Doenças Tubulointersticiais Flashcards
O que são as Nefropatias Tubulointersticiais?
São doenças definidas pela presença de anormalidades histológicas e funcionais que envolvem preferencialmente os túbulos e o interstício (em relação aos glomérulos e vasos renais).
Tais doenças podem ser responsabilizadas por casos de insuficiência renal aguda e crônica, configurando um grupo amplo e etiologicamente diverso de nefropatias bilaterais difusas.
Em que situações devemos suspeitar de doença tubulointersticial?
Sempre que o quadro clínico for dominado por distúrbios da concentração urinária (poliúria, isostenúria) e do equilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico (hipocalemia, acidose metabólica hiperclorêmica), sugerindo comprometimento desproporcional das funções tubulares em relação às glomerulares.
Quais os principais SÍNDROMES TUBULOINTERSTICIAIS? 5
1- Necrose Tubular Aguda (NTA)
2- Nefrite Intersticial Aguda (NIA)
3- Nefrite Intersticial Crônica (NIC)
4- Necrose de Papila
5- Distúrbios Tubulares Específicos
Qual a importaância da NTA?
De todas as síndromes tubulares, a Necrose Tubular Aguda (NTA) merece especial atenção, não apenas pela sua frequência, mas também por sua elevada letalidade.
As estatísticas mostram que a NTA é a segunda causa mais comum de insuficiência renal aguda em pacientes hospitalizados, depois da insuficiência pré-renal.
A necrose tubular aguda: Defenição histopatologica
é definida em termos histopatológicos pela perda do epitélio tubular em diversos pontos do parênquima renal, bilateralmente.
Acomete com maior intensidade o túbulo proximal (em sua parte reta) e a porção ascendente espessa da alça de Henle, estruturas localizadas na camada mais externa da medula renal que apresentam elevada taxa metabólica (e que por isso sofrem primeiro com a falta de energia celular, isto é, com a depleção de ATP).
A necrose tubular aguda: Patologia
As células epiteliais, ao sofrerem necrose, descamam para o lúmen tubular, formando verdadeiros plugs obstrutivos, um evento de extrema importância na gênese da insuficiência renal na NTA.
Algumas células tubulares já podem se descamar antes que ocorra necrose propriamente dita, pois a injúria (isquêmica / tóxica) pode induzi-las a perder sua adesão à membrana basal e às células adjacentes…
Causas de NTA
Qual costuma ser o curso clínico nos pacientes que sobrevivem à NTA?
Os sobreviventes de uma NTA geralmente recuperam a função renal após 7-21 dias, devido ao poder regenerativo do epitélio tubular.
Nesta fase, o paciente desenvolve poliúria, seguida por uma paulatina redução das escórias nitrogenadas. A capacidade de regeneração epitelial faz da NTA uma síndrome de natureza autolimitada.
NTA no Choque
o que é choque?
É um estado de má perfusão tecidual generalizada. Nesta situação, o sistema nervoso simpático se exacerba, gerando intensa vasoconstrição periférica na tentativa de redistribuir o fluxo sanguíneo para órgãos nobres como cérebro e coração…
NTA no Choque
Fisiopatologia
Os rins começam a sofrer hipoperfusão assim que a Pressão Arterial Média (PAM) cai abaixo de 80 mmHg, desencadeando insuficiência pré- -renal. Se a hipoperfusão renal for grave ou prolongada (> 60min), a NTA pode surgir.
Na coexistência de fatores predisponentes, como insuficiência renal crônica prévia (principal), exposição a nefrotoxinas, sepse e/ou circulação extracorpórea, mesmo uma hipoperfusão renal moderada já pode resultar em necrose tubular aguda!!!
NTA no Choque
Porque razão ocorre com menor frequencia no choque cardiogénico isolado?
Isso acontece porque na falência cardíaca temos:
(1) diminuição do tônus simpático sobre a vasculatura renal, o chamado “reflexo cardiorrenal”;
(2) liberação de peptídeo atrial natriurético em resposta à maior pressão de enchimento cardíaco.
Ambos os mecanismos aumentam o fluxo sanguíneo renal, preservando a perfusão deste órgão mesmo na vigência de choque
NTA na Sepse
O que é a Sepse?
Sepse é um estado de exacerbação do sistema inflamatório induzido por infecções graves, que evoluiu para um distúrbio microvascular sistêmico e culmina em hipóxia celular generalizada…
NTA na Sepse e na SIRS
Fisiopatologia
Na sepse, uma série de toxinas pró-inflamatórias, como a endotoxina, o TNF-alfa e as interleucinas 1 e 6, desencadeia e mantém a síndrome de resposta inflamatória sistêmica.
Os neutrófilos, o sistema complemento e a coagulação tornam-se hiperativados, contribuindo para o surgimento de um distúrbio microvascular difuso. O aumento “absurdo” (até 100x) da produção de óxido nítrico pelo endotélio promove vasodilatação generalizada, reduzindo a resistência vascular periférica e levando ao choque séptico.
A vasodilatação na sepse, entretanto, não contribui para a perfusão tecidual, pois na microvasculatura há um desvio de sangue dos capilares para micro- shunts arteriovenosos. Falamos de uma “vasodilatação inapropriada”.
NTA na Sepse e na SIRS
Quais são as principais causas de SIRS?
