Pneumonias Flashcards
Definição de pneumonia
proliferação de patogénios microbianos nos espaços alveolares –> inflamação aguda do parênquima pulmonar
Patologia comum mas potencialmente perigosa especialmente nos IDOSO E CO-MORBILIDADES
Patogénese e caminhos de chegada dos MO às vias inferiores
Chegam as vias respiratórias inferiores por:
1- Aspiração de secreções orofaríngeas (+comum)
2- Inalação de gotículas contaminadas
3- Disseminação hematogénica (ex: endocardite) - + raro
Patogénese
Capacidade de macrófagos fagocitarem e destruírem os MO é superada —> macrófagos ativam resposta inflamatória:
1- IL-1 e TNF-alfa - febre
2- IL-8 e GM-CSF - produção e quimiotaxia de neutrófilos para o pulmão –> leucocitose periférica e secreções purulentas
3- Outros mediadores aumentam a permeabilidade dos vasos e levam aos extravasamento capilar
NA PNEUMONIA OS ALVÉOLOS FICAM COM LÍQUID E PUS (CONDICIONA AS TROCAS GASOSAS (HIPOXEMIA) E DISPNEIA
Fatores de risco
1- Gerais: - extremos de idade (<5 ou >65) - desnutrição - tabagismo - alcoolismo - AB prévia (resistências) - Co- morbilidades (DM, DPOC, imunossupressão) - Baixos recursos económicos (higiene) 2- Pneumonia nosocomial: - Ventilação mecânica (não ha mecanismos de defesa como a tosse, e o tubo leva flora da orofaringe para os pulmões) - alimentação entérica - alteração do estado de consciência - Aspiração de secreções ou conteúdo gástrico - queimados/ politraumatizados - doença SNC - CIrurgia tóraco-abdominal - Fármacos paralisantes
Clínica
- início agudo ou subagudo de:
1- tosse
2- dispneia
3- expetoração (mucoide, purulenta, hemoptoica)
4- toracalgia - dor pleurítica (irritação da pleura, que piora com inspiração)
5- febre, hipersudorese, calafrios, anorexia
NO IDOSO:
MENOS TOSSE, DISPNEIA, TORACALGIA, HEMOPTISE, FEBRE E SINTOMAS NÃO RESPIRATÓRIOS/ MAIS CONFUSÃO, PROSTAÇÃO E DESCOMPENSAÇÃO DE CO-MORBILIDADES PRÉ-EXISTENTES
Exame objetivo
Inspeção: tiragem, cianose
Palpação- aumento transmissões vocais
Percursão - macicez
Auscultação- fervores inspiratórios tardios, bronco e egofonia
Classificação
Pneumonia adquirida na comunidade (PAC), Pneumonia associada a cuidados de saúde (PACS), Pneumonia nosocomial/ hospitalar (PN)
PAC
pneumonia adquirida em ambulatório OU primeiras 48h após internamento
NOTA: Exclui-se doentes com alta hospitalar há menos de 10 dias
Agentes bacterianos mais frequentes em PAC
- S. pneumoniae (60% casos; pneumonia com padrão lobar
- Mycoplasma pneumoniae - principal no jovem (ciclico)
- H. influenzae/ Moraxella catarrhalis/ pseudomonas aeruginosa (todos mais freq em DPOC)
- Chlamydia pneumoniae
- Legionella pneumophila (pode dar pneumonias isoladas - doença do viajante- mas tipicamente associada a surtos
. S. aureus - raro, mas pode dar pneumonia após infeção viral (influenza), DPOc ou aspiração - Burkholderia cepacia - Raríssima sem ser na Fibrose quística (ficam permanentemente colonizadas e podem ter pneumonia por vezes)
- Chlamydia psittaci, Chlamydia trachomatis (RN)
-Coxiella burnetti (exposição a animais em parto) - Mycobacterium tuberculosis (na presença de um abcesso pulmonar)
- Anaeróbios (+ freq na pneumonia de aspiração)
Agente virais mais frequentes em PAC
