Aula 16 - Crises internacionais Flashcards

1
Q

1 Breve histórico das crises nos mercados emergentes

A

Desde a década de 1980 são os problemas econômicos quedos países em desenvolvimento ou pouco desenvolvidos que estão chamando a atenção para o futuro da economia internacional.
Após a Segunda Guerra Mundial, houve um aumento das relações comerciais entre os países desenvolvidos e os países mais pobres. Além disso os empréstimos feitos entre essas nações aumentaram, o que gerou uma interdependência entre as economias dos países.
A partir de 1997, essa interdependência ficou mais evidente, visto que vários países em desenvolvimento, também chamados emergentes, tiveram crises financeiras e o crescimento econômico mundial desacelerou. Assim, percebeu-se que os problemas dos países em desenvolvimento afetam significativamente o bem-estar e a política econômica dos países mais desenvolvidos.
Mas por que isso ocorre? Basicamente, os países em desenvolvimento possuem como característica pouco capital e trabalho especializado, isso contribui para baixos níveis de renda per capita e dificulta a existência de economias de escala. Mas por que isso ocorre? Basicamente, os países em desenvolvimento possuem como característica pouco capital e trabalho especializado, isso contribui para baixos níveis de renda per capita e dificulta a existência de economias de escala.
Podemos enumerar algumas características que os países emergentes tendem a ter em algum nível:
• Histórico de controle direto do governo sobre a economia, com restrições ao comércio internacional, à propriedade ou controle do governo sobre as transações financeiras internas, com alto nível de consumo do governo.
• Histórico de inflação alta. Isso ocorreu devido à incapacidade do governo em custear seus gastos a partir dos impostos recolhidos. Essa incapacidade também deriva da evasão tributária, ou seja, o mercado informal é muito grande, o que impossibilita o governo de recolher os impostos devidamente. Assim, alguns países, para custear seus gastos, imprimem moeda, o que causou inflação ou hiperinflação em diversos países.
• Instituições de crédito fracas, com financiamento de projetos pouco promissores ou muito arriscados. Além disso, as proteções do governo ao mercado financeiro costumam ser ineficazes devido à incompetência, inexperiência e fraudes. Já para os acionistas, nestes mercados pode ser difícil de saber como as empresas estão sendo geridas e controlar seus administradores.
• As taxas de câmbio costumam ser fixas ou administradas pelo governo. Esses países costumam tomar essas medidas a fim de manter a inflação sob controle, assim como de evitar que as taxas flutuem excessivamente. Além disso, há um controle sobre as transações de câmbio ligadas ao comércio de ativos, ou seja, os países têm buscado controlar o movimento de capitais.
• Recursos naturais e agrícolas compõem grande parte das exportações, como o petróleo na Rússia, o ouro na África do Sul e o café na Colômbia.
• Elevado nível de corrupção na sociedade. Devido às tentativas de burlar os controles, impostos e regulamentações do governo, esses países têm apresentado elevada taxa de corrupção, como suborno e extorsão.
Muitas das características que apresentamos acima foram constituídas a partir da década de 1930, com a crise da Bolsa de Nova Iorque. Para se preservarem, os países tentaram controlar o comércio e os meios de pagamento para a manutenção do emprego e de suas reservas cambiais. Isso ocorreu também nos países desenvolvidos, no entanto, o que se percebe é que esse maior controle do governo sobre a produção e o emprego é mais persistente nos países em desenvolvimento.
Assim, para compreendermos as crises que ocorreram, precisamos salientar outra característica dos países em desenvolvimento, os empréstimos. Esses países recorreram intensamente à entrada de capitais do exterior para financiar o investimento interno. Essas dívidas geraram as várias crises que estudaremos aqui.

