O joelho Flashcards

1
Q

ANATOMIA FUNCIONAL.

Componentes da articulação

A

A articulação do joelho reúne três ossos: a extremidade distal do fémur, mediante os côndilos femorais; a extremidade proximal da tíbia, através dos pratos (ou côndilos) tibiais; e a patela, o maior osso sesamóide do corpo.

Os meniscos, estruturas de cartilagem hialina em forma de meia-lua e secção triangular, separam parcialmente as superfícies articulares interna e externa do fémur e da tíbia. Aderem à face interior da cápsula e facilitam a estabilidade e deslizamento da articulação, ao mesmo tempo que absorvem parte importante da carga mecânica da articulação (figura 13.1.). Os meniscos estão sujeitos a traumatismos múltiplos por fricção e “entalamento·, sendo causa frequente de sintomatologia.
Pode considerar-se que a articulação do joelho tem três compartimentos: femoro-tibial interno, femoro•tibial externo e patelo-femoral.

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2
Q

ANATOMIA FUNCIONAL.

Capsula e ligamentos

A

A cápsula articular rodeia completamente estas articulações, inserindo-se nos bordos da patela e ao longo dos bordos das superfícies articulares do fémur e tíbia. Na face anterior da extremidade distal do fémur, acima da patela, constitui um volumoso fundo de saco, onde se acumula preferencialmente o líquido articular, pelo que constitui um importante ponto de exame tisico na pesquisa de derrame articular e tumefacção (figura 13.2.). A face posterior da articulação confina com o escavado poplíteo. A este nível, a articulação pode comunicar com a bolsa serosa do semimembranoso, constituindo um fundo de saco poplíteo. Quando esta bolsa serosa está preenchida de líquido, forma uma massa ovalar visível e palpável, designada por quisto de Baker (figura 13.2.).

A cápsula articular é reforçada por ligamentos fibrosos resistentes, que unem o fémur à tíbia, constituindo os ligamentos colaterais interno e externo do joelho. Os ligamentos cruzados estão no interior da articulação. O cruzado anterior insere- se acima e atrás, na face interna do côndilo externo do fémur e abaixo e à frente na área intercondiliana anterior da tíbia: impede, por isso, movimentos de deslizamento anterior da tíbia sobre o fémur. O cruzado posterior tem a disposição inversa e impede os movimentos opostos (figura 13.1.). Os músculos que actuam na articulação têm um papel importante na sua estabilidade, podendo, quando competentes, compensar parcialmente fragilidades ligamentares.

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3
Q

ANATOMIA FUNCIONAL.

A patela

A

A patela está suspensa no seu local pelo quadricípede femoral, que se insere no seu bordo superior e pelo ligamento patelar (tendão rotuliano), que liga o seu pólo inferior à tuberosidade da tíbia. Lateralmente, inserem-se duas bandas fibrosas, as asas da patela (retínaculum patellae), que limitam a sua mobilidade lateral por inserção nas faces laterais dos côndilos.

Os movimentos de flexão e extensão do joelho, sob carga, determinam, como se compreende, a compressão firme da patela contra o fémur. Isto justifica que a artrose patelo·femoral seja mais frequente em obesos e determine dor predominante ao subir e descer escadas. Na presença de desvios deste osso (mais frequentemente externo), a pressão exerce·se predominantemente sobre o cõndilo desse lado, levando a desgaste acelerado e artrose precoce. Por detrás do tendão rotuliano, está uma bola adiposa, bola de Hoffa, que pode também inflamar.
A face anterior da patela é recoberta pela bolsa serosa pré-patelar, sede ocasional de processo inflamatório associado, em regra, a traumatismo repetido (“joelho de beata”).

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4
Q

ANATOMIA FUNCIONAL.

Movimentos do joelho

A

O joelho é dotado de movimento de flexão (cerca de 135º), dependente, no essencial dos músculos bicípete femoral, semitendinoso e semimembranoso, inervados por L5-S1. A extensão (0º) é imposta pelo quadricípede femoral, inervado por L3-L4. Ocorrem ainda no joelho movimentos discretos de deslizamento ântero-posterior e de rotação.

