensão arterial.
O que é a S. urêmica?
Dá-se o nome de Síndrome Urêmica ao conjunto de sinais e sintomas que aparece na insuficiência renal grave, quando a filtração glomerular está < 30 ml/min.
Quais as manifestações da síndrome urêmica
respondem bem à diálise? 9
Quais as manifestações da síndrome urêmica que não
respondem bem à diálise? 9
Qual o valor de urêmia normal?
Urémia normal = 20-40mg/dL
Quais os Distúrbios hidroeletrolíticos mais frequentes
na síndrome urêmica? 7
Como é que o rim aumenta a excreção de sódio nos casos de maior ingestão?
Se de uma hora pra outra o indivíduo passar a consumir uma carga maior de sódio – ex.: 350 mEq – o rim, após 3-5 dias, aumenta a excreção de sódio para 350 mEq/dia.
Este aumento é garantido pela supressão do sistema renina- angiotensina-aldosterona, associado a uma maior liberação de peptídeo atrial natriurético.
De que forma o rim reduz a excreção de sódio?
Por outro lado, se o indivíduo reduzir a ingesta de sódio para 30 mEq/dia, o rim, após 3-5 dias, também é capaz de reduzir a excreção sódica para 30 mEq, pela ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona e supressão do peptídeo atrial natriurético
Na IRC como é conseguida a excreção de sódio necessária?
Aque que valores de TFG é possível?
Na insuficiência renal crônica, à medida que a filtração glomerular se reduz, um mecanismo de adaptação faz aumentar a fração excretória de cada néfron remanescente, de forma a manter a capacidade de excreção renal total e garantir o equilíbrio hidroeletrolítico. Enquanto a TFG for superior a 20 ml/min, o equilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico geralmente estará intacto. Entretanto, quando a filtração chega a valores muito baixos, compatíveis com a síndrome urêmica, a regulação hidroeletrolítica torna-se limitada.
Como se atinge o estado de equilibrio que permite excretar o sódio em excesso na IRC?
O aumento da FENa é estimulado por uma retenção inicial de sódio, o que mantém o paciente em um Estado Hipervolêmico. A hipervolemia estimula a liberação do peptídeo atrial natriurético e suprime o sistema renina-angiotensina-aldosterona, promovendo o aumento da fração excretória de sódio. Em outras palavras, atinge-se um novo estado de equilíbrio no qual o paciente mantém o balanço de sódio à custa de um estado hipervolêmico… Qualquer aumento na ingestão de sódio provocará uma maior retenção volêmica, até que seja atingido um novo equilíbrio para que a excreção fique igual ao sódio ingerido. Este é o princípio que rege a retenção de sódio, água, potássio, H+, fosfato e magnésio na síndrome urêmica
Quais são as duas consequencias clínicas principais da hipervolemia?
(1) hipertensão arterial sistêmica;
(2) edema generalizado.
Como se caracteriza o edema renal?
O edema, denominado edema renal, distribui-se não só pelas áreas dependentes de gravidade (membros inferiores, bolsa escrotal), mas também na face e região periorbitária. O edema frequentemente atinge as serosas, sendo comuns a ascite, o derrame pleural e o derrame pericárdico.
Qual a complicação mais temida da do agravamento da hipervolémia?
Quais as manifestações clínicas?
Se a hipervolemia piorar subitamente, como ocorre após uma carga salina aguda (ex.: ingestão de alimentos salgados, infusão de soro fisiológico), o paciente pode evoluir com edema agudo de pulmão, apresentando ritmo de galope (B3), estertoração pulmonar e insuficiência respiratória.
Qual o tratamento da retenção de sódio?
O tratamento da retenção de sódio (hipervolemia) é a retirada de sódio e água (fluido isotônico) na diálise, um processo denominado Ultrafiltração.
O que é a Nefropatia Perdedora de Sal?
Como vimos, nefropatas crônicos também têm dificuldade de conservar sódio em situações de privação. Os rins mantêm uma excreção mínima obrigatória, geralmente em torno de 50 mEq (equivalente a 3 g de NaCl). Se a restrição de sal na dieta for muito intensa, ocorre balanço negativo de sódio e evolução para hipovolemia. Nefropatias tubulointersticiais crônicas podem cursar com perda urinária mínima de sódio em torno de 150 mEq (9 g de NaCl)… É a chamada Nefropatia Perdedora de Sal, que predispõe o paciente ao estado de hipovolemia.