1.1 Crises na América Latina

A partir da década de 1990 são retomados os fluxos de capital para os países em desenvolvimento, inclusive os países da América Latina. Além disso, esses países fizeram várias mudanças em suas políticas econômicas para estabilizarem a inflação. Para isso, foi preciso limitar o papel dos governos na economia e combater a sonegação fiscal. Também foram realizadas reduções das barreiras comerciais, desregulamentação dos mercados de trabalho e de produtos, assim como um investimento na melhoria e transparência dos mercados financeiros.
Juntamente com essas políticas, houve um aumento das privatizações no continente. Essas privatizações foram importantes, pois ajudavam a incentivar a eficiência e concorrência, assim como diminuía os custos do governo em cobrir as perdas das empresas estatais mal administradas. A crise da dívida externa que o continente sofreu na década de 1980 gerou um crescimento pífio na economia desses países, assim, os políticos foram obrigados a alterar a política econômica na década seguinte.
As políticas econômicas adotadas pelos países da América Latina neste período tiveram resultados diferentes. Na Argentina, durante as décadas de 1970 e 1980 foram feitas diversas tentativas de estabilizar a inflação, com reformas monetárias, controles de preços, controle da taxa de câmbio, entre outras medidas. No entanto, os déficits orçamentários do governo não foram diminuídos e os programas de estabilização fracassaram. Somente na década de 1990 conseguiu-se implementar uma reforma econômica e política eficiente. Foi realizado, neste período, uma redução das tarifas de importação, corte nos gastos do governo, privatização das principais empresas estatais e uma reforma tributária que conseguiu elevar a receita do governo.
Outra medida importante deste período de reforma foi a Lei de Conversibilidade, em que a moeda argentina seria totalmente conversível ao dólar americano a uma taxa fixa de um peso para cada dólar. Isso exigiu que toda a base monetária da Argentina fosse lastreada em ouro ou moeda estrangeira, reduzindo a capacidade do banco central de financiar os gastos do governo por meio de emissão de moeda.
Enfim, este pacote de reformas funcionou, o que fez a inflação cair de 800% em 1990 para 5% em 1995. Além disso, ocorreu no período uma valorização do peso argentino, o que gerou desemprego e déficit das transações correntes. Esses fatores, juntamente com a crise mexicana em 1995 e um ataque especulativo à moeda argentina, fizeram com que as taxas de juros aumentassem. Assim, os custos para se tomar empréstimo se tornaram mais caros, o que dificultou o aumento de produção.
O Banco Central estava impossibilitado de auxiliar o sistema financeiro nacional devido à Lei de Conversibilidade e recorreu a empréstimos de agências oficiais, como o Banco Mundial e o FMI para socorrer o sistema financeiro e a economia nacional. Porém, o PIB do país caiu e o desemprego aumentou. Os argentinos continuaram apoiando a política econômica vigente com receio do retorno na hiperinflação, e o governo reforçou o sistema financeiro para reduzir os pontos problemáticos do sistema mostrados pela crise de 1995.
Em 1997 a economia havia voltado a crescer rapidamente, porém, no ano seguinte, com a crise dos países em desenvolvimento, o crescimento se tornou negativo e à medida que a economia mundial entrava em recessão, o crédito estrangeiro para a Argentina acabou. Com a recessão mundial em 2001, o país entrou em inadimplência da dívida externa e abandonou a paridade peso-dólar em 2002. Desde então, o país tem encontrado dificuldade para retomar o crescimento econômico e a estabilidade política.
O Brasil, assim como a Argentina, também sofreu com a inflação na década de 1980, e para controlar a hiperinflação, adotou diversas reformas monetárias, porém o processo de desinflação demorou mais para acontecer. Em 1994, o Brasil adota o Plano Real em que foi realizada uma mudança programada da moeda para o real e um câmbio fixo com o dólar. Após um período inicial, o câmbio se tornou, aos poucos, flexível. Assim, a inflação brasileira caiu de 2.669% em 1994 para 10% em 1997.
Porém, o crescimento econômico não foi retomado, visto que a queda da inflação coincidiu com uma crise generalizada dos países em desenvolvimento. Além disso, o déficit fiscal do governo continuou alto, devido à alta taxa de juros para o pagamento da dívida externa. Essa taxa de juros refletia a insegurança do mercado financeiro, que não acreditava que a moeda nacional fosse conseguir se manter a partir das minidesvalorizações frente ao dólar, controladas pelo governo. Essa insegurança se mostrou correta em 1999, momento em que o governo precisou abandonar o controle do câmbio e deixá-lo totalmente flexível.
Como mencionamos ao falarmos da Argentina, o México também é um importante país para entendermos a América Latina. No final da década de 1980, o país realizou uma redução extensiva dos déficits públicos, instituiu metas para a taxa de câmbio e elaborou diretrizes para os salários e preços praticados juntamente com os sindicatos e as indústrias. Além disso, neste período fez acordos beneficiando o livre comércio, com início na adesão ao GATT e depois com o ingresso na OCDE (Organização Para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e no NAFTA.
No final da década de 1980 e início da década de 1990, o México fixou sua moeda, o peso, ao dólar americano, com minidesvalorizações até 1989 e bandas cambiais a partir de 1991. No entanto, o peso estava sempre no teto de valorização e com uma valorização abrupta da moeda e um déficit nas transações correntes houve uma queda brusca das reservas cambiais mexicanas em 1994. Esse cenário econômico foi ajudado por um cenário político instável. Neste período, o México enfrentava conflitos civis, com ameaças à transição presidencial e temores de desvalorização cambial. Outro fator que colaborou para a diminuição das reservas cambiais foi a ajuda contínua do governo a bancos em dificuldades.
As crises nos bancos se deram pela privatização completa do sistema bancário mexicano, que ocorreu de maneira rápida. Essa privatização gerou um sistema bancário sem uma regulamentação adequada e com livre acesso a fundos estrangeiros de captação de recursos. Para estimular o crescimento e reduzir o déficit das transações correntes, houve uma desvalorização do peso em 15%. Essa desvalorização gerou um ataque especulativo à moeda nacional e uma volta da flutuação cambial pelo governo. Essa medida gerou pânico nos investidores, o que ocasionou a derrubada do peso e impossibilitou o México de tomar empréstimos com taxas de juros adequadas.
Neste período, o México não pagou a dívida externa e só conseguiu evitar uma crise maior com um empréstimo de emergência feito pelos Estados Unidos e pelo FMI. A inflação voltou a aumentar e o PIB diminuiu 6% em 1995. O desemprego no período dobrou de tamanho, porém essa recessão durou somente um ano. Em 1996, o México voltou a diminuir sua inflação e recuperar sua economia com a retomada do acesso ao mercado de capitais e quitou sua dívida com os Estados Unidos antes do prazo.

