HEPATO Vol 3 - Cirrose hepática e suas complicações Flashcards

Cirrose hepática e suas complicações

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1
Q

1 – Uma paciente de 64 anos, portadora de cirrose hepática alcoólica e encefalopatia hepática crônica em uso de espironolactona e lactulona, inicia quadro de ascite, oligúria e elevação de ureia e creatinina, além de sódio urinário de 8 mEq/L, sem proteinúria. De acordo com a principal hipótese diagnóstica, podem ser instituídos os seguintes regimes terapêuticos para essa paciente, EXCETO:

a) Furosemida.
b) Midodrina.
c) Octreotida.
d) Albumina.

A

Temos um paciente com cirrose hepática descompensada (encefalopatia crônica) e piora progressiva da função renal associada ao surgimento de ascite! Logo, somos obrigados a pensar na Síndrome Hepatorrenal (SHR)! TODA VEZ QUE UM HEPATOPATA, GERALMENTE COM ASCITE VOLUMOSA, MANIFESTAR OLIGÚRIA E ELEVAÇÃO DAS ESCÓRIAS NITROGENADAS, DEVEMOS PENSAR NESSA SÍNDROME.
Os critérios diagnósticos da SHR são:
(1) cirrose com ascite;
(2) creatinina > 1,5 mg/dl (ou aumento absoluto ≥ 0,3 mg/dl em 48h ou aumento relativo > 50% do valor basal em até 7 dias);
(3) ausência de melhora da creatinina após dois dias de retirada de diuréticos e expansão volêmica com albumina (1 g/kg/dia) ;
(4) ausência de choque;
(5) ausência de uso recente ou atual de drogas nefrotóxicas;
(6) ausência de doença parenquimatosa renal, a qual pode ser definida por: proteinúria > 500 mg/dia, hematúria > 50 células por campo de grande aumento e ultrassonografia renal alterada.
A melhor terapia para a SHR é sem dúvida o transplante hepático. O tratamento clínico é menos efetivo, porém, serve como medida contemporizadora para “ganhar tempo” até que se consiga um transplante. Ele consiste no seguinte: uso de vasoconstritores (ex.: terlipressina ou noradrenalina ou octreotida + midodrina) associado à albumina humana venosa (1 g/kg/dia). Além disso, é claro, temos que suspender os diuréticos em uso, pois tal manobra faz parte dos próprios critérios diagnósticos da SHR.
Enfim, resposta certa: A.

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2
Q

2 – Assinale o procedimento cirúrgico utilizado para descomprimir varizes de esôfago considerado uma derivação seletiva:

a) Esplenorrenal distal.
b) Mesentérico-cava calibrada.
c) Esplenorrenal laterolateral de pequeno diâmetro.
d) Porto-cava calibrada.
e) Esplenorrenal central.

A

O grande exemplo de uma derivação seletiva para tratamento cirúrgico da hipertensão porta é a derivação ESPLENORRENAL DISTAL (cirurgia de Warren), na qual a veia esplênica é desconectada da veia porta e anastomosada na veia renal esquerda, enquanto as veias gástrica esquerda e as gastroepiploicas são ligadas, o que provoca uma descompressão portal “compartimentalizada” (somente o território esofagogástrico e esplênico). Neste procedimento, o fluxo pela veia mesentérica é mantido em sua totalidade, logo, o restante da circulação porta continua “drenando” para o fígado. Conclusão: ao mesmo tempo em se descomprimem as varizes esofagogástricas, o fluxo portal em direção ao fígado é mantido, evitando-se a encefalopatia e a própria degeneração da função hepática decorrente da perda do fluxo porta, problemas frequentes nas derivações não seletivas! No entanto, é bom lembrar que o procedimento não é perfeito. Como a hipertensão intrassinusoidal é mantida, a ascite persiste e inclusive pode piorar, o que de fato acontece se houver lesão de vias linfáticas retroperitoniais durante a dissecção da veia renal esquerda.
Gabarito: A.

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3
Q

3 – Pacientes com cirrose hepática e ascite devem receber profilaxia para peritonite bacteriana primária em caso de:

a) Síndrome hepatorrenal.
b) Encefalopatia hepática.
c) Trombose de veia porta.
d) Hemorragia digestiva alta.

A

Em um paciente que tem cirrose hepática complicada por ascite, a chance de INFECÇÃO após um episódio de hemorragia digestiva alta (ex.: rotura de varizes de esôfago) gira em torno de 70%, ou seja, é mais provável que ele desenvolva infecção do que o contrário. Na realidade, a literatura mostra que 20% desses pacientes JÁ TÊM infecção no momento da HDA, e os 50% que restam desenvolvem alguma infecção nos dias subsequentes à HDA. Diversas formas de infecção podem aparecer nesse contexto (ex.: ITU, PNM), porém, na grande maioria das vezes, o que se observa é a PBE: Peritonite Bacteriana Espontânea. De fato, a literatura também já deixou claro que o uso de antimicrobianos efetivamente diminui a morbimortalidade infecciosa associada à HDA no paciente que tem cirrose hepática + ascite e, curiosamente, também diminui a chance de ressangramento. Sendo assim, é praxe nesses doentes prescrever a chamada “profilaxia primária aguda para PBE”! Vale dizer, no entanto, que o termo mais correto não seria “profilaxia primária aguda”, e sim “tratamento preemptivo” (já que, como vimos, muitos pacientes JÁ TÊM infecção no momento da apresentação, ainda que a mesma seja assintomática). Diferentemente da profilaxia primária crônica da PBE, prescrita em longo prazo e com baixas doses de antimicrobiano para o paciente cirrótico avançado que tem níveis reduzidos de proteína no líquido ascítico (< 1 g/dl), aqui o que se prescreve é um curso de antibiótico em DOSES TERAPÊUTICAS (ex.: norfloxacino 400 mg 12/12h por 7 dias, ou ceftriaxona 1 g/dia por 5 dias). Seja como for, tenha em mente que este benefício específico só está confirmado para os casos de hemorragia digestiva, e não em outras complicações, como as demais opções de resposta.
Resposta certa: D.

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4
Q

4 – Na hipertensão portal por cirrose alcoólica, com varizes esofágicas sangrantes, qual o melhor procedimento, após estabilização hemodinâmica?

a) Cirurgia de Warren.
b) Derivação esplenorrenal proximal e esplenectomia.
c) Desconexão ázigo-portal e esplenectomia.
d) Derivação porta-cava.
e) Ligadura elástica endoscópica e betabloqueador.

A

A questão está se referindo à profilaxia secundária das varizes de esôfago, isto é, aquela que visa evitar novos sangramentos em pacientes que já tiveram um sangramento prévio controlado. Sabemos que a opção de primeira escolha para estes casos consiste na associação de betabloqueadores não seletivos com erradicação das varizes por meio de sessões repetidas de ligadura elástica endoscópica! Os betabloqueadores não seletivos (propranolol, nadolol) reduzem a hipertensão porta por 2 mecanismos:
(1) diminuição do débito cardíaco (bloqueio dos receptores beta-1 no coração) e
(2) vasoconstrição esplâncnica (bloqueio dos receptores beta-2 nos vasos do território da veia porta). A ligadura elástica endoscópica constitui um tratamento “local” para as varizes, isto é, elimina as varizes individuais sem modificar a pressão no território porta. As sessões são feitas a cada 7-14 dias até que todas as varizes sejam erradicadas. Posteriormente, revisões endoscópicas serão feitas a cada 6 meses. Somente para os pacientes que ressangram a despeito dessa estratégia de profilaxia secundária é que se indica uma abordagem mais agressiva. O método de
escolha, nesta situação, é o TIPS. Na ausência deste podemos recorrer às cirurgias para hipertensão porta (logo, de A a D, todos constituem medidas de exceção)
Resposta certa: E.

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5
Q

5 – ”Foi realizada uma Endoscopia Digestiva Alta (EDA) em um paciente portador de cirrose hepática e hipertensão portal. Como já era de se esperar, a EDA mostrou varizes no esôfago. Neste momento, optou-se por profilaxia primária de sangramento das varizes.”
Qual é o método de escolha na profilaxia primária?
a) Ligadura elástica.
b) Betabloqueador seletivo beta-2.
c) Betabloqueador seletivo beta-1.
d) Betabloqueador não seletivo.

A

Todo paciente com o diagnóstico de cirrose hepática deve ser avaliado por Endoscopia Digestiva Alta (EDA) para verificarmos a presença de varizes e avaliarmos sua extensão (calibre e outros sinais de alto risco de sangramento, como a presença de manchas vermelhas ou pontos hematocísticos)! A EDA deve ser repetida a cada 2-3 anos na ausência de varizes, 1-2 anos na presença de pequenas varizes, e anualmente se Child-Pugh B/C. A profilaxia PRIMÁRIA (para o paciente que NUNCA sangrou) está indicada
(1) nas varizes de médio e grande calibre (F2/F3); e
(2) varizes de pequeno calibre em pacientes com alto risco de sangrar (Child B/C ou “pontos avermelhados” à EDA).
A profilaxia PRIMÁRIA é feita com BETABLOQUEADORES não seletivos (propranolol e nadolol) OU LIGADURA ELÁSTICA ENDOSCÓPICA!
Os betabloqueadores não seletivos diminuem a hipertensão porta, por reduzirem o débito cardíaco (bloqueio beta-1) e por levarem à vasoconstrição esplâncnica (bloqueio beta-2). A ligadura elástica é o método de escolha quando o paciente NÃO TOLERA OS BETABLOQUEADORES. É feita a cada 1-2 semanas, até a obliteração completa de todas as varizes (ressaltando-se que este último tratamento não diminui os níveis de pressão na veia porta, por isso não constitui a terapia ideal). Assim, o importante aqui era ter em mente o seguinte: diferentemente da profilaxia secundária (pacientes que já sangraram antes), na qual a conduta consiste em betabloqueadores não seletivos
JUNTO com erradicação endoscópica das varizes, na profilaxia primária (aquela que é feita no paciente que nunca sangrou) a conduta consiste em betabloqueador (preferencial) ou erradicação endoscópica, ou seja, um ou outro, e não os dois juntos.
Gabarito: D.

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6
Q

6 – Em relação à fisiopatologia da formação da ascite na cirrose, assinale a alternativa INCORRETA:

a) O aumento da resistência intra-hepática com aumento da pressão sinusoidal é o evento inicial.
b) Para formação de ascite é necessário que a pressão na veia portal seja superior a 12 mmHg.
c) A vasodilatação esplâncnica causa diminuição do volume arterial efetivo e consequente ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona com retenção de água e sódio.
d) Pacientes com cirrose e ascite apresentam aumento da resistência vascular sistêmica e diminuição do débito cardíaco.
e) Com a evolução do quadro há liberação do hormônio antidiurético, levando a piora da ascite e hiponatremia.

A

Na medida em que o parênquima hepático “cirrotiza”, ocorre um aumento progressivo na resistência vascular INTRA-HEPÁTICA (o que se reflete na pressão da veia porta, fazendo-a aumentar) levando a um aumento na pressão sinusoidal e “transudação” de líquido para o interstício hepático (líquido esse que sobrecarrega o sistema linfático local gerando derrame intraperitonial). Sistemicamente, todo esse processo se acompanha dos
seguintes eventos:
(1) vasodilatação esplâncnica progressiva,
(2) desvio volêmico para o território enteromesentérico, com diminuição do volume circulante efetivo (volume de sangue no leito arterial), ativação reflexa do SRAA, do sistema nervoso simpático e secreção “não osmótica” de ADH, causando hiperaldosteronismo secundário (retenção renal de sal e água) e retenção renal de um excesso adicional de água livre (hiponatremia), fenômenos combinados que formam um ciclo vicioso de piora progressiva da ascite e da anasarca. Essa vasodilatação esplâncnica leva a uma redução da resistência vascular sistêmica, o que faz aumentar o débito cardíaco!
Logo, resposta certa: D.

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7
Q

7 – Paciente com cirrose alcoólica, classificado como Child-Pugh C, evoluiu com platipneia e ortodeoxia. Qual síndrome de comprometimento orgânico extra-hepática está presente neste caso?

a) Encefalopatia hepática.
b) Gastropatia hepática.
c) Cardiomiopatia cirrótica.
d) Síndrome hepatorrenal.
e) Síndrome hepatopulmonar.

A

Platipneia (dispneia na posição ortostática que melhora com o decúbito) e ortodeoxia (dessaturação arterial na posição ortostática que melhora com o decúbito) são manifestações características da síndrome hepatopulmonar, condição que pode aparecer na cirrose hepática avançada de qualquer etiologia! Seu mecanismo é o seguinte: ocorre uma intensa vasodilatação de capilares pulmonares, geralmente nas bases do pulmão (as chamadas DVIPs - Dilatações Vasculares Intrapulmonares). Lembre-se que os capilares pulmonares possuem diâmetro suficiente para a passagem de uma hemácia de cada vez, fato que maximiza a oxigenação do sangue. Quando esses capilares se transformam em DVIPs (cujo diâmetro chega a ser 50x maior que o dos capilares), um grande número de hemácias acaba passando ao mesmo tempo pela membrana alveolocapilar, reduzindo de forma expressiva a oxigenação do sangue (isto é, forma-se um “shunt direita-esquerda” intrapulmonar, com sangue desoxigenado passando pelos pulmões sem receber oxigênio). Uma vez que esses vasos dilatados predominam nas bases pulmonares, uma maior quantidade de sangue vai passar por eles justamente quando o paciente assumir a posição ortostática. Resposta certa: letra E.

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8
Q

8 – A peritonite bacteriana espontânea do adulto ocorre, com mais incidência, no paciente cirrótico. Nestes casos, os agentes patogênicos mais frequentemente envolvidos são:

a) Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae.
b) Streptococcus faecalis e Bacteroides fragilis.
c) Staphylococcus aureus e Streptococcus faecalis.
d) Streptococcus pneumoniae e Staphylococcus aureus

A

Os principais patógenos envolvidos na gênese da peritonite bacteriana espontânea associada à cirrose hepática são justamente as principais enterobactérias (Gram-negativas) presentes na microbiota intestinal: E. coli e K. pneumoniae.
O motivo para esta associação é fácil de entender: na cirrose avançada e complicada por hipertensão porta existe maior translocação bacteriana intestinal, havendo, por conseguinte, maior chance de bacteremia e infecções metastáticas a distância pelos referidos germes. Não se esqueça que na maioria das vezes a PBE da cirrose hepática é monobacteriana, sendo o patógeno mais prevalente a E. coli. Vale lembrar ainda que os anaeróbios (apesar de serem enterobactérias igualmente numerosas na microbiota intestinal) raramente estão envolvidos com a translocação intestinal na cirrose hepática.
Resposta certa: A.

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9
Q

9 – Todas as opções abaixo são indicações para o transplante hepático, EXCETO:

a) Fibrose hepática congênita.
b) Hepatite viral crônica.
c) Cirrose alcoólica.
d) Protoporfiria.
e) Colangiocarcinoma.

A

Dentre as doenças neoplásicas que podem ser tratadas com transplante hepático, temos: - Hepatocarcinoma (desde que respeitados os critérios de Milão, isto é:
(1) tumor único < 5 cm,
(2) até três tumores com < 3 cm,
(3) ausência de metástases a distância e invasão linfovascular do hilo hepático);
- Hemangioendotelioma epitelioide;
- Adenomas gigantes.
O colangiocarcinoma intra-hepático é, na verdade, uma CONTRAINDICAÇÃO ao transplante hepático! Todas as demais doenças listadas podem vir a se tornar uma indicação de transplante.
Gabarito: alternativa E.

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10
Q

10 – F.Q.L., 58 anos, gênero masculino, pintor, alcoolista, queixa-se de dor abdominal e febre. Ao exame, nota-se ascite volumosa, sendo indicada paracentese. A análise do líquido ascítico revelou 400 neutrófilos/mm³ e baixo teor de albumina. Em relação a este caso e com seu conhecimento sobre o assunto, assinale a alternativa CORRETA:

a) A administração de albumina não altera o prognóstico nesse tipo de paciente.
b) A baixa concentração prévia de proteínas no líquido ascítico impede o eficaz clearance de bactérias pelos macrófagos e neutrófilos.
c) Certamente, ele é portador de cirrose hepática, já que outras causas de ascite como ICC e síndrome nefrótica não evoluem esse quadro.
d) Em paciente que responde mal à antibioticoterapia, o isolamento de flora mista, particularmente com organismos Gram-negativos entéricos, é típico de peritonite bacteriana espontânea.

A

Quando o autor fala em “ascite com albumina baixa no líquido ascítico”, ele está nos induzindo a pensar em ascite com GASA alto (> 1,1 mg/dl), ou seja, ascite transudativa, secundária a uma hipertensão porta. Quando ele diz que essa ascite foi encontrada num homem alcoólatra, ele basicamente não precisa dizer mais nada para considerarmos que este é o diagnóstico (isto é, cirrose alcoólica descompensada com ascite). Ora, dor abdominal e febre nesses doentes são achados que nos fazem pensar em PBE (Peritonite Bacteriana Espontânea), uma das principais complicações da ascite cirrótica. O diagnóstico de PBE é empiricamente CONFIRMADO pela demonstração da presença de 250 ou mais polimorfonucleares (neutrófilos) por ml de líquido ascítico. Pois bem, vamos então às alternativas! Já está mais do que estabelecido na literatura médica que no tratamento da PBE associada à cirrose hepática existe benefício com a administração de albumina no primeiro e no terceiro dias de tratamento (1,5 g/kg de peso e 1 g/kg de peso, respectivamente). Tal conduta mostrou reduzir a morbimortalidade em ensaios clínicos prospectivos, controlados e randomizados (A errada).
ICC e síndrome nefrótica também podem cursar com ascite transudativa, de GASA alto (> 1,1 mg/dl). Logo, tais entidades fazem parte do diagnóstico diferencial, ainda que, como vimos, o mais provável aqui é cirrose hepática alcoólica (C errada).
Sabemos que a PBE da cirrose é tipicamente monomicrobiana, sendo causada, na imensa maioria das vezes, pela E. coli. Outras etiologias podem ser encontradas raramente, e mais raramente ainda a flora pode ser mista. Este último achado, vale lembrar, é mais sugestivo de peritonite bacteriana secundária, isto é, peritonite por perfuração de víscera oca (D errada).
Enfim, um dos grandes marcos fisiopatológicos da ascite com GASA alto é justamente o que está sendo descrito na letra B: a baixa concentração de proteínas (“opsoninas”) no líquido ascítico facilita a invasão do fluido peritoneal por germes que eventualmente “ganham” a corrente circulatória (ex.: em um episódio de bacteremia transitória associada à translocação bacteriana intestinal, evento relativamente mais frequente no cirrótico do que na população geral). O resultado, por suposto, é a ocorrência de PBE, tal qual no caso apresentado.
Resposta certa: B.

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11
Q

11 – Paciente de 48 anos, internado devido à cirrose hepática descompensada com ascite, evoluiu com encefalopatia hepática, com queda do leito e entorse do cotovelo direito cursando com dor importante. Ultrassonografia abdominal revelou fígado diminuído de tamanho com bordas irregulares, ascite volumosa e veia porta de calibre normal. Endoscopia digestiva alta sem alterações. Paracentese diagnóstica revelou proteína total do líquido ascítico de 1 g/dl sem sinais de Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE). Albumina sérica de 2,5 g/dl. Sem relato de PBE anteriormente. Sobre o caso clínico descrito, assinale a alternativa CORRETA:

a) A analgesia deve ser realizada devido a entorse de cotovelo com anti-inflamatório não esteroidal.
b) A presença de veia porta de calibre normal e a ausência de varizes esofagianas exclui a possibilidade de hipertensão portal.
c) A profilaxia primária para PBE pode beneficiar esse paciente.
d) A albumina deve ser infundida após toda paracentese independente da quantidade de líquido retirada com impacto na redução da disfunção renal aguda.

A

A profilaxia primária (para quem nunca teve) da Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE) está indicada em pacientes cirróticos com níveis de proteína total no líquido ascítico ≤ 1 g/dl. Ela é feita com norfloxacino 400 mg/dia ou sulfametoxazol + trimetoprima 800 mg/160 mg, por tempo indeterminado.
Em relação à alternativa B: o diagnóstico de hipertensão portal não se dá pelo calibre da veia, e sim pelo gradiente de pressão venosa hepática > 5 mmHg, só havendo a formação de varizes esofagogástricas com gradiente de pressão > 10 mmHg. A albumina só será administrada quando retirarmos 5 litros ou mais nas paracenteses, administrando 6-8 g para cada litro retirado (contando com os 5 L iniciais).
Gabarito: C.

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12
Q

12 – Em relação às complicações agudas da hepatopatia crônica, assinale a alternativa CORRETA:

a) A peritonite bacteriana espontânea ocorre, com frequência, em cirróticos sem ascite, principalmente quando a etiologia for alcoólica.
b) A vasodilatação venosa proposta para explicar a retenção de sal e água na cirrose é a hipótese mais aceita na etiopatogenia da síndrome hepatorrenal.
c) O desvio de sangue portossistêmico, impedindo a passagem de várias substâncias nitrogenadas procedentes do intestino, constitui um dos fatores preponderantes na etiologia da encefalopatia hepática.
d) Hemorragia digestiva alta varicosa pode ocorrer em qualquer segmento do tubo digestivo, predominando no fundo gástrico.
e) Dentre os fatores predisponentes mais importantes da encefalopatia hepática destacam-se a hemorragia digestiva alta, peritonite bacteriana, constipação e acidose.

