Aula 10 - Sistema Monetário Internacional Flashcards

1
Q

1 Sistema financeiro internacional até Bretton Woods

A

O sistema financeiro internacional, também chamado de sistema monetário internacional
ou sistema monetário mundial, representa o mecanismo que permite as trocas de pagamentos
e de capitais entre a economia mundial (DALLA COSTA; SOUZA-SANTOS, 2010). Assim,
consideramos o sistema financeiro internacional como o sistema que controla os fluxos de
pagamentos pelas trocas de bens e serviços do comércio internacional, bem como os fluxos
de capitais, empréstimos e investimentos entre os países.
Em seu princípio, a partir de 1880 até 1914, o
sistema financeiro internacional funcionava a partir do padrão ouro.
O padrão ouro determinava que cada país mantivesse a sua moeda em paridade fixa com
uma determinada quantidade de ouro. A partir desta garantia, a conversibilidade da moeda
para o ouro e outras moedas existentes estaria garantida.
Nesse período, o ouro aparentava ser a melhor opção, pois possuía as seguintes
características: era uma unidade divisível, fácil de ser transportado e aceito como meio de
pagamento e, por fim, fácil de ser estocado e não se degradava com o passar do tempo.
Ao final desse século, por volta de 1880, surgiu o sistema
monetário internacional que auxiliou no aumento da integração econômica entre os países. É
importante salientar que o padrão ouro trazia em si a ideologia liberal, em que os mercados
se autorregulam e atingem o equilíbrio a partir da demanda e da oferta, conseguindo
naturalmente a melhor alocação dos recursos.
Logo, um país superavitário acumularia reservas de ouro, o que elevava a sua oferta de
moeda interna. A partir desse aumento da oferta de moeda, os preços dos produtos internos
aumentavam, sem que ocorresse um aumento de produção. Portanto, os preços do mercado
externo se tornavam mais baratos do que os nacionais, o que em longo prazo causaria um
equilíbrio de mercado. Porém, se o país fosse deficitário, o contrário também ocorreria.
Assim, a principal estratégia econômica da autoridade monetária nacional era manter a
taxa entre o ouro e a moeda nacional fixa, o que manteria o nível de preços internos ajustado.
Até a década de 1914, o padrão ouro funcionou bem, propiciando as condições necessárias
para uma integração crescente comercial e financeira da economia internacional. Esse
período foi chamado de primeira era da globalização.
O problema do padrão ouro era que os países mais periféricos, a América Latina e Europa
Oriental, tinham instabilidades frequentes devido a movimentos dos capitais especulativos.
Além disso, para manter a taxa fixa do padrão ouro, alguns países sofreram com processos
recorrentes de deflação de seus preços. Para proteger suas economias, os países centrais,
como França, Grã-Bretanha e Alemanha, aumentavam o protecionismo de suas economias,
o que quebrava as regras do sistema para que os objetivos de curto prazo de suas economias
fossem atendidos.
Por conta da ideologia embutida no padrão ouro de livre mercado, alguns países não a
apoiavam tanto, como os Estados Unidos e a Alemanha. Assim, o nacionalismo aumentou e
culminou com um aumento da tensão entre os países, resultando na Primeira Guerra Mundial,
em 1914Com a Primeira Guerra Mundial, surge o segundo estágio do Sistema Financeiro
Internacional, o período entre guerras (1918 – 1939). Neste período, ocorreu o
desmantelamento da integração econômica mundial conquistada no período anterior. Além
disso, ocorre o fim do sistema baseado no padrão ouro, isto porque a Guerra ocorre no centro
do capitalismo mundial no período, a Europa.
Assim, toda a estrutura econômica mundial foi modificada, pois a Alemanha e grande
parte da Europa foram destruídas, com isso o eixo passa para os Estados Unidos. Isso ocorre,
pois os Estados Unidos exerceram o papel de fornecedor de insumos e de recursos financeiros
para a Grã-Bretanha e seus aliados, conseguindo superávits crescentes e liquidando seu
endividamento externo. Alternado, assim, seu papel de maior devedor para maior credor
mundial nesse período.