1.2 Crises na Ásia

Os países da Ásia, principalmente do Leste, eram considerados como líderes dos países em desenvolvimento até 1997. Isto porque estes países, chamados de Tigres Asiáticos (Coreia do Sul, Filipinas, Indonésia, Malásia e Tailândia) tinham uma classificação de desenvolvimento muito maior do que os demais países considerados em desenvolvimento e com grandes taxas de crescimento. No entanto, em 1997, uma crise financeira derrubou suas economias e gerou uma crise mais ampla, que afetou países com a Rússia e o Brasil.
Apesar do forte crescimento na década de 1990, em 1997 uma grave crise financeira se abateu nestes países, a qual podemos explicar a partir de três pontos problemáticos em sua estrutura econômica. São eles: a produtividade, a regulamentação bancária e a estrutura legal. Falaremos sobre cada um deles isoladamente, pois estes pontos também afetaram a América Latina.
A respeito da produtividade, estudos apontaram que o aumento do crescimento econômico na região foi resultado do aumento da disponibilidade de dois fatores de produção, o capital e o trabalho. O capital ficou mais abundante na região devido aos investimentos estrangeiros na economia destes países e o trabalho aumentou em decorrência do deslocamento da mão de obra da agricultura para a indústria. No entanto, não houve aumento da produtividade, ou seja, a utilização dos insumos e dos fatores de produção não se tornou mais eficiente. Assim, antes da crise, os estudos já mostravam uma redução do crescimento devido à estabilização do capital e do trabalho.
A crise teve como principal aspecto maior importância à regulamentação bancária. O que se notou é que a maioria das economias asiáticas tinha uma regulamentação bancária ineficiente. Os investidores e depositantes domésticos consideravam o sistema bancário seguro por considerarem que os governos apoiariam os bancos em caso de dificuldade. No entanto, os bancos não estavam sujeitos à supervisão eficiente do governo a respeito dos riscos que corriam.
Percebeu-se que diversos países desta região tinham facilitado o acesso dos bancos ao mercado financeiro internacional e o dinheiro estrangeiro estava à disposição dos bancos asiáticos e, com isso, dos empresários locais. Assim, podemos observar que inúmeros empreendimentos de alto risco e por associação ao governo foram realizados sem os cuidados devidos. Alguns analistas sugerem que o excesso de empréstimos ajudou a criar uma expansão insustentável das economias, principalmente no setor de imóveis.
Com relação à estrutura legal, este aspecto só ficou evidente após a crise, pois se percebeu que esses países não tinham uma legislação eficiente para regulamentar as empresas com dificuldades e falência. Na maioria dos países existe uma legislação que ampara os trabalhadores e credores no caso de falência das empresas. Porém, nas economias asiáticas, essa legislação era frágil. Quando a crise começou, as empresas com dificuldades paravam de pagar suas dívidas e não conseguiam mais trabalhar de maneira eficiente, pois nenhuma instituição bancária iria lhes emprestar os recursos necessários enquanto tivessem dívidas pendentes. Assim, os credores ficavam sem receber.
Conhecidos os pontos fracos que ajudaram a gerar a crise e torná-la maior, vamos saber exatamente o que deflagrou essa crise. Inicialmente, o ponto conhecido como partida para toda a crise asiática foi a desvalorização da moeda tailandesa, em 1997. Durante o ano anterior, percebeu-se que existiam mais investimentos imobiliários do que a demanda por prédios comerciais, assim após a queda no mercado imobiliário veio a queda no mercado de ações.
A Tailândia, para se recuperar desses problemas, efetuou em 1997 uma desvalorização controlada de sua moeda, porém essa desvalorização saiu do controle e a especulação sobre a moeda tailandesa gerou uma queda maior do que o previsto, o que afetou os demais países asiáticos. No mesmo ano, o Japão estava com sua economia em desaceleração, o que afetou as exportações dos países menores que tinham uma relação estreita com esse país.
Todos os países atingidos pela crise, com exceção da Malásia, recorreram aos empréstimos do FMI. Juntamente com os empréstimos foram feitas recomendações de política econômica para os países que deveriam ajudar a tirá-los da crise. Entre as recomendações, estavam o aumento da taxa de juros, contenção do déficits orçamentários e reformas estruturais focadas nos pontos fracos que relatamos no início.
Assim, ao final da década de 1990, as moedas desses países voltaram a se estabilizar, as taxas de juros diminuíram, mas a crise causou desaceleração e até recessão em países próximos, como Hong Kong, Cingapura e Nova Zelândia. Porém, países não tão próximos como os da América Latina, Rússia e partes da Europa sofreram impactos desta crise. Nem todas as economias da região conseguiram sair da crise igualmente bem, visto que em 2001, com a recessão dos Estados Unidos, o crescimento da Ásia voltou a diminuir.