A

A peritonite bacteriana espontânea ocorre em cirróticos COM ascite. É justamente a presença de um líquido ascítico pobre em “opsoninas” (proteína total < 1 g/dl) que favorece a proliferação bacteriana após translocação intestinal (A errada).
O principal modelo fisiopatogênico da síndrome hepatorrenal começa uma vasodilatação esplâncnica exagerada, por efeito da translocação bacteriana intestinal e elevada exposição ao LPS das enterobactérias Gram-negativas, o que induz a uma hiperprodução local de óxido nítrico e outros vasodilatadores. Esta vasodilatação desvia parte do volume circulante efetivo para o território abdominal, provocando hipovolemia relativa. Esta hipovolemia, por sua vez, é sentida por barorreceptores periféricos (bifurcação carotídea e crossa da aorta), levando a uma hiperestimulação reflexa do sistema nervoso simpático, além de ativar também o sistema renina-angiotensina-aldosterona (devido à hipoperfusão renal) e estimular a secreção “não osmótica” de ADH. O excesso de mediadores desses três sistemas hiperativados (catecolaminas, angiotensina II/aldosterona e ADH) promove uma intensa vasoconstrição periférica que acaba afetando também a circulação arterial renal, ou seja: dito de outro modo, o que acontece na SHR é uma “vasodilatação esplâncnica acentuada, associada a uma intensa vasoconstrição renal”. Tais fenômenos vasomotores predominam em vasos arteriais (B errada).
Um dos principais fenômenos fisiopatológicos que acontecem na encefalopatia hepática é a passagem de toxinas nitrogenadas absorvidas no intestino (ex.: amônia) diretamente para a circulação sistêmica (afetando o cérebro), sem passar pelo “filtro” hepático. Isso acontece tanto pelo shunt portossistêmico observado em casos de hipertensão porta, quanto pela própria deficiência de função hepatocelular (cirrose hepática)
- C certa!
A hemorragia digestiva alta varicosa predomina nas varizes de esôfago, presentes no terço distal do órgão (D errada).
E, dentre os fatores precipitantes de encefalopatia hepática, um dos mais frequentes é a ALCALOSE, e não a acidose (os demais citados na alternativa E estão corretos).
Lembre-se de que a alcalose faz o H+ se desligar do amônio (NH4+), gerando amônia (NH3). O primeiro não atravessa membranas celulares, pois é um cátion. Já o segundo é lipossolúvel, cruzando com facilidade a barreira hematoencefálica (a amônia é uma das principais toxinas envolvidas na encefalopatia hepática).
Logo, resposta certa: C.

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13
Q

13 – A respeito da Síndrome Hepatorrenal (SHR), é INCORRETO afirmar que:

a) É uma forma de insuficiência renal que ocorre em pacientes com cirrose em fase avançada e apresentam hipertensão portal e ascite, mas também pode ocorrer em pacientes com insuficiência hepática aguda.
b) Ocorrem alterações histológicas renais em decorrência de distúrbios significativos da circulação arterial renal.
c) Os distúrbios da circulação arterial renal incluem intenso aumento da resistência vascular renal e grande redução da resistência vascular sistêmica (principalmente esplâncnica).
d) Embora não existam exames específicos para o seu diagnóstico, tanto no tipo 1 quanto no tipo 2, observa-se deterioração progressiva da função renal, redução da taxa de filtração glomerular e elevação dos níveis séricos de creatinina.
e) Independentemente do tipo (SHR tipo 1 ou 2), a melhor terapia é o transplante de fígado.

A

A Síndrome Hepatorrenal (SHR) é uma forma de insuficiência renal aguda FUNCIONAL que acontece em portadores de cirrose hepática avançada e, mais raramente, em portadores de insuficiência hepática fulminante (A correta).
O termo “funcional” significa que não se observam alterações na estrutura renal! O que ocorre, na realidade, é uma intensa vasoconstrição das arteríolas renais, aumentando a resistência vascular renal e reduzindo a TFG (B errada).
Sabe-se que junto a essa vasoconstrição renal ocorre intensa vasodilatação esplâncnica (levando à queda da resistência vascular periférica). Acredita-se que esta última seja o evento inicial, sobrevindo a vasoconstrição renal em resposta à hipovolemia secundária à vasodilatação esplâncnica (C correta).
Existem dois subtipos de SHR: tipo 1 e tipo 2. Em ambos há uma perda progressiva da função renal, com queda da TFG e elevação das escórias nitrogenadas. O que diferencia um do outro é o tempo de evolução da disfunção renal, que é mais curto na SHR tipo 1 (nesta última, por definição, os níveis de creatinina duplicam em duas semanas, ultrapassando o valor absoluto de 2,5 mg/dl, ao passo que na SHR tipo 2 o quadro evolui de forma bem mais gradual, não raro se apresentando inicialmente como uma “ascite refratária” à diureticoterapia) - D correta.
O melhor tratamento para qualquer tipo de SHR é o transplante hepático, sendo esperada a reversão completa da disfunção renal após o procedimento (E correta).
Resposta certa: B.

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14
Q

14 – Sobre cirurgia de emergência em sangramento agudo de varizes esofágicas, considere as afirmativas a seguir.
I. A anastomose porto-cava é uma cirurgia de derivação comumente realizada no cenário de emergência;
II. A secção esofágica com grampeador pode ser utilizada, porém apresenta altas taxas de recidiva de sangramento;
III. A taxa de mortalidade é de 5% a 10%;
IV. O tratamento cirúrgico é a alternativa terapêutica de escolha na vigência do sangramento ativo.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

A

Vamos analisar cada assertiva separadamente, a respeito do tratamento cirúrgico da hipertensão portal e de suas complicações:
I – o shunt porto-cava é uma cirurgia de emergência realizada nas HDA refratárias ao tratamento endoscópico, sendo um método eficaz e de rápida execução. Contudo, tem como principal complicação o agravamento da encefalopatia hepática, que ocorre de forma reduzida quando se realiza o shunt calibrado com enxerto de 8 mm (alternativa correta).
II – a transecção esofágica com grampeador (técnica de Sugiura-Futagawa) é um método simples e rápido, mas as taxas de ressangramento são elevadas (alternativa correta).
III – as taxas de mortalidade em pacientes com cirrose descompensada podem chegar a 50% quando não tratados corretamente (alternativa incorreta).
IV – o tratamento endoscópico associado ao tratamento clínico com vasoconstritores esplâncnicos (ex.: terlipressina, octreotida) constitui a escolha terapêutica nesses casos, sendo a cirurgia reservada para casos graves, refratários.A cirurgia de urgência está indicada apenas na falha do tratamento endoscópico agudo ou crônico, na hemorragia por varizes gástricas, cujo tratamento endoscópico é ineficiente e não recomendado, no sangramento por gastropatia hipertensiva e na falha de implante do TIPS (shunt portossistêmico intra-hepático transjugular) - alternativa incorreta.
Gabarito: alternativa A, assertivas I e II corretas.

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15
Q

15 – Utilizando o GASA como diagnóstico diferencial da ascite, é verdadeiro afirmar:

a) GASA ≥ 1,1 é compatível com hipertensão portal.
b) GASA ≥ 1,1 é compatível com síndrome nefrótica.
c) GASA ≤ 1,1 é compatível com carcinomatose.
d) GASA ≤ 1,1 é compatível com pancreatite crônica.
e) Todas as alternativas estão corretas.

A

O GASA (gradiente soro-ascite de albumina) é um parâmetro considerado o primeiro grande “divisor de águas” na investigação diagnóstica da ascite! Por definição, um GASA ≥ 1,1 mg/dl indica que a ascite é um transudato e está sendo causada por hipertensão porta ou por outras condições edemigênicas, ao passo que um GASA menor que 1,1 mg/dl indica que a ascite é um exsudato e está sendo causada por uma doença do peritônio (ou por síndrome nefrótica, que apesar de ter mecanismo transudativo cursa com GASA < 1,1 mg/dl, já que existe importante hipoalbuminemia nesta condição).
Ora, a banca deu como gabarito a letra E! Perceba, no entanto, que isso não é possível.
Como sublinhamos anteriormente, um valor ≥ 1,1 indica transudato (A correta), enquanto um valor “menor que 1,1” indica exsudato (B incorreta, C e D também incorretas, pois dizem ≤ 1,1 - evidentemente, a letra E também está incorreta).
A banca deu como gabarito a letra E, mas a melhor resposta seria a letra A.

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16
Q

16 – Assinale a alternativa ERRADA:
a) Pacientes hepatopatas crônicos candidatos à cirurgia
para tratamento de obesidade extrema são melhores tratados pela gastrectomia vertical.
b) A escala MELD é calculada usando bilirrubina, INR e
ascite.
c) Hipertensão portal é definida como pressão esplênica
maior que 15 mmHg.
d) O melhor tratamento para paciente de 42 anos de idade com cirrose Child B e um único carcinoma hepatocelular de 4 cm no lobo direito é transplante hepático.
e) O fígado tem duplo suprimento sanguíneo: 25% pela
artéria hepática e 75% pela veia porta.

A

O escore MELD é calculado com creatinina sérica (mg/dl), bilirrubina total (mg/dl) e INR. Portanto,
a alternativa B está incorreta.
Letra A correta, em pacientes hepatopatas crônicos, a morbidade cirúrgica da gastrectomia vertical é menor, não causa má absorção relevante e permite acesso endoscópico a árvore biliar.
Letra C correta, hipertensão portal é definida como pressão na veia hepática ou diretamente na veia porta maior que 5 mmHg da pressão na veia cava inferior (gradiente portossistêmico > 5 mmHg) ou pressão na veia esplênica maior que 15 mmHg.
Letra D correta, o transplante hepático está indicado em paciente com carcinoma hepatocelular nas seguintes situações: - Child A, B, C; critérios de Milão * tumor < 5 cm * até 3 tumores, sendo nenhum maior que 3 cm; - Ausência de invasão vascular macroscópica; - Ausência de metástases.
Letra E correta e autoexplicativa.

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17
Q

17 – O paciente cirrótico descompensado apresenta
diversas complicações correlacionadas entre si, quer
através de seus mecanismos fisiopatológicos, quer
secundárias aos seus respectivos tratamentos/profilaxias.
Neste contexto, marque a alternativa MENOS
adequada:
a) Ruptura de varizes esofágicas é fator de risco para peritonite bacteriana espontânea e encefalopatia hepática.
b) Paracentese de alívio é fator de risco para síndrome
hepatorrenal e encefalopatia hepática.
c) Expansão volêmica visando evitar lesão renal é fator de
risco para ascite e ruptura de varizes esofágicas.
d) Peritonite bacteriana espontânea é fator de risco para
encefalopatia, ruptura de varizes esofágicas e síndrome
hepatorrenal.
e) Diureticoterapia para ascite é fator de risco para encefalopatia hepática e síndrome hepatorrenal, sendo esse risco mais pronunciado com furosemida do que com espironolactona.

A

Vamos analisar cada alternativa?
A questão pede a incorreta.
Letra A: CORRETA. O sangramento gastrointestinal fornece matéria-prima proteica para a produção de amônia (no caso, a hemoglobina das hemácias), sendo fator precipitante da encefalopatia hepática. A depleção volêmica e o aumento da flora bacteriana favorecem a translocação e a Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE), sendo mandatória sua profilaxia (inicialmente com ceftriaxona, e em seguida com norfloxacino, quando a via oral estiver liberada) em casos de sangramento por varizes gastroesofágicas.
Letra B e E: CORRETAS. Qualquer fator que
possa causar depleção volêmica e redução do volume
circulante efetivo é fator de risco tanto para Síndrome
Hepatorrenal - SHR (funciona como uma insuficiência
pré-renal não responsiva a volume, que ocorre por vasodilatação esplâncnica e vasoconstrição renal), quanto para Encefalopatia Hepática - EH (hipovolemia também é fator precipitante)! Os diuréticos de alça causam maior depleção volêmica que os poupadores de potássio, e ainda produzem mais alcalose metabólica e hipocalemia, outros fatores de risco para a EH!
Letra C: CORRETA. A expansão volêmica elevará a perfusão renal, sendo protetora para este órgão. Porém, o ingurgitamento das varizes aumentará o sangramento.
Letra D: INCORRETA. A PBE é fator de risco tanto para a EH quanto para a SHR, mas não para a ruptura de varizes esofágicas. É exatamente o contrário. A ruptura de varizes esofágicas é que é um importante fator de risco para PBE, como explicado acima.
Gabarito: D.

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18
Q

18 – Paciente de 50 anos, com cirrose pelo vírus da hepatite B, apresenta aumento do volume abdominal. Está ictérico, desorientado, desnutrido, com PA: 100 x 60 mmHg, FC: 90 bpm, ascite volumosa e edema de membros inferiores com cacifo de 4+. Avaliação laboratorial: Na+: 128 mEq/L; K+: 6,1 mEq/L; albumina: 2,2 g/dl; creatinina: 3,2 mg/dl; hemoglobina: 10,0 g/dl. Em relação ao líquido de ascite deste paciente, pode-se afirmar que:
a) Decorre da hipotensão sinusoidal e retenção de sódio.
b) A dosagem da proteína total do líquido > 1 g/dl indica
peritonite bacteriana espontânea.
c) A paracentese de 6 L deve ser acompanhada de reposição de albumina.
d) O diurético a ser prescrito é a espironolactona, quando
indicado.
e) A contagem de eosinófilos superior a 1.000 céls/mm³
no líquido é indicativa de peritonite tuberculosa.

A

Vejamos as alternativas:
A - INCORRETA. A ascite na cirrose hepática decorre
da hipertensão sinusoidal com transudação de líquido
para a cavidade.
B - INCORRETA. O diagnóstico de Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE) é feito quando a contagem de células no líquido é maior que 250 polimorfonucleares. O simples aumento de proteína pode indicar um exsudato de outra natureza.
C - CORRETA. Sem a reposição da albumina depois da retirada de tamanha quantidade de líquido (> 5 litros), há um desequilíbrio coloidosmótico com possível hipovolemia intravascular grave. Nestes casos está indicada a reposição de albumina humana (6-8 g por litro de líquido ascítico retirado).
D - INCORRETA. Com tal hipercalemia e hiponatremia
acompanhadas de anasarca grave, o uso de diurético de alça está indicado.
E - INCORRETA. A peritonite tuberculosa costuma cursar com linfocitose, sem relação com a contagem de eosinófilos.
Resposta: C.

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19
Q

19 – Homem de 48 anos, com diagnóstico de cirrose
secundária à hepatite C, estava internado devido a
sangramento digestivo por ruptura de varizes esofagianas. No oitavo dia de internação, passou a apresentar confusão mental, piora de icterícia, redução de volume urinário e piora de ascite; submetido à paracentese, mostrou 900 leucócitos/mm³, com 90% de polimorfonucleares. A respeito desse caso, assinale a alternativa INCORRETA:
a) A complicação adquirida é peritonite bacteriana espontânea.
b) O antibiótico de escolha para tratamento desse caso é o ciprofloxacino.
c) No sangramento digestivo em cirróticos, o uso de antibióticos profiláticos reduz a incidência dessa complicação.
d) Nesse caso, está indicado uso de albumina intravenosa com aumento de sobrevida.
e) A ocorrência dessas complicações pode ter se manifestado pelo uso de doses altas de inibidor de bomba de prótons para tratamento de sangramento digestivo.

A

Este paciente apresenta agora um quadro de PBE (Peritonite Bacteriana Espontânea), pois cumpriu seu principal requisito diagnóstico: presença de 250 ou mais polimorfonucleares por ml de líquido ascítico! Lembre-se de que a hemorragia digestiva alta é fator de risco para PBE em cirróticos com ascite, haja vista que acentua o fenômeno de translocação bacteriana intestinal. Tanto é assim que o uso de antibióticos como
parte do tratamento da HDA no cirrótico efetivamente
diminui a ocorrência de PBE (a chamada “profilaxia
primária aguda”). A droga de escolha é o norfloxacino
400 mg de 12/12h por 7 dias, tendo como alternativa
o ceftriaxona 1 g IV, pelo mesmo período. O CIPROFLOXACINO não deve ser usado! Pacientes com PBE confirmada devem expandir sua volemia com albumina humana intravenosa. O protocolo que mostrou aumentar sobrevida na literatura é: 1.5 g/kg/dia no primeiro dia, seguido de 1 g/kg/dia no terceiro dia. O uso crônico de IBP vem sendo considerado fator de risco para PBE em cirróticos!
Resposta certa: B.

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20
Q

20 – Em portadores de hipertensão portal, na vigência
de hemorragia digestiva alta de etiologia varicosa, com
o objetivo de diminuir a chance de ressangramento, a
modalidade terapêutica endoscópica e a droga de escolha são, respectivamente:
a) Escleroterapia e octreotida.
b) Ligadura elástica e terlipressina.
c) Clampeamento metálico e somatostatina.
d) Termoterapia e terlipressina.
e) Escleroterapia e terlipressina.

A

Frente a um paciente com Hemorragia Digestiva Alta (HDA) nossa primeira conduta consiste na estabilização hemodinâmica e respiratória do paciente. Antes de se realizar a Endoscopia Digestiva Alta (EDA), devemos iniciar a terapia farmacológica com vasoconstritores esplâncnicos intravenosos, como a terlipressina ou a octreotida. Feito isso, a EDA deve ser realizada preferencialmente nas primeiras 12 horas, visto que a terapia endoscópica é a conduta de escolha para a HDA decorrente da ruptura de varizes de esôfago, podendo ser feita através de ligadura elástica (método com menos complicações, portanto de escolha na maioria dos casos) ou escleroterapia (útil nos sangramentos
ativos devido a sua maior facilidade de execução,
mas com risco maior de perfuração).
Melhor combinação e portanto, opção B.

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21
Q

21 – Uma paciente do sexo feminino, 28 anos, relata
2 gestações prévias, pré-natal normal, nega transfusões
de sangue ou cirurgias prévias. Ao fazer exame
de rotina ultrassonográfico, encontra como único achado anormal esplenomegalia. Solicitados exames de laboratório, único achado foi plaquetopenia. Sorologias
para hepatite B e C negativas. Na sequência da investigação, realiza endoscopia que evidencia varizes de
fundo gástrico. Qual a provável causa?
a) Cirrose hepática macronodular.
b) Colangite esclerosante.
c) Pancreatite crônica idiopática.
d) Trombose de veia esplênica.
e) Púrpura trombocitopênica idiopática.

A

A trombose de veia esplênica causa a chamada hipertensão porta segmentar. Devemos suspeitar de trombose de veia esplênica quando nos deparamos com sinais de hipertensão portal, particularmente hemorragia por varizes gástricas, em pacientes com função hepatocelular normal e plaquetopenia por hiperesplenismo. Devido à anatomia do sistema porta, este distúrbio geralmente cursa com varizes de fundo gástrico isoladas. Entretanto, a identificação de varizes gastroesofágicas não é incomum.
A escleroterapia com cianoacrilato é especialmente útil
no tratamento das varizes de fundo gástrico, onde apresenta melhores resultados do que a ligadura elástica ou a escleroterapia.
Resposta: D.

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22
Q

22 – A cirurgia atualmente mais realizada para o tratamento cirúrgico da hipertensão portal esquistossomótica é:

a) Esplenectomia.
b) Derivação esplenorrenal distal.
c) TIPS.
d) Desconexão Ázigo-Portal mais Esplenectomia (DAPE).
e) Ligadura de varizes esofágicas.

A

A hipertensão porta esquistossomótica ocorre por mecanismo pré-sinusoidal, em virtude de formação de granulomas sobre os ovos disseminados pelas
fêmeas e impactados nos espaços-porta do parênquima
hepático. As principais consequências são a dilatação dos vasos do sistema porta e das colaterais porto-cava, culminando com a formação das varizes esofagianas. Há importante esplenomegalia, tanto pela congestão (em virtude da hipertensão portal), quanto pela ativação do sistema retículo-endotelial. Pode haver hiperesplenismo. A desconexão ázigo-portal + esplenectomia foi desenvolvida por Vasconcelos, um brasileiro. É a cirurgia de escolha para a profilaxia secundária do sangramento varicoso na esquistossomose hepatoesplênica, com bons resultados a curto e longo prazos (80-85%). Na cirurgia, é realizada ligadura da veia gástrica esquerda, desconectando a veia porta da veia ázigos, além de desvascularização da grande curvatura gástrica, do esôfago distal e esplenectomia.
Gabarito: D.

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23
Q

23 – A paracentese é procedimento cirúrgico muito útil
para, entre outras indicações, aliviar o desconforto respiratório provocado por ascites volumosas, como as que ocorrem em pessoas que sofrem de cirrose hepática. Sobre a técnica deste procedimento é CORRETO afirmar que:
a) Para se evitar uma fístula permanente se utiliza a técnica de curativo oclusivo.
b) É um procedimento que atualmente recomenda-se ser guiado por ultrassom.
c) O ponto de punção mais adequado é 4 a 5 cm superior e medial à espinha ilíaca anterossuperior.
d) Um ponto de punção alternativo é 5 cm acima da cicatriz umbilical.

A

Quando vamos fazer uma paracentese, devemos localizar o ponto de punção a 3-4 cm medialmente à espinha ilíaca anterossuperior e 3-4 cm acima desta. A linha média é sempre evitada pela potencial presença de vasos de circulação colateral.
Na presença de ascite volumosa, o US é desnecessário,
uma vez que o procedimento é de baixo risco para
complicações. O US acaba auxiliando na paracentese
diagnóstica de pacientes com ascite de pequeno volume.
A principal complicação da paracentese (observada em
5% dos casos) é a persistência de “vazamento” do líquido ascítico pelo orifício de punção, o que geralmente acontece quando a técnica em Z não é realizada.
Alternativa C correta.

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24
Q

O caso clínico abaixo refere-se às questões da prova de
Residência Médica 2015 - Acesso Direto Discursiva - Universidade de São Paulo - SP.
Questões 24 a 25 a seguir: Mulher de 56 anos de idade foi internada em enfermaria para investigação de aumento de volume abdominal e icterícia. O quadro teve início há 2 meses e há 3 semanas houve piora com aparecimento de dor abdominal leve, obstipação, confusão mental e sonolência. Nega sangramentos. Nega doenças conhecidas. Etilismo social. Ao exame clínico de entrada, apresentava-se em regular estado geral, frequência cardíaca = 90 bpm; temperatura = 36,9°C; frequência respiratória = 20 irpm; pressão arterial = 104 x 56 mmHg; ictérica +3/+4; desidratada +2/+4; desorientada
temporoespacialmente, calma, escala de coma de Glasgow 14; flapping presente; glicemia capilar = 92 mg/dl; semiologias cardíaca e pulmonar normais, abdome com ascite +3/+4, MMII sem edemas. Coletados os seguintes exames: Hb = 12,1 g/dl; Ht = 39%; leucócitos = 4.800/mm³; plaquetas = 110 mil/mm³; Na = 136 mEq/L; K = 3,6 mEq/L; ureia = 65 mg/dl; creatinina = 1,6 mg/dl. Proteínas totais séricas de 4,5 g/dl e AIb = 2,0 g/dl; bilirrubina total de 3,5 mg/dl; bilirrubina direta de 3,0 mg/dl e bilirrubina indireta de 0,5 mg/dl; tempo de protrombina (INR) = 2,1. A punção diagnóstica do líquido ascítico revelou 900 células (40% linfócitos, 60% neutrófilos); AIb = 0,6 g/dl; Gram = flora bacteriana ausente, cultura em análise.

