O joelho Flashcards
ANATOMIA FUNCIONAL.
Componentes da articulação
A articulação do joelho reúne três ossos: a extremidade distal do fémur, mediante os côndilos femorais; a extremidade proximal da tíbia, através dos pratos (ou côndilos) tibiais; e a patela, o maior osso sesamóide do corpo.
Os meniscos, estruturas de cartilagem hialina em forma de meia-lua e secção triangular, separam parcialmente as superfícies articulares interna e externa do fémur e da tíbia. Aderem à face interior da cápsula e facilitam a estabilidade e deslizamento da articulação, ao mesmo tempo que absorvem parte importante da carga mecânica da articulação (figura 13.1.). Os meniscos estão sujeitos a traumatismos múltiplos por fricção e “entalamento·, sendo causa frequente de sintomatologia.
Pode considerar-se que a articulação do joelho tem três compartimentos: femoro-tibial interno, femoro•tibial externo e patelo-femoral.
ANATOMIA FUNCIONAL.
Capsula e ligamentos
A cápsula articular rodeia completamente estas articulações, inserindo-se nos bordos da patela e ao longo dos bordos das superfícies articulares do fémur e tíbia. Na face anterior da extremidade distal do fémur, acima da patela, constitui um volumoso fundo de saco, onde se acumula preferencialmente o líquido articular, pelo que constitui um importante ponto de exame tisico na pesquisa de derrame articular e tumefacção (figura 13.2.). A face posterior da articulação confina com o escavado poplíteo. A este nível, a articulação pode comunicar com a bolsa serosa do semimembranoso, constituindo um fundo de saco poplíteo. Quando esta bolsa serosa está preenchida de líquido, forma uma massa ovalar visível e palpável, designada por quisto de Baker (figura 13.2.).
A cápsula articular é reforçada por ligamentos fibrosos resistentes, que unem o fémur à tíbia, constituindo os ligamentos colaterais interno e externo do joelho. Os ligamentos cruzados estão no interior da articulação. O cruzado anterior insere- se acima e atrás, na face interna do côndilo externo do fémur e abaixo e à frente na área intercondiliana anterior da tíbia: impede, por isso, movimentos de deslizamento anterior da tíbia sobre o fémur. O cruzado posterior tem a disposição inversa e impede os movimentos opostos (figura 13.1.). Os músculos que actuam na articulação têm um papel importante na sua estabilidade, podendo, quando competentes, compensar parcialmente fragilidades ligamentares.
ANATOMIA FUNCIONAL.
A patela
A patela está suspensa no seu local pelo quadricípede femoral, que se insere no seu bordo superior e pelo ligamento patelar (tendão rotuliano), que liga o seu pólo inferior à tuberosidade da tíbia. Lateralmente, inserem-se duas bandas fibrosas, as asas da patela (retínaculum patellae), que limitam a sua mobilidade lateral por inserção nas faces laterais dos côndilos.
Os movimentos de flexão e extensão do joelho, sob carga, determinam, como se compreende, a compressão firme da patela contra o fémur. Isto justifica que a artrose patelo·femoral seja mais frequente em obesos e determine dor predominante ao subir e descer escadas. Na presença de desvios deste osso (mais frequentemente externo), a pressão exerce·se predominantemente sobre o cõndilo desse lado, levando a desgaste acelerado e artrose precoce. Por detrás do tendão rotuliano, está uma bola adiposa, bola de Hoffa, que pode também inflamar.
A face anterior da patela é recoberta pela bolsa serosa pré-patelar, sede ocasional de processo inflamatório associado, em regra, a traumatismo repetido (“joelho de beata”).
ANATOMIA FUNCIONAL.
Movimentos do joelho
O joelho é dotado de movimento de flexão (cerca de 135º), dependente, no essencial dos músculos bicípete femoral, semitendinoso e semimembranoso, inervados por L5-S1. A extensão (0º) é imposta pelo quadricípede femoral, inervado por L3-L4. Ocorrem ainda no joelho movimentos discretos de deslizamento ântero-posterior e de rotação.
ANATOMIA FUNCIONAL.
pes anserinus (pata de ganso)
Na face ântero-ínterna da extremidade superior da tíbia, está inserida uma estrutura tendinosa complexa, composta pelos tendões dos músculos semimembranoso e semitendinoso, gracilis (vindos do ísquion ilíaco) e sartório (inserido superiormente na espinha ilíaca ântero-superior). Esta estrutura é designada por pes anserinus (pata de ganso). Disposta entre estes tendões, profundamente, está a bolsa serosa anserina. Estas estruturas são sede muito frequente de patologia dolorosa e incapacitante.
ANATOMIA FUNCIONAL.
Dermatomos
Anatomia radiológica.
