Capítulo 29 - Grandes Vias Aferentes Flashcards

1
Q

O que são as vias aferentes?

Quais seus elementos?

A

vias aferentes, ou seja, aquelas que levam aos
centros nervosos supra-segmentares os impulsos nervosos originados nos receptores periféricos.

Em cada uma das vias aferentes deverão ser
estudados os seguintes elementos: o receptor, o
trajeto periférico, o trajeto central e a área de
projeção cortical.

a) o receptor — é sempre uma terminação
nervosa sensível ao estímulo que caracteriza a via. Assim, tradicionalmente admite-se a especificidade dc receptor, ou seja, a existência de receptores especializados para cada uma das modalidades dc sensibilidade. A conexão deste receptor, por meio de fibras específicas, com uma área específica do córtex, permite o reconhecimento das diferentes formas de sensibilidade (discriminação sensorial);

b) o trajeto periférico — compreende um nervo espinhal ou craniano e um gânglio sensitivo anexo aeste nervo. De um modo geral, nos nervos que possuem libras com funções diferentes, elas se misturam aparentemente ao acaso:

c) o trajeto central — no seu trajeto pelo sistema nervoso central, as libras que constituem as vias aferentes sc agrupam em feixes (tractos, fascículos, lemniscos) de acordo com suas funções. O trajeto
central das vias aferentes compreende ainda núcleos relês, onde sc localizam os neurônios dc associação (II, III ou IV) da via considerada;

d) a área de projeção cortical — está no córtex cerebral ou no córtex cerebelar; no primeiro caso, a via nos permite distinguir os diversos tipos de sensibilidade — é consciente; no segundo caso, ou seja, quando a via termina no córtex cerebelar,
o impulso não deternúna qualquer manifestação sensorial c é utilizado pelo cerebelo para realização dc sua função primordial dc integração motora — a via é
inconsciente.

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2
Q

qual a diferença entre vias conscientes e inconscientes? O que são ?
Quais seus princípios gerais?

A

As grandes vias aferentes podem, pois, ser
consideradas como cadeias neuronais, unindo
os receptores ao córtex. No caso das vias inconscientes, esta cadeia é constituída apenas por dois neurônios (I, II). Já nas vias conscientes, estes
neurônios são geralmente três, sobre os quais
podem ser estabelecidos os seguintes princípios
gerais:
a) neurônio I — localiza-se geralmente fora
do sistema nervoso central cm um gânglio sensitivo (ou na retina e mucosa olfatória, no caso das vias óptica e olfatória). É um neurônio sensitivo, em geral pseudo-unipolar, cujo dendraxônio se bifurca em
“T”, dando um prolongamento periférico
c outro central. O prolongamento periférico liga-se ao receptor, enquanto o prolongamento central penetra no sistema nervoso central pela raiz dorsal dos nervos espinhais ou por um nervo craniano;

b) neurônio II — localiza-se na coluna posterior da medula ou em núcleos de nervos
cranianos do tronco encefálico (fazem exceção as vias óptica e olfatória). Origina
axônios que geralmente cruzam o plano
mediano logo após sua origem e entram
na formação de um tracto ou lemnisco;

c) neurônio III — localiza-se no tálamo e
origina um axônio que chega ao córtex
por uma radiação talâmica (faz exceção a
via olfatória).
No estudo das grandes vias aferentes levaremos sempre em conta a posição e o trajeto dos
axônios destes três neurônios. Serão estudadas,
separadamente, as vias aferentes do tronco e
membros que penetram no sistema nervoso central pelos nervos espinhais e aquelas da cabeça
que penetram por nervos cranianos.

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Q

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4
Q

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Q

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6
Q

VIAS AFERENTE S QUE
PENETRA M NO SISTEMA
NERVOSO CENTRA L POR
NERVOS ESPINHAIS

A

VIAS DE DOR E TEMPERATUR A

VIA DE PRESSÃO E TATO
PROTOPÁTICO

VIA DE PROPRIOCEPÇÃO
CONSCIENTE, TATO
EPICRÍTICO E SENSIBILIDADE
VIBRATÓRIA

VIA DE PROPRIOCEPÇÃO
INCONSCIENTE

VIAS DA SENSIBILIDADE
VISCERA L

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7
Q

Quais as vias de dor e temperatura?

A

Embora tenha sido durante muito tempo assunto controvertido, sabe-se hoje que tanto os
receptores para temperatura como para dor são
terminais nervosos livres. Nos últimos anos, as
vias de dor e temperatura têm sido objeto de ürn
grande número de pesquisas que mudaram
consideravelmente algumas das idéias clássicas
sobre o assunto. Assim, sabe-se hoje que existem duas vias principais através das quais os
impulsos de dor e temperatura chegam ao sistema nervoso supra-segmentar: uma via filogeneticamente mais recente, neoespino-talâmica,
constituída pelo tracto espino-talâmico lateral,
e outra, mais antiga, pale oespino-talâmica’
consumida pelo tracto espino-reticular, e as fibras retieulo-talâmicas (via espino-retículo-talâmicas). Como será visto, essas duas vias veiculam formas diferentes de dor e serão estudadas de maneira esquemática a seguir

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8
Q
Via Neoespino-Talâmica
o que é? 
Quais seus elementos? 
Neurônios I
Neurônios II
Neurônios II
A

Trata-sc da via “clássica” de dor e temperatura, constituída basicamente pelo tracto espino-talâmico lateral envolvendo uma cadeia de
três neurônios.

Neurônios I — localizam-se nos gânglios
espinhais situados nas raízes dorsais. O prolongamento periférico de cada um destes neurônios liga-se aos receptores através dos nervos espinhais. O prolongamento central penetra na medula pela divisão lateral da raiz dorsal, bifurca-se em um ramo descendente curto c um ramo
ascendente longo (que forma o fascículo dorsolateral), terminando ambos na coluna posterior,
onde fazem sinapse com os neurônios II (Fig.
15.5) . Há evidência de que o neurotransmissor
liberado nesta sinapse é um neuropeptídeo, a
substância P.

Neurônios II — estão localizados na coluna
posterior, principalmente na lâmina I de Rexed.
Seus axônios cruzam o plano mediano, pela
comissura branca, ganham o funículo lateral do
lado oposto, inflectem-se cranialmente para
coastituir o tracto espino-talâmico lateral (Fig.
15.6) . Ao nível da ponte, as fibras desse tracto
se unem com as do espino-talâmico anterior
para constituir o lemnisco espinhal, que termina
no tálamo fazendo sinapse com os neurônios III.

