A Região Lombar Flashcards

1
Q

A Região Lombar​

Importância e epidemiologia

A

A lombalgia é o sofrimento mais frequente da espécie humana, depois da “constipação comum”: a esmagadora maioria dos indivíduos terá pelo menos um episódio ao longo da vida, Nos Estados Unidos da América, justifica cerca de 3% de todas as consultas médicas e constitui a principal causa de incapacidade para o trabalho.

  • *A lombalgia apresenta-se muitas vezes como um episódio agudo, mais frequente entre os 30 e os 50 anos de idade,**
  • *Cerca de 90% dos episódios de lombalgia aguda resolvem-se em menos de oito semanas, independentemente do tratamento.** Contudo, uma pequena minoria destes doentes sofrerá ataques agudos recorrentes ou evoluirá para a cronicidade, com considerável sofrimento e incapacidade. Globalmente, a lombalgia crónica tem um notável impacto social e económico com elevadíssimos custos directos e indirectos,

Apenas uma pequena percentagem de casos corresponde a uma etiologia específica, exigindo actuaçáo diagnóstica e terapêutica diferenciada, mas sáo precisamente estes que náo podemos deixar escapar: a lombalgia pode ser a primeira manifestação de um doença potencialmente fatal

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2
Q

A Região Lombar​

Quais os objectivos na abordagem do doente com lombalgia?

A
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3
Q

A Região Lombar​

Anatomia Funcional

A

um conjunto de 5 vértebras, dispostas em pilha, separadas pelos discos ‘intervertebrais.
Posteriormente, de um e outro lado do corpo vertebral, projectam-se os pediculos, de que partem lateralmente
os processos transversais. Os pedículos reúnem-se atrás, através das lâminas, de cuja junção parte, posteriormente, o processo espinhoso. As facetas articulares superior e inferior que partem dos pedículos constituem, com as vértebras adjacentes, as articulações interapofisárias. As articulações interapofisárias lombares têm uma disposição quase ântero-posterior, motivo por que permitem apenas movimentos de flexão e extensão. Os movimentos de rotação do tronco dependem, fundamentalmente, da coluna dorsal.

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4
Q

A Região Lombar​

Anatomia Funcional

Raizes nervosas

A

O buraco de conjugação, por onde emergem as raízes nervosas, é delimitado anteriormente pelo disco intervertebral, sede frequente de herniação o que pode comprimir a raíz,dando origem a dor neurogénica: por exemplo ciática.

Posteriormente, as raízes nervosas estão em contacto com a articulação ínterapofisáría. Trata-se de uma articulação sinovial que pode ser afectada por sinovite (nas espondilartropatias), mas que é, sobretudo, sede frequente de artrose, não raro com osteofitose exuberante. Estes osteófitos podem determinar compressão da raiz com sintomatologia
indistinguível da provocada pela hérnia discal.

O canal vertebral lombar alberga as raízes que inervam os membros inferiores e a região sagrada. Em algumas pessoas pode ser constitucionalmente estreito. O canal pode ainda ser reduzido por listese vertebral (deslizamento de um corpo vertebral sobre o subjacente), por procidência do disco ou por efeito de osteófitos volumosos das articulações intervertebrais (lesões intracanalares, como neurinomas e meningiomas são causas mais raras). A partir de certo limite, as raízes podem ser comprimidas a ponto de sofrerem disfunção, determinando sintomatologia dolorosa difusa e défice neurológico, que afecta os membros inferiores (estenose lombar) ou apenas as raízes sagradas (síndroma da cauda equina).

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5
Q

A Região Lombar​

Anatomia Radiológica

Antero-posterior

A

Na radiografia ântero-posterio podemos apreciar o alinhiamento osseo no pano sagital. Avalie da existência
de lesões líticas (o “desaparecimento” de um pedículo ou de um processo espinhoso pode ser o único sinal de uma metástase tumoral). Note a regularidade dos espaços intervertebrais e dos bordos articulares. As interapofisárias das primeiras vértebras podem ser observadas nesta projecção.

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6
Q

A Região Lombar​

Anatomia Radiológica

Perfil

A

No perfil, apreciamos melhor a morfologia dos corpos vertebrais (esmagamentos, osteófitos, rectificação
da face anterior, erosão dos vértices) e a dimensão dos espaços intervertebrais: aumentam ligeiramente de L 1 a L4(L4-L5 está geralmente coberto pelo osso ilíaco nesta projecção).

Aprecie a regularidade e a densidade das plataformas vertebrais. Note a existência de acentuação ou diminuição da lordose fisiológica.
Estude a eventual existência de calcificações dos discos e ligamentos intervertebrais. Avalie o contraste de densidade entre o corpo vertebral e os tecidos vizinhos. A sua diminuição pode indicar osteoporose. Não confunda a sobreposição de gás intestinal com uma lesão lítica. Nesta projecção, tornam-se evidentes as listeses (deslizamento anterior de uma vértebra sobre a que lhe está abaixo).

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7
Q

A Região Lombar​

Quais as causas mais comuns de dor lombar?

Sinais de alarme

A

As causas mais comuns de lombalgia são apresentadas no quadro 11. 1. A esmagadora maioria dos casos estará
incluída numa das primeiras três categorias. O objeclivo central consiste em distingui-los dos restantes e dar, a todos, a melhor orientação

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8
Q

A Região Lombar​​

Interrogatório

A
  1. Quando e como começou?
  2. Onde se localiza a dor? Tem Irradiação?
  3. Qual o ritmo da dor?
  4. Que situações agravam ou melhoram a dor?
  5. Inquérito Sistemático
  6. Avaliação Psicológica e Social
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9
Q

A Região Lombar​​

Interrogatório

Quando e como começou a dor?

