Questões Vol 6 - Distúrbios Gastrointestinais na Infância Flashcards
RM 2016 (ACESSO DIRETO 1) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP
1 – Paciente de 3 anos, previamente hígido, chega à emergência com história de diarreia e vômitos há 4 dias, redução do volume urinário há 24h. Na avaliação inicial apresenta-se sem edema, taquipneico com frequência cardíaca de 130 bpm; pressão arterial de 100 x 60 mmHg; saturação de oxigênio 96%. Exames laboratoriais: sódio sérico 130 mEq/L; potássio sérico 5,0 mEq/L; bicarbonato 13 mEq/L; ureia 62 mg/dl; creatinina 1,4 mg/dl; fração de excreção de Na < 1%. Qual a conduta imediata:
a) Administração de solução de cloreto de sódio a 3%.
b) Administração de bicarbonato de sódio 8,4%.
c) Administração de diuréticos.
d) Expansão volêmica com soro fisiológico 0,9%.
e) Instalação de método dialítico.
Caso que retrata uma condição muito frequente nos pronto atendimentos do Brasil: desidratação secundária à gastroenterite aguda! A criança em questão vem com relato de diarreia e vômitos há 4 dias, tendo evoluído com oligúria nas últimas 24 horas. A taquicardia e a tendência à hipotensão apenas corroboram à presença de hipovolemia, enquanto que a taquipneia reflete a acidose metabólica apresentada (HCO3: 13). Apenas pelo contexto clínico deveríamos interpretar a oligúria e a retenção de escórias nitrogenadas a uma insuficiência renal pré-renal, por depleção do meio intravascular; contudo, o autor ainda nos oferece outras “pistas”: hiponatremia (provavelmente uma hiponatremia hipotônica hipovolêmica), uma proporção ureia/creatinina > 40 e uma FeNa < 1%, todas compatíveis com IRA pré-renal. Neste contexto, a primeira medida deve consistir em expansão com solução cristaloide, visando melhorar o status volêmico do paciente e, consequentemente, a perfusão renal.
Alternativa D correta.
RM 2016 (ACESSO DIRETO 1) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP
2 – Criança de 8 anos, sexo masculino, há 1 ano com perda diária de fezes amolecidas em pequena quantidade e que borram a veste íntima, uma a duas vezes ao dia. Evacua a cada 4 a 5 dias, fezes que entopem o vaso, sempre com esforço e dor e eventualmente sangue nas fezes. Nos últimos meses está muito agressivo e não quer ir para a escola por sofrer ‘’bullying’’. Palpação abdominal com massa abdominal em hipogástrio e toque retal com presença de fezes em grande quantidade na ampola retal. Qual a conduta:
a) Estabelecer o diagnóstico de encoprese e realizar encaminhamento para psicóloga.
b) Estabelecer o diagnóstico de constipação crônica funcional e iniciar tratamento clínico.
c) Realizar manometria anorretal para pesquisar e avaliar a condição do esfíncter anal.
d) Solicitar enema opaco para afastar a possibilidade de megacólon congênito.
e) Solicitar enema opaco para afastar displasia neuronal intestinal.
Não é incomum que as crianças constipadas sejam levadas para atendimento médico não pela queixa de constipação, mas sim pela queixa de perda fecal involuntária, o que pode acontecer nessas crianças. A constipação funcional é a principal causa de constipação crônica na infância e pode ter seu diagnóstico estabelecido a partir da identificação de alguns critérios. Segundo a classificação de Roma para os distúrbios gastrointestinais funcionais, nas crianças com mais de quatro anos, o diagnóstico de constipação funcional pode ser estabelecido pela presença de duas ou mais das seguintes características, pelo menos uma vez por semana, por pelo menos 2 meses: duas ou menos evacuações por semana; pelo menos um episódio de incontinência fecal por semana; história de postura de retenção excessiva ou controle voluntário das fezes excessivo; história de evacuação dolorosa ou endurecida; presença de grande massa fecal no reto; história de fezes com grande diâmetro, capazes de obstruir o vaso sanitário. A realização de exames como a manometria anorretal ou o enema opaco é indicada quando há suspeita de aganglionose intestinal congênita, um diagnóstico diferencial importante dos quadros funcionais. Porém, nesta condição, não há tipicamente o relato de perda fecal.
