TMO Flashcards
Menino, 5 anos, submetido a transplante de medula óssea alogênico para tratamento de leucemia linfoblástica B em segunda remissão. Doador masculino aparentado haploidêntico, isogrupo ABO, fonte sangue periférico e condicionamento CY/TBI. Evoluiu no D+52 com rash eritematoso maculopapular e pruriginoso acometendo face e membros superiores. Exame físico mostrado abaixo. Considerando a suspeita clínica de doença do enxerto contra o hospedeiro aguda clássica, foi iniciado corticosteroide tópico. Neste caso, a partir de qual extensão de acometimento da superfície corporal estaria indicada corticoterapia SISTÊMICA?
A) Acometimento >75% da superfície corporal
B) Acometimento >50% da superfície corporal
C) Qualquer grau de acometimento cutâneo
D) Acometimento >25% da superfície corporal
C) ACOMETIMENTO > 50% SC
A doença do enxerto contra o hospedeiro AGUDA acomete principalmente PELE, fígado, trato gastrointestinal alto e baixo.
Na pele, a manifestação mais característica é o surgimento de RASH ERITEMATOSO maculopapular e pruriginoso.
O acometimento PALMO-PLANTAR é bastante sugestivo.
O estadiamento é feito conforme a classificação MAGIC, que estratifica o acometimento cutâneo da seguinte maneira:
- Estágio 0: ausência de acometimento cutâneo;
- Estágio 1: presença de rash maculopapular com acometimento <25% da superfície corporal;
- Estágio 2: presença de rash maculopapular com acometimento de 25-50% da superfície corporal;
- Estágio 3: presença de rash maculopapular com acometimento >50% da superfície corporal;
- Estágio 4: presença de eritrodermia generalizada (>50% da superfície corporal) associada a bolhas e descamação em >5% da superfície corporal.
A decisão terapêutica quanto à imunossupressão com corticoterapia sistêmica depende do estadiamento global da doença do enxerto contra o hospedeiro aguda, o que envolve avaliação de todos os órgãos.
Em geral, está indicado tratamento SISTÊMICO sempre que houver doença com GRAU maior ou igual a 2, definida pela presença de qualquer um dos seguintes critérios:
- Pele estágio 3 ou 4; e/ou
- Fígado estágio 1; e/ou
- Trato digestivo alto estágio 1; e/ou
- Trato digestivo baixo estágio 1.
Nos casos de acometimento cutâneo leve (estágio 1 ou 2), pode-se realizar tratamento TÓPICO com corticosteroide de baixa potência em face, mãos e genitália e corticosteroide de moderada a alta potência nas demais regiões corporais.
REF: 1. Srinagesh HK, et al. The MAGIC algorithm probability is a validated response biomarker of treatment of acute graft-versus-host disease. Blood. 2019.
Qual imunossupressor utilizado para profilaxia de doença do enxerto contra o hospedeiro após TMO alogênico apresenta MENOR taxa de reativação de CMV?
A) Ciclosporina
B) Corticosteroide
C) Micofenolato
D) Sirolimus
A reativação viral após transplante de medula óssea alogênico é frequente e depende de vários fatores.
Em relação à imunossupressão, quanto mais intensa, maior a taxa de reativação viral.
Dentre os imunossupressores tradicionais, aqueles associados a maior risco de reativação são:
- Corticosteroide: sobretudo em doses maiores ou iguais a 1 mg/kg/dia;
- Micofenolato de mofetila: principalmente em doses maiores ou iguais a 3g/dia.
Os inibidores de calcineurina (Ciclosporina e Tacrolimus) e o micofenolato em doses de até 2 g/dia são considerados como risco PADRÃO para reativação viral.
Já os inibidores de mTOR, como o Sirolimus, apresentam a vantagem de apresentar efeito ANTIVIRAL direto, sendo capaz de inibir parcialmente a replicação do vírus.
Por esse motivo, o uso de Sirolimus está associado à menor taxa de reativação de CMV.