A
  • *Uma dor surgida pela primeira vez antes dos 30 ou depois dos 50 anos merece, desde logo, atenção especial por ser muito maior a probabilidade de um diagnóstico específico. O mesmo deverá pensar•
  • se perante uma alteração aguda das características da dor num lombálgico crónico.**

As situações de lumbago, bem como as hérnias discais e as fracturas osteoporóticas, têm habitualmente início súbito, frequentemente relacionado com esforços em flexão ou rotação forçada.

As lesões inflamatórias, infecciosas e mesmo metastáticas têm início progressivo, atingindo um período de estado em algumas semanas ou meses.

Pelo contrário, a lombalgia crónica comum só leva, e m regra, o paciente ao médico após meses ou anos de sofrimento, com episódios recorrentes de intensidade crescente.

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10
Q

A Região Lombar​​

Interrogatório

Onde se localiza a dor? Tem irradiação?

A

Quanto mais precisamente localizada for a dor, mais provável é um diagnóstico específico.

A dor da lombalgia mecânica crónica e da fibromialgia tende a ser difusa e mal localizada, referenciada a uma área extensa da região lombar.

Pelo contrário, na espondilodiscite, na metástase ou na fractura osteoporótica, o doente aponta um local bastante exacto.

A dor de sacroilíte predomina na região lombo sagrada, com irradiação às nádegas.

A localização da dor pode também indicar-nos a origem mais provável de uma dor referida.
O doente deve sempre ser inquirido sobre a irradiação da dor, presença de parestesias e sua distribuição, perturbações dos esfíncteres ou falta de força localizada.
A dor que irradia ao longo de um dermátomo sugere compressão radicular.A mais típica destas situações é a chamada dor ciática, causada por irritação das raízes de LS-S1. A dor, de tipo parestésico, irradia pela face externa da coxa até à perna, podendo atingir o pé. A compressão de raízes mais altas é muito rara.

Uma descrição de falta de forças nas pernas é muito comum em doentes lombálgicos e deve ser valorizada se o exame neurológico a confirma.

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11
Q

A Região Lombar​​

Interrogatório

Qual o ritmo da dor?

A

Na esmagadora maioria dos casos, terá ritmo tipicamente mecânico: alivia com o repouso, especialmente em decúbito, agrava com o ortostatismo e a marcha e com movimentos de flexão e extensão. A obesidade e a hiperlordose lombar estão muitas vezes presentes

Qualquer dor de ritmo inflamatório merece atenção especial: é um sinal de alarme. Lombalgia que persiste ou predomina durante a noite, com ou sem rigidez matinal, corresponde, até prova em contrário, a situação inflamatória (espondilite, espondilodiscite .. ,), metastática (mama, próstata, rim) ou fractura osteoporótica.

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12
Q

A Região Lombar​​

Interrogatório

Que situações agravam o melhoram a dor?

A

Referimo- nos já ao esforço, mas outros aspectos merecem também atenção.

  • *A dor que melhora com movimento está provavelmente relacionada com processo inflamatório.**
  • *O agravamento da dor por manobras de Valsava (propositadas ou aquando de tosse, espirro ou esforço de defecação, por exemplo) sugerirá a presença de irritação radicular, especialmente se houver irradiação típica.**

O doente com radiculopatia refere também, com fr quência, que as dores são mais intensas quando está parado, em pé, do que a caminhar.
A situação de estenose lombar, mais frequente em idosos, oferece um quadro clínico sugestivo, mas pouco claro: a dor é profunda, difusa e mal definida (tipo “cansaço”), envolvendo a região lombar e parte proximal dos membros. Agrava com a marcha e pode ter carácter disestésico. A perturbação dos esfíncteres é rara e tardia, mas há muitas vezes sensação de falta de força nos membros inferiores. Surge, em regra, após algum tempo de marcha, obrigando o doente a alguns minutos de repouso. Tipicamente, as dores são mais intensas quando o doente desce uma ladeira do que quando a sobe.
Curioso, não é? Por que será?

Quando descemos num plano inclinado, colocamo-nos em hiperlordose lombar para manter o equilíbrio.
Se subimos, temos tendência a fazer flexão da coluna. A hipelordose diminui o diâmetro do canal lombar, agravando os sintomas.

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13
Q

A Região Lombar​​

Interrogatório

Inquérito sistemático

A

A presença de sinais de alarme em doente lombálgico torna especialmente importante o inquérito sistemático.
Indícios de doença péptica, pancreática, intestinal, ginecológica ou urológica podem ser a chave do diagnóstico.
Uma descrição de psoríase pode reforçar a hipótese de espondilite psoriática, etc., etc.
A pesquisa de sintomas gerais importantes, como a febre e perda de peso, será feita aqui, se não tiver ocorrido antes.

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14
Q

A Região Lombar​​

Interrogatório

Avaliação Psicolágica e Social

Sinais amarelos

A

Estes aspectos ganham uma relevância notável no contexto da lombalgia mecânica crónica. Na realidade,
foi demonstrado que o perfil psicológico do doente é um dos factores mais determinantes da evolução, ou não, de um episódio agudo para a cronicidade. As suas convicções sobre a natureza e o prognóstico da sua doença e as suas estratégias de lidar com o problema (estratégias de “coping” ) são elementos decisivos que deveremos apreciar.
A existência de conflitos laborais ou judiciais (por exemplo, um pedido de indemnização após acidente de trabalho) poderá tornar a lombalgia particularmente renitente à terapêutica, se não houver uma abordagem integrada destes aspectos.

