Envolvimento Renal no Diabetes Mellitus Flashcards
Em que tipo de DM é mais provavel desenvolver doença renal?
Até pouco tempo atrás se acreditava que o risco de desenvolver nefropatia diabética fosse relativamente mais baixo em pacientes DM 2 (em comparação com o DM 1), porém, novos estudos demonstraram que o risco é semelhante em ambos os grupos. Devido à maior prevalência do DM 2 (responsável por > 90% dos casos de DM), a maioria dos portadores de nefropatia diabética possui esta forma da doença… Apesar das diferenças etiopatogênicas e clínicas entre os tipos 1 e 2 de diabetes, os mecanismos implicados no comprometimento renal são idênticos
Patologia da nefropatia diabética
Quais as estruturas mais afectadas?
Os glomérulos são os principais “alvos” renais do diabetes mellitus. Seu envolvimento ocorre em fases clinicopatológicas subsequentes.
Com a progressão da doença glomerular, outros compartimentos renais podem ser envolvidos, como o sistema tubular, o interstício e a papila renal.
Patologia da nefropatia diabética
Lesão Glomerular
Quais são as alterações mais precoses?
Iniciadas cerca de dois anos após o diagnóstico do DM, as alterações mais precoces da nefropatia diabética são as seguintes:
- Espessamento da Membrana Basal Glomerular
(MBG).
- Hipertrofia glomerular, associada ao aumento
do tamanho dos rins (nefromegalia).
- Expansão mesangial acelular, correspondente
a um material amorfo eosinofílico PAS positivo.
A hipertrofia glomerular e o espessamento da
MBG são observados em quase todos os diabéticos, não sendo, portanto, necessariamente prenúncios de evolução para a glomerulosclerose. A hipertrofia glomerular, como veremos adiante, está relacionada à hiperfiltração. Os glomérulos encontram-se aumentados em volume, por alongamento das alças capilares. A hipertrofia glomerular é acompanhada via de regra de hipertrofia tubular, levando a rins de tamanho aumentado.
A expansão mesangial, por outro lado, é um marcador de nefropatia diabética e, num subgrupo de pacientes, progride causando colapso e distorção dos capilares glomerulares (glomerulosclerose).
A violação da barreira de filtração, com redução e distorção dos podócitos, permite o extravasamento de proteínas determinando proteinúria. A área de filtração declina proporcionalmente, como evidenciado pela correlação direta dos índices que quantificam a expansão do mesângio com a taxa de filtração glomerular.
Patologia da nefropatia diabética
Lesão Glomerular
Apresentações histológicas
Qual a forma mais comum
qual a mais carateristica/DD
A organização intraglomerular dos depósitos mesangiais PAS positivos determina duas apresentações histológicas da nefropatia diabética:
- Glomerulosclerose Difusa, se a distribuição for homogênea
- Glomerulosclerose Nodular, se ela ocorrer sob a forma de nódulos intercapilares, conhecidos como nódulos de Kimmelstiel-Wilson (KW)
Os nódulos de KW, encontrados em apenas 25% dos casos, são considerados específicos da nefropatia diabética, desde que excluídos (por análise minuciosa da histologia e imunofluorescência) os seguintes diagnósticos: amiloidose, glomerulonefrite membranoproliferativa e glomerulonefrite associada à doença do depósito de cadeia leve de imunoglobulina.
Patologia da nefropatia diabética
Lesão Tubulointersticial e Vascular
lesão tubular quase que patognomônica da nefropatia diabética?
A glomerulosclerose diabética cursa também com isquemia tubulointersticial, levando à fibrose intersticial e à atrofia tubular. A isquemia do interstício renal (mesmo em fases mais precoces de nefropatia) favorece a ocorrência de necrose da papila renal, evento observado com relativa frequência nos pacientes diabéticos (em associação à pielonefrite ou mesmo espontaneamente).
- *Existe uma lesão tubular quase que patognomônica da nefropatia diabética, denominada lesão de Armanni Ebstein. Esta é caracterizada pelo acúmulo de glicogênio e vacuolização das células da alça de Henle e do túbulo coletor.**
- *A arterioloesclerose hialina** associa-se com frequência à glomerulosclerose diabética nos diabéticos Tipo 2. Trata-se do espessamento da parede arteriolar por um material hialino, decorrente do acúmulo de proteínas extravasadas do plasma. Contribui para a isquemia glomerular.