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5
Q

ANATOMIA FUNCIONAL.

pes anserinus (pata de ganso)

A

Na face ântero-ínterna da extremidade superior da tíbia, está inserida uma estrutura tendinosa complexa, composta pelos tendões dos músculos semimembranoso e semitendinoso, gracilis (vindos do ísquion ilíaco) e sartório (inserido superiormente na espinha ilíaca ântero-superior). Esta estrutura é designada por pes anserinus (pata de ganso). Disposta entre estes tendões, profundamente, está a bolsa serosa anserina. Estas estruturas são sede muito frequente de patologia dolorosa e incapacitante.

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6
Q

ANATOMIA FUNCIONAL.

Dermatomos

A
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7
Q

Anatomia radiológica.

A

Na radiografia ântero•posterior, em carga (figura 13.5.), aprecie a dimensão e a regularidade do espaço articular e dos bordos ósseos, dentro e na periferia da articulação. Note a densidade do osso subcondral.

No perfil, aprecie os mesmos aspectos e ainda a articulação patelo-femoral e a tuberosidade da tíbia.

As incidências tangenciais da patela a 30º complementam o estudo da articulação paleio-femoral.Note aqui o eventual desvio externo da patela, com diminuição de espaço articular ou esclerose.

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8
Q

CAUSAS COMUNS OE OOR NO JOELHO (GONALGIA).

A

A artrose constitui a causa mais comum de gonalgia.

Lesões periarticulares ocorrem com frequência, isoladas ou em associação a artropatia (quadro 13.1.).

As lesões de ligamentos e meniscos dominam as causas de gonalgia em jovens.

A instabilidade crónica do joelho contribui para a dor e para o agravamento do processo articular.

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9
Q

INTERROGATÓRIO.

O que pesquisar? (5)

A

Envolvlmento de outras articulações.

Sinais inflamatórios.

Instalação e evolução.

Ritmo de dor.

Idade.

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10
Q

INTERROGATÓRIO.

Idade.

A

A idade de início das queixas oferece pistas importantes quanto ao diagnóstico mais provável, como apresentado no quadro 13.2.

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11
Q

INTERROGATÓRIO.

Ritmo de dor.

A

Na maior parte dos casos de gonalgia, a dor tem ritmo mecânico, associando-se aos movimentos e aliviando com repouso.

Fazem excepção a artrite e também a burso•tendinite anserina, em que é comum o predomínio nocturno ou matinal.

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12
Q

INTERROGATÓRIO.

Instalação e evolução.

A

Enquanto as dores relacionadas com artrose ou quisto de Baker têm um início tipicamente insidioso e progressivo, ao longo de meses ou anos, as devidas a artrite ou a burso-tendinite tornam-se manifestas em alguns dias ou semanas.

As lesões ligamentares são, na maior parte das vezes, agudas e relacionadas com traumatismo importante.

As lesões meniscais traduzem-se, na maior parte dos doentes, por episódios recorrentes de dor autolimitada, especialmente relacionadas com movimentos de rotação sobre um pé, em carga. O doente pode descrever episódios de “falha” do joelho (perda repentina de força), ou de bloqueio, caso em que o joelho fica “encravado” em semiflexáo, retomando o movimento após algum tempo. Estas ocorrências podem associar-se a tumefacção transitória (alguns dias).

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13
Q

INTERROGATÓRIO.

Sinais inflamatórios.

A

A descrição, pelo doente, de sinais inflamatórios do joelho (tumefacção, calor ou rubor) é fortemente sugestiva de processo inflamatório local.

Note-se, contudo, que a artrose evoluída se acompanha, com frequência, de um derrame articular indolente.

Lesões meniscais e instabilidade crónica do joelho podem também determinar derrame articular.

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14
Q

INTERROGATÓRIO.

Envolvlmento de outras articulações.

A

A maior parte das artropatias do joelho está associada a envolvimento idêntico em outras articulações, cuja natureza e distribuição contribuem para o diagnóstico.

A gonartrose pode ser inaugural, mas muitos doentes terão também dores mecânicas e alterações degenerativas na coluna e, mais raramente, na anca.

Uma artrite aguda ou subaguda isolada do joelho deve ser considerada como séptica até prova contrária e orientada para estudo e tratamento adequados.

Não esqueça que dores com origem na anca ou na coluna podem irradiar ou mesmo predominar no joelho: é importante apreci ar clinicamente estas articulações, especialmente se o exame do joelho é inconclusivo.

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15
Q

EXAME CLÍNICO LOCO-REGIONAL

Ver.

