Aula 13 - Patologia Hepática I Flashcards

Cirrose, Esquistossomose e síndromes hepáticas

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1
Q

Apresente os aspectos de normalidade relevantes do fígado: peso, funções, localização e tipo de circulação.

A

Órgão sólido, localizado no hipocôndrio direito, revestido pela cápsula de Glisson. Pesa de 1,3 Kg a 1,8 Kg.

Funções: síntese de proteínas (albumina, bilirrubina, fatores de coagulação, citocromo P450), metabolismo, armazenamento (ex: glicogênio), função excretora (bile e colesterol) e defesa (células de Kupffer)

O fígado tem dupla circulação sanguínea, uma arterial e uma venosa (artéria hepática e veia porta), que se misturam e saem do órgão pela veia hepática.

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2
Q

Ainda dentro dos aspectos de normalidade, defina o que é lóbulos hepático, ácino de Rappaport e sua divisão em zonas.

A

O fígado é dividido microscopicamente em lobos hepáticos. Eles tem um formato hexagonal, cujo centro do hexágono tem a veia centro-lobular (VCL) e cada vértice tem o espaço-porta (EP), formado por veia-porta, artéria hepática e ducto biliar.

O lobo hepático pode ser dividido em 6 triângulos, cada qual denominado ácino de Rappaport, e pode ser dividido em zonas:

Zona 1 ou periportal (perto do EP)
Zona 3 ou pervivenular (perto da VCL)
Zona 2 ou mediozonal (entre as zonas 1 e 3)

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3
Q

Quais as possíveis alterações circulatórias que podem ocorrer no fígado?

A
  • Bloqueio da circulação arterial, que pode causar infarto (raro, devido à duplas circulação; costumam ser pequenos e hemorrágicos); esse bloqueio também pode ocorrer me fígados transplantados
  • Influxo de sangue ou fluxo intra-hepático insuficientes, devido à cirrose hepática ou trombose na veia-porta (obstrução). Isso resulta em hipertensão portal
  • Bloqueio da drenagem pelas veias hepáticas, causando represamento de sangue no fígado, devido à ICC (fígado em noz moscada) e à Síndrome de Budd-Chari (trombose ou compressão das veias hepáticas ou veia cava inferior)
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4
Q

Descreva a patogenia do fígado cardíaco, seu aspecto morfológico característico e seus sintomas

A

Patogenia: coração direito insuficiente leva á congestão da VCI, das veias hepáticas e então das veias centro-lobulares (é o achado principal na macroscopia), onde predomina a congestão. Se o quadro persistir, os capilares sinusoides são congesto, depois o espaço portal e então a veia porta, podendo causar hipertensão portal, necrose e hemorragia centro-lobular (rompimento das veias congestas).

Sintomas: quando o fígado está muito congesto, podemos ter uma hepatomegalia congestiva dolorosa, pois a dilatação das veias aumenta o volume do órgão, distendendo a cápsula de Glisson, o que causa dor.

Aspecto morfológico: fígado em noz moscada (pontos vermelhos na região de congestão das VCL, na zona 3; caso todo ele estivesse congesto, ele estaria todo vermelho)

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5
Q

O que a síndrome de Budd-Chiari

A

É uma congestão hepática causada por obstrução da veia vaca inferior ou da veias veias hepáticas, devido a distúrbios trombolíticos diversos.

Clínica: como as veias estão obstruídas, aumento da pressão intra-hepática, resultando em hepatomegalia congestiva dolorosa, ascite e hipertensão portal.

Morfologia: semelhante ao fígado em noz moscada, mas com maior congestão (fígado todo vermelho e com áreas pretas, onde há hemorragia)

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6
Q

Quais exames laboratoriais são realizados quando suspeita-se de alterações hepáticas?

A

De forma geral, as doenças hepáticas são insidiosas (clínica tardia, com meses a anos para se manifestar). Assim, lesões e cicatrizações podem, passar despercebidas.