- *Ao contrário da arterioloesclerose renal hipertensiva (exclusiva de artérias interlobulares e arteríolas aferentes), na nefropatia diabética a lesão afeta também as arteríolas eferentes…**
HISTÓRIA NATURAL da Nefropatia diabética
Em quantas fases se divide?
Fase I – A Hiperfiltração (Pré-Nefropatia)
Fase II – A Microalbuminúria Fixa
(Nefropatia Diabética Incipiente)
Fase III – A Proteinúria “Manifesta”
(Nefropatia Diabética Declarada)
Fase IV – Fase Azotêmica
(Insuficiência Renal Crônica e Uremia)
HISTÓRIA NATURAL da Nefropatia diabética
Fase I – A Hiperfiltração (Pré-Nefropatia)
Alterações
Prognóstico
Logo após o início do DM, mais da metade dos diabéticos apresenta aumento do fluxo sanguíneo renal e da Taxa de Filtração Glomerular (TFG), ou seja, um estado de Hiperfiltração Glomerular.
Os rins encontram-se aumentados (nefromegalia) e os glomérulos e túbulos tornam-se hipertrofiados. A TFG excede em 20-40% o valor normal (dos não diabéticos), variando entre 120-170 ml/min (maior no DM Tipo 1 do que no DM Tipo 2). Mesmo após a evolução para falência renal, os rins do diabético permanecem proporcionalmente maiores que os rins terminais em outras patologias. A hiperfiltração glomerular é um dos principais fatores na patogênese da nefropatia diabética.
Além da hiperfiltração e hipertrofia glomerular e renal, nesta fase, já se nota um espessamento da membrana basal glomerular (dobra de espessura).
Estas alterações hemodinâmicas e estruturais são pelo menos em parte, dependentes da hiperglicemia crônica, uma vez que o controle glicêmico adequado pode preveni-las e revertê-las.
A Fase I não é preditora da nefropatia diabética, pois apenas 20-40% evolui para a fase II, ao longo dos próximos dez anos (em média).
HISTÓRIA NATURAL da Nefropatia diabética
Fase II – A Microalbuminúria Fixa (Nefropatia Diabética Incipiente)
Defenição de Microalbuminúria
lesão glomerular desta fase
A microalbuminúria fixa marca o início da nefropatia diabética propriamente dita, numa fase precoce ou incipiente. O termo “microalbuminúria” é definido como a excreção de albumina entre 30-300 mg/dia ou entre 30- 300 mg/g (ou mcg/mg) de creatinina em
amostra urinária isolada.Para ser considerada “microalbuminúria fixa”, o resultado deve se repetir em pelo menos duas de três amostras de urina, colhidas num período de 3-6 meses.
Episódios de “microalbuminúria transitória” podem ocorrer em pessoas normais ou em diabéticos na Fase I, desencadeados pela posição ortostática prolongada, exercício físico, infecção urinária ou doença febril aguda.
O paciente diabético que tem microalbuminúria certamente já apresenta lesão glomerular visível à microscopia óptica, caracterizada pela presença de expansão acelular da matriz mesangial.
HISTÓRIA NATURAL da Nefropatia diabética
Fase II – A Microalbuminúria Fixa (Nefropatia Diabética Incipiente)
Que testes se utilizam para quantificar a microalbuminúria?
Sabemos que a urina de uma pessoa normal pode conter até 150 mg de proteína em 24h.
Porém, quando se trata apenas da albumina, o valor máximo considerado normal é de 30 mg em 24h. A microalbuminúria não é detectada pelos métodos convencionais, como o EAS (urina tipo 1). Este último só é positivo quando a excreção urinária de albumina é > 300 mg/24h, ou a de proteína total é > 500 mg/24h. Para detectar a microalbuminúria, utilizam-se técnicas do tipo radioimunoensaio ou ensaio imunoenzimático…
A microalbuminúria pode ser quantificada por dois diferentes métodos:
(1) urina coletada por 24 horas com dosagem direta superior a 30 mg;
(2) urina coletada pela manhã (para subtrair o efeito albuminúrico da posição ortostática e do exercício físico) com razão de Alb/Cr (Albumina/ Creatinina) superior a 30 mg/g – este último é o mais simples, e é considerado o método de escolha para rastreamento.
