A Região Lombar Flashcards
A Região Lombar
Importância e epidemiologia
A lombalgia é o sofrimento mais frequente da espécie humana, depois da “constipação comum”: a esmagadora maioria dos indivíduos terá pelo menos um episódio ao longo da vida, Nos Estados Unidos da América, justifica cerca de 3% de todas as consultas médicas e constitui a principal causa de incapacidade para o trabalho.
- *A lombalgia apresenta-se muitas vezes como um episódio agudo, mais frequente entre os 30 e os 50 anos de idade,**
- *Cerca de 90% dos episódios de lombalgia aguda resolvem-se em menos de oito semanas, independentemente do tratamento.** Contudo, uma pequena minoria destes doentes sofrerá ataques agudos recorrentes ou evoluirá para a cronicidade, com considerável sofrimento e incapacidade. Globalmente, a lombalgia crónica tem um notável impacto social e económico com elevadíssimos custos directos e indirectos,
Apenas uma pequena percentagem de casos corresponde a uma etiologia específica, exigindo actuaçáo diagnóstica e terapêutica diferenciada, mas sáo precisamente estes que náo podemos deixar escapar: a lombalgia pode ser a primeira manifestação de um doença potencialmente fatal
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Quais os objectivos na abordagem do doente com lombalgia?
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Anatomia Funcional
um conjunto de 5 vértebras, dispostas em pilha, separadas pelos discos ‘intervertebrais.
Posteriormente, de um e outro lado do corpo vertebral, projectam-se os pediculos, de que partem lateralmente
os processos transversais. Os pedículos reúnem-se atrás, através das lâminas, de cuja junção parte, posteriormente, o processo espinhoso. As facetas articulares superior e inferior que partem dos pedículos constituem, com as vértebras adjacentes, as articulações interapofisárias. As articulações interapofisárias lombares têm uma disposição quase ântero-posterior, motivo por que permitem apenas movimentos de flexão e extensão. Os movimentos de rotação do tronco dependem, fundamentalmente, da coluna dorsal.
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Anatomia Funcional
Raizes nervosas
O buraco de conjugação, por onde emergem as raízes nervosas, é delimitado anteriormente pelo disco intervertebral, sede frequente de herniação o que pode comprimir a raíz,dando origem a dor neurogénica: por exemplo ciática.
Posteriormente, as raízes nervosas estão em contacto com a articulação ínterapofisáría. Trata-se de uma articulação sinovial que pode ser afectada por sinovite (nas espondilartropatias), mas que é, sobretudo, sede frequente de artrose, não raro com osteofitose exuberante. Estes osteófitos podem determinar compressão da raiz com sintomatologia
indistinguível da provocada pela hérnia discal.
O canal vertebral lombar alberga as raízes que inervam os membros inferiores e a região sagrada. Em algumas pessoas pode ser constitucionalmente estreito. O canal pode ainda ser reduzido por listese vertebral (deslizamento de um corpo vertebral sobre o subjacente), por procidência do disco ou por efeito de osteófitos volumosos das articulações intervertebrais (lesões intracanalares, como neurinomas e meningiomas são causas mais raras). A partir de certo limite, as raízes podem ser comprimidas a ponto de sofrerem disfunção, determinando sintomatologia dolorosa difusa e défice neurológico, que afecta os membros inferiores (estenose lombar) ou apenas as raízes sagradas (síndroma da cauda equina).
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Anatomia Radiológica
Antero-posterior
Na radiografia ântero-posterio podemos apreciar o alinhiamento osseo no pano sagital. Avalie da existência
de lesões líticas (o “desaparecimento” de um pedículo ou de um processo espinhoso pode ser o único sinal de uma metástase tumoral). Note a regularidade dos espaços intervertebrais e dos bordos articulares. As interapofisárias das primeiras vértebras podem ser observadas nesta projecção.
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Anatomia Radiológica
Perfil
No perfil, apreciamos melhor a morfologia dos corpos vertebrais (esmagamentos, osteófitos, rectificação
da face anterior, erosão dos vértices) e a dimensão dos espaços intervertebrais: aumentam ligeiramente de L 1 a L4(L4-L5 está geralmente coberto pelo osso ilíaco nesta projecção).