Provas de função hepática:

  • Presença de TGO (AST) , TGP (ALT) (mais específica) e GGT (gama GT)no sangue indicam lesão hepática (não necessariamente insuficiência hepática)
  • Fosfatase alcalina e GGT indicam lesão de via biliar
  • Presença de bilirrubina no sangue causa icterícia
  • Redução de albumina e fatores de coagulação no sangue (fibrinogênio, protrombina, ect) indicam insuficiência hepática
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7
Q

Defina cirrose hepática e sua patogênese

A

A cirrose é o estágio final de muitas doenças hepáticas após uma série de agressões ao fígado. Dentre elas estão: hepatites virais (B e C), autoimunes e alcóolicas; doenças de origem metabólica (ex: esteatose hepática de origem não alcóolica, hemocromatose, doença de Wilson e deficiência de alfa-1-antipripsina), doenças vasculares e biliares. Obs: cirrose criptogênica = idiopática

Patogênese:
1- Necrose hepatocelular, decorrentes de agressões diversas que causam comprometimento arquietetural

2- Proliferação de componentes estromais (colapso da trama reticulínica + neoformação de fibras colagênicas (fase pré-fibrótica)

3- Regeneração hepatocitária, com uma fibrose que insufla o parênquima, deixando o órgão com nódulos hepatocitários regenerativos

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8
Q

Quais são as três lesões fundamentais da cirrose hepática?

A

1- Neoformações conjuntivas em todo o órgão
2- Formação de nódulos hepatocitários regenerativos circundados por fibrose
3- Subversão da arquitetura lobular

A cirrose é uma condição caracterizada por nódulos regenerativos difusos circundados por faixas fibrosas e graus variados de derivações/shunts vasculares (muitas vezes portossistêmicos), que atrapalham o funcionamento do órgão e o fluxo sanguíneo e biliar.

Essa destruição de hepatócitos reduz o peso do órgão, que pode pesar menos de 800g.

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9
Q

O que é a classificação de Child-Pugh*?

A

A classificação de Child-Pugh é um fator preditivo razoavelmente confiável de sobrevida de várias doenças hepáticas e antecipa a probabilidade de complicações importantes da cirrose, como insuficiência hepática crônica e hipertensão portal.

Pode ser classificada em:

A - Bem compensada
B - Parcialmente descompensada
C - Descompensada

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10
Q

É possível que as cicatrizes cirróticas regridam?

A

Sim, atualmente muitos tratamentos eficazes tem mostrado que é possível que as cicatrizes se fragmentem, apesar de ser um evento raro.

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11
Q

Como a cirrose pode se classificada em morfologia?

A

Cirrose micronodular:

  • nódulos de 2 a 3 cm
  • septos de espessura uniforme
  • superfície refular

Cirrose macronodular

  • nódulos de formatos e tamanhos distintos
  • septos de espessura variável
  • superfície irregular

A cirrose também pode ser mista.

Essas classificações, porém, têm pouca utilidade na clínica.

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12
Q

Quais os sintomas e complicações da cirrose?

A

Aproximadamente 40% dos indivíduos são assintomáticos até nos estágios mais avançados da doença (apenas a cápsula de Glisson é sensitiva). Quando sintomática, as manifestações são inespecíficas: anorexia, perda de peso, fraqueza, dores abdominais, etc.

As complicações incluem síndromes hepáticas como:

  • Insuficiência hepática crônica
  • Hipertensão portal
  • Carcinoma hepatocelular (pelas regenerações constantes)

O óbito ocorre muitas vezes por insuficiência hepática, HDA (ex: ruptura de varizes esofágicas pela hipertensão portal), encefalopatia hepática e infecções recorrentes.

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13
Q

Defina insuficiência hepática crônica e sua clínica

A

É a incapacidade do fígado de exercer suas funções, devido, frequentemente, à cirrose hepática.

Suas principais causas incluem hepatite B e C crônicas e hepatites alcoólicas e não alcóolicas.

Clínica

  • Icterícia, tanto por ↑BD (dificuldade para escoar a bilirrubina) quanto por ↑BI (menos hepatócitos para processar a bilirrubina)
  • Ascite (devido à hipoalbuminemia, pois lembre-se que a albumina é um dos principais reguladores da pressão hidrostática)
  • Hemorragias (redução de fatores de coagulação)
  • Hiperestrogenismo
  • Encefalopatia hepática
  • Síndrome hepatorrenal
  • Halitose
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14
Q

Por que a insuficiência hepática crônica causa hiperestrogenismo e quais as consequências clínicas disso?

A

Ocorre aumento de estrogênio no organismo pois o fígado é responsável por metabolizar o estrógeno.

Isso leva ao surgimento de aranhas vasculares ou angiomas aracniformes (pois o estrógeno é vasodilatador) e, nos homens, ginecomastia e hipotrofia testicular

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15
Q

O que é a encefalopatia hepática?

A

O aumentos de substâncias nos sangue que deveriam ser metabolizadas pelo fígado (principalmente a amônia) acabam sendo tóxicas para o cérebro, o que causa manifestações neuropsíquicas, como alterações de consciência, mudanças comportamentais sutis, até confusão acentuada, coma e morte.