- Vírus sincicial respiratório (principal em crianças até 3 A)
- Influenza A e B
- Metapneumovírus
- Parainfluenza
- Rinovírus
- Adenovirus
- Enterovirus
- Bocavirus
- Coronavirus (síndrome respiratório grave - SRAG)
VIRUS SÃO AGENTE IMPORTANTE EM CRIANÇAS E MAL ESCLARECIDO NOS ADULTOS
2-30% INFEÇÃO MISTA(VIRAL SEGUIDA DE BACTERIANA)
nota: nas PAC as culturas não detetam o agente em 40-60% casos
PACS
1 dos seguintes critérios:
- doente internado há 2 ou mais dias em hospital de agudos nos 90 dias precedentes
- doente residente em instituição cuidados prolongados
- doente submetido a procedimentos (quimio, hemodiálise, AB endovenoso, etc) nos 30 dias precedentes
- doente convive com doente infetado/colonizado com MO multirresistente
Pneumonia nosocomial
Ocorre 48h ou mais após o internamento e não estava em incubação na altura da admissão OU aparecimento de pneumonia até 10 dias após alta hospitalar
- 2ª infeção nosocomial + frequente, 1ª causa de infeção nos doentes ventilados
- Pode ser:
1- Pneumonia do doente não-ventilado
2- Pneumonia associada à ventilação mecânica (6-21% risco superior ao dos doentes não-ventilados, e aumenta 1-3% por cada dia de ventilação) (Pode ser precoce <5dias, ou tardia >5 dias)
Agentes mais frequentes na pneumonia nosocomial
PRECOCE- Patogénios da comunidade e da microbiota do doente:
- S.pneumoniae
- H.influenzae
- E.coli
- S. aureus meticilina sensível
- outros bacilos gram-negativos, como K. pneumoniae, Proteus
TARDIA- patogénios multirresistentes adquiridos em meio hospitalar:
- Pseudomonas aeruginosa
- S. aureus meticilina resistente
- Acinetobacter spp
- Enterobacteriaceae ESBL (E. coli, Klebsiella,…)
- Stenotrophomonas maltophilia
Agentes mais frequentes na pneumonia em imunocomprometidos
Bactérias: - Klebsiella pneumoniae - E.coli - Pseudomonas aeruginosa - Serratia spp - Staphylococos aureus - S. pneumoniae - Mycobacterium (+ freq em imunodeprimidos) - Nocardia - Legionella FUNGOS - Pneumocystis jirovecii- muito associado a doentes com SIDA - Aspergillus - Cryptococos neoformans - Histoplasma capsulatum (endémico) VÍRUS - Citomegalovírus - Herpes simplex - Varicella-zoster - + frequente nos imunodeprimidos - Sarampo - Adenovírus PROTOZOÁRIOS Toxoplasma gondii - toxoplasma pulmonar "imagem de marca" de imunodeprimidos
Agentes atípicos da pneumonia
Apresentam: - Crescimento intracelular - Ausência de sensibilidade aos beta- lactâmicos - Dificuldade de diagnósticos pelo recurso aos meios complementares de diagnóstico mais habituais Agentes + freq (15-35% pneumonias) - Mycoplasma pneumoniae - Chlamydophila pneumoniae - Chlamydophila psittaci - Legionella (género) - Coxiella burnetti - Bordetella pertussis - Pneumocystis jirovecii - Toxoplasma gondii - Todos os vírus (influenza, metapneumovírus, vírus sincicial respiratório,...)
Diagnóstico de pneumonia
Clínica + MCDT (microbiologia e radiologia)
Microbiologia –> agente etiológico e terapêutica de acordo com TSA
Diagnóstico microbiológico
Tipo de amostra:
1- Amostra respiratória: exame bacteriológico de rotina das secreções brônquicas
2- Urina: antigenúria (pesquisa de AG na urina) –> Legionella pneumophila sg1 e s. pneumoniae, Pneumonia grave tem que se pedir a análise de Ag na urina!
