CM05 - Grandes Síndromes Endócrinas Flashcards
Como é a estrutura da tireoide? Qual a sua unidade funcional e como os hormônios são produzidos?
- Estrutura: dois lobos e um istmo.
- Unidade funcional: folículo tireoidiano (células foliculares).
- Produção hormonal: tireoglobulina (célula folicular) + iodo (dieta) pela ação da Tireoperoxidase (TPO) geram os hormônios T3 e T4. Esses hormônios ficam armazenados no folículo.
*O bloqueio da produção hormonal demora para ter efeito clínico, pois grande parte do hormônio é armazenado nos folículos tireoidianos.
**No mundo uma causa comum de disfunção tireoidiana é a baixa ingesta de iodo na dieta. No Brasil, isso não ocorre pois o sal de sozinha é enriquecido com iodo (sal iodado).
Qual a vascularização e a inervação da tireoide?
- Irrigação:
> A. tireoidea superior (ramo da artéria carótida externa).
> A tireoidea inferior (ramo do tronco cervical). - Nervos:
> N. laríngeo superior: função de tensionamento das cordas vocais (timbre da voz).
> N. laríngeo recorrente: função de abdução e adução das cordas vocais (proteção das vias aéreas).
> N. vago.
Como ocorre a disseminação dos hormônios tireoidianos pelo corpo e qual a função função biológica de casa um deles?
- Fisiologia hormonal:
A tireoide produz T3 e T4, sendo o T4 lançado na circulação 20x mais que o T3.
- T3: exerce função biológica, tem baixa meia vida.
- T4: meia vida longa é convertida nos tecidos em T3 pela deseiodase I e II, sob demanda de cada tecido. O T4 ainda pode ser convertido perifericamente em T3 reverso (rT3) pela desiodase III, hormônio não funcionante. - Função hormonal:
- T3:
> Forma receptores B-adrenérgicos (aumenta ação da adrenalina).
> Estimula o metabolismo basal (sudorese pele quentes…).
> Produz calor.
> Estimula SNC (agitação, insônia…).
- rT3:
> Sem função biológica.
> Reduz ação da desiodase I. - T4:
> Sem função biológica.
> Convertido em T3 perifericamente sob demanda.
Porque e em quais situações o T4 é convertido em rT3?
Isso ocorre em casos nos quais o nível de T4 é maior do que o corpo precisa, sendo assim, ocore conversão em rT3 que é biologicamente inativa. Um exemplo clássico ocorre no paciente inflamado (ex.: CTI). Com o metabolismo já acelerado pela inflamação, o corpo reduz a formação de T3 funcionante, é o chamado “eutiroideo doente”. Por esse motivo, devemos ter cuidado em avaliar a função tiroidiana em paciente agudamente doentes.
Como ocorre o controle hormonal na tireoide?
Hipotálamo
↓ TRH
Hipófise
↓ TSH
Tireoide
T3/T4
*TSH estimula hipertrofia, aumento da TPO e aumento da capitação de iodo na tireoide.
**T3/T4 fazem feedback negativo como hipotálamo e com a hipófise.
***T3/T4 tem receptores nucleares.
O que é uma doença tireoidiana primária, segundária e terciária?
- Primária: tireoide (mais comum).
- Segundária: hipófise (segundo mais comum).
- Terciária: hipotálamo (raríssimo).
Como ocorre a avaliação prática do eixo tireoidiano?
- Avaliação:
- T4 livre: define hiper ou hipotireoidismo (o T4 ligado não tem atividade biológica).
- TSH: topografa a doença, é o exame mais SENSÍVEL (ótimo para rastreamento). - Resultados:
- Hiper 1º: ↑T4L e ↓TSH.
- Hiper 2º: ↑T4L e ↑TSH.
- Hipo 1º: ↓T4L e ↑TSH.
- Hipo 2º: ↓T4L e ↓TSH.
O quer determina a presença ou ausência de bócio nas tireoidiapatias?
O nível do TSH.
O que é efeito de Wolff-Chaikoff e fenômeno de Jod-Basedow?