A

Avalie a marcha do paciente quando ele entra na sala ou se dirige para a marquesa e o alinhamento dos joelhos com o doente em pé. Em condições normais, o eixo da coxa constitui com o da perna um ângulo de cerca de 5º , de abertura exterior. A acentuação deste ângulo é descrita como desvio em valgo (genu vatgum). O desvio oposto é designado por
genu varum, muito comum em portadores de artrose.

Note a posição espontânea dos joelhos com o doente deitado. Normalmente, o cavado popliteo entra em contacto com a marquesa. O afastamento indica limitação da extensão por dor e defesa do doente ou por alteração estrutural articular.

A tumefacção ou derrame do joelho é sugerida pelo apagamento dos relevos ósseos (por comparação com o contralateral.

Pode ser apreciável uma tumoração arredondada acima da pateta. Contudo, estes indícios têm que ser confirmados pela palpação.

O rubor articular é raramente visível, mesmo em casos de artrite: a sua presença está associada mais frequentemente a artrite séptica, a artrite microcristalina ou a artrite reactiva.

Valorize sinais de atrofia muscular, comuns em artropatias crónicas dos joelhos e em lesões neurológicas (figura 13. 7.). A pele que recobre a face anterior dos joelhos é sede frequente de lesões psoriáticas.

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16
Q

EXAME CLÍNICO LOCO-REGIONAL

Palpar.

pes anserinus

A

Com as costas da mão, avalie a temperatura local, comparando-a com a da coxa, com a da perna e com a do joelho contralateral.

Palpe a entrelinha articular em ambas as faces do joelho (a entrelinha articular está ao nível do pólo inferior da patela, com o doente deitado).

A inflamação sinovial determina um apagamento dos relevos ósseos, por interposição de um tecido de consistência elástica.

Os osteófitos, próprios de artrose, são sentidos como projecções ósseas, irregulares, de consistência pétrea.

Em caso de artrite, a palpação determina dor ao longo de toda a entrelinha articular. Na artrose encontramos, mais tipicamente, pontos dolorosos dispersos.

Palpe também os pontos de inserção superior e inferior dos ligamentos colaterais interno e externo, para identificar dor sugestiva de ligamentite.

Palpe o pes anserinus, acompanhando-o ao longo da face ânterointerna da tíbia e do bordo póstero•interno do joelho: na presença de burso•tendinite anserina, o doente descreve dor intensa (figura 13.8.) .

17
Q

EXAME CLÍNICO LOCO-REGIONAL

Palpar.

Pesquisa de derrame articular:

1ª tecnica (derrame volumoso)

A

Pesquisa de derrame articular.
1. Adapte firmemente a palma da sua mão à parte superior do joelho do doente, de forma que a prega entre o 1.º e 2.º dedos fique um pouco acima do bordo superior da patela. Com os dedos, comprima as faces interna e externa do joelho. Desta forma, o líquido sinovial é empurrado para a face posterior da patela. Com o polegar da outra mão empurre a patela contra o fémur (figura 13.9.). Em condições normais, a patela está já em contacto com o fémur e não se move. Na presença de derrame, haverá movimento ântero·posterior da patela até embater contra o fémur (“sinal da tecla”).

A identificação de derrame articular tem um papel primordial na semiologia do joelho.
Note que é fundamental que o polegar assente no centro da patela, empurrando-a para trás. Se estiver lateralizado, a patela sofrerá movimento de báscula, podendo simular derrame. O exame sistemático deste sinal aumentará sobremaneira a sua sensibilidade na detecção desta anomalia.

Para derrames de pequeno volume, a técnica seguinte pode ser mais produtiva.

18
Q

EXAME CLÍNICO LOCO-REGIONAL

Palpar.

Pesquisa de derrame articular:

2ª tecnica (derrame discreto)

A

Pesquisa de derrame articular.
2. Passe o dorso da sua mão, firmemente, ao longo da face interna do joelho, de forma que líquido eventualmente aí acumulado seja desviado para o lado de fora. Passe agora a mão sobre o lado externo e aprecie a face interna do joelho: a presença de derrame que não esteja sob tensão traduzir-se-á pelo aparecimento de uma pequena tumefacção na face interna do joelho, por dentro e acima da patela(figuras 13.t0A. e 13.108).

