C. M., sexo feminino, 67 anos de idade, é destra, graduada em administração de empresas e exerce a profissão de empresária. A paciente compareceu à consulta neurológica acompanhada da filha.
Como histórico clínico, C. M. queixa-se de perda de memória com piora progressiva nos últimos três anos. Refere esquecimentos para acontecimentos recentes, como registro de recados, nomes de pessoas e palavras ditas em uma conversa. Não relata dificuldade em relação à memória remota e prejuízos no trabalho nem nas relações familiares e sociais em decorrência dos esquecimentos. Entretanto, a paciente sentiu-se incomodada e decidiu procurar ajuda médica. A filha corrobora as informações, mas acredita que a mãe se preocupa exageradamente.
A paciente apresenta boa saúde geral. Refere hipertensão leve diagnosticada há dois anos e controlada com 50mg diários de losartana. Também suplementa vitamina D e ômega-3. Nega tabagismo e diz ingerir bebida alcoólica esporadicamente. Nega DM, tireoidopatia, cardiopatia e doenças neurológicas. Não tem antecedentes de doenças psiquiátricas e o pai faleceu aos 95 anos de idade com DA.
Os exames físicos, geral e neurológico, não revelaram alterações. Os exames laboratoriais mostraram apenas leve aumento no colesterol LDL. A RM do encéfalo foi concluída como dentro dos limites saudáveis, com escores de:
MTA Scheltens — 1 bilateralmente;
ERICA — 0;
Fazekas — 1;
A paciente foi encaminhada para avaliação neuropsicológica. Na síntese da avaliação, nos inventários de depressão e ansiedade, ela demonstrou sintomas de depressão e ansiedade mínimas, dentro dos padrões típicos. É independente nas AVD, apresentando as seguintes pontuações nos demais testes:
Clinical Dementia Rating (CDR) — 0;
Escala de Funcionalidade de Pfeffer — inferior a 5;
EQM:
na autoavaliação — EQM = 8 (moderada);
na avaliação pela filha — EQM = 3 (leve).
Ressalta-se que, na EQM, o perfil de resposta é o inverso nos casos de demência incipiente da DA, também na percepção da acompanhante.
Na Escala de Inteligência Wechsler Abreviada (em inglês, Wechsler Abbreviated Scale of Intelligence [WASI]), mostrou QI geral de 101, indicando um funcionamento intelectual geral na média para sua faixa etária.
Na Escala de Avaliação de Demência de Mattis (em inglês, Dementia Rating Scale [DRS]), apresentou desempenho preservado (pontuação de 138). Erros de cálculos não foram observados no teste de operações matemáticas. No Miniexame do Estado Mental (MEEM), apresentou desempenho típico (29 pontos).
Na avaliação de memória, o desempenho de C.M. foi superior nos processos de aprendizagem de lista de palavras, denotando eficiência nos mecanismos de
codificação;
evocação imediata;
evocação tardia.
A memória visuoespacial também se mostrou preservada e o desempenho também foi típico nos testes de avaliação de
atenção;
funções executivas;
linguagem;
habilidades visuomotoras;
habilidades visuoconstrutivas.
Os resultados da avaliação neuropsicológica identificaram que os desempenhos cognitivos globais e em todos os domínios cognitivos estiveram preservados e na média para a faixa etária segundo a escolaridade.
1 - No caso clínico, os resultados de avaliação neuropsicológica identificaram que o desempenho cognitivo global da paciente é preservado e na média para faixa etária. Os resultados observados na avaliação neuropsicológica apresentada podem ser compatíveis ao padrão de
A)DCS.
B)CCL.
C)desempenho normal decorrente de quadro depressivo.
D)transtorno neurocognitivo maior.
2 - Para a identificação do DCS na paciente, concorreram
A)a discrepância entre a percepção dela e da filha sobre o funcionamento de sua memória; os resultados típicos para a idade na avaliação das funções cognitivas; a presença de sinais de depressão e ansiedade.
B)os resultados típicos para a idade na avaliação das funções cognitivas; a presença de sinais de depressão e ansiedade; a referência ao DA na história familiar.
C)a discrepância entre a percepção dela e da filha sobre o funcionamento de sua memória; os resultados típicos para a idade na avaliação das funções cognitivas; a ausência de sinais de depressão ou ansiedade; a presença de sinais de esquecimento de coisas recentes.
D)a discrepância entre a percepção dela e da filha sobre o funcionamento de sua memória; os resultados típicos para a idade na avaliação das funções cognitivas; a ausência de sinais clínicos de depressão ou ansiedade.
3) A intervenção sugerida (treino cognitivo com neuropsicóloga) é justificável porque
A)segue uma recomendação expressa da literatura.
B)oferece apoio emocional para a paciente.
C)ajuda a melhorar a percepção da paciente sobre sua própria condição e encontra apoio na literatura e na prática atual.
D)ajuda a melhorar a percepção da paciente sobre sua própria condição e reduz a carga da família com as queixas da paciente.
1) A)x
No caso clínico, os resultados apontados sugerem DCS, pois encaixam-se nos critérios de diagnóstico: os possíveis domínios cognitivos afetados (linguagem, funções executivas, atenção); há preocupações específicas associadas ao declínio (como mostra a EQM); quando se inicia o declínio cognitivo (presente no último ano, iniciado há três anos); não há associação com distúrbios físicos ou mentais; não há associação com uso de remédios, álcool ou outras substâncias.
2) D)x.
No caso clínico, os resultados apontados sugerem DCS, pois se encaixam nos critérios de DCS: há preocupações específicas associadas ao declínio (a discrepância entre a avaliação da paciente e da filha na EQM); a ausência de sinais objetivos de queda no desempenho cognitivo; a ausência de sinais clínicos de depressão ou ansiedade.
3) C)x.
A intervenção ajuda a paciente a desenvolver a autopercepção, aumenta o repertório de habilidades e já é uma prática comum no Brasil, com apoio na literatura nacional e internacional.