Neurônios III — localizam-se no tálamo,
principalmente no núcleo ventral póstero-lateral. Seus axônios formam radiações talâmicas
que, pela cápsula interna e coroa radiada, chegam a área somestésica do córtex cerebral situada no giro pós-central (áreas 3,2 e 1 de Brodmann)*.
Através dessa via chegam ao córtex cerebral
impulsos originados em receptores térmicos e
dolorosos situados no tronco e nos membros do
lado oposto.

A via é somatotópica, ou seja, a
representação das diferentes partes do corpo pode ser identificada em seus núcleos e tractos
assim como na área de projeção cortical. Há
evidência de que a via neoespino-talâmica é
responsável apenas pela sensação de dor aguda
e bem localizada na superfície do corpo, correspondendo à chamada dor em pontada.

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9
Q
Via Paleoespino-Talâmica
o que é? 
Quais seus elementos? 
Neurônios I
Neurônios II
Neurônios II
A

É constituída de uma cadeia de neurônios em
número maior que os da via neoespino-talâmica

Neurônios I — localizam-se nos gânglios
espinhais, penetram na medulado mesmo modo
que os da via estudada anteriormente.

Neurônios II — situam-se na coluna posterior, principalmente na lâmina V de Rexed.
Seus axônios dirigem-se ao funículo lateral do
mesmo lado e do lado oposto, inflectem-se cranialmente para constituir o tracto espino-reticular. Este sobe na medula junto ao tracto espinotalâmico lateral e termina fazendo sinapse com
os neurônios III em vários níveis da formação
reticular.

Neurônios III — os neurônios III localizam-se na formação reticular e dão origem às fibras
reticulo-talâmicas que terminam nos núcleos
intralaminares do tálamo (neurônios IV).

Entretanto, o mais provável é que o número de neurônios reticulares envolvidos nessa via seja
maior e que os impulsos nervosos cheguem aos
núcleos intralaminares do tálamo após várias
sinapses na formação reticular.

Os núcleos, intralaminares, projetam-se para territórios muito amplos do córtex cerebral. É provável, entretanto, que essas projeções estejam mais relacionadas com a ativação cortical do que com a sensação de dor, uma vez que estas se tornam
conscientes já em nível talâmico.

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10
Q

Quais as diferenças entre as vias neo e paleotalâmicas?

o que resulta a lesão do núcleo ventral póstero-lateral ?

A

As principais diferenças entre as vias neo e
paleotalâmicas estão esquematizadas na Tabela
29.1. Ao contrário da via neoespino-talâmica, a
via paleoespino-talâmica não tem organização
somatotópica. Assim, ela é responsável por um
tipo de dor pouco localizada, dor profunda do
tipo crônico, correspondendo à chamada dor em
queimação, ao contrário da via neoespino-talâmica, que veicula dores localizadas do tipo
dor em pontada. Nas cordotomias anterolaterals (cirurgias usadas para tratamento da dor),
os dois tipos de dor são abolidos, pois são
seceionadas tanto as fibras espino-talâmicas como as espino-reticularcs. Entretanto, para abolição das dores profundas de origem visceral,
são necessárias cordotomias bilaterais visando
lesar também as fibras paleoespino-talâmicas
homolaterais.

Lesões e stereotaxics dos núcleos talâmicos em pacientes com dores intratáveis decorrentes de câncer comprovam a dualidade funcional das vias da dor. Assim, a lesão do núcleo ventral póstero-lateral (via neoespino-talâmica) resulta em perda da dor superficial em pontada, mas deixa intacta a dor crônica
profunda. Esta é abolida com lesão dos núcleos
intralaminares, o que, entretanto, não afeta a dor
superficial.

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11
Q
VIA DE PRESSÃO E TATO
PROTOPÁTICO
quais são os receptores? 
Neurônios I
Neurônios II
Neurônios II
A

Os receptores de pressão e tato são tanto os
corpúsculos de Meissner como os de Ruffini.
Também são receptores táteis as ramificações
dos axônios em torno dos folículos pilosos.

Neurônios I — localizam-se nos gânglios
espinhais situados nas raízes dorsais. O prolongamento periférico destes neurônios liga-se ao
receptor, enquanto o central penetra na medula
pela divisão mediai da raiz dorsal c divide-se
em um ramo ascendente muito longo e um ramo
descendente curto, terminando ambos na coluna posterior em sinapse com os neurônios II
(Fig. 15.5).

Neurônios II — localizam-se na coluna posterior da medula. Seus axônios cruzam o plano
mediano na comissura branca, atingem o funículo anterior do lado oposto onde se inflectem
cranialmente para constituir o tracto espinotalâmico anterior (Fig. 15.5). Este, ao nível da
ponte, une-se ao espino-talâmico lateral para
formar o lemnisco espinhal, cujas fibras terminam no tálamo fazendo sinapse com os neurônios III.

Neurônios III—localizam-se no núcleo ventral póstero-lateral do tálamo. Originam axônios que formam radiações talâmicas que, passando pela cápsula interna e coroa radiada, atingem a área somestésica do córtex cerebral (Fig.
29.2).
Por este caminho chegam ao córtex os impulsos originados nos receptores de pressão e
de tato situados no tronco e nos membros. Entretanto, como no caso anterior, estes impulsos
tornam-se conscientes já em nível talâmico

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12
Q
— VIA DE PROPRIOCEPÇÃO
CONSCIENTE, TATO
EPICRÍTICO E SENSIBILIDADE
VIBRATÓRIA
Quais os
Neurônios I
Neurônios II
Neurônios II
A

