Aula 9 - Mobilidade internacional de fatores Flashcards

1
Q

1 Fluxo de capitais

A

Para estudarmos mais a fundo a economia internacional, precisamos estudar o
movimento dos fatores. Mas, sobre quais fatores estamos falando? Entre as diversas áreas
que a economia estuda, uma delas é a organização econômica dos países. Para estudarmos
como os países se organizam economicamente, precisamos conhecer quais são os fatores de
produção que eles possuem. Assim, os fatores de produção são os elementos essenciais que
são utilizados para a produção de qualquer bem ou serviço na economia. Para estudá-los, a
economia os classifica em terra, capital e trabalho.
Por terra, nós podemos compreender que são os recursos naturais utilizados na produção
de qualquer bem ou serviço. Assim, este fator de produção abrange basicamente as matériasprimas
utilizadas na produção. Já quando mencionamos o capital, estamos falando sobre os
recursos financeiros e tecnológicos necessários para a produção de bens e serviços. Por fim,
ao mencionarmos o trabalho, estamos tratando da mão de obra necessária para a produção
desses bens e serviços.

1.1 Fluxo de capitais entre os países e seus efeitos

O movimento de capitais entre os países é mais complexo do que os movimentos de
comércio internacional e de pessoas. Isto porque, ao falarmos sobre o fluxo de capitais,
estamos falando tanto da troca de bens de capital quanto das transações financeiras entre os
países.
Você deve se recordar que os bens de capital são os bens utilizados na
produção de bens e serviços, ou seja, são bens que geram o aumento de capital
para as empresas. Podemos incluir aí máquinas, equipamentos e instalações
físicas das empresas.
O fluxo de capitais aborda as transações financeiras entre os países.
Mas, porque as empresas e os países tomam empréstimos no exterior? Normalmente,
as economias não utilizam todo o valor de seu produto corrente (PIB) para o consumo. Uma
parte desses recursos é aplicada em máquinas, edifícios e outros bens de capital. Isso é o que
chamamos de trocar o consumo presente pelo consumo futuro, ou seja, essa economia está
deixando de consumir hoje para poder consumir mais no futuro, visto que está investindo no
aumento de produção. Assim, quanto mais investimento a economia fizer hoje, mais poderá
produzir e consumir no futuro (KRUGMAN, 2010).
Porém, alguns países não conseguem acumular os recursos necessários para investir no
consumo futuro, ou seja, não têm os recursos necessários para que a economia possa investir
nos bens de capital necessários. Assim, como o país pode conseguir investir no aumento
de produção para que no futuro sua economia não sofra com uma baixa oferta de bens e
serviços?
Muitas vezes, ao querermos antecipar o consumo de determinado bem ou serviço,
nós tomamos empréstimos para que possamos comprar e consumir hoje.Os países podem fazer a mesma operação, ou seja, para investirem mais podem tomar
empréstimo com outros países e, com isso, precisarão consumir menos no futuro para quitar
o empréstimo e os juros.Essa conta faz parte do Balanço
de Pagamentos e demonstra a situação financeira do país, com a entrada e saída de capital.
[QUADRO 1]
Podemos notar no quadro 1 que o país, ao se encontrar em uma situação em que o saldo das
transações correntes é deficitário, ou seja, negativo, ele necessita utilizar a poupança externa
para complementar a poupança nacional. Assim, para realizar os investimentos necessários é
preciso recorrer ao financiamento internacional; logo, precisa tomar empréstimo com outros
países. Isso acarreta um aumento do endividamento externo do país, o que compromete a
utilização do PIB para o consumo no futuro.
Já quando o país tem um saldo nulo nas transações correntes, em que a diferença
da quantidade de capital entrando e saindo do país é igual a zero, não há o aumento da
poupança externa; logo, o país tem uma manutenção da situação passada. Para realizar
os investimentos necessários, ele utilizará a poupança interna e, com isso, não haverá um
aumento do endividamento externo.
Os países que apresentam um saldo positivo das transações correntes, ou seja,
superavitário, utilizam a poupança nacional, visto que entrou mais capital do que saiu, para
financiar outros países que se encontram em situação deficitária. Além disso, o investimento
será menor do que a poupança nacional e, com isso, haverá uma redução do endividamento
externo destes países. O fluxo de capitais também sofre a influência do investimento estrangeiro direto. O
investimento estrangeiro direto ocorre quando uma empresa abre uma filial ou a expande em
outro país. Logo, quando falamos de investimento estrangeiro direto estamos nos referindo
às empresas multinacionais (KRUGMAN, 2010). Esse tipo de investimento é diferente, pois
além da obrigação financeira da filial com a matriz, a filial faz parte da mesma estrutura
organizacional que a matriz.
Portanto, as transferências de recursos entre a matriz e a filial se caracterizam como um
empréstimo, pois a matriz espera um retorno no futuro por parte da filial. Porém, podemos
notar que a principal característica dos investimentos estrangeiros diretos é viabilizar
a formação de organizações multinacionais. Essas formações possibilitam uma melhor
localização para as empresas, assim como a internalização de sua produção. A internalização
propicia que as empresas controlem a transferência de tecnologia para outros países e
empresas, assim como facilita na integração vertical da empresa com seus produtores de
insumos (KRUGMAN, 2010)