- Efeito de Wolff-Chaikoff: é uma redução dos níveis de hormônios tireoidianos causada pela ingestão de grandes quantidades de iodo. Iode em excesso “paralisia a tireoide” (hipotireoidismo), ocorre principalmente em paciente com hipotireoidismo subclínico prévio. Ex.: exame contrastado, comida muito salgada.
- Fenômeno de Jod-Basedow: é o hipertireoidismo induzido por iodo. Iodo em excesso faz hipertireoidismo, principalmente em pacientes com deficiência prévia de iodo. Ex.: amiodarona.
Qual a diferença entre hipertireoidismo e tireotoxicose?
- Hipertireoidismo: hiperfunção da glândula tireoide.
- Tireotoxicose: síndrome do excesso do hormônio tireoidiano (hiperprodução, consumo externo…).
Qual a clínica da tireotoxicose?
- Aumento de receptores B-adrenérgicos:
> Insônia.
> Tremor.
> Taquicardia.
> Sudorese.
> HAS divergentes.
*O receptor beta no coração causa taquicardia o que eleva a PAS. Já o beta no vaso causa vasodilação o que causa redução da PAD. Isso gera a chamada PA divergente (ex.: hipertiroidismo, exercício físico).
- Aumento do metabolismo basal:
> Polifagia.
> Emagrecimento.
> Hipercalcemia (aumento da reabsorção óssea). - Aumento da produção de calor:
> Intolerância ao calor,
> Aumento da temperatura corporal.
Quais as principais causas de hipertiroidismo?
- Hipertiroidismo Primário:
- Doença de Graves (mais comum).
- Bócio multinodular tóxico.
- Adenoma tóxico (doença de Plummer). - Hipertiroidismo Segundário:
- Tumor hipofisário produtor de TSH. - SEM Hipertiroidismo:
- Tireoidite.
- Tireotoxicose factícia (uso inadvertido do hormônio).
Quais exames de imagem usamos para diferenciar as principais causas de tireotoxicose?
- Índice de captação de iodo radioativo (RAIU):
> Normal: 5-30%.
> COM hipertiroidismo: 35-95%.
> SEM hipertiroidismo: <5%.
*COM hipertiroidismo a glândula está trabalhando, ávida por iodo, RAIU elevado. SEM hipertiroidismo a glândula está trabalhando menos (muito hormônio na cirulação), RAIU baixo.
- Cintilografia: imagem mostra captação de iodo radioativo.
> Captação difusa: Graves.
> Captação em nódulo único: Plummer.
> Captação multinodular: bócio multinodular tóxico.
Qual a fisiopatologia por trás da doença de Graves?
É uma doença autoimune, sendo mais prevalente em mulheres de meia idade, na qual ocorre a produção, pela própria tireoide, de um auto-anticorpo que mimetiza o TSH, o TRAb estimulador. Por ser auto-imune, pode ocorrer a positivação dos seguintes anticorpos:
- TRAb estimulador (TSI).
- Anti-TPO.
- Anti-Tg.
Qual a clínica da doença de Graves?
- Tireotoxicose.
- Bócio difuso com sopro e frêmito.
- Mixedema, com sinal do cacifo negativo (pré-tibial é o local mais comum).
- Exoftalmopatia (geralmente bilateral, mas pode ser unilateral).
- Faceis Bawseana.
- Baqueteamento digital (acropatia).
- Sinal de lid-lag (retardo na descida da pálpebra superior quando o globo ocular é movido para baixo)
Como é feito o diagnóstico da doença de Graves?
- Somente com a clínica:
Tireotoxicose + Bócio OU Mixedema OU Exoftalmopatia. - Clínica + laboratório (TSH + T4L + T3):
- ↓TSH e ↑T4L: hipertireoidismo clássico.
- ↓TSH e T4L normal com ↑T3: T3 toxicose.
- ↓TSH e T4L/T3 normais: hipertireoidismo subclínico (não trata).
