Distúrbios Tubulares Específicos Flashcards
Quais os disturbios tubulares especificos do nefrónio proximal? (5)
- Glicosúria Renal
- Aminoacidúria Renal
- Fosfatúria
- ATR Tipo II
- Síndrome de Fanconi
Qual a responsabilidade do TCP na reabsorção tubular?
O néfron proximal é responsável pela reabsorção de 2/3 do filtrado que deixa os glomérulos, o que inclui praticamente a totalidade dos aminoácidos, glicose, fosfato e bicarbonato.
A detecção de um ou mais desses solutos na urina, em quantidades significativas, pode indicar um distúrbio reabsortivo desse segmento tubular.
Para que concentrações de glicose é impossivel ao TCP reabsorver toda a glicose?
Túbulo Contorcido Proximal (TCP) reabsorve toda a glicose que chega do filtrado glomerular, tornando seus valores urinários quase indetectáveis.
Nas condições em que o aporte de glicose ao TCP aumenta muito, como no diabetes mellitus, os mecanismos responsáveis pela reabsorção desta substância podem “saturar”, e os pacientes desenvolvem glicosúria.
Esse fato ocorre geralmente quando a glicemia está acima de 180-200 mg/dl (“limiar de glicose”)
O que é a glicosúria renal?
A glicosúria renal, entretanto, é uma condição primária do TCP, quando este se mostra incapaz de realizar a reabsorção da glicose filtrada pelos glomérulos, independente da quantidade filtrada, dando origem à glicosúria na ausência de hiperglicemia.
É uma condição geralmente herdada, mas pode ser, em poucos casos, adquirida.
Independente da origem, a glicosúria renal é, por definição, completamente assintomática, e os indivíduos afetados não apresentam poliúria ou polidipsia e tampouco hipoglicemia.
Não há tratamento específico.
Aminoacidúria Renal o que é?
Etiologia
As aminoacidúrias são distúrbios hereditários dos néfrons proximais, que os tornam incapazes de reabsorver de forma adequada um aminoácido específico, ou mesmo um grupo de aminoácidos – o resultado é a presença excessiva desta substância na urina, na ausência de hiperaminoacidemia.
Aminoacidúria Renal
Como é feita a reabsorção de animoácidos no TCP?Quais os 2 subtipos mais importantes?
Existem cinco importantes carreadores luminais para reabsorção, cada qual responsável pelo transporte de um grupo específico de aminoácidos.
A Tabela 1 reúne os principais grupos de
aminoácidos.
Dessa forma, a disfunção hereditária de um dos carreadores acaba resultando na perda urinária de todo um grupo de aminoácidos, como a cistinúria (aminoacidúria básica) e a doença de Hartnup (aminoacidúria neutra).
Cistinúria (Aminoacidúria Básica)
Definição
Clínica
Diagnóstico
Tratamento
A cistinúria é uma condição patológica que se caracteriza pela perda urinária não só de cistina, mas de todos os aminoácidos básicos – a cistinúria é a aminoacidúria básica.
As perdas urinárias da lisina, ornitina e arginina são virtualmente assintomáticas; entretanto, no caso da cistina, em função da sua menor solubilidade, pode haver precipitação renal e formação de cálculos. A cistinúria pode ser responsabilizada por até 2% de todos os cálculos urinários. Os cálculos de cistina são amarelados, radiopacos e tanto podem tomar dimensões coraliformes como servirem de “nicho” para implantação de cálculos de oxalato de cálcio.
O diagnóstico de cistinúria deve ser suspeitado em qualquer paciente que desenvolva nefrolitíase de repetição, mesmo quando a composição do cálculo for de oxalato de cálcio! A suspeita pode vir pelo EAS, que evidencia os cristais hexagonais típicos, mas a confirmação só pode ser feita pela documentação direta da excreção total de cistina. Concentrações urinárias de cistina superiores a 18 mg por grama de creatinina selam o diagnóstico.
O tratamento consiste na profilaxia da nefrolitíase, com medidas para evitar a precipitação de cistina: (1) aumento da ingesta hídrica; (2) alcalinização da urina, que aumenta sua solubilidade na urina; e (3) abstinência de metionina, seu precursor. Quando as medidas conservadoras falham, está recomendada a D-penicilamina, que se liga à cistina num composto muito mais solúvel, fazendo a excreção de cistina aumentar sem precipitação. Infelizmente, a D penicilamina tem muitos efeitos colaterais.