Para que os países voltassem a se integrar economicamente seria necessário reconstruir
o sistema monetário internacional. Muitos países, inclusive a Grã-Bretanha, desejavam a volta
do padrão ouro. Porém, para essa retomada foi necessário deflacionar os preços internos
na Grã-Bretanha, o que prejudicava consideravelmente o setor produtivo nacional e deixava
seus mercados abertos aos ataques especulativos. Enquanto isso, os mercados financeiros de
Paris e Nova Iorque estavam se beneficiando e atraindo capitais que, anteriormente, iriam
para Londres.
Apesar de os Estados Unidos se fortalecerem como potência econômica no período,
ainda havia uma cultura protecionista no país que impedia a volta da integração comercial
e da liquidez mundial. Esses fatores criaram dificuldades para que os países europeus
conseguissem os recursos necessários para liquidar suas dívidas.
Porém, a grande depressão da década de 1930 iniciou novos ataques especulativos
contra o padrão ouro; isto porque havia uma livre circulação de capitais entre os mercados
financeiros mundiais. Para defender suas economias, os países abandonaram o padrão ouro,
pois mantê-lo favorecia o desemprego e a recessão. Assim, a maioria dos países adotou
políticas econômicas de desvalorização de suas moedas em relação ao ouro, juntamente com
políticas comerciais protecionistas que inviabilizavam a integração econômica.
Após as guerras, os países começaram a reorganizar como seria o processo de integração
mundial e o sistema financeiro internacional que daria suporte para esta reintegração.
Portanto, em julho de 1944, define-se o acordo de Bretton Woods, no qual se traçou as regras,
os procedimentos regulatórios e as instituições do modelo chamado de Sistema Bretton
Woods. As principais instituições financeiras criadas por esse sistema foram o Banco Mundial
e o FMI.
O Banco Mundial tinha como objetivo financiar o desenvolvimento de longo prazo dos
países e possibilitar maior igualdade econômica, com o desenvolvimento do bem-estar e
de uma maior integração econômica. Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) tinha como
objetivo auxiliar os países nas dificuldades econômicas de curto prazo, como auxiliar os países
a suportarem as crises externas devido à falta de divisas.
A partir de Bretton Woods, apenas os Estados Unidos adotaram o padrão ouro, enquanto
os demais países mantiveram paridade com o dólar. Assim, os Estados Unidos passam a ter
grande poder econômico-financeiro sobre os demais, por possuir a maioria das reservas de
ouro do mundo. O câmbio entre os países e o dólar seria fixo, porém podendo ser ajustado
em caso de desequilíbrios que afetassem suas economias.
Os benefícios que os Estados Unidos tinham era a facilidade em obter financiamentos
para manter níveis superiores de consumo, podendo, portanto, sustentar déficits externos,
tanto privados quanto públicos persistentes. Já os demais países, como o Brasil e países
da América Latina, nesse período, não entraram nessa concepção de sistema financeiro
internacional, pois eram pequenos e pouco integrados economicamente. Assim, somente
a partir da década de 1970 é que eles passam a ter uma maior importância, garantindo a
posição central dos Estados Unidos.
Porém, entre as décadas de 1950 e 1960, a posição dos Estados Unidos começa a ser
questionada, pois ocorre uma redução das reservas de ouro, e os superávits começam a
se tornar déficits. Além disso, a conversibilidade das moedas pelo dólar propiciou ataques
especulativos nos mercados europeus. Isto ocorria devido aos impedimentos do mercado
financeiro americano que buscava impedir a arbitragem; assim os investidores americanos
migravam seu capital para a Europa para especularem nesses mercados.
Assim, na década de 1960, os investidores e países começam a fugir do padrão dólar
e procuram novamente o padrão ouro. A desvalorização do dólar em relação ao ouro, em
1971, culmina com o abandono do padrão dólar ouro em 1973, isto porque se percebe
uma impossibilidade dos Estados Unidos manterem a paridade com o ouro, o que estava
prejudicando a economia americana. Assim, termina o Sistema Bretton Woods.