O fator desencadeante da sepse é a infecção grave. Contudo, diversas condições não infecciosas determinam alterações idênticas às da sepse. Daí utilizarmos o termo genérico SIRS (Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica), tendo a pancreatite aguda necrosante e o grande queimado como principais exemplos.
NTA na Sepse e na SIRS
Fisiopatologia da lesão renal
Na sepse e na SIRS, a isquemia renal é consequência de vasoconstricção renal + vasodilatação sistêmica…
A explicação para este fenômeno é a LESÃO DO ENDOTÉLIO nos vasos intrarrenais (resultante da hiperativação de leucócitos, complemento e coagulação), que bloqueia a síntese local de óxido nítrico e prostaglandinas (vasodilatadores), ao mesmo tempo em que promove a síntese de potentes vasoconstrictores (endotelina, tromboxane A2, leucotrienos)…
Além da isquemia renal em si, os próprios mediadores inflamatórios parecem exercer ação nefrotóxica… Já foi demonstrado, por exemplo, que a endotoxina bacteriana (LPS) “sensibiliza” o epitélio tubular à lesão isquêmica!
NTA na Sepse e na SIRS
Qual a prevalencia de NTA nestes casos e prognóstico?
Os rins são “alvos” prioritários da sepse e da SIRS…
Em portadores de sepse grave, por exemplo, a NTA ocorre em 20-25% dos casos.
No choque séptico, mais de 50% dos pacientes desenvolve NTA!
A NTA costuma fazer parte da síndrome de falência orgânica múltipla, na qual outros órgãos e tecidos, como fígado, alvéolos e miocárdio, também se encontram gravemente lesados. Em casos extremos a letalidade beira os 100%… O paciente não morre da injúria renal propriamente dita (pois deverá ser dialisado), mas sim da disfunção orgânica generalizada!!!
NTA no Pós-Operatório
Fisiopatologia (3)
No pós-operatório, a isquemia renal pode ocorrer devido a uma série de fatores: depleção volêmica pré ou intraoperatória, efeito de agentes anestésicos e hemotransfusão maciça.
NTA no Pós-Operatório
Quais as 3 cirurgias que mais aumentam a incidência?
Existem três tipos de cirurgia cuja incidência
de NTA no pós-operatório está desproporcionalmente
aumentada:
(1) cirurgia cardíaca;
(2) ressecção de aneurisma de aorta abdominal;
(3) cirurgia hepatobiliar.
NTA no Pós-Operatório
Cirurgia Cardíaca fisiopatologia
Na cirurgia cardíaca, o “grande vilão” é a Circulação Extracorpórea (CEC)!
A passagem do sangue por um circuito artificial lisa hemácias; e ativa leucócitos, plaquetas e complemento, produzindo Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS).
O risco de NTA aumenta muito quando o tempo de CEC é superior a duas horas.
NTA no Pós-Operatório
Na ressecção de Aneurisma de Aorta Abdominal fisiopatologia e factors de risco
Na ressecção de Aneurisma de Aorta Abdominal
(AAA), o risco de NTA está elevado quando há necessidade de se clampear a aorta antes da origem das artérias renais, ou seja, no reparo dos AAA suprarrenais! Durante a colocação do enxerto, o fluxo renal será totalmente abolido…
Um tempo de clampeamento > 60minaumenta o risco. Nos reparos de emergência, após rotura aneurismática, a chance de NTA é bem maior, pois o paciente já entra na cirurgia francamente hipovolêmico.
NTA no Pós-Operatório
Cirurgia hepatobiliar, fisiopatologia e factores de risco
Quanto mais ictérico estiver o paciente no pré-operatório, maior o risco de NTA…
A explicação para a NTA nesses pacientes é outra: sabe-se que a endotoxina dos Gram-negativos entéricos é degradada pelos sais biliares. Nos pacientes com colestase grave (portanto, com altos níveis de bilirrubina sérica), a ausência de sais biliares no intestino permite maior translocação bacteriana no pós-operatório.
A injúria renal, neste caso, deve-se à endotoxinemia.
NTA por Medicamentos
Quais os 2 mecanismos fisiopatologicos?
Podemos dividi-los em dois grupos:
(1) drogas
que lesam diretamente o epitélio tubular; e
(2) drogas que lesam a microvasculatura renal,
causando vasoconstricção arteriolar e lesão
isquêmica secundária do epitélio tubular
NTA por Medicamentos
Quais os medicamentos que cursam com NTA não oligurica? Porque?
Quando o defeito na reabsorção predomina sobre a queda da filtração glomerular. São drogas
que lesam diretamente o epitélio tubular
Os exemplos são: aminoglicosídeos (principal), anfotericina B, aciclovir, foscarnet, indinavir, pentamidina, cisplatina, carboplatina, ifosfamida e metotrexate.
NTA por Medicamentos
Quais os medicamentos qe cursam com NTA oligúrica? Porque?
Quando a queda da filtração glomerular (pela vasoconstricção das arteríolas aferentes) predomina sobre a lesão tubular. São drogas que lesam a microvasculatura renal, causando vasoconstricção arteriolar e lesão isquêmica secundária do epitélio tubular. originando comumente uma forma oligúrica de NTA.
Os exemplos são: contraste iodado, ciclosporina e tacrolimus.