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15
Q

A Região Lombar

Exame Clínico Loco-Regional

Aspectos básicos

A

O exame reumatológico geral delineado no capítulo 6 dá-nos, desde logo, indicação da existência de dor ou limitação de mobilidade da coluna lombar.

A dor que surge sobretudo com movimentos de flexão sugere patologia dos discos e dos corpos vertebrais.

A que surge sobretudo na extensão aponta para patologia das articulações interapofisárias ou para espondilolistese.
A dor com todos os movimentos constitui um sinal de alarme.
Se o doente vem por lombalgia ou o exame geral revelou anomalias, prosseguimos com mais detalhe.

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16
Q

A Região Lombar

Exame Clínico Loco-Regional

Ver

curvaturas da coluna

A

Aprecie as curvaturas da coluna com o doente de pé.

A coluna lombar tem, em condições normais, uma leve curvatura de concavidade posterior (lordose fisiológica).
A lombalgia comum inespecifica está muitas vezes associada a um exagero desta curvatura - hiperlordose.
Esta situação é mais comum em mulheres e pode ser agravada pelo uso de sapatos altos e deficiente força muscular dos músculos da parede abdominal. Qualquer que seja a causa, a hiperlordose determina uma sobrecarga das estruturas de suporte da coluna e conflitos de espaço na superfície de extensão, que agravam e mantêm a dor. A sua correcção é um dos objectivos do tratamento.

A diminuição da lordose ou rectificação da coluna lombar é mais comummente observada em situações de espondilite anquilosante já avançada.

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17
Q

A Região Lombar

Exame Clínico Loco-Regional

Ver

Escoliose

A

A escoliose é também causa de dor. Poderá ser meramente postural ou ser determinada por rotação das vértebras (congénita ou adquirida). A escoliose estrutural, se grave, deve ser enviada para centro especializado. A escoliose postural é, em princípio, acessível a correcção em fisioterapia ou compensação de desigualdade do comprimento dos membros inferiores. Para distinguir as duas, pedimos ao doente que flicta completamente a coluna, tentando levar os
dedos ao chão. A escoliose postural corrige-se nesta posição: a coluna fica alinhada e os ombros à mesma altura.

Na escoliose estrutural fixa, o desvio mantém-se em flexão e os ombros ou a parede torácica mostram assimetria

Uma das causas mais comuns de escoliose e lombalgia consiste na dismetria dos membros inferiores (diferença significativa de comprimento). Esta situação deve ser despistada no exame objectivo: com o doente em pé e de costas para si, tendo os joelhos em extensão, coloque cada um dos seus indicadores sobre a crista ilíaca de cada lado do
paciente e aprecie a sua posição relativa.
A escoliose devida a dismetria desaparece com o doente sentado.
Na suspeita de dismetria significativa justificarse-á um Rx. métrico dos membros inferiores. A correcção de diferenças significativas (> 1 cm), por palmilha ou compensação do salto do sapato, pode atenuar a escoliose, tratando e prevenindo a lombalgia.

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18
Q

A Região Lombar

Exame Clínico Loco-Regional

Ver

Curvaturas normais e anormais da coluna

A
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19
Q

A Região Lombar

Exame Clínico Loco-Regional

Ver

Escoliose postural vs Escoliose estrutural

A
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20
Q

A Região Lombar

Exame Clínico Loco-Regional

Ver

Dismetria dos membros inferiores

A
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21
Q

A Região Lombar

Exame Clínico Loco-Regional

Palpar

A

As articulações da coluna não são acessíveis a palpação directa, em virtude da profundidade a que se encontram.
Com o doente em decúbito ventral faça pressão com a ponta dos dedos sobre os processos espinhosos desde L 1 a S2.

Alguns autores sugerem a percussão da coluna com o punho cerrado. Palpe também as massas musculares paravertebrais de um e outro lado.Note os locais de dor: quanto mais localizada, mais relevante em termos diagnósticos.

  • *Se a dor é localizada, tente distinguir a dor do ligamento interapofisário (ligamentite) da dor vertebral: no primeiro caso, a dor localiza-se entre os processos espinhosos. No segundo, é a tentativa de mobilização do processo que desperta
    dor. ** Esta apreciação pode ser mais fiável com o doente sentado em flexão da coluna lombar, usando o bordo da campânula do estetoscópio para palpar os ligamentos, entre os processos.
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22
Q

A Região Lombar

Exame Clínico Loco-Regional

Mobilizar

A

Quando o exame reumatológico geral indica a limitação de mobilidade da coluna lombar, pode ser útil proceder a quantificação mais precisa, especialmente para apreciar os resultados do plano terapêutico em visitas subsequentes.

A inclinação lateral pode ser quantificada medindo a distância a que ficam os dedos do chão, quando o doente se inclina, para um e outro lado.mantendo os membros inferiores em extensão, com a palma da mão tocando a perna.
A flexão é mais bem quantificada pelo chamado teste de Schober.
Com o doente em pé, na posição de repouso, assinalamos, com um marcador, o ponto em que a linha que une as cristas ilíacas cruza o ponto médio da coluna lombar (L4-L5). Usando uma fita métrica, fazemos nova marcação 1O cm acima deste ponto. Pedimos então ao doente que flicta anteriormente a coluna ao máximo, medindo a distância entre as duas marcações.
Em indivíduos jovens e saudáveis, a distância deve, agora, ser superior a 15 cm. Note que a mobilidade da coluna diminui naturalmente com a idade.