Key Points:
- O uso de Sirolimus está associado à menor taxa de reativação de CMV.
Referências:
- Per Ljungman, et al. Guidelines for the management of cytomegalovirus infection in patients with haematological malignancies and after stem cell transplantation from the 2017 European Conference on Infections in Leukaemia (ECIL7). Lancet Infect Dis. 2019.
Qual dos imunossupressores utilizados para profilaxia de doença do enxerto contra o hospedeiro após transplante de medula óssea alogênico apresenta DIARREIA como efeito adverso típico?
A) Sirolimus
B) Tacrolimus
C) Ciclosporina
D) Micofenolato
D) MICOFENOLATO
Os imunossupressores com efeito preferencial sobre as células T utilizados de rotina para profilaxia de doença do enxerto contra o hospedeiro após transplante de medula óssea alogênico são: Ciclosporina, Tacrolimus, Sirolimus, Micofenolato e Ciclofosfamida.
O Micofenolato de Mofetila (MMF) é uma molécula sintetizada por um fungo do gênero Penicillium e possui efeito imunossupressor potente.
No TMO alogênico, o MMF é utilizado frequentemente em associação com a Ciclosporina devido o efeito sinérgico entre as duas drogas, principalmente após regimes de condicionamento não-mieloablativos, incluindo a maioria dos protocolos para transplante haploidêntico.
Sua ação ocorre por meio da inibição da enzima monofosfato desidrogenase, essencial para a síntese de guanosina trifosfato, necessária para a síntese de novo de nucleotídeos de purina nos linfócitos.
Os principais efeitos adversos são toxicidade GASTROINTESTINAL, manifestada como náuseas, vômitos, DIARREIA, dor abdominal, constipação e dispepsia em até 50% dos casos. Também pode ocorrer mielotoxicidade, geralmente do tipo NEUTROPENIA isolada.
Key Points:
- O Micofenolato interfere na síntese de purinas nos linfócitos T ativados;
- É frequente a ocorrências de toxicidade gastrointestinal, geralmente não limitante para a manutenção do tratamento.
Referências:
- Chao NJ, et al. Overview of immunosuppressive agents used for prevention and treatment of graft-versus-host disease. Uptodate. 2020.
Mulher, 18 anos, portadora de anemia aplástica grave, internada para realização de TMO alogênico com doador não aparentado, sexo masculino, HLA idêntico (10/10). Neste caso, qual medicação poderia ser acrescentada ao regime de condicionamento com a intenção de PROFILAXIA para PTLD?
A) Ciclofosfamida
B) Fludarabina
C) Rituximab
D) Anti-timoglobulina
C) RITUXIMAB
A doença linfoproliferativa pós-transplante (PTLD) é uma proliferação linfocitária e/ou plasmocítica anormal favorecida pela IMUNOSSUPRESSÃO no contexto de transplante de órgãos sólidos ou transplante de medula óssea alogênico.
Na maioria das vezes, está associada à infecção pelo vírus Epstein-Baar (EBV), presente de forma latente em 90-95% dos indivíduos.
No TMO alogênico, a maioria dos casos de PTLD tem origem em células B do DOADOR transformadas por ação do EBV. A falta de imunovigilância adequada pelas células T imunossuprimidas contribui para a persistência e proliferação desses clones anormais.
São fatores de risco para o desenvolvimento de PTLD pós-TMO alogênico:
- Doador não aparentado;
- Doador aparentado com mismatch;
- Depleção ex vivo de células T do enxerto;
- Uso de anti-timoglobulina (ATG);
- Doença do enxerto contra o hospedeiro crônica.
Uma estratégia para profilaxia primária de PTLD em pacientes de ALTO risco é acrescentar RITUXIMAB no regime de condicionamento, com objetivo de depletar as células B do doador, na expectativa de eliminar o reservatório natural de EBV e eventuais células transformadas.
Key Points:
- A doença linfoproliferativa pós-transplante relacionada ao TMO alogênico está associada à infecção por EBV nas células B do doador;
- O uso de Rituximab é uma opção para profilaxia primária em pacientes de alto risco.