Os receptores de tato são os corpúsculos dc
Ruffini e de Meissner e as ramificações dos
axônios em torno dos folículos pilosos. Os receptores responsáveis pela propriocepção
consciente são os fusos neuromusculares e órgãos neurotendinosos. Já os receptores para a
sensibilidade vibratória são os corpúsculos de
Vater Paccini.
Neurônios I — localizam-se nos gânglios
espinhais. O prolongamento periférico destes
neurônios liga-se ao receptor, o prolongamento
central penetra na medula pela divisão mediai
da raiz posterior e divide-se em um ramo descendente curto e um ramo ascendente longo,
ambos situados nos fascículos grácil e cuneiforme (Fig. 15.5), os ramos ascendentes terminam no bulbo fazendo sinapse com os neurônios II.
Neurônios II — localizam-se nos núcleos
grácil e cuneiforme do bulbo. Os axônios destes
neurônios mergulham ventralmente, constituindo as fibras arqueadas internas, cruzam o plano
mediano e a seguir inílectem-se cranialmente
para formar o lemnisco medial (Fig. 29.3). Este
termina no tálamo fazendo sinapse com os neurônios III.
Neurônios III — estão situados no núcleo
ventral póstero-lateral do tálamo, originando
axônios que constituem radiações talâmicas que
chegam à área somestésica passando pela cápsula interna e coroa radiada (Fig. 29.3).
Por esta via chegam ao córtex impulsos nervosos responsáveis pelo tato epicrítico, a propriocepção consciente (ou cinestesia) e a sensibilidade vibratória (Capítulo 15, item 4.3.2.1).
O tato epicrítico e a propriocepção consciente
permitem ao indivíduo a discriminação de dois
pontos c o reconhecimento da forma e tamanho
dos objetos colocados na mão (estereognosia).
Os impulsos que seguem por esta via se tornam
coascientes exclusivamente em nível cortical,
ao contrário das duas vias estudadas anteriormente.

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13
Q

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14
Q

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15
Q

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16
Q

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A

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17
Q

d

A

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18
Q

VIAS DA SENSIBILIDADE

VISCERA L

A

O receptor visceral geralmente é uma terminação nervosa livre, embora existam também
corpúsculos de Vater Paccini na cápsula de algumas vísceras. Os impulsos nervosos originados nas vísceras em sua maioria são inconscientes, relacionando-se com a regulação reflexa
da atividade visceral. Contudo, interessam-nos
principalmente agora aqueles que atingem níveis mais altos do neuroeixo e se tornam conscientes, sendo mais imponentes do ponto de vista clínico os que sc relacionam com a dor
visceral. O trajeto periférico dos impulsos viscerais se faz geralmente através de fibras viscerais aferentes que percorrem nervos simpáticos
ou parassimpáticos. No que se refere aos impulsos relacionados com a dor visceral, há evidência que eles seguem, principalmente, por nervos
simpáticos, fazendo exceção as vísceras pél vicas inervadas pela parte sacral do parassimpático*.
Os impulsos que seguem por nervos simpáticos, como os nervos esplâncnicos, passam
pelo tronco simpático, ganham os nervos espinhais pelo ramo comunicante branco, passam
pelo gânglio espinhal, onde estão os neurônios
I, e penetram na medula pelo prolongamento
central destes neurônios. Os trajetos centrais
das vias aferentes viscerais, bem como a posição dos núcleos relês e da área de projeção
cortical, são ainda discutidos. No caso dos impulsos relacionados com a dor visceral, sabe-se
que eles seguem pelos tractos espino-talâmicos
laterais situados do mesmo lado e do lado oposto. Devido a isto, para o tratamento cirúrgico tia
dor visceral feito através das cordotomias, é
necessário seccionar os dois tractos espino-talâmicos.

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Q

sss

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21
Q

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22
Q

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23
Q

VIAS AFERENTE S QU E
PENETRA M NO SISTEMA
NERVOSO CENTRA L POR
NERVOS CRANIANO S

A
VIAS TRIGEMINAIS
VIA GUSTATIVA
VIA OLFATÓRIA
VIA AUDITIVA 
VIAS VESTIBULARES
CONSCIENTES E
INCONSCIENTES
VIA ÓPTICA
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24
Q

VIAS TRIGEMINAIS

A

Com exceção do território inervado pelos
primeiros pares de nervos espinhais cervicais, a
sensibilidade somática geral da cabeça penetra
no tronco encefálico pelos nervos V, VII, IX e
X. Destes, sem dúvida alguma, o mais importante é o trigêmeo, uma vez que os demais
inervam apenas um pequeno território sensitivo
situado no pavilhão auditivo e meato acústico
externo. O território sensitivo dos diversos nervos que veiculam a sensibilidade somática da
cabeça é mostrado na Fig. 12.2. Convém estudar separadamente as vias trigeminals exteroceptivas e proprioceptivas.

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25
Q

Via Trigeminal Exteroceptiva

A

Os receptores são idênticos aos estudados a
propósito das vias medulares de temperatura,
dor, pressão e tato.
Neurônios I — estão nos gânglios sensitivos
anexos aos nervos V , VIII, I X e X , ou seja:
gânglio trigeminal (V par), gânglio geniculado
(VII par), gânglio superior do glossofaríngeo e
gânglio superior do vago. São neurônios pseudo-uriipolares cujos prolongamentos periféricos ligam-se aos receptores através dos respectivos nervos, enquanto os prolongamentos
centrais penetram no tronco encefálico, onde
terminam fazendo sinapse com os neurônios II.’
Neurônios II — estão localizados no núcleo
do tracto espinhal ou no núcleo sensitivo principal do trigêmeo. Todos os prolongamentos
centrais dos neurônios I dos nervos VII, IX e X
terminam no núcleo do tracto espinhal do V. Os
prolongamentos centrais do V par podem terminar no núcleo sensitivo principal, no núcleo do
tracto espinhal ou então biíurcar dando um ramo para cada um destes núcleos (Fig. 29.4).
Embora o assunto seja ainda controvertido, admite-se que as Fibras que terminam exclusivamente no núcleo sensitivo principal levam impulsos de tato discriminativo (epicrítico); as que
terminam exclusivamente no núcleo do tracto
espinhal levam impulsos de temperatura e dor,
e as que se bifurcam, terminando em ambos os
núcleos, provavelmente relacionam-se com tato
protopático e pressão. Assim, quando se secciona cirurgicamente o tracto espinhal (tractotomia), para tratamento da nevralgia do trigêmeo,
desaparece completamente a sensibilidade térmica e dolorosa, sendo muito pouco alterada a
sensibilidade tátil, cujas libras continuam a terminar em grande parte do núcleo sensitivo principal. Os axônios dos neurônios II situados no
núcleo do tracto espinhal e no núcleo sensitivo
principal em sua grande maioria cruzam para o
lado oposto, inflectem-se cranialmente para
consumir o lemnisco trigeminal*, cujas fibras
terminam fazendo sinapse com os neurônios III.
Neurônios III — localizam-se no núcleo
ventral póstero-medial do tálamo. Originam fibras que, como radiações talâmicas, ganham o
córtex passando pela cápsula interna e coroa
radiada. Estas fibras terminam na porção da
área somestésica que corresponde à cabeça, ou
seja, na parte inferior do giro pós-central (áreas
3, 2 e 1 de Brodmann).

