IRA Flashcards
Quando dizemos que um quadro de insuficiência renal é agudo?
Um quadro de insuficiência renal é dito agudo (IRA) quando sua evolução é rápida, ao longo de horas ou dias.
Por definição, Insuficiência Renal é a queda na Taxa de Filtração Glomerular (TFG).
Entretanto, a azotemia (Crpl ≥ 1,5 mg/dl em homens e ≥ 1,3 mg/dl em mulheres) costuma aparecer somente quando a TFG está pelo menos 50% abaixo do valor normal. Logo, podemos deduzir que mesmo um paciente SEM AZOTEMIA já pode apresentar perda significativa da função renal.
Qual o termo preferido a IRA?
Defenição de lesão renal aguda. (3)
Nos dias de hoje, o termo “Injúria Renal Aguda” tem sido preferido por representar melhor o amplo espectro de apresentação da doença, uma vez que a terminologia antiga descreve bem somente um subgrupo desses pacientes, que são aqueles que necessitam de suporte dialítico de emergência…
Quais as classificações de IRA em função do débito urinário?
a IRA pode ser dividida em três subtipos, de acordo com o débito urinário:
(1) IRA oligúrica, quando o débito urinário for inferior a 500 ml/24h, ou 400 ml/24h, dependendo da referência;
(2) IRA não oligúrica, quando a diurese for maior que 400-500 ml/24h;
(3) IRA anúrica, para débitos urinários inferiores a 50 ml/24h ou 100 ml/24h (novamente novamente
existe divergência na literatura)
Qual o tipo de IRA mais comum? (débito urinário)
O fato é que mais de 50% das IRA cursa com a forma não oligúrica, com volume urinário normal em torno de 1 a 2 L/dia!
Eventualmente, um débito urinário acima do normal (poliúria = mais de 3 L/dia), pode ser observado em pacientes com injúria renal aguda…
Estadiamento de gravidade da IRA
Quais as 3 principais funções do rim?
Das três principais, duas podem ameaçar a vida de maneira imediata se forem perdidas. São elas:
(1) função de filtro, ou função excretória,
(2) regulação do equilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico.
A terceira função renal é a função endócrina, mediada basicamente através da produção de dois hormônios principais: a eritropoietina e o calcitriol (forma ativa da vitamina D)
Qual a diferença entre Azotemia e Uremia?
Qual o parametro que quantifica a função renal?
A Taxa de Filtração Glomerular (TFG) é o parâmetro que quantifica a função renal. Seu valor normal depende da idade, do sexo e do tamanho do indivíduo, mas gira em torno de 120 ml/min. Assim, cerca de 170 litros de plasma são filtrados por dia nos glomérulos, e desses, cerca de 168 litros retornam ao intravascular através do processo de reabsorção tubular. Os dois litros restantes são eliminados como urina (que contém todas as toxinas que precisam ser excretadas).
O que é a secreção tubular?
Algumas substâncias, além de filtradas no glomérulo, ainda podem ser eliminadas na urina pelo processo de secreção tubular. Um exemplo de secreção tubular é o que ocorre com as penicilinas e com o ácido úrico: a maior parte de sua eliminação não ocorre pela filtração glomerular, mas sim pela secreção tubular, através de um carreador de ácidos orgânicos presente nas células do túbulo proximal.
Como se mede a função excretora renal?
A partir de que valores se instala a S. uremica?
A única maneira de se medir a função excretória renal é pela quantificação da filtração glomerular.
A síndrome urêmica costuma ocorrer com uma Taxa de Filtração Glomerular (TFG) abaixo de 15-30 ml/min, o que corresponde, em geral, a uma concentração sérica de ureia e creatinina acima de 120 mg/dl e 4,0 mg/dl, respectivamente, em um homem de 40 anos pesando 70 kg.
Quais os principais métodos de avaliar a função renal? 5
Os principais métodos de avaliação da função renal são: (1) ureia sérica;
(2) creatinina sérica;
(3) clearance de creatinina, que pode ser diretamente medido (urina de 24h), ou estimado através de fórmulas matemáticas;
(4) clearence de radiotraçadores
(5) clearance de inulina.
Qual a utilidade da clearance de insulina?