HISTÓRIA NATURAL da Nefropatia diabética
Fase II – A Microalbuminúria Fixa (Nefropatia Diabética Incipiente)
Importância e significado prognóstico da microalbuminuria na DM
Outros factores de risco para microalbuminúria fixa (4)
Boa parte dos pacientes diabéticos com microalbuminúria irá evoluir para as fases mais avançadas da nefropatia diabética se não receber tratamento específico…
Além das implicações prognósticas e terapêuticas para a nefropatia diabética, a microalbuminúria aumenta cerca de cinco vezes a mortalidade cardiovascular, correlacionando-se com um perfil lipídico desfavorável. No DM tipo 1 a microalbuminúria sempre representa a existência de nefropatia, mas no DM tipo 2 ela também pode representar um sinal de disfunção endotelial sistêmica, cursando com aumento da permeabilidade da parede vascular às partículas lipoproteicas aterogênicas.
Além do Diabetes Mellitus, outros fatores de risco para microalbuminúria fixa são:
- Hipertensão arterial;
- Tabagismo;
- Dislipidemia;
- Obesidade.
HISTÓRIA NATURAL da Nefropatia diabética
Fase III – A Proteinúria “Manifesta” (Nefropatia Diabética Declarada)
Defenição
Qual a importância da retinopatia para o diagnóstico?
A demonstração de uma excreção urinária de albumina superior a 300 mg/24 horas, em pelo menos duas dosagens, caracteriza a evolução para a nefropatia diabética declarada.
No EAS (Urina I), já se pode perceber a presença de proteína pelo dipstick. A proteinúria costuma progredir rapidamente, podendo alcançar níveis nefróticos (> 3,5 g/24h) em 10-20% dos pacientes após alguns poucos anos. Desde a instalação da microalbuminúria até o aparecimento da proteinúria, correm em média 5-7 anos.
A retinopatia também está presente nesta fase em 90% dos diabéticos Tipo 1 e em cerca de 60% dos diabéticos Tipo 2. A ausência de retinopatia em pacientes diabéticos com proteinúria ou síndrome nefrótica fala contra nefropatia diabética e deve desencadear a investigação de outras glomerulopatias.
HISTÓRIA NATURAL da Nefropatia diabética
Fase III – A Proteinúria “Manifesta” (Nefropatia Diabética Declarada)
Manifestações clínicas
A TFG inicia seu declínio como resultado da glomerulosclerose, característica histológica desta fase (glomerulopatia avançada). A queda da TFG é, em média, da ordem de 12 ml/minuto/ano (embora exista grande variação individual).
Observa-se um aumento acentuado na incidência de hipertensão arterial nesta fase, mesmo antes do desenvolvimento da azotemia (elevação de escórias nitrogenadas).
Clinicamente, já é frequente o surgimento de edema periférico. Assim como a proteinúria aparece como primeiro achado laboratorial da nefropatia diabética, o edema pode ser encarado como o primeiro sinal clínico. Sua patogênese ainda é pouco esclarecida, já que frequentemente ocorre em pacientes com proteinúria inferior a 3,5 g/24h e na ausência de hipoproteinemia. A presença do edema generalizado e da proteinúria > 3,5 g/24h define a “síndrome nefrótica” na nefropatia diabética. Curiosamente, a hipoalbuminemia é incomum neste contexto…
Em contraste com outras patologias glomerulares, a proteinúria da nefropatia diabética se mantém elevada mesmo após a evolução para falência renal!