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23
Q

A Região Lombar

Exame Clínico Loco-Regional

Exame das articulações sacroilíacas

A

Se a lombalgia tem ritmo inflamatório, palpe também as articulações sacroilíacas com o doente em decúbito ventral. De seguida, faça compressão póstero-anterior sobre a linha média do sacro, para ver se desperta dor
sacroilíaca. Peça depois ao doente que se coloque em decúbito dorsal. Apoie as suas mãos sobre as espinhas ilíacas ântero-superiores, cruzando-as (isto é, mão esquerda sobre a espinha ilíaca ântero-superior esquerda do doente e vice-versa). Faça um esforço de compressão e abertura da bacia do doente. A manobra é positiva se despertar dor na região sagrada, sugerindo compromisso das articulações sacroilíacas (a dor sob as suas mãos não tem significado … mas pode ser especialmente intensa em doentes fibromiálgicos).
Quando acabar o exame do abdómen e dos membros inferiores, peça ao doente que se levante da marquesa, erguendo o tronco sem apoio dos braços: o seu grau de dificuldade dá-lhe uma ideia do estado dos seus músculos abdominais, os melhores aliados da coluna lombar!

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24
Q

A Região Lombar

Exame Clínico Loco-Regional

Exame nerulógico

Força muscular correspondente a cada raiz

A

Na suspeita clinica de compromisso neurogénico, é essencial proceder a exame neurológico dos membros inferiores.

25
Q

A Região Lombar

Exame Clínico Loco-Regional

Exame nerulógico

A

O reflexo patelar é dependente de L3-L4 e o aquiliano de S1.
A dor ciática deriva da irritação das raízes de L5 ou S 1. Caracteriza-se pela sua localização lombar com irradiação pela face posterior da coxa até abaixo do joelho. Se a dor não passa do joelho, falamos de lombo-cruralgia, mas não de ciática. Com frequência, a irradiação da dor continua pela face ântero-externa da perna, para atingir o pé, na sua face dorsal (se derivada de L5) ou pela face posterior da perna e face plantar do pé (se derivada de S1).
Pode haver défice sensitivo na área do dermátomo correspondente o u motor: diminuição da força de dorsiflexão do pé (L5) ou da sua extensão (S1). O reflexo aquiliano pode estar diminuído. Contudo, estes défices neurológicos são tardios e não devemos exigir a sua presença para fazer o diagnóstico.
Os testes de distensão do nervo ciático são bastante mais precoces.
O doente está em decúbito dorsal, relaxado, enquanto o médico eleva a sua perna pelo calcanhar, com o joelho em extensão, observando o doente para sinais de dor. O teste é positivo se a manobra causa dor típica (lombar com irradiação) quando a coxofemoral está entre 30 e 60 de flexão. A dor surgida acima desse ângulo não é necessariamente patológica. Dor apenas na face posterior do joelho pode ser devida a músculos ísquio-tibiais curtos (comum em homens) e não deve ser valorizada. De seguida, flectimos o joelho para permitir maior grau de flexão da anca e procedemos à extensão passiva do joelho: o aparecimento de dor típica, com irradiação, constitui o sinal de Laségue

Poderemos reforçar a interpretação deste teste se elevarmos a perna, com o joelho em extensão, até ao máximo tolerado sem dor. Nessa altura, induzimos dorsiflexão passiva do pé (sinal de Bragard)
O desencadeamento de dor típica com esta manobra reforça a indicação de que há compromisso do nervo ciático e/ou suas raízes. A inconsistência destes sinais deve levantar a suspeita de manifestação de ansiedade ou manipulação por parte do doente ou ainda de pseudociática (por síndroma do músculo piriforme ou bursite trocantérica, por exemplo)

Uma forma de distinguir a manipulação pelo doente consiste em promover a flexão da perna, com extensão do joelho, estando o doente sentado. A manobra reproduz o teste de Lasêgue, mas é menos conhecida.

26
Q

A Região Lombar

Exame Clínico Loco-Regional

Exame nerulógico

Dermátomos radiculares dos membros inferiores

A
27
Q

A Região Lombar

Quais os 5 grandes grupos clínicos?

A

Terminados o inquérito e o exame objectivo, as causas comuns de lombalgia poderão ser agrupadas para fins operacionais em cinco grandes grupos clínicos:

lombalgia mecânica;
lombalgia inflamatória;
lombalgia neurogénica;
lombalgia de causa sistémica;
lombalgia psicogénica.

28
Q

A Região Lombar

Lombalgia Mecânica

A

A dor está relacionada com os movimentos e esforços, sendo aliviada pelo repouso.

A posição prolongada em pé ou sentado pode agravar a dor.

Não piora com manobras de Valsava e não tem carácter disestésico.

A dor pode irradiar até ao joelho, mas não abaixo dele, sem carácter disestésico.

Não há défice neurológico.
A espondilartrose. as perturbações posturais e pequenas distensões musculares ou ligamentares são as causas subjacentes mais comuns.

Representa cerca de 90% dos casos de lombalgia em clínica corrente.

29
Q

A Região Lombar​

Lombalgia Inflamatória

A

A dor é mais acentuada durante a noite e manhã, acompanhando-se de rigidez matinal prolongada (> 5 minutos).

O exercício alivia a dor.

As espondilartropatias seronegativas são a causa mais comum, mas não representarão mais do que 1% de todas as lombalgias observadas em ambulatório geral.

30
Q

A Região Lombar​

Lombalgia Neurogénica

A

A lombalgia tem ritmo mecânico, mas irradia abaixo do joelho, seguindo um dermátomo (mais frequentemente LS ou S1).

Há frequentemente parestesias e a dor é agravada por manobras de Valsava.

O exame neurológico pode encontrar alerações da força, sensibilidade e reflexos miotáticos.