*O T3 sempre está elevado no hipertireoidismo e é mais sensível que o T4 para o diagnóstico, apesar de ser menos disponível. Isso ocorre pelo estímulo a desiodase I que converte T4 em T3, o que pode fazer com que o nível de T4 fique normal, principalmente no início do quadro.
- Clínica + laboratório + anticorpo (TRAb/TSI):
- TSI positivo: doença de Graves.
- TSI negativo: Plummer, bócio múltinodular tóxico ou tireoidite. - Clínica + laboratório + anticorpo + imagem (USG, RAIU, cintilografia):
- USG:
> Aumento difuso da glândula com hipertireoidismo: pensar em doença de graves.
> Nódulo com hipertireoidismo: pensar em doença de Plummer ou bócio múltinodular tóxico. Solicitar RAIU/Cintolografia para verificar se nódulo é funcionante.
*Na prática sempre dosamos o anticorpo TSI, pois ele tem importância prognóstica (quanto mais alto, mais difícil de responder ao tratamento clínico).
Como é feito o tratamento da doença de Graves?
- Medicamentoso: duração de 1-2 anos.
- Beta bloqueador (sintomático).
- Metimazol (escolha, mais barato e melhor posologia) OU Propiltiuracil (escolha no primeiro semestre da gestação).
*Propranolol é o beta bloqueador de escolha para esses casos.
**Metimazol inibe a TPO, já o propiltiuracil inibe a TPO e a desiodase I, por isso ele é mais potente.
***O efeito colateral mais temido do uso das tionamidas é a agrunulocitose. Elas devem ser suspensas na mínima suspeita desse efeito colateral (o sinal inicial costuma ser dor de garganta).
- Iodo radioativo: se recidiva ou reação tóxica as drogas.
- Contra-indicações:
> Gravidez.
> Grandes bócios (maior que 50 ml).
> Oftalmopatia moderada a grave (procedimento libera muito TRAb na circulação o que pode piorar a oftalmotatia). - Tireoidectomia (total ou subtotal): se sem melhora farmacológica + contraindicação ao iodo radioativo.
- Preparo:
> PTU ou MMZ por 6 semanas.
> Iodo por 10 dias (efeito Wolf-Chaikoff).
*IOT no paciente com bócio: deve ser feita intubação acordado, os músculos cervicais empurram o bócio e impedem a oclusão da traqueia. Se sedarmos, os músculos relaxam e oclui a VA.
Quais são as principais complicações relacionadas a tireoidectomia?
- Hematoma cervical (a mais temida):
> Pista: insuficiência respiratória, agitação.
> Tratamento: abertura da incisão cirúrgica e se não resolver, traqueostomia. - Lesão do nervo laríngeo recorrente (a mais grave):
> Pista: rouquidão ou laringoscopia com paralisia (normalmente unilateral). Pode ter insuficiência respiratória, mas é raro.
> Tratamento: fonoterapia.
*Quem controla o timbre a voz é o nervo laríngeo superior, se o paciente não conseguir atingir tons agudos, ele é que provavelmente foi lesado e não o laríngeo recorrente.
- Hipoparatireoidismo / Hipocalcemia (a mais comum):
> Pista: convulsão, tetania e sinal de Chvostek e Trousseau. Casos mais leves: constipação parestesia e cãibra. Pode cursar com alargamento do intervalo QT.
> Tratamento: gluconato de cálcio EV, se sintomático OU carbonato de cálcio VO.
*Sinal de Chvostek: percução do nervo facial (pré-auricular) com contração da musculatura labial. Sinal de Trousseau: insufla manguito 20 mmHg acima da PAS por 3 minutos e o paciente apresenta mãos em garra.
**O valor sérico do cálcio é inversamente proporcional ao intervalo QT. Baixo cálcio alarga o QT e vice-versa.
Qual a fisiopatologia e os tipos de tireoidite?
- Tireoidite aguda: rara, segundária a infecção bacteriana na tireoide, com presença ou não de abcesso. Mesma fisiopatologia da subaguda, só que mais intensa.
- Tireoidite subaguda: segunda mais comum, noramalmente ocorre após infecção. Faz diagnóstico diferencial com doença de Graves.
