PMSUS D1 Flashcards
Que tipo de doença é a Hanseníase
-> Doenca infectocontagiosa crônica (infecto pois tem um agente infeccioso, contagiosa pois passa de um indivíduo para outro e crônica pois tem um período de incubação de 3 a 5 anos).
-> Doença dermatoneurológica
Descreva 5 características epidemiológicas da hanseníase
-> Doença de notificação compulsória semanal e de investigação obrigatória (contatos);
-> Alta infectividade e baixa patogenicidade (muitos se infectam, poucos desenvolvem a doença - sinais e sintomas);
-> Alta morbidade (daqueles indivíduos que adoecem, grande parte terá sequelas neurológicas) e baixa mortalidade e letalidade;
-> O principal reservatório são os seres humanos;
-> Brasil é o segundo país em número de casos, refletindo as condições socioeconômicas, tendo maiores taxas no norte, nordeste e centro-oeste. A maior parte dos casos são multibacilares (78,42%), homens, da faixa etária de 30 a 59 anos (mas com aumento progressivo dos maiores de 60, pardos e ensino fundamental incompleto.
Caracterize o agente etiológico da hanseníase
O Mycobacterium leprae (M. Leprae), também chamado de Bacilo de Hansen, é um parasita intracelular obrigatório. É um bacilo álcool-ácido resistente, corado pelo método de Ziehl Neelsen. O M. leprae afeta primariamente os nervos periféricos e a pele, podendo acometer também a mucosa do trato respiratório superior, olhos, linfonodos, testículos e órgãos internos (rins, fígado) de acordo com o grau de resistência imune do indivíduo infectado.
Qual a principal via de entrada no organismo pelo Mycobacterium leprae? E a via de eliminação? Como chega em outros tecidos?
Trato respiratório superior é a via principal de entrada do Bacilo de Hansen, assim como também é a via de eliminação. A via hematogênica é o seu principal mecanismo de disseminação para a pele, mucosas, nervos e outros tecidos.
Caracterize a transmissão do M. leprae
A principal forma de transmissão ocorre pelo contato direto pessoa a pessoa, e é facilitada pelo convívio de indivíduos susceptíveis com doentes não tratados e com alta carga basilar, que eliminam o M. leprae pelas vias aéreas superiores. Eventualmente, pode acontecer transmissão através da pele e das mucosas (solução de continuidade - pequenas fissuras, por ex)
Quais as principais consequências do diagnóstico tardio de hanseníase?
Sequelas neurológicas graves, que levam a incapacidade física e perda funcional, especialmente nas mãos, pés e olhos.
Quais são os principais fatores de risco para o desenvolvimento de incapacidades físicas em indivíduos acometidos pela hanseníase?
Diagnósticos tardios, altas cargas bacilares, presença de reações hansênicas e sexo masculino.
V ou F
Apenas os indivíduos multibacilares transmitem a doença.
Verdadeiro.
O que dificulta o diagnóstico precoce e o tratamento oportuno da hanseníase?
O diagnóstico precoce e o tratamento oportuno da hanseníase são dificultados pelo estigma e discriminação associados ao medo e à falta de conhecimento sobre a doença, além da qualificação inadequada de grande parte dos profissionais de saúde.
Considerando a atenção integral ao indivíduo com quadro de hanseníase, quais são as ações para obter os melhores resultados terapêuticos e reduzir a carga da doença no Brasil?
As equipes de saúde, especialmente aquelas atuantes no nível da Atenção Primária
à Saúde (APS), devem estar aptas a reconhecer precocemente os sinais e sintomas da doença e a identificar prontamente os sinais das reações hansênicas, que podem inclusive estar presentes desde o momento do diagnóstico. Além disso, a equipe deve estar capacitada para definir corretamente a classificação operacional do caso e indicar o esquema terapêutico adequado, como a antibioticoterapia para a cura da infecção. Para a prevenção das incapacidades físicas e comprometimento da função neurológica deve haver detecção precoce de casos e tratamento correto (antirreacionais) das reações hansênicas, junto à avaliação e monitorização da função dos nervos periféricos. Deve-se ainda acompanhar corretamente a resposta terapêutica e os efeitos colaterais da poliquimioterapia (PQT-U) e dos medicamentos antirreacionais. Destaca-se a importância da identificação de situações especiais, como a vulnerabilidade social e problemas adicionais ligados ao estigma, à discriminação e à necessidade de reabilitação física em níveis de maior complexidade.