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26
Q

Via Trigeminal Proprioceptiva

A

At) contrário do que ocorre nas vias já estudadas, os neurônios I da via proprioceptiva
do trigêmeo não estão cm um gânglio e sim no
núclct) do tracto mesencefálico. Os neurônios
deste núcleo têm, por coaseguinte, o mesmo
valor funcional de células ganglionares. São
neurônios idênticos aos ganglionares, de corpo
muito grande e do tipo pseudo-unipolar. O prolongamento periférico destes neurônios liga-se
a fusos neuromusculares situados na musculatura mastigadora, mímica e da língua. Liga-sc
também a receptores na articulação temporomandibular e nos dentes, os quais veiculam
informações sobre a posição da mandíbula e a
força da mordida. A maioria dos prolongamentos centrais destes neurônios estabelece sinapse com neurônios do núcleo motor do V,
formando-se arcos reflexos simples como o
reflexo mandibular (veja Capítulo 19, item
2.2.1). Alguns destes prolongamentos levam
impulsos proprioceptivos inconscientes ao
cerebelo. Admite-se também que uma parte
destes prolongamentos faz sinapse no núcleo
sensitivo principal (neurônio II), de onde os impulsos proprioceptivos conscientes através do
lemnisco trigeminal vão ao tálamo (neurônio
III) e de lá ao córtex

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27
Q

VIA GUSTATIVA

A

Os receptores são corpúsculos gustativos da
língua e da epiglote. Os impulsos originados
nos corpúsculos situados nos 2/3 anteriores da
língua, após um trajeto periférico pelos nervos
lingual e corda do timpano, chegam ao sistema
nervoso central pelo nervo intermédio (VII
par). Os impulsos do terço posterior da língua e
os da epiglote penetram no sistema nervoso
central, respectivamente, pelos nervos glossofaríngeo (IX) e vago (X ) (

Neurônios I — localizam-se nos gânglios
geniculado (VII), inferior do IX e inferior do X.
Os prolongamentos periféricos destes neurônios ligam-se aos receptores; os prolongamentos centrais penetram no tronco encefálico fazendo sinapse com os neurônios II após um
trajeto no tracto solitário.
Neurônios II — localizam-se no núcleo do
tracto solitário. Originam as fibras solitirio-talâmicas, que terminam fazendo sinapse com os neurônios III no tálamo do mesmo lado e do
‘ado oposto.
Neurônios III — localizam-se no tálamo, no
mesmo núcleo onde chegam os impulsos que
penetram pelo trigêmeo, ou seja, o núcleo ventral póstero-medial. Originam axônios que, como radiações talâmicas, chegam à área gustativa do córtex cerebral, situada na parte inferior do giro pós-central (área 43), adjacente à
parte da área somestésica para a língua.

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Q

s

A

s

31
Q

s

A

s

32
Q

VIA OLFATÓRIA

A

Os receptores são os cílios olfatórios das
vesículas olfatórias, pequenas dilatações do
prolongamento periférico da célula olfatória.
Neurônios I — Os neurônios I são as próprias células olfatórias, neurônios bipolares localizados na mucosa olfatória (ou mucosa pituitária), situada na parte mais alta das fossas
nasais (Fig. 29.6). Os prolongamentos periféricos destes neurônios são muito pequenos e terminam em dilatações — as vesículas olfatórias
— que contêm os receptores da olfação. Os
prolongamentos centrais, amielínicos, agrupam-se em feixes formando filamentos que em
conjunto constituem o nervo olfatório. Estes
filamentos atravessam os pequenos orifícios da
lâmina crivosa do osso etmóide e terminam no
bulbo olfatório, onde suas fibras fazem sinapse
com neurônios II.
Neurônios II — são principalmente as chamadas células nutrais*, cujos dendrites, muito
ramificados, fazem sinapse com as extremidades ramificadas dos prolongamentos centrais
das células olfatórias (neurônios I) consumindo
os chamados glomerulus olfatórios (Fig. 29.6).
Os axônios mielínicos das células nutrais seguem pelo tracto olfatório e ganham as estrias
olfatórias lateral e mediai. Admite-se que os
impulsos olfatórios conscientes seguem pela
estria olfatória lateral** e terminam na área
cortical de projeção para a sensibilidade olfatória, situada na parte anterior do uncus e do giro
para-hi pocampal *.
A via olfatória apresenta as seguintes peculiaridades:
a) possui apenas os neurônios I e II;
b) o neurônio I localiza-se em uma mucosa
e não em um gânglio;
c) falta um relê talâmico;
d) a área cortical de projeção é do tipo alocórtex e não isocórtex, como nas demais
vias;
e) é totalmente homolateral, ou seja, todas
as informações originadas nos receptores
olfatórios de um lado chegam ao córtex
olfatório do mesmo lado.
Convém acentuar que as formações integrantes da via olfatória constituem em conjunto
o chamado rinencéfalo, ou encéfalo olfatório,
no sentido restrito em que este termo tende a ser
usado modernamente. Como já foi visto no
Capítulo 28, as demais formações tradicionalmente incluídas no rinencéfalo, no seu sentido
mais amplo, não se relacionam com a sensibilidade olfatória e fazem parte do sistema límbico.
Estudos eletrofisiológieos mostraram que este
sistema recebe impulsos originados em quase
todos os receptores, inclusive nos olfatórios.
Admite-se que estas conexões se relacionam
com fenômenos reflexos e reações comportamentais em resposta a impulsos olfatórios inconscientes

33
Q

d

A

d

34
Q

d

A

d

35
Q

VIA AUDITIVA

A

Os receptores da audição estão no- órgão
espiral (de Corti) situado na cóclea do ouvido
interno.
Neurônios I — Localizam-se no gânglio espiral situado na cóclea. São neurônios bipolares
cujos prolongamentos periféricos são pequenos
e terminam em contato com os receptores no
órgão de Corti. Os prolongamentos centrais
constituem a porção coclear do nervo vestibulococlear e terminam na ponte, fazendo sinapse
com os neurônios II.

