Urologia - câncer de bexiga Flashcards
1
Q
Epidemiologia
A
- O urotélio é um epitélio pseudo-estratificado que reveste toda a via coletora, desde a bexiga até a pelve renal
- Por isso que o CA de bexiga é um carcinoma urotelial!
- Somente 20% desses tumores de bexiga invadem a camada muscular, configurando um pior prognóstico
- 80% desses tumores são superficiais, tendo um bom prognóstico!
- Fatores de risco:
–> O FATOR DE RISCO CARDINAL É O TABAGISMO! É classicamente descrita em idosos com antecedente prévio de tabagismo e início de hematúria (especialmente macroscópica).
–> Aminas aromáticas: encontradas em alimentos com CORANTES, borracha e derivados petroquímicos
–> Radioterapia pélvica: pacientes expostos a irradiações na pelve com uma radioterapia pélvica, também apresentam risco aumentado de carcinoma urotelial
–> Esquistossomose (S. haematobium): o S. haematobium é mais prevalente em regiões do Egito, não sendo tão importante no Brasil
2
Q
Quadro clínico
A
- Dentre os sinais e sintomas esperados nesse tipo de câncer, temos:
–> HEMATÚRIA = SINTOMA MAIS IMPORTANTE, principalmente macroscópica em idosos
–> Disúria persistente
–> Polaciúria
–> Em tumores mais avançados pode ocorrer ureterohidronefrose - Diagnóstico diferencial de hematúria:
–> Definida por > 3 hemácias por campo
–> ITU
–> HPB
–> Litíase renal
–> Procedimentos urológicos
–> Hematúria macroscópica = risco de 13% de tumor urotelial
–> Hematúria microscópica = risco de 3% de tumor urotelial - Frente a uma hematúria, o objetivo é sempre afastar neoplasias uroteliais
3
Q
Abordagem ao paciente com hematúria
A
- 1º passo: anamnese + exame físico completos, incluindo exame ginecológico
- 2º passo: classificar hematúria em macroscópica e microscópica
- HEMATÚRIA MACROSCÓPICA: solicitar CITOLOGIA ONCÓTICA + CISTOSCOPIA + UROTOMOGRAFIA ou TOMOGRAFIA DE ABDOME E PELVE COM CONTRASE para fase tardia EXCRETORA (ou urorressonância em caso de alergia ao contraste endovenoso da TC)
DICA: a urotomografia é o exame de melhor custo benefício para avaliação de hematúria macroscópica! - HEMATÚRIA MICROSCÓPICA: estratificar risco sempre!
–> Baixo risco: não fumantes, pacientes jovens (homens < 40 anos, mulheres < 50 anos) e com < 10 hemácias/campo
–> Risco intermediário: pacientes com carga tabágica < 30 maços/ano, com 10-25 hemácias/campo e com idade entre 50-60 anos de idade
–> Risco alto: paciente com carga tabágica > 30 maços/ano, com > 25 hemácias/campo e com idade > 60 anos
CONDUTA:
–> Baixo risco: repetir EQU em 6 meses e observação clínica. Se paciente incomodado ou houver suspeição clínica maior, pode-se solicitar USG + cistoscopia
–> Risco intermediário: solicitar USG + cistoscopia
–> Risco alto: CISTOSCOPIA + UROTOMOGRAFIA (TC de abdome e pelve com contraste EV)
CUIDADO! NÃO SE FAZ CITOLOGIA ONCÓTICA FRENTE A UMA HEMATÚRIA MICROSCÓPICA! - Hematúrias macroscópicas sem coágulos e hematúrias microscópicas podem ser secundárias à glomerulopatias: pensar em referenciar ao nefrologista na vigência de fatores de risco para acometimento glomerular:
–> Pesquisa de hemácias dismórficas positiva
–> Proteinúria
–> Acantócitos na microscopia do EQU
–> Cilindros hemáticos na microscopia do EQU
–> Insuficiência renal (elevação de creatinina)
–> Antecedente familiar de nefrite hereditária
–> Antecedente familiar de doença policística renal
4
Q
Exames complementares do CA de bexiga
A
- USG: pode mostrar vegetações
- UROTOMOGRAFIA ou TC DE ABDOME E PELVE COM CONTRASTE EV: o exame de escolha apresentando uma fase tardia excretora. Identifica a topografia das lesões, bem como eventuais invasões
- CISTOSCOPIA: utilizada para fins de biópsias da lesão. A ressecção ideal deve ser COMPLETA ATÉ A CAMADA MUSCULAR (a amostra deve ter representatividade da camada muscular para avaliar se houve ou não invasão). Em toda a cistoscopia, deve-se tirar o MÁXIMO POSSÍVEL DAS LESÕES
5
Q
Estadiamento
A
- Segue o sistema TNM
- T:
–> Tx: sem evidências ou não acessível
–> Ta: carcinoma papilar não invasivo, restrito ao urotélio – lesões exofíticas
–> Tis: carcinoma urotelial in situ (restrito ao urotélio). São tumores de alto grau sem invasão do tecido conjuntivo subepitelial/lâmina própria.
–> T1: tumores que invadem tecido conjuntivo subepitelial ou lâmina própria
–> T2: Tumores que invadem camada muscular própria. T2a – primeira metade e T2b – segunda metade
–> T3: Tumor que invade tecidos perivesicais. T3a – invasão microscópica, T3b – invasão macroscópica ou massa perivesical.