A hanseníase gera 2 polos imunológicos e é a imunidade do indivíduo que vai determinar quais serão os perfis imunológicos daquele doente. Elucide esse processo.
- O indivíduo pode montar uma resposta imunológica celular (Th1) que pode eliminar a doença ou apresentá-la de forma localizada e com formação de granulomas;
- O indivíduo também pode montar uma resposta imunológica humoral (Th2), que não é capaz de conter a doença já que os anticorpos não conseguem acessar a bactéria intracelular; assim, o perfil da doença será disseminado/sistêmico.
V ou F e explique
Os perfis imunológicos do M. leprae geram as mesmas características clínicas.
Falso. Os perfis imunológicos da hanseníase apresentam diferentes características clínicas e diferentes resultados nos testes diagnósticos e de avaliação da doença (teste de Mitsuda, baciloscopia, teste rápido e etc..)
Descreva as formas clínicas da hanseníase.
A classificação de Madrid considera que existem dois polos estáveis e opostos da doença (formas tuberculoide e virchowiana), formas clínicas interpolares e instáveis (hanseníase dimorfa) e uma forma inicial que apresenta discretas manifestações clínicas da doença (forma indeterminada)
- Quando o indivíduo tem perfil imunológico predominantemente celular (Th1), ou ele irá se curar a vai desenvolver a forma Tuberculoide da hanseníase (TT);
- Caso o perfil imunológico seja predominantemente humoral (Th2), ele irá desenvolver a forma Virchowiana (VV);
- Quando se tem um perfil mais celular associado a um pouco de imunidade humoral, tem-se a forma DT (dimorfa tuberculoide);
- Quando se tem um perfil mais humoral, associado a um pouco de imunidade celular, tem-se a forma DV (dimorfa virchowiana);
- Quando tem-se um perfil com há presença relativamente igual das duas formas, tem-se a forma DD (dimorfa-dimorfa).
Qual o perfil de citocinas de acordo com o perfil imunológico da hanseníase?
Resposta celular (Th1) há predominância de IFN-y e IL-2, já resposta humoral há predominância de IL-4 e IL-10
Considerandomo espectro das formas clínicas da hanseníase, descreva como se comporta a quantidade de M. leprae nos tecidos e sua relação com a baciloscopia.
A medida em que a resposta do indivíduo sai de um perfil celular para um perfil mais humoral, há um aumento na quantidade do bacilo nos tecidos. Assim, a baciloscopia será negativa na hanseniase tuberculoide e positiva na hanseníase virchowiana.
Qual a definição de caso de hanseníase segundo o Ministério da Saúde?
Lesão e/ou área da pele com alteração de sensibilidade térmica e/ou dolorosa e/ou tátil;
ou
Espessamento de nervo periférico associado a alteração sensitiva e/ou motora e/ou autonômica;
ou
Presença do M.leprae, confirmada na baciloscopia de esfregaço intradérmico ou na biópsia de pele.
Qual a história natural da hanseníase?
O indivíduo primeiramente é infectado pelo Bacilo de H., podendo montar uma resposta Th1 e se curar espontaneamente ou pode desenvolver a doença de forma subclínica. Dessa forma subclínica, o invíduo pode montar uma resposta Th1 e se curar espontaneamente ou pode desenvolver a forma indeterminada da hanseníase. Da forma indeterminada da hanseníase, 70% monta resposta Th1 e se cura e os outros 30% desenvolvem as formas mais avançadas da doença: os dipolos estáveis opostos (TT e VV) e os interpolares ínstaveis (DT, DD, DV).
De maneira geral, qual a apresentação clínica hanseníase?
Lesão de pele associada a alteração de sensibilidade (calor - tubo de ensaio, dor - agulha, tato - chumaço de algodão ou estesiômetro verde) -> Nessa ordem (CDT). Isso é comum em todas as formas de hanseníase.
Caracterize a hanseníase indeterminada
É a forma inicial da doença, que pode evoluir para outras formas a depender da resposta imunológica do invíduo ou até mesmo se curar (70%). Clinicamente, manifesta-se como mácula hipocrômica com alteração de sensibilidade.
Como é forma inicial da doença, não há comprometimento do tronco neural, ou seja, não há espessamento durante a palpação, porém há acometimento de fibras nervosas mais superficiais.
Nesse fase já pode ter alopecia e diminuição da sudorese.