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Q

2 Taxa de juros e investimento externo

A

A taxa de juros nominal é a taxa de juros descrita nos contratos de empréstimo
e financiamento; por conta disso, ela é pública e pode ser acessada facilmente. Já a taxa de
juros real é a taxa de juros nominal descontada da inflação (DALLA COSTA; SOUZA-SANTOS,
2010). Essa é a taxa de juros que interessa aos investidores, pois demonstra o quanto eles
poderão ganhar, apesar da inflação.
Para compreender os efeitos da taxa de juros sobre a mobilidade de capital, Dalla Costa
e Souza-Santos (2010) apresentam três graus diferentes de mobilidade. O primeiro é a
mobilidade inexistente de capitais. Nesse grau, os capitais não podem entrar ou sair do país,
pois assim, é possível para o país manter a taxa de juros interna diferente da taxa de juros
dos outros países. Neste caso, o país pode alterar sua taxa de juros sem se preocupar com
o aumento de capitais ou sua redução no país e seus efeitos sobre a taxa de câmbio (DALLA
COSTA; SOUZA-SANTOS, 2010).
O grau seguinte é a mobilidade perfeita de capitais. Nesse nível de mobilidade, o país
pode alterar a taxa de juros nacional, porém irá interferir na entrada e saída de capitais, visto
que não há barreiras. Um aumento da taxa de juros nacional pode ocasionar um aumento
da entrada de capitais, visto que haverá um maior rendimento. Esse aumento da entrada de
capitais pressiona a taxa de câmbio para uma valorização da moeda nacional e com isso afeta
as exportações (DALLA COSTA; SOUZA-SANTOS, 2010).
O último grau é o da mobilidade imperfeita de capitais. Este nível promove um meiotermo
entre os níveis anteriores. Assim, neste nível, os países têm alguma margem para
manter taxas de juros diferenciadas dos demais países e, com isso, a pressão sofrida para
a valorização da moeda nacional é menor do que na mobilidade perfeita.
Atualmente a mobilidade de capitais dos países está próxima do perfeito; assim, os países
ao alterarem as suas taxas de juros interna sofrem pressão do aumento do investimento
externo sobre sua economia, este investimento é feito em títulos do governo e na bolsa
de valores nacional, pressionando, então, a taxa de câmbio para uma valorização da moeda
nacional frente ao dólar, podendo prejudicar o resultado das exportações (DALLA COSTA;
SOUZA-SANTOS, 2010).
Porém, o que explica a diferença das taxas de juros entre os países? Os países conseguem
aplicar diferentes taxas de juros basicamente pelo risco de se investir nesses países. Os
investidores, ao observarem as diferentes taxas de juros aplicadas nos países, consideram
o risco que as economias destes locais apresentam, levando em conta principalmente a
capacidade de pagamento e sua estabilidade econômico-financeira. É a partir da análise dos
riscos de investimento nos países que cada país consegue determinar sua taxa de juros, apesar
de estarmos em um grau de mobilidade quase perfeita
[QUADRO 2]
A partir do quadro 2, podemos notar que quando a balança comercial é superavitária,
ou seja, as exportações são maiores do que as importações, o PIB, representado pela letra Y,
é maior do que a soma do consumo, investimento e gastos do governo, o que ocasiona uma
poupança maior do que o investimento. Com esse cenário positivo, o país pode enviar capital
para o exterior. Já, no cenário de uma balança comercial equilibrada, o PIB será o resultado
da soma do consumo, com o investimento e os gastos do governo. Esse resultado do PIB irá
ocasionar em investimentos iguais ao valor da poupança, não tendo sobras para enviar capital
ao exterior. Logo, neste cenário, o país não participa do fluxo de capital emprestando recursos.
No último cenário, em que a balança comercial é deficitária e com isso o resultado das
exportações líquidas é negativo, o PIB será menor do que os resultados somados de consumo,
investimento e gastos do governo. A partir deste resultado, a poupança será menor do que o
investimento necessário e o país demandará capitais do exterior. Portanto, nesse cenário, o
país recebe o fluxo de capitais externo para suprir sua necessidade de investimento.