24 – Cite os diagnósticos para o caso acima.

A

Ascite volumosa, icterícia, plaquetopenia, hipoalbuminemia e INR alargado. Cremos que ninguém teve dúvida quanto ao diagnóstico de base: cirrose hepática “descompensada”, haja vista que, além
dos indícios de disfunção hepatocelular (deficit sintético
e deficit de detoxificação), existem ascite e outros sinais
de hipertensão porta (ex.: hiperesplenismo, manifesto
pela presença de plaquetopenia). Nos últimos dias a
paciente vem apresentando deterioração clínica com o
surgimento de dor abdominal, alteração do estado mental e flapping. Logo, deve-se estabelecer de imediato um diagnóstico clínico de ENCEFALOPATIA HEPÁTICA, o que não é nenhuma surpresa dado o contexto geral. Então, a pergunta de ouro: o que está causando a encefalopatia? Lembre-se de que sempre temos que procurar por uma causa para a EH, pois na grande maioria das vezes um ou mais fatores desencadeantes serão encontrados — e precisam ser resolvidos, a fim de melhorar a própria encefalopatia. Um dos procedimentos obrigatórios perante o paciente com ascite e EH aguda é a paracentese diagnóstica. Neste caso, como a paciente ainda não tinha sido investigada para a etiologia da ascite, este exame também acabou sendo útil para confirmar o diagnóstico de ascite por hipertensão porta: seu GASA (Gradiente de Albumina Soro-Ascite) foi > 1.1 g/dl (ascite “transudativa”, cuja principal etiologia é a cirrose hepática, sendo este achado novamente condizente com o contexto clínico geral). Pois bem, acontece que além de calcular o GASA esta paracentese permitiu a realização de outro diagnóstico: temos aqui uma PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA, pois existem mais de 250 neutrófilos (PMN) por ml de líquido ascítico. A PBE é um desencadeante frequente de EH, ou seja, estamos diante de um caso típico de cirrose hepática descompensada que está evoluindo com complicações clássicas. Chamamos sua atenção para mais um detalhe importante: existe também Injúria Renal Aguda (IRA), pois o laboratório revela a presença de azotemia (aumento das escórias nitrogenadas: ureia > 50 mg/dl e creatinina > 1,5 mg/dl). Cirróticos com ascite têm redução do volume circulante efetivo, o que aumenta a propensão à IRA pré-renal. A sobreposição de algum processo infeccioso, como a PBE (que agrava agudamente o “sequestro” de líquidos na cavidade abdominal), pode ser o “peteleco” que faltava para produzir uma hipoperfusão renal grave, culminando em queda da TFG.

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25
Q

O caso clínico abaixo refere-se às questões da prova de
Residência Médica 2015 - Acesso Direto Discursiva - Universidade de São Paulo - SP.
Questões 24 a 25 a seguir: Mulher de 56 anos de idade foi internada em enfermaria para investigação de aumento de volume abdominal e icterícia. O quadro teve início há 2 meses e há 3 semanas houve piora com aparecimento de dor abdominal leve, obstipação, confusão mental e sonolência. Nega sangramentos. Nega doenças conhecidas. Etilismo social. Ao exame clínico de entrada, apresentava-se em regular estado geral, frequência cardíaca = 90 bpm; temperatura = 36,9°C; frequência respiratória = 20 irpm; pressão arterial = 104 x 56 mmHg; ictérica +3/+4; desidratada +2/+4; desorientada
temporoespacialmente, calma, escala de coma de Glasgow 14; flapping presente; glicemia capilar = 92 mg/dl; semiologias cardíaca e pulmonar normais, abdome com ascite +3/+4, MMII sem edemas. Coletados os seguintes exames: Hb = 12,1 g/dl; Ht = 39%; leucócitos = 4.800/mm³; plaquetas = 110 mil/mm³; Na = 136 mEq/L; K = 3,6 mEq/L; ureia = 65 mg/dl; creatinina = 1,6 mg/dl. Proteínas totais séricas de 4,5 g/dl e AIb = 2,0 g/dl; bilirrubina total de 3,5 mg/dl; bilirrubina direta de 3,0 mg/dl e bilirrubina indireta de 0,5 mg/dl; tempo de protrombina (INR) = 2,1. A punção diagnóstica do líquido ascítico revelou 900 células (40% linfócitos, 60% neutrófilos); AIb = 0,6 g/dl; Gram = flora bacteriana ausente, cultura em análise.

25 – Faça a prescrição para o caso.

A

Cirrose hepática avançada, “descompensada” por hipertensão porta e ascite, agudamente complicada por PBE, encefalopatia hepática e injúria renal aguda.
Como tratar esta paciente?
Em primeiro lugar, precisamos esclarecer uma coisa:
apesar de a paciente ter ascite, a prescrição de diuréticos está absolutamente CONTRAINDICADA neste
momento, pois o volume circulante efetivo encontra-se
criticamente reduzido em consequência ao processo infeccioso agudo, e o uso de diuréticos visando à resolução da ascite sem dúvida alguma só vai agravar o quadro, piorando a disfunção renal (que pode se tornar grave o bastante para requerer diálise de urgência). Além disso, no atual contexto, os diuréticos podem acabar produzindo franca instabilidade hemodinâmica, desencadeando um quadro de choque circulatório que com certeza matará a paciente. Descartada então a ideia psicopática de prescrever diuréticos neste momento, vamos ao que efetivamente deve ser feito para salvar a vida da paciente!
1) Visando à melhora do volume circulante efetivo, temos que expandir a volemia. No entanto, fazer solução salina isotônica é bobagem, pois no cirrótico com hipoalbuminemia a salina infundida não vai permanecer no espaço intravascular, fazendo a reexpansão ser totalmente ineficaz (devido à queda da pressão coloidosmótica do plasma em consequência à hipoalbuminemia, o líquido infundido vai quase todo para o “terceiro espaço”, aumentando a ascite e produzindo edema periférico). O melhor a fazer é albumina IV, que aliás teria indicação de qualquer
forma, haja vista que a paciente apresenta PBE: a
literatura já mostrou que o uso de albumina IV (1,5 g/kg
de peso no primeiro dia, seguido de 1 g/kg de peso no
terceiro dia) reduz mortalidade em portadores de PBE,
além de diminuir a chance de síndrome hepatorrenal em
consequência à PBE!
2) Como existe PBE, temos que fazer antimicrobianos, sendo as drogas de escolha as cefalosporinas de terceira geração (ex.: em nosso meio, a mais comumente empregada é o ceftriaxona). As cefalosporinas de terceira geração “cobrem bem” os germes mais provavelmente envolvidos na PBE, que são as enterobactérias Gram-negativas (com destaque para a E. coli ), além de eventuais Gram-positivos como Streptococcus.
3) Focando agora no controle sintomático da encefalopatia, sabemos que conduta de escolha é a lactulona oral. Este dissacarídeo sintético não é metabolizado pelas dissacaridases intestinais, sendo “entregue” às bactérias colônicas que o transformam em ácidos graxos de cadeia curta. Estes ácidos graxos acidificam as fezes, reduzindo o pH do lúmen colônico (que cai de 7.0 para 5.0). Com um pH fecal mais ácido, a amônia produzida pela microbiota colônica é transformada em amônio (NH4+) substância que, por ser iônica, não é absorvida pela mucosa intestinal, sendo prontamente eliminada do corpo junto com as fezes. Além disso, a lactulona é um osmólito efetivo, que “puxa” água para o lúmen colônico, exercendo efeito catártico. O objetivo é que o paciente tenha de 2 a 3 evacuações pastosas ao dia, o que comprovadamente melhora a encefalopatia na grande maioria das vezes. Pacientes que não respondem à lactulona isolada podem associar antimicrobianos específicos
que visam reduzir a densidade populacional da microbiota colônica. Estes antimicrobianos devem ser eficazes contra os referidos germes, e idealmente devem ser pouco absorvidos sistemicamente quando ministrados pela via oral (seu intuito é prover um efeito tópico sobre a mucosa).
A droga tradicional é a neomicina (um aminoglicosídeo),
com a opção de se utilizar em seu lugar (ou de forma alternada com ela) o metronidazol. Vale lembrar que nos dias de hoje diversos estudos têm mostrado que a rifamixina é tão ou mais eficaz que neomicina/metronidazol, apresentando menos efeitos colaterais. Para os pacientes que não toleram a lactulona só resta a opção de fazer neomicina (ou metronidazol/rifamixina).

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26
Q

O caso clínico abaixo refere-se às questões da prova de
Residência Médica 2015 - Acesso Direto Discursiva - Universidade Federal de São Paulo - SP.
Questões 26 a 27 a seguir:
Homem de 45 anos de idade, portador de cirrose hepática alcoólica, chega à emergência com quadro de hematêmese de grande volume. Nega episódios semelhantes a esse. Estava em acompanhamento ambulatorial regular, em uso de furosemida 40 mg e espironolactona 100 mg. Nega episódios prévios de encefalopatia hepática. Ao exame: hipocorado ++; afebril; ictérico ++; consciente e orientado; ACV: FC = 98 bpm; RCR (2T); PA = 100 x 70 mmHg; AR: FR = 16 irpm; MV+; redução de MV em bases; ABD: RHA+; indolor; semicírculo de Skoda presente; MMII: edema +/4.

26 – Cite duas complicações que poderiam ocorrer neste caso relacionadas à doença de base.

A

Mesmo nos dias de hoje, a mortalidade dos episódios de hemorragia digestiva alta por varizes esofagogástricas rotas em portadores de cirrose hepática complicada por hipertensão porta é significativamente elevada. Estima-se que entre 15-20% desses pacientes acabam morrendo nos primeiros 30 dias do evento. Em cerca de metade dos casos, o sangramento inicial cessa espontaneamente (geralmente quando a pressão sistêmica do paciente
cai, diminuindo a força com que o sangue jorra a partir
do ponto de rotura vascular), um desfecho que tende a
ser menos provável quanto mais avançada for a cirrose
(e, consequentemente, a discrasia sanguínea que a
acompanha). No restante, o sangramento necessita
de algum procedimento médico para estancar, sendo a
ligadura elástica das varizes, por meio de uma endoscopia digestiva alta, a técnica de escolha. O fato é
que podemos afirmar o seguinte: a primeira grande
complicação relacionada à HDA (de qualquer tipo) é a
hipovolemia por exsanguinação (choque hemorrágico),
que acontecerá em boa parte dos cirróticos com varizes
esofagogástricas rotas se eles não receberem cuidados
médicos em tempo hábil. No contexto de uma hemorragia aguda grave, costumam sobrevir também insuficiência renal aguda (pré-renal) e insuficiência hepática aguda (isquemia aguda sobre um fígado já cronicamente lesado). Como o volume de sangue no estômago pode vir a ser muito grande, causando distensão e vômitos, e como o paciente pode ter sua consciência obnubilada durante o episódio, outra complicação possível na fase aguda é a broncoaspiração maciça de sangue (que pode ser evitada por meio de uma intubação orotraqueal oportuna, visando proteger as vias aéreas do paciente). Não podemos nos esquecer ainda de uma clássica complicação aguda da HDA em cirróticos: a encefalopatia hepática. A presença de sangue na
luz do tubo digestivo aumenta a produção de amônia
pelas bactérias da microbiota intestinal (a amônia é um
subproduto da metabolização de proteínas por essas
bactérias). Pois bem, pacientes que sobrevivem a
esta fase inicial continuam sob risco de desenvolver
complicações tardias que podem levá-los ao óbito
nos primeiros 30 dias. Uma das mais frequentes é a
ocorrência de infecções secundárias, como a Peritonite
Bacteriana Espontânea (PBE). O sangue no tubo
digestivo, aliado ao comprometimento hemodinâmico
sistêmico, aumenta a taxa de translocação bacteriana
intestinal, o que resulta em maior risco de bacteremia
e infecções metastáticas. A HDA também é um importante desencadeante da temível síndrome hepatorrenal, um quadro em que a combinação de intensa vasodilatação esplâncnica com intensa vasoconstrição renal promove uma injúria renal aguda de tipo pré-renal não reversível somente com a reposição volêmica. Outra complicação comum nos dias subsequentes à HDA é o ressangramento das varizes , evento cujo risco persiste elevado pelas próximas 6 semanas, sendo máximo nas primeiras 48-72h (cerca de metade dos ressangramentos ocorre nos primeiros 10 dias após o evento inicial). Enfim, a banca pediu somente duas complicações; em nosso comentário, destacamos, em itálico e negrito, pelo menos oito.

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27
Q

O caso clínico abaixo refere-se às questões da prova de
Residência Médica 2015 - Acesso Direto Discursiva - Universidade Federal de São Paulo - SP.
Questões 26 a 27 a seguir:
Homem de 45 anos de idade, portador de cirrose hepática alcoólica, chega à emergência com quadro de hematêmese de grande volume. Nega episódios semelhantes a esse. Estava em acompanhamento ambulatorial regular, em uso de furosemida 40 mg e espironolactona 100 mg. Nega episódios prévios de encefalopatia hepática. Ao exame: hipocorado ++; afebril; ictérico ++; consciente e orientado; ACV: FC = 98 bpm; RCR (2T); PA = 100 x 70 mmHg; AR: FR = 16 irpm; MV+; redução de MV em bases; ABD: RHA+; indolor; semicírculo de Skoda presente; MMII: edema +/4.

27 – Paciente evoluiu bem, recebendo alta 3 semanas
após. Cite duas orientações pós-alta.

A

Este paciente cirrótico e portador de hipertensão porta possui história recente de hemorragia digestiva alta por varizes de esôfago rotas, o que é nada menos que um dos maiores fatores de risco para um novo sangramento. Considerando que ele deve ter sido
submetido ao tratamento de escolha (ligadura endoscópica das varizes sangrantes), é preciso, após a alta hospitalar, reavaliá-lo endoscopicamente em um prazo de 4 a 6 semanas, que é o intervalo de tempo recomendado para a repetição do procedimento. Entenda que as varizes que apresentavam sangramento ativo ou sinais de sangramento recente devem ter sido “ligadas” naquela primeira endoscopia, resolvendo o episódio de HDA. No entanto, muito provavelmente existem outras varizes visíveis, que não foram (e não precisavam ser) abordadas no procedimento inicial, mas que agora necessitam ser tratadas no contexto do “programa de erradicação das varizes esofagogástricas”, que representa a base da profilaxia secundária da HDA na hipertensão porta.
A estratégia de profilaxia secundária, na realidade,
engloba dois componentes:
(1) uso de um betabloqueador não seletivo, como propranolol ou nadolol, cujo objetivo é reduzir a pressão hidrostática no território da veia porta e
(2) ligadura elástica das varizes encontradas, visando
à erradicação de todas elas. Pois bem, a ocorrência de
um episódio de hemorragia digestiva alta por varizes
esofagogástricas rotas em um portador de cirrose hepática é um evento prognosticamente nefasto que sinaliza uma expectativa de elevada mortalidade em curto prazo, representando, clinicamente, a fase DESCOMPENSADA da cirrose (o que geralmente corresponde a um Child B ou C). Fazendo uma estimativa do Child deste paciente com as informações fornecidas pelo enunciado, podemos concluir que se trata, no mínimo, de um Child B8. Vamos conferir? Ausência de encefalopatia = 1 ponto; Ascite importante (presença do semicírculo de Skoda) = 3 pontos; Presença de icterícia corresponde a uma bilirrubina > 2,5 mg/dl. Vamos supor que o paciente está na faixa intermediária, que é entre 2-3 mg/dl. Logo, o fator bilirrubina aqui deve somar, no mínimo, 2 pontos; Albumina = não sabemos, mas vamos colocar > 3,5 g/dl = 1 ponto; tempo de protrombina = idem, vamos colocar
também 1 ponto. Somando tudo, dá 8, o que categorizaria o paciente como Child B (entre 6 e 9 pontos). Ora, cirróticos Child B ou C devem sempre ser listados na fila de transplante hepático na ausência de contraindicações, logo, esta é uma medida também prioritária para o caso! Duas outras medidas básicas que não devem ser negligenciadas são: (como o paciente é portador de cirrose alcoólica, nunca é demais lembrar) o etilismo tem que ser abandonado e todo cirrótico com edema e ascite que faz uso de diureticoterapia deve restringir também a ingestão de sódio na dieta. Enfim, a banca aceitou como gabarito ainda o “controle do TI PS, caso um TI PS tenha sido colocado”. Todo paciente que implanta um TIPS como forma de tratamento da HDA refratária deve ser periodicamente reavaliado quanto à patência do conduto, ou seja, deve fazer o “controle” periódico do TIPS (ex.: USG com Doppler após a colocação do TIPS, repetindo a cada 6 meses).

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28
Q

28 – O Gradiente de Ascite para Albumina no Soro (GAAS) < 1.1 g/dl sugere o diagnóstico de:

a) Cirrose hepática.
b) Carcinomatose peritoneal.
c) Pericardite constritiva.
d) Síndrome de Budd-Chiari.

A
O GASA (Gradiente de Albumina Soro-Ascite) é o primeiro grande “divisor de águas” na investigação diagnóstica da ascite. Um GASA ≥ 1,1 g/dl indica que a ascite é transudativa . A principal etiologia de ascite transudativa é a hipertensão porta que, por sua vez, na maioria das vezes, é secundária à cirrose hepática. Outras etiologias possíveis são a síndrome de Budd-Chiari (oclusão trombótica aguda das veias supra-hepáticas) e pericardite constritiva (com cirrotização
hepática cardiogênica). Já um GASA < 1,1 g/dl indica que a ascite é exsudativa. As principais etiologias de ascite exsudativa são as infecções do peritônio (ex.: tuberculose) e a carcinomatose peritoneal. 
Resposta certa: B.
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29
Q

29 – Sobre a realização do TIPS (Shunt Portossistêmico
Intra-Hepático) em paciente com hemorragia digestiva
alta, assinale a alternativa que apresenta um diagnóstico
para o qual esse procedimento NÃO é indicado:
a) Sangramento agudo não responsivo à terapêutica clínica e/ou endoscópica ou com ligadura elástica por endoscopia.
b) Ascite refratária.
c) Úlcera gástrica com classificação de Forrest IA.
d) Hidrotórax hepático refratário.
e) Síndrome de Budd-Chiari.

A

A utilização do TIPS (Shunt Portossistêmico Intra-Hepático) tem como objetivo descomprimir o sistema porta por meio da criação de uma derivação do fluxo sanguíneo do sistema porta para a circulação venosa sistêmica. Este procedimento é muito utilizado como “ponte” para o transplante hepático. As indicações
documentadas para o TIPS são as seguintes: - Sangramento por varizes esofagogástricas não controladas por terapia medicamentosa ou endoscópica; - Sangramento recidivante por varizes esofagogástricas não controladas por terapia medicamentosa ou endoscópica; - Ascite refratária; - Hidrotórax refratário de origem hepática; - Hipertensão porta por obstrução pós-hepática (como na síndrome de Budd-Chiari).
Resposta: C.

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30
Q

30 – Paciente masculino de 55 anos vem ao pronto-
-socorro trazido por familiares por quadro de confusão
mental, letargia e apatia há 3 dias. Filha refere que não
conhece detalhes sobre histórico médico do pai, pois mora longe, apenas sabe que tinha hábito de beber muito
e teve episódio de vômitos com sangue há 3 meses.
Ao exame físico: MEG; ictérico 3+/4+; afebril; presença
de “Spiders ”; rarefação de pelos e ginecomastia em tórax; ascite volumosa com semicírculo de Skoda; edema em membros inferiores 3+/4+. Com relação ao caso descrito, a conduta CORRETA no pronto-socorro é:
a) Internação hospitalar, paracentese e introdução de ciprofloxacino por profilaxia primária para PBE.
b) Realização de paracentese e alta hospitalar com prescrição de norfloxacino contínuo, furosemida e espironolactona.
c) Internação hospitalar com hidratação venosa, lactulona
e paracentese.
d) Internação hospitalar com furosemida endovenosa, lactulona, restrição hídrica e paracentese.