Caracterize a hanseníase tuberculoide
Forma mais avançada de hanseníase, com perfil imunológico celular (Th1), localizada e com formação de granulomas. Por ser mais localizada, há poucas lesões cutâneas e comprometimento dos nervos é assimétrico. As lesões cutâneas são em menor número (geralmente única) e são caracterizadas por placas com bordas elevadas bem definidas e eritomatosas, com centro hipocrômico.
Como os bacilos têm tropismo pelas células de Schwann, eles infectam os nervos perifericos. Nesse sentido, quanto mais forte for a resposta imune do hospedeiro, que inclusive é o tipo de resposta presente na hanseníase tuberculoide, o sistema imunológico irá enviar inúmeros linfócitos para destruição dos bacilos, mas acabam por lesionar também os nervos. Assim, o acometimento neural da hanseníase é precoce e mais grave. (pode haver formação de abcessos neurais; o acometimento do nervo radial leva ao punho caído; do mediano leva a mão simiesca - arma apontada para cima - e do ulnar leva a mão em garra.
Caracterize a hanseníase virchowiana
É derivada da resposta imune humoral (Th2) do indivíduo. Como é uma doença mais disseminada/sistêmica, as lesões são múltiplas e comprometimento neural é simétrico. Sabe-se que a quantidade de bacilos aumenta muito no polo Th2; assim, há uma grande quantidade de macrófagos e histiócitos fagocitando esses bacilos, tornando as lesões cutâneas infiltradas (espécie de nódulos). Nesse sentido, o indivíduo pode ter fáceis leonina, vários desses nódulos disseminados, sobretudo na face e pavilhão auricular. Além disso, o invíduo pode apresentar madarose e alopecia.
Caracterize a hanseníase dimorfa
É caracterizada pelas formas interpolares ínstaveis, sendo a causa mais frequente de reações hansênicas. As formas sao: DT (dimorfa-tuberculoide), DD (dimorfa-dimorfa) e DV (dimorfa-virchowiana). As lesões tem aspecto de queijo suíço ou alveolares, borda interna bem delimitada e borda externa mal delimitada.
Como avaliar a imunidade do indivíduo na hanseníase?
Avalia-se a presença da imunidade celular pelo teste de Mitsuda. Esse é um teste intradérmico no qual inocula-se antígenos do M. Leprae na pele do indivíduo e faz-se a leitura 28 a 30 dias após o teste. Caso o invíduo tenha desenvolvido um eritema endurado maior ou igual a 5mm o teste é positivo. Contudo, isso não confirma a presença da hanseníase naquele momento, pois o paciente pode ter tido hanseníase no passado e ter se curado. Além disso, eritema endurado menor do que 5mm é negativo, mas não afasta a possibilidade de hanseníase, já que o indivíduo pode ter desenvolvido imunidade humoral.
Caracterize a baciloscopia da Hanseníase
Vai no lóbulo da orelha, cotovelos e numa lesão de hanseníase e faz um corte para retirada da linfa. Faz-se então a coloração pelo método de Ziehl Neelsen/Fite Faraco e olha no microscópio para saber se há presença de bacilos. Caso existam bacilos, o teste é positivo e confirma-se a presença da hanseníase. Contudo, caso o teste seja negativo, não afasta a possibilidade de hanseníase, pois o indivíduo pode ter TT ou DT, na qual já se espera uma baciloscopia negativa.
Caracterize o teste rápido da hanseníase
Avalia a presença de PGL-1, antígeno presente na parede celular do M. leprae. É usado para avaliação de contatos com exame dermatoneurológico descartado. Caso teste reagente, fazer seguimento anual no posto de saúde por 5 anos; caso negativo, fazer vigilância passiva (autoexame)
Caracterize as reações hansênicas
As reações hansênicas ou estados reacionais da hanseníase são exarcebações imunológicas agudas, que se manifestam principalmente nas formas clínicas interpolares ínstaveis (dimorfas)
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Após a conclusão diagnóstica a partir do exame clínico e/ou baciloscópico, os casos de hanseníase devem ser classificados para fins de tratamento. Qual seria essa classificação de acordo com a OMS/MS?
Classificação operacional.
Até 5 lesões, a hanseníase é paucibacilar(PB);
Mais de 5 lesões, a hanseníase é multibacilar(MB);
Mesmo se o indivíduo for considerado paucibacilar inicialmente e ele tiver uma baciloscopia positiva e/ou comprometimento de 2 ou mais nervos, ele se classifica como MB;
Todos os casos de hanseníase que suscitem dúvida sobre a classificação operacional devem ser tratados como MB.