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Q

2 Sistema financeiro internacional

A

O sistema financeiro internacional, a partir do fim do Sistema Bretton Wood, manteve
o dólar como moeda base do sistema financeiro internacional. Porém, essa decisão não foi
tranquila, visto que tanto as moedas da Alemanha (marco) quanto do Japão (iene) aumentavam
a concorrência sobre o dólar.
Atualmente, o sistema monetário internacional compreende os acordos institucionais
utilizados pelos países para administrar as taxas de câmbio. Ele afeta as atividades financeiras
dos governos e constitui a base dos mercados financeiros globais, visto que a taxa de câmbio
afeta os ganhos dos investidores nos mercados financeiros internacionais.
Porém, o principal enfoque do sistema monetário internacional atual está nos negócios
internacionais, ou seja, nos impactos das taxas de câmbio sobre o fluxo de comércio
internacional e de investimento externo direto entre os países. Isto porque são essas
atividades que afetam os fluxos monetários, pois as transações são realizadas em diferentes
moedas.
Para que esse fluxo monetário exista, é preciso que existam empresas dispostas a vender
e comprar bens e serviços do exterior, assim como bancos para financiar as operações, tais
como as instituições financeiras que estão envolvidas no mercado financeiro internacional.
Esse sistema de instituições se tornou mais eficiente, competitivo e estável a partir da década
de 1960, com o fim do sistema Bretton Woods.
Mas, quais os fatores que propiciaram essa melhoria? Podemos afirmar que a maior
integração econômica e financeira dos países ocorreu pela evolução das regulamentações
monetárias e financeiras, pelo desenvolvimento de novas tecnologias, como o uso da internet
para a realização de operações financeiras globais. Além disso, também ocorreu pelo aumento
da interdependência regional e global dos mercados financeiros e, por fim, pelo aumento
da importância dos sistemas de moeda única no cenário mundial, como o euro.
A globalização teve como efeito o aumento dos fluxos financeiros que, além dos
benefícios, gerou um aumento do volume e da velocidade com que o capital é investido e
pode ser redirecionado. Vamos recordar que é muito mais simples se retirar uma aplicação
do que alterar o investimento direto externo, ou seja, deixar de investir em uma ampliação
de filial ou de criar uma nova filial em outro país.
A facilidade em se redirecionar as aplicações financeiras faz com que os países se tornem
mais interligados e que as dificuldades financeiras enfrentadas em um país se espalhem
mais rapidamente entre os demais países. Como
exemplo disso, podemos analisar as crises do início dos anos 2000, momento em que tivemos
crises na Argentina, Rússia e Tigres Asiáticos, todas elas com efeitos no fluxo financeiro
para o Brasil, afetando nossa bolsa de valores, taxa de câmbio e, consequentemente, as
exportações líquidas.
Essa instabilidade financeira gerada pelo contágio das crises financeiras de outros países
é maior quando os governos deixam de regular e monitorar os setores bancário e financeiro.
Para compreender a relação entre esses setores
e o sistema financeiro internacional, observe a figura 1 em que estão relacionados os agentes
participantes desse sistema.
[FIGURA 1]
A figura anterior apresenta os agentes participantes do sistema financeiro internacional.
A partir dele, é possível perceber que os órgãos monetários e financeiros máximos são o FMI,
o Banco Mundial e o Banco de Compensações Internacionais. Estes três agentes repassam
os recursos financeiros e monetários para os bancos centrais que compõem o nível máximo
nacional como agente monetário. Os bancos centrais, por sua vez, repassam esses recursos
para os bancos comerciais locais, que repassarão os recursos para as empresas. No entanto,
podemos notar que as bolsas de valores também podem repassar recursos financeiros para as
empresas, porém, elas não têm a captação desses recursos nos sistemas financeiros mundiais
ou nacionais.
Mas, como as bolsas de valores recebem esses recursos? A bolsa de valores é o local onde
as empresas disponibilizam suas ações e outros títulos financeiros a fim de captar recursos
junto aos investidores. Esses investidores podem ser pessoas físicas, como eu e você, ou
pessoas jurídicas, empresas ou fundos que investem em outras empresas. A partir da melhoria
da tecnologia disponível, as grandes bolsas mundiais já operam de maneira on-line através de
home brokers. Essas ferramentas possibilitam que investidores locais e estrangeiros comprem
e vendam seus papéis a partir da internet. Assim, é a partir do investimento de pessoas
físicas e jurídicas que as empresas conseguem recursos para financiar suas operações e suas
estratégias de internacionalização.
Como vimos, as bolsas de valores têm meios próprios e autônomos para a arrecadação de
recursos financeiros que serão distribuídos para as empresas. Outro agente importante para