Mecanismo da hiponatrémia na IRC
O rim normal é capaz de eliminar quantidades variáveis de água livre, ao modificar, conforme a necessidade, a osmolaridade urinária. Em uma pessoa saudável, os rins podem eliminar até 18 L de água por dia. Quando a filtração glomerular está abaixo de 10 ml/min (10% da função renal), um consumo de água acima de 2-3 L/dia já pode ser suficiente para promover retenção de água livre, diluindo o sódio plasmático – hiponatremia.
Quais os principais mecanismos adaptativos contra a hipercaliémia?
- *(1) aumento da fração excretória de potássio por néfron, estimulada pela hipercalemia (efeito direto) e pelo hormônio aldosterona –** os inibidores da ECA, BRA e diuréticos poupadores de potássio (espironolactona, amiloride) anulam este mecanismo, desencadeando hipercalemia;
(2) aumento da excreção de potássio pelo cólon (perda fecal de potássio). Em indivíduos normais, a mucosa colônica excreta < 10% do total de potássio eliminado por dia. Porém, na síndrome urêmica, esse percentual pode chegar a 40%! A secreção de potássio pela mucosa do cólon é ativada pela própria hipercalemia (efeito direto) e pela aldosterona. A constipação intestinal pode desencadear hipercalemia no paciente urêmico, por prejudicar uma importante via de eliminação deste íon…
Para que valores de TFG é comum a Hipercalémia?
Qual é o factor mais determinante?
A retenção de potássio na insuficiência renal crônica é comum apenas quando a filtração glomerular está < 5-10 ml/min (menos de 5-10% da função renal).
O débito urinário é um fator determinante: quanto mais oligúrico for o paciente, maior sua propensão a reter potássio.
Por que razão, o paciente urêmico não tolera uma carga aguda de potássio?
a uremia inibe a entrada de potássio nas células, devido à queda na atividade da enzima NaK-ATPase da membrana celular, um fenômeno que antecede a retenção renal de potássio.
Por esta razão, o paciente urêmico não tolera uma carga aguda de potássio, pois perdeu a principal defesa imediata contra a hipercalemia – o “tamponamento celular”
Que condiçoes podem desencadear hipercalémia na IRC?
Que grupo de pacientes e porque têm mais susceptibilidade de desenvolver hipercalémia mais cedo?
Condições que promovem a liberação de potássio das células podem acarretar hipercalemia em níveis perigosos. São elas: estados hipercatabólicos (ex.: infecção grave), cirurgia, trauma, acidose metabólica e uso de betabloqueadores.
Um grupo de pacientes com nefropatia crônica apresenta maior propensão à hipercalemia, mesmo nos estágios iniciais da nefropatia, quando a filtração glomerular ainda está entre 50-80 ml/min. São pacientes diabéticos com a síndrome do hipoaldosteronismo hiporreninêmico (disfunção da arteríola aferente com diminuição da secreção de renina). A redução dos níveis de aldosterona prejudica a excreção de potássio pelos néfrons remanescentes…
Porque se desenvolve acidose na IRC?
Na insuficiência renal crônica, quando a filtração glomerular está abaixo de 20 ml/min (20% da função renal), a produção renal de amônia começa a cair. Com isso, a eliminação urinária de H+ torna-se prejudicada. Nesse momento, começa a surgir uma Acidose Metabólica Hiperclorêmica
De que forma é compensada a acidose metabolica hiperclorêmica na IRC?
Quais as consequências da acidose metabólica crónica?
O aumento do cloreto é para compensar a queda do bicarbonato, de forma a manter o equilíbrioeletroquímico do plasma. É comum observarmos um bicarbonato plasmático entre 12-18 mEq/L. O pH dependerá da compensação respiratória. Geralmente está em torno de 7,30.
A acidose metabólica crônica promove desmineralização óssea, pois o H+ é tamponado no osso, em troca da liberação de cálcio e fosfato.
Em que situação de IRC se desenvolve acidose com cloreto sérico normal?