A

A história clínica e o exame físico
permitem estabelecer um diagnóstico operacional de
cirrose hepática, veja: (1) há relato de etilismo (provável
cirrose de Laennec) e hemorragia digestiva alta recente
(provável rotura de varizes esofagogástricas); (2) o
paciente apresenta icterícia, ascite e edema periférico,
além de clássicos estigmas de disfunção hepatocelular
(aranhas vasculares, pilificação reduzida, ginecomastia).
Neste contexto, considerando seu quadro clínico atual
(alterações agudas do estado mental), outra hipótese diagnóstica que se impõe é a de encefalopatia hepática aguda.
A questão pergunta então: O QUE FAZER AGORA, NO
PRONTO-SOCORRO? Bem, como o paciente está em
mau estado geral e com rebaixamento do sensório, é óbvio que o primeiro passo é admiti-lo para internação hospitalar, pois ele só vai poder ir embora após confirmação dos diagnósticos e melhora do estado clínico (por experiência, podemos prever uma internação de alguns dias neste caso). É claro que nosso paciente terá que puncionar um acesso venoso periférico, pois ele ficará inicialmente em dieta zero devido à encefalopatia (necessitando de hidratação e reposição calórica pela veia), e durante a internação realizará exames invasivos como a endoscopia
digestiva alta (para diagnóstico e tratamento das
varizes esofagogástricas), o que pode requerer sedação. O tratamento sintomático da encefalopatia hepática é feito com lactulona oral, e deve ser iniciado de imediato, pois seu efeito pode demorar alguns dias para ser notado. A lactulona é metabolizada pelas bactérias da microbiota colônica, sendo transformada em substâncias ácidas que reduzem o pH fecal e com isso catalisam a transformação da amônia (NH3) em amônio (NH4+), uma escória nitrogenada que não consegue ser absorvida pela mucosa, sendo prontamente eliminada do corpo junto com as fezes. Caso o paciente não melhore com a lactulona, podemos acrescentar certos antimicrobianos orais de baixa absorção sistêmica e boa eficácia contra os germes da microbiota, porém, NO PRONTO-SOCORRO não vamos fazer isso, pois ainda não sabemos se ele vai responder à lactulona em monoterapia ou não. Dentre os
procedimentos necessários para investigação da causa
da EH, existe um (fácil de fazer) que deve ser realizado
agora: a paracentese diagnóstica! Lembre-se de que, na
grande maioria das vezes, é possível identificar um ou
mais fatores desencadeantes para a EH, e a Peritonite
Bacteriana Espontânea (PBE) é um dos mais frequentes
(outros exemplos são: hipocalemia, alcalose metabólica,
hemorragia digestiva alta, excesso de diuréticos,
outras infecções etc.). O diagnóstico de PBE é dado
pela demonstração de > 250 PMN/ml de líquido ascítico
(a cultura demora no mínimo 2 dias para ficar pronta,
e pode ou não ser positiva, o que não mudaria a conduta inicial de tratar como PBE caso o líquido ascítico tenha mais de 250 PMN/ml). Seja como for, somente após o resultado da paracentese é que poderemos traçar uma conduta segura: o paciente deverá iniciar TRATAMENTO ou PROFILAXIA da PBE? Logo, as opções que já definem qual conduta seguir neste momento, antes de se realizar a paracentese, evidentemente estão erradas. Enfim, a prescrição
de diuréticos está absolutamente contraindicada
neste momento, pois o paciente se encontra agudamente enfermo. Cirróticos com ascite por definição têm volume circulante efetivo reduzido, e qualquer evento mórbido agudo costuma agravar esse fenótipo (pelo sequestro de líquidos no “terceiro espaço” em consequência ao insulto inflamatório sistêmico). Associar diuréticos neste momento vai com certeza piorar a hemodinâmica do paciente, podendo desencadear choque circulatório ou injúria renal aguda grave. A restrição hídrica também não deve ser realizada no cirrótico agudamente enfermo, a não ser que exista hiponatremia importante. Ora, levando
em conta que a questão quer a conduta a ser tomada NO PRONTO-SOCORRO, podemos adiantar a vida do doente realizando os procedimentos descritos na letra C.

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31
Q

31 – Na anastomose esplenorrenal distal:

a) Ocorre regressão completa do hiperesplenismo.
b) A encefalopatia hepática ocorre frequentemente.
c) As varizes esofagogástricas geralmente desaparecem.
d) O baço deve ser preservado.

A

A cirurgia de Teixeira-Warren ou anastomose esplenorrenal distal é uma derivação venosa
portal seletiva, pela anastomose da veia esplênica à veia
renal esquerda, associada à ligadura da veia gástrica
esquerda e desconexão esplenopancreática, não se manipulando a região do hilo hepático e preservando o baço. Diminui a pressão venosa do plexo esôfago-cardiotuberositário e, por consequência, os episódios de sangramento varicoso (porém não há regressão completa das varizes). Além disso, evita a completa fuga de fluxo sanguíneo da veia porta, preservando parcialmente a perfusão e, portanto, a função hepática, graças à manutenção da hipertensão venosa no território intestinal, reduzindo a incidência de encefalopatia hepática. Pelo fato do baço ser preservado, algum grau de hiperesplenismo é observado nestes doentes.
Gabarito: opção D.

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32
Q

32 – O gradiente hepatoportal é uma medida indireta da
pressão portal. Admite-se que o gradiente hepatoportal
superior a determinado valor, em mmHg, significa risco de sangramento iminente. Qual seria este valor em mmHg?
a) 10.
b) 11.
c) 12.
d) 13.
e) 14.

A

O gradiente venoso hepatoportal é medido de forma invasiva através do cateterismo das veias hepáticas. Trata-se do método padrão-ouro para o diagnóstico e quantificação da hipertensão porta, porém, na maioria das vezes não é necessário na prática (hoje em dia ele é medido quando da colocação de um TIPS, por exemplo, ou em pacientes que estão sendo acompanhados em estudos científicos). O primeiro passo deste exame consiste na medida da pressão “livre” da veia hepática, e em seguida infla-se um balão na ponta do cateter, até a oclusão da veia hepática em que o cateter se encontra, obtendo-se a medida da pressão “encunhada”, que corresponde indiretamente à pressão intrassinusoidal (e, consequentemente, à própria pressão no interior da veia porta). O normal é um valor entre 1-5 mmHg, e valores >
10 mmHg são necessários para a formação de varizes.
A literatura demonstrou que o risco de rotura e hemorragia varicosa torna-se significativo a partir de valores maiores ou iguais a 12 mmHg, o que, por conseguinte, tornou-se um clássico “ponto de corte”. Inclusive, gradientes venosos hepatoportais > 12 mmHg conseguem prever elevada mortalidade em curto prazo, revestindo-se de valor prognóstico também. Outros fatores que contribuem na previsão do risco de sangramento das varizes são: disfunção hepática (Child B e C), calibre vascular aumentado (F2/F3), sinais “vermelhos” endoscópicos, presença de ascite volumosa.
Resposta: letra C.

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33
Q

33 – H.S.W., 48 anos, sexo masculino, alcoolista crônico, com cirrose hepática etanólica descompensada e ascite volumosa, dá entrada no pronto atendimento com dor abdominal difusa e melena. Para pesquisa de Peritonite Bacteriana
Espontânea (PBE) foram solicitados exames do
líquido ascítico, que evidenciaram: dosagem de proteínas de 0,3 g/dl e ausências de bactérias coráveis pelo Gram. A citometria revelou predomínio de polimorfonucleares (mais que 50%) com 450 céls/ml. Cultura em andamento. Sobre este caso, assinale a alternativa CORRETA:
a) Essa dosagem de proteínas exclui o diagnóstico de
PBE.
b) A melena não tem influência no aparecimento da PBE.
c) O resultado do Gram exclui o diagnóstico de PBE.
d) O predomínio de polimorfonucleares (mais que 50%)
com mais de 250 céls/ml presume PBE.

A

O diagnóstico de PBE deve ser imediatamente confirmado à beira do leito quando um simples critério laboratorial for satisfeito: POLIMORFONUCLEARES > 250/ml DE LÍQUIDO ASCÍTICO! Mesmo com cultura negativa, só com isso já podemos confirmar que existe PBE, iniciando sem demora o tratamento antimicrobiano empírico (cefalosporina de terceira geração).
Resposta certa: D.

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34
Q

34 – Paciente com cirrose hepática apresenta-se com dor
abdominal acompanhada de ascite e febre. No estudo do
líquido ascítico evidencia-se: bactérias Gram-negativas à
bacterioscopia, glicose 5 vezes menor quando comparada ao seu nível sérico e contagem de neutrófilos aumentada.
Qual o diagnóstico MAIS PROVÁVEL?
a) Ascite neutrocítica.
b) Peritonite bacteriana espontânea.
c) Peritonite bacteriana secundária.
d) Punção inadvertida de alça intestinal.

A

Na ascite neutrocítica há elevação de neutrófilos (polimorfonucleares), mas a cultura é negativa. Bacterascite é uma situação em que a cultura do líquido é positiva, porém, a contagem de neutrófilos é baixa (< 250/mm³). Como diferenciar Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE) de Peritonite Bacteriana Secundária (PBS)? Na PBS, a contagem proteica é muito elevada, assim como o nível de LDH, e ocorre acentuada redução da glicose do líquido ascítico. Essa última característica se justifica principalmente pelo fato de que, na PBS, geralmente a contagem de neutrófilos é maior e estes são tipos celulares capazes de consumir grandes quantidades de glicose. Outra diferença é que na PBS a infecção é polimicrobiana, ao contrário da PBE (monomicrobiana). A PBE, como o próprio nome indica, ocorre de forma espontânea, sem perfuração de víscera oca associada (o mecanismo é a infecção do líquido ascítico por germes que ganharam a corrente circulatória após translocação intestinal e bacteremia). Já a PBS acontece no contexto de uma perfuração de víscera oca, necessitando, geralmente, de correção cirúrgica além da antibioticoterapia, o que faz seu prognóstico ser ainda mais adverso que o da PBE. Resposta certa: C.

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35
Q

35 – Encefalopatia hepática ocorre em pacientes com cirrose e pode se manifestar com alterações de personalidade, redução do nível de consciência e alteração no ciclo sono-vigília. Sobre a encefalopatia hepática, assinale a alternativa ERRADA:
a) São fatores precipitantes: hipovolemia, infecção, sangramento digestivo, constipação e distúrbios metabólicos.
b) Medicamentos como diuréticos e benzodiazepínicos
podem precipitar a encefalopatia hepática.
c) Para controle de agitação é contraindicado o uso de
haloperidol devido à metabolização hepática da droga.
d) A dose da lactulona deve ser ajustada para que o paciente tenha 2 a 4 evacuações por dia.

A

Vamos analisar as alternativas:
a) Todas as situações descritas podem funcionar
como fatores precipitantes da encefalopatia hepática.
Logo, o reconhecimento e o tratamento destas
condições é de suma importância para a reversão do
quadro neurológico (CORRETA);
b) Benzodiazepínicos, diuréticos e narcóticos representam fármacos que funcionam como potenciais desencadeadores de encefalopatia hepática (CORRETA);
c) Na verdade, o haloperidol é a droga de escolha para o controle de agitação psicomotora desses pacientes (INCORRETA);
d) A dose da lactulona é titulada visando 2-3 evacuações pastosas por dia, o que geralmente é obtido com a administração de 30-40 ml 2-4 vezes por dia. Alguns autores se referem a “2-4 evacuações por dia” (CORRETA).
Resposta: letra C.

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36
Q

36 – Homem, 42 anos de idade, internado com queixas
de que, há 6 meses, vem apresentando perda ponderal,
com astenia. Há 2 meses notou aumento do volume abdominal, discreta icterícia e colúria e, há 15 dias, notou
aparecimento de discreto edema de MMII bilateral. Nega
HAS e DM. Etilista desde 16 anos de idade, ingere 70 g/dia de álcool. Ao exame físico, emagrecido, lúcido, orientado, ictérico +/IV; IMC: 17; PA: 100 x 60 mmHg; PR: 60 bpm. Presença de telangiectasias, ginecomastia bilateral simétrica. Maciez móvel presente. Hepatimetria de 4 cm abaixo do rebordo costal. Exames laboratoriais mostram TP: 43% com RNI: 1,7; albumina: 2,8 mg%; bilirrubina total: 3,1 mg%. Diante do quadro exposto, indique a hipótese diagnóstica com suspeita etiológica e dois diagnósticos diferenciais possíveis para o caso:

A

Num paciente com história de etilismo crônico importante, o surgimento de icterícia, ascite e edema já é mais do que suficiente para nos fazer pensar na hipótese de cirrose hepática, no caso, uma cirrose alcoólica (ou cirrose de Laennec). O encontro de
estigmas periféricos de cirrose, como telangiectasias e
ginecomastia, apenas reforça tal hipótese, assim como
alterações laboratoriais do tipo hiperbilirrubinemia direta, alargamento do INR e hipoalbuminemia (todas sugestivas de disfunção hepatocelular). Ora, é claro que este paciente deverá ser submetido a uma série de exames diagnósticos, pois além da EVIDENTE cirrose hepática ele pode ter outras complicações associadas ao etilismo. Uma delas, por exemplo, é a pancreatite alcoólica crônica, um comemorativo relativamente frequente nesses doentes. Exames de imagem como a tomografia ou RM de abdome ajudarão a avaliar melhor o parênquima hepático, avaliando “de quebra” o parênquima pancreático. Não se esqueça que em toda ascite devemos calcular o GASA (gradiente de albumina soro-ascite), o grande “divisor de águas” da avaliação inicial. Valores > 1.1 g/dl são compatíveis com ascite por hipertensão porta, cuja principal etiologia é a cirrose hepática. Valores < 1.1 g/dl sugerem doenças do peritônio, como TB ou carcinomatose peritoneal. Logo, conceitualmente falando, APESAR DO QUADRO CLÍNICO DO PACIENTE SER TOTALMENTE COMPATÍVEL APENAS COM CIRROSE ALCOÓLICA “DESCOMPENSADA” POR HIPERTENSÃO PORTAL E ASCITE, podemos considerar que todas as outras entidades que citamos fazem parte do “diagnóstico
diferencial”. Ainda que por si mesma nenhuma delas
consiga explicar a totalidade dos sinais e sintomas apresentados pelo nosso paciente, elas podem COEXISTIR com a hipótese diagnóstica principal (ex.: a cirrose aumenta a chance de tuberculose em geral, que pode raramente acometer o peritônio; este paciente pode ter um câncer extra-hepático ou mesmo um CHC, com metástases para o peritônio). Na prática, o encontro de GASA < 1.1 g/dl nos levaria a pensar na coexistência
destes últimos diagnósticos, por exemplo.

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37
Q

37 – Em pacientes com cirrose e ascite, é CORRETO
afirmar que:
I. Quando ocorre ascite pela primeira vez, é recomendada a realização de paracentese diagnóstica para determinar
a concentração de proteínas, albumina, citológico diferencial e cultural do líquido ascítico;
II. Quando a concentração de proteínas no líquido de ascite for muito baixa, há risco aumentado do paciente desenvolver peritonite bacteriana espontânea;
III. A presença de altas concentrações de eritrócitos pode
significar a presença de hepatocarcinoma.
Quais estão CORRETAS?
a) Apenas II.
b) Apenas I e II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.

A

Toda ascite recém-detectada deve ser submetida a uma paracentese diagnóstica para esclarecimento da etiologia. O grande divisor de águas inicial é o GASA (Gradiente de Albumina Soro-Ascite). Valores > 1.1 g/dl indicam ascite transudativa, cuja principal etiologia
é a cirrose hepática. Valores < 1.1 g/dl indicam ascite
exsudativa, cujas principais etiologias são as doenças peritoneais (ex.: infecções como tuberculose, carcinomatose peritoneal). Pois bem, é claro que além da dosagem de albumina no líquido ascítico e no soro, devemos solicitar também outros marcadores laboratoriais, como a dosagem de proteínas totais (valores < 1 g/dl, na cirrose hepática, significam chance aumentada de infecção do líquido ascítico, indicando profilaxia primária crônica para PBE) e estudos celulares incluindo contagem de neutrófilos (> 250 PMN/ml confirma-se PBE, que pode ser assintomática) e citologia oncótica (confirmação de carcinomatose
peritoneal). Nos estudos celulares a contagem de hemácias é feita de rotina, e valores aumentados podem ter dois significados:
(1) acidente de punção ou
(2) carcinomatose peritoneal.
Logo, todas as assertivas estão CORRETAS.
Resposta certa: E.

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38
Q

38 – Paciente do sexo masculino, de 47 anos de idade,
relata aumento abdominal difuso, progressivo, há dois meses. Nega dor abdominal associada. Nega comorbidades. História de tabagismo 43 anos/maço e etilismo de um litro de destilado ao dia por 23 anos. Ao exame, apresenta FC = 100 bpm; FR = 24 irpm; PA = 98 x 64 mmHg; telangiectasias em tronco e ginecomastia bilateral, ausência de alteração neurológica e abdome difusamente aumentado com piparote positivo e macicez móvel. Levando em consideração o diagnóstico mais provável, o tratamento mais indicado neste momento é:
a) Restrição de sal, seguida de furosemida e espironolactona via oral.
b) Restrição de sal e diuréticos de alça por via intravenosa.
c) Restrição de água e diuréticos por via oral.
d) Paracentese seriada de grande volume.
e) Shunt porto-cava.

A

O enunciado descreve um quadro de aumento de volume abdominal cujo exame clínico revela ser uma ascite. Este paciente grande etilista (1 litro de destilado ao dia por 23 anos) apresenta ainda outros estigmas de cirrose hepática, como telangiectasias em tronco e ginecomastia bilateral. Ora, o diagnóstico de base, evidentemente, só pode ser cirrose, no caso, provavelmente, de etiologia alcoólica. Lembre-se
de que uma análise do líquido ascítico é muito útil como
“divisora de águas” na investigação inicial: um GASA
(Gradiente de Albumina Soro-Ascite) > 1,1 g/dl confirma
se tratar de transudato, cuja principal etiologia, na prática, é a cirrose hepática. Como tratar a ascite relacionada à cirrose? Em primeiro lugar, reduzindo a ingestão de sal! A fim de promover um balanço negativo efetivo de sal e água, instituímos diureticoterapia de alça (ex.: furosemida) associada a um diurético bloqueador do receptor de aldosterona (espironolactona), titulando suas doses em função da resposta terapêutica observada (o paciente deve ser
pesado diariamente, objetivando perder de 500 mg de
peso/dia se só houver ascite, e 1.000 mg de peso/dia se
além de ascite houver edema periférico). Idealmente, a
via de administração dos medicamentos deve ser ORAL.
Resposta certa: A.

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39
Q

39 – Paciente do sexo masculino, 47 anos de idade, portador de cirrose hepática de etiologia alcoólica, chega para atendimento médico trazido pela família, referindo que há um dia o paciente apresentou hematêmese seguido de confusão mental. Ao exame, apresenta-se com fala lentificada, localizado no tempo e no espaço, descorado ++, com icterícia discreta, flapping +, fígado percutido do sexto espaço intercostal até 3 cm do rebordo costal direito, espaço de Traube ocupado e sem macicez móvel. Exames laboratoriais mostram albumina = 3,2 g%; INR = 1,2; bilirrubina direta = 1,5 mg%; bilirrubina indireta = 0,8 mg% e creatinina = 2,4 mg%. Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a classificação de Child, modificada por Pugh, em relação ao prognóstico deste paciente:

a) A.
b) B.
c) C.
d) D.
e) E.

A

Decoramos a classificação de Child-Pugh através do mnemônico “BEATA”. B = bilirrubina; E = encefalopatia; A = ascite; T = tempo de protrombina; A = albumina. Cada parâmetro pode receber três pontuações diferentes: 1, 2 ou 3. Bilirrubina < 2 mg/dl soma 1 ponto. Encefalopatia moderada (flapping, fala lentificada, porém, orientado no tempo e espaço) soma 2 pontos. Ausência de macicez móvel descarta ascite clínica (1 ponto). INR < 1,7 também é
uma alteração leve, que soma 1 ponto. Enfim, albumina
entre 3,5 e 2,8 g/dl soma 2 pontos. Ao final, nosso paciente tem Child em função da pontuação? Até 6 pontos = Child A. Entre 7-9 pontos = Child B. Com 10-15 pontos é Child C.
Logo, resposta certa: B.

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40
Q

40 – Homem de 55 anos, com diagnóstico de cirrose de
etiologia alcoólica, vem se apresentando nos últimos 2
meses com ascite refratária ao tratamento com diuréticos
e elevação progressiva de creatinina, que era de 1,3 mg/dl e atualmente em 2,7 mg/dl. Investigação com ultrassonografia mostra ausência de alterações estruturais no parênquima renal e vias urinárias. Com base somente nesses dados, assinale alternativa mais CORRETA:
a) Trata-se de síndrome hepatorrenal tipo 2, sendo os hepatopatas propensos ao desenvolvimento de injúria renal por diversos motivos, tais como HDA, peritonite espontânea e uso de diuréticos de alça.
b) Trata-se de síndrome hepatorrenal tipo 1, facilmente
tratável com reposição de albumina.
c) A vasoconstrição esplâncnica é o mecanismo que explica este quadro.
d) Trata-se de síndrome hepatorrenal tipo 1 e geralmente
desencadeada por peritonite bacteriana espontânea.
e) Por definição não pode ser síndrome hepatorrenal pois
não há sinais de doença parenquimatosa renal.

A

A Síndrome Hepatorrenal (SHR) se caracteriza por insuficiência renal aguda que ocorre em cerca de 10% dos pacientes com cirrose hepática avançada.
Caracteristicamente, o parênquima renal está intacto
(assertiva E errada) e a perda progressiva da sua função
está associada à vasoconstrição renal exacerbada, que
ocorre em resposta à vasodilatação esplâncnica desenvolvida nos quadros hepáticos (assertiva C errada). Existem critérios diagnósticos para a SHR que foram definidos pelo International Ascites Club. Relembre-os a seguir:
• Doença hepática aguda ou crônica com insuficiência hepática avançada e hipertensão portal.
• Creatinina sérica > 1,5 mg/dl (ou aumento absoluto > 0,3 mg/dl ou aumento relativo > 50% em relação ao valor basal em 48h);
• Ausência da melhora da creatinina sérica após pelo menos dois dias de retirada de diuréticos e expansão volêmica com albumina (1 g/kg/dia até o limite de 100 g/dia);
• Ausência de causa aparente, tais como choque, infecção bacteriana, uso recente ou atual de drogas nefrotóxicas e ausência de sinal ultrassonográfico
sugestivo de obstrução ou doença parenquimatosa renal;
• Hematúria < 50 hemácias por campo de maior aumento e proteinúria < 500 mg/dia. Existem dois tipos de SHR: tipo 1 e tipo 2, diferenciados pela velocidade de progressão da disfunção renal. O tipo 1 é caracterizado pela rápida progressão da insuficiência renal (“menos de” 2 semanas), havendo aumento da creatinina sérica para o dobro da inicial (níveis superiores a 2,5 mg/dl), geralmente precipitada por um quadro de PBE. O prognóstico da SHR tipo 1 é extremamente ruim, com uma sobrevida média de cerca de 2 semanas (assertivas B e D erradas). No tipo 2, a creatinina sérica se situa entre 1,5 e 2 mg/dl, a evolução é mais insidiosa, espontânea, associada à ascite refratária e com
prognóstico melhor.
Como vocês podem ver, sobra-nos como resposta apenas a opção A.