HISTÓRIA NATURAL da Nefropatia diabética
Fase III – A Proteinúria “Manifesta” (Nefropatia Diabética Declarada)
Diagnóstico
Indicações de Biopsia
A princípio, pacientes com quadro sugestivo
de nefropatia diabética não necessitam de biópsia
renal para confirmar este diagnóstico (ex.:DM de longa duração, retinopatia, rins de tamanho aumentado). Por outro lado, uma biópsia renal estará indicada sempre que houver indícios clinicolaboratoriais de que a nefropatia do paciente pode ser “não diabética”. Indicaremos a biópsia, portanto, se:
1- A proteinúria for encontrada antes de cinco anos do diagnóstico de DM Tipo 1;
2- Houver hematúria dismórfica e/ou cilindros celulares (hemáticos e/ou leucocitários) no EAS;
3- Ausência de retinopatia diabética;
4- Rins de tamanho reduzido, em vez de rins de tamanho normal ou aumentado (ausência de nefromegalia);
5- Insuficiência renal de rápida evolução.
HISTÓRIA NATURAL da Nefropatia diabética
Fase IV – Fase Azotêmica (Insuficiência Renal Crônica e Uremia)
Definicão
Prognóstico
Quando a taxa de filtração glomerular cai abaixo de um limiar, em torno de 40 ml/min, tem início a elevação da creatinina sérica, marcando o início da fase azotêmica. Esta fase da nefropatia diabética ocorre, em média, 4-6 anos após o início da proteinúria declarada. Nesse momento, a evolução para a síndrome urêmica e rins em estado terminal é a regra, mesmo com as intervenções atualmente disponíveis que retardam o processo de deterioração renal.
É importante termos em mente que, desde a instalação da azotemia, a evolução para rins em fase terminal, com necessidade de métodos de substituição renal (diálise, transplante), correm em média 2-3 anos.
Como rastrear a Nefropatia Diabética?
Indicações
Indicado para todo diabético Tipo 1 com mais de 12 anos de idade, a partir de cinco anos do diagnóstico, e para todo o diabético Tipo 2 já no momento do diagnóstico, em função da dificuldade em datar o início da doença.
1) Dosar a creatinina sérica e calcular a taxa de filtração glomerular
2) Coletar um EAS. Se houver proteinúria (confirmada numa segunda amostra), na ausência de hematúria e cilindros celulares, o paciente a princípio tem “nefropatia diabética declarada”, já na fase III
3) Se o EAS for negativo para proteinúria, deve-se pesquisar a microalbuminúria. Se positiva na primeira dosagem, para ser considerada fixa, deve-se repetir o resultado em pelo menos duas de três dosagens, realizadas num período de 3-6 meses.
4) Se negativo, o rastreamento (cálculo da TFG + dosagem de microalbuminúria) deve ser repetido anualmente.
Por que a síndrome nefrótica associada à nefropatia diabética pode cursar com níveis séricos de albumina preservados???
Ao contrário das glomerulopatias primárias que induzem síndrome nefrótica, a nefropatia diabética não é uma doença essencialmente “inflamatória”, isto é, não há um processo de agressão autoimune aos glomérulos renais acompanhado de inflamação sistêmica! Os principais mecanismos fisiopatogênicos da nefropatia diabética são metabólicos (hiperglicemia) e hemodinâmicos (hiperfiltração glomerular), que juntos promovem glomerulosclerose em indivíduos geneticamente predispostos… Pois bem, a albumina é um marcador negativo de fase aguda, pois sua síntese hepática é reduzida diante de um estímulo inflamatório sistêmico, como ocorre nas doenças autoimunes. Assim, nas glomerulopatias autoimunes, temos grande perda urinária de albumina acompanhada de uma dificuldade em aumentar sua síntese hepática.
Logo, nestes casos os níveis de albuminemia tendem a ser proporcionalmente mais baixos para um mesmo grau de proteinúria…
Na nefropatia diabética o fígado consegue compensar melhor a perda urinária de albumina, aumentando sua síntese.
FISIOPATOLOGIA DA NEFROPATIA DIABÉTICA
Quais os 3 elementos responsáveis?
Três elementos concorrem para o desenvolvimento
de nefropatia diabética:
fatores metabólicos,
hemodinâmicos
genéticos.
FISIOPATOLOGIA DA NEFROPATIA DIABÉTICA
Fatores Metabólicos (5)
- Hiperglicemia
- Dislipidemia
- Sorbitol
- Citocinas e hormônios
- Pró-renina