19
Q

EXAME CLÍNICO LOCO-REGIONAL

Mobilizar

A

Assente uma das mãos, levemente, sobre o joelho. Segure a perna do doente com a outra mão e imprima um movimento de flexão máxima do joelho. Proceda agora a extensão. Repita estes movimentos. A mão sobre o joelho aprecia a existência de crepitação ou de ressaltos em qualquer dos compartimentos do joelho.

A artrose acompanha-se de crepitação grosseira. Uma crepitação ligeira pode ser também perceptível em alguns casos de artrite.

Note a amplitude de movimentos: tanto a artrose como a artrite se podem acompanhar de limitação, dolorosa e/ou estrutural, de mobilidade. A extensão é habitualmente de 0º. Em muitos jovens normais, especialmente mulheres, poderá observar-se movimento até -10º. Acima disso, o movimento é claramente excessivo, podendo integrar uma síndroma de hipermobilidade.

As lesões da face posterior da patela (artrose, condromalácia patelar) determinam dor especialmente intensa quando a patela é forçada contra o fémur.

20
Q

EXAME CLÍNICO LOCO-REGIONAL

Mobilizar

Apreciação da articulação patelo-femoral.

A

Com o doente deitado e o joelho em extensão e relaxado, aplique firmemente o seu indicador ao longo do pólo superior da patela. Peça ao doente para contrair o quadricípede (ou fazer força com o calcanhar contra a marquesa • figura 13. 11 . ). A dor intensa nesta manobra sugere lesão patelo-femoral.

21
Q

EXAME CLÍNICO LOCO-REGIONAL

Mobilizar

Apreciação da estabilidade articular

  1. Ligamentos colaterais.
A

Segure firmemente o joelho pela face interna, com uma mão. e a perna com a outra. mantendo o joelho a cerca de 30º de flexão. Tente imprimir um movimento de desvio externo no joelho (em varo). Repita a manobra no sentido oposto (figura 13.12.).

Na primeira manobra, testamos a competência do ligamento colateral externo. Na segunda, apreciamos o ligamento interno.

Estas manobras exigem treino para evitar tomar como instabilidade um movimento de flexão do joelho: certifique-se de que a deslocação se dá no plano coronal do doente.

A instabilidade dos ligamentos laterais é muito comum em doentes com artrose evoluída, contribuindo decisivamente para a dor e para a evolução do processo degenerativo. A identificação desta anomalia justifica medidas terapêuticas próprias.

Pode também ser devida a traumatismo.

22
Q

EXAME CLÍNICO LOCO-REGIONAL

Mobilizar

Apreciação da estabilidade articular

  1. Ligamentos cruzados.
A

Peça ao doente para flectir o joelho a 90°, mantendo o pé assente na borda da marquesa. Sente-se suavemente sobre o pé, imobilizando-o.
Segure firmemente a extremidade proximal da tíbia com ambas as mãos. Tente imprimir-lhe movimento anterior e, depois, posterior (figura 13.13.).

Nestas manobras, apreciamos a deslocação da tíbia relativamente ao fémur. O movimento excessivo indica insuficiência de um dos ligamentos cruzados. A insuficiência dos cruzados é habitualmente pós traumática, mas pode também encontrar-se em doentes com artrite crónica do joelho

23
Q

EXAME CLÍNICO LOCO-REGIONAL

Mobilizar

Apreciação dos meniscos

  1. Teste de McMurray.
A

Partimos com o joelho flectido a 90º. Uma das mãos do observador segura o pé do doente em rotação interna. A outra segura o joelho, pela face interna, fazendo um esforço de varização (força para fora). Mantendo estes esforços, imprimimos ao joelho um movimento repetido de extensão e flexão (figura 13.14A.).

A dor nesta manobra indica lesão do menisco interno, que é, com este método, comprimido entre o fémur e a tíbia.
Por vezes, ocorre um ressalto ou “clic” na articulação, reforçando o diagnóstico.

Repetimos a manobra anterior, rodando agora o pé para fora e fazendo esforço de valgização (para dentro) no joelho. Testamos assim o menisco externo.

24
Q

ARTROSE DO JOELHO.
DESTAQUES.

A

É uma situação muito frequente a partir da 6.º década de vida, embora possa surgir antes.

Tem instalação insidiosa, com agravamento progressivo.

Dores de ritmo tipicamente mecânico, podendo haver períodos de exacerbação inflamatória, traduzidos por derrame e dor nocturna.