Resposta: letra B.
RM 2016 (ACESSO DIRETO 1) FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP – SP
3 – Lactente, 5 meses, chega ao hospital com história de 6 episódios de fezes líquidas há 1 dia, 3 episódios de vômito, febre não medida e irritabilidade. Está em aleitamento artificial. Exame físico: fontanela deprimida, choro sem lágrimas e turgor elástico; perfusão periférica normal. O DIAGNÓSTICO E A CONDUTA SÃO:
a) Diarreia aguda com desidratação; iniciar terapia de reidratação oral.
b) Diarreia aguda com desidratação; iniciar hidratação endovenosa.
c) Diarreia aguda sem desidratação; indicar terapia de reidratação oral e antiemético.
d) Diarreia aguda sem desidratação; trocar leite de vaca por leite de soja.
O diagnóstico de gastroenterite ou diarreia é identificado pelo enunciado diante do número de episódios de fezes líquidas associadas à vômito, febre e irritabilidade. Podemos classificá-la como aguda por apresentar um período inferior a 14 dias de doença. Observa-se que o lactente apresenta sinais de piora clínica, tais como a irritabilidade, fontanela deprimida e choro sem lágrimas, no entanto sem sinais de gravidade, por apresentar turgor e perfusão periféricas normal. Desta forma, o menor apresenta grau moderado de desidratação, devendo ser tratado com o plano B, que envolve reidratação por via oral em unidade de saúde.
Resposta: alternativa A.
RM 2016 (ACESSO DIRETO 1) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – RJ
4 – Lactente, 6 meses, pesando 7 kg, está com diarreia líquida há dois dias, sem muco, pus ou sangue, com vômitos e febre (38°C em média) há um dia. Após avaliação pelo pediatra é classificado como plano B e iniciada hidratação com:
a) 280 ml de sais de reidratação oral durante 4 horas e aleitamento materno quando hidratada.
b) 700 ml de sais de reidratação oral durante 4 horas e aleitamento materno quando hidratada.
c) 280 ml de sais de reidratação oral durante 4 horas e aleitamento materno logo que possível.
d) 700 ml de sais de reidratação oral durante 4 horas e aleitamento materno logo que possível.
Desta vez a banca sequer nos inquiriu sobre o estado de hidratação da criança e, simplesmente, nos perguntou como deve ser feito o plano B. Sabemos que alguns detalhes relacionados ao plano B podem variar em função da referência utilizada (há pequenas diferenças entre os planos do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde - OMS). Porém, como regra geral, os pontos mais importantes são: a criança deverá ser reidratada na unidade de saúde; a solução usada deve ser a solução de reidratação oral, padronizada pela OMS; durante a terapia de reidratação oral a alimentação deve ser suspensa, sendo permitido apenas o oferecimento de leite materno. A OMS recomenda a oferta de 75 ml/kg em um período de 4 horas; o Ministério indica o uso de 50-100 ml/kg em um período de 4 a 6 horas. Avaliando as alternativas, a que melhor se encaixa em um dos planos terapêuticos é a letra D (não há razão para postergar o aleitamento, como indicado em B).
Resposta: letra D.
RM 2016 (ACESSO DIRETO 1) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – RJ
5 – Menina, 1 ano e 6 meses, apresentou febre, vômitos e diarreia líquida há 18 dias. Os sintomas duraram quatro dias, porém, as evacuações permanecem em número aumentado (três a cinco vezes ao dia), amolecidas e com odor forte. Mãe relata distensão abdominal leve; não há história de doenças ou uso de medicações anteriormente. Neste caso, a classificação da diarreia e o diagnóstico, respectivamente, são:
a) Crônica; síndrome pós-enterite.
b) Aguda; sobrecrescimento bacteriano.
c) Crônica; infecção por rotavírus.
d) Aguda; alergia alimentar.