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2 Riscos e desafios dos mercados emergentes

A

Os mercados emergentes possuem alguns riscos que podem afetar sua viabilidade para o recebimento de negócios internacionais. Entre estes riscos vamos destacar os mais comumente encontrados em diversos países. Os riscos mais comuns são a instabilidade política; frágil proteção à propriedade intelectual; burocracia; disponibilidade e qualificação de parceiros e domínio de conglomerados.
A instabilidade política é percebida quando há uma ausência de governança confiável ou consistente nas autoridades públicas locais. Esse fator aumenta os custos do negócio, assim como intensifica os riscos e reduz a capacidade da gestão das empresas em prever as condições econômicas, políticas e estratégicas.
Normalmente, a instabilidade política está associada à corrupção e estruturas jurídicas frouxas. Essa associação desestimula o investimento estrangeiro e não desenvolve um ambiente confiável de negócios. Além disso, essas práticas costumam favorecer as empresas nacionais, pois possuem uma boa rede de relacionamentos. Na Rússia, as condições políticas instáveis ameaçam as atividades de empresas estrangeiras no país.
Outro risco comum nos países emergentes é a existência de pouca proteção à propriedade intelectual. Nestes países, mesmo que exista uma legislação, ela normalmente é frágil e não consegue ser aplicada a fim de evitar a falsificação e a utilização indevida sem o pagamento dos direitos autorais.
A burocracia e a falta de transparência constituem outro fator de risco e um desafio às empresas estrangeiras. As regras administrativas rígidas, com excesso de requisitos para licenças, aprovações e documentos retardam o início das atividades comerciais.
Comumente, o excesso de burocracia está associado à falta de transparência. Isso sugere que os sistemas judiciários e políticos não são abertos e confiáveis ao público. Logo, suborno, negligência e extorsão, no setor público, principalmente, causam dificuldades aos gestores. Nos locais em que as leis anticorrupção são frágeis, os gestores podem encontrar um ambiente favorável ao suborno para garantir a continuidade do processo de abertura de empresa, por exemplo.
Para facilitar o acesso a esses mercados, as empresas podem buscar parceiros locais. Este pode ser um desafio, visto que países pequenos, com poucas empresas instaladas, podem não contar com parceiros empresarias no mesmo setor ou em setores complementares.
Além disso, as empresas podem encontrar parceiros, porém, perceber que estes não são qualificados, ou seja, não possuem estrutura, processos ou conhecimentos que auxilie a empresa a conquistar vantagens dentro do país.
Por fim, a existência de grandes conglomerados pode dificultar a entrada de novas empresas no mesmo setor. Os conglomerados são empresas privadas que possuem um grande porte e alta diversificação de produtos. Além disso, nos países emergentes ainda existem grandes conglomerados familiares, o que concentra ainda mais a gestão e o acesso ao mercado. Alguns conglomerados controlam a maioria das atividades econômicas e dos empregos nos mercados emergentes.
Além disso, um conglomerado característico pode deter a maior participação de mercado em vários setores econômicos
Logo, os conglomerados contam com várias vantagens competitivas em seus países, como proteção e apoio governamental, conhecimento superior de mercado e acesso a capital.
Os governos geralmente protegem esses conglomerados com subsídios, empréstimos, incentivos fiscais e barreiras à entrada de concorrentes. Isso ocorre porque os conglomerados proporcionam grande receita tributária e facilitam o desenvolvimento econômico nacional. Além disso, eles podem ser bons concorrentes no mercado internacional e se tornarem parceiros capacitados, com muito poder de barganha.

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