Complicações da colecistolitíase Flashcards
Definição - Colecistite aguda calculosa
Síndrome clínica decorrente de uma inflamação aguda da vesícula biliar, causada por um cálculo impactado no ducto cístico.
A impactação do cálculo é definitiva
A colecistite aguda é uma doença infecciosa?
Doença inflamatória química
O evento inicial e obrigatório é a obstrução completa e persistente do ducto cístico por um cálculo (1). Numa vesícula cheia de bile e cálculos e com um deles encravado no cístico, diversos processos fisiopatológicos podem se precipitar. O efeito irritativo dos cálculos faz com que uma enzima, a Fosfolipase A, seja liberada da parede da vesícula para o seu lúmen (2). Esta enzima é capaz de converter a lecitina da bile em Lisolecitina (3), um potente irritante químico. Esta substância é a grande vilã na colecistite aguda, ao desencadear uma reação inflamatória química na parede vesicular (4).
Por que a oclusão do cístico não provoca sempre uma colecistite aguda?
Algumas vezes não há cálculos suficientes irritando a parede da vesícula para liberar a fosfolipase A, não se formando, portanto, a lisolecitina.
Nestes casos, não ocorrerá colecistite aguda…
Colecistite aguda calculosa. E as bactérias?
A presença de bactérias não é necessária para a ocorrência da colecistite aguda – entretanto elas estão presentes em cerca de 50% dos casos, proliferando-se no lúmen vesicular.
Qual é o seu papel da bactéria na colecistite aguda?
Provavelmente, estes micro-organismos contribuem para o agravamento da inflamação e são especialmente importantes na colecistite aguda complicada.
Quadro clínico da colecistite aguda calculosa
- Dor biliar > 6h
- Febre (até 38,7°C)
- Leucocitose (12 a 15.0000/mm3)
- Sinal de Murphy (patognomônico)
- Massa palpável (Vesícula +omento)
Colecistite dá ictéricia?
Não (ou se há é de pequena monta +/+4)
Aumento de Lifonodos próximo ao colédoco que estão drenando o processo inflamatório, podem comprimir o colédoco e gerar ictéricia.
Colecistite com ictéricia ⇧ 5mg/dL; ou seja colecistite com padrão obstrutivo importante.
Deve-se suspeitar: (2)
- Colecistite aguda + coledocolitíase
- Síndrome de Mirizzi
Colecistite aguda
Primeiro exame que deve ser solicitado para confirmar o diagnóstico
USG abdominal
Além de estabelecer a presença dos cálculos, este exame pode revelar sinais de inflamação aguda na vesícula. São eles:
- Espessamento da parede da vesícula (> 4 mm);
- Coleção pericolecística;
- Distensão da vesícula;
- Cálculo impactado;
- Sinal de Murphy ultrassonográfico (pelo toque do transdutor).
Exame de maior acurácia para casos duvidosos de colecistite aguda
Cintilografia
- Raramente precisa ser realizada
Leia o caso clínico a seguir: paciente gestante, primigesta, de 25 anos, no quarto mês de gestação, apresenta primeiro episódio de colecistite aguda. Nesse caso, qual deverá ser a conduta?
a) Colecistectomia videolaparoscópica.
b) Colecistectomia convencional.
c) Tratamento clínico até o terceiro trimestre.
d) Tratamento clínico até o nascimento.
Resposta certa: A.
A colecistite aguda é uma patologia de tratamento essencialmente cirúrgico. Na gestação, a ausência de tratamento adequado aumenta muito a morbimortalidade materno fetal, valendo a pena correr o risco de uma cirurgia de emergência. O ideal, inclusive, é que o procedimento seja realizado pela via videolaparoscópica, de preferência no segundo trimestre da gestação (no primeiro trimestre a chance de malformações fetais em decorrência de qualquer intervenção é maior, e no terceiro trimestre, devido ao maior tamanho do útero gravídico, a via laparoscópica encontra-se contraindicada). Ora, é justamente o momento em que a paciente se apresenta! Logo, não há o que titubear aqui.
Tratamento da colecistite aguda calculosa não complicada
- Hidratação e analgesia
- Antibioticoterapia parenteral
- Ceftriaxone + Metronidazol
- Ampicilina com sulbactam
- Colecistectomia Videolaparoscópica em 2 a 3 dias
Principais complicações da colecistite aguda - Indicam cirurgia de urgência
- Empiema de vesícula
- Gangrena + perfuração
- Colecistite enfisematosa
Complicações da colecistite aguda - COLECISTITE ENFISEMATOSA
- Mais comum em idosos diabéticos
- Causada pelo Clostridium perfringens (bactéria anaeróbica produtora de gás)
- Diagnóstico confirmado pelo raio-x
Complicações da colecistite aguda - EMPIEMA DE VESÍCULA
Proliferação bacteriana excessiva, havendo produção de pus no lúmen vesicular.