Vale ressaltar que aquele considerado o “padrão-ouro” (clearance de inulina) na verdade só é empregado no âmbito da pesquisa científica, devido à alta complexidade (e custo) de sua realização…
De onde provem a ureia?
A ureia é formada no fígado a partir da molécula de amônia (NH3), esta última produzida pelo metabolismo proteico endógeno e pelas bactérias da microbiota intestinal.
Qual a toxixidade da ureia?
Enquanto a amônia é extremamente tóxica para o organismo, sendo uma das substâncias causadoras da encefalopatia hepática, a toxicidade da ureia é menos importante…
Tanto é assim que a ureia só consegue produzir efeitos adversos quando em concentrações muito elevadas (> 380 mg/ dl), afetando o trato gastrointestinal (anorexia, náuseas e vômitos) e a hemostasia primária (disfunção das plaquetas).
Qual a utilidade da ureia enquanto parametro analitico?
qual o valor normal?
Como a ureia é eliminada quase que exclusivamente pelo rim e é de fácil dosagem, podemos utilizar seus níveis séricos para uma estimativa grosseira da função excretória renal. De uma forma geral, os níveis de ureia se elevam acima dos valores de referência quando a TFG está menor que 50 ml/ min.
O valor normal da ureia é 20-40 mg/dl.
Quais as principais desvantagens de usar a ureia para medir a TFG?
Causas de aumento da ureia sérica.
Causas de diminuição de ureia sérica
a ureia não é o melhor “termômetro” para se medir a TFG… Boa parte da ureia filtrada pelo glomérulo é naturalmente reabsorvida no túbulo proximal (cerca de 40-50%)! Desse modo, condições que aumentam a reabsorção tubular – como a hipovolemia – aumentam os níveis séricos de ureia de forma desproporcional à queda na TFG…
Além disso, a grande produção de amônia após uma hemorragia digestiva alta, quando as bactérias intestinais catabolizam intensamente a hemoglobina liberada, leva a um aumento na produção hepática de ureia, novamente elevando seus níveis séricos sem que haja uma correlação precisa com a TFG.
Um aumento no catabolismo proteico, como ocorre na sepse e no uso de corticosteroides, eleva a ureia sanguínea de maneira independente da função renal. Uma dieta hiperproteica também pode elevar os níveis de ureia.
Em contrapartida, a ureia pode estar reduzida na insuficiência hepática e na desnutrição…
Logo, a utilização da ureia plasmática como marcador de função renal deve levar em conta a presença de condições não renais, capazes de interferir em seus níveis
O que é a Creatinina?
É uma substância atóxica produzida pelo tecido muscular, derivada da creatina, molécula armazenadora de energia no miócito.
Quais as vantagens da creatinina em relação à ureia na medida da função excretora renal?
Possui algumas vantagens em relação à ureia como medida da função excretória renal:
a) sua produção diária é relativamente constante, desde que o peso e a dieta também se mantenham estáveis;
b) ao contrário do que ocorre com a ureia, a creatinina
não é reabsorvida pelo túbulo.
Qual o valor normal da creatinina?
Que condições fisiologicas aumentam (4) e diminuem (5) a creatinina?
Os níveis normais de creatinina dependem da massa muscular e da ingesta de carne, o que provavelmente justifica suas variações étnicas, etárias, de gênero e geográficas (Tabela 4). Em um indivíduo musculoso, uma creatinina de 1,2 mg/ dl pode ser normal, enquanto em um desnutrido magro esse valor já pode indicar injúria renal grave…
O valor normal da creatinina é:
Homens < 1,5 mg/dl
Mulheres < 1,3 mg/dl
Qual a grande desvantagem da creatinina sérica como
marcador de função renal?
A grande desvantagem da creatinina sérica como marcador de função renal é que, para que seus níveis ultrapassem o limite superior da normalidade, pode ser necessária uma queda relativamente acentuada da TFG, às vezes para menos de 50% do normal... Veja bem: a creatinina sérica é inversamente proporcional à TFG. Se a TFG diminui para a metade, a creatinina sérica tem que aumentar o dobro. Neste caso, se, por exemplo, o nível de creatinina basal for de 0,6 mg/dl (paciente magro), o aumento será para 1,2 mg/dl, ainda dentro dos valores de referência. Portanto, os estágios iniciais da disfunção renal podem não ser detectados pela dosagem de creatinina sérica.