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16
Q

O que é a peritonite bacteriana espontânea (PBE)?

A

A peritonite bacteriana espontânea é particularmente comum na ascite causada por cirrose hepática.

É uma infecção do líquido ascítico sem uma fonte aparente. Manifestações podem incluir febre, mal-estar, sintomas de ascite e agravamento da insuficiência hepática. O diagnóstico é por meio de exame do líquido ascítico e o tratamento com ATB, sendo que costuma ser causada pela E. coli, pela K. pnemoniae e S. pneumoniae (microbiota intestinal).

17
Q

O que é a síndrome hepatorrenal?

A

É uma insuficiência renal decorrente da insuficiência hepática, sem que haja lesão aparente nos rins.

Patogênese: o fígado lesionado leva à vasodilatação sistêmica por diversos fatores, dentre eles a dificuldade em metabolizar agentes vasodilatadores.

Essa vasodilatação sistêmica afeta as artérias renais, que interpretam essa situação como hipotensão. O SRAA é acionado, levando à vasoconstrição das arteríolas renais e, consequentemente, redução da filtração glomerular.

Como resultado, ocorre oligúria (menos sangue chega aos rins devido à sua vasoconstrição) e, como há menos filtração no glomérulo, ocorre aumento dos níveis séricos de ureia e creatinina.

18
Q

Por que ocorre alitose na insuficência hepática?

A

Também chamado de fetor hepacitus (hálito hepático), é decorrente da dificuldade do fígado em metabolizar tióis (compostos organo-sulforados ou mercaptanos), que passam, portanto, a serem metabolizados pelos pulmões.

19
Q

O que é hipertensão portal e como ela pode ser classificada de acordo com suas causas?

A

Hipertensão portal é o aumento da pressão venosa no sistema porta-hepático (>17mmHg), devido ao aumento da resistência no fluxo sanguíneo.

Ela pode ser classificada em:

Pré-hepática: hipertensão portal causada por obstrução da veia-porta antes de sua ramificação no interior do fígado.

Causas: trombose obstrutiva, compressão portal extrínseca (tumor). Frequentemente, ocorre esplenomegalia como consequência ao aumento da pressão na veia porta (congestão esplênica).

Pós-hepática: causada pela Síndrome de Budd-Chari (trombose ou compressão das veias hepáticas ou veia cava inferior) e ICC direita severa.

Intra-hepática: a maioria dos casos de hipertensão portal, causada majoritariamente por cirrose (compressão dos vasos sinusoidais), mas também pode ser causada por esquistossomose (compressão dos vasos pré-sinusoidais)

20
Q

A hipertensão portal (HP) têm várias causas, mas a mais comum é a cirrose. Pensando nisso, descreva a patogenia da HP tendo a cirrose como patologia pregressa

A

A cirrose causa aumento da pressão na veia porta devido a três motivos principais:

  • compressão dos vasos sinusoidais pela fibrose e pelos nódulos
  • shunts arteriovenosos intra-hepáticos (ocorre um desvio das artérias para as veias, ou seja, sangue arterial é bombeado para as veias, o que aumenta a pressão intravenosa)
  • lesão no endotélio sinusoidal, que leva à redução de NO e aumento de angiotensina e endotelina
21
Q

Por que a hipertensão portal pode causar, de forma indireta, plaquetopenia ou pancitopenia?

A

O aumento na pressão na veia-porta dificulta a drenagem venosa no baço, o que causa esplenomegalia congestiva (pode chegar a 1Kg, sendo que o normal é até 250g).

Como consequência, ocorre hiperesplenismo, ou seja, aumento da função do baço, que consiste em destruir células sanguíneas antigas no sangue. Por esse motivo, essa condição pode levar ao excesso dessa remoção, causando plaquetopenia e à pancitopenia.

22
Q

Um achado semiológico da hipertensão portal é a “cabeça de medusa” (caput meduseae). Explique o que é esse achado e sua causa.

A

A hipertensão portal causa a dilatação de veias tributárias, como as que irrigam o esôfago (varizes gastroesofágicas) e as que irrigam o ânus, causando hemorroidas.

As veias periumbilicais, anteriores ao sistema porta, quando dilatam, ficam proeminentes no abdome do indivíduo e lembram as cobras na cabeça da medusa.

23
Q

Por que a hipertensão portal pode causar ascite?