Referências:
- Friedberg JW, et al. Epidemiology, clinical manifestations, and diagnosis of post-transplant lymphoproliferative disorders. Uptodate. 2020.
Qual condição exige que o condicionamento para transplante de medula óssea alogênico seja realizado com BAIXAS doses de quimioterapia?
A) Anemia de Blackfan-Diamond
B) Beta-talassemia maior
C) Anemia falciforme
D) Anemia de Fanconi
ANEMIA DE FANCONI
A anemia de Fanconi é uma doença rara, geralmente com herança autossômica recessiva e provocada por defeito nos mecanismos de REPARO do DNA.
As principais indicações de transplante de medula óssea alogênico nessa condição são evolução para:
- Anemia aplástica GRAVE;
- Síndrome mielodisplásica; ou
- Leucemia mieloide aguda.
Devido à falha nos mecanismos de reparo do DNA, indivíduos portadores de anemia de Fanconi são extremamente SENSÍVEIS à quimioterapia.
Antes desse dado ser conhecido, foi observada evolução desfavorável dos pacientes portadores de anemia de Fanconi submetidos a regimes de condicionamento tradicionais, com elevada taxa de toxicidade sistêmica grave, complicações infecciosas e doença do enxerto contra o hospedeiro, resultando em alta MORTALIDADE.
Portanto, atualmente recomendam-se regimes de condicionamento com BAIXAS doses, desenhados especificamente para anemia de Fanconi.
Por esse motivo, é IMPRESCINDÍVEL o diagnóstico correto antes de encaminhar o paciente para TMO alogênico.
Para casos submetidos a TMO alogênico com doador relacionado HLA idêntico, regimes de condicionamento com baixas doses de Ciclofosfamida, com ou sem radioterapia toracoabdominal em baixa dose, são os mais populares.
Para os casos com doadores alternativos, pode-se adicionar Fludarabina e anti-timoglobulina ao esquema.
Key Points:
- Pacientes com anemia de Fanconi são muito sensíveis ao dano sistêmico provocado por quimioterapia e radioterapia e devem receber regimes de condionamento específicos;
- A base dos regimes de condicionamento para anemia de Fanconi é a Ciclofosfamida em baixas doses.
Referências:
- Khan S, et al. Hematopoietic cell transplantation for idiopathic severe aplastic anemia and Fanconi anemia in children and adolescents. Uptodate. 2020.
Qual o tipo preferencial de CONDICIONAMENTO para transplante de medula óssea alogênico de indivíduos portadores de anemia falciforme com doador aparentado HLA idêntico?
A) Condicionamento de intensidade reduzida
B) Condicionamento mieloablativo
C) Condicionamento baseado em irradiação corporal total
D) Condicionamento não mieloablativo
B) CONDICIONAMENTO MIELOABLATIVO
Apesar de se tratar de uma doença benigna, a anemia falciforme e outras hemoglobinopatias apresentam medula óssea extremamente hipercelular, o que exige a realização de protocolo de condicionamento MIELOABLATIVO no transplante de medula óssea alogênico.
Caso contrário, existe alto risco de falha de enxertia primária.
O inconveniente dessa estratégia é a maior morbidade relacionada ao procedimento. Por esse motivo, protocolos de condicionamento mieloablativos com toxicidade reduzida, como a combinação Fludarabina + Bussulfan (FLU/BU), tem se tornado populares.
Protocolos de condicionamento com intensidade reduzida ou não-mieloablativos não devem ser utilizados de rotina nesse cenário.
Key Points:
- A hipercelularidade da medula óssea nas hemoglobinopatias exige regimes de condicionamento mieloablativos para garantir a enxertia adequada.