No caso apresentado deveríamos, em primeiro lugar, classificar a natureza da diarreia quanto a sua duração, e, a seguir, definir qual a etiologia do processo. Classicamente, a diarreia aguda é aquela com duração de até 14 dias; as diarreias persistentes duram entre 14 e 30 dias, enquanto as crônicas duram mais do que um mês. Porém, alguns autores também classificam os episódios com duração superior a 14 dias como sendo episódios crônicos. Fato é que uma doença com duração de 18 dias não poderia ser chamada de aguda. Em relação à causa dessa persistência, devemos pensar na possibilidade de uma complicação pós-infecciosa. Alguns pacientes, após uma doença aguda pelo rotavírus, por exemplo, podem demorar mais tempo para o restabelecimento da integridade epitelial, isto pode ser chamado de uma síndrome pós-enterite. Essa perda de integridade pode acarretar em uma intolerância secundária à lactose por uma diminuição na quantidade de lactase secretada. Essa diminuição faz com que parte da lactose consumida não seja digerida e chegue intacta às porções terminais do intestino, levando ao aumento da osmolaridade e consequente diarreia osmótica. Não bastasse isso, essa lactose sobre a ação de bactérias intestinais com formação de gases e ácidos, o que explica a distensão, a flatulência e a hiperemia, consequente à acidificação do pH fecal.
Resposta: letra A.
RM 2016 (ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO – RJ
6 – Menina de 18 meses apresenta há 12 horas quadro de diarreia aguda líquida, cerca de oito episódios até o momento, sem sangue ou muco nas fezes. Mãe relata que a criança recusa alimentação, mas aceita líquidos, embora tenha notado que a diurese está um pouco reduzida. Ao exame, encontra-se irritada, olhos fundos, boca seca, chora sem lágrimas, o sinal de prega desaparece em menos de 2 segundos, temperatura axilar de 37,8°C. O peso anterior a este quadro era de 12 kg e atualmente é de 11,2 kg. A pesquisa de leucócitos nas fezes foi negativa. A localização intestinal foi mais acometida, o estado de hidratação e a conduta nesta criança são, respectivamente:
a) Delgado distal, desidratação grave e soro fisiológico ou Ringer lactato 20 ml/kg IV.
b) Delgado distal, desidratação e soro reidratante oral 50-100 ml/kg entre 3 e 4 horas.
c) Delgado proximal, desidratação e soro reidratante oral 50-100 ml/kg entre 3 e 4 horas.
d) Delgado proximal e distal e desidratação grave e soro fisiológico ou Ringer lactato 20 ml/kg IV.
Esta lactente apresenta-se com uma diarreia aguda e sabemos que tal quadro pode ser decorrente de diversos mecanismos fisiopatológicos distintos. O quadro descrito é compatível com o diagnóstico de uma diarreia que se estabeleceu por um mecanismo não inflamatório (por secreção de enterotoxinas ou por aderência e invasão superficial). Este mecanismo leva, tipicamente, a uma diarreia aquosa sem a presença de leucócitos nas fezes, e é o mecanismo tipicamente encontrado no quadros virais e em vários casos bacterianos. O intestino delgado proximal é o sítio tipicamente acometido. As diarreias com acometimento do intestino delgado distal costumam ser quadros que levam à presença de leucócitos nas fezes. A avaliação do estado de hidratação nos permite identificar sinais de desidratação, mas sem sinais de gravidade. A conduta consiste, então, no plano B: solução de reidratação oral (75 ml/kg ou 50-100 ml/kg em um período de aproximadamente quatro horas). A localização e conduta estão corretamente descritas na letra C.
Resposta: letra C.