Neurônios II — estão situados nos núcleos
cocleares dorsal e ventral. Seus axônios cruzam
para o lado oposto consumindo o corpo trapezóide, contornam o núcleo olivar superior e
inflectem-se cranialmente para formar os lemnisco lateral do lado oposto. As fibras do lemnisco lateral terminam fazendo sinapse com os
neurônios III no colículo inferior. Existe um
certo número de fibras provenientes dos núcleos cocleares que penetram no lemnisco lateral do mesmo lado, sendo, por conseguinte,
homolaterais.
Neurônios III — a maioria dos neurônios III
da via auditiva está localizada no colículo inferior. Seus axônios dirigem-se ao corpo geniculado mediai, passando pelo braço do colículo
inferior.
Neurônios IV — estão localizados no corpo
geniculado mediai. Seus axônios formam a radiação auditiva, que, passando pela cápsula
interna, chega à área auditiva do córtex (áreas
41 e 42 de Brodmann), situada np giro temporal
transverso anterior.
Admite-se que a maioria dos impulsos auditivos chega ao córtex através de uma via como
a acima descrita, ou seja, envolvendo quatro
neurônios. Entretanto, muitos impulsos auditivos seguem trajeto mais complicado, envolvendo um número variável de sinapses em três
núcleos situados ao longo da via auditiva, ou
seja, núcleo do corpo trapezóide, núcleo olivar
superior e núcleo do lemnisco lateral. Apesar de
bastante complicada, a via auditiva mantém
uma organização tonotópica, ou seja, impulsos
nervosos relacionados com tons de determinadas freqüências seguem caminhos específicos
ao longo de toda a via, projetando-se em partes
específicas da área auditiva.
A via auditiva apresenta duas peculiaridades:
a) possui um grande número de fibras homolaterais. Assim, cada área auditiva do
córtex recebe impulsos originados na cóclea de seu próprio lado e na do lado
oposto, sendo impossível a perda da audição por lesão de uma só área auditiva;
b) possui um grande número de núcleos relês. Assim, enquanto nas demais vias o
número de neurônios ao longo da via é
geralmente três, na via auditiva este número é de quatro ou mais

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VIAS VESTIBULARES
CONSCIENTES E
INCONSCIENTES

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Os receptores estão localizados na porção
vestibular do ouvido interno e são as cristas dos
canais semicirculares e as máculas do utrículo
e do sáculo. Estes receptores são considerados
proprioceptivos, pois, assim como os fusos
neuromusculares e órgãos neurotendinosos,
eles informam sobre a posição no espaço da
parte do corpo onde estão localizados, no caso,
a cabeça.
Neurônios I — são células bipolares localizadas no gânglio vestibular (de Scarpa). Seus
prolongamentos periféricos, pequenos, ligamse aos receptores, e os prolongamentos centrais,
muito maiores, constituem a porção vestibular
do nervo vestibulococlear, cujas fibras fazem
sinapse com os neurônios II.
Neurônios II — localizam-se nos núcleos
vestibulares. A partir destes núcleos, temos a
coasiderar dois trajetos conforme se trate de via
consciente ou inconsciente.
a) via inconsciente — axônios de neurônios
II dos núcleos vestibulares formam o fascículo vestibulo-cerebelar, que ganha o
córtex do arquicerebelo, passando pela
parte medial do pedúnculo cerebelar inferior, que constitui o chamado corpo justa-restiforme (Fig. 17.1). Fazem exceção
algumas fibras que vão diretamente ao
cerebelo sem sinapse nos núcleos vestibulares (Fig. 17.1);
b) via consciente — a existência de conexões entre os núcleos vestibulares e córtex cerebral foi negada durante muito
tempo, mas está estabelecida, hoje com
base em dados clínicos e experimentais.
Contudo, existe controvérsia quanto ao
trajeto da via, embora a existência de um
relê talâmico seja geralmente admitida.
No que se refere à localização da área
vestibular no córtex, admite-se que ela
está no lobo parietal próximo ao território da área somestésica correspondente à face. Alguns admitem também a
existência de uma outra área vestibular
no lobo temporal próximo à área auditiva.

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VIA ÓPTICA

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Estudaremos inicialmente o trajeto dos impulsos nervosos na retina e a seguir o seu trajeto,
do olho até o córtex do lobo occipital.

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Estrutura da Retina (

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Os receptores visuais, assim como os neurônios I, II e III da via óptica, localizam-se na
retina, neuroepitélio que reveste internamente
a cavidade do bulbo ocular, posteriormente à
íris. Embriologicamente, a retina forma-se a
partir de uma evaginação do diencéfalo primitivo, a vesícula óptica, que, logo, por um processo de introflexão, transforma-se no cálice
óptico, com parede dupla. A parede ou camada
externa do cálice óptico origina a cantada pigmentar da retina. A parede ou camada interna
do cálice óptico dá origem à camada nervosa
da retina, onde se diferenciam os três primeiros
neurônios (I, II e III) da via óptica.
Na parte posterior da retina, em linha com o
centro da pupila, ou seja, com o eixo visual de
cada olho, existe uma área ligeiramente amarelada, a mácula lútea, no centro da qual se nota
uma depressão, a fóvea central. A mácula corresponde à área da retina onde a visão é mais
distinta. Os movimentos reflexos do bulbo ocular fixam sobre as máculas a imagem dos objetos que nos interessam no campo visual. A visão
nas partes periféricas não maculares da retina é
pouco nítida e a percepção das cores se faz
precariamente. A estrutura da retina é extremamente complexa*, distinguindo-se nela dez camadas, uma das quais é a camada pigmentar,
situada externamente. O estudo das nove camadas restantes pode ser simplificado levando-se
em conta apenas a disposição dos neurônios
retinianos. Distinguem-se, então, três camadas
que correspondem aos territórios dos neurônios
I, II e III da via óptica, ou seja, de fora para
dentro: as células fotossensíveis (ou fotorreceptoras), as células bipolares e as células ganglionares (Fig. 29.8).
As células fotossensíveis estabelecem sinapse com as células bipolares, que, por sua
vez, fazem sinapse com as células ganglionares, cujos axônios constituem o nervo óptico (Fig.
29.8). Os prolongamentos periféricos das células fotossensíveis são os receptores da visão,
cones ou bastonetes, de acordo com sua forma.
As células fotossensíveis são, pois, de dois tipos: células de cone e células de bastonete. Os
raios luminosos que incidem sobre a refina devem atravessar suas nove camadas internas para
atingir os fotorreceptores, cones ou bastonetes
(Fig. 29.8). A excitação destes pela luz dá origem a impulsos nervosos que caminham em
direção oposta à seguida pelo raio luminoso, ou
seja, das células fotossensíveis para as células
bipolares e destas para as células ganglionares,
cujos axônios constituem o nervo óptico (Fig.
29.8).
Os bastonetes são adaptados para a visão
com pouca luz, enquanto os cones são adaptados para a visão com luz de maior intensidade
e para a visão de cores. Nos animais de hábitos
noturnos, a retina é consumida preponderantemente ou exclusivamente de bastonetes, enquanto nos animais de hábitos diurnos o predomínio é quase total de cones. No homem, o
número de bastonetes é cerca de 20 vezes maior
que o de cones. Contudo, a distribuição dos dois
tipos de receptores não é uniforme. Assim enquanto nas partes periféricas da retina predominam os bastonetes, o número de cones aumenta progressivamente à medida que se aproxima da
mácula, até que ao nível da fóvea central existem exclusivamente cones. Nas partes periféricas da retina vários bastonetes ligam-se a uma
célula bipolar e várias células bipolares fazem
sinapse com uma célula ganglionar (Fig. 29.8).
Assim, nestas áreas uma fibra do nervo óptico
pode estar relacionada com até 100 receptores.
Na mácula, entretanto, o número de cones é
aproximadamente igual ao de células bipolares
e ganglionares, ou seja, cada célula de cone faz
sinapse com uma célula bipolar, que, por sua
vez, se liga a uma célula ganglionar (Fig. 29.8).
Deste modo, para cada cone existe uma fibra no
nervo óptico. Estas características estruturais da
mácula explicam sua grande acuidade visual e
permitem entender o fato de que, apesar de a
mácula ser uma área pequena da retina, ela
contribui com um grande número de fibras para
a formação do nervo óptico e tem uma representação cortical muito grande.
Como já foi referido, o nervo óptico é formado pelos axônios das células ganglionares. Estes são inicialmente amielínicos e percorrem a
superfície interna da retina (Fig. 29.8), convergindo para a chamada papila óptica, situada
na parte posterior da retina, medialmente à mácula. Ao nível da papila óptica, os axônios das
células ganglionares atravessam as túnicas média e externa do olho, tornam-se mielínicos
constituindo o nervo óptico. Como não existem
fotorreceptores ao nível da papila, ela é também
conhecida como ponto cego da retina. Sua importância clínica é muito grande, pois aí penetram os vasos que nutrem a retina. O edema da
papila é um importante sinal indicador da existência dc hipertensão craniana (Capítulo 9, item
3.2).

