Oncogénese viral e neoplasias associadas à imunossupressão Flashcards
Como ocorre o processo de oncogénese viral?
Fragmentos do DNA e do RNA virais são introduzidos em no genoma da célula do hospedeiro, levando a transformação celular, e adquirindo propriedades de células neoplásicas.
Isto ocorre porque são produzidas proteínas que dão origem ao fenótipo transformado.
Quais são as características que as células do hospedeiro adquirem quando infetadas com vírus que induzem oncogenese?
As células passam a:
- ser confluentes;
- deixar de viver em monocamada;
- deixar de ter inibição por contacto;
- transform-se, imortalizam-se e passam a ser independentes de ancoragem.
De onde se pensa que podem ter surgido os oncogenes hoje conhecidos?
Podem ter tido origem em vírus, tendo sido inseridos/integrados no nosso genoma oncogenes modificados por estes microrganismos.
Dá um exemplo de um oncogene que vem provavelmente de um vírus?
Cerb-B2 (que vem provavelmente de uma Avian
Erythroblastosis). Leva a sobre-expressão da proteína HER2 no carcinoma da mama.
Quão rápido é a evolução para neoplasia, a partir da infeção por Vírus do Papiloma Humano?
A doença causada pelo HPV é uma doença indolente – o vírus pode estar no epitélio do colo do útero vários anos até que se desenvolvam alterações epiteliais importantes que culminam no desenvolvimento de neoplasia.
O processo de carcinogénese é um fenómeno muito longo (~ 25 anos após infeção).
Como é o curso da doença, a partir da infeção por Vírus do Papiloma Humano?
A grande maioria das infeções por HPV acabam por resolver espontaneamente:
- maioria ao fim de 12 meses;
- > 90% ao fim de 2 anos.
Poucas doentes desenvolvem alterações epiteliais, nomeadamente neoplasia intra-epitelial:
- Regressão em 50% até aos 30 anos;
- Outros 50% com infeção persistente, evolução das lesões e invasão do córion da mucosa, estabelecendo-se o carcinoma invasivo.
Quais são os fatores que contribuem para que, um indivíduo com infeção de HPV, desenvolva neoplasia?
- Infeção VIH;
- Desnutrição;
- Doenças inflamatórias;
- Alterações imunitárias.
Quais são os diferentes cancros associados ao HPV?
- Colo do útero - maior impacto;
- Ânus;
- Vagina, vulva, pénis;
- Orofaringe, cavidade oral e laringe.
Quais são os países com maior incidência de infeção por HPV?
A infeção por HPV é mais prevalente nos países em desenvolvimento, nomeadamente: África Subsariana, Ásia Central, Pacífico e América Latina e outras regiões da Ásia.
Quais são as proteínas mais importantes para o processo de oncogénese viral na infeção por HPV?
E6 e a E7, que interagem com as proteínas p53 e Rb (retinoblastoma), genes supressores de tumor.
Descreve as zonas do colo do útero.
- Ectocérvix: epitélio pavimentoso estratificado;
- Endocérvix: epitélio glandular colunar/cilíndrico;
- Zona de transformação: região de transição entre estas duas zonas.
Qual é a zona do colo do útero mais frequentemente afetada pelo HPV?
A zona de transformação.
Que células do colo do útero são infetadas pelo HPV?
A existência de uma fenda no epitélio permite que as partículas virais alcancem a camada basal do epitélio, infetando as células epiteliais basais.
Para além da E6 e E7, que outras proteínas são importantes para o processo de oncogénese viral na infeção por HPV?
A E4, a L1 e a L2.
Quais são os testes de rastreio para o HPV nos países desenvolvidos?
Citologia cervical, teste de HPV ou teste de citologia combinado com o teste de HPV.
Qual é o teste de rastreio que tem maior sensibilidade para o HPV?
O teste de HPV, em comparação com a citologia cervical.
Qual é o intervalo de tempo para o rastreio com citologia cervical?
2/2 ou 3/3 anos.
Qual é o intervalo de tempo para o rastreio com teste de HPV?
5/5 anos.
Como se realiza a confirmação do diagnóstico após uma citologia ou teste de HPV positivos?
Biópsia por colposcopia.
Como se realiza o tratamento inicial da maioria das lesões neoplásicas por HPV no colo do útero?
O tratamento inicial da maioria das lesões é excisional nos países desenvolvidos, e ablativo nos países em desenvolvimento.
Qual é o teste de rastreio para o HPV nos países menos desenvolvidos?
Nos países com menos recursos, utiliza-se a inspeção visual com ácido acético (VIA), que tem uma capacidade preditiva positiva baixa ou então pode tentar-se fazer-se a deteção das proteínas E6 e/ou E7.
Quais são os principais fatores de risco para aquisição de infeção por HPV?
- Idade com que se iniciam as relações sexuais: antes dos 12/14 anos;
- Número de parceiros sexuais.
Qual é a importância epidemiológica do carcinoma do colo do útero?
É o 2º carcinoma mais frequente exclusivo da mulher, e em particular da mulher jovem.
Prevalência superior em países menos desenvolvidos, devido à falta de rastreio e vacinação.
Tratamento para estadios Ia1 e Ia2 do carcinoma do colo do útero?
São tratadas com cirurgia conservadora pelo ginecologista.
Tratamento para estadios Ib1 e IIa do carcinoma do colo do útero?
Cirurgia radical.
Quais são as doentes candidatas a QT+RT adjuvante (Ia, Ib1 e IIa)?
- Tumores G3 (grau de diferenciação);
- Invasão das margens;
- Múltiplos nodos linfáticos com micrometástases ou invasão vascular.