RM 2016 (ACESSO DIRETO 1) UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – RJ
7 – Escolar, sexo feminino, 10 anos, apresenta dor abdominal contínua semanal há 2 (dois) meses e, de acordo com os Critérios de Roma III, foi diagnosticada como dor abdominal funcional. A queixa é periumbilical, não relacionada com alimentação, apresentando alteração do ritmo intestinal, com constipação, sem ocasionar despertar noturno (pela dor). O exame parasitológico, pesquisa de sangue oculto, hemograma, exame de urina, urocultura, radiografia e ultrassonografia do abdome não apresentam alterações. Diante do quadro poderá ser benéfica a recomendação de:
a) Sucralfato.
b) Procinético.
c) Bloqueador H2.
d) Aumento da ingestão de fibras.
e) Exclusão da proteína do leite de vaca.
A dor abdominal funcional em geral não está associada a qualquer anormalidade funcional do sistema gastrointestinal e deve ser acompanhada para uma adequada orientação dos responsáveis e do paciente. Como esta criança apresenta constipação associada, pode haver relação com a dor. Desta forma, orientações para mudanças dos hábitos alimentares (aumento de ingestão de água e fibras), de vida e de toilete são importantes.
Resposta: letra D.
RM 2016 (ACESSO DIRETO 1) SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – SP
8 – Um lactente de 4 meses deu entrada no pronto-socorro com história de diarreia aguda há três dias, cerca de oito episódios ao dia. Ao exame encontrava-se em mau estado geral, desidratado, com olhos encovados, fontanela deprimida, saliva espessa, turgor pastoso. Peso de entrada: 5 kg. Após três expansões com soro fisiológico 0,9% apresentava-se clinicamente hidratado, em bom estado geral, com diurese clara e abundante e pesando 5,8 kg. Qual das alternativas abaixo representa a prescrição da fase de manutenção mais adequada para o paciente:
a) SG5% 290 ml; NaCl20% 2,6 ml; KCl19,1% 3,0 ml - IV de 12 em 12 horas.
b) SG5% 400 ml; NaCl20% 3,0 ml; KCl19,1% 4,0 ml - IV de 12 em 12 horas.
c) SG5% 230 ml; NaCl20% 5,0 ml; KCl19,1% 3,0 ml – IV de 12 em 12 horas.
d) SG5% 230 ml; NaCl20% 16,0 ml; KCl19,1% 3,0 ml – IV de 12 em 12 horas.
e) SG5% 400 ml; NaCl20% 16,0 ml; KCl19,1% 4,0 ml – IV de 12 em 12 horas.
Um lactente foi atendido com um quadro de diarreia aguda e desidratação grave e recebeu terapia de hidratação venosa. A conduta adotada após a hidratação venosa inicial depende em função da referência utilizada. A OMS, por exemplo, indicará que, uma vez hidratada, a criança poderá ter alta para o domicílio. Porém, no caso descrito, foi recomendado que a criança permanecesse internada recebendo fase de manutenção. O Ministério da Saúde recomenda que as crianças que permaneçam recebendo hidratação recebam duas fases: uma fase de manutenção (que corresponde às necessidades hídricas basais da criança) e uma fase de reposição (que corresponde ao que se estima que ainda vá ocorrer de perdas pelos novos episódios de vômitos ou de diarreia). O volume administrado na fase de manutenção é de 100 ml/kg (para crianças de até 10 kg) com uma solução de soro glicosado a 5% + soro fisiológico a 0,9% na proporção de 4:1; já o volume administrado na fase de reposição é 50 ml/kg de soro glicosado a 5% + soro fisiológico a 0,9% na proporção de 1:1. A banca nos perguntou especificamente sobre a fase de manutenção. Assim, o esperado seria a administração de duas etapas de 290 ml, totalizando 580 ml de solução nas 24 horas. A solução pode ser feita com a mistura de soro glicosado e fisiológico ou com o acréscimo de NaCl 20% no soro glicosado, da seguinte forma: em 116 ml de soro fisiológico (considerando uma solução de 4:1, teríamos 1 parte de SF e 4 de SG) teríamos 17,8 mEq de sódio (o soro fisiológico tem 154 mEq/l de sódio); teremos a mesma coisa em 5,2 ml de NaCl20% (cada ml tem 3,4 mEq de sódio). Dividindo isso em duas etapas, deveríamos, então administrar 290 ml de SG 5% + 2,6 ml de NaCl 20%. Acrescenta-se 2 ml de KCl a 10% para cada 100 ml da fase de manutenção, ou seja, 5,8 ml por etapa (cada ml de KCl 10% tem 1,3 mEq de potássio; na solução de KCl a 19% temos algo próximo da metade disso, ou seja, vamos administrar cerca de 2,9 ml por etapa de 12 horas). Assim, a opção A nos parecia trazer a conduta adequada. Porém, a resposta da banca foi a letra E. Na verdade, o que eles provavelmente fizeram foi somar as etapas de manutenção e reposição. Porém, isto não está correto, uma vez que foi perguntado especificamente sobre a manutenção.