Referências:
- Consenso Brasileiro de TCTH para hemoglobinopatias. SBTMO. 2010
Menino, 5 anos, portador de leucemia linfoblástica B com hipodiploidia, realizou quimioterapia convencional e apresentou DRM positiva ao final do tratamento. Realizou tratamento de resgate com 2 ciclos de Blinatumomab e foi submetido a consolidação com TMO alogênico, doador aparentado, HLA idêntico e protocolo de condicionamento CY/TBI. Evoluiu com recaída sistêmica após 3 meses do procedimento. Mielograma identificou a presença de 12% de blastos linfoides. Pesquisa de CD19 por citometria de fluxo foi positiva em 80% das células neoplásicas. Possui programação de tratamento com CAR-T cell anti-CD19. Neste caso, qual a conduta recomendada em relação à PROFILAXIA contra crises convulsivas?
A) Não há indicação de profilaxia
B) Iniciar profilaxia com Dexametasona
C) Iniciar profilaxia com Fenitoína
D) Iniciar profilaxia com Levetiracetam
D) INICIAR PROFILAXIA COM LEVETIRACETAM
As principais toxicidades relacionadas ao tratamento com CAR-T cell são:
- Síndrome de liberação de citocinas (CRS);
- Síndrome de neurotoxicidade (ICANS); e
- Síndrome de lise tumoral.
Após a infusão das células CAR-T, o paciente deve ser monitorizado para o desenvolvimento dessas complicações, preferencialmente em regime de terapia intensiva.
Histórico de DOENÇA NEUROLÓGICA e INFILTRAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL pela doença são fatores de risco para ICANS (Immune effector Cell-Associated Neurotoxicity Syndrome).
Em 90% dos casos de ICANS existe quadro concomitante de CRS.
Acredita-se que a produção de citocinas inflamatórias, principalmente IL-1, TNF-alfa e IL-6, além de outras moléculas como IFN-γ, IL-10, G-CSF, GM-CSF, IL-8 e MCP-1, provocam disfunção da barreira hematoencefálica e são essenciais para a neurotoxicidade.
Clinicamente, pode-se observar cefaleia, alterações de memória, rigidez de nuca, sonolência, agitação, alteração da atenção, delirium, tremor, mioclonias, disartria, crises convulsivas (incluindo status epilepticus), hipertensão intracraniana e até coma.
Cerca de 75% dos pacientes apresentam alentecimento difuso no EEG e a maioria dos casos tem ressonância magnética normal.
Nos casos graves, entretanto, é comum o achado de hipersinal nas sequências T2/FLAIR, compatível com EDEMA CEREBRAL.
A neurotoxicidade parece ser uma característica típica das imunoterapias com alvo anti-CD19 e pode ocorrer até 8 semanas após a infusão das células, sendo mais frequente nos primeiros 4 a 6 dias.
O Levetiracetam é a droga antiepiléptica preferida, porque apresenta menos interações farmacológicas em relação aos anticonvulsivantes convencionais.
Key Points:
- A profilaxia com Levetiracetam é recomendada para todos os pacientes em tratamento com CAR-T anti-CD19, sobretudo para aqueles com fatores de risco adicionais para neurotoxicidade.
Referências:
- Lucrecia Y, et al. CAR T Cell Toxicity: Current Management and Future Directions. HemaSphere. 2019.
Homem, 28 anos, tipo sanguíneo O positivo, foi submetido a transplante de medula óssea alogênico aparentado para tratamento de anemia aplástica grave. Doador irmão, HLA idêntico, tipo sanguíneo A positivo, fonte celular medula óssea e condicionamento CY + ATG. Titulação de anticorpos no receptor: anti-A IgM 1:128 e IgG 1:32. Neste caso, qual a conduta recomendada ANTES da infusão da medula óssea?
A) Nenhuma conduta específica
B) Dessensibilização com imunoglobulina e Rituximab
C) Plasmaférese no receptor e desplasmatização do produto
D) Plasmaférese no receptor e deseritrocitação do produto
D) PLASMAFÉRESE NO RECEPTOR E DESERITROCITAÇÃO DO PRODUTO
Cerca de 40-50% dos transplantes de medula óssea alogênicos apresentam incompatibilidade do sistema ABO, o que NÃO interfere na mortalidade relacionada ao transplante, porém pode dificultar o manejo transfusional.