Que medicamentos podem aumentar a creatinina sérica sem que haja baixa da TFG? (8)
. Certos medicamentos competem com a creatinina pela secreção no túbulo proximal (os principais são: penicilina, probenecida, cimetidina e trimetoprim), o que faz seus níveis aumentarem.
O acetoacetato (presente em altas concentrações na cetoacidose diabética) interfere com os ensaios de mensuração da creatinina sérica, dando um resultado falsamente alto (aumento de 0,5 mg/dl até > 2 mg/dl). Nestes casos, a insulinoterapia traz os níveis de creatinina de volta ao normal…
Drogas como a cefoxitina (antimicrobiano) e a flucitocina (antineoplásico) também geram artefatos nos exames bioquímicos, elevando falsamente o valor da creatinina sérica.
Lembre-se que na rabdomiólise a creatinina pode estar desproporcionalmente alta em relação ao grau de injúria renal, por aumento de sua liberação a partir do músculo lesado!
O que significa Clearance?
Clearance, em inglês, significa depuração. Por definição, é o volume de plasma que fica “livre” da substância a ser eliminada a cada minuto.
Qual a diferença entre a clearence de ureia e de creatinina?
Qual o valor normal da clearence de creatinina?
A clearance da ureia é de apenas 50-70 ml/min. Como uma parte da ureia é reabsorvida e retorna ao plasma, seu clearance acaba ficando menor que a taxa de filtração glomerular.
A creatinina, por sua vez, não é reabsorvida – tudo o que é filtrado no glomérulo é excretado na urina e, portanto, depurado do plasma.
Podemos dizer que o clearance de creatinina (ClCr) é uma razoável estimativa da TFG, apesar de superestimá-la um pouco (costuma ser 10-15% maior que a TFG real).
O valor normal do clearance de creatinina é de 91-130 ml/min.
Porque motivo existe discreta superestimativa da TFG pelo Clcr?
O motivo da discreta superestimativa da TFG pelo Clcr é o fato de cerca de 10-15% da creatinina ser eliminada por secreção tubular, e não pela filtração glomerular.
Como se calcula a Clearence de Creatinina?
O paciente deve coletar toda a urina durante 24h e levá-la ao laboratório. Determina-se a concentração urinária de creatinina (Cru) e o volume urinário em 24h (V, em ml). Sabendo-se a concentração de creatinina sérica (Cr) , calcula-se o clearance de creatinina (ClCr) pela fórmula a seguir:
Qual o exame mais utilizado para diagnosticar a lesão renal aguda?
Porque razão não é utilizado o memso exame na lesão renal avançada?
O clearance de creatinina é o exame mais utilizado para diagnosticar o estágio inicial da injúria renal, particularmente quando a creatinina sérica ainda não se elevou acima dos valores de referência (não há azotemia).
Na injúria renal avançada, isto é, quando a TFG se encontra muito reduzida, o clearance de creatinina progressivamente perde sua precisão, pois passa a superestimar a TFG de uma forma exagerada, uma vez que até 35% da creatinina pode estar sendo eliminada por secreção tubular! Alguns estudos mostraram que o Clcr mensurado na vigência de franca insuficiência renal pode representar, falsamente, o DOBRO da verdadeira TFG, conforme medido por métodos mais fidedignos (ex.: clearance de inulina)…
Que formas existem de estimar a Clearence de creatinina sem usar a urina de 24 horas? 3
Nas últimas décadas, diversos trabalhos desenvolveram fórmulas matemáticas para estimar o clearance de creatinina sem necessitar da urina de 24h (que é sujeita a erros de coleta).
Dentre as várias fórmulas que foram desenvolvidas,
daremos destaque a somente três:
(1) fórmula de Cockcroft-Gault;
(2) fórmula do estudo MDRD;
(3) fórmula do CKD-EPI.
Quais as limitações da formula de Cockcroft-Gault?
O que fazer nesses casos?