Os testes de estiramento do nervo ciático são geralmente positivos. Raramente, uma lombalgia neurogénica pode originar-se em raízes mais elevadas, com irradiação e exame neurológico correspondente.

As hérnias discais constituem a causa subjacente mais comum, mas podem também dever-se a
osteofitose, fracturas, neoplasias, etc.

31
Q

A Região Lombar​

Lombalgia de Causa Sistémica

A

A dor pode ter ritmo variado, mas não é, em regra, aliviada pelo decúbito.

O exame objectivo encontra, com frequência, focos de dor bem delimitados.

A dor pode ser referida de vísceras intra-abdominais ou traduzir causas locais graves, como metástases ou infecção vertebral.

A presença de manifestações sistémicas, como febre, perda de peso ou dor abdominal e o início antes dos 30 ou depois dos 50 anos, devem levantar a suspeita.

32
Q

A Região Lombar​

Lombalgia Psicogénica

A

A lombalgia puramente psicogéníca é rara. Contudo, as manifestações de dor podem ser exageradas, consciente ou inconscientemente, pelo doente em situações como depressão, conflito laboral, ganho secundário ou personalidade manipulativa.

Um componente psicogénico pode, naturalmente, acompanhar causas objectivas de dor, merecendo a valorização devida.

A suspeita deve surgir quando a descrição é feita em termos particularmente dramáticos e coloridos e a limitação funcional descrita contrasta, por excesso, com a observação física do paciente.

A presença de queixas múltiplas e espúrias, como, por exemplo, parestesias migratórias, sensação de frio nas costas ou dor intensa ao toque superficial, é comum e sugestiva.

O exame neurológico é, em regra, inconsistente.

Considere a hipótese de fibromialgia.

33
Q

A Região Lombar

Lombalgia referida

Destaques

A

Pode surgir em todas as idades.

A dor é pouco ou nada relacionada com os movimentos.

O ritmo varia com a doença subjacente.

O exame da coluna lombar não encontra anomalias que justifiquem a dor.

O inquérito sistemático e o exame físico, orientados para lesões viscerais passíveis de irradiação lombar, constituem a chave do diagnóstico.

34
Q

A Região Lombar

Ciática

Destaques

A

O diagnóstico de ciática exige:
• dor lombar com irradiação abaixo do joelho, com ou sem parestesia;
• postividade dos testes de distensão do nervo ciático;
• défice neurológico (inconstante).

Surge sobretudo em jovens, associada a hérnia discai ou listese lombar, e, mais raramente, em idosos (compressão por osteótitos ou lesão expansiva - neoplasia?).
Quando típica dispensa exames complementares.
Repouso de curta duração, analgésicos e relaxantes musculares são a base do tratamento inicial.
O doente deve ser estimulado a retomar a actividade física normal logo que possível e a aderir a um programa de exercícios regulares da coluna.
A persistência de dor e défice neurológico após 4 a 8 semanas de tratamento conservador justifica consideração de fisioterapia ou mesmo intervenção cirúrgica.

35
Q

A Região Lombar

Lombalgia Crônica Comum

Destaques

A

É uma situação extraordinariamente frequente na prática corrente, especialmente em idosos.

Define-se como dor lombar com mais de 6 meses de duração, sem diagnóstico etiológico específico.

O diagnóstico exige a exclusão de quaisquer indícios de patologia específica (“sinais vermelhos”).

A dor tem ritmo mecânico, com períodos de exacerbação e alívio.

Irradia frequentemente para as nádegas.

O exame local pode mostrar diminuição de mobilidade, sobretudo em ftexão/extensão.

A palpação é difusamente dolorosa.

O exame neurológico é normal.

Está frequentemente associada a estados depressivos, deficiência postural e factores profissionais.

Dispensa exames complementares de diagnóstico.

O plano terapêutico é focalizado na função e não na dor: analgesia, exercício físico regular adaptado, aconselhamento postural, aquisição do peso ideal e manutenção de actívidade física normal.

36
Q

A Região Lombar

Lombalgia Mecânica Aguda

Destaques

A

Ocorre com frequência em indivíduos jovens, geralmente associada a esforços inusüados.

A contractura muscular, palpável, tem papel decisivo na instalação e evoluçáo do processo.

Na ausência de elementos clínicos dissonantes, dispensa exames complementares.

O plano terapêutico assenta no alívio da dor e na retoma de actívídade física normal logo que possível.

O repouso prolongado é contraproducente, facilitando a evolução para a cronicidade.

A manipulação da coluna lombar por técnico experiente pode ser útil, nas primeiras quatro semanas de dor.

A maior parte dos casos resolve em quatro a oilo semanas - a persistência para além disso deve levantar suspeita quanto à etiologia, justificando estudo mais aprofundado ou envio a centro especializado.

É importante tranquilizar o doente, desdramatizar a situação e promover um plano de protecçáo articular a longo prazo.

37
Q

A Região Lombar

Espondilodiscite

Destaques

A

A espondilodiscite é relativamente rara, mas constitui uma urgência reumatológica.

Exige diagnóstico e tratamento oportuno, sob risco de sequelas neurológicas irreversíveis

A suspeita clínica justifica envio a centro de referência sem aguardar alterações radiológicas, que são tardias.

Note o ritmo inflamatório da dor, a sua localização precisa, a associação a sintomas sistémicos de tipo infeccioso.
A Brucella mellítensis, o Mycobacterium tuberculosis e o Staphylococcus aureus são os agentes mais frequentemente implicados.

A radiografia standard da coluna mostra, tardiamente, perda de espaço intervertebral e indefinição das plataformas vertebrais, por vezes com erosões. A imagem pode, contudo, ser indistinguível da espondilartrose comum.