Aprecie a regularidade e a densidade das plataformas vertebrais. Note a existência de acentuação ou diminuição da lordose fisiológica.
Estude a eventual existência de calcificações dos discos e ligamentos intervertebrais. Avalie o contraste de densidade entre o corpo vertebral e os tecidos vizinhos. A sua diminuição pode indicar osteoporose. Não confunda a sobreposição de gás intestinal com uma lesão lítica. Nesta projecção, tornam-se evidentes as listeses (deslizamento anterior de uma vértebra sobre a que lhe está abaixo).
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Quais as causas mais comuns de dor lombar?
Sinais de alarme
As causas mais comuns de lombalgia são apresentadas no quadro 11. 1. A esmagadora maioria dos casos estará
incluída numa das primeiras três categorias. O objeclivo central consiste em distingui-los dos restantes e dar, a todos, a melhor orientação
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Interrogatório
- Quando e como começou?
- Onde se localiza a dor? Tem Irradiação?
- Qual o ritmo da dor?
- Que situações agravam ou melhoram a dor?
- Inquérito Sistemático
- Avaliação Psicológica e Social
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Interrogatório
Quando e como começou a dor?
- *Uma dor surgida pela primeira vez antes dos 30 ou depois dos 50 anos merece, desde logo, atenção especial por ser muito maior a probabilidade de um diagnóstico específico. O mesmo deverá pensar•
- se perante uma alteração aguda das características da dor num lombálgico crónico.**
As situações de lumbago, bem como as hérnias discais e as fracturas osteoporóticas, têm habitualmente início súbito, frequentemente relacionado com esforços em flexão ou rotação forçada.
As lesões inflamatórias, infecciosas e mesmo metastáticas têm início progressivo, atingindo um período de estado em algumas semanas ou meses.
Pelo contrário, a lombalgia crónica comum só leva, e m regra, o paciente ao médico após meses ou anos de sofrimento, com episódios recorrentes de intensidade crescente.
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Interrogatório
Onde se localiza a dor? Tem irradiação?
Quanto mais precisamente localizada for a dor, mais provável é um diagnóstico específico.
A dor da lombalgia mecânica crónica e da fibromialgia tende a ser difusa e mal localizada, referenciada a uma área extensa da região lombar.
Pelo contrário, na espondilodiscite, na metástase ou na fractura osteoporótica, o doente aponta um local bastante exacto.
A dor de sacroilíte predomina na região lombo sagrada, com irradiação às nádegas.
A localização da dor pode também indicar-nos a origem mais provável de uma dor referida.
O doente deve sempre ser inquirido sobre a irradiação da dor, presença de parestesias e sua distribuição, perturbações dos esfíncteres ou falta de força localizada.
A dor que irradia ao longo de um dermátomo sugere compressão radicular.A mais típica destas situações é a chamada dor ciática, causada por irritação das raízes de LS-S1. A dor, de tipo parestésico, irradia pela face externa da coxa até à perna, podendo atingir o pé. A compressão de raízes mais altas é muito rara.
Uma descrição de falta de forças nas pernas é muito comum em doentes lombálgicos e deve ser valorizada se o exame neurológico a confirma.
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Interrogatório
Qual o ritmo da dor?
Na esmagadora maioria dos casos, terá ritmo tipicamente mecânico: alivia com o repouso, especialmente em decúbito, agrava com o ortostatismo e a marcha e com movimentos de flexão e extensão. A obesidade e a hiperlordose lombar estão muitas vezes presentes
Qualquer dor de ritmo inflamatório merece atenção especial: é um sinal de alarme. Lombalgia que persiste ou predomina durante a noite, com ou sem rigidez matinal, corresponde, até prova em contrário, a situação inflamatória (espondilite, espondilodiscite .. ,), metastática (mama, próstata, rim) ou fractura osteoporótica.
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Interrogatório
Que situações agravam o melhoram a dor?
Referimo- nos já ao esforço, mas outros aspectos merecem também atenção.
- *A dor que melhora com movimento está provavelmente relacionada com processo inflamatório.**
- *O agravamento da dor por manobras de Valsava (propositadas ou aquando de tosse, espirro ou esforço de defecação, por exemplo) sugerirá a presença de irritação radicular, especialmente se houver irradiação típica.**
O doente com radiculopatia refere também, com fr quência, que as dores são mais intensas quando está parado, em pé, do que a caminhar.