Resposta: letra E.
RM 2016 (ACESSO DIRETO 1) FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP
9 – Em relação à alergia ao leite de vaca não IgE mediada:
a) Podem estar presentes sintomas gastrointestinais, pulmonares, urticária e choque anafilático.
b) Entre as manifestações gastrointestinais, em lactentes pode estar presente a constipação intestinal.
c) A realização do RAST para leite de vaca é imprescindível para o diagnóstico correto.
d) Os pais devem ser orientados que a exclusão de leite de vaca e derivados é definitiva.
As manifestações da alergia à proteína do leite de vaca não mediadas por IgE não são imediatas e compreendem as reações citotóxicas (trombocitopenia por ingestão de leite de vaca - poucas evidências), reações por imunocomplexos (também com poucas evidências) e finalmente aquelas envolvendo a hipersensibilidade mediada por células. Neste grupo estão representados os quadros de proctite, enteropatia e enterocolite induzidas pela proteína alimentar e constipação. As alterações relacionadas aos demais sistemas são: dermatite herpetiforme e a hemossiderose. Os quadros de anafilaxia e urticárias são exemplos de alergia mediada por IgE. A determinação da IgE específica auxilia apenas na identificação das alergias alimentares mediadas por IgE e nas reações mistas. As dietas de restrição com reintrodução gradual são necessárias para se identificar o provável antígeno nos casos não mediados. A exclusão do leite de vaca não é definitiva. Muitas crianças desenvolvem tolerância ao alimento desencadeante após o primeiro ano do diagnóstico, enquanto outras podem levar cerca de dez anos para ingeri-lo sem apresentar sintomas.
Resposta correta: letra B.
RM 2016 (ACESSO DIRETO 1) PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG
10 – Lactente previamente saudável, do gênero masculino, oito meses de idade, desenvolve, há três dias, febre, vômitos e diarreia com sangue e pus, além de choro intenso ao evacuar. Sua alimentação é composta de fórmula láctea de seguimento, frutas e duas refeições de sal. A causa mais provável para explicar o quadro diarreico é:
a) Imunológica: alergia à proteína do leite de vaca.
b) Infecciosa: bactéria invasiva.
c) Osmótica: intolerância à lactose.
d) Parasitária: tricocefalíase.
A presença de sangue nas fezes em um lactente pequeno sempre deve levantar a possibilidade de alergia à proteína ao leite de vaca e, na época do concurso, alguns pensaram nesta possibilidade. Porém, perceba o seguinte: este lactente era previamente hígido. Nos foi dito que sua alimentação é composta por fórmula infantil (não sabemos desde quando), mas os quadros de proctocolite ou enterocolite costuma manifestar-se mais precocemente, ainda no primeiro semestre de vida nas crianças em uso de fórmula. Assim, tratando-se de um quadro de início tão agudo, iremos pensar, prioritariamente, em uma causa infecciosa. A principal causa de disenteria em nosso meio é a shigelose, que leva ao desenvolvimento do quadro por um mecanismo invasor.