Quando o RECEPTOR possui anticorpos CONTRA antígenos do DOADOR, consideramos como incompatibilidade ABO MAIOR.
Nesse caso, a conduta anterior à infusão das células progenitoras hematopoéticas varia conforme o título de anticorpos no receptor e a fonte celular utilizada.
Quando houver anticorpos contra o doador em título ≥ 1:32, recomenda-se plasmaférese do receptor com reposição de albumina ou plasma AB, se disponível.
Quando a fonte for sangue periférico e o volume de eritrócitos contaminantes da bolsa for inferior a 20 ml, não é necessária nenhuma conduta.
Caso o volume seja superior a 20 ml ou a fonte celular seja medula óssea (rica em hemácias), recomenda-se DESERITROCITAÇÃO do produto antes da infusão.
Key Points:
- O maior risco de reação hemolítica aguda na incompatibilidade ABO maior ocorre quando o receptor apresenta anticorpos em títulos ≥ 1:32 e a fonte celular utilizada é medula óssea (naturalmente contaminada com grande quantidade de hemácias);
- Na incompatibilidade ABO maior com título de anticorpos ≥ 1:32, recomenda-se plasmaférese do receptor antes da infusão do produto.
Referências:
- Parkhideh S, et al. Effects of ABO Incompatibility on the outcome of Allogeneic Hematopoietic Stem Cell Transplantation. Transfusion and Apheresis Science. 2019.
Mulher, 52 anos, tipo sanguíneo B positivo, foi submetida a transplante de medula óssea alogênico não aparentado para tratamento de leucemia mieloide aguda, risco desfavorável. Doador masculino, 30 anos, HLA idêntico, tipo sanguíneo AB positivo, fonte medula óssea, condicionamento FLU/BU + ATG. Foi solicitado ao laboratório de terapia celular deseritrocitação do produto celular. Neste caso, a partir de qual título de anticorpos anti-A (IgM e/ou IgG) presentes no receptor está indicada plasmaférese ANTES da infusão da medula óssea?
A) Título ≥ 1:8
B) Título ≥ 1:128
C) Não é necessária plasmaférese quando é realizada deseritrocitação do produto
D) Título ≥ 1:32
D) TITULO > 1:23
Cerca de metade dos transplantes de medula óssea alogênicos realizados apresentam incompatibilidade do sistema ABO, o que dificulta o manejo transfusional durante o procedimento, porém não altera desfechos importantes como mortalidade relacionada ao transplante e tempo até enxertia neutrofílica.
Quando o RECEPTOR possui anticorpos CONTRA antígenos do DOADOR, consideramos como incompatibilidade ABO MAIOR.
Quando a fonte de células progenitoras hematopoéticas é a medula óssea, existe grande contaminação com hemácias, havendo risco de reação hemolítica AGUDA durante a infusão do produto, com a mesma gravidade de uma reação transfusional causada por transfusão ABO incompatível.
Para evitar isso, são realizadas duas medidas:
- Deseritrocitação do produto celular: remoção da maior quantidade possível de hemácias com objetivo de reduzir a quantidade de glóbulos vermelhos disponíveis para sofrerem hemólise;
- Plasmaférese do receptor: com objetivo de remover os anticorpos naturais contra o sistema ABO, sendo recomendada quando o título (IgM e/ou IgG) for ≥ 1:32.
Na plasmaférese do receptor, recomenda-se reposição de fluido com albumina ou plasma AB, se disponível.
Quando a fonte celular for sangue periférico, a contaminação eritrocitária é menor e geralmente não exige deseritrocitação do produto.
Key Points:
- Na incompatibilidade ABO maior, existe alto risco de reação hemolítica aguda quando o receptor apresentar título de isoaglutininas contra o doador ≥ 1:32 e a fonte celular for medula óssea;
- Na incompatibilidade ABO maior, recomenda-se plasmaférese do receptor antes da infusão do produto sempre que o título de isoaglutininas for ≥ 1:32.