- Fisiopatologia:
Inflamação
↓
Destruição da tireoide
↓ Liberação de homônios armazenados
Tireotoxicose (SEM hipertireoidismo)
↓
Eutiroidismo (curto período)
↓
Hipotiroidismo (clínico ou subclínico) - Tireoidite crônica: é a mais comum.
- Fisiopatologia
Inflamação
↓
Destruição da tireoide (lenta e sem subida hormonal)
↓
Hipotiroidismo (clínico ou subclínico)T
Qual é a principal causa de tireoidite subaguda? Ela tem algum tratamento específico?
- Tireoidite de Quervain: “dor que vem”.
- Intensamento dolorosa (região cervical).
- Pós-viral: sintomas aparecem habitualmente 1-3 semanas após infecção.
- Aumento do VHS.
- Tireotoxicose em 50% dos casos.
- Tratamento específico na fase aguda: AINE +/- corticoide.
*Na fase de tireotoxicose: beta bloqueador.
Como podemos realizar o diagnóstico diferencial entre doença de Graves e tireoidite subaguda?
As duas patologias tem clínica geral similar, para realização do diagnóstico diferencial precisamos muitas vezes lanças mão de exames complementares como a cintilografia e a RAIU.
- Doença de Graves: cintilografia com alta captação e RAIU 24h > 20%.
- Tireoidite subaguda: cintilografia com baixa captação e RAIU <5%.
Qual é a principal causa de tireoidite crônica? Qual a sua fisiopatologia?
- Doença de Hashimoto (linfocítica crônica):
- Principais causa de hipotireoidismo (mais de 90% dos casos).
- É auto-imune (anti-TPO + em 95-100%). Pode também haver positivação de:
> Anti-Tg.
> Antireceptor de TSH (TRAb bloqueador).
- Via celular: linfócitos CD8 auto-reativos.
- Fibrose crônica da tireoide com células de Askanazy (patognemônico).
Qual a clínica da doença de Hashimoto?
- Bócio (80%).
- Hipotireodisimo.
- Hipotireoidismo: mais comum, destruição crônica dos folículos.
-Tireotoxicose (hashitoxicose): raro, destruição inicial acentuada dos folículos. - Hiperprolactinemia.
- Dislipdemia.
- Mixedema: edema genelarizado, duro, sem cacifo (última conseguência, 5-10 anos sem tratar).
- Risco de linfoma da tireoide.
*10-20% dos casos de doença de Hashimoto não cursam com bócio por pela presença do TRAb inibidor, inibindo a ação do TSH.
Como é feito o diagnóstico da doença de Hashimoto?
Essencial: Clínica + ↑TSH e ↓T4L.
+/- (não essenciais)
Anti-TPO positivo
Anti-Tg positivo.
PAAF > Células de Askanazy
Como é feito o tratamento das tireoidites?
- Na fase de tireotoxicose: beta bloqueador.
*Não faz PPT nem MMZ, pois o hormônio liberado já está formado, logo, não tem porque fazer inibidor da síntese hormona.
- Na fase de hipotireoidismo: levotiroxina (T4) pela manhã, em jejum (acidez gástrica ajuda na absorção).
*A tireoidite de Hashimoto por normalmente cursar apenas com a fase de hipotireoidismo tratamos apenas com a Levotiroxina. O mesmo se segue para todas as tireoidites crônicas.
O que é e quais são os precipitantes para a ocorrência da crise tireotóxica?
É a complicação mais grave do hipertireoidismo, caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas secundários ao aumento agudo e inapropriado de hormônios tireoidianos. Precipitantes:
- Infecções.
- Trauma.
- Radioabalação.
- Tratamento irregular.
Como é feito o diagnóstico da crise tireotóxica?
O diagnóstico é feito com a Escala de Burch-Wartofsky > 45.
- Precipitantes: sim ou não.
- Febre (Tax > 37,2 Cº).
- SNC: agitação, delirum, convulsão e coma.
- Cardíaca: taquicardia, FA, ICC.
- Gastrointestinal: diarreia, náuseas, vômitos e icterícia.