Doença de Hartnup(Aminoacidúria Neutra)
Definição
Clínica
Diagnóstico
Tratamento
A doença de Hartnup é um distúrbio hereditário do túbulo proximal, caracterizado pela incapacidade de reabsorção do grupo dos aminoácidos neutros, como tirosina, alanina, serina, leucina, isoleucina, valina, fenilalanina e triptofano.
Da mesma forma que na cistinúria, a incapacidade de reabsorção tubular da doença de Hartnup também se associa a uma incapacidade de absorção intestinal – os mecanismos de transporte dos aminoácidos neutros são deficientes nos rins e no intestino.
O triptofano é um dos precursores da niacina (termo utilizado em referência ao ácido nicotínico e à nicotinamida). A deficiência de niacina, também conhecida como vitamina B3, é a causa da pelagra. Assim, as características clínicas da doença de Hartnup são virtualmente idênticas às da pelagra, embora sejam intermitentes e menos intensas: os sinais e sintomas se manifestam em “ataques”, caracterizados por um rash crostoso avermelhado, exacerbado pela exposição ao sol, e que pode se associar a ataxia cerebelar, distúrbios psiquiátricos e diarreia. Frequentemente, estes “ataques” se iniciam após inadequação dietética.
O diagnóstico pode ser confirmado por cromatografia da urina, e o tratamento deve ser realizado com suplementação de nicotinamida, que evita o desenvolvimento da pelagra e dos sintomas neurológicos.
Fosfatúria Renal
Definição
Etiologia
Clínica
Diagnóstico
Tratamento
A fosfatúria se dá pela incapacidade do túbulo
proximal em reabsorver fosfato.A principal consequência é a hipofosfatemia crônica, que leva ao raquitismo (criança) ou osteomalácia (adulto). A principal síndrome relacionada à existência de fosfatúria é genética (hereditária), recebendo a denominação de Raquitismo Hipofosfatêmico Ligado ao X (também conhecida como “raquitismo resistente à vitamina D”) – estes pacientes possuem elevados níveis séricos de um fator inibidor da reabsorção tubular de fosfato, denominado fosfatonina.
Provavelmente, este é o mesmo fator na gênese de outra síndrome, ainda mais rara, relacionada à fosfatúria: a osteomalácia oncogênica, que se associa a tumores mesenquimais altamente vascularizados.
O raquitismo hipofosfatêmico ligado ao X costuma se manifestar em crianças do sexo masculino.
A apresentação clínica é idêntica a do raquitismo clássico: retardo no crescimento, flacidez muscular e deformidades ósseas características (rosário raquítico, sulco diafragmático de Harrison, “peito de pombo”, escoliose torácica e alargamento das epífises).
- *Laboratorialmente, existe fosfatúria e hipofosfatemia, mas a calcemia está normal. Os níveis séricos de calcitriol (1,25-vitamina D) estão normais ou discretamente baixos, apesar da hipofosfatemia…** Isso denota que a produção renal de calcitriol também está prejudicada, já que este é produzido pelas células tubulares proximais. A deficiência relativa de calcitriol contribui para o raquitismo.
- *O tratamento deve ser feito com a reposição de fosfato neutro** por via oral – 1 a 4 g/dia (dividido em quatro tomadas) – associado à reposição de calcitriol – 0,75 μg VO/dia. Se o fosfato for administrado sem o calcitriol, os níveis séricos de cálcio ionizado se reduzirão pelo efeito quelante, estimulando a produção de PTH, o que contribuirá para a lesão óssea. O calcitriol aumenta a absorção intestinal de cálcio e fosfato, evitando esse problema. Contudo, uma complicação poderá surgir como consequência da fosfatúria associada à hipercalciúria: o acúmulo de fosfato de cálcio no parênquima renal (nefrocalcinose).
Acidose Tubular Renal Proximal (Tipo II)
Fisiopatologia
A acidose tubular proximal (tipo II) se caracteriza por um defeito no néfron proximal em reabsorver o bicarbonato filtrado. Como o néfron distal normalmente reabsorve muito pouco bicarbonato, ele se perde na urina (bicarbonatúria).
À medida em que o bicarbonato vai sendo perdido na urina, desenvolve-se uma acidose metabólica (queda dos níveis de bicarbonato no sangue < 22 mEq/l, propiciando a redução do pH).
O néfron proximal não deixa de reabsorver totalmente o bicarbonato, pois, neste caso, o paciente morreria rapidamente de acidose! Há uma queda parcial na reabsorção desta base. No rim normal, todo o bicarbonato filtrado é reabsorvido até uma concentração plasmática em torno de 28 mEq/l (“Limiar de Bicarbonato”). Na Acidose Tubular Renal (ATR) tipo II, este limiar cai para 15-20 mEq/l, o que significa que haverá bicarbonatúria (e, portanto, perda urinária de bicarbonato) até que os níveis plasmáticos se estabilizem entre 15-20 mEq/l (acidose metabólica).