Referências:
- Parkhideh S, et al. Effects of ABO Incompatibility on the outcome of Allogeneic Hematopoietic Stem Cell Transplantation. Transfusion and Apheresis Science. 2019.
Homem, 52 anos, submetido a transplante de medula óssea alogênico para tratamento de mielofibrose primária, fase fibrótica, DIPSS alto risco. Doadora irmã, haploidêntica, isogrupo ABO, fonte sangue periférico, condicionamento FLU/CY + TBI, imunossupressão com Ciclofosfamida pós, Ciclosporina e Micofenolato. Evoluiu no D+200 com queixa de prurido e ardência em pele na região dorsal. Exame físico mostrado abaixo. Considerando a hipótese de doença do enxerto contra o hospedeiro crônica, qual a recomendação para confirmação diagnóstica?
A) Não é necessário realização de biópsia
B) Recomenda-se biópsia na área de transição entre a pele normal e a pele acometida
C) Recomenda-se biópsia randômica de múltiplas áreas
D) Recomenda-se biópsia da área com maior eritema
A) NÃO É NECESSÁRIO REALIZAÇÃO DE BIÓPSIA
A forma crônica da doença do enxerto contra o hospedeiro (GvHD) pode se apresentar de diversas maneiras e acometer qualquer órgão.
Algumas manifestações clínicas são consideradas DIAGNÓSTICAS, ou seja, sua presença é suficiente para estabelecer o diagnóstico de GvHD crônico e DISPENSAM a realização exames complementares.
Conforme o sítio acometido, temos as seguintes lesões DIAGNÓSTICAS:
- Pele: poiquiloderma, líquen plano, líquen escleroso, esclerose e morfea;
- Boca: lesão líquen plano-like;
- Genitália: lichen plano, líquen escleroso, sinéquia vaginal/labial/clitoriana, fimose ou estenose uretral;
- Trato gastrointestinal: membrana esofágica ou estenose no terço superior ou médio do esôfago;
- Pulmão: bronquiolite obliterante identificada em biópsia;
- Fáscia, músculos e articulações: fasciite e rigidez/contratura da articulação por sequela de fasciite ou esclerose.
Na pele, a poiquiloderma corresponde a uma lesão complexa constituída por atrofia, alterações de pigmentação do tipo hipercromia e hipocromia e presença de telangiectasias.
Key Points:
- As alterações clínicas reconhecidas como diagnósticas são suficientes para estabelecer a presença de doença do enxerto contra o hospedeiro crônica e dispensam a realização de biópsia do órgão acometido;
- Na pele, são consideradas lesões diagnósticas: poiquiloderma, líquen plano, líquen escleroso, esclerose e morfea;
- Poiquiloderma é uma lesão mista constituída por atrofia, hiper e/ou hipopigmentação e telangiectasias.
Referências:
- MH, et al. National Institutes of Health Consensus Development Project on Criteria for Clinical Trials in Chronic Graft-versus-Host Disease: I. The 2014 Diagnosis and Staging Working Group Report. Biol Blood Marrow Transplant. 2015.
Mulher, 32 anos, D+130 pós-TMO alogênico não-aparentado HLA idêntico para tratamento de LLA com t(9;22). Evoluiu com tosse seca e dispneia aos moderados esforços. Nega febre. Tomografia de tórax de alta resolução identificou padrão de atenuação em mosaico compatível com aprisionamento aéreo. Prova de função pulmonar mostrada abaixo. Neste caso, qual a principal hipótese diagnóstica?
A) Doença do enxerto contra o hospedeiro aguda
B) Doença do enxerto contra o hospedeiro crônica
C) Toxicidade pulmonar por droga
D) Infecção oportunista
B) DECH CRÔNICA
A doença do enxerto contra o hospedeiro (DECH ou GvHD) crônica CLÁSSICA pode acometer qualquer órgão e ocorre após o D+100 do transplante de medula óssea alogênico, mas eventualmente pode ocorrer antes dessa data (apresentação não clássica).