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3
Q

3 Mobilidade internacional do trabalho

A

Para compreendermos como funciona a mobilidade internacional do trabalho e quais
seus efeitos, vamos supor que só existam dois países no mundo, o México e os Estados Unidos.
Vamos considerar que o México é um país em que existem muitas pessoas precisando de
emprego. A partir disso, podemos supor que os salários no México serão menores do que nos
Estados Unidos, visto que existem mais pessoas dispostas a trabalho do que empregos. Caso
haja a possibilidade de as pessoas saírem do México e buscarem oportunidades de trabalho
nos Estados Unidos, elas o fariam?
Caso não existam barreiras dificultando a entrada e a saída destes países, a tendência
é que uma parte dos trabalhadores migre do México para os Estados Unidos. Assim, haverá
uma redução da mão de obra no México e ocorrerá um aumento dos salários locais. Em
contrapartida, acontecerá uma redução dos salários nos Estados Unidos, com o aumento do
número de trabalhadores. Esse movimento dos trabalhadores irá ocorrer até que os salários
sejam iguais nos dois países (KRUGMAN, 2010).
Três pontos devem ser levados em conta nesse nosso exemplo. Primeiro, é que a livre
mobilidade de trabalho ocasiona uma convergência dos salários entre os países. Segundo, é
que ela aumentaria o produto mundial, pois tanto a produção do México quanto dos Estados
Unidos seriam beneficiadas pela mobilidade dos trabalhadores, possibilitando a redução de
custos nos Estados Unidos, superior ao aumento de custos do México. Por fim, apesar dos
ganhos no geral, os trabalhadores dos Estados Unidos perderiam com a redução de seus
salários, assim como os produtores mexicanos com a redução da oferta de mão de obra
(KRUGMAN, 2010). Logo, alguns grupos saem prejudicados a partir dessa mobilidade.
Apesar de nosso exemplo ser muito simples, podemos ampliar a análise ao imaginarmos
que atualmente os países são muito diferentes entre si nas disponibilidades de fatores de
produção e que a livre mobilidade de trabalhadores pode afetar outras variáveis além dos
salários. Mesmo os programas de migração apoiados pelos governos enfrentaram problemas
no passado. No início do século XX, com a vinda dos europeus para o Brasil, ocorreram vários
problemas de adaptação da mão de obra migrada com os produtores locais (BARBOSA, 2010).
Além disso, precisamos levar em consideração as barreiras que os países implementam
para que a mobilidade não seja livre. Isto porque o aumento da população, com a migração,
exige um acréscimo dos gastos do governo em áreas sociais e pode ocasionar o desemprego
dos trabalhadores locais pela chegada de mão de obra mais barata (BARBOSA, 2010).

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