- Febre alta com calafrios
- Leucocitose > 15.000/mm3
Risco de gragena e perfuração
A vesícula inflamada “encosta” no intestino delgado, “gruda” e forma uma fístula, permitindo a passagem de cálculos do seu interior para o tubo gastrointestinal.
O resultado é a interrupção do trânsito intestinal
Qual o nome desse fenômeno?
Íleo biliar
Colecistite aguda na gestante
- Sinais de irritação peritoneal ( incluindo sinal de Murphy) são mais dificeis de perceber
- No 3° trimestre de gestação apendicite aguda se confunde com colecistite aguda
Qual a causa dessas condições acima?
Útero gravídico
Alteração mais importante no exame físico de alguem com colecistite aguda
Sinal de Murphy
Ponto cístico: localizado na linha hemiclavicular abaixo do rebordo costal direito.
Faz-se uma palpação profunda e pede para o paciente fazer uma inspiração profunda, nessa inspiração o diafragma abaixa e a vesícula biliar bate na mão do examinador, fazendo o paciente sentir uma dor que faz para a inspiração.
Colecistite aguda na gestante
A inflamação, a infecção e a manipulação das vísceras abdominais podem estimular o útero gravídico a contrair. Como abordar este problema?
Se for possível, protelar a cirurgia até após o termo.
Se houver urgência cirúrgica, a conduta é sempre operar durante a gestação.
Paciente sexo feminino, 35 anos, dá entrada no setor de emergência do hospital com dor em hipocôndrio direito, sinal de Murphy positivo. A ultrassonografia abdominal não mostra espessamento de parede vesicular nem líquido perivesicular ou peri-hepático. Em decorrência da dor intensa é internada para analgesia parenteral. No dia seguinte, o cirurgião a examina e encontra os mesmos sinais clínicos que sugerem colecistite aguda. Solicita outro ultrassom de abdome,que novamente tem laudo normal. Tendo em vista a hipótese clínica mais provável, qual o melhor exame complementar?
Cintilografia de vias biliares
Paciente do sexo masculino, 45 anos, deu entrada no pronto-socorro há 1 semana com quadro de dor tipo cólica, intensa, em Hipocôndrio Direito (HD), associada a náuseas e vômitos, após refeição rica em gordura. Durante a internação observou-se sinal de Murphy positivo, plastrão no HD e ausência de icterícia, sendo internado e iniciado tratamento clínico que consistia em dieta zero, analgesia e antibioticoterapia. O paciente evoluiu insatisfatoriamente nos primeiros dias da internação, porém no 6° DIH apresentou melhora no quadro com regressão do quadro álgico e melhora da febre, sendo liberada dieta oral. No 7° DIH apresentou distensão abdominal progressiva associada a vômitos, cólica abdominal difusa e intensa e parada de eliminação de gases e fezes. Não há febre ou icterícia. Ruídos hidroaéreos aumentados em frequência e intensidade. Assinale a alternativa correta:
a) O paciente apresenta provável pancreatite aguda como complicação do quadro, por migração do cálculo para o colédoco, confirmada pela verificação de hiperamilasemia.
b) A presença de aerobilia na radiografia simples de abdome fecha o diagnóstico da complicação descrita acima.
c) O paciente apresenta provável peritonite difusa estando indicada a sua transferência para a UTI para compensação clínica imediata antes da laparotomia exploradora.
d) Os dados acima nos permitem afirmar que o paciente apresentou complicação do quadro por apresentar colecistite aguda por microcálculos.
e) Há clara indicação de colecistectomia de urgência e antibioticoterapia.
Resposta B
Paciente abre um quadro com colecistite aguda, tem melhora de todos os sintomas, mas evolui no sétimo dia com achados compatíveis com obstrução intestinal… O que pode estar acontecendo? A intensa inflamação da vesícula biliar propiciou a formação de uma fístula colecistoentérica, que, por sua vez, deu chance à passagem de um cálculo biliar para o intestino, interrompendo o trânsito intestinal… A suspeita de íleo biliar é reforçada e CONFIRMADA com uma simples radiografia de abdome, Existem casos de cálculo impactado no bulbo duodenal, dando origem a outra síndrome chamada de Bouveret. Tratamento: NÃO REALIZAR A COLECISTECTOMIA NESTE MOMENTO, ordenhar o cálculo para uma alça próxima, realizar uma enterotomia e removê-lo em uma parte saudável do intestino.
Não cabe pensar em pancreatite aguda, pois não há dor abdominal em barra e não é comum ter obstrução intestinal associado ao quadro.
Definição - Síndrome de Mirizzi
Obstrução extrínseca do ducto hepático comum por um grande cálculo impactado no ducto cístico ou no infundíbulo da vesícula.
Diferença da Síndrome de Mirizzi Tipo I, da Síndrome de Mirizzi tipo II, III, IV.
Sem fístula
Síndrome de Mirizzi - Tipos II, III, IV
- Tipo II: Fístula envolver menos de 1/3 da circunferência do ducto hepático ou colédoco
- Tipo III: Envolve entre 1/3 e 2/3
- Tipo IV: Destruição completa da parede