Cerca de metade desses pacientes pode apresentar algum grau de acometimento pulmonar, sendo o padrão OBSTRUTIVO mais frequente devido o comprometimento de pequenas vias aéreas (lesão do tipo bronquiolite obliterante).
Para fins diagnósticos, o quadro clínico compatível com bronquiolite obliterante é considerado como SUGESTIVO de DECH e a demonstração histopatológica, DIAGNÓSTICA.
Inicialmente, a bronquiolite obliterante é ASSINTOMÁTICA, mas pode ser identificada precocemente pela realização de prova de função pulmonar periodicamente como parte da avaliação clínica de rotina no segmento pós transplante.
Os sintomas iniciais são tosse seca e dispneia aos esforços, podendo progredir para dependência de oxigênio suplementar, sequelas pulmonares e infecções respiratórias de repetição.
O diagnóstico clínico de bronquiolite obliterante é baseado na presença de TODOS os critérios abaixo em pacientes pós-TMO alogênico:
- VEF1/CVF: <0,7;
- VEF1: <75%;
- Evidência de aprisionamento aéreo ou espessamento de pequenas vias aéreas ou bronquiectasias em tomografia de tórax de alta resolução; e/ou volume residual >120%; e/ou confirmação histopatológica; e
- Ausência de sinais de infecção em atividade.
Key Points:
- A doença do enxerto contra o hospedeiro crônica clássica se manifesta a partir do D+100 pós-TMO alogênico e pode acometer qualquer órgão e sistema;
- O acometimento pulmonar mais comum é a bronquiolite obliterante, caracterizado por distúrbio ventilatório obstrutivo;
- A monitorização com espirometria simples de rotina é importante, porque o acometimento pulmonar inicial é assintomático e o atraso no tratamento efetivo pode levar à alta morbidade e mortalidade.
Referências:
- Chao NJ, et al. Clinical manifestations, diagnosis, and grading of chronic graft-versus-host disease. Uptodate. 2020.
Menino, 7 anos, portador de anemia aplástica grave, foi submetido a transplante de medula óssea alogênico após falha à terapia imunossupressora. Doador aparentado, haploidêntico, sexo feminino, 9 anos, isogrupo ABO, fonte celular medula óssea, dose 3,2.10*8 TCN/kg, condicionamento FLU/CY + TBI (200cGy), profilaxia para GvHD com ATG, Ciclofosfamida pós e Ciclosporina A. Entretanto, persistiu com pancitopenia após o procedimento. Exames coletados no D+28: Hb 6,4 g/dl, Neu 100/mm³ e Plq 5 mil/mm³. Biópsia de medula óssea: celularidade 5%. Cariótipo de medula óssea: 46, XX [10]. Análise de quimerismo por STR: >95% de alelos do doador. Neste momento, qual o diagnóstico mais provável?
A) Falha de enxertia primária
B) Recidiva da doença
C) Falha de enxertia secundária
D) Enxerto mal funcionante
D) ENXERTO MAL FUNCIONANTE
Existem várias situações que podem se manifestar com citopenias persistentes após transplante de medula óssea alogênico.
O quadro mais crítico é a falha de enxertia primária, quando não ocorre enxertia neutrofílica até o D+28 (fonte celular sangue periférico ou medula óssea) ou D+42 (fonte celular sangue de cordão umbilical e placenta) E a análise de quimerismo revela obrigatoriamente AUSÊNCIA de alelos do doador, confirmando a perda do enxerto.
Outra situação diferente é o enxerto mal funcionante, em que há presença de citopenias envolvendo pelo menos DUAS linhagens, porém a análise de quimerismo mostra a presença de alelos do DOADOR.
No caso apresentado, observamos a presença citopenias pós transplante associadas a quimerismo completo do DOADOR, caracterizando um quadro grave de enxerto mal funcionante.
