Colorretal Flashcards
Quais são as lesões precursoras do CCR?
Pólipos:
- hamartoma não neoplásico (p.e. pólipo juvenil);
- proliferação mucosa hiperplásica (p.e. pólipo hiperplásico)
- pólipo adenomatoso - únicos claramente pré-malignos e apenas uma minoria evolui para cancro.
Como é a patogénese desde a formação do pólipo até ao carcinoma?
A 1ª mutação surge no gene APC ou em genes de reparação do DNA, originando um pequeno pólipo e, depois há acumulação sucessiva de mutações, depois ocorrem eventos tardios, caracterizados por mutações em genes gatekeeper, como o p53, que condicionam um fenótipo invasivo e progressão a nível local e à distância; estima-se que este processo ocorra num intervalo de 5-10 anos.
Quais são as mutações envolvidas na patogénese?
- mutações do proto-oncogene K-ras;
- hipometilação do DNA;
- perda de DNA (perda alélica) no local de um gene supressor de tumor (APC, DCC, p53).
Classificação grosseira do T no TNM?
- T1: invasão da mucosa e da submucosa;
- T2: invasão da muscular própria;
- T3: invasão da serosa;
- T4: invasão de órgãos vizinhos.
Quais são as 3 vias de carcinogénese no CCR?
- via de instabilidade cromossómica (CIN, é a via clássica), caracterizada pela mutação inicial no APC;
- via mutadora, caracterizada pela mutação dos genes de reparação do DNA (MMR – mismatch repair genes);
- via serreada, caracterizada por um fenómeno de aumento na metilação/metilação anómala do promotores dos genes (CIMP).
Qual a principal diferença entre as vias da carcinogénese?
As vias de instabilidade cromossómica e mutadora têm como lesão precursora um adenoma tubular ou túbulo-viloso (estruturas sésseis facilmente detetáveis endoscopicamente, muitas vezes presentes no cólon esquerdo);
A via serreada apresenta como lesão precursora uma lesão serrada (pólipo/adenoma serrado – lesão tipicamente plana, muitas vezes translúcida e difícil de localizar na endoscopia, difícil de detetar).
Prognóstico de acordo com as vias da carcionogénese?
- CIMP e mutações BRAF: pior prognóstico;
- via CIN (estáveis): prognóstico intermédio;
- via mutadora (com ou sem hipermetilação dos promotores): melhor prognóstico.
Porque é que a mutação KRAS é importante?
A presença de mutações do gene KRAS é preditora da ausência de resposta aos inibidores do EGFR (cetuximab, panitumumab).
Quais são 2 fatores do organismo que influenciam o risco e prognóstico da doença?
Existe uma associação significativa entre um maior infiltrado linfocitário e uma maior sobrevida.
Utiliza-se uma classificação baseada na infiltração tumoral por linfócitos, conhecida por “Immunoscore”.
O estudo do microbioma intestinal veio demonstrar uma relação significativa entre determinadas alterações do microbioma e um aumento do risco de CCR.
Quais são os fatores de risco para CCR?
- Dieta: gordura animal; maior consumo de carnes vermelhas; menor consumo de fibra/verduras;
- História familiar e/ou síndromes hereditárias: polipose colónica; polipose associada aos MYH; síndrome não-polipose (síndrome de Lynch);
- Doença Inflamatória Intestinal (DII);
- Bacteriemia a Streptococcus bovis;
- Idade avançada;
- Sexo masculino;
- Índice de Massa Corporal (IMC) elevado;
- Utilização de tabaco(?).
Quais são os fatores protetores para o desenvolvimento de CCR?
- Ingestão de Ácido Acetilsalicílico (AAS), Anti-inflamatórios Não Esteroides (AINEs) e cálcio/ácido fólico(?);
- Exercício físico;
- Consumo elevado de fibras e verduras.
Percentagem de ADC esporádicos, familiares e hereditários?
- esporádicos: 70%;
- familiares, sem síndrome hereditário identificado: 25%;
- S. familiares Hereditários: 5%.
Quais são os 2 grandes grupos de cancros do cólon hereditários?