(1) ela superestima a TFG em pessoas extremamente obesas, já que parte considerável do peso desses indivíduos não é de massa muscular, e sim tecido adiposo (que não secreta creatinina);
(2) desnutridos, amputados, paraplégicos e tetraplégicos, além de pacientes muito idosos, crianças e gestantes também apresentam maior chance de resultados irreais com o uso desta fórmula, devido às variações na proporção de massa muscular em relação ao peso corpóreo total…
Em todos estes casos, recomenda-se lançar mão de métodos DIRETOS de aferição da TFG, como o clearance de creatinina na urina de 24h, ou mesmo o clearance de radiotraçadores.
Qual a fórmula mais utilizada na prática médica?
Na prática médica, graças ao advento de calculadoras online e aplicativos para dispositivos móveis eletrônicos, a fórmula de Cockcroft-Gault é menos utilizada… De acordo com a literatura, a de escolha na atualidade é a fórmula CKD-EPI, que se mostrou mais acurada que as demais.
Por que razão nenhuma dessas fórmulas deve ser utilizada nos casos de injúria renal aguda?
Elas foram desenvolvidas somente para pacientes com função renal estável… Na IRA, a creatinina sérica leva de 48-72h para se elevar por completo após uma queda na TFG.
Desse modo, estimar o clearance de creatinina através de fórmulas, num momento em que a creatinina sérica ainda não tenha atingido seu valor máximo, inevitavelmente resulta numa superestimativa da TFG…
Estimativa do Clearance de Creatinina
em CRIANÇAS!
Que radio farmacos são utilizados para medir a TFG?
Protocolos utilizando radiotraçadores como o Cr51-EDTA, o I125-Iotalamato, o Tc99m-DTPA ou o Iohexol costumam ser utilizados em estudos científicos para avaliar a TFG com grande precisão, sendo, entretanto, raramente empregados na prática clínica (são métodos caros e pouco disponíveis).
Qual é o exame gold standart para medir a TFG?
Porque razão nao é utilizado na prática?
Já o clearance de Inulina é considerado o “padrão-ouro” para a mensuração exata da TFG, uma vez que esta molécula (polímero da frutose) é um “marcador ideal de filtração glomerular”: a inulina é inerte (ou seja, não é sintetizada nem metabolizada no organismo), não se liga a nenhuma proteína plasmática e é inteiramente filtrada nos glomérulos, sem ser reabsorvida, secretada ou modificada pelas células tubulares, apenas filtradas…
Entretanto, o clearance de inulina também não é feito de rotina! São dois os principais empecilhos:
- *(1) baixa disponibilidade da molécula (o que torna seu custo muito elevado);
(2) técnica extremamente complexa para sua realização…**
Para medir o clearance de inulina é necessário administrá-la em infusão contínua, realizar coletas seriadas de sangue e cateterizar a bexiga do paciente para quantificação precisa do fluxo urinário!
Logo, não é um exame muito prático…
O que é a Cistatina C?
Quais as vantagens da Cistatina C em relação à creatinina para medir a TFG?
A cistatina C é uma proteína de baixo peso molecular (13 kDa) produzida por todas as células nucleadas do organismo. Ela é livremente filtrada pelo glomérulo, não sendo reabsorvida pelos túbulos. Sabemos que sua secreção tecidual sofre influência de fatores como idade, sexo, raça e variáveis antropoantropométricas (peso, altura, quantidade de tecido adiposo), entre outros. Logo, a cistatina C NÃO é superior à creatinina como marcador de função renal! Além do mais, a cistatina C é parcialmente metabolizada pelo rim, o que invalida a medida direta de seu clearance
urinário. Não obstante, estudos recentes demonstram que a combinação de ambas (creatinina + cistatina C) permite uma estimativa mais acurada da TFG do que a utilização de cada uma delas isoladamente… Existe uma variante da fórmula CKD-EPI que combina as dosagens séricas de creatinina e cistatina C, sendo esta fórmula bastante precisa em comparação com métodos diretos de aferição da TFG (ex.: clearance de iotamalato). Até o momento, porém, não há comprovação de que seu uso leve a melhores desfechos clínicos no manejo dos pacientes nefropatas, em comparação com as fórmulas que utilizam apenas a dosagem de creatinina. Por este motivo, apesar de precisa, tal fórmula não é considerada a “de escolha” para estimativa da TFG na prática! Seu emprego, inclusive, é limitado pelo maior custo e menor disponibilidade da dosagem de cistatina C…
O que caracteriza a lesão pre-ranal?