Os reagentes de fase aguda estão elevados, sendo úteis no diagnóstico e seguimento da terapêutica.

Por vezes é indispensável recorrer a biópsia guiada, para cultura e antibiograma.

38
Q

A Região Lombar

Espondilartropatias Seronegativas

A

O ritmo inflamatório da dor constitui um destacado sinal de alarme em lombalgia - deve sempre ser pesquisado e valorizado.

A espondilite anquilosante é a mais comum das espondilartropatias seronegativas [um conjunto de artrites agrupadas pela sua tendência ao envolvimento do esqueleto axial - capítulo 24).

Predominam no sexo masculino e as manifestações iniciam-se geralmente pela 2.ª o u 3.ª décadas da vida.

O exame cuidado das articulações sacroilíacas, com manobras específicas, é crucial para a identilicação destas situações.

O inquérito sistemático é importante na identilicação de indícios associados às diversas doenças: psoríase, uretríte, conjuntivite, diarreia, etc …

As alterações radiográficas são relativamente tardias, mas confirmam o diagnóstico.

39
Q

A Região Lombar

Fractura osteoporótica

Destaques

A

É uma situação comum em idosos, especialmente do sexo feminino.

Embora a maior parte das fracturas osteoporóticas vertebrais ocorra de forma progressiva e clinicamente silenciosa, podem dar origem a quadros de dor aguda, intensa e incapacitante.

As fracturas vertebrais osteoporóticas podem surgir espontaneamente ou na sequência de traumatismo mínimo.

A fractura vertebral osteoporótica sintomática exige tratamento urgente, impondo muitas vezes internamento.

A ocorrência de uma fractura osteoporótica indica um elevadíssimo risco de novas fracturas, impondo tratamento adequado da osteoporose.

Aprecie sempre os indicadores de risco de osteoporose no seu doente, ou os sinais sugestivos da sua presença e institua terapêutica oportuna.

40
Q

A Região Lombar

Pseudociática

Destaques

A

Várias situações podem simular dor ciática:
• bursite trocantérica;
• síndroma do músculo piriforme;
• síndroma da fascia iliotibial.

A clínica é sugestiva de ciática mas a dor. em regra, não é agravada por manobras de Valsava.

O exame neurológico é negativo ou inconsistente.

As manobras de exame físico específicas para causas alternativas são a chave do diagnóstico

41
Q

A Região Lombar

Espondilartrose

A

Consiste na artrose das articulações da coluna vertebral, envolvendo as intervertebrais, as interapofisárias ou, frequentemente, ambas.

Constitui um dos achados radiológicos mais comuns em doentes lombálgicos, sendo quase universal a partir dos 55 ~ 60 anos, embora em graus variados.

O aspecto radiológico pode ser notável, pela presença de osteófitos, por vezes de grandes dimensões, com diminuição do espaço articular e esclerose subcondral. Os osteófitos das articulações interapofisárias podem determinar compressão radicular.O mesmo se passa com osteófitos intervertebrais de localização póstero-lateral. Contudo, os osteófitos mais evidentes na radiografia standard (marginais anteriores e laterais) não podem originar compressão nervosa, sendo valorizáveis, sobretudo, como indicadores da alteração geral da morfologia, estática e função da coluna e não como fontes, individuais, de sintomatologia.

O aspecto radiológico da espondilartrose conduz a que o médico tenha, facilmente, tendência a atribuir-lhe os sintomas. Contudo, deveremos manter em mente dois aspectos fundamentais:

  1. A correlação entre o aspecto radiológico e a clinica é pouco fiável: tanto podemos observar doentes com sintomatologia escassa ou nula, com um Rx. “desastroso·, como encontrar a situação contrária. Assim, o que determina a gravidade da situação é a sintomatologia e não a imagem.
  2. A espondilartrose só justifica medidas terapêuticas específicas em casos excepcionais (quando há dé fice neurológico). Mesmo nestes casos, a orientação terapêutica tem que ser muito ponderada já que pode exigir cirurgia, cujos resultados são frequentemente incertos. Na esmagadora maioria dos doentes com lombalgia e espondilartrose, a orientação terapêutica é a mesma que para outras situações de lombalgia mecânica crónica sem alteração radiográfica: focalizada na função e não na dor, na qualidade de vida do doente e não na sua radiografia; assente, essencialmente, no alívio sintomático e na protecção articular (exercício físico e manutenção da actividade física normal, ajuste do peso corporal).
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Q

A Região Lombar

Espondilartrose

Destaques

A
  • a correlação entre a clínica e a radiologia é muito pobre;
  • só se justifica uma abordagem terapéutica específica na presença de défice neurológico ou dor intratável;
  • não deve considerar-se, para fins práticos, um diagnóstico específico. A apreciação dínica é a decisiva. A avaliação e a terapêutica seguem os mesmos princípios da lombalgia mecànica em geral.
43
Q

A Região Lombar

Hiperostose Embainhante Difusa

A

Trata-se de uma situação comum e que pode ser confundida com espondilartrose ou espondilite anquilosante, sob o ponto de vista clínico e radiológico.

Nesta doença existe calcificação dos ligamentos intervertebrais, constituindo pontes ósseas entre vértebras adjacentes com consequente limitação da mobilidade. As calcificações constituem exostoses projectadas, em ponte, entre corpos vertebrais adjacentes, predominando geralmente na coluna dorsal, e do lado direito. O Rx. de perfil mostra, com frequência, calcificação do ligamento vertebral anterior, à frente da face anterior do corpo vertebral. Para se satisfazerem os critérios radiográficos da doença, é necessário que pelo menos 4 corpos vertebrais adjacentes estejam envolvidos.