- síndromes poliposas, bem estudas mas incomuns (como a polipose adenomatosa familiar, a polipose associada ao MYH, a síndrome de Gardner, a síndrome de Turcot e a polipose hamartomatosa/síndrome de Peutz-Jeghers/síndrome da polipose juvenil);
- síndromes não-poliposas, mais comuns (síndrome de Lynch).
A polipose colónica (PAF) é de transmissão autossómica dominante ou recessiva?
É uma condição rara, de transmissão autossómica dominante.
Qual é a etipatogénese da PAF?
uma deleção no cromossoma 5q21-22, incluindo o gene APC, que resulta na ausência de genes supressores de tumor. Com o APC mutado, há um aumento da β-catenina e ativação da via Wnt, que promove o crescimento tumoral.
Quando é que a PAF é normalmente diagnosticada?
2ª/3ª década de vida.
Sintomas e sinais de PAF?
Muitas vezes assintomática.
Pode cursar com hemorragia GI, dor abdominal e diarreia.
Como são os pólipos da PAF e onde se localizam?
a maioria dos pólipos (90%) não ultrapassa o meio centímetro de diâmetro e é mais frequente no cólon distal. Esta condição associa-se também muito a adenomas gástricos (isolados, localizados no antro, com baixo risco de cancro) e duodenais.
O que é a Síndrome de Gardner?
Na PAF, adicionalmente aos pólipos colónicos, aparecimento de tumores ósseos e dos tecidos moles, hipertrofia congénita do epitélio pigmentado da retina, tumores desmóides mesentéricos e neoplasias ampulares.
O que é a Síndrome de Turcot?
O surgimento de tumores malignos do sistema nervoso central (SNC) acompanhando a polipose colónica (PAF).
Quais são os critérios diagnósticos de PAF?
- Deteção da mutação germinativa no gene APC;
- Confirmação de > 100 adenomas colorretais síncronos na colonoscopia;
- > 10 e < 100 adenomas em doentes mais jovens de famílias com PAF.
Como se realiza o rastreio de CCR nos doentes com PAF?
- Forma clássica: sigmoidoscopia, a cada 1-2 anos, a partir dos 10-12 anos; quando for detetado um pólipo, passa a colonoscopia, anualmente;
- Forma atenuada: colonoscopia, a partir dos 18-20 anos.
- A pesquisa de sangue oculto nas fezes (PSOF) não é um método de rastreio adequado nestes doentes.
Tratamento dos doentes com PAF?
Baseado nos critérios de Spigelman: - múltiplos pólipos com >6 mm OU - CCR documentado OU suspeito OU - sintomas severos OU - adenomas com displasia de alto grau. Os doentes devem ser submetidos a uma colectomia. Após a cirurgia, vigilância anual.
A polipose associada ao MYH é de transmissão autossómica dominante ou recessiva?
É uma síndrome autossómica recessiva.
Como se faz o rastreio da polipose associada ao MYH?
Suspeita de >/= 20 pólipos e < 100. Realiza-se teste genético.
Tratamento da polipose associada ao MYH?
As guidelines para rastreio e para colectomia nesta síndrome são menos claras, mas recomenda-se geralmente vigilância colonoscópica anual OU bianual a partir dos 25-30 anos de idade.
O que é a síndrome de Peutz-Jeghers?
Síndrome autossómica dominante.
Mutação no gene STK11.
Polipose hamartosa do cólon e intestino delgado (mais comum até), associada a melanose mucocutânea.
Como se faz o rastreio e vigilância na síndrome de Peutz-Jeghers?
O rastreio de CCR é feito através de colonoscopia e EDA a partir dos 8 anos:
- se se encontrarem pólipos, repete-se a cada 3 anos;
- se não houver pólipos, repete-se só a partir dos 18 anos, com um intervalo de 2-3 anos.
O que é a síndrome de polipose juvenil?
É a mais comum das síndromes de polipose hamartomatosa.
Os pólipos juvenis apresentam uma aparência esférica e, microscopicamente, caracterizam-se por um sobrecrescimento de uma lâmina própria edematosa com células inflamatórias e glândulas quísticas.