Resposta: letra B.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG 11 – Em relação ao tratamento farmacológico do refluxo gastroesofágico em lactente com três anos de idade, é ERRADO afirmar que: a) Bromoprida e metoclopramida não são seguros para uso cotidiano. b) Nos casos leves e moderados o uso de inibidores de bomba de prótons (omeprazol) não mostrou benefícios quando comparado ao placebo. c) O efeito da domperidona sobre a redução dos episódios de refluxo, ou em seu clareamento, é discreto. d) Quando se comprova a ocorrência de esofagite pelo refluxo, o tratamento de eleição é pelo uso de inibidores dos receptores de H2 da histamina (ranitidina).
Antes de qualquer coisa: uma criança de três anos é um pré-escolar, não um lactente! Mas, vamos ao caso. A doença do refluxo gastroesofágico é a desordem esofagiana mais comum em crianças de todas as idades. Os quadros patológicos são caracterizados pela presença de sintomas frequentes ou persistente relacionados com a esofagite ou sintomas extra- -esofágicos, como sintomas respiratórios. O tratamento farmacológico é recomendado com o objetivo de reduzir a acidez do conteúdo gástrico. Vejamos cada uma das afirmativas. A opção A está CORRETA; o uso crônico de agentes como a metoclopramida está relacionado com algumas complicações, como a discinesia tardia, e deve ser desaconselhado. A opção B está CORRETA; os inibidores de bomba de prótons são claramente superiores aos antagonistas de receptores de histamina nas crianças com esofagite grave e erosiva. O uso dessas medicações em quadros leves não parece ter grandes benefícios. A opção C também está CORRETA; a domperidona é um antagonista dopaminérgico com ação periférica por excelência. Possui a vantagem de ser bem tolerada pela maioria dos pacientes, mas sua eficácia na DRGE em população pediátrica ainda é controversa. A opção D está INCORRETA. Hoje, indiscutivelmente, os Inibidores de Bomba de Prótons (IBP) são os mais potentes bloqueadores de secreção ácida disponíveis, e o omeprazol é a droga com maior experiência de uso em Pediatria. Resposta: letra D.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFU – MG 12 – Lara, 35 dias, é atendida na unidade de saúde com história de sangue vivo (raias) nas fezes há três dias. Não há relato de febre, vômitos ou dificuldade alimentar. Primeiro filho, gravidez sem intercorrências, parto cesáreo. Peso de nascimento: 3.100 g. Leite humano exclusivo. Paciente em boas condições, ativo, acianótico, anictérico, eupneico, afebril, hidratado, corado, sem edemas. Peso atual: 4.050 g. A conduta CORRETA é: a) Internar o paciente e iniciar com antimicrobiano EV e dieta de exclusão de leite de vaca e ovo para a mãe. b) Iniciar com antimicrobiano oral após coleta de coprocultura e hemograma. c) Retirar aleitamento materno e iniciar com fórmula de soja por quatro semanas. d) Iniciar exclusão de frutos do mar, amêndoas e castanhas da dieta materna e associar antimicrobiano oral. e) Iniciar exclusão de leite de vaca e derivados da dieta materna e reavaliar o paciente ambulatorialmente.
Estamos diante de uma lactente de 35 dias de vida, com história de sangue vivo nas fezes há 3 dias, sem outros sintomas associados. Não tem antecedentes neonatais, em aleitamento materno exclusivo com bom ganho ponderal (acima de 30 g/dia) e exame físico normal. De cara já descartamos a possibilidade de internação ou de se tratar de uma possível infecção grave, visto que a criança apresenta boas condições clínicas. Além disso, qual doença comumente se inicia com quadro de sangramento retal em bom estado geral entre 3 e 6 semanas de vida? A proctocolite alérgica induzida pela proteína do leite de vaca. Lembrar que a criança não recebe o leite de vaca diretamente, mas sim através do leite humano que vem da mãe. O princípio básico do diagnóstico da alergia alimentar é a exclusão da proteína alergênica e observar se a criança cursa com involução dos sintomas apresentados, assim como o retorno destes com a sua reintrodução. Sendo assim, a alternativa que melhor responde esta questão é a letra E!