41
Q

41 – Paciente atendido no Pronto-Socorro (PS) com ascite
volumosa e tensa, edema de MMII ++, sem sinais de encefalopatia hepática. Foi feito diagnóstico de cirrose de etiologia alcoólica, Child C, descompensada com ascite. Exames laboratoriais mostraram: creatinina sérica = 0.9 mg/dl; sódio sérico = 135 mEq/L; potássio sérico = 4.1 mEq/L. Com relação ao tratamento da ascite neste paciente, atribua
Verdadeiro (V) ou Falso (F) para as afirmativas abaixo:
a - Deve ser instituída dieta hipossódica e hipoproteica;
b - Deve ser instituída restrição hídrica;
c - Pode ser feita paracentese terapêutica com reposição
de albumina caso seja retirado volume maior que 5 litros;
d - Deve-se instituir uso de diuréticos: espironolactona
associada à furosemida;
e - A perda de peso pelo paciente de 1 kg/dia, indica terapêutica excessiva e deve-se diminuir a dose dos diuréticos.
Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA:
a) a - F; b - F; c - V; d - V; e - F.
b) a - V; b - V; c - F; d - F; e - V.
c) a - F; b - V; c - F; d - V; e - V.
d) a - V; b - F; c - V; d - V; e - V.
e) a - V; b - F; c - F; d - F; e - V.

A

Não se deve fazer restrição de proteínas na cirrose hepática avançada! Tais doentes são muito propensos à desnutrição proteicocalórica, haja vista o estado hipercatabólico naturalmente associado à cirrose. No entanto, devemos restringir a ingesta de sódio no portador de ascite e edema: tais indivíduos apresentam hipervolemia por conta do hiperaldosteronismo
secundário decorrente da redução do volume circulante efetivo, logo, o aumento do sódio dietético resultará em mais balanço positivo de sódio (e água), com agravamento da hipervolemia que levará àpiora do edema e da ascite. Logo, a assertiva “a” é FALSA.
A restrição de água livre só está indicada nos pacientes
que apresentam hiponatremia (nestes indivíduos, além
do hiperaldosteronismo secundário, existe secreção não
osmótica de ADH por conta de uma gravíssima redução
do volume circulante efetivo). Felizmente, não é o caso
aqui - assertiva “b” FALSA. Ascites volumosas e tensas
podem ser rapidamente tratadas por meio da “paracentese de alívio”. Neste procedimento, podemos aproveitar para retirar um grande volume de líquido, literalmente “esvaziando” a cavidade peritoneal do paciente. Porém, é importante lembrar que a paracentese de grande monta espolia o paciente de albumina, o que pode acarretar piora aguda do volume circulante efetivo e, consequentemente, desencadear um quadro de injúria renal aguda grave. A fim de evitar esse desfecho, devemos repor albumina IV durante o procedimento! Recomenda-se que quando forem retirados mais de 5 litros de líquido ascítico, para
cada litro sejam repostos 8 g de albumina IV (ex.: retirada de 6 litros de líquido ascítico = repor 48 g de albumina) - assertiva “c” VERDADEIRA. O tratamento clínico padrão da ascite na cirrose hepática consiste em diureticoterapia com furosemida (diurético de alça), associando sempre a espironolactona (bloqueador do receptor de aldosterona) visando combater o hiperaldosteronismo secundário (que de outro modo seria inclusive agravado pela diureticoterapia) - assertiva “d” VERDADEIRA. Enfim, no tratamento da hipervolemia associada à cirrose hepática, a pesagem diária é um dos parâmetros mais importantes para nortear a conduta! Quando o paciente tem ascite sem edema de MMII, o máximo permitido é uma perda de 0,5 kg/dia (acima disso existe grande chance de hipovolemia induzida pelo diurético). Por outro lado, quando o paciente apresenta ascite + edema de MMII, devemos ser
um pouco mais agressivos: nestes pacientes, recomenda-se a perda de 1 kg/dia - assertiva “e” FALSA. Resposta certa: A.

42
Q

42 – R.M.S., 37 anos, feminino, portadora de cirrose hepática por álcool, sem acompanhamento regular, é trazida à emergência médica por hematêmese. Está hipocorada +++/4+ hipotensa; taquicárdica; afebril. US de abdome (realizada há 3 dias): pequena quantidade de líquido livre na cavidade abdominal, fígado reduzido, aumento do calibre da veia porta e baço bastante aumentado de volume.
São condutas imediatas a serem tomadas para esta
paciente, EXCETO:
a) Estabilizar hemodinamicamente.
b) Iniciar terlipressina ou octreotida.
c) Iniciar propranolol.
d) Iniciar antibioticoprofilaxia.

A

Este tipo de questão é bastante comum e sempre leva os alunos a fazerem confusão! Em primeiro lugar, ninguém teve dúvidas que este paciente, que chega à emergência com hematêmese e é portadora de cirrose alcoólica com hipertensão porta (evidenciada por
USG recente), muito provavelmente está apresentando um episódio de hemorragia digestiva alta por rotura de varizes de esôfago. A redução do risco de ressangramento proporcionada pelo betabloqueador em portadores de varizes de esôfago ocorre em LONGO PRAZO! Os artigos que tratam desse benefício tiveram follow-up de 1 ou 2 anos! Não é iniciando um betabloqueador hoje que teremos uma redução de risco amanhã. No momento, a prioridade são as medidas para ESTABILIZAÇÃO HEMODINÂMICA da
paciente, como hidratação venosa, vasoconstritor (ex.:
octreotida) e endoscopia digestiva alta para tratamento local com escleroterapia / ligadura elástica. A antibioticoprofilaxia primária para PBE também está indicada em episódios de HDA! O betabloqueador deve ser iniciado apenas após a estabilização clínica da paciente (ela está hipotensa, o que na realidade CONTRAINDICA o BB neste momento).
Logo, única conduta inadequada: opção C.

43
Q

43 – Na ascite relacionada à cirrose hepática, podemos
afirmar que:
a) Pacientes com ascite tensa ou maior do que 5 litros,
com necessidade de paracentese, são considerados como portadores de ascite refratária.
b) A paracentese terapêutica, com expansão plasmática
utilizando a albumina, é considerada a 1ª opção terapêutica para ascite refratária.
c) O seu tratamento clínico deve se iniciar com restrição
dietética de sal e uso de diurético de alça.
d) A válvula de LeVeen é o tratamento de escolha nos
casos refratários.
e) O GASA < 1.1 deve ser considerado no diagnóstico da
hipertensão portal da cirrose.

A

Vejamos as opções: A- INCORRETA.
Não é o tamanho ou o volume da ascite
que define a refratariedade. Mas sim a dificuldade
de manejo com diuréticos e necessidade de repetidas
paracenteses em curto período. B- CORRETA.
A paracentese de “alívio” é a primeira opção nos casos
de ascite refratária, com reposição de 8 g de albumina
por litro retirado. Tal conduta resolve a ascite atual de
forma rápida, aumentando o intervalo de tempo até a recidiva da ascite.
C- INCORRETA. Faltou citar uma medida imprescindível: o uso de um antagonista de aldosterona
(espironolactona). Na realidade, é contraindicado iniciar
diurético de alça sem bloqueio da aldosterona concomitante! Entenda que a furosemida isolada pode levar à desidratação e redução ainda maior do volume circulante efetivo, o que AGRAVA o estado de hiperaldosteronismo secundário e, consequentemente, aumenta a retenção renal de sal e água. Além disso, a furosemida isolada pode provocar alcalose metabólica hipocalêmica, condição que sabidamente pode desencadear encefalopatia hepática em cirróticos. Logo, a furosemida é sempre feita com espironolactona,
e quando apenas uma droga for necessária, essa droga deverá ser a espironolactona!
D- INCORRETA. A derivação peritoniovenosa (válvula de LeVeen) é indicada em forma muito selecionada em casos de ascite refratária persistente, mas não é o tratamento de “primeira escolha”.
E- INCORRETA. GASA < 1,1 sugere exsudato, cujas causas são as doenças do peritônio (ex.: infecções como TB ou carcinomatose peritoneal). Na hipertensão portal, temos transudato (GASA alto > 1,1).

44
Q

44 – Paciente do sexo masculino, 48 anos, dá entrada no
pronto atendimento com hematêmese franca. Acompanhante informa história de hepatite não especificada há 10 anos e abuso crônico de álcool. Encontra-se emagrecido, ictérico ++/4, hipocorado ++/4, taquicárdico, taquipneico e hipotenso, com edema de membros inferiores. Seu abdome é globoso à custa de ascite moderada, com circulação colateral visível e baço palpável. Assinale a alternativa que contempla a sequência de atendimento mais adequada e de maior probabilidade de sucesso no controle da hemorragia do paciente acima:
a) Ressuscitação volêmica com Ringer lactato, transfusão
de hemoderivados, vasopressina endovenosa e omeprazol contínuo em dose plena em bomba de infusão.
b) Balão de Sengstaken-Blakemore, ressuscitação volêmica, transfusão de hemoderivados e endoscopia digestiva alta.
c) Ressuscitação volêmica, transfusão de hemoderivados,
betabloqueador oral, TIPS e endoscopia digestiva alta.
d) Balão de Sengstaken-Blakemore, ressuscitação volêmica, transfusão de hemoderivados e desconexão ázigo-portal de urgência.

A

História de “hepatite há 10 anos” (isto é, hepatopatia crônica), abuso de álcool (fator de risco para hepatopatia, podendo ser causa isolada ou contribuinte da mesma), aliada ao encontro de estigmas de cirrose hepática descompensada por hipertensão porta, como icterícia, ascite, edema, circulação colateral abdominal e esplenomegalia, são elementos mais do que suficientes para nos fazer pensar em hemorragia digestiva alta por rotura de varizes esofagogástricas neste caso. Pois bem, qual é a SEQUÊNCIA terapêutica na abordagem emergencial deste problema? O primeiro passo, sempre, é estabilizar hemodinamicamente o paciente. A estabilização hemodinâmica PRECEDE a realização de endoscopia (conceito clássico, sempre cobrado em provas de residência)! Fazemos isso através da obtenção de dois acessos venosos periféricos calibrosos, infundindo solução salina (SF 0,9% ou Ringer
lactato) em um e reposição de hemoderivados (concentrado de hemácias, plasma/plaquetas se necessário) no outro. Outra medida recomendada é o uso de algum agente vasoconstritor esplâncnico, que pode ser a terlipressina (análogo da vasopressina sem os efeitos colaterais desta) ou a octreotida (análogo da somatostatina). Tais drogas reduzem o hiperfluxo e a pressão no território venoso porta, reduzindo a “cabeça de pressão” no ponto de sangramento das varizes. É importante mencionar que a VASOPRESSINA foi abandonada da prática com este intuito: viu-se que ela causava importantes efeitos colaterais que acabavam aumentando a morbimortalidade do portador de HDA por varizes rotas (ex.: espasmo coronariano, que aumenta a chance de isquemia miocárdica, infarto, arritmias malignas e morte súbita cardíaca).
Somente com o paciente estabilizado, após o sucesso
das medidas anteriormente citadas, podemos proceder
à Endoscopia Digestiva Alta (EDA): tal método visa estabelecer o diagnóstico diferencial da HDA, identificando e caracterizando a fonte (ou fontes) do sangramento, além de permitir a instituição de medidas terapêuticas diretas, sendo a ligadura elástica a opção de primeira escolha para tratar agudamente as varizes de esôfago rotas. Vale dizer que em locais onde a EDA não está disponível, bem como nos pacientes que não estabilizam clinicamente, mantendo a hemorragia a despeito do tratamento de suporte inicial, PODEMOS REALIZAR A QUALQUER MOMENTO O TAMPONAMENTO DA REGIÃO ESOFAGOGÁSTRICA COM A PASSAGEM DE UM “BALÃO DE SENGSTAKEN-BLAKEMORE”. Só mais dois detalhes:
(1) ninguém é louco de querer iniciar um betabloqueador na paciente neste momento, correto? A paciente está hipotensa, o que é uma contraindicação absoluta para o início dessas drogas;
(2) a letra D não deve nos confundir, porque se optássemos pela realização de um shunt portossistêmico invasivo este não seria a desconexão ázigo-portal (procedimento demorado e necessariamente eletivo, nunca de “emergência”).
Atualmente, o método de escolha neste contexto é a
implantação de um TIPS.
Logo, de todas as opções de resposta, a única viável é a letra B.

45
Q

45 – As veias que formam a veia porta geralmente são:

a) Gástrica esquerda, esplênica e renal.
b) Gástrica esquerda, mesentérica superior e esplênica.
c) Cólica direita, cólica média e esplênica.
d) Esplênica, mesentérica superior e mesentérica inferior.
e) Esplênica, mesentérica superior e cólica direita.

A

A veia porta é formada, na verdade, apenas com a junção da veia esplênica e da mesentérica superior. A veia mesentérica inferior desemboca na esplênica antes desta chegar à veia porta. Entretanto, não existe esta alternativa na questão.
A banca deu como gabarito oficial a letra D.

46
Q

46 – José, 40 anos, foi admitido no pronto-socorro com queixa
de aumento do volume abdominal e coloração amarelada
da pele, há três semanas. Relata ter notado importante
aumento do volume abdominal nestes últimos 10 dias. Nega
episódios febris, relata ser etilista de longa data (aproximadamente
20 anos), com ingesta de um litro de aguardente por
dia nesse período. Nega outras comorbidades conhecidas,
mas relata que não faz acompanhamento médico. Ao exame:
BEG; ictérico (2+/4); desidratado (1+/4); afebril; presença
de telangiectasias em tronco; RCR 2T BNF S/S FC: 98 bpm;
PA: 90 x 60 mmHg; MV + SEM RA; FR: 22 irpm; abdome: distendido;
ascítico; indolor; RHA+, Glasgow 15. Exames laboratoriais:
hemograma: Hb: 11 g/dl - HT: 35%; leucograma: 3.300;
leucócitos (0/0/2/70); ureia: 33 mg/dl - creatinina: 1,1 mg/dl
- INR: 1,3 - Na: 130 mEq/L - K: 4,2 mEq/L - proteínas totais:
4,3 g/dl (albumina sérica: 3,2 g/dl); paracentese: contagem
total e diferencial (50 leucócitos / 20 PMN); Gram: negativo;
cultura: negativa; albumina: 1,5 g/dl. Qual deve ser a estratégia
inicial de tratamento para esse paciente?
a) Paracentese de alívio para remoção de todo líquido
ascítico e alta para ambulatório de hepatologia.
b) Dieta hipossódica (até 2 g de Na/dia) com associação
de 100 mg furosemida EV.
c) Dieta hipossódica (até 2 g de Na/dia) com associação
de furosemida (40 mg) e espironolactona (100 mg) VO.
d) Dieta hipoproteica e espironolactona 100 mg VO e hidroclorotiazida
50 mg VO.

A

No caso em tela, temos um
GASA (Gradiente de Albumina Soro-Ascite) de 1,7
(> 1,1 g/dl), o que sugere o diagnóstico de ascite
por hipertensão porta decorrente de cirrose hepática
(levando em conta também todo o contexto clínico).
A abordagem terapêutica de qualquer paciente com
ascite consiste inicialmente na RESTRIÇÃO DE SÓDIO
e utilização de DIURÉTICOS orais (lembrando-se de
sempre associar espironolactona, nunca furosemida
isolada). Apenas com isso, conseguimos o controle da
ascite em até 90% dos pacientes, o que sem dúvida é uma
excelente estatística! A restrição de sódio deve ser de
2 g/dia e o esquema diurético inicial clássico consiste
em dose única matinal de espironolactona 100 mg/dia
e furosemida 40 mg/dia (pode-se aumentar as doses
a cada 3-5 dias, sendo as doses máximas 400 mg/dia
de espironolactona e 160 mg/dia de furosemida).
O objetivo básico é a perda diária de peso entre 0,5
a 1 kg/dia (0,5 kg se tiver apenas ascite, 1 kg se tiver
ascite + edema de MMII). Resposta certa: C.

47
Q

47 – Sobre a Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE),
considere os itens a seguir:
I. Contagem de leucócitos > 250 mg/mm³ no líquido ascítico
é um critério necessário para diagnóstico de PBE;
II. O diagnóstico diferencial é feito com peritonite bacteriana
secundária, e a segunda é mais provável na presença
de infecção polimicrobiana do líquido ascítico;
III. Paciente cirrótico com ascite que tem um episódio de
sangramento por varizes esofágicas deve receber profilaxia
antimicrobiana primária para PBE.
Marque a opção que contém itens CORRETOS:
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III
e) I, II e III.

A

O critério para definir PBE na prática é contagem de POLIMORFONUCLEARES (neutrófilos) > 250/ml de líquido ascítico, e não “leucócitos totais” - assertiva I INCORRETA. Em cirróticos com ascite, a PBE é muito mais frequente que a PBS (90% x 10% dos casos de peritonite, respectivamente).
Na PBE, como o próprio nome diz, a infecção é espontânea, isto é, não há perfuração de víscera oca intra-abdominal. Seu mecanismo envolve translocação
bacteriana intestinal, bacteremia e infecção de um
líquido ascítico pobre em “opsoninas” (o que pode
ser inferido por níveis de proteína muito reduzidos
na ascite, geralmente < 1 g/dl). Na imensa maioria
dos casos a PBE é monomicrobiana, com destaque
para enteropatógenos Gram-negativos como a E. coli.
Já na PBS ocorre perfuração de víscera e contaminação
direta da cavidade pelos germes da microbiota
intestinal. Por este motivo, a PBS é uma infecção tipicamente polimicrobiana, sendo encontrados enteropatógenos Gram-negativos, anaeróbios e até mesmo Gram-positivos, como Enterococcus - assertiva II CORRETA.
A chance de infecção - principalmente PBE - em cirróticos que apresentam hemorragia digestiva alta por
rotura de varizes esofagogástricas é muito grande!
Estima-se que 70% desses indivíduos evoluam com
infecção: 20% já estão infectados no momento de apresentação da HDA, e os 50% restantes desenvolverão uma infecção nos dias subsequentes! Logo, a chance de infecção é maior que a chance de não infecção, o que determina a necessidade de tratamento preemptivo da infecção, de rotina, em TODOS os doentes nesta situação! Esta é a chamada “profilaxia primária AGUDA da PBE”, feita com norfloxacino 400 mg IV 12/12h por 7 dias - assertiva III CORRETA.
Resposta certa: D.

48
Q

48 – Em relação à fisiopatologia da hipertensão portal, em qual das alternativas abaixo consta a ação desejada para estancar a hemorragia digestiva alta?

a) Vasodilatação periférica.
b) Vasodilatação esplâncnica.
c) Vasoconstrição esplâncnica.
d) Vasoconstrição periférica.
e) Vasoconstrição periférica e vasodilatação esplâncnica.

A

Dentre as condutas preconizadas no tratamento emergencial da hemorragia digestiva alta por rotura de varizes esofagogástricas associadas à hipertensão
porta encontra-se o uso de agentes vasoconstritores
esplâncnicos (terlipressina ou octreotida). Tais drogas, ao reduzirem a vasodilatação no leito da veia porta, diminuem o hiperfluxo regional (“hiperemia intestinal”) e a “cabeça de pressão” nos pontos de sangramento. Resposta certa: C.

49
Q

49 – Sobre cirrose, assinale a afirmativa CORRETA:
a) Em nosso meio, esquistossomose mansônica é uma
das principais causas de cirrose.
b) Pacientes com ascite tensa, oligúria e creatinina sérica
menor que 2 mg/dl devem ser tratados com diuréticos de
forma agressiva e paracentese de alívio.
c) Encefalopatia hepática pode advir do uso de diuréticos
de alça.
d) Expansão volumétrica, uso de albumina, diuréticos e
agentes vasopressores são recomendados em casos de
síndrome hepatorrenal.

A

A esquistossomose causa lesão “pré-sinusoidal”, isto é, não envolve diretamente os hepatócitos, logo, isoladamente não é causa de cirrose hepática
(A errada).
Pacientes com ascite tensa (volumosa), oligúria e alterações das escórias nitrogenadas (principalmente
quando a creatinina não está muito alta, acima de 2-2,
5 mg/dl) podem apresentar, na realidade, síndrome hepatorrenal tipo 2 (“ascite refratária”) e, nesta situação (assim como na SHR tipo 1), deve-se evitar o uso de diuréticos (B e D erradas). Enfim, a encefalopatia hepática pode advir do uso de diuréticos de alça (furosemida), principalmente quando estes são empregados de forma isolada, sem espironolactona
(diurético “poupador de potássio”) concomitante.
Ao desencadear alcalose metabólica hipocalêmica,
o diurético de alça pode aumentar a conversão endógena de amônio (NH4+) em amônia (NH3), e esta última, assim, cruza a barreira hematoencefálica promovendo alterações no funcionamento cerebral. Resposta certa: C.

50
Q

50 – A palavra ascite é procedente da língua grega, e na
medicina significa uma condição patológica de acúmulo
de fluido na cavidade abdominal. Sobre a ascite, é CORRETO afirmar que:
a) Uma contagem de polimorfonucleares acima de
150 céls/mm³ no líquido ascético significa peritonite bacteriana espontânea.
b) Recomenda-se que todo paciente com ascite de início
recente realize uma toracocentese diagnóstica.
c) A coloração opalescente ou “leitosa” do líquido ascítico
geralmente é associada a neoplasias ou cirrose hepática.
d) Na ascite quilosa a dosagem de triglicerídeos costuma
ser acima de 50 mg/dl.
e) A perda ponderal de 200 mg/dia corresponde a uma
resposta terapêutica eficaz no monitoramento da ascite.

A

Vamos analisar as alternativas separadamente:
a) O diagnóstico de Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE) é estabelecido quando observamos a presença de > 250 polimorfonucleares/mm³, cultura do líquido ascítico positiva e excluindo-se causas de peritonite
secundária (INCORRETA);
b) Pacientes com ascite de início recente devem ser investigados através da realização de uma PARACENTESE (INCORRETA);
c) A ascite quilosa, na qual o líquido ascítico adquire uma aparência leitosa (devido a elevada concentração de triglicerídeos), ocorre devido a presença de linfa na cavidade abdominal. Suas principais causas são: malignidades abdominais, anormalidades referentes ao sistema linfático e cirrose hepática, as quais juntas, representam dois terços de todos os casos de ascite quilosa (CORRETA);
d) Na ascite quilosa, a concentração de triglicerídeos do líquido está tipicamente acima de 200 mg/dl (INCORRETA); e) Quando iniciamos o tratamento com diuréticos e restrição salina em um paciente cirrótico com ascite (sem edema de membros inferiores) visamos uma perda ponderal de 500 g/dia, se só houver ascite, e 1.000 g/dia, se além de ascite houver edema periférico (INCORRETA).
Alternativa C CORRETA.