Quais são os genes envolvidos na síndrome de polipose juvenil?
Os genes envolvidos nesta síndrome são o BMPR1A, que codifica um recetor do TGF-β, e o SMAD4, que é um gene supressor de tumor.
O que é a síndrome de Lynch?
Cancro colorretal hereditário não poliposo.
Condição autossómica dominante.
Trata-se da causa hereditária mais comum de CCR.
Suspeita de síndrome de Lynch?
- 3 OU mais familiares com CCR documentado histologicamente, 1 dos quais é um familiar de 1º grau de um dos outros 2;
- 1 OU mais casos de CCR diagnosticado antes dos 50 anos na família;
- CCR envolvendo pelo menos 2 gerações.
Manifestações clínicas da síndrome de polipose juvenil?
A maioria destes doentes torna-se sintomática até à 2ª década de vida:
- hemorragia digestiva baixa;
- obstrução intestinal;
- diarreia;
- também podem surgir anemia e enteropatias.
O risco de desenvolver CCR é de 38% e de neoplasia gástrica é de 21%.
Genes envolvidos na Síndrome de Lynch?
Vários genes envolvidos na reparação do DNA (genes do MMR):
- MSH2 no cromossoma 2;
- MLH1 no cromossoma 3;
- MSH6;
- PMS.
Estas mutações originam erros na replicação do DNA e pensa-se resultarem em instabilidade do mesmo (particularmente com MSI - instabilidade microssatélite).
Diferenças entre Síndrome de Lynch e CCR esporádico?
- a idade média de aparecimento de adenocarcinoma (ADC) é <50 anos (10-15 anos antes da idade média para a população geral).
- Na síndrome de Lynch os adenomas são maiores, mais planos, mais proximais e com maior probabilidade de apresentarem displasia de alto grau e histologia vilosa, com uma evolução de adenoma para carcinoma em 35 meses (vs 10-15 anos no esporádico).
Associação de Síndrome de Lynch com outros carcinomas para além do CCR?
- endométrio - O MAIS COMUM;
- ovário;
- gástricos;
- intestino delgado;
- génito-urinários;
- pancreático-biliares;
- cutâneos sebáceos.
Como se realiza o rastreio em doentes com síndrome de Lynch?
colonoscopia anual (OU bianual) a partir dos 20-25 anos de idade (25 anos se MLH1/2; 30 anos se MSH6 ou PMS2) OU 5/10 anos mais cedo que o diagnóstico de CCR mais precoce na família.
Quais são os critérios de diagnóstico clínicos para síndrome de Lynch?
Critérios de Amesterdão III
- Pelo menos 3 familiares com cancro associado à Síndrome de Lynch histologicamente confirmado, sendo pelo menos 1 um familiar de 1º grau dos outros 2;
- Cancro envolvendo pelo menos 2 gerações;
- Pelo menos 1 caso diagnosticado antes dos 50 anos de idade;
(Excluir PAF)
Diagnóstico definitivo de Síndrome de Lynch?
1º procurar MSI OU perda de coloração da proteína (MLH1, PMS2, MSH2, MSH6) por imunohistoquímica:
- se não se verificar, exclui-se síndrome de Lynch;
- se se confirmar, tem de se procurar a mutação BRAF.
2º se a mutação BRAF estiver ausente em casos de MSI, então está-se perante uma possível síndrome de Lynch.
3º Confirmada por testes genéticos.
Abordagem dos doentes com Síndrome de Lynch?
- Na presença de um CCR OU de um adenoma não ressecável, deve-se optar por colectomia total com anastomose ileorretal;
- Se o tumor estiver localizado no reto, deve-se realizar quimioterapia (QT) neoadjuvante e proctocolectomia total com anastomose anal com bolsa ileal;
- Se a colonoscopia não mostrar alterações suspeitas, não está recomendada a colectomia e os doentes devem manter a vigilância normal;
- Pode também oferecer-se histerectomia e salpingo-ooforectomia bilateral como profilaxia tumoral.