A situação de estenose lombar, mais frequente em idosos, oferece um quadro clínico sugestivo, mas pouco claro: a dor é profunda, difusa e mal definida (tipo “cansaço”), envolvendo a região lombar e parte proximal dos membros. Agrava com a marcha e pode ter carácter disestésico. A perturbação dos esfíncteres é rara e tardia, mas há muitas vezes sensação de falta de força nos membros inferiores. Surge, em regra, após algum tempo de marcha, obrigando o doente a alguns minutos de repouso. Tipicamente, as dores são mais intensas quando o doente desce uma ladeira do que quando a sobe.
Curioso, não é? Por que será?
Quando descemos num plano inclinado, colocamo-nos em hiperlordose lombar para manter o equilíbrio.
Se subimos, temos tendência a fazer flexão da coluna. A hipelordose diminui o diâmetro do canal lombar, agravando os sintomas.
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Interrogatório
Inquérito sistemático
A presença de sinais de alarme em doente lombálgico torna especialmente importante o inquérito sistemático.
Indícios de doença péptica, pancreática, intestinal, ginecológica ou urológica podem ser a chave do diagnóstico.
Uma descrição de psoríase pode reforçar a hipótese de espondilite psoriática, etc., etc.
A pesquisa de sintomas gerais importantes, como a febre e perda de peso, será feita aqui, se não tiver ocorrido antes.
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Interrogatório
Avaliação Psicolágica e Social
Sinais amarelos
Estes aspectos ganham uma relevância notável no contexto da lombalgia mecânica crónica. Na realidade,
foi demonstrado que o perfil psicológico do doente é um dos factores mais determinantes da evolução, ou não, de um episódio agudo para a cronicidade. As suas convicções sobre a natureza e o prognóstico da sua doença e as suas estratégias de lidar com o problema (estratégias de “coping” ) são elementos decisivos que deveremos apreciar.
A existência de conflitos laborais ou judiciais (por exemplo, um pedido de indemnização após acidente de trabalho) poderá tornar a lombalgia particularmente renitente à terapêutica, se não houver uma abordagem integrada destes aspectos.
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Exame Clínico Loco-Regional
Aspectos básicos
O exame reumatológico geral delineado no capítulo 6 dá-nos, desde logo, indicação da existência de dor ou limitação de mobilidade da coluna lombar.
A dor que surge sobretudo com movimentos de flexão sugere patologia dos discos e dos corpos vertebrais.
A que surge sobretudo na extensão aponta para patologia das articulações interapofisárias ou para espondilolistese.
A dor com todos os movimentos constitui um sinal de alarme.
Se o doente vem por lombalgia ou o exame geral revelou anomalias, prosseguimos com mais detalhe.
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Exame Clínico Loco-Regional
Ver
curvaturas da coluna
Aprecie as curvaturas da coluna com o doente de pé.
A coluna lombar tem, em condições normais, uma leve curvatura de concavidade posterior (lordose fisiológica).
A lombalgia comum inespecifica está muitas vezes associada a um exagero desta curvatura - hiperlordose.
Esta situação é mais comum em mulheres e pode ser agravada pelo uso de sapatos altos e deficiente força muscular dos músculos da parede abdominal. Qualquer que seja a causa, a hiperlordose determina uma sobrecarga das estruturas de suporte da coluna e conflitos de espaço na superfície de extensão, que agravam e mantêm a dor. A sua correcção é um dos objectivos do tratamento.
A diminuição da lordose ou rectificação da coluna lombar é mais comummente observada em situações de espondilite anquilosante já avançada.
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Exame Clínico Loco-Regional
Ver
Escoliose
A escoliose é também causa de dor. Poderá ser meramente postural ou ser determinada por rotação das vértebras (congénita ou adquirida). A escoliose estrutural, se grave, deve ser enviada para centro especializado. A escoliose postural é, em princípio, acessível a correcção em fisioterapia ou compensação de desigualdade do comprimento dos membros inferiores. Para distinguir as duas, pedimos ao doente que flicta completamente a coluna, tentando levar os
dedos ao chão. A escoliose postural corrige-se nesta posição: a coluna fica alinhada e os ombros à mesma altura.