Quando a filtração glomerular está abaixo de
5-10 ml/min (5-10% da função renal), especialmente durante uma exacerbação aguda da insuficiência renal, surge uma acidose com ânion-gap aumentado. Neste caso, o cloreto sérico está normal. O aumento do ânion-gap é decorrente da retenção do ânion sulfato, proveniente da dissociação do ácido sulfúrico (ácido sulfúrico → H+ + sulfato).
Qual um dos grandes problemas da acidose metabólica na uremia crónica?
Um dos grandes problemas da acidose metabólica na uremia crônica, mesmo em suas fases iniciais (ex.: acidose hiperclorêmica) é a aceleração do catabolismo proteico, que contribui para a perda de massa muscular típica desses pacientes. O mecanismo bioquímico ainda é pouco compreendido… Um bicarbonato sérico inferior a 20 mEq/L já é capaz de estimular este fenômeno!
Qual o tratamento da acidose metabólica?
Que fármaco esta contra indicado? Porque?
Para evitar as complicações crônicas da acidose metabólica (agravamento da osteodistrofia renal e perda de massa muscular), a reposição diária de bicarbonato de sódio está indicada quando o bicarbonato plasmático for ≤ 20 mEq/L.
O citrato de potássio (usado para repor bases nas acidoses tubulares renais) é contraindicado no renal crônico, pois o citrato aumenta a absorção intestinal de alumínio (potencialmente tóxico) e além disso contém potássio…
Manisfestações gastrointestinais da S. urêmica
O trato gastrointestinal é muito afetado pela uremia, com frequência respondendo pelos primeiros sintomas da síndrome! Em geral, a anorexia é o sintoma mais precoce. Seguem-se náuseas, plenitude abdominal e vômitos (intolerância gástrica). Estes podem ser explicados por dois fatores: (1) gastrite urêmica; (2) gastroparesia urêmica. A mucosa gastroduodenal, além de enantema e edema, pode apresentar
petéquias. A disfunção plaquetária contribui para
esses achados. A disgeusia (percepção de gosto amargo na boca) é decorrente da transformação da ureia, por bactérias presentes na saliva, em amônia… O comprometimento da mucosa intestinal, tanto no delgado como no cólon, pode levar a um quadro de diarreia urêmica, bem como ao íleo urêmico (distensão abdominal e cólicas). São causados pela inflamação mucosa, com redução no tamanho das vilosidades, acrescida de uma série de outros fatores, como disautonomia, supercrescimento bacteriano e deficiência de vitamina D.
Hemorragia digestiva, tanto alta (hematêmese ou melena) quanto baixa (hematoquezia ou enterorragia), pode ocorrer como complicação da uremia. É explicada pela inflamação urêmica da mucosa gastrointestinal, que pode evoluir com erosões ou ulcerações, e pelo distúrbio plaquetário da uremia. A incidência de angiodisplasia gastrointestinal está aumentada na síndrome urêmica, por mecanismos desconhecidos, podendo contribuir para a maior incidência de hemorragia digestiva. As angiodisplasias são mais comuns no ceco e cólon direito. Podem ser encontradas em 25-30% dos casos de hemorragia digestiva na síndrome urêmica.
Envolvimento do Sistema Nervoso
Central
A partir de que valores de TFG?
Os sintomas mais graves costumam ocorrer quando a filtração glomerular está abaixo de 10 ml/min (10% da função renal).
A fisiopatologia envolve acúmulo de toxinas nitrogenadas dialisáveis, porém, não se sabe exatamente qual ou quais… Declínio cognitivo leve a moderado, bem como alterações em testes neuropsicológicos, já podem ser observados em pacientes com TFG < 60 ml/min!
Qual o efeito da PTH no SNC?
O PTH possui importante efeito no SNC, levando à entrada de cálcio nos neurônios. O hiperparatireoidismo secundário pode contribuir para os sintomas neurológicos!
Qual o quadro clínico da urêmia aguda?
Na uremia aguda (ou crônica agudizada), o paciente pode apresentar desorientação, letargia, lassidão, confusão mental, surto psicótico, delirium, associado a sinais de encefalopatia metabólica, como nistagmo, disartria, asterixis, mioclonia espontânea, fasciculações, hiper-reflexia e sinal de Babinski bilateral – encefalopatia urêmica aguda. Pode evoluir para convulsões tônico-clônicas generalizadas, coma e óbito, por edema cerebral grave.