O exame clínico pode revelar crepitação, limitação dolorosa de mobilidade e labiações osteofitárias. Por vezes há derrame articular.

Associa-se frequentemente a instabilidade dos ligamentos do joelho, que agrava a situação.

Afecta mais frequentemente o compartimento femoro tibial interno e faceta articular exterior da patela.

Tem forte relação com o excesso de peso. Traumatismo ou inflamação local e trabalho físico exigente são outros factores de risco.

A radiografia tem as características típicas de artrose.

25
Q

ARTRITE DO JOELHO.
DESTAQUES.

A

Indicam a presença de artrite do joelho:
• ritmo inflamatório da dor;
• presença de tumefacção sinovial /ou derrame articular;
• calor focal;
• o diagnóstico não exige exames complementares, a não ser para investigação etiológica.

Surge, na maior parte das vezes, num contexto de poli ou oligoartrite. É a articulação mais frequentemente afectada por artrite idiopática juvenil.

A monoartrite do joelho deve considerarse infecciosa até prova contrária. Artrite reactiva e artrite por microcristais são hipóteses alternativas. A colheita e o estudo do líquido sinovial são fundamentais.

Em caso de “monoartrite” não explicada, considere a hipótese de afgoneurodistrofia ( vd. capítulo 14).

O tratamento depende do contexto clínico e etiológico, devendo sempre ser realizado em centro especializado.

26
Q

BURSO/TENDINITE ANSERINA.
DESTAQUES.

A

É causa muito frequente de dor, especialmente em mulheres obesas de meia-idade.

Surge mais frequentemente como agravamento de artropatia conhecida, mas pode ocorrer isoladamente.

A dor predomina na face interna do joelho, sendo agravada por movimentos bruscos dos membros inferiores e decúbito lateral.

A palpação dolorosa local é a chave do diagnóstico.

O tratamento baseia-se em repouso e aplicação local de anti-inflamatórios.

Em casos renílentes, desde que a área dolorosa seja pouco extensa, a infihração local pode ser
“curativa”.

A fisioterapia constitui um recurso para casos difíceis.

Excepcionalmente, pode ser necessária abordagem cirúrgica.

27
Q

LESÕES MENISCAIS.
DESTAQUES.

A

Ocorre principalmente em indivíduos jovens, especialmente em atletas. Pode contribuir significativamente para dor e incapacidade em artropatias crónicas do joelho.

Traduz-se por dores de instalação aguda e curso recorrente, com recuperação espontânea.

Com o tempo a dor torna-se mais persistente.

Pode acompanhar-se de derrame articular nos episódios agudos.

Muitos doentes descrevem episódios de “falha” do joelho (perda súbita de força) ou de bloqueio articular (o joelho fica preso em semiflexão, recuperando aos poucos e com dor a mobilidade normal).

Pode haver dor à palpação profunda da entrelinha articular na sua parte ântero-lateral. O teste de McMurray é essencial no reforço da suspeita diagnóstica.

A prática desportiva, a instabilidade do joelho e a síndroma de hipermobílidade constituem importantes factores de risco.

Os casos toleráveis não exigem exames complementares. sendo tratados com medidas de reforço muscular e recursos a contenção elástica.

Dor persistente ou incapacitante justífica a confirmação por ressonância magnética nuclear, como preparação para meniscectomia.

A meniscectomia aumenta o risco de desenvolvimento ulterior de artrose, pelo que não deve constituir recurso fácil.

28
Q

SÍNDROMA DE HIPERMOBIUDADE.
DESTAQUES.

A

Consiste num quadro de lassidão ligamentar e cutânea generalizada em pessoas, de resto, saudáveis.

Traduz-se por episódios recorrentes de dor transitória em múltiplas articulações, sem sinais inflamatórios e sem critérios de fibromialgia.

Joelhos (patela), tíbío·társicas, ombros, MCFs e temporo-mandibulares são frequentemente afectados.

A repetição de episódios favorece a ocorrência de artrose secundária.

O diagnóstico assenta na capacidade de o doente executar um conjunto de movimentos “exagerados·.
Atribua 1 ponto a cada sinal.
• Extensão passiva da 5º MCF > 90º
• Contacto passivo do polegar com o antebraço
• Hiperextensão do cotovelo> o0
• Hiperextensão do joelho > o0
• Contacto das palmas das mãos com o solo,
mantendo os joelhos em extensão
1 ponto para
cada lado do
corpo

Diagnóstico: 4 ou mais pontos e artralgias há mais de três meses em quatro ou mais articulações.