A

Como há aumento da pressão na veia-porta, há aumento na pressão hidrostática, somada ao fato de que, como muitas vezes a insuficiência hepática está relacionada à condição, a hipoalbuminemia também piora o edema. Além disso, como esse líquido foi empurrado dos vasos para a cavidade, ocorre hipovolemia, o que ativa o SRAA, levado ao aumento da retenção de água e sais, o que também agrava o edema.

  • A condição é clinicamente detectável quando há pelo menos 500ml de transudato na cavidade abdominal
  • Transudato: baixo nível proteico (<3mg/dL)
  • Risco de peritonite bacteriana espontânea (PBE), devido à fata de opsoninas (função imunológica) no transudato. A infecção provavelmente ocorre devido ao contato do líquido com a flora intestinal e pode ser fatal.
24
Q

Em resumo, quais as possíveis manifestações clínicas de uma pessoa com cirrose hepática, pensando que elas estão relacionadas à hipertensão portal e à insuficiência hepática?

A
  • Icterícia (pode ser de BD ou BI)
  • Desnutrição
  • Encefalopatia hepática
  • Síndrome hepato-renal
  • Angiomas aracniformes na pele (“aranhas vasculares”)
  • Varizes esofágicas
  • “Cabeça de medusa” (dilatação das veias periumbilicais)
  • Hemorroidas
  • Esplenomegalia
  • Ascite
  • Ginecomastia e atrofia testicular
25
Q

A esquistossomose é uma doença parasitária que, em sua fase aguda, apresenta sintomas inespecíficos. Em sua forma crônica (> 6 meses de infecção), porém, pode causar problemas no fígado.

Cite as possíveis formas crônicas de infecção devido à esquistossomose e porque elas ocorrem.

A

A infecção crônica é mais comumente decorrente de exposição repetida em regiões endêmicas, mas também pode ocorrer após exposição breve, como ocorre em viajantes. Seus sintomas decorrem da reação granulomatosa aos ovos do parasita em outros órgãos, como cérebro, pulmões e rins, mas principalmente e mais frequentemente, o fígado.

Formas crônicas:

  • Hepatointestinal (sem hepatomegalia)
  • Hepática avançada (com hepatomegalia, sem hipetensão portal)
  • Hepatoesplênica (com hipertensão portal)

Nosso foco será na hepatoesplênica

26
Q

Apresente as características da forma hepatoesplênica da esquistossomose

A
  • Mais comum em áreas endêmicas, pois está relacionada à reinfecções e à elevada carga parasitária
  • É a forma clínica de maior relevância (complicações)
  • 4% a 10% dos indivíduos evoluem para essa forma
  • Pode levar cerca de 5 a 15 anos para se manifestar
27
Q

Descreva a patogenia da forma hepatoesplênica da esquistossomose

A

Os ovos depositados nas veias mesentéricas podem parar nos fígado e obstruí-las. Isso gera uma reação inflamatória granulomatosa, que aumenta a pressão no sistema venoso intra-hepático (hipertensão portal). Em resposta, novas vênulas colaterais se formam, mas também podem ser obstruídas, causando fibrose.

A fibrose decorrente da inflamação granulomatosa hepática pela esquistossomose chama-se fibrose de Symmers-Bogliolo ou “fibrose em haste de cachimbo” e ela OCORRE APENAS NO ESPAÇO PORTAL. Os hepatócitos não sofrem lesão na esquistossomose, portanto a arquitetura lobular do órgão na microscopia é preservada.

28
Q

Como é o fígado da forma hepatoesplênica da esquistossomose?

A

Superfície externa:
- Consistência firme e endurecida

  • Superfície externa irregular devido à retração da cápsula de Glisson, criando pseudonódulos (aspecto pseucirrótico)

Na superfície de corte:

  • Alargamento estrelar e irregular dos espaços portais devido à fibrose
  • Fibrose de Symmers-Bogliolo (em “haste de cachimbo”)
29
Q

Como é a clínica da forma hepatoesplênica da esquistossomose?

A
  • Hipertensão portal: circulação colateral (varizes esofágicas, hemorroidas, “cabeça de medusa”), hepatoesplenomegalia, ascite (“barriga d’água”)

Forma compensada:

  • Forma mais comum
  • Clínica: apenas hipertensão portal
  • Costuma acometer pessoas com idade entre 10 e 30 anos

Forma descompensada:

  • Rara
  • Clínica: hipertensão portal +insuficiência hepática (geralmente porque a pessoa já tem uma doença hepática)
  • Geralmente acomete pessoas com > 35 anos
  • Sintomas podem incluir: icterícia, ascite, hipertensão portal, edema de MMII, eritema palmar, aranhas vasculares, etc