Qual o quadro clínico da urêmia crônica?
Na uremia crônica, o distúrbio mental tende a ser insidioso e mais sutil nas fases iniciais – a encefalopatia urêmica crônica. Observa-se disfunção cognitiva progressiva, caracterizada por amnésia anterógrada, dificuldade de concentração, alteração de comportamento ou de personalidade, sonolência ou insônia, confabulação e perda do raciocínio aritmético.
Alguns pacientes desenvolvem apraxia motora (dificuldade em executar tarefas), afasia (distúrbio da linguagem) ou agnosia (perda da capacidade de reconhecimento relacionado a uma função sensorial), uma síndrome demencial semelhante ao mal de Alzheimer...
Como diferenciar a encefalopatia urêmica da encefalopatia por intoxicação de alumínio?
A encefalopatia urêmica deve ser diferenciada da encefalopatia da hemodiálise, causada pela intoxicação por alumínio. Esta última possui um quadro inicial marcado por importantes alterações da fala (disartria, fala balbuciante, gagueira).
O EEG pode diferenciar essas duas entidades, apresentando somente ondas lentas na encefalopatia urêmica e alternância de ondas lentas com ondas rápidas na encefalopatia por alumínio.
Qual o resultado da diálise na encefalopatia urêmica?
A diálise costuma reverter (ao menos parcialmente) o quadro encefalopático. A melhora pode levar meses para se completar, sendo mais lenta na encefalopatia urêmica crônica. Nesta última, o EEG pode demorar até seis meses para voltar ao normal!
O que é a neuropatia periférica urêmica?
Em que % de casos de DRC está presente?
A neuropatia periférica urêmica é muito comum na insuficiência renal crônica, observada, em algum grau, em até 65% dos casos.
Trata-se de uma polineuropatia axonal, sensorimotora, simétrica e com predomínio distal e de membros inferiores.
Quais as manifestações clínicas e evolução da neuropatia periférica urêmica?
Os sintomas iniciais são parestesias nos pés do tipo “agulhadas”, que costumam piorar à noite. O exame físico revela hipoestesia “em bota”. A perda dos reflexos tendinosos distais – hiporreflexia do Aquileu - é muito comum. Caso a uremia não seja prontamente tratada (diálise ou transplante), o quadro evolui com perda de força distal e atrofia muscular, gerando dificuldade de marcha. A neuropatia pode atingir os membros superiores, levando a parestesias e hipoestesia na distribuição “em luva”. Outra manifestação da uremia é a “síndrome das pernas inquietas”, caracterizada por desconforto nos membros inferiores e uma necessidade incontrolável de mexer as pernas…
A que duas neropatias perifericas se assemelha a neuropatia urêmica?
E que outra associada à hemodiálise crónica?
A neuropatia urêmica assemelha-se à neuropatia periférica do diabetes mellitus e do mieloma múltiplo, duas importantes doenças que podem cursar com uremia.
A amiloidose por β-2-microglobulina, associada à hemodiálise crônica, também pode causar neuropatia, em geral na forma de uma síndrome do túnel do carpo (compressão do nervo mediano).
Qual a fisiopatologia da neuropatia periférica urêmica?
Qual a resposta à diálise?
A fisiopatologia da neuropatia periférica urêmica é dependente de toxinas dialisáveis e, provavelmente, também de outros fatores, como o excesso de PTH.
A resposta à diálise é imprevisível. Muitos pacientes não melhoram com a hemodiálise, porém, respondem de forma satisfatória ao transplante renal! A utilização de filtros com “poros” maiores, ou a diálise peritoneal, tem melhorado a resposta da neuropatia urêmica à diálise.
O que é a síndrome de disautonomia?
Quais as manifestações clínicas?
Em que outra doença é comum a disautonomia?
O comprometimento dos nervos periféricos do sistema nervoso autonômico (simpático e parassimpático) é comum na uremia crônica, levando à síndrome de disautonomia.
O controle da pressão arterial e da frequência cardíaca
pode estar alterado! Isso pode causar hipotensão postural, hipotensão durante a hemodiálise não responsiva a volume e frequência cardíaca fixa (com predomínio de taquicardia).