Nas fases iniciais do processo patológico, a bicarbonatúria determina a formação de uma urina alcalina; porém, assim que se desenvolve a acidose metabólica, a perda urinária de bicarbonato cessa, justificando uma urina fisiologicamente ácida (como em qualquer acidose). Por essa razão, ao contrário do que se poderia esperar (em função da etiopatogenia), a urina da acidose tubular renal tipo II, quando plenamente desenvolvida, é ácida, pobre em bicarbonato.
O aporte excessivo de bicarbonato ao néfron distal acaba resultando na secreção excessiva de potássio e hipocalemia. Veja… O bicarbonato, por ser um ânion pouco reabsorvido no néfron distal, acaba sendo eliminado, acompanhado de K+.
Acidose Tubular Renal Proximal (Tipo II)
Manifestações clínicas
Todas as manifestações clínicas são resultantes da acidose metabólica crônica, que leva, em especial, ao deficit de crescimento e a um distúrbio da mineralização óssea. O H+ excedente é tamponado nos ossos, em troca de cálcio e fosfato.
Como se caracterizam todas as ATR?
Todas as acidoses tubulares renais são hiperclorêmicas (aumento do cloreto sérico) e possuem o ânion-gap normal.
Definição de Ânion-Gap (plasmático)
No plasma, a concentração de cátions tem que ser igual à concentração de ânions, em termos de miliequivalentes, de forma a manter o equilíbrio eletroquímico. O principal cátion é o Na+ (sódio) e os principais ânions são Cl- (cloreto) e HCO3- (bicarbonato).
A concentração de sódio (140 mEq/l) é igual à soma da concentração de cloreto (106 mEq/l) com a de bicarbonato (24 mEq/l) e mais um excedente de ânions não medidos, representando um total de 10 mEq/l (140 = 106 + 24 + 10). Este excedente de ânions não medidos corresponde ao ânion-gap (intervalo ou hiato aniônico).
Para calculá-lo, siga a fórmula: AG = Na - (Cl + HCO3). O ânion-gap estará elevado sempre que se acumular no plasma um ânion “novo”, que não o cloreto e o bicarbonato. São exemplos: lactato (acidose lática), cetoânions (cetoacidose) e uremia grave (sulfato).
Toda acidose metabólica que se forma sem o surgimento de um ânion “novo” tem que ser hiperclorêmica! Acidose metabólica, por definição, é a queda do bicarbonato plasmático – um ânion. Para que se mantenha o equilíbrio eletroquímico plasmático, outro ânion deve “subir” – neste caso, só pode ser o cloreto…
Quando suspeitar de ATR II?
Como confirmar o diagnóstico?
Diagnóstico diferencial
Em resumo, a ATR tipo II deve ser suspeitada em todo paciente (criança ou adulto) que se apresentar com acidose metabólica hiperclorêmica e hipocalêmica, com bicarbonato sérico entre 15-20 mEq/l e pH urinário < 5,5.
O diagnóstico diferencial deve ser feito com as outras causas de acidose metabólica hiperclorêmica (com ânion-gap plasmático normal). Em primeiro lugar, devemos afastar a diarreia crônica e o uso abusivo de laxativos, levando à perda de bicarbonato pelas fezes. Para isso, pode-se calcular o chamado ânion-gap urinário!
Definição de Ânion-Gap Urinário
DD ATR
Assim como no plasma, os eletrólitos estão em equilíbrio na urina, onde os principais cátions são o Na+ (sódio) e o K+ (potássio), e o principal ânion é o Cl- (cloreto). O Ânion- Gap urinário (AGu) é a diferença entre cátions medidos (Na+, K+) e ânions medidos (Cl-) na urina. Para calculá-lo, siga a fórmula: AGu = (Nau + Ku) - Clu. O valor normal é levemente negativo, pois, na verdade, há um excedente de cátions não medidos na urina. O cátion não medido responsável pela negatividade do AGu é o amônio (NH4+), formado na urina pela ligação do NH3 (amônia) ao H+ secretado pelos túbulos.
Perceba: na urina, diferentemente do plasma, o excedente é de cátions não medidos (NH4+), e não de ânions. É por isso que o AGu é negativo. Se existisse o termo “cátion-gap urinário”, este, sim, seria positivo.