o repasse de recursos para as empresas são os bancos comerciais. Os bancos são importantes
porque são eles que armazenam os depósitos e disponibilizam o crédito para as pessoas e
empresas. Para um banco conseguir os recursos financeiros, ele precisa receber depósitos,
conceder empréstimos entre os bancos ou emitir títulos financeiros no mercado financeiro
nacional ou global. Os bancos, por sua vez, são regulamentados pelos governos nacionais
e regionais, isto porque a falta de credibilidade ou de liquidez compromete todo o sistema
bancário.
Os bancos podem assumir as seguintes atividades: bancos de investimento; bancos
mercantis, bancos privados, bancos offshore e bancos comerciais. Os bancos de investimento fornecem os créditos de médio e longo
prazo no mercado, suprindo os agentes que necessitam de capital de giro e capital fixo. Esses
bancos efetuam principalmente operações de maior escala como repasses de recursos oficiais
de crédito, repasse de recursos captados no exterior, operações de subscrição pública de
valores mobiliários (ações e debêntures) e financiamento de bens de produção a profissionais
autônomos.
Os bancos de investimento também podem prestar serviços, tais como: avais, fianças,
custódias, administração de carteiras de títulos e valores mobiliários etc. Os recursos para
realizar essas operações são próprios, de reserva ou como resultado de suas operações, com
recursos de terceiros captados por títulos de crédito de depósito bancário (CDB), vendas
de cotas de fundos de investimento e empréstimos contratados no Brasil e exterior. Já os bancos mercantis fornecem capital para as empresas a partir de ações e não de
empréstimos. Assim, esses bancos têm como principal função trabalhar com as operações
internacionais das empresas.
Os bancos privados são aqueles que administram os recursos financeiros e os
investimentos de grandes fortunas, por exemplo, o Union Bank, na Suíça, e o ABN AMRO
Private Bank, em Luxemburgo. Os bancos
offshore são os bancos que estão localizados em países em que há pouca taxação sobre as
movimentações e sobre o capital, assim como pouca regulamentação. São exemplos os bancos da Suíça, o Banco General, no Panamá, e o
Bank of Nova Scotia, nas Ilhas Virgens Britânicas.
Por fim, temos os bancos comerciais que são os mais importantes para as empresas,
visto que são instituições financeiras constituídas como sociedades anônimas e têm como
função executar operações de crédito de curto prazo, atendendo à necessidade de capital
de giro das empresas. Com relação às operações de crédito, os bancos comerciais têm como
principais operações o desconto de títulos, crédito pessoal e crédito rural, adiantamentos sob
caução de títulos comerciais, cheques especiais, entre outras modalidades de crédito. Para
realizar essas operações, os bancos comerciais utilizam os recursos captados dos depósitos à
vista e a prazo, das operações de redesconto e de câmbio.
Para concluir o assunto sobre os agentes nacionais que integram o sistema financeiro
internacional, vamos conhecer um pouco mais sobre os Bancos Centrais. O Banco Central de
um país funciona como o banco nacional oficial. É este organismo que regula a quantidade de
moeda ofertada, assim como de crédito. Ele também é responsável por emitir a moeda
nacional, bem como administrar a taxa de câmbio, controlar o volume de reservas financeiras
dos bancos privados e implementar a política monetária definida pelos agentes responsáveis.
Para realizar a política monetária definida, o Banco Central pode utilizar a compra e venda de
moeda, a elevação ou redução da taxa de juros e comprar ou vender títulos governamentais.
Por fim, temos os organismos financeiros internacionais, como o FMI, o Banco Mundial
e o Banco de Compensações Internacional. Como já estudamos o FMI e o Banco Mundial
mais a fundo e você já compreende sua função no sistema financeiro internacional, que se
manteve quase a mesma desde a sua criação no acordo de Bretton Woods, vamos focar
nossos esforços em conhecer o que é o Banco de Compensações Internacional.
O Banco de Compensações Internacional, também chamado de BIS, é uma organização
internacional em funcionamento desde 1930 e tem sua sede na Suíça. O objetivo dessa
instituição é promover a cooperação entre os bancos centrais e outros órgãos governamentais,
para que se mantenha a estabilidade dos sistemas monetários e financeiros no cenário
internacional.
Para cumprir com este objetivo, essa instituição fornece serviços bancários aos bancos
centrais dos países e presta auxílio na elaboração de uma política monetária sólida, quando
lhe é solicitado. O Banco de Compensações Internacional também busca assegurar que os
bancos centrais mantenham reservas acima da prescrição mínima, o que auxilia a evitar
que os países tenham um endividamento excessivo, que comprometa sua capacidade de
investimento na economia nacional.

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