A perda da influência vagal sobre o sistema de condução cardíaco pode predispor a arritmias malignas e à morte súbita. Outras manifestações relacionadas à disautonomia são: anidrose, impotência e distúrbio gastrointestinal (ex.: gastroparesia, diarreia). A disautonomia é muito comum no diabetes mellitus, que frequentemente é a causa da insuficiência renal crônica (nestes casos, existe sobreposição de disautonomiapelo diabetes e pela uremia).
Qual a relação entre HTA e IRC?
A hipertensão arterial possui íntima relação com a insuficiência renal. Pode ser a causa (nefroesclerose hipertensiva) ou a consequência da nefropatia!!! Patologias renais agudas e crônicas podem levar à hipertensão arterial mesmo na ausência da elevação da ureia e creatinina plasmáticas, ou quando os valores estão apenas um pouco aumentados.
Como participa o rim saudável no controlo da HTA?
O rim participa do controle da pressão arterial através do mecanismo de natriurese pressórica.
Em indivíduos normais, aumentos iniciais da PA atuam diretamente no rim induzindo natriurese (eliminação de sódio e água), de modo a reduzir a PA.
Qual o papel do rim na HTA descontrolada?
3
O mecanismo de natriurese pressórica provavelmente está alterado na hipertensão essencial, havendo um reajuste da relação pressão arterial-natriurese…
Na doença renal parenquimatosa, a alteração pode ser ainda maior, levando a uma maior retenção de sódio e água. O sistema renina-angiotensina-aldosterona participa na gênese da HAS, pois as nefropatias parenquimatosas podem levar à maior produção de renina. Esse fato é evidenciado pelo frequente encontro de hipertrofia do aparelho justaglomerular em rins atrofiados pela doença parenquimatosa… Na doença renal policística, o epitélio dos cistos pode produzir renina em excesso.
Além do sistema renina-angiotensina, outros fatores humorais podem contribuir para a hipertensão na doença renal. Dois exemplos importantes são: (1) substância digital-símile; (2) redução do óxido nítrico endotelial. A substância digital-símile, ou oubaína símile, é liberada no SNC em reposta à retenção hidrossalina.
A partir de que valores de TFG se começa a manifestar a HTA?
Quando a doença renal chega ao estágio avançado, com filtração glomerular abaixo de 10 ml/ min (10% da função renal), a hipertensão arterial está presente em mais de 90% dos pacientes. Esta é a hipertensão relacionada à síndrome urêmica.
Que dois tipos de hipertensos existem em programa de diálise?
Dos hipertensos urêmicos ou em programa de diálise, cerca de 80% são do tipo “volume dependente dependente”, isto é, a hipertensão é causada essencialmente pela retenção renal de sódio e água.
Os 20% restantes continuam hipertensos apesar da otimização da terapia dialítica. Nestes casos existe participação do sistema renina-angiotensina aldosterona, que se encontra hiperativado (promovendo vasoconstricção sistêmica).
Qual a importancia da HTA na Uremia?
Manisfestaçoes clínicas?
A hipertensão arterial na uremia costuma ser mais grave quando comparada à hipertensão primária. Frequentemente é acompanhada por complicações cardiovasculares, como hipertrofia ventricular esquerda, cardiomiopatia dilatada e doença coronariana.
Tanto é assim que as complicações cardiovasculares são a principal causa de óbito no portador de DRC!
Qual o alvo terapéutico da HTA em IRC?
Quais os farmacos utilizados e mecanismos de acção dos mesmo?
Como já dissemos, o controle pressórico é essencial nesses doentes, devendo-se manter a PA obrigatoriamente abaixo de 140 x 90 mmHg e, se possível, abaixo de 130 x 80 mmHg (em particular nos portadores de DRC “proteinúrica”). Sempre que possível, os IECA ou BRA devem ser usados: eles não apenas reduzem a pressão arterial (pela inibição do sistema renina- angiotensina-aldosterona) como também reduzem de forma independente a pressão intraglomerular e a proteinúria (pela vasodilatação da arteríola eferente), conferindo o benefício da “nefroproteção adicional” (diminuição da sobrecarga dos néfrons remanescentes, que assim demoram mais para “esclerosar”).