–> T4: Tumor extravesical com invasão de alguma dessas estruturas: estroma prostático, útero ou vagina - T4a -, parede pélvica ou abdominal – T4b - N:
–> Nx/N0: linfonodos não acessíveis, sem evidência de doença linfonodal
–> N1: 1 linfonodo regional na pelve verdadeira
–> N2: múltiplos linfonodos regionais na pelve verdadeira
–> N3: metástases linfonodais em linfonodos ilíacos comuns. - M
–> M0: sem metástases a distância
–> M1: com metástases a distância (M1a – limitados a linfonodos além dos ilíacos comuns/M1b – metástases não linfonodais a distância) - Estágios prognósticos
Estágio 0a: T0 N0 M0
Estágio 0is: Tis N0 M0
Estágio 1: T1 N0 M0
Estágio 2: T2 N0 M0
Estágio 3 (mudança de prognóstico): IIIa - T(3-4a) N0 M0 ou T(1-4a) N1 M0 / IIIb – T(1-4a) N(2-3) M0
Estágio 4: IVa – T4b Nx Mx ou Tx Nx M1a / IVb – Tx Nx M1b - Os tumores uroteliais também são classificados em baixo, alto grau e in situ pela avaliação histológica:
–> Baixo grau: maior diferenciação, maior organização histológica
–> Alto grau: menor diferenciação, maior desorganização celular, heterogênea.
–> In situ: restritos ao epitélio, apresentando uma progressão em extensão do tumor, não em profundidade.
–> Tumores de baixo grau raramente progridem de modo agressivo, diferentemente dos tumores de alto grau que tendem a invadir tecidos adjacentes e fazer metástase linfonodal.
–> O grau de diferenciação deve ser determinado para diferenciar tumores sem invasão da muscular própria (in situ). - Em certas situações, após avaliação histopatológica, necessitamos realizar nova ressecção transuretral das lesões estudadas (RE-RTU):
–> Tumor > 3 cm
–> Tumores T1 (invasão subepitelial)
–> G3 (lesões de alto grau)
–> Camada muscular não representada nas amostras
–> Nas situações acima devemos realizar RE-RTU 2 a 6 semanas após a primeira RTU
6
Q
Classificação de risco
A
- Baixo risco:
–> Tumores solitários exofíticos
–> Ta (tumores papilíferos)
–> Baixo grau
–> < 3 cm
–> Sem carcinoma in situ - Moderado risco:
–> Não preenche critérios para baixo e alto risco - Alto risco:
–> Carcinoma in situ
–> Alto grau (TaG2 ou G3)
–> Tumores T1
–> Múltiplas lesões > 3 cm
–> Variantes histológicas (ex., adenocarcinoma) - Muito alto risco:
–> Tumores T1G3 e carcinoma in situ + pelo menos 1 fator de risco (> 70 anos, > 3 lesões ou > 3 cm)
7
Q
Tratamento
A
- Tumores de baixo risco
–> Dose única de quimioterapia intravesical
–> Seguimento com cistoscopia a cada 3 meses no primeiro ano, depois seguimento anual e após seguimento a cada 5 anos - Tumores de risco moderado
–> Realizar doses de BCG por 1 ano
–> Seguir com cistoscopia a cada 3 meses, depois a cada 6 meses, e depois a cada ano - Tumores de risco alto:
–> BCG por 3 anos
–> Seguir com cistoscopia a cada 3 meses por 2 anos, depois semestralmente - Tumores de muito alto risco
–> Pode-se indicar a cistectomia radical direta - Tumores com invasão da camada muscular (T2), tumores superficiais G3 recidivante ou variante histológicas:
–> Em casos de tumores com invasão da camada muscular, avaliar se o paciente é candidato à quimioterapia neoadjuvante - função renal preservada e baixo risco clínico
–> Cistectomia radical + linfadenectomia pélvica estendida: pode ser por via aberta ou robótica (não há vantagens oncológicas entre os métodos).
Em homens a cistectomia radical é uma CISTOPROSTATECTOMIA
Em mulheres, a cistectomia radical é uma EXENTERAÇÃO PÉLVICA ANTERIOR
–> Após a cistectomia radical, deve-se prosseguir à reconstrução da bexiga:
1. NEOBEXIGA ORTOTÓPICA: confecção de neobexiga a partir de um segmento do trânsito intestinal, onde se implanta os ureteres. Objetiva preservar a continência.
2. CONDUTO ILEAL/BRICKER: é uma derivação INCONTINENTE, reservada para pacientes com fatores de risco sociais e cirúrgicos elevados. Consiste na ressecção de um segmento do íleo com implante dos ureteres nesse segmento e ostomia na pele.
8
Q
CA urotelial alto
A
- Podem ocorrer tumores sincrônicos na bexiga e via urinária alta
- A conduta frente a essa suspeita é SEMPRE REALIZAR CISTOSCOPIA
- Após a realização da cistoscopia e identificação ou dúvida de CA urotelial alto, realizar URETEROSCOPIA COM BIÓPSIA. Tentar ressecar toda a lesão até a camada muscular para o exame histológico, se for possível.
- Se não for possível ressecar a lesão em via urinária alta, pode-se indicar NEFROURETERECTOMIA + LINFADENECTOMIA + RESSECÇÃO DO CUFF VESICAL
- O seguimento clínico desses tumores também é feito com cistoscopias regulares, a depender da sua estratificação de risco.