51
Q

51 – Homem de 49 anos apresenta ascite com Gradiente
de Albumina Soro-Ascite (GASA) de 1,3 g/dl e nível de
proteínas no líquido ascítico maior que 2,5 g/dl. Qual a
principal hipótese dentre as abaixo apresentadas?
a) Síndrome nefrótica.
b) Insuficiência cardíaca congestiva.
c) Hepatite crônica.
d) Carcinomatose peritoneal.
e) Hipotireoidismo.

A

Sabemos que o passo inicial na investigação diagnóstica da ascite é o cálculo do GASA (Gradiente de Albumina Soro-Ascite). Valores > 1,1 g/dl são compatíveis com transudato, como na hipertensão porta (cuja principal etiologia é a cirrose hepática), e valores < 1,1 g/dl são compatíveis com exsudato, conforme se observa nas doenças do peritônio (ex.: infecções como TB, carcinomatose peritoneal). Pois bem, o GASA do paciente revela que sua ascite é transudativa, o que só não poderia ser explicado aqui pela alternativa D! Todas as demais opções citam causas clássicas de ascite transudativa! Então, como resolver essa questão? Atente para outro dado importante: nível de PROTEÍNA TOTAL do líquido ascítico.
Vamos explicar um curioso fato histórico, para que
você consiga entender. Antes da criação do GASA e
sua incorporação à prática clínica, a diferenciação entre
ascite transudativa e exsudativa era feita somente pela
dosagem de proteínas totais no líquido ascítico. Valores
> 2,5 g/dl indicariam exsudato, e valores < 2,5 g/dl indicariam transudato. Contudo, esta forma de classificar
a ascite é FALHA, pois nos pacientes com hipoproteinemia mesmo uma ascite exsudativa poderia não alcançar a cifra de 2,5 g/dl no líquido ascítico, já que, com a baixa de proteínas no sangue, em alguns casos não haveria como “colocar tanta proteína na ascite”. Com o desenvolvimento do conceito de GASA viu-se que existia ainda outro problema diagnóstico: alguns pacientes com GASA alto (ascite transudativa) tinham níveis de proteínas totais igualmente altos (> 2,5 g/dl)! Na realidade, além de pouco sensível, o nível de
proteína total no líquido ascítico é pouco específico
para diferenciar entre transudato e exsudato, pois uma
ascite transudativa pode muito bem ter proteína total
elevada! É o que acontece em duas clássicas situações:
(1) ascite relacionada ao hipotireoidismo, cuja
fisiopatologia não é totalmente conhecida (mas trata-
-se de exemplo clássico desse fenômeno, isto é, GASA
e proteínas totais elevados);
(2) insuficiência cardíaca congestiva em paciente que receberam grandes doses de diureticoterapia. O diurético, ao promover perda renal de sal e água, pode acabar “concentrando” artificialmente o líquido ascítico. Como ele remove sal e água, mas não remove as proteínas (a remoção destas na cavidade peritoneal tem cinética bem mais lenta, pois depende da drenagem linfática local), é possível que um doente com ascite por ICC (uma ascite transudativa), apresente transitoriamente aumento de proteína total no líquido
ascítico, durante a diureticoterapia intensiva voltada para a resolução da hipervolemia de uma ICC descompensada. Logo, diríamos que a melhor resposta para essa questão seria na realidade a letra E, pois a letra B não especifica que o paciente está em uso de diuréticos.
Assim, gabarito oficial: B. Gabarito MEDGRUPO: E.

52
Q

52 – Sobre a Hemorragia Digestiva Alta (HDA) varicosa,
em pacientes cirróticos, assinale a alternativa CORRETA:
a) O tamponamento com balão de Sengstaken-Blakemore (que deve ser mantido insuflado por, no máximo, 6 horas), e empregado, apenas, nos pacientes hemodinamicamente estáveis, quando não se dispõe de endoscopia de urgência.
b) O TIPS (Shunt Portossistêmico Intra-hepático Transjugular) é um procedimento que envolve a criação de um canal entre a veia porta e a veia cava inferior por meio de uma prótese vascular que passa anteriormente ao fígado.
c) O TIPS pode ser indicado na vigência de HDA grave
e refratária ao tratamento endoscópico, com bons resultados em interromper o sangramento. Entretanto, podem ocorrer complicações com encefalopatia portossistêmica e estenose/trombose da prótese.
d) O uso de terlipressina na HDA varicosa está em desuso, devido aos seus maus resultados em controlar o
sangramento por varizes esofagogástricas em cirróticos.
Atualmente são preferidos a noradrenalina e o octreotida para vasoconstrição esplâncnica e consequente redução da pressão nas varizes.
e) Os shunts portossistêmicos cirúrgicos, como shunt esplenorrenal distal (Warren) e as derivações porto-cavais, são bastante utilizados atualmente. Têm poucas complicações e melhores resultados que o TIPS, na maioria dos casos, evitando, em longo prazo, a evolução para necessidade de transplante de fígado.

A

A- INCORRETA: o balão pode ser utilizado por no máximo 24 horas e não 6 horas como apresentado na alternativa; B- INCORRETA: TIPS é uma forma de tratamento para a HDA relacionada a varizes de esôfago. É uma forma de tratamento ainda de exceção, e a sigla é um acrônimo do inglês “transjugular intrahepatic portosystemic shunt”. É uma anastomose não cirúrgica que consiste na criação de uma comunicação entre um ramo portal intra-hepático e a veia supra-hepática, através do parênquima do órgão, com essa comunicação mantida pela colocação de malha metálica. Com isso, busca-se a redução do gradiente de pressão porto-hepático para evitar ou reduzir as complicações da hipertensão portal, enquanto se mantém perfusão portal suficiente para evitar o desenvolvimento
de insuficiência hepática e de encefalopatia portossistêmica;
C- CORRETA: como discutido na letra B, essa é uma das indicações;
D- INCORRETA: muito pelo contrário, o uso ainda é um dos pilares no tratamento das hemorragias varicosas;
E- INCORRETA: como discutido nas letra B e C, assertiva INCORRETA.
Gabarito C.

53
Q

53 – Das opções a seguir, aquela que NÃO REPRESENTA
um fator de risco para ressangramento na hemorragia
por ruptura de varizes esofagogástricas é:
a) Apresentação clínica na forma de melena.
b) Varizes com sinais de “red spots” (cor vermelha).
c) Ingestão continuada de bebida alcoólica.
d) Grau avançado de disfunção hepática.

A

São considerados fatores de risco para ressangramento na hemorragia por ruptura de varizes esofagogástricas:
- Idade > 60 anos;
- Cirrose devido à doença hepática alcoólica;
- Sangramento inicial de grande volume (hemoglobina < 8 g/dl);
- Trombocitopenia;
- Encefalopatia hepática (que denota um grau avançado de disfunção hepática);
- Ascite;
- Sangramento ativo observado no momento da endoscopia;
- Sangramento proveniente de varizes gástricas;
- Varizes de grande calibre;
- Varizes com sinais de ”red spots”;
- Insuficiência renal aguda;
- Elevado gradiente de pressão venosa hepática.
Alternativa A CORRETA.

54
Q

54 – Para pacientes portadores de cirrose hepática de
qualquer etiologia, Child C, portadores de varizes de esôfago de fino calibre com sinais da cor vermelha (red spots), sem antecedentes de sangramento varicoso, indica-se, preferencialmente:
a) Profilaxia secundária com betabloqueadores não seletivos.
b) Profilaxia primária com ligadura elástica ou escleroterapia das varizes.
c) Profilaxia primária com betabloqueadores não seletivos.
d) Profilaxia secundária com ligadura elástica ou escleroterapia das varizes.

A

Em primeiro lugar, se não há antecedentes de sangramento varicoso, trata-se de um caso de profilaxia PRIMÁRIA. Todo paciente com diagnóstico de cirrose hepática deve ser avaliado por endoscopia digestiva
alta para que possamos verificar a presença e graduar as varizes esofagogástricas. Ela deve ser repetida a cada 2-3 anos na ausência de varizes, 1-2 anos na presença de pequenas varizes e anualmente em caso de Child-Pugh B/C. A profilaxia está indicada nas seguintes situações:
- Varizes de médio e grande calibre (F2/F3); ou
- Varizes de pequeno calibre em pacientes com alto risco de sangrar (Child B/C ou “pontos avermelhados” na EDA). A profilaxia primária é feita com betabloqueadores não seletivos, sendo a ligadura endoscópica de varizes indicada apenas quando
o paciente não tolera o fármaco (broncoespasmo, bloqueios cardíacos).
Dessa forma, a melhor resposta é opção C, uma vez que este paciente apresenta varizes de pequeno calibre, porém com red spots (pontos vermelhos), o que indica maior risco de sangramento e consequente necessidade de profilaxia primária.

55
Q

55 – Em paciente com esquistossomose hepatoesplênica, quais os critérios diagnósticos de Síndrome Hepatopulmonar (SHP)?

a) Presença de hipertensão pulmonar pela ecocardiografia com contraste e alteração de troca gasosa.
b) Presença de dilatação vascular intrapulmonar e alteração de troca gasosa.
c) Presença de dilatação vascular intrapulmonar e presença de shunt intrapulmonar pela cintilografia pulmonar.
d) Presença de hipertensão pulmonar e ascite.

A

A síndrome hepatopulmonar deve ser considerada presente, quando a seguinte tríade for observada:
— Doença hepática (mais comumente associada à hipertensão porta, com ou sem cirrose);
— Comprometimento da troca gasosa;
— Anormalidades vasculares intrapulmonares, referidas como dilatações vasculares intrapulmonares.
Alternativa B CORRETA.

56
Q

56 – Homem, 58 anos de idade, com cirrose hepática
secundária ao vírus da hepatite B. HMA: apresentou
episódio único de hematêmese há 4 horas. EF: BEG;
hipocorado +/4+; afebril; ictérico +/4+; FC: 104 bpm;
PA: 100 x 70 mmHg; ausculta respiratória sem alterações;
abdome plano; ruídos hidroaéreos normoativos;
fígado não palpável; presença de macicez móvel. Evolução: após medidas de estabilização clínica, iniciou-se terlipressina (2 mg, EV). Foi realizada endoscopia digestiva alta que evidenciou varizes esofágicas sangrantes. Qual a melhor conduta nesse momento?
a) Betabloqueador não seletivo.
b) Dissacarídeo não absorvível.
c) Albumina endovenosa.
d) Cefalosporina de terceira geração.

A

Já foi determinado que cerca de 20% dos pacientes cirróticos hospitalizados por hemorragia gastrointestinal possuem infecções bacterianas (infecções do trato urinário, infecções respiratórias, PBE e bacteremia primária) e um adicional de 50% desenvolverá
algum tipo de infecção enquanto estiver hospitalizado,
fato que causa um importante impacto na mortalidade
desses pacientes. Diversos estudos avaliaram a
efetividade da administração de antibióticos profiláticos
em pacientes cirróticos internados por hemorragia digestiva, sugerindo não só uma redução das complicações infecciosas, como também uma possível diminuição da mortalidade. Dessa forma, a recomendação atual é que esses pacientes recebam antibióticos profiláticos, preferencialmente antes da EDA, apesar de benefícios terem sido alcançados com sua administração após a endoscopia.
Apesar de a maioria dos estudos utilizarem as
quinolonas como antibiótico de escolha, alguns serviços
recomendam o uso da ceftriaxona, pelo fato desta ter
sido superior ao norfloxacino em estudos controlados
randomizados. Os betabloqueadores não seletivos são
utilizados como profilaxia de sangramento, e não no
tratamento! Já a albumina costuma entrar no contexto
da profilaxia de síndrome hepatorrenal, o que costuma
estar indicado em pacientes que se apresentam com
PBE. Enquanto isso, os dissacarídeos não absorvíveis
(lactulose) possuem papel no tratamento da encefalopatia hepática.
Alternativa D CORRETA.

57
Q

57 – Pode-se dizer que a hipertensão porta de origem sinusoidal é encontrada na:

a) Cirrose hepática.
b) Síndrome de Budd-Chiari.
c) Esquistossomose hepatoesplênica.
d) Policitemia vera.

A

A policitemia vera é uma das causas clássicas da síndrome de Budd-Chiari, uma condição caracterizada pela trombose das veias supra-hepáticas causando, entre outras coisas, uma hipertensão portal de origem “pós-hepática”. Na esquistossomose hepatoesplênica, por outro lado, a reação granulomatosa contra os ovos de esquistossoma que atingem os espaços porta resulta em fibrose e obliteração dessas estruturas, originando uma HP “intra-hepática”, porém “pré-sinusoidal”. A HP “sinusoidal” é aquela onde a restrição ao sistema porta se dá no interior do próprio parênquima hepático. Tal é o caso da cirrose hepática, por conta da necrose de hepatócitos e consequente formação de pontes fibrosas e nódulos de regeneração.
Resposta certa: A.

58
Q

58 – Assinale o fármaco que diminui o fluxo sanguíneo
esplâncnico, indiretamente, pela redução dos níveis de
outros fatores como glucagon, peptídeo vasoativo intestinal e substância P, e não por vasoconstrição direta, sendo hoje considerado de escolha no tratamento de hemorragia aguda por varizes.
a) Vasopressina.
b) Propranolol.
c) Nadolol.
d) 5-mononitrato de isossorbida.
e) Octreotida.

A
A octreotida (um análogo da somatostatina) trata o sangramento agudo varicoso através da vasoconstrição, seja ela periférica ou esplâncnica, sendo o
fármaco de escolha durante o episódio agudo. Propranolol e o nadolol são betabloqueadores não seletivos, sendo bem indicados para a PREVENÇÃO de sangramento das varizes, e não para tratamento. Segundo últimos estudos da literatura, a combinação de betabloqueador não seletivo e nitratos de ação prolongada (ISOSSORBIDA) têm efeito sinérgico em reduzir a pressão portal, mas não traz qualquer aumento na sobrevida geral, além de causar importantes efeitos colaterais (vasodilatação sistêmica) que podem contraindicar seu uso. 
Sem pestanejar, gabarito: letra E.
59
Q

59 – Paciente do sexo masculino, portador de cirrose alcoólica, é submetido à paracentese de alívio, com retirada de 12 litros de líquido sem infusão concomitante de volume intravenoso. Se apresenta ao pronto atendimento 7 dias depois com rebaixamento do nível de consciência, sendo que os familiares informam que nos 2 dias anteriores ele apresentou náuseas, soluços e, desde ontem, não está urinando. Ao exame, REG; descorado 2/4+; hidratado; afebril; PA = 100 x 70 mmHg; FC = 80; abdome globoso; normotenso; RHA normoativos; sem dor à descompressão brusca. Exames solicitados: creatinina = 5,2 mg%; Na = 129 mEq/L; K = 3,7 mEq/L; bicarbonato = 31 mEq/L. Urina I densidade 1.010; leucócitos 1/campo hemácias ausentes. A causa mais provável para esta descompensação, com base nas informações oferecidas é:

a) Peritonite bacteriana espontânea.
b) Lesão renal aguda por necrose tubular aguda.
c) Síndrome hepatorrenal.
d) Insuficiência renal aguda pré-renal.
e) Choque séptico.

A

A Síndrome Hepatorrenal (SHR) caracteriza-se por uma insuficiência renal aguda que ocorre em 10% dos pacientes com cirrose hepática avançada. Caracteristicamente, o parênquima renal está intacto e a perda progressiva da sua função está associada à vasoconstrição renal exacerbada, que ocorre em resposta à vasodilatação esplâncnica desenvolvida nos
quadros hepáticos. Toda vez que um hepatopata com
ascite volumosa, como no caso do paciente na questão,
se manifestar com oligúria ou elevação de escórias
nitrogenadas se deverá pensar na síndrome hepatorrenal. Como estes pacientes também estão sujeitos a outras formas de lesão renal, o primeiro passo é excluir outras causas de IRA. Como hipovolemia (hemorragia digestiva e diarreia) e drogas nefrotóxicas. Em segundo lugar, devem ser identificados fatores precipitantes que diminuam o volume intravascular, como diureticoterapia vigorosa ou paracentese (IRA iatrogênica). Os critérios diagnósticos levam em consideração exatamente o racional de se afastar outros diagnósticos. Os definidos pelo International Ascites Club em 2007 são:
- Doença hepática aguda ou crônica com insuficiência hepática avançada e hipertensão portal;
- Creatinina sérica > 1,5 mg/dl;
- Ausência da melhora da creatinina sérica após pelo menos dois dias de retirada de diuréticos e expansão volêmica com albumina (1 g/kg/dia até o limite de
100 g/dia);
- Ausência de causa aparente, entre elas choque, infecção bacteriana, uso recente ou atual de drogas nefrotóxicas e ausência de sinal ultrassonográfico
sugestivo de obstrução ou doença parenquimatosa
renal;
- Hematúria < 50 hemácias por campo de maior
aumento e proteinúria < 500 mg/dia. Nosso paciente tinha uma doença hepática provavelmente avançada pela ascite volumosa que foi submetida à paracentese com grande drenagem, Cr 5,2, um EAS inocente, sem densidade alta e com pressão arterial normal (ambos os últimos falando contra pré-renal). Apesar de não preencher o critério de expansão volêmica, a causa mais provável se torna a SHR
- letra C. A melhor terapia é o transplante hepático com
boa recuperação da função renal. O tratamento clínico
é bem menos efetivo e a prevenção deve ser o foco das
intervenções, evitando-se o uso inapropriado de diuréticos e corrigindo-se precocemente os distúrbios hidroeletrolíticos, hemorragias e infecções.
Resposta: item C.

60
Q

60 – Na Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE) todas
alternativas abaixo estão corretas, EXCETO:
a) A presença de 250 neutrófilos por mm³ de líquido ascítico é diagnóstico de PBE.
b) Uma das complicações da PBE é a síndrome hepatorrenal.
c) No momento do diagnóstico devem-se iniciar antibióticos de amplo espectro como quinolonas e cefalosporinas.
d) A presença de bactérias no líquido ascítico é necessária para o diagnóstico.

A

A cultura do líquido ascítico demora em média 48h para se tornar positiva nos casos de PBE, logo, não devemos esperar por este resultado para dar o diagnóstico e iniciar o tratamento antimicrobiano! Este deve ser “empírico” (iniciado ANTES da positivação da cultura), baseado em um critério diagnóstico mais sensível e precoce. Que critério é esse? É a contagem de polimorfonucleares > 250/ml, que quando presente já permite estabelecer o diagnóstico, isto é, a cultura NÃO é necessária para autorizar o início do tratamento
antimicrobiano (cuidado, estamos nos referindo aos
polimorfonucleares, isto é, neutrófilos, e não “leucócitos
totais”). As demais assertivas são conceituais e verdadeiras.
Resposta certa: D.

61
Q

61 – Paciente do sexo masculino, 52 anos, procura atendimento médico devido aumento do volume abdominal. Refere etilismo de longa data, e não consegue mais dormir à noite, sendo que a esposa refere que ele dorme durante a tarde. Após examiná-lo, o médico faz hipótese diagnóstica de hipertensão portal. Ao exame está consciente, orientado, comunicando-se verbalmente. O abdome apresenta circulação colateral, ascite de grande volume. Exames: bilirrubina total = 0,5 mg%; bilirrubina indireta = 0,3 mg%; albumina = 1,8/dl; atividade de protrombina = 30%. O médico solicita endoscopia digestiva alta e ultrassonografia do abdome com Doppler e informa que o paciente tem insuficiência hepática avançada. O médico:
a) Acertou em solicitar os exames, porém errou quanto à
insuficiência hepática, pois o Child-Pugh é de 9.
b) Acertou quanto à insuficiência hepática, pois o Child-Pugh é de 9, mas errou, pois não devia solicitar os exames.
c) Acertou em solicitar os exames, mas errou quanto à
insuficiência hepática, pois o Child-Pugh é de 6.
d) Acertou em solicitar os exames e acertou quanto à insuficiência hepática, pois o Child-Pugh é de 12.
e) Acertou em solicitar os exames e acertou quanto à insuficiência hepática, pois o Child-Pugh é de 15.

A

Bem, como deu pra perceber, a questão quer que você calcule o Child-Pugh do paciente.
Ele tem ascite “de grande volume”, isto é, a ascite deve ser moderada-grave (3 pontos).
A bilirrubina foi a primeira grande pegadinha da questão. Repare que a unidade de medida citada pelo enunciado é diferente da unidade habitualmente utilizada na prática! Para transformar mg% em mg/dl basta multiplicar o mg% por 10, isto é, este paciente tem na verdade 5 mg/dl de bilirrubina total — soma mais 3 pontos.
Com uma albumina < 3 g/dl, mais 3 pontos são somados, e com a inversão do ciclo sono-vigília, sem comprometimento do status mental neste momento, podemos dizer que a encefalopatia é mínima, somando 2 pontos.
Assim, até agora já contabilizamos 11 pontos, o que quer dizer que o paciente é Child C e, por conseguinte, possui cirrose hepática “descompensada” (≥ B). É claro que na avaliação inicial do cirrótico avançado devemos solicitar EDA para pesquisa de varizes esofagogástricas que, diga-se de passagem, provavelmente estão presentes. Após confirmação da presença de varizes o paciente deverá ser submetido aos protocolos de prevenção primária da hemorragia digestiva.
Só poderíamos ficar em dúvida então entre as opções D
e E. A resposta, evidentemente, não poderia ser a letra E, uma vez que existem dois critérios onde o paciente não contabilizou a pontuação máxima, logo, não há como ele somar 15 pontos no final do Child, já que isso representa pontuação máxima em todos os quesitos. O percentual de atividade residual de protrombina NÃO é usado no Child! Neste escore empregamos o número de segundos em que o TAP está prolongado acima do controle, ou então o valor absoluto do INR.
Por exclusão, ficamos com a letra D.