Na escoliose estrutural fixa, o desvio mantém-se em flexão e os ombros ou a parede torácica mostram assimetria
Uma das causas mais comuns de escoliose e lombalgia consiste na dismetria dos membros inferiores (diferença significativa de comprimento). Esta situação deve ser despistada no exame objectivo: com o doente em pé e de costas para si, tendo os joelhos em extensão, coloque cada um dos seus indicadores sobre a crista ilíaca de cada lado do
paciente e aprecie a sua posição relativa.A escoliose devida a dismetria desaparece com o doente sentado.
Na suspeita de dismetria significativa justificarse-á um Rx. métrico dos membros inferiores. A correcção de diferenças significativas (> 1 cm), por palmilha ou compensação do salto do sapato, pode atenuar a escoliose, tratando e prevenindo a lombalgia.
A Região Lombar
Exame Clínico Loco-Regional
Ver
Curvaturas normais e anormais da coluna
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Exame Clínico Loco-Regional
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Escoliose postural vs Escoliose estrutural
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Exame Clínico Loco-Regional
Ver
Dismetria dos membros inferiores
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Exame Clínico Loco-Regional
Palpar
As articulações da coluna não são acessíveis a palpação directa, em virtude da profundidade a que se encontram.
Com o doente em decúbito ventral faça pressão com a ponta dos dedos sobre os processos espinhosos desde L 1 a S2.
Alguns autores sugerem a percussão da coluna com o punho cerrado. Palpe também as massas musculares paravertebrais de um e outro lado.Note os locais de dor: quanto mais localizada, mais relevante em termos diagnósticos.
- *Se a dor é localizada, tente distinguir a dor do ligamento interapofisário (ligamentite) da dor vertebral: no primeiro caso, a dor localiza-se entre os processos espinhosos. No segundo, é a tentativa de mobilização do processo que desperta
dor. ** Esta apreciação pode ser mais fiável com o doente sentado em flexão da coluna lombar, usando o bordo da campânula do estetoscópio para palpar os ligamentos, entre os processos.
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Exame Clínico Loco-Regional
Mobilizar
Quando o exame reumatológico geral indica a limitação de mobilidade da coluna lombar, pode ser útil proceder a quantificação mais precisa, especialmente para apreciar os resultados do plano terapêutico em visitas subsequentes.
A inclinação lateral pode ser quantificada medindo a distância a que ficam os dedos do chão, quando o doente se inclina, para um e outro lado.mantendo os membros inferiores em extensão, com a palma da mão tocando a perna.
A flexão é mais bem quantificada pelo chamado teste de Schober.
Com o doente em pé, na posição de repouso, assinalamos, com um marcador, o ponto em que a linha que une as cristas ilíacas cruza o ponto médio da coluna lombar (L4-L5). Usando uma fita métrica, fazemos nova marcação 1O cm acima deste ponto. Pedimos então ao doente que flicta anteriormente a coluna ao máximo, medindo a distância entre as duas marcações.
Em indivíduos jovens e saudáveis, a distância deve, agora, ser superior a 15 cm. Note que a mobilidade da coluna diminui naturalmente com a idade.
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Exame Clínico Loco-Regional
Exame das articulações sacroilíacas
Se a lombalgia tem ritmo inflamatório, palpe também as articulações sacroilíacas com o doente em decúbito ventral. De seguida, faça compressão póstero-anterior sobre a linha média do sacro, para ver se desperta dor
sacroilíaca. Peça depois ao doente que se coloque em decúbito dorsal. Apoie as suas mãos sobre as espinhas ilíacas ântero-superiores, cruzando-as (isto é, mão esquerda sobre a espinha ilíaca ântero-superior esquerda do doente e vice-versa). Faça um esforço de compressão e abertura da bacia do doente. A manobra é positiva se despertar dor na região sagrada, sugerindo compromisso das articulações sacroilíacas (a dor sob as suas mãos não tem significado … mas pode ser especialmente intensa em doentes fibromiálgicos).
Quando acabar o exame do abdómen e dos membros inferiores, peça ao doente que se levante da marquesa, erguendo o tronco sem apoio dos braços: o seu grau de dificuldade dá-lhe uma ideia do estado dos seus músculos abdominais, os melhores aliados da coluna lombar!