Agora veja… Na maioria das acidoses metabólicas, como acontece nas perdas digestivas, o rim normal responde aumentando a excreção urinária de NH4+, fazendo o AGu ficar ainda mais negativo, entre -20 a -50 mEq/l. Mais NH4+ na urina, maior será o Clu (para manter o equilíbrio), portanto mais negativo será o AGu. Já nas acidoses tubulares renais, há uma queda na produção tubular de NH3, ou pela disfunção da célula tubular proximal (ATR tipo II), ou pela perda da capacidade de acidificação urinária (ATR tipos I e IV). Neste caso, a urina terá pouco NH4+ e, então, o AGu tornar-se-á positivo ou neutro.
Como diferenciar os diversos tipos de ATR?
Em que consiste o teste do Bicarbonato?
A dosagem de potássio ajuda, pois as únicas hipocalêmicas são a tipo II e a tipo I. Para diferenciá-la do tipo I, utilizamos o teste do bicarbonato.
O Teste do Bicarbonato consiste na administração de NaHCO3 (bicarbonato de sódio) venoso para normalizar os níveis plasmáticos de bicarbonato. Apenas na ATR tipo II haverá uma bicarbonatúria importante (excreção superior a 15% do bicarbonato filtrado). Para isso, calcula-se a fração excretória de bicarbonato (FEHCO3)*. Na impossibilidade de se calcular a FEHCO3, observa-se apenas a variação do pH urinário: após a administração de NaHCO3, o pH urinário eleva-se acima de 7,0.
Como tratar a ATR tipo II?
Quais as principais causas Hereditárias (3) e Adquiridas (5) de ATR II
O tratamento deve ser a reposição de bases, com a preferência para o citrato de potássio, pois o citrato é convertido em bicarbonato no hepatócito e é mais palatável que o bicarbonato. A dose deve ser alta (10 mEq/kg/dia), já que boa parte do bicarbonato formado será perdido na urina.
Deve-se tomar muito cuidado com a reposição de bases, em função da possibilidade do agravamento das perdas de potássio. Quando a base escolhida é o citrato de potássio, este problema é resolvido.
Como a acidose tubular renal tipo II pode ser
secundária, deve-se sempre investigar uma possível condição de base, ou mesmo o uso de determinadas substâncias. Na imensa maioria das vezes, entretanto, ela ocorre associada a um distúrbio geral do néfron proximal, ou seja, como parte da síndrome de Fanconi.
Quadro resumo ATR II
Síndrome de Fanconi
Definição da sindrome
A síndrome de Fanconi traduz um distúrbio generalizado das funções reabsortivas do néfron proximal, normalmente se caracterizando pela presença simultânea de glicosúria, aminoacidúria, bicarbonatúria (acidose tubular renal tipo II), fosfatúria e uricosúria (perda urinária de ácido úrico).
Também faz parte da síndrome uma deficiência relativa de calcitriol (1,25 vitamina D) – níveis séricos normais ou discretamente baixos na vigência de hipofosfatemia. Uma leve proteinúria de baixo peso molecular pode estar presente em alguns casos.
Síndrome de Fanconi
Manifestações clínicas
As alterações clínicas mais importantes estão relacionadas ao metabolismo do cálcio/fosfato, fazendo com que esta síndrome se manifeste principalmente por um quadro de doença óssea (raquitismo em crianças e osteomalácea em adultos), associado a sintomas como anorexia, náuseas, vômitos, fraqueza muscular, poliúria e polidipsia.
Síndrome de Fanconi
Etiologias
Devem sempre ser pesquisadas causas subjacentes para a síndrome. **Suas causas são semelhantes às causas da acidose tubular renal tipo II.** Em adultos (forma adquirida), deve-se suspeitar em primeiro lugar das **discrasias plasmocitárias, em especial o mieloma múltiplo**, tornando a eletroforese do soro e da urina de fundamental importância diagnóstica. O chamado “rim do mieloma” é uma nefropatia tubulointersticial causada pelo efeito tóxico da cadeia leve da imunoglobulina (proteína de Bence Jones) nos túbulos proximais (local onde esta proteína é reabsorvida).
Outras causas importantes da síndrome de Fanconi são a doença de Wilson e a intoxicação por metais pesados, em especial o saturnismo (intoxicação por chumbo). Em crianças (forma hereditária), a principal etiologia é a cistinose (não confundir com cistinúria).
Síndrome de Fanconi
Tratamento
O tratamento se baseia além das medidas para a doença de base, na reposição de fosfato neutro e calcitriol (em caso de raquitismo ou osteomalácia) e bases (citrato de potássio), em caso de ATR tipo II.
Como no mieloma múltiplo é comum a hipercalcemia, a reposição de fosfato e calcitriol é contraindicada.
Quadro resumo S Fanconi