Exige exclusão de outras síndromas com hipermobilidade como a síndroma de Ehlers-Danlos, síndroma de Marfan e osteogenese imperfecta.

O tratamento é conservador, sem lugar para medicamentos.

29
Q

QUISTO DE BAKER.
DESTAQUES.

A

Consiste na colecção de líquido sinovial no fundo de saco poplíteo, que comunica com a articulação do joelho.

Pode surgir isoladamente, mas sobretudo como acompanhante de artropatia do joelho.

Traduz-se por dor e desconforto da região poplítea, onde é palpável (e por vezes visível) como uma formação ovalar na parte supero-interna do cavado poplíteo.

A ecografia confirma claramente o diagnóstico.

Quando sintomático pode exigir drenagem guiada, com agulha larga, seguida de infiltração, ou mesmo cirurgia.

A ruptura do quisto de Baker determina um quadro semelhante ao da trombose venosa profunda, podendo evoluir para síndroma compartimentai com edema, isquemia e necrose muscular.

Na ruptura, o Eco-Doppler pode apresentar alterações compatíveis com trombose venosa. Ecografia e artrografia do joelho são os exames de eleição, podendo ser necessário proceder a venografia para diagnóstico diferencial.

30
Q

SITUAÇOES ESPECIAIS.
Síndroma de dor anterior do joelho.

A

Trata-se de uma situação mal definida, que afecta sobretudo mulheres jovens.

Caracteriza-se por dor da face anterior do joelho, com agravamento lentamente progressivo e uma relação variável com o movimento e repouso.

O exame clínico é notável pela sua normalidade. Os exames complementares, incluindo recurso a artroscopia, são frequentemente também normais.

Em alguns casos, a dor parece resultar de uma plica da membrana sínovíal que pode insinuar-se entre a patela e o fémur, sofrendo compressão e determinando, ocasionalmente, hemorragia intra-articular.

O diagnóstico resiste mesmo à ressonância magnética, só sendo possível, e mesmo assim condicionado, por artroscopia.

Noutras situações, há dor à pressão lateral à patela, sugerindo processo inflamatório das asas da patela, que não é possível confirmar.

A condroma/acia patella consiste num amolecimento da cartilagem posterior da patela. Determina dor de ritmo mecânico, especialmente agravada ao subir e descer escadas, geralmente no início da adolescência.

As manobras próprias para esta articulação determinam dor. Só a artroscopia pode confirmar o diagnóstico. Não tem tratamento especifico, mas tem forte tendência a resolver-se de forma espontânea depois dos 20- 25 anos.

Uma situação relativamente frequente é o desvio externo da patela. Resulta de um aumento do ângulo Q (> 20° ; figura 13.19., que determina uma compressão acentuada da patela contra o côndilo externo do fémur, com dor (de tipo patelar) e desgaste acelerado para artrose. Na suspeita desta situação, vale a pena executar uma radiografia tangencial da patela com o joelho flectido a 30°. Um desvio da patela para fora em relação ao eixo intercondiliano, por vezes já associado a diminuição de espaço articular ou esclerose subcondral, reforça a hipótese.

O tratamento passa por medidas fisiátricas de reforço do vasto interno. No entanto, está muitas vezes associada a uma retracção da asa interna da patela.

A correcção cirúrgica desta anomalia é tecnicamente simples e resulta frequentemente no alívio sintomático. Ê, contudo, incerto que este procedimento diminua o risco de artrose patelo•femoral a longo prazo.

Apesar do que fica dito, uma elevada percentagem de casos de dor anterior do joelho persiste sem diagnóstico preciso e logo sem terapêutica específica. Utilizam-se analgésicos ou anti-inflamatórios consoante o necessário. Exercícios de fortalecimento muscular dos quadricípedes e estiramento dos ísquio tibiais são frequentemente úteis. A utilização de joelheira elástica tem resultados contraditórios de caso para caso. Devem evitar-se saltos altos por aumentarem a pressão da patela contra o fémur. Uma parte das situações resolve-se espontaneamente antes dos 25 aos 30 anos de idade.

31
Q

SITUAÇOES ESPECIAIS.

Osteocondrite dissecante.