Ao contrário do que sucede na espondilartrose, os espaços discais têm altura preservada e não há esclerose subcondral.

Surge mais frequentemente em homens de meia-idade e idosos, tendo associação estatística de risco com o etilismo e a diabetes mellitus.

Determina sintomatologia escassa, traduzida em desconforto axial, de ritmo mecânico e diminuição da mobilidade.

Outras articulações periféricas podem participar desta tendência hiperostótica, conduzindo a artrose precoce, com osteofitose exuberante e, não raro, calcificação de ligamentos e enteses periarticulares. O tratamento é essencialmente sintomático.

44
Q

A Região Lombar

Espondilolistese

A

Deve-se a um defeito dos istmos vertebrais que permite que o corpo vertebral perca a fixação representada pelas articulações interapofisárias, deslizando sobre a vértebra subjacente.

É muitas vezes congénito, mas pode ser devido a traumatismo.

A relação com a clínica é muito variável. O doente pode referir dor lombar, geralmente agravada em extensão. Quanto maior o grau de deslocamento, maior a probabilidade de originar sintomatologia. Pode, raramente, determinar compressão nervosa.

O tratamento é essencialmente conservador (baseado em exercício, postura e tranquilização) recorrendo-se a estabilização cirúrgica nos casos fortemente sintomáticos.

45
Q

A Região Lombar

Spina Bífida

A

Resulta de um defeito congénito de desenvolvimento da coluna lombar, que consiste na duplicação dos processos espinhosos, ficando a parede posterior do canal vertebral sem cobertura óssea completa.

É muito comum e constitui um achado radiológico frequentemente relatado. Na esmagadora maioria dos casos, é benigna e assintomática, não devendo, como regra, considerar-se origem de sintomatologia dolorosa ou neurogénica.

46
Q

A Região Lombar

Fibromialgia

A

Muito embora o quadro típico da fibromialgia seja o de dor generalizada (capítulo 15), muitos doentes com esta afecção focalizam as suas queixas predominantemente a nível lombar. Na ausência de um interrogatório cuidadoso, o inquérito pode centrar a atenção nesta região, perdendo o diagnóstico subjacente e a orientação terapêutica global que se impõe.

47
Q

A Região Lombar

ECD

A

Um dos erros frequentes na prática clínica corrente consiste na realização de demasiados exames complementares no estudo da lombalgia.

A esmagadora maioria dos casos de lombalgia corresponde ao tipo de lombalgia mecânica sem sinais de alarme e não carece de qualquer estudo complementar, sendo a clínica suficiente para a sua interpretação e orientação terapêutica.

Se realizarmos radiografia simples da coluna em todos estes pacientes, encontraremos algum tipo de anomalia estrutural numa percentagem elevada, com destaque para graus variados de espondilartrose. No entanto, estes achados não devem alterar a nossa orientação terapêutica, já que não dispomos de medidas específicas para cada situação e a correspondência entre a radiologia e a clínica é muito pobre. Um exame que não altera a nossa conduta não é necessário!

Por outro lado, na lombalgia cronica, a realização de exames dispensáveis não é inócua. A dose de radiação em exames radiológicos repetidos não é despicienda, mas o mais importante é o impacto que os exames e os seus achados têm na abordagem que o doente faz da sua própria condição. Perante um diagnóstico estrutural, que tem dificuldade em interpretar, é natural que o doente passe a focar-se nessa doença e não na sua função, que se proteja excessivamente de esforços, ao contrário do que pretende o médico, que justifique perante si e os outros um eventual “papel de doente” ou ganhos secundários.
Se o objectivo do médico é que o doente se mantenha activo, apesar das dores, é mais útil desvalorizar, perante o doente, achados radiológicos de escassa relevância do que atribuir-lhes importância indevida.
Assim, os exames complementares podem ser orientados pelos tipos clínicos de lombalgia acima delineados.

48
Q

A Região Lombar

ECD na Lombalgia Mecânica

A

Não se justificam, na maior parte dos casos, quaisquer exames complementares. Caso se considerem necessários para tranquilizar um doente mais ansioso, devem limitar-se ao indispensável e evitar a sua repetição no tempo. O foco é na função e não na dor ou na sua causa.

49
Q

A Região Lombar

ECD na Lombalgia Inflamatória

A

Sendo a espondilite anquilosante a causa mais frequente deste quadro, justifica-se a realização de radiografia ântero• posterior da bacia, para estudo das articulações sacroilíacas e radiografia da coluna lombar em duas projecções para apreciar a morfologia vertebral e detectar a presença de sindesmófitos {vd. capítulo 24). Estes exames são também adequados a outros tipos de espondilartropatia seronegativa. Estes achados são, contudo, relativamente tardios e a sua ausência não deve excluir o diagnóstico clinicamente bem fundamentado.

50
Q

A Região Lombar

ECD na Lombalgia Neurogénica

A

A história clínica e o exame objectivo são a base do diagnóstico. Na dúvida quanto à existência de défice neurológico, poderá recorrer-se a estudo electromiográfico orientado. A radiografia simples da coluna não permite, em caso algum, confirmar ou excluir a existência de compressão radicular e sua localização. Pode ser útil apenas para apreciar o estado geral da coluna e plausibilidade de intervenção cirúrgica.

O recurso à TAC e à RMN só se justificam se médico e doente encaram a hipótese de recorrer a cirurgia. Fora disso, a sua realização trará mais vezes dificuldades do que soluções. Por exemplo, a RMN identifica pequenas anomalias discais numa percentagem elevada de pessoas completamente assintomáticas. A sua interpretação só pode fazer-se perante um quadro clínico com défice neurológico definido.

51
Q

A Região Lombar

ECD na Lombalgia de Causa Sistémica

A

Levantada a suspeita de uma causa sistémica relevante (metástases, infecção local ou fractura osteoporótica). os exames serão determinados pela natureza desta suspeita, podendo incluir uma multiplicidade de estudos complementares, consoante os casos: hemograma, reagentes de fase aguda, exames bacteriológicos, biopsia guiada, endoscopia digestiva, cintigrama ósseo (metástases), densitometria, etc., etc.

52
Q

A Região Lombar

ECD na Lombalgia Psicogénica

A

É a situação em que a execução de exames desnecessários tem maior risco de iatrogenia. Uma vez assente este diagnóstico, o médico deve ser firme no estabelecimento de limites à investigação e na defesa esclarecida de um plano de actuaçáo consistente.

53
Q

A Região Lombar

Tratamento da Lombalgia Mecânica (4)

A
  1. Educação do doente. Prevenção das recorrências e cronicidade.
  2. Repouso e exercício.
  3. Analgésicos, Anti-inflamatórios e relaxantes musculares.
  4. Fisioterapia
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Q

A Região Lombar

Tratamento da Lombalgia Mecânica

Educação do doente. Prevenção de recorrências e cronicidade

A

É um elemento fundamental na abordagem terapêutica da lombalgia. Antes de mais, o médico deve estar atento à relação psicológica do doente com a sua doença, estimulando nele e na família uma atitude pró actíva e positiva, em que o doente deve procurar manter a sua vida de forma tão normal e completa quanto possível, apesar da dor. Atitudes de protecção excessiva, de desalento e dependência de terceiros devem ser combatidas. Optimismo e auto-suficiência, sempre! A qualidade da relação “médico-doente” foi cientificamente identificada como um dos principais determinantes da evolução da lombalgia.

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Q

A Região Lombar

Tratamento da Lombalgia Mecânica

Repouso e Exercício.

A

Ao contrário da orientação tradicional, está demonstrado que o repouso prolongado arrasta os episódios de lombalgia aguda e facilita a sua evolução para a cronicidade. Na lombalgia aguda incapacitante, o doente deve ser aconselhado a repouso curto (não mais de 48-72 horas) e estimulado a retomar as suas actividades normais, apesar da dor, logo que possível. Em alguns casos, é necessário recorrer a centro de fisioterapia .Devemos instruir o lombálgico crónico quanto à importância nuclear de exercícios regulares e cuidados posturais para a sua coluna, facultando, se possível, folhetos explicativos. Estes exercícios constituem também a melhor prevenção para recorrência de episódios agudos.

Esclarecimentos quanto à importância do peso corporal e da melhor forma de fazer esforços poupando a coluna são úteis e aumentam a adesão do doente ao plano terapêutico. É fundamental fazer com que o doente sinta que lhe cabe a parte mais importante do seu próprio tratamento.

56
Q

A Região Lombar

Tratamento da Lombalgia Mecânica

Analgésicos, Anti-inflamatórios, Relaxantes musculares

A

Na lombalgia estabelece-se, com frequência, um ciclo vicioso de dor e contractura muscular: os estímulos nociceptivos intensos e repetidos derivados da patologia causal determinam uma contracção muscular reflexa exagerada, que acentua e perpetua a dor. Este fenómeno é particularmente relevante em casos de lombalgia aguda em que a contractura muscular é clinicamente aparente. Nestas circunstâncias, o alívio tão completo quanto possível da dor é importante não só para o conforto do doente, mas também para a resolução fisiopatológica do quadro clínico.
Os analgésicos simples devem merecer a nossa preferência, reservando os anti-inflamatórios para os casos que se mostrem resistentes. Os relaxantes musculares são especialmente úteis na presença de contracção muscular reflexa exagerada.

Em casos crônicos e resistentes, pequenas doses de antidepressivos (por exemplo: amitriptilina) podem ser utéis no controlo da dor

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Q

A Região Lombar

Tratamento da Lombalgia Mecânica

Fisioterapia

A

A aplicação local de calor húmido tem um efeito relaxante muito útil, especialmente na lombalgia aguda. De igual modo, a massagem local suave pode ajudar a desfazer a contractura muscular. Estes meios podem ser aplicados pelo próprio doente e pela família, no domicílio, com instrução mínima (banho de imersão, por exemplo). O recurso a centros fisiátricos pode ser necessário em situações particularmente violentas ou renitentes a medidas simples. A manipulação vertebral por técnico experiente pode ser muito útil nas fases iniciais (< 4 semanas) de um episódio agudo.

Sessões de fisioterapia ou de termas podem ser úteis na abordagem do lombálgico crónico com episódios de agudização incapacitante, mas não dispensam o empenhamento do doente em exercício regular autónomo. A visita ao centro de fisioterapia deve sempre ser aproveitada como uma oportunidade de educação do doente lombálgico e não apenas como uma sessão passiva de tratamento.

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Q

A Região Lombar

Tratamento da Lombalgia Mecânica Simples

Orientações gerais

A
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Q

A Região Lombar

Quando enviar ao especialista?

A

A esmagadora maioria dos doentes com lombalgia pode e deve ser tratada em ambulatório pelo médico de família. Justifica-se enviar:
Toda a lombalgia de ritmo inflamatório e causa não esclarecida.

• Sempre que houver suspeija de causa sistémica subjacente.

• Perante défice neurológico que persiste após medidas conservadoras.

• Na lombalgia mecânica aguda: se persistir dor acentuada após quatro a seis semanas de tratamento conservador.

• Na lombalgia mecânica cronica: a manter-se dor incapacitante, apesar de um plano integrado de cuidados gerais.