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Trajeto das Fibras nas Vias

Ópticas

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Os nervos ópticos dos dois lados convergem
para formar o quiasma óptico, do qual se destacam posteriormente os dois tractos ópticos,
que terminam nos respectivos corpos geniculados laterais. Ao nível do quiasma óptico as
fibras dos dois nervos ópticos sofrem uma decussação parcial. Antes de estudar esta decussação, é necessário conceituar alguns termos:
Denomina-se retina nasal a metade mediai
da retina de cada olho, ou seja, a que está voltada para o nariz. Retina temporal é a metade lateral da retina de cada olho, ou seja, a que
está voltada para a região temporal. Denominase campo visual de um olho a porção do espaço
que pode ser vista por este olho estando ele fixo.
No campo visual de cada olho distingue-se,
como na retina, uma porção lateral, o campo
temporal; e uma porção mediai, o campo nasal.
É fácil verificar pelo trajeto dos raios luminosos
(Fig. 29.9) que o campo nasal se projeta sobre
a retina temporal e o campo temporal sobre a
retina nasal. Convém lembrar, entretanto, que
no homem e em muitos animais há superposição de parte dos campos visuais dos dois olhos,
coastituindo o chamado campo binocular.
No quiasma óptico, as fibras nasais, ou seja,
as fibras oriundas da retina nasal, cruzam para
o outro lado, enquanto as fibras temporais seguem do mesmo lado, sem cruzamento. Assim,
cada tracto óptico contém fibras temporais da
retina de seu próprio lado e fibras nasais da
retina do lado oposto (Fig. 29.9). Como conseqüência, os impulsos nervosos originados em
metades homônimas das retinas dos dois olhos
(por exemplo, na metade direita dos dois olhos)
serão conduzidos aos corpos geniculados e ao
córtex deste mesmo lado. Ora, é fácil verificar
(Fig. 29.9) que as metades direitas da retina dos
dois olhos, ou seja, a retina nasal do olho esquerdo e temporal do olho direito recebem os
raios luminosos provenientes do lado esquerdo,
ou seja, dos campos temporal esquerdo e nasal
direito. Entende-se, assim, que, como conseqüência da decussação parcial das fibras visuais
no quiasma óptico, o córtex visual direito percebe os objetos situados à esquerda de uma
linha vertical mediana que divide os campos
visuais. Assim, também na via óptica é válido o
princípio de que o hemisfério cerebral de um
lado relaciona-se com as atividades sensitivas
do lado oposto.
Conforme seu destino, pode-se distinguir
quatro tipos de fibras nas vias ópticas:
a) fibras retino-hipotalâmicas — destacamse do quiasma óptico e ganham o núcleo
supraquiasmático do hipotálamo. São importantes para a regulação dos ritmos biológicos;
b) fibras re tino-tec tais — ganham o coliculo
superior através do braço do coliculo superior e estão relacionadas com certos
reflexos de movimentos dos olhos ou das pálpebras desencadeados por impulsos
visuais. Como exemplo temos o reflexo
de piscar (Capítulo 19, item 2.2.4);

c) fibras retino-pré-tectais — ganham a
área pré-tectal através do braço do colículo superior e estão relacionadas com os reflexos fotomotor direto e consensual
(Capítulo 19, itens 2.2.6 e 2.2.7);
d) fibras retino-geniculadas — são as mais
importantes, pois somente elas se relacionam com a visão. Terminam fazendo sinapse com os neurônios IV da via óptica
localizados no corpo geniculado lateral.
Os axônios dos neurônios do corpo geniculado lateral (neurônios IV) constituem a radiação óptica (tracto geniculo-calcarino) e terminam na área visual, área 17, situada nos lábios
do sulco calcarino. Nem todas as fibras da radiação óptica atingem o córtex pelo mesmo
trajeto. As fibras dorsais seguem um curso
quase retilíneo para trás, em direção ao lobo
occipital. Já as fibras ventrais dirigem-se inicialmente para diante, em direção ao pólo temporal, encurvam-se a seguir e voltam em direção ao lobo occipital, onde terminam (Fig.
29.9). Forma-se, assim, uma alça, a alça temporal (ou de Meyer), em relação com a parte
anterior do corno inferior do ventriculo lateral.
A presença desta alça explica o fato de que
tumores do lobo temporal situados adiante do
nível em que se localizam os corpos geniculados laterais podem comprimir e lesar a radiação óptica, resultando alteração nos campos
visuais.
Existe correspondência entre partes da retina
c partes do corpo geniculado lateral, da radiação
óptica e da área 17. Na radiação óptica, as fibras
correspondentes às partes superiores da retina
ocupam posição mais alta e se projetam no lábio
superior do sulco calcarino; as fibras correspondentes às partes inferiores da retina ocupam
posição mais baixa e projetam-se no lábio inferior do sulco calcarino; as fibras que levam
impulsos da mácula ocupam posição intermediária e se projetam na parte posterior do sulco
calcarino. Existe, assim, uma somatotopia perfeita em toda a via óptica, fato este de grande
importância clínica, pois permite localizar com
bastante precisão certas lesões da via óptica
com base no estudo das alterações dos campos
visuais.