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFU – MG 13 – Eduardo, dois meses, é trazido em consulta por apresentar vômitos alimentares frequentes, não biliosos, em jato. Ao exame físico: desidratado, eupneico, corado, abdome distendido e com peristaltismo visível. A gasometria arterial demonstra: PH = 7,56; PO2 = 96 mmHg; PCO2 = 30 mmHg; bicarbonato = 40 mEq/L, e hipocloremia. A hipótese diagnóstica mais provável é: a) Estenose hipertrófica de piloro. b) Hiperplasia congênita de suprarrenal. c) Invaginação intestinal. d) Refluxo gastroesofágico. e) Hérnia inguinal encarcerada.
A questão apresenta um quadro clínico clássico de estenose hipertrófica de piloro. Lactente masculino com vômitos não biliosos (bile é lançada no trato gastrointestinal após o piloro, por isso não tem bile no vômito), peristaltismo visível ao exame físico (ondas de Kussmaul), alcalose hipoclorêmica na gasometria, faltou apenas palpação de “oliva pilórica” em abdome superior ou ultrassonografia confirmando “oliva pilórica”. O tratamento é cirúrgico com piloromiotomia de Ramstedt. Portanto, resposta: letra A.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL DE OLHOS DE CONQUISTA LTDA – BA
14 – Com relação às cólicas do lactente, aponte a alternativa INCORRETA:
a) A prevalência varia de 10 a 30% em todo o mundo.
b) Alguns estudos mostram uma incidência maior quando a criança é o primeiro filho.
c) Quanto ao sexo, mostra uma prevalência maior em meninos.
d) Prematuros têm um atraso no tempo de aparecimento das cólicas.
cólica do lactente é uma queixa bastante frequente nos consultórios de Pediatria. Trata- -se de uma dor abdominal aguda, espasmódica, manifestada por um ataque paroxístico de choro forte, agudo e estridente, que normalmente ocorre no período que corresponde a fase de adaptação do sistema nervoso e do aparelho digestivo imaturo do bebê. Agora que estamos um pouco familiarizados, vamos a análise das alternativas: A) Correta! A prevalência média é de 20%, apresentando tal variação conforme apresentada no item. B) Correta! A incidência em alguns estudos apresenta-se mais elevada no primeiro filho, o que poderia estar associada a ansiedade dos pais, agravada pela inexperiência e falta de apoio. Outros fatores também estão relacionados a uma maior incidência, como depressão materna, personalidade da mãe e problemas na dinâmica familiar. C) Incorreta! A prevalência é semelhante em ambos os sexos. D) Correta! Nota-se que os prematuros têm o mesmo padrão de choro e de cólicas, porém apresentam um atraso em torno de 3 a 6 semanas após o nascimento, diferente do observado em bebês nascidos de termo. Resposta: alternativa C.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL DE OLHOS DE CONQUISTA LTDA – BA 15 – Qual alternativa NÃO faz parte dos critérios de Wessel para cólicas do lactente ou “regra dos 3”? a) Paroxismos de irritabilidade, agitação e choro. b) Surgem a qualquer hora do dia. c) Duração de pelo menos 3 horas/dia por mais de 3 dias na semana por, pelo menos, 3 semanas. d) Desaparecimento aos 3 meses de idade.
Os critérios de Wessel são conhecidos como a regra dos 3, pois se caracteriza pela presença de paroxismos de irritabilidade em um bebê alimentado e saudável, agitação e choro excessivo por mais de 3 horas por dia, com ocorrência de, no mínimo, 3 vezes por semana por, pelo menos 3 semanas, que desaparecem por volta do 3o mês de idade. Como poucos pais e médicos estão dispostos a esperar 3 semanas diante da queixa, este último critério está em desuso. Sendo assim, a única alternativa que não faz parte dos critérios é a letra B!