Na radiografia ântero•posterior, em carga (figura 13.5.), aprecie a dimensão e a regularidade do espaço articular e dos bordos ósseos, dentro e na periferia da articulação. Note a densidade do osso subcondral.
No perfil, aprecie os mesmos aspectos e ainda a articulação patelo-femoral e a tuberosidade da tíbia.
As incidências tangenciais da patela a 30º complementam o estudo da articulação paleio-femoral.Note aqui o eventual desvio externo da patela, com diminuição de espaço articular ou esclerose.
CAUSAS COMUNS OE OOR NO JOELHO (GONALGIA).
A artrose constitui a causa mais comum de gonalgia.
Lesões periarticulares ocorrem com frequência, isoladas ou em associação a artropatia (quadro 13.1.).
As lesões de ligamentos e meniscos dominam as causas de gonalgia em jovens.
A instabilidade crónica do joelho contribui para a dor e para o agravamento do processo articular.
INTERROGATÓRIO.
O que pesquisar? (5)
Envolvlmento de outras articulações.
Sinais inflamatórios.
Instalação e evolução.
Ritmo de dor.
Idade.
INTERROGATÓRIO.
Idade.
A idade de início das queixas oferece pistas importantes quanto ao diagnóstico mais provável, como apresentado no quadro 13.2.
INTERROGATÓRIO.
Ritmo de dor.
Na maior parte dos casos de gonalgia, a dor tem ritmo mecânico, associando-se aos movimentos e aliviando com repouso.
Fazem excepção a artrite e também a burso•tendinite anserina, em que é comum o predomínio nocturno ou matinal.
INTERROGATÓRIO.
Instalação e evolução.
Enquanto as dores relacionadas com artrose ou quisto de Baker têm um início tipicamente insidioso e progressivo, ao longo de meses ou anos, as devidas a artrite ou a burso-tendinite tornam-se manifestas em alguns dias ou semanas.
As lesões ligamentares são, na maior parte das vezes, agudas e relacionadas com traumatismo importante.
As lesões meniscais traduzem-se, na maior parte dos doentes, por episódios recorrentes de dor autolimitada, especialmente relacionadas com movimentos de rotação sobre um pé, em carga. O doente pode descrever episódios de “falha” do joelho (perda repentina de força), ou de bloqueio, caso em que o joelho fica “encravado” em semiflexáo, retomando o movimento após algum tempo. Estas ocorrências podem associar-se a tumefacção transitória (alguns dias).
INTERROGATÓRIO.
Sinais inflamatórios.
A descrição, pelo doente, de sinais inflamatórios do joelho (tumefacção, calor ou rubor) é fortemente sugestiva de processo inflamatório local.
Note-se, contudo, que a artrose evoluída se acompanha, com frequência, de um derrame articular indolente.
Lesões meniscais e instabilidade crónica do joelho podem também determinar derrame articular.
INTERROGATÓRIO.
Envolvlmento de outras articulações.
A maior parte das artropatias do joelho está associada a envolvimento idêntico em outras articulações, cuja natureza e distribuição contribuem para o diagnóstico.
A gonartrose pode ser inaugural, mas muitos doentes terão também dores mecânicas e alterações degenerativas na coluna e, mais raramente, na anca.
Uma artrite aguda ou subaguda isolada do joelho deve ser considerada como séptica até prova contrária e orientada para estudo e tratamento adequados.
Não esqueça que dores com origem na anca ou na coluna podem irradiar ou mesmo predominar no joelho: é importante apreci ar clinicamente estas articulações, especialmente se o exame do joelho é inconclusivo.
EXAME CLÍNICO LOCO-REGIONAL
Ver.
Avalie a marcha do paciente quando ele entra na sala ou se dirige para a marquesa e o alinhamento dos joelhos com o doente em pé. Em condições normais, o eixo da coxa constitui com o da perna um ângulo de cerca de 5º , de abertura exterior. A acentuação deste ângulo é descrita como desvio em valgo (genu vatgum). O desvio oposto é designado por
genu varum, muito comum em portadores de artrose.
Note a posição espontânea dos joelhos com o doente deitado. Normalmente, o cavado popliteo entra em contacto com a marquesa. O afastamento indica limitação da extensão por dor e defesa do doente ou por alteração estrutural articular.
A tumefacção ou derrame do joelho é sugerida pelo apagamento dos relevos ósseos (por comparação com o contralateral.
Pode ser apreciável uma tumoração arredondada acima da pateta. Contudo, estes indícios têm que ser confirmados pela palpação.
O rubor articular é raramente visível, mesmo em casos de artrite: a sua presença está associada mais frequentemente a artrite séptica, a artrite microcristalina ou a artrite reactiva.
Valorize sinais de atrofia muscular, comuns em artropatias crónicas dos joelhos e em lesões neurológicas (figura 13. 7.). A pele que recobre a face anterior dos joelhos é sede frequente de lesões psoriáticas.