3- Sangue: Hemocultura- pneumonia que justifique internamento deve-se pedir hemocultura (pode haver bacteriémia a partir do foco pulmonar- sensibilidade fraca mas boa especificidade- quando o resultado é negativo pode-se quase de certeza eliminar a hipótese)
- Serologia e PCR contra microorganismos atípicos (PCR para agentes específicos)
Colheita de amostras respiratórias
é necessário apenas 1 única amostra de boa qualidade (exceção de micobactérias que se aconselham 3 amostras em dias consecutivos)
- amostras colhidas antes da terapêutica
- Expetoração espontânea ou induzida são as mais dificeis de colher e podem levar a mais erros pois têm a maior contaminação
Amostras não-invasivas
-Expetoração espontânea
- Expetoração induzida
- Secreções brônquicas colhidas por aspiração endotraqueal - para pessoas ventiladas
Colheita:
- Preferir a 1ª amostra da manhã, em jejum
- Lavar a boca só com água antes de iniciar a colheita
- Instruir o doente para colher expetoração por tosse profunda (descartar saliva ou rinorreia posterior)
- Expetoração induzida: usar nebulizador com soro fisiológico
-> enviar de imediato ao laboratório (máximo 2h; alternativa refrigerar até às 24h)
Amostras invasivas
- Lavado bronco-alveolar - atinge maior área alveolar, pode haver contaminação porque passa pela boca (recolher a maior quantidade de líquido >30%- melhor amostra .
- -> conteúdo alveolar)
- Escovado com cateter duplamente protegido (não passa pelas zonas colonizadas) (recipiente estéril com 1 ml de NaCl a 0.9% estéril)
- Aspirado trans-traqueal - microorganismos anaeróbios (utilizar meio de transporte para anaeróbios)
- Biopsia brônquica
- Biopsia pulmonar
- ->Colheita por broncofibroscopia ou biópsia/aspiração/ permitem obter amostras representativas do aparelho respiratório inferior com menor contaminação pela orofaringe
- -> ENVIAR DE IMEDIATO ao laboratório (máximo 2h, alnternativa refrigerar até 24h)
- Secreções de traqueostomia não devem ser colhidas - após 24h está colonizada com vários agentes
Exame direto de amostras respiratórias
- GRAM: importante ver o nº de células epiteliais e PMN
- Ziehls-Neelsen (alternativa auramina-rodamina de Truant) - bacilos álcool-ácido resistentes (resistência a descoloração de fuscina básica), como o M.tuberculosis
- Imunofluorescência direta (maior parte dos laboratórios não faz) : Possibilita a visualização de antigénios nos tecidos ou em suspensões celulares, por meio de AC específicos marcados por fluorocromos; pesquisa de Ag de Legionella pneumophila
Dificuldades no diagnóstico de infeções respiratórias
- FLORA SAPRÓFITA ABUNDANTE E VARIADA DO APARELHO
- MO existentes habitualmente podem tornar-se patogénicos por desequilibrio da flora tornando dificil ver o que está a causar infeção
- dificil obter amostras de qualidade
Flora aprófita do aparelho respiratório: - S. aureus, S. pneumoniae, outros streptococos, Haemophilus influenzae
NOTA: nas PN só se obtem diagnóstico inequívoco quando o agente NÃO FAZ PARTE DA MICROBIOTA (ex: legionella, m. tuberculosis, mycoplasma pneumoniae)
Parâmetros de qualidade da amostra
- observação da lâmina ao microscópio com ampliação de 100x, corada por gram
1- <10 células epiteliais por campo– contaminação se tiver mais! (amostras sem este critério não proseguem excepto para pesquisa de Legionella ou Mycobacterium)
2- >25 PMNs/ campo —>sugestivo de pneumonia
4 fases de patogénese da pneumonia
Fase inicial: edema com exsudado proteico
Fase de hepatização vermelha: eritrócitos e exsudado intra-alveolar
Fase de hepatização cinzenta: eritrócitos degradados e os neutrófilos são predominantes
Fase final/ resolução: regressão da inflamação, macrófagos limpam o resto das células
Exame cultural
- Meios regulares: Gelose-sangue, gelose-chocolate (haemophilus não cresce na sangue), Macconkey (enterobacteriaceas)
- Meios com base nos dados clínicos ou microscópio: Sabouraud (fungos e bacterias filamentosas ex Nocardia), Lowenstein-jensen (mycobacterium), BCYE (seletivo para certos gram neg, como legionella pneumophila), culturas celulares (virus)