O Tornozelo e o Pé Flashcards
ANATOMIA FUNCIONAL
3 unidades funcionais
O tornozelo e o pé constituem uma estrutura muito complexa, mas dotada de extraordinária versatilidade e resistência.
A função principal consiste no suporte do peso corporal e sua distribuição por toda a estrutura (de forma a ser suportável) associado a um efeito de mola que facilita a marcha. Ao mesmo tempo, estas estruturas têm a capacidade de se adaptar às irregularidades do piso e às variações constantes de exigência mecânica que lhe impomos.
- *Tornozelo e pé são constituídos por três unidades funcíonais:
a) o retropé • composto pelas extremidades distais da tíbia e fíbula, talus (astrágalo), calcâneo e respectivas articulações e ligamentos;
b) o tarso· composto por cinco ossos de pequenas dimensões;
c) o antepé - constituído pelos metatarsos, falanges proximais, médias e distais e respectivas articulações.**
As articulações do retropé são estabilizadas por um conjunto complexo de ligamentos. Estes ligamentos, especialmente os da tíbio-társica, são sede frequente de lesão traumática, com entorse ou ruptura, de que pode resultar instabilidade articular aguda e crónica.
ANATOMIA FUNCIONAL
Os arcos do Pé
Estas estruturas ósseas mantêm, em condições normais, uma disposição em arco, que é fundamental para a distribuição de cargas e efeito de mola.
O arco ãntero-posterior é mais acentuado na parte média e interna do pé. É mantido pela forma dos ossos e ainda por ligamentos que conferem resistência e elasticidade(figura 14.2.). O mais superficial é a fascia plantar, uma banda fibrosa resistente, que une o bordo inferior do calcãneo ao ligamento transversal dos metatarsos (sob as suas extremidades distais). Esta lascia está exposta, como se compreende, a poderosíssimas forças de distensão e a traumatismos de compressão, que conduzem, com frequência, a inflamação junto da sua inserção posterior - fasciíte plantar.
A perda deste arco ântero-posterior resulta no chamado pé plano. Acompanha-se de um desvio para fora do antepé. Pode ser congénito, mas observa-se, com frequência, em portadores de artrite crónica como resultado da lassidão ligamentar e colapso da articulação entre o tatus e o navicular.
Existe também um arco transversal, mais acentuado ao nível do tarso, mas que persiste, mais discreto, ao nivel das articulações metatarso-falângicas. Em condições normais, a 3.ª e 4.ª metatarso-falângicas não contactam com o solo.
Em artrítícos crónicos, como na artrite reumatóide, a lassidão ligamentar instalada leva ao colapso, ou mesmo à inversão deste arco, resultando em calosidades dolorosas sob as articulações metatarso falângicas médias.
ANATOMIA FUNCIONAL
Os movimentos
O retropé é capaz de movimentos de dorsiffexão e extensão, sedeados na articulação tíbiotársica (tornozelo).
A articulação subtalar, entre o talus e a face superior do calcâneo, tem um papel essencial nos movimentos de inversão e eversão do pé, no que é complementada pelas articulações do tarso.
Metatarso-falângicas e interfalângicas são dotadas de movimentos de flexão/extensão.
A dorsiflexão do pé depende do músculo tibial anterior (raízes L4-L5, nervo peroneal profundo.
A extensão do pé resulta essencialmente da contracção dos gémeos, que se inserem no bordo póstero-superior do calcâneo pelo poderoso tendão de Aquiles (raízes S1 -S2; nervo tibial).
Este tendão está ladeado por uma bolsa serosa anterior e outra posterior. Tendão e bolsas serosas são sede frequente de processo inflamatório doloroso.
Os movimentos de eversão são determinados por contracção dos longo e curto peroneais, cujos tendões passam por detrás do maléolo externo, rodeados de uma bainha tendinosa e se inserem por um tendão comum na base do 5.º metatársico.
A inversão resulta principalmente da acção do tibial posterior, cujo tendão passa posteriormente ao maléolo interno e se insere no cuneiforme.
ANATOMIA FUNCIONAL
Inervação
A inervação cutânea e motora dos dedos dos pés é veiculada por nervos, que se dispõem entre os metatarsos e articulações metatarso-falângicas, onde podem ser objecto de lesão traumática repetida, induzida especialmente pelo uso de calçado apertado. Daqui resulta a metatarsalgia de Morton.
Anatomia radiológica.
As radiografias de frente e perfil do tornozelo (figura 14.4.) permitem uma boa apreciação do espaço articular, bordos ósseos e osso subcondral.
No perfil é bem visível o ponto de inserção do tendão de Aquiles, que pode apresentar erosões e calcificações. As articulações subtalar e talo escafóideia são também apreciáveis nesta incidência.
A radiografia de frente do pé permite uma boa apreciação das articulações tarsometatársicas e metalarso-falângicas. Note o espaço articular e a existência de erosões ou osteófitos.
A incidência oblíqua complementa este estudo e permite melhor visualização das articulações do tarso (figura 14.5.) .
As interfalângicas não são bem visualizadas em radiografia standard.
Anatomia radiológica.
Utilidade da incidencia obliqua
A incidência oblíqua complementa este estudo e permite melhor visualização das articulações do tarso (figura 14.5.) .
CAUSAS COMUNS OE DOR NO TORNOZELO E NO PÉ.
A patologia dolorosa do pé é dominada por alterações da estática e conflitos com o calçado. A fasciíte plantar assume grande importância em doentes de meia-idade e idosos.