A injúria pré-renal caracteristicamente cursa com oligúria, devido tanto à queda na TFG quanto ao aumento da reabsorção tubular.
É marcada clinicamente pela reversibilidade, uma vez restaurado o fluxo renal.
Qual a defenição de oligúria na prática?
Apesar da definição de oligúria envolver um parâmetro fixo (< 500 ml/24h ou < 400 ml/24h, dependendo da referência), na prática, devemos valorizar qualquer queda expressiva do volume urinário, mesmo que ainda acima do valor considerado limite.
Existe azotemia pré-renal sem oligúria?
Sim. O exemplo é a associação dos estados de baixo fluxo renal (como hipovolemia) à diurese osmótica (glicosúria, manitol) ou à perda da capacidade de concentração urinária (diabetes insipidus nefrogênico ou central, uso de furosemida).
Quais os 3 mecanismos básicos causadores de lesão renal aguda?
Qual o mais comum?
Qual a causa de lesão renal intrinseca mais comum?
A injúria renal aguda pode ser causada por três
mecanismos básicos:
(1) hipofluxo renal (azotemia pré-renal);
(2) lesão no próprio parênquima renal (azotemia renal intrínseca)
(3) obstrução do sistema uroexcretor (azotemia pós renal).
A causa de azotemia renal intrínseca mais comum é a NTA (Necrose Tubular Aguda), responsável por cerca de 90% dos casos neste grupo etiopatogênico.
Mas considerando todos os mecanismos,o mais comum parece ser o pré-renal, e o menos comum, o pós-renal. Veja os percentuais:
1- Pré-renal (hipofluxo) – 55-60%;
2- NTA (Necrose Tubular Aguda) – 35-40%;
3- Pós-renal (obstrutiva) – 5-10%.
Quais os mecanismos de lesão renal aguda mais comuns em doentes internados?
Analisando especificamente a população de doentes críticos (isto é, aqueles internados no CTI), observa-se uma proporção diferente, com a NTA sendo responsável por 50% dos casos de insuficiência renal aguda, seguida pela pré- -renal (35%) e pós-renal (10%). Outras causas de injúria renal intrínseca correspondem a menos de 10% do total de casos.
O que se entende por Azotemia pre renal?
Quais são as principais causas (4)
Azotemia pré-renal é a elevação das “escórias nitrogenadas” causada pela redução do fluxo sanguíneo renal. É o tipo mais comum de injúria renal aguda (55 60% dos casos). Caracteriza- se clinicamente pela reversibilidade, uma vez restaurado o fluxo renal.
As principais causas são: (a) hipovolemia; (b) estados de
choque; (c) insuficiência cardíaca; (d) cirrose
hepática com ascite.
Azotemia Pré-Renal
Fisiopatologia
Felizmente, os vasos renais possuem um mecanismo de proteção contra alterações deletérias do fluxo renal e da taxa de filtração glomerular, o que denominamos autorregulação do fluxo renal e da filtração glomerular. Quando a Pressão Arterial Média (PAM) cai, as arteríolas aferentes vasodilatam, reduzindo a resistência vascular do rim, evitando o hipofluxo renal. Em condições normais, o fluxo sanguíneo renal é preservado até uma PA sistólica de 80 mmHg.
Caso a pressão caia abaixo desse limite, a autorregulação não será mais capaz de evitar o hipofluxo, pois as arteríolas já estarão em seu máximo de vasodilatação!!! Neste ponto, instala-se a azotemia pré-renal. É importante ressaltar que indivíduos com um “desajuste” da autorregulação renal podem desenvolver azotemia pré-renal mesmo quando a PA sistólica está um pouco acima de 80
mmHg. É o caso dos idosos, hipertensos crônicos e diabéticos de longa data (condições que comumente lesam a arteríola aferente).