Quais são as desvantagens de QT+RT adjuvante em doentes com estadios Ia, Ib1 e IIa?
É altamente tóxico para a vida sexual e pessoal destas doentes, pelo que é efetuado num número selecionado e reduzido de doentes.
Tratamento para estadios Ib2, IIb-IVa do carcinoma do colo do útero?
Quimioradioterapia definitiva ou terapêutica neoadjuvante (quando os radioterapeutas indicam que a área a irradiar é muito extensa)
Quais são os fármacos utilizados na quimioterapia do carcinoma do colo do útero?
Cisplatina + Placitaxel, podendo eventualmente a Cisplatina ser substituída por Carboplatina.
Que fármaco, para além da quimioterapia, pode ter interesse no tratamento do colo do útero?
A adição de Bevacizumab à quimioterapia mostrou melhorar ligeiramente a progressão livre de doença e a sobrevida global e deve ser considerado como novo tratamento standard para a doença avançada em doentes cuidadosamente selecionados.
Como tem evoluído a incidência do Carcinoma Pavimento Celular da cabeça e do pescoço HPV+?
Tem vindo a aumentar a sua incidência, sobretudo a partir dos anos 90-95.
Razões para o aumento da incidência do Carcinoma Pavimento Celular da cabeça e do pescoço HPV+?
- aumento sobretudo em homens mais jovens, pela mudança das práticas sexuais;
- Números podem estar enviesados, uma vez que atualmente, as amostras são mais testadas para a presença do vírus.
Quais são as localizações do Carcinoma Pavimento Celular da cabeça e do pescoço HPV+?
- Cavidade oral (42%);
- Orofaringe;
- Hipofaringe;
- Laringe.
Quais são os fatores de risco para os carcinomas pavimentocelulares da cabeça e do pescoço?
- Tabagismo;
- Consumo de álcool;
- Exposição solar;
- Infeção por HPV.
Como se confirma que estamos perante uma neoplasia relacionada com o HPV?
Deteção da proteína p16 por imunohistoquimica ou através da deteção do DNA do vírus em amostras tecidulares por técnicas de PCR.
Diferenças entre o carcinoma da cabeça e pescoço HPV+ e -?
- Incidência: Tem vindo a aumentar no HPV + e diminuir no HPV - .
- HPV + é mais comum em doentes caucasianos.
- No HPV + os doentes são, geralmente, mais jovens, bem nutridos, sem comorbilidades e, muitas vezes, sem hábitos tabágicos ou alcoólicos.
- No HPV + a localização mais comum são as amígdalas e base da língua.
- Histoligia: Não queratinizante no HPV + e queratinizante no HPV -.
- O HPV + apresenta-se frequentemente com envolvimento ganglionar, no entanto, apresenta recorrências mais tardias do que o HPV -.
- No HPV - há mutação do gene p53 e no HPV + não.
Os resultados terapêuticos costumam ser melhores nos doentes com carcinoma da cabeça e pescoço HPV + ou -? Porque?
Nos doentes em que não há tabagismo e o HPV é +, os resultados terapêuticos são melhores.
Razões:
- Doentes são habitualmente mais novos e com um melhor status funcional;
- Doentes não têm hábitos tabágicos e/ou alcoólicos;
- Doentes menos desnutridos e com melhor higiene oral;
- Doença possivelmente menos agressiva: sem p53 mutado, com diminuição da expressão do ECFR, com menos áreas de hipóxia.
Tratamento do carcinoma da cabeça e do pescoço escamoso localmente avançado?
Radioterapia local com 70 Greys + quimioterapia (QT) concomitante.
Qual é a percentagem de doentes que apresenta toxicidade tardia grave após RT+QT para o tratamento de carcinoma da cabeça e do pescoço?
43% dos doentes.
Quais são as consequências (toxicidade) do tratamento de carcinoma da cabeça e do pescoço?
- Toxicidade laríngea e/ou faríngea de grau 3 ou 4: xerostomia, dor, edema, fibrose cervical, alterações da deglutição, alterações da fala;
- Necessidade de viverem com uma sonda nasogástrica 2 anos após o diagnóstico;
- Morte potencialmente relacionada com o tratamento (por exemplo por pneumonia de aspiração na sequência de alterações da deglutição) nos primeiros 3 anos.
Quais são os efeitos adversos da quimiorradipoterapia de alta dose usada no tratamento dos tumores da cabeça e do pescoço HPV+?
- Alterações da deglutição;
- Estenoses faríngeas;
- Xerostomia;
- Alterações dentárias;
- Fibrose subcutânea;
- Osteradionecrose e condroradionecrose (os efeitos mais graves).
Tumores da cabeça e do pescoço:
Quais são os doentes de baixo risco?
HPV+ e que não fumam ou têm uma carga tabágica baixa.
Tumores da cabeça e do pescoço:
Qual é a sobrevida aos 3 anos dos doentes de baixo risco?
93%.
Tumores da cabeça e do pescoço:
Quais são os doentes de risco intermédio?
HPV+, fumadores + N2b-N3
OU
HPV-, não fumadores ou com pouca carga tabágica + T2-T3.
Tumores da cabeça e do pescoço:
Qual é a sobrevida aos 3 anos dos doentes de risco intermédio?
70,8%.
Tumores da cabeça e do pescoço:
Quais são os doentes de alto risco?
HPV-, fumadores e T4.
Tumores da cabeça e do pescoço:
Qual é a sobrevida aos 3 anos dos doentes de alto risco?
46,3%.
Quais são os vírus implicados no desenvolvimento do carcinoma hepatocelular?
VHB (Vírus da hepatite B) e VHC (Vírus da Hepatite C).