Na juventude, as lesões traumáticas são as mais frequentes.
A gota tem na 1 .ª metatarso-falângica a sua ocalização inaugural preferencial (podagra), sendo relativamente frequente em homens de meia-idade.
As articulações desta área participam com muita frequência em poliartropatias degenerativas e inflamatórias de vário tipo.
Note-se, contudo, que a artrose primária só surge com alguma frequência no tarso e na 1.ª articulação metatarso-falângica. A sua presença noutras articulações, incluindo a tíbio-társica, é rara e deve sugerir artrose secundária a outra causa
(trauma, infecção, etc.).
INTERROGATÓRIO.
Onde dói?
NTERROGATÓRIO.
O inquérito deve dirigir-se aos aspectos que são característicos de cada afecção e ao esclarecimento dos que as distinguem.
Onde dói?
O quadro 14.1. oferece evidência da importância desta informação. De uma maneira geral, as dores do tornozelo e do pé são, de facto, bem localizadas, apontando para a estrutura lesada.
Dores difusas, localizadas ao tarso, podem ser devidas a artrose local ou, mais frequentemente, a alterações da estática do pé e calçado inadequado. A metatarsalgia de Morton pode ser assim descrita mas tem, em regra, uma distribuição mais anterior.
INTERROGATÓRIO.
Como começou?
O início agudo das dores pode ser encontrado na gota e nas entorses.
Fasciíte plantar, tendinite ou bursite aquiliana, artrite não microcristalina e dactilite instalam-se, habitualmente, ao longo de alguns dias ou semanas.
As dores relacionadas com artrose, metatarsalgia de Morton, deformidades dos pés e dedos decorrem geralmente ao longo de meses ou anos antes que o doente procure o médico.
INTERROGATÓRIO.
Qual o ritmo da dor?
A esmagadora maioria das dores desta área terá ritmo mecânico, quer porque se trata de alterações degenerativas, quer porque, sendo de natureza inflamatória, é despertada pela compressão ou distensão da estrutura inflamada, como nos casos de tendinite aquiliana e fasciíte plantar.
Note que as dores relacionadas com alteraçóes estáticas dos pés são muijas vezes acentuadas pela manhã. aos primeiros passos, aliviando depois e voltando a agravar-se com a marchaprolongada e ao fim do dia.
Quando a dor persiste em repouso, mesmo durante a noite, devemos suspeitar de artrite.
INTERROGATÓRIO.
Factores de agravamento.
Carga e marcha são factores comuns de agravamento das dores desta área, como se compreende.
A relação da dor com algum tipo especial de calçado (salto alto e sapato justo) aponta para alterações da estática ou metatarsalgia.
A artrite das metatarso-falângicas é também agravada nestas circunstâncias.
INTERROGATÓRIO.
Calçado habitual.
O calçado desempenha um papel fundamental na protecção dos pés e a sua inadequação é um factor de primordial importância no desencadeamento de dores agudas e alterações estruturais crónicas.
O salto alto conduz a uma sobrecarga acentuada do antepé, ao transferir boa parte do peso para esta área.
Um salto fino determina instabilidade acentuada do retropé, colocando uma notável sobrecarga nas estruturas ligamentares, que pode resultar em entorse repetida e crónica.
Sapatos justos e afilados contribuem de forma óbvia para o desencadeamento de hallux valgus, facilitam o aparecimento de metatarsalgia de Morton e agravam as dores relacionadas com deformidades dos dedos e artrite do antepé.
A sola fina e dura determina um traumatismo repetido das estruturas moles e ósseas dos pés, com dores que podem ser aliviadas por uma sola macia e amortecedora.
A parte posterior do calçado, se demasiado elevada e dura, pode traumatizar repetidamente o tendão de Aquiles, conduzindo a tendinite ou bursite.
INTERROGATÓRIO.
Hábitos de vida.
Muitas profissões e actividades de lazer, com cargas intensas e prolongadas, exigem um esforço sobre humano aos pés.
Este facto pode ser agravado se o terreno é irregular, o calçado duro e justo e o doente excessivamente pesado. Por vezes, é necessário explicar estes simples factos ao doente.
INTERROGATÓRIO.
Manifestações associadas.
O edema dos pés é extremamente frequente e só raramente é devido a processo inflamatório local. Insuficiência venosa dos membros inferiores, insuficiência cardíaca, renal ou hepática e outras causas mais simples de retenção hídrica são causas comuns de edema dos membros inferiores. Típicamente, nestes caso, o edema tende a ser bilateral e a predominar ao fim do dia e após ortostatismo, cedendo pela manhã ou após repouso com os membros elevados.
Na presença concomitante de dor e edema dos membros inferiores é fundamental proceder a esta destrinça.
Na artrite do tornozelo, a tumefacção é habitualmente moderada e limitada à área articular, não cedendo ao repouso.
A gota associa-se a tumefacção local acentuada com erítema e calor local intensos.
O inquérito sistemático procurará, sobretudo, manifestações articulares de outra localização, especialmente quando se suspeite de entesopatía ( vd manifestações de espondilartropatias seronegativas) ou artrite (artrite reumatóide, psoriática e outras).
As doenças associadas são também obviamente importantes: insuficiência cardíaca, em caso de edema; litíase renal, em caso de gota; antecedentes pépticos e traumáticos, etc. A diabetes mellitus determina com muita frequência sofrimento acentuado dos pés.