O tratamento inicial é baseado em estímulo do enxerto medular com fatores de crescimento, com destaque para o uso de Eltrombopag.
Caso não ocorra resposta após pelo menos 30 dias, pode-se considerar boost com dose adicional de células CD34+ obtidas do mesmo doador e coletadas por aférese ou segundo transplante de medula óssea.
Durante o seguimento, é necessário reavaliar periodicamente o status do quimerismo para garantir que não está ocorrendo perda do enxerto.
Key Points:
- O enxerto mal funcionante é caracterizado por citopenias em pelo menos duas linhagens, medula óssea hipocelular e presença de quimerismo misto estável ou quimera completa do doador.
Referências:
- Locatelli F, Lucarelli B, Merli P. Current and future approaches to treat graft failure after allogeneic hematopoietic stem cell transplantation. Expert Opin Pharmacother. 2014 Jan;15(1):23-36. doi: 10.1517/14656566.2014.852537. Epub 2013 Oct 25. PMID: 24156789.
(DASA PROVA 2023) Paciente feminino, 60 anos, 60kg, sem comorbidades prévias, portadora de LLA Ph+, foi submetida a transplante alogênico não aparentado (10x10), com regime de condicionamento não-mieloablativo, profilaxia de doença do enxerto contra hospedeiro com ciclosporina e micofenolato, apresentou enxertia neutrofílica no D+16. Recebendo alta hospitalar no dia seguinte. Descreva a receita de alta dessa paciente:
Gabarito: A receita de alta deverá conter:
- Imunossupressores (Ciclosporina 150mg 12/12h e Micofenolato 1000mg 12/12h)
- Óxido de magnésio 500mg 8/8h
- Profilaxia contra herpes simples (Aciclovir 400mg ou Valaciclovir 500mg/d)
- Sulfametoxazol+Trimetoprim 160+800mg/d
- Opcional profilaxia antifúngica (fluconazol)
A receita não deverá conter:
- Inibidor de tirosina quinase (o inibidor deverá ser iniciado após o D+60)
- Alopurinol
- Antibioticoterapia profilática
(HIAE 2022) Masculino, 25 anos, no D+5 de transplante alogênico não-aparentado por LLA, com condicionamento com TBI 1200cGy e Cy e imunossupressão pós-transplante com MTX e TAC. Começou a apresentar ganho de peso há 2 dias, quando seus exames laboratoriais eram normais. Hoje apresenta ganho de 5% do peso basal e hepatomegalia dolorosa, com bilirrubina total de 4 mg/dL. Sem outras alterações nos exames. A classificação da síndrome de obstrução sinusoidal desse caso é
(A) Muito grave.
(B) Leve.
(C) Moderada.
(D) Grave.
(D) Grave.
Trata-se de um paciente em pós TMO alogênico imediato evoluindo com alterações hepáticas e ganho de peso. Deve-se pensar em VOD. Os fatores que risco que foram apresentados nesse paciente são o transplante mieloablativo, incluindo ciclofosfamida e profilaxia de GVHD com inclusão de MTX.
Para estabelecimento do diagnóstico de VOD existe mais de um critério, mas um bem estabelecido é o da EBMT que é caracterizado por:
- BT > 2 + 2 dos seguintes:
—- Ganho de peso > 5% peso corporal
—- Ascite
—- Hepatomegalia dolorosa.
O paciente possui o critério obrigatório e mais 2 dos outros, sendo possível estabelecer o diagnóstico. Quanto a estratificação desse paciente, a EBMT usa uma escala que nesse caso caracteriza o paciente com VOD grave, pela presença de evolução rápida dos sintomas (< 4 dias) e ganho de peso > ou igual a 5% do peso corporal.
Quais são os critérios diagnósticos de VOD conforme a EBMT?
CRITÉRIO OBRIGATÓRIO
- Bilirrubina + 2
CRITÉRIOS MENORES (pelo menos 2)
- Ganho de peso > 5% peso corporal
- Ascite
- Hepatomegalia dolorosa