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Lesões das Vias Ópticas

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O conhecimento da disposição das libras na
via óptica torna fácil entender os sintomas que
resultam da lesão de suas diferentes partes.
Destes sintomas, sem dúvida, os mais importantes são as alterações dos campos visuais, que
devem ser pesquisadas para cada olho isoladamente. O distúrbio básico do campo visual é o
escotoma, que consiste em uma falha dentro do
campo visual, ou seja, cegueira para uma parte
deste campo. Quando o escotoma atinge metade
do campo visual, passa a ser denominado hemianopsia. A hemianopsia pode ser heterônima
ou homônima. Na primeira, são acometidos lados diferentes dos campos visuais, ou seja, desaparece a visão nos campos, temporais ou nos
campos nasais (Fig. 29.9). Na segunda, fica
acometido o mesmo lado do campo visual de
cada olho, ou seja, desaparece a visão do campo
temporal do olho de um lado e o campo nasal
do olho do lado oposto (Fig. 29.9).
No lado direito da Fig. 29.9 estão representados os defeitos de campo visual que resultam de lesões da via óptica, situados nos pontos
indicados do lado esquerdo da figura. Observase que as lesões responsáveis pelas hemianopsias heterônimas localizam-se no quiasma óptico, enquanto as responsáveis pelas hemianopsias homônimas são retroquiasmáticas, ou seja.
localizam-se entre o quiasma e o córtex occipital. A seguir, faremos rápidas considerações
sobre as principais lesões das vias ópticas c suas
conseqüências sobre os campos visuais.
a) lesão do nervo óptico (Fig. 29.9A) —
resulta em cegueira completa do olho correspondente. Ocorre, por exemplo, como
conseqüência de traumatismo ou em casos de glaucoma, quando o aumento da
pressão intra-ocular comprime c lesa as
fibras do nervo óptico ao nível da papila;
b) lesão da parte mediana do quiasma aplico (Fig. 29.9B) — resulta em hemianopsia bitemporal, como conseqüência da
interrupção das fibras provenientes das
retinas nasais que cruzam a este nível.
Este tipo de lesão ocorre tipicamente nos
tumores da hipófise, que crescem e comprimem o quiasma de baixo para cima;
c) lesão da parte lateral do quiasma óptico
(Fig. 29.9C) — resulta em hemianopsia
nasal do olho correspondente, como
conseqüência da interrupção das fibras
provenientes da retina temporal deste olho. Este tipo de lesão ocorre mais freqüentemente em casos de aneurismas da
artéria carótida interna, que comprimem
lateralmente o quiasma óptico. Quando a
compressão se faz dos dois lados, como
conseqüência de dois aneurismas, ocorre
uma hemianpsia binasal, ou seja, nos
campos nasais dos olhos;
d) lesão do tracto óptico (Fig. 29.9D) —
resulta em hemianopsia homônima direita ou esquerda, conforme a lesão se localize, respectivamente, no tracto óptico esquerdo ou direito. É fácil verificar pela
figura que as lesões de campo neste caso
resultam da interrupção das fibras provenientes da retina temporal de um olho e
nasal do olho do lado oposto. Lesões deste tipo podem ocorrer como conseqüência
de traumatismos ou tumores que comprimem o tracto óptico. Lesões do corpo
geniculado lateral dão alterações de campo visual idênticas às observadas após
lesão do tracto óptico;
e) lesões da radiação óptica (Figs. 29.9E e
F) — é fácil verificar, pelo trajeto das
fibras na via óptica, que lesões completas
da radiação óptica causam alterações dc
campo visual idênticas às que resultam de
lesões do tracto óptico, ou seja, ocorrem
hemianopsias homônimas (Fig. 29.9F).
Contudo, pesquisando-se o reflexo fotomotor na metade cega da retina, verificase que ele está ausente no caso das lesões
do tracto óptico c presente no caso das
lesões da radiação óptica (ou da área 17).
Isto sc explica pelo fato de que nas lesões
do tracto óptico há interrupção das fibras
retino-pré-tectais responsáveis pelo reflexo, o que não ocorre no caso das lesões
situadas depois do corpo geniculado lateral. Na prática, entretanto, as lesões completas da radiação óptica são muito raras,
pois suas fibras espalham-se em um território bastante grande. Mais freqüentemente ocorrem lesões de parte destas fibras, o que resulta em pequenas falhas do
campo visual (escotomas) ou falhas que
comprometem todo um quadrante do
campo visual e são denominadas quadrantanopsias. Como exemplo, temos a
lesão ilustrada na Fig. 29.9E, na qual
houve comprometimento da metade inferior direita da radiação óptica, resultando
em quadrantanopsia homônima superior
esquerda, uma vez que são interrompidas
as fibras oriundas da metade inferior das retinas nasal esquerda e temporal direita.
Este é o tipo de alteração dos campos
visuais que resulta do comprometimento
das fibras da alça temporal (de Meyer) em
certos casos de tumor do pólo temporal;
f) lesões do córtex visual (área 17) — as
lesões completas do córtex visual de um
hemisfério dão alterações de campo
iguais às observadas em lesões completas
da radiação óptica. Contudo, também
aqui são mais freqüentes as lesões parciais. Assim, por exemplo, uma lesão do
lábio inferior do sulco calcarino direito
resulta em quadrantanopsia homônima
superior esquerda (Fig. 29.9E). Convém
assinalar que, provavelmente devido à
grande representação cortical da mácula,
a visão macular é freqüentemente poupada nos casos de lesão da área 17. A preservação da visão macular é menos freqüente nas lesões da radiação óptica e
excepcionalmente ocorre nas lesões do
tracto óptico.