O mecanismo de vasodilatação aferente depende de dois fatores:
(1) estímulo direto de barorreceptores de estiramento da própria musculatura lisa arteriolar (reflexo miogênico)
(2) liberação intrarrenal de vasodilatadores endógenos (prostaglandina E2, sistema calicreína- cinina, óxido nítrico) que agem predominantemente na arteríola aferente.
A TFG ainda pode ser regulada de forma independente do fluxo renal, por ação da angiotensina II, um potente vasoconstrictor da arteríola eferente. Ao agir sobre esta arteríola, a angiotensina II promove um aumento da pressão de filtração glomerular, contribuindo para a manutenção da TFG.
A redução do volume circulante efetivo é um forte estímulo para a ativação do sistema renina angiotensina-aldosterona, do sistema adrenérgico e para a liberação de ADH (vasopressina).
A angiotensina II, as catecolaminas e a vasopressina promovem vasoconstricção periférica de modo a desviar o fluxo sanguíneo para os órgãos “nobres”. Quando o estímulo é intenso, a vasoconstricção acomete também os vasos renais, contribuindo para a azotemia pré-renal.
Na tentativa de conservação hidrossalina, a angiotensina II aumenta a reabsorção de sódio e água pelo néfron proximal, enquanto a aldosterona aumenta a reabsorção de sódio e água no néfron distal. A vasopressina aumenta a reabsorção de água livre no néfron distal.
Resultado final: oligúria, urina hiperconcentrada e pobre em sódio.
Que fármacos podem precipitar azotemia pré renal?
Porque?
Os AINE (inibidores da formação de prostaglandinas), os inibidores da ECA e os antagonistas do receptor de angiotensina II prejudicam a autorregulação do fluxo renal e da TFG!!! Estes fármacos podem precipitar azotemia pré-renal em pacientes com baixo fluxo renal, como aqueles com hipovolemia moderada a grave, ICC descompensada, nefropatia crônica ou estenose bilateral de artéria renal.
O uso de drogas com efeito vasoconstrictor renal, tais como a noradrenalina, adrenalina, dopamina (em dose alfa), ergotamina, ciclosporina e contraste iodado, pode também precipitar uma azotemia pré-renal.
Causas de azotemia pré-renal. 7
- Redução do volume circulante efetivo
- Estados de choque
- Insuficiência cardíaca descompensada
- Cirrose hepática com ascite
- Nefropatia isquêmica
- AINE
- Inibidores da ECA/Antagonistas de Angio II
Causas de azotemia pré-renal
Causas de redução do volume circulante efetivo
A redução do volume circulante efetivo é a causa mais comum de injúria pré-renal e, portanto, de injúria renal aguda. Pode ser devida à hemorragia externa ou interna, diarreia, vômitos, fístulas digestivas, poliúria, sudorese intensa ou perda para o terceiro espaço (retroperitônio – pancreatite; peritônio – ascite; luz intestinal – obstrução intestinal aguda, isquemia intestinal, íleo paralítico; tecido muscular – rabdomiólise). Devemos estar atentos para não “deixar passar” o diagnóstico de hemorragias internas, como hemotórax, hemoperitônio e hematoma muscular da coxa, todos consequentes a trauma. A musculatura da coxa traumatizada pode armazenar até 12 L de líquido, só de edema…
Causas de azotemia pré-renal
Estado de Choque> fisiopatologia> Choques mais comuns
O estado de choque é acompanhado pela redução generalizada do fluxo orgânico. Um dos órgãos mais afetados é o rim.
Os choques hipovolêmicos, cardiogênico, séptico e obstrutivo, são os tipos descritos. A causa mais comum de choque cardiogênico é o infarto agudo do miocárdio.
Causas de azotemia pré-renal
A insuficiência cardíaca descompensada
Fisiopatologia
A insuficiência cardíaca descompensada pode causar redução importante do fluxo renal, pelo baixo débito cardíaco. Na insuficiência cardíaca, a ativação do sistema renina-angiotensina- -aldosterona promove retenção hidrossalina que inicialmente é benéfica, por aumentar o retorno venoso e manter, até certo ponto, um débito cardíaco satisfatório. Contudo, no estado mais avançado da cardiopatia, a retenção de sódio e água pelo rim torna-se excessiva, sobrecarregando o ventrículo doente e levando a congestão pulmonar e sistêmica.