A

Ê uma causa relativamente rara de dor no joelho, mais frequente em jovens do sexo masculino.

Um fragmento de cartilagem e osso subcondral destaca-se do osso restante, passando a constituir um corpo estranho intra articular, que causa dor e bloqueio recorrente.

O Rx. mostra uma zona radiolucente separando o fragmento. O tratamento é cirúrgico.

32
Q

SITUAÇOES ESPECIAIS.

Algoneurodistrofia.

A

Trata-se de um distúrbio vasomotor localizado que pode cursar com dor, edema, rubor e calor locais, simulando uma monoartrite. Surge muitas vezes na sequência de traumatismos, mas nem sempre isso é aparente. Para uma descrição mais detalhada, vd capítulo 14.

33
Q

SITUAÇOES ESPECIAIS.

Doença de Osgood-Schlatter e dor referida.

A

Especialmente em crianças, a dor sentida no joelho pode, na realidade, ser determinada por patologia da anca. A doença de Osgood•Schlatter, típica da adolescência, consiste na osteíte da tuberosidade da tíbia, determinando dor na inserção inferior do tendão rotuliano, agravada pela marcha. Ambas as situações são mais bem explicitadas no capítulo 28.

34
Q

EXAMES COMPLEMENTARES.

lmaglologla.

A

A articulação do joelho, sendo superficial, é passível de um exame clínico detalhado e muito informativo. Isto reduz a necessidade de exames complementares às situações em que pretendemos avaliar o grau de alteração estrutural articular ou apreciar a etiologia de uma artrite.

A radiografia standard dos joelhos está indicada sempre que a clínica sugere um problema articular não esclarecido e deve ser realizada em carga e em dois planos. Desta forma, a distância entre os topos ósseos constitui uma boa indicação da espessura de cartilagem.

Na artrose, o afilamento das espinhas tibiais constitui um dos sinais mais precoces. A perda de espaço articular tende a ser assimétrica, mais pronunciada no compartimento interno pelo desvio em varo. Esclerose subcondral, formação de geodes e osteofitose tornam se mais pronunciadas com o tempo (figura 13.20.).
O estudo da articulação patelo-femoral serve-se do perfil do joelho e da incidência tangencial a 30º de flexão.

Na artrite, as alterações radiológicas são tardias. Tal como na artrose, ocorre perda de espaço articular, aqui mais difuso, que se acompanha de osteopenia periarticular (ao contrário de esclerose subcondral). Raramente são visíveis erosões

A ecografia é especialmente útil na identificação de quistos de Baker de pequeno volume(figura 13.22.). O estudo ecográfico da burso-tendinite anserina é frequentemente normal. A ecografia não é um bom método de estudo dos meniscos, para o qual a RMN é preferível.

O recurso a ressonância magnética só estará justificado quando uma situação incapacitante e inexplicada impõe a consideração de cirurgia.

35
Q

EXAMES COMPLEMENTARES.

Outros exames.

A

Todo e qualquer líquido sinovial aspirado do joelho deve ser enviado para análise, a menos que o diagnóstico etiológico esteja já claramente estabelecido. Este exame é mandatório e urgente em caso de monoartrite do joelho. A contagem total e diferencial celular é sempre importante, para distinguir entre processo mecânico e inflamatório. A pesquisa de cristais e exame bacteriológico estarão indicados quando a clínica admita suspeitas.

Em casos complexos, a artroscopia diagnóstica pode ser necessária.

Estudos de sangue e urina serão guiados pelo contexto clínico, numa estratégia adequada de diagnóstico diferencial.

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Q

QUANDO ENVIAR AO ESPECIALISTA?

A

Perante suspeita de artrite de causa não esclarecida.

Quando o grau de dor ou incapacidade não é justificado pelo exame clínico e radiográfico.

Na presença de derrame, se o seu estudo for considerado importante no diagnóstico diferencial (por exemplo, suspeita insegura de gota).

Perante casos de lesão meniscal ou burso•tendinite resistentes a medidas simples.

Na incapacidade funcional grave, com limitação significativa de mobilidade significativa (Fisiatria).

Nas rupturas ligamentares agudas ou instabilidade articular crónica acentuada (Ortopedia).

Na artrose, sempre que persistam dúvidas diagnósticas (Reumatologia) ou se considere indicada intervenção cirúrgica (Ortopedia).