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CONTROL E DA TRANSMISSÃO
DAS INFORMAÇÕES
SENSORIAIS

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Sabe-se que o sistema nervoso central, longe
de receber passivamente as informações sensoriais que vão ter a ele, é capaz de modular a
transmissão dessas informações através de fibras centrífugas que agem principalmente sobre
os núcleos relês existentes nas grandes vias
aferentes. Caracteriza-se assim a existência de
vias eferentes reguladoras da sensibilidade. A
primeira observação mostrando a existência
dessas vias deve-se a Ramon Cajal, que descobriu no nervo óptico e na retina fibras eferentes
originárias da formação reticular. A presença de
vias eferentes reguladoras da sensibilidade explica a capacidade que temos de selecionar,
entre as diversas informações sensoriais que
nos chegam em um determinado momento,
aquelas mais relevantes e que despertam nossa
atenção. Na dependência dessas vias estão,
pois, fenômenos como a atenção seletiva e a
habituação a estímulos apresentados continuamente. Assim, quando se liga o ventilador da
sala de aula, o seu ruído inicialmente atrai nossa
atenção. Contudo, logo ficamos habituados
com o barulho, que deixa de ser percebido, a menos que nossa atenção se volte novamente
para ele. Isto pode ocorrer, por exemplo, se o
ruído se modifica tornando-se mais alto ou mais
baixo. Sabe-se que o fenômeno da habituação
se deve a um mecanismo de inibição dos impulsos sensorials pouco relevantes e que, por conseguinte, não atraem nossa atenção. Ele não
deve ser confundido com a adaptação, ou fadiga dos receptores, observada principalmente
em receptores cutâneos submetidos a estímulos
contínuos. Neste caso, o mecanismo localiza-se
somente no receptor e não depende de nenhuma
ação central. O controle da sensibilidade pelo
sistema nervoso central manifesta-se geralmente por inibição e as vias responsáveis pelo processo originam-se no córtex cerebral e principalmente na formação reticular. Especialmente
importantes por suas implicações médicas são
as vias que regulam a penetração no sistema
nervoso central dos impulsos nervosos responsáveis pela dor. Estas vias, hoje, já bastante
conhecidas, sefão estudadas no próximo item.

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REGULAÇÃO DA DOR: VIAS DA ANALGESI A

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Em 1965, Melzack e Wall publicaram um
importante trabalho propondo uma nova teoria
segundo a qual a penetração dos impulsos dolorosos no sistema nervoso central seria regulada por neurônios e circuitos nervosos existentes
na substância gelatinosa das colunas posteriores
da medula, que agiria como um “portão”, impedindo ou permitindo a entrada dc impulsos
dolorosos. O portão seria controlado por fibras
descendentes supra-espinhais e pelos próprios
impulsos nervosos que entram pelas fibras das
raízes dorsais. Assim, os impulsos nervosos
conduzidos pelas grossas fibras mielínicas de
tato (fibras A beta) teriam efeitos antagônicos
aos das fibras finas dc dor (fibras A delta e C),
estas abrindo e aquelas fechando o portão. A
teoria do portão da dor de Melzack e Wall
marcou o início de um grande número de pesquisas sobre os mecanismos de regulação da
dor. Embora alguns dos circuitos nervosos postulados por essa teoria não tenham sido aceitos,
ela foi confirmada nos seus aspectos fundamentais, ou seja, existe um “portão” para a dor
envolvendo complexos circuitos da substância
gelatinosa, controlados por fibras de origem
espinhal e supra-espinhal. Confirmou-se também que os ramos colaterais das grossas fibras
táteis dos fascículos grácil e cuneiforme que
penetram na coluna posterior inibem a traasmissão dos impulsos dolorosos, ou seja, fecham
o “portão”. Com base neste fato surgiram as
chamadas “técnicas de estimulação traascutânea”, usadas hoje com sucesso para o tratamento de certos tipos de dor e que consistem na
estimulação, feita através de eletrodos colocados sobre a pele, das fibras táteis de nervos
periféricos ou do funículo posterior da medula.
A inibição dos impulsos dolorosos por estímulos táteis explica também o alívio que se
sente ao esfregar um membro dolorido depois
de uma topada.
Nos últimos 20 anos houve um enorme avanço nos conhecimentos sobre os mecanismos
supra-espinhais que regulam o “portão” da dor.
A descoberta mais importante nesta área foi
feita em 1969 por Reynolds, que, estimulando
a substância cinzenta periaquedutal do rato, obteve uma analgesia tão acentuada que permitiria
a realização de cirurgias abdominais no animal
sem anestesia. Efeito semelhante pôde ser obtido também por estímulos do núcleo magno da
rafe, pertencente à formação reticular. A analgesia obtida nesses casos depende de uma via
que liga a substância cinzenta periaquedutal ao
núcleo magno da rafe, de onde partem fibras
serotoninérgicas que percorrem o tracto espinhal do trigêmeo c o fascículo dorsolateral da
medula e terminam em neurônios internunciais
encefalinérgicos situados no núcleo do tracto
espinhal do trigêmeo e na substância gelatinosa
(Fig. 29.10). Estes neurônios inibem a sinapse
entre os neurônios I c II da via da dor através da
liberação de um opióide endógeno, a encefalina, substância do mesmo grupo químico da
morfina. Receptores paraopióidcs existem também na substância cinzenta periaquedutal, onde
a injeção de quantidades muito pequenas de
morfina resulta em uma analgesia semelhante â
que se obtém por estímulos elétricos. Assim,
sabe-sc hoje que a atividade analgésica da morfina, substância usada para tratamento de quadros dolorosos muito intensos, sc deve à sua
fixação e conseqüente ativação dos receptores
para opióides existentes na via da analgesia
acima descrita. A descoberta desse fato deu
origem a novas técnicas para tratamento de
quadros dolorosos graves através da iastilação
intracerebral ou espinhal de morfina.

As conexões aferentes da substância cinzenta periaquedutal são numerosas, mas o contingente mais importante é representado por fibras
ou colaterais das vias neo e paleoespino-talâmicas. Isto aumenta a complexidade e a sofisticação do sistema de regulação da dor, uma vez
que os próprios estímulos nociceptivos que sobem pelas vias espino-talâmicas podem inibir a
entrada de impulsos dolorosos no sistema nervoso central. Entende-se assim como a introdução de uma agulha em uma parte do corpo pode
causar alívio em um ponto doloroso muito distante. Esse procedimento é usado na acupuntura, técnica milenar da medicina chinesa que só
recentemente teve esclarecida sua base neurobiológica e começa a ser aceita pela medicina
tradicional*.