62
Q

62 – Paciente masculino, 54 anos, deu entrada no pronto-socorro com vômitos com sangue em grande quantidade, iniciados hoje. Familiares referem etilismo importante. No momento, sonolento, descorado, com aumento do volume abdominal discreto. Realizada endoscopia digestiva alta, que evidenciou varizes de esôfago. Exames laboratoriais: hemoglobina: 8,5 g/dl; hematócrito: 26%; plaquetas: 95.000/mm³; leucócitos: 4.500/mm³; TAP: 40%; INR: 2,1; TTPA: 34s (REL:1,1); bilirrubina direta: 1,8 mg/dl. Sobre o caso, é CORRETO afirmar que:
a) A plaquetopenia, nesses casos, é mais relacionada à
hipertensão porta e hiperesplenismo.
b) A transfusão de plasma fresco e plaquetas é a medida
mais efetiva para parar o sangramento nesses casos.
c) A causa mais comum para esse tipo de apresentação
em nosso meio é a esquistossomose.
d) Os exames solicitados são capazes de avaliar também
a redução da produção hepática de fatores anticoagulantes, como a proteína C e a antitrombina.
e) A reposição de vitamina K é o único meio efetivo para
parar o sangramento.

A

Vamos de baixo para cima?
Este paciente sem dúvida alguma é portador de cirrose
hepática complicada por hipertensão portal e ascite,
com indícios de falência hepatocelular (sinais de deficit
sintético, como hipoalbuminemia e alargamento do TAP). A provável etiologia, pela história clínica, é a doença hepática alcoólica. Ora, se há falência hepatocelular, não adianta repor vitamina K (os hepatócitos “doentes” não utilizarão esta vitamina) - (E errada). TAP e PTTa são exames que avaliam, respectivamente, as vias extrínseca e intrínseca da coagulação. Proteína C e antitrombina são fatores anticoagulantes endógenos, que não são diretamente
avaliados por nenhum desses exames (D errada).
A causa mais comum de hemorragia por varizes de
esôfago rotas é a cirrose hepática, mesmo em nosso meio. As etiologias mais frequentes de cirrose são a doença hepática alcoólica e a hepatite C crônica (C errada).
A medida mais efetiva para estancar o sangramento por varizes de esôfago rotas é a terapia endoscópica, de preferência com ligadura elástica dos vasos sangrantes. Outras medidas também costumam ser utilizadas (ex.: transfusão de hemocomponentes conforme necessidade), no entanto, estas são consideradas adjuvantes, e nem sempre necessárias (B errada). Cirróticos com hipertensão porta e varizes de esôfago com certeza possuem também hiperesplenismo.
Nesta condição o baço funciona como uma verdadeira
“esponja” de sangue, sequestrando uma parcela significativa do pool de plaquetas circulantes. Desse modo, é naturalmente esperado um grau moderado de plaquetopenia na hipertensão porta associada à cirrose! Resposta certa: A.

63
Q

63 – Homem, 50 anos, portador de cirrose hepática de
origem alcoólica, diagnosticada há cerca de 01 ano.
Há alguns meses vem referindo dispneia ao sentar-se.
Ao exame observa-se ginecomastia, rarefação de pelos
e eritema palmar. Pulmões aparentemente limpos, sem
sopros cardíacos, fígado nodular subcostal e edema +/4
de MIs. Uma oximetria mostrou redução de 98% para 85%
da posição supina para sentada. Por que razão esta paciente apresenta dispneia?
a) Hipertensão portal.
b) Defeito de septo interventricular.
c) Fístula arteriovenosa pulmonar.
d) Doença tromboembólica crônica.
e) Insuficiência cardíaca congestiva.

A

Platipneia (dispneia ao sentar-se) e ortodeoxia (dessaturação arterial em ortostase) são achados que, em um cirrótico sem outros sinais de doença
cardiorrespiratória, indicam a presença da síndrome hepatopulmonar.
A síndrome hepatopulmonar é uma complicação
observada em cerca de 5% dos cirróticos que têm
hipertensão porta. Sua gênese não é plenamente conhecida, mas acredita-se na participação de fatores vasodilatadores endógenos (como o óxido nítrico) que se acumulam no sangue por conta do deficit de detoxificação hepática.
O que acontece é uma grande vasodilatação dos capilares pulmonares (principalmente nas regiões mais dependentes do parênquima pulmonar) formando as chamadas DVIP (Dilatações Vasculares Intrapulmonares). Em um capilar pulmonar normal (8-15 micrômetros de diâmetro) as hemácias geralmente andam “em fila indiana”, sendo mais expostas ao contato com o oxigênio. Nas DVIP (que podem chegar a 500 micrômetros de diâmetro), muitas hemácias passam ao mesmo tempo pelo vaso alveolar, não recebendo oxigênio (o que tende a se agravar quando o paciente assume a ortostase). O sangue desoxigenado que atravessa os pulmões se mistura ao sangue que foi
devidamente oxigenado. Quando uma grande quantidade de sangue passa pelas DVIP ocorre franca hipoxemia. Tais lesões funcionam como verdadeiras fístulas arteriovenosas intrapulmonares.
Resposta certa: C.

64
Q

64 – Paciente de 57 anos, portador de cirrose hepática
por vírus C, em uso regular de propranolol 60 mg/dia +
espironolactona 150 mg/dia + furosemida 20 mg/dia. Em
endoscopia digestiva alta de rotina, apresentava cinco
cordões varicosos de grosso calibre, submetidos à escleroterapia com ethamolin. Evoluiu subitamente com dor abdominal difusa, sem irritação peritoneal, ascite volumosa, confusão mental e flapping. Exames laboratoriais: Hb = 9.0; leucócitos = 7.000 sem desvio; plaquetas = 97.000; sódio = 132; potássio = 3.7; TGO = 65; TGP = 54; FA = 170; GGT = 135; bilirrubina total = 2.8 mg/dl; INR = 1.8; PCR = 1.5; proteínas totais = 3.0; globulinas = 1.7.
Realizada paracentese diagnóstica e de alívio, com retirada de 3.5 L de líquido amarelo-citrino, enviado material para cultura. Celularidade global = 200 células, específica: PMN = 20%; linfomononucleares = 80%; glicose = 70; alumina = 0,1. Em relação ao caso a assertiva mais CORRETA é:
a) Child-Pugh: 13 pontos (B), Diagnóstico: trombose de veia mesentérica superior, ascite transudativa.
b) Child-Pugh: 13 pontos (C), Diagnóstico: trombose de
veias supra-hepáticas, ascite exsudativa.
c) Child-Pugh: 13 pontos (B), Diagnóstico: trombose de
veia esplênica, ascite exsudativa.
d) Child-Pugh: 13 pontos (C), Diagnóstico: trombose de
veias supra-hepáticas, ascite transudativa.

A

Em primeiro lugar, vale ressaltar que nos dias de hoje NÃO SE UTILIZA a escleroterapia como forma de prevenção primária do sangramento por varizes esofagogástricas associadas à hipertensão porta!
O motivo é que não existem evidências na literatura de
que tal conduta ofereça qualquer vantagem em relação ao tratamento clínico ou à ligadura elástica. Entenda que não estamos dizendo que uma abordagem endoscópica não é benéfica em determinados contextos, não é isso. Estamos afirmando apenas que quando existe indicação de abordagem endoscópica para a prevenção PRIMÁRIA (antes do primeiro sangramento, como é o caso dos pacientes com varizes de grosso ou médio calibre, ou com varizes de pequeno calibre acompanhadas de sinais vermelhos ou Child B ou C), o único procedimento consensualmente aceito é a ligadura elástica das varizes, além é claro, do
tratamento clínico com betabloqueadores.
A escleroterapia endoscópica só tem papel definido no tratamento da hemorragia digestiva aguda! O agente esclerosante ethamolin (oleato de monoetanolamina), inclusive, mesmo no contexto do tratamento da HDA, idealmente deve ser evitado em pacientes com cirrose hepática avançada, em particular no Child C, como é o caso do indivíduo em questão. Vamos calcular o Child aqui?
Relembre o mnemônico “BEATA” (Bilirrubina, Encefalopatia, Ascite, TAP/INR, Albumina).
Bilirrubina < 3 = 3 pontos;
Encefalopatia grau III (confusão mental acentuada) = 3 pontos;
Ascite que vinha controlada com diuréticos = 2 pontos; INR entre 1,7 e 2,3 = 2 pontos;
Albumina < 3 = 3 pontos.
Logo, o Child final do paciente é C13. Ora, isso quer
dizer que já começamos mal este caso, realizando um
procedimento sem indicação e ainda por cima com uma
droga inadequada para o paciente! Pois bem, além
de calcular o Child, a questão queria saber de você o
que provavelmente aconteceu de forma aguda com o
paciente para justificar a piora da ascite, a dor abdominal (sem irritação peritoneal) e a piora da função
hepatocelular (com piora da encefalopatia). O estudo
do líquido ascítico permitiu descartar a possibilidade de
PBE, já que não existem mais de 250 PMN/ml. Perceba
que, na realidade, estamos vendo a descrição clássica
da síndrome de Budd-Chiari, uma forma de agressão
hepática aguda caracterizada pela trombose das veias
supra-hepáticas, o que gera um quadro de hepatomegalia congestiva e ascite volumosa transudativa. Analisando o GASA dessa ascite (Gradiente Soro-Ascite de Albumina) fica claro que se trata de ascite transudativa (o paciente tem 1,3 de albumina plasmática e 0,1 de albumina na ascite, o que dá um GASA de 1,2, ou seja, > 1,1 g/dl).
Logo, resposta certa: D.

65
Q

65 – São medidas eficazes no manejo da ascite no paciente cirrótico, EXCETO:

a) Restrição hídrica.
b) Dieta hipossódica.
c) Combinação de diuréticos de alça com antagonistas da aldosterona.
d) Paracenteses de alívio.
e) TIPS (Transjugular Intrahepatic Portosystemic Shunt ).

A

Apesar de amplamente indicada, o real benefício da restrição hídrica se dá quando os níveis séricos de sódio atingem valores inferiores a 120 mEq/L, ou no caso de sintomas neurológicos atribuídos a hiponatremia. A grande maioria dos pacientes cirróticos e com ascite serão manejados, inicialmente, com RESTRIÇÃO DE SÓDIO (até 2 g de sódio por dia) e combinação de diuréticos. Aos pacientes com ascite refratária, paracenteses de alívio (com ou sem reposição de albumina) e o TIPS consistem em opções terapêuticas com benefícios reconhecidos.
Gabarito letra A.

66
Q

66 – Homem, 55 anos, com cirrose pelo vírus da hepatite B, procura atendimento por apresentar aumento progressivo do volume abdominal. Ao exame, está ictérico; desorientado; desnutrido; PA = 100 x 60 mmHg; FC = 86 bpm; apresenta bulhas normofonéticas e com ritmo regular; ascite volumosa e edema de membros inferiores com cacifo de 4+. Exames laboratoriais: hemoglobina = 9,2 g/dl; potássio = 6 mEq/L; sódio = 129 mEq/L; creatinina = 3 mg/dl; albumina = 2,6 g/dl. Em relação ao líquido de ascite desse paciente, é CORRETO afirmar que:
a) É decorrente da hipotensão sinusoidal e hiponatremia.
b) O diurético a ser prescrito é a espironolactona 200 mg/dia.
c) A dosagem da albumina > 1.1 g/dl é indicativa de peritonite bacteriana espontânea.
d) Uma contagem de polimorfonucleares superior a
250/mm³ indica infecção bacteriana.
e) A presença de edema em membros inferiores decorre
de pericardite aguda pelo vírus B.

A

Analisando cada uma das assertivas:
A e E) INCORRETAS. Tanto a ascite, quanto o edema sistêmico possuem como principal mecanismo
fisiopatológico a hipertensão portal, ou seja, o aumento da pressão intraluminal por aumento da resistência vascular hepática.
B) INCORRETA. Nosso paciente está com um potássio sérico de 6 mEq/L! Em hipótese nenhuma ele pode receber um diurético POUPADOR DE POTÁSSIO,
como a espironolactona.
C) INCORRETA. A dosagem do GRADIENTE ALBUMINA SORO-ASCITE (e não só albumina) é indicativa de EXSUDATO, e não PBE.
D) CORRETA. A contagem de polimorfonucleares superior
a 250/mm³ é o melhor indicador de infecção bacteriana do líquido peritoneal, sendo a análise bioquímica do líquido, a bacterioscopia, a cultura e a hemocultura, outros
métodos complementares.
Gabarito: letra D.

67
Q

67 – Sobre a conduta na hemorragia digestiva alta, assinale a alternativa INCORRETA:
a) Omeprazol 80 mg dose de ataque e 8 mg/h manutenção na HDA não varicosa.
b) Antibiótico profilático na HDA varicosa.
c) Lavagem gástrica com soro gelado e propranolol na
HDA não varicosa.
d) Lesões do tipo Forrest Ia, Ib, IIa, IIb podem receber terapêutica endoscópica.
e) Balão de Sengstaken-Blakemore no sangramento maciço de etiologia varicosa como ponte até EDA de emergência.

A

Para não deixar dúvidas, vamos analisar as opções, item por item:
Opção A: CORRETA. No tratamento clínico do sangramento associado à doença ulcerosa péptica, deve-se iniciar o uso de IBP com uma dose de ataque em bolus associada à infusão contínua por 72 horas (Ex.: omeprazol, bolus de 80 mg seguido de infusão contínua de 8 mg/h).
Opção B: CORRETA. Na hemorragia digestiva alta por hipertensão porta, há facilitação da translocação bacteriana no trato gastrointestinal, estando indicada a antibioticoprofilaxia para Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE). Esta pode ser feita com norfloxacino. Opção C: INCORRETA. Não está indicada nem lavagem com soro gelado nem propranolol no evento agudo. Este último é reservado à profilaxia de novos eventos.
Opção D: CORRETA. O objetivo é instituir o tratamento endoscópico sempre que houver sangramento ativo ou quando, mesmo que interrompido, ainda apresente grande risco de ressangramento. Portanto, esses casos se referem às classes I, IIa e IIb. No caso deste último (IIb), como o coágulo está aderido, o ideal seria remover o coágulo e avaliar a lesão subjacente.
Opção E: CORRETA. Na hemorragia maciça visando controle e estabilidade hemodinâmica para o tratamento endoscópico, podemos nos valer do balão de Sengstaken-Blakemore. Este é sempre uma “ponte” para o tratamento definitivo, não devendo ser utilizado por um período maior que 24h.
Logo, resposta INCORRETA e nosso gabarito: opção C.

68
Q

68 – R.F.S., 54 anos, portador de cirrose hepática por
hepatite C crônica, apresentou nos últimos 2 meses
aumento do volume abdominal e aumento do peso.
Ao exame se apresenta com perda de massa muscular,
anictérico, ascite tensa e edema de membros inferiores
+ em 4. Os exames laboratoriais mostram um sódio de
130 mEq/L; potássio de 3,2 g/dl; creatinina de 1,4 mg/dl;
bilirrubina total de 2,5 g/dl; RNI = 1,4 e albumina de 3,2 g/dl. A ultrassonografia mostra ascite volumosa,
fígado reduzido de tamanho, sem sinais de trombose
portal e sem nódulos identificáveis. Qual seria a conduta
mais apropriada para este paciente?
a) Restrição de sódio.
b) Restrição de sódio e diuréticos.
c) Paracentese diagnóstica.
d) Paracentese de alívio e reposição endovenosa de albumina.
e) TIPS.

A

Diante de um paciente cirrótico que se apresenta com uma ascite volumosa e TENSA, a melhor intervenção consiste em uma paracentese de alívio, pois esta permite uma melhora sintomática rápida e significativa (a paracentese diagnóstica retira apenas um pequeno volume de líquido que é enviado para análise).
Tal conduta, sempre que retirarmos mais dos 5 litros, deve ser acompanhada pela infusão concomitante de albumina, com o objetivo de se evitar algum tipo de impacto sobre a hemodinâmica do paciente. Tanto a restrição de sódio quanto a prescrição de diuréticos são úteis no manejo da ascite, mas agudamente nenhuma dessas medidas proporciona a redução da ascite alcançada com a paracentese de alívio. O TIPS, de acordo com a American Association for the Study of Liver Diseases, costuma ser recomendado apenas para os pacientes que não toleram repetitivas paracenteses de alívio de grande monta.
Alternativa D CORRETA.

69
Q

69 – Qual a principal medida para evitar a ocorrência da
peritonite bacteriana espontânea em um paciente com
ascite, portador de cirrose hepática pelo vírus da hepatite
B, Child-Pugh “C”, que evolui com dois episódios de
hematêmese?
a) Proceder à esclerose ou ligadura das varizes esofágicas.
b) Administrar albumina humana em bolus por via endovenosa.
c) Prescrever antibioticoprofilaxia.
d) Iniciar o uso do entecavir.
e) Iniciar imediatamente o uso do interferon peguilado.

A

Cirróticos avançados, particularmente aqueles já no estágio Child “C”, apresentam uma grande propensão à translocação bacteriana intestinal após episódios de hemorragia digestiva alta. O grande risco de uma translocação bacteriana intestinal e consequente
bacteremia transitória é a infecção de algum órgão
ou tecido à distância, principalmente se este “alvo” apresentar uma diminuição de suas defesas imunológicas. No caso do cirrótico com ascite por hipertensão porta, o principal local com chance de infecção é o próprio líquido ascítico, que nesses doentes, como sabemos, é pobre em proteínas totais e “opsoninas” (isto é, fatores de defesa como complemento e anticorpos). A chance de uma PBE ocorrer pode beirar os 70%, ou seja, é mais
provável que uma PBE se desenvolva nos dias subsequentes à HDA do que o contrário.
Assim, para esses doentes é recomendada a chamada “profilaxia primária aguda”, uma espécie de tratamento preemptivo da PBE (o termo “preemptivo” quer dizer iniciado antes do aparecimento dos sintomas, quando a doença já está instalada). A certeza de que uma PBE vai acontecer é a grande motivação para o tratamento preemptivo. O esquema utilizado consiste em norfloxacino 400 mg 12/12h por 7 dias.
Repare que nenhuma outra opção poderia ser marcada:
a letra A evita o ressangramento, a letra B evita a síndrome hepatorrenal, a letra D controla a infecção pelo vírus B no cirrótico, e a letra E está contraindicada no cirrótico descompensado.
Logo, resposta certa: C.

70
Q

70 – Paciente 48 anos, masculino, portador de hepatopatia crônica de etiologia mista (etanol e esquistossomose), evoluindo com hemorragia digestiva alta importante. Chega ao serviço hipotenso (PA = 60 x 30 mmHg), taquicárdico.
Exames de admissão: hemoglobina 5,1 g/dl; hematócrito 16,8%; plaquetas 23,000/mm³; TTPa (ratio 1,8). As afirmativas abaixo se referem à conduta mais adequada nestes casos, concomitante ao suporte básico de vida.
I – Uso de cristaloides, concentrado de hemácias;
II – Uso de cristaloides, concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas, plasma fresco;
III – Uso de coloides 500 ml EV até a estabilização do
quadro clínico, concentrado de hemácias, plasma fresco.
a) Apenas afirmativa I está correta.
b) Apenas afirmativa II está correta.
c) Apenas afirmativa III está correta.
d) Apenas afirmativas I e III estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão erradas.

A
Este paciente encontra-se francamente hipovolêmico por conta da hemorragia digestiva alta. Logo, é mandatório repor sua volemia, e a estratégia de escolha, em casos como esse, é uma combinação de solução cristaloide (ex.: soro fisiológico) e concentrado de hemácias (este último sem dúvida nenhuma é necessário, haja vista a grave anemia presente). Como o paciente está sangrando, temos que avaliar a presença de discrasia sanguínea (perda da reserva hemostática endógena). Nosso amigo aqui tem hemorragia grave na vigência de < 50.000 plaquetas (indicação clássica para a transfusão de plaquetas) e PTTa alargado (razão paciente/controle > 1,5, situação que também demanda a transfusão de plasma). 
Resposta certa (por citar a opção terapêutica mais completa): B.
71
Q

71 – Paciente do sexo masculino, 55 anos, dá entrada
no pronto atendimento por hematêmese severa e choque
hipovolêmico. Encontra-se ictérico +/4, emagrecido,
pálido, taquicárdico, taquipneico, com nível de consciência rebaixado e hipotenso. Seu abdome é ascítico indolor à palpação. Esplenomegalia presente. Edema de membros inferiores ++/4. Refere uso abusivo crônico de álcool. Não sabe informar história de hepatite prévia. Qual das opções de tratamento abaixo representa a de maior índice de letalidade para o caso acima?
a) Octreotida endovenoso.
b) Balão de Sengstaken-Blakemore.
c) Tratamento endoscópico.
d) TIPS.
e) Controle cirúrgico do sangramento.

A

Frente a um provável caso de cirrose alcoólica, complicada com hemorragia digestiva alta e choque hipovolêmico, sabemos que a MEDIDA INICIAL será sempre a estabilização clínica, com 2 acessos venosos periféricos para RESSUSCITAÇÃO VOLÊMICA com cristaloides em etapa rápida, e provável necessidade de transfusão sanguínea (concentrado de hemácias). O controle do sangramento ficaria para um segundo momento, sendo preferidas as seguintes técnicas em ordem de preferência:
1) Endoscopia: identificar o sítio e controlá-lo com escleroterapia ou ligadura elástica. Sempre a primeira escolha;
2) Medicamentoso: terapia com vasoconstritores esplâncnicos (octreotida, somatostatina e terlipressina); 3) Balão de Sengstaken-Blakemore: indicados somente em pacientes com sangramento vultuoso e incontrolável com endoscopia, ou em locais onde a mesma não está disponível;
4) TIPS: colocação de uma ligação direta entre a veia hepática e a veia porta com um stent. Utilizado nos casos refratários aos métodos anteriores;
5) Cirurgia: quando nada mais funciona! Como esses pacientes estão frequentemente descompensados, o tratamento cirúrgico deve ser evitado sempre que possível. A taxa de mortalidade chega a alcançar cerca de 25%.
Gabarito: letra E.

72
Q

72 – Um homem com 36 anos de idade é admitido na
Emergência apresentando vômitos com sangue vivo em
grande quantidade e informando ter apresentado três episódios semelhantes nas últimas duas horas. Ao exame, encontra-se em mau estado geral; com palidez cutâneo-mucosa; taquicárdico; pressão arterial = 80 x 50 mmHg; fígado não palpável; baço palpável a 3 cm do rebordo costal esquerdo. Tem antecedentes de etilismo, ingerindo um litro de bebida destilada por dia, nos últimos oito anos.
A causa da hemorragia digestiva e o manejo inicial correto desse paciente são:
a) Gastrite erosiva, devendo-se primeiramente realizar a
endoscopia digestiva para caracterizar e interromper os
pontos de sangramento.
b) Esofagite, sendo fundamental a reposição volêmica
imediata com sangue total e plasma fresco, com vistas a
manter a hemoglobina acima de 11 g/dl.
c) Hipertensão portal, recomendando-se a reposição volêmica, inicialmente com cristaloides e endoscopia digestiva alta entre 2 e 24 horas do atendimento.
d) Síndrome de Mallory-Weiss, devendo-se fazer a reposição volêmica imediata com coloide, sendo a endoscopia digestiva alta contraindicada nessa fase.

A

Em vista do relato de etilismo pesado, bem como do encontro de esplenomegalia ao exame físico, é razoável supor que a causa desta hemorragia digestiva alta seja a rotura de varizes esofagogástricas ocasionadas por hipertensão portal decorrentes de cirrose hepática. Como o paciente encontra-se chocado (hipotensão arterial, taquicardia e sinais de má perfusão, como mau estado geral e palidez cutâneo-mucosa), é preciso, antes de mais nada, resgatar sua volemia com cristaloide intravenoso. Após estabilização volêmica, está indicado submeter o paciente a uma endoscopia digestiva alta (de preferência nas primeiras 12h de sua chegada), exame que não só confirmará o diagnóstico das varizes como também
permitirá — caso esteja indicada — a aplicação de tratamento local (ex.: ligadura elástica dos vasos sangrantes ou com alto risco de sangramento).
Resposta certa: C.

73
Q

73 – Podem ser considerados, se encontrados ao exame
físico, como sinais de insuficiência hepática, todas as alternativas, EXCETO:
a) Circulação colateral do tipo cabeça de medusa.
b) Spiders.
c) Icterícia.
d) Eritema palmar.
e) Asterix.

A

Por razões pouco conhecidas, a insuficiência hepática modifica a homeostase dos hormônios sexuais. Dentre essas alterações, temos o hiperestrogenismo,
responsável pelas telangiectasias do tipo aranha vascular — ou spiders — e pelo eritema palmar (letras B e D corretas).
A icterícia por hiperbilirrubinemia direta é característica da insuficiência hepática porque, nesta situação, ocorre conjugação da bilirrubina, mas a etapa excretora encontra-se prejudicada. Deste modo, a bilirrubina fica aprisionada no hepatócito, num primeiro momento e, em seguida, reflui para os vasos sanguíneos, determinando icterícia (letra C correta).
Em determinadas encefalopatias metabólicas, como é o caso da encefalopatia hepática, verificamos o flapping ou asterixis, caracterizado por movimentos ritmados da mão do doente quando o solicitamos que estenda o braço para frente e realize dorsoflexão das mãos (letra E correta).
Já a circulação colateral do tipo caput medusae, ou cabeça de medusa, é uma condição característica da HIPERTENSÃO PORTAL.
Resposta a ser marcada: letra A.

74
Q
74 – Qual das alternativas a seguir é contraindicação absoluta à passagem do TIPS (Transjugular Intrahepatic
Portosystemic Shunt)?
a) Encefalopatia hepática.
b) Ascite intratável.
c) Insuficiência cardíaca direta grave.
d) Cirrose Child C.
A

Em uma insuficiência cardíaca grave a pressão venosa sistêmica está, por definição, elevada, devido a um grande aumento na pressão de enchimento do VD. Se o TIPS for instalado em um paciente desses, o aumento de pressão na veia cava se refletirá sobre as veias hepáticas, repercutindo, por conseguinte, sobre o lúmen do TIPS, o que prejudica seu funcionamento na medida em que a lógica por trás de sua utilização está no fato de que a pressão nas veias hepáticas é menor do que a pressão na veia porta (em portadores de hipertensão portal), havendo um gradiente pressórico que favorece a movimentação do sangue da veia porta para a circulação sistêmica, “by-passando” o fígado cirrótico e desse modo aliviando a hipertensão portal. Logo, não se deve instalar o TIPS na vigência de IC grave (seja ela direita ou esquerda). A ascite clinicamente intratável é uma das indicações mais clássicas para a colocação do TIPS, ao passo que a encefalopatia hepática é uma contraindicação relativa. Na realidade, encefalopatia hepática complica cerca de 30-35% dos pacientes que recebem um TIPS, e na grande maioria das vezes ela é facilmente controlável com o tratamento clínico, logo, não há proibição absoluta à colocação do TIPS por este motivo. A existência de cirrose avançada, por si só, também não contraindica o procedimento.
Resposta certa: C.

75
Q

75 – Na abordagem do paciente com ascite é importante a determinação do cálculo do Gradiente Soro-Ascite (GASA) da albumina para a determinação da etiologia. O GASA > 1,1 mg/dl está relacionado com o (a):

a) Cirrose.
b) Linfoma.
c) Peritonite tuberculosa.
d) Ascite pancreática.
e) Síndrome nefrótica.

A

O GASA é um grande divisor de águas na investigação inicial dos quadros de ascite. Sabemos que um GASA > 1,1 g/dl (e não “mg/dl”) significa que a ascite é na realidade um transudato, sendo a causa mais frequente
a hipertensão portal associada à cirrose hepática. Por outro lado, um GASA < 1,1 g/dl indica que a ascite é um exsudato, sendo causas comuns as infecções peritoneais (ex.: tuberculose) e a carcinomatose peritoneal.
Resposta certa: A.

76
Q

76 – O paciente cirrótico apresenta várias complicações
possíveis ao longo de sua evolução, entre elas podemos
destacar as anormalidades no processo hemostático.
Entre os mecanismos fisiopatológicos que podem contribuir, direta ou indiretamente, para a discrasia sanguínea do cirrótico, aumentando o risco de hemorragias, podemos destacar, EXCETO:
a) Deficiência na produção de proteína C e S.
b) Esplenomegalia.
c) Deficiência na produção dos fatores II, VII, IX e X.
d) Colestase.
e) Disfunção plaquetária qualitativa.

A

Questão malfeita.
O fígado sintetiza TODOS os fatores da coagulação. Alguns fatores, como o VIII, também podem ser produzidos em outros locais (ex.: rins e plaquetas). Logo, diante de uma hepatopatia grave acompanhada por disfunção hepatocelular (deficit sintético), surge uma deficiência de TODOS os fatores da coagulação, em maior ou menor grau! Isso inclui ainda alguns fatores anticoagulantes, como a antitrombina e as proteínas C e S, que também têm origem no hepatócito. A deficiência desses últimos contribui para a maior propensão à Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD) que pode aparecer com certa facilidade no portador de falência hepatocelular. O gabarito da banca foi a letra A. Perceba que não poderíamos justificar esse gabarito dizendo que o enunciado fala em “risco aumentado de HEMORRAGIA”. Apesar de na CIVD ocorrerem microtromboses disseminadas pelos capilares
de múltiplos órgãos e tecidos, a coagulopatia de consumo que sobrevém (com depleção de fatores da coagulação e plaquetas, além de aumento nos produtos de degradação da fibrina) aumenta a propensão às hemorragias. As demais alternativas também propõem justificativas para um maior risco hemorrágico associado às hepatopatias graves: a pancitopenia da esplenomegalia diminui a viscosidade sanguínea, facilitando o sangramento (principalmente pela combinação de anemia + plaquetopenia). Além do mais, se há esplenomegalia, há sem dúvida hipertensão
porta, o que provoca varizes esofagogástricas e risco aumentado de hemorragia digestiva. Os fatores II,
VII, IX e X representam o “complexo protrombínico”, um
conjunto de fatores da coagulação que necessita de modificações pós-sintéticas para funcionar. Lembre-se de que essas modificações dependem da presença da vitamina K, e que por isso eles também são chamados de “fatores vitamina K dependentes”. Tais fatores são sintetizados no fígado, e têm seus níveis reduzidos de forma precoce na insuficiência hepática (o que pode ser verificado por meio do alargamento do TAP/INR). A colestase leva à má absorção de vitaminas lipossolúveis: o grupo “ADEK” - o que inclui a vitamina K. Logo, a colestase pode desencadear alargamento do TAP/INR e hemorragia. Algumas evidências sugerem que na hepatopatia grave ocorre um distúrbio não só quantitativo, mas também qualitativo das plaquetas. Já foi sugerido que os níveis de GP Ib se reduzem na cirrose hepática avançada, e que existe também um defeito na síntese de tromboxano A2 (gerando um fenótipo semelhante ao da intoxicação por aspirina),
o que poderia contribuir para uma maior tendência ao
sangramento! Tais efeitos de disfunção plaquetária
parecem mais acentuados quando as plaquetas são
coletadas diretamente a partir do sangue venoso portal.
É possível que fatores localmente produzidos na circulação porta acometida por hipertensão (como a prostaciclina) justifiquem seu surgimento. Se tudo isso contribui para a ocorrência de hemorragia digestiva alta associada às varizes esofagogástricas, ainda não está claro na literatura. No entanto, podemos afirmar que certamente ocorre algum grau de DISFUNÇÃO PLAQUETÁRIA na vigência de falência hepática. Sendo assim, questão sem resposta certa, que, ao nosso ver, merecia ter sido anulada.

77
Q
77 – Dentre as condições patológicas abaixo, qual a que
provoca hipertensão porta de natureza pré-sinusoidal de
localização intra-hepática:
a) Cirrose alcoólica.
b) Cirrose biliar.
c) Síndrome Budd-Chiari.
d) Fibrose esquistossomótica.
e) Obstrução portal por trombofilia.
A

A cirrose hepática, seja qual for sua etiologia, provoca hipertensão porta intra-hepática e intrassinusoidal (A e B erradas).
A síndrome de Budd-Chiari (trombose das veias supra-hepáticas) gera hipertensão porta pós-hepática (C errada).
Já a trombose de porta, que pode acometer, por exemplo, portadores de trombofilias, é uma causa de hipertensão porta pré-hepática. Enfim, na esquistossomose hepatoesplênica os ovos do S. mansoni chegam até as vênulas dos espaços porta, onde se impactam e provocam uma reação granulomatosa que evolui com fibrose.
E é justamente esta fibrose que
— ao obliterar os pequenos ramos da veia porta nos espaços porta pré-sinusoidais
— origina um quadro de hipertensão porta INTRA-HEPÁTICA (pois a lesão está nos espaços porta) e
PRÉ-SINUSOIDAL.
Resposta certa: D.

78
Q

78 – Homem de 48 anos com quadro de cirrose hepática
alcoólica Child-Pugh C, há 2 dias com dor abdominal e
febre. Apresenta ascite grave e sinais de encefalopatia
grau 2. Faz uso ambulatorial de furosemida 80 mg/dia,
espironolactona 200 mg/dia e propranolol 80 mg/dia. Laboratorialmente com leucócitos de 5.200/mm³; plaquetas: 58.000/mm³; albumina sérica: 2,2 g/dl; bilirrubina total: 3,7 mg/dl; RNI: 2,6. Marque a opção de conduta a ser tomada neste caso:
a) Proceder paracentese na admissão.
b) Prescrever ceftriaxona e realizar paracentese quando
RNI estiver menor que 1,2.
c) Administrar plasma fresco congelado e programar paracentese logo após.
d) Prescrever ceftriaxona empírico e realizar paracentese
ao fim do tratamento.
e) Solicitar transfusão de plaquetas e administrar vitamina
K e fazer paracentese.

A

Toda cirrose hepática com ascite que evolui com piora súbita do estado geral ou das manifestações clínicas de base (ex.: encefalopatia) deve ser rastreada para a possibilidade de PBE (Peritonite Bacteriana Espontânea). Lembre-se de que a PBE pode ser oligo ou mesmo assintomática, e diante da presença de sintomas, ela pode ser a causa dos mesmos ou coexistir com outras complicações agudas graves que os justifiquem.
Moral da história: cirrótico com ascite internou por qualquer motivo agudo, faça sempre uma paracentese diagnóstica para excluir a coexistência de PBE. Por incrível que pareça, esta é uma regra muito pouco
respeitada na prática. No caso em tela, temos ainda por cima sinais e sintomas de localização: dor abdominal
difusa e febre, uma combinação muito sugestiva de provável infecção intra-abdominal. Se houver mais de 250 polimorfonucleares por ml de líquido ascítico o
diagnóstico de PBE estará CONFIRMADO, independentemente de qualquer outro resultado. O tratamento antimicrobiano empírico com cobertura contra enterobactérias Gram-negativas deve ser iniciado antes do resultado das culturas, sendo as drogas de primeira escolha as cefalosporinas de terceira geração (ex.: cefotaxima, ceftriaxona).
Resposta certa: A.

79
Q

79 – Paciente de 45 anos, masculino, é trazido ao hospital, pois foi encontrado desacordado. Familiares relatam que o paciente é portador de cirrose hepática de origem alcoólica em uso de furosemida e aldactone. Nega febre, nega tosse, nega alteração urinária. Antecedentes pessoais: tabagismo 40 anos x maço; etilista de 1 garrafa de destilado por dia; hipertensão arterial controlada com dieta; cirrose hepática. Ao exame: regular estado geral; ictérico 2+/4+; acianótico; afebril; hidratado; agitação psicomotora; sudorese; apresenta flapping. PA: 110 x 70 mmHg; FC: 112 bpm; glicemia: 132 mg/dl; satO2: 94% ar ambiente. Abdome: ascítico; globoso; ruídos hidroaéreos presentes; indolor; descompressão brusca negativa. Extremidades: edema membros inferiores 2+/4+, pulsos simétricos. Toque retal sem sinais de sangramento. Com base na história e exame físico acima, quais são as três novas hipóteses diagnósticas para o caso?
a) Encefalopatia hepática, demência e hepatite alcoólica
aguda.
b) Uremia, hepatite alcoólica aguda e Acidente Vascular
Encefálico (AVE).
c) Uremia, demência e choque séptico.
d) Encefalopatia hepática, uremia e Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE).

A

O rebaixamento de sensório e a confusão mental, em um portador de cirrose hepática, sempre aventam como hipótese diagnóstica a possibilidade de encefalopatia hepática. A EH geralmente está sendo causada por algum fator agudo, como a peritonite bacteriana espontânea. Insuficiência renal também é uma possibilidade que deve ser lembrada, ainda mais em se tratando de paciente com ascite: uma importante causa de IRA nesses doentes é a síndrome hepatorrenal, que também pode estar relacionada à PBE (e também poderia justificar o flapping no exame clínico).
Resposta certa: D.

80
Q

80 – Sobre a Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE), é CORRETO afirmar que:
a) Quanto à etiologia da PBE, é comum a presença de
flora polimicrobiana. Os agentes mais frequentemente isolados são Staphylococcus aureus, bactérias anaeróbias
e fungos.
b) A ascite neutrocítica caracteriza-se por contagem de
polimorfonucleares acima de 250/mm³ e cultura negativa
do líquido ascítico (pela baixa contagem de bactérias).
A conduta neste caso é repetir a paracentese conforme a
evolução do paciente.
c) Bacteriascite não neutrocítica monobacteriana caracteriza-se por contagem de polimorfonucleares abaixo de 250/mm³ e cultura positiva para um único agente. Deve ser prontamente tratada com antibioticoterapia e albumina.
d) Na PBE, a análise do líquido ascítico revela contagem
de polimorfonucleares acima de 250/mm³, glicose abaixo
de 50 mg/dl, concentração de proteínas maior que 1 g/dl
e DHL acima do limite superior de normalidade do sérico.
e) Em relação aos fatores predisponentes da PBE citam-se: doença hepática avançada, proteínas totais no líquido ascítico menor que 1 g/dl, sangramento gastrointestinal, infecção urinária, procedimentos invasivos e episódio prévio de PBE.

A

Diferentemente da PBS (Peritonite Secundária, por definição uma infecção polimicrobiana), a PBE em geral é monomicrobiana, sendo a E.coli, no paciente cirrótico, o principal agente etiológico. Quando se observa a presença de > 250 PMN/ml de líquido ascítico, o diagnóstico de PBE, em um cirrótico, já está dado. A conduta após a documentação de PBE é o imediato início de antibioticoterapia sistêmica com cobertura empírica contra os germes mais provavelmente
envolvidos, no caso, enterobactérias Gram-negativas.
A conduta perante bacterascite monobacteriana (isto
é, cultura do líquido ascítico positiva, sem a presença
do critério neutrofílico de PBE, que é uma contagem
de PMN > 250/ml) depende da presença ou não de
sintomas: pacientes assintomáticos são apenas observados, ao passo que aqueles que apresentam sintomas são tratados como se possuíssem PBE. Parâmetros bioquímicos bastante alterados no líquido ascítico, como glicose < 50 mg/dl, proteínas > 1 g/dl e LDH > LSN apontam para um diagnóstico de PBS, e não PBE. Enfim, o principal fator de risco para PBE é a presença de cirrose hepática, uma condição onde os níveis de proteína total e opsoninas no líquido ascítico tendem a estar muito baixos (< 1 g/dl), deixando o líquido desprotegido e mais propenso à infecção. Fatores de risco adicionais são: a hemorragia digestiva alta nesses doentes, que aumenta muito a chance de translocação bacteriana intestinal, bacteremia transitória e infecção da ascite “desprotegida”, bem como outras condições altamente associadas à bacteremia transitória, como infecções do trato urinário (principal foco das bacteremias em doentes hospitalizados), procedimentos invasivos (que semeiam os germes diretamente na corrente circulatória) e história prévia de PBE.
Resposta certa: E.

81
Q

81 – Em relação à cirrose hepática e suas complicações,
assinale a alternativa ERRADA:
a) Hemocromatose, doença de Wilson, deficiência de
alfa-1-antitripsina e hepatites autoimunes são causas de
cirrose hepática.
b) O uso de TIPS-SPIT (Shunt Portossistêmico Intra-
-hepático Transjugular) é indicado no tratamento da ascite refratária com o intuito de prolongar a sobrevida desses pacientes.
c) Anticorpos antimitocondriais estão presentes em cerca de 90% dos pacientes com cirrose biliar primária.
d) A pioglitazona (inibidores de PPAR gama) e a vitamina
E (antioxidante) são usados no tratamento da Doença
Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA).
e) Osteoporose, anemia hemolítica, hipertensão portopulmonar e trombocitopenia são complicações da cirrose hepática.

A

O TIPS pode ser indicado nos portadores de ascite refratária, mas apenas como medida “contemporizadora”, isto é, como “ponte” até a realização de um tratamento definitivo, como o transplante ortotópico de fígado. Apesar de permitir um melhor controle da ascite em curto prazo, ao promover alívio importante da pressão no sistema porta, o TIPS não se associa a um aumento da sobrevida em longo prazo, em todos os pacientes. As demais opções estão CORRETAS.
Resposta certa: B.

82
Q

82 – De acordo com a Associação Americana de Estudo
do Fígado (AASLD), é INCORRETO afirmar, em relação
à cirrose hepática e suas complicações, que:
a) O uso de diurético e as infecções são fatores precipitantes da encefalopatia hepática.
b) A peritonite bacteriana espontânea em 60% dos episódios tem como agente etiológico bactérias Gram-negativas entéricas.
c) O tratamento de escolha no cirrótico com ascite é restrição de sódio e diuréticos.
d) A utilização de antibioticoprofilaxia depende da gravidade de hemorragia digestiva no cirrótico com ascite.
e) A infusão de albumina pode não ser necessária para
as paracenteses únicas de menos de 4 litros.

A

Todas são conceituais e corretas, EXCETO a letra D: todo cirrótico com ascite que desenvolve hemorragia digestiva alta, independentemente da gravidade dessa hemorragia, possui indicação de antibioticoprofilaxia contra infecções sistêmicas (principalmente PBE). O motivo é que após uma HDA, em um cirrótico, existe uma grande chance de translocação bacteriana intestinal. Na vigência de ascite (que, como sabemos, na cirrose hepática é pobre em proteínas totais e opsoninas, representando, portanto, um compartimento
facilmente infectável após uma bacteremia), a chance de PBE nesses doentes é muito grande, já tendo sido demonstrado na literatura benefício sobre a
morbimortalidade com o uso de ATB! A droga de escolha é a norfloxacino 400 mg 12/12h por 5-7 dias. Resposta certa: D.

83
Q

83 – Paciente do sexo masculino, 50 anos, etilista (2 garrafas de pinga por dia há 20 anos), ex-usuário de heroína, refere há 6 meses aumento de volume abdominal, edema de membros inferiores e queda do estado geral. Evoluiu há 4 dias com confusão mental, constipação intestinal, febre e dor em região abdominal difusa. Ao exame: estado geral ruim; sonolento; fala lentificada; responsivo a comandos; taquipneico; ictérico (2+/4). Ausculta cardiopulmonar: ritmo cardíaco regular em 2 tempos, sem sopros; murmúrio vesicular presente, diminuído em bases. Abdome globoso, com ascite volumosa; dor à palpação abdominal difusa; ruídos hidroaéreos diminuídos; presença de circulação colateral em parede abdominal. Aranhas vasculares
e eritema palmar. Pressão arterial = 100 x 60 mmHg;
frequência respiratória: 28 irpm; frequência cardíaca =
105 bpm. Realizados exames laboratoriais que mostraram: hemoglobina: 9 (ref. 12-15,5); hematócrito:
27 (ref. 35-45); leucócitos: 11.500 (ref. 3.500-10.000); plaquetas: 85.000 (ref. 150.000-450.000); RNI: 2,0; albumina: 2,0 g/dl (ref. 3,5-4,8); bilirrubina total: 2,7; direta: 2,2; indireta: 0,5 (ref. bilirrubina total: 0,2-1,2; indireta até 0,9; direta até 0,3). Realizado paracentese de alívio: 300 polimorfonucleares/mm³, líquido turvo, albumina: 0,8. Sobre o caso acima, assinale a alternativa INCORRETA:
a) O paciente tem cirrose hepática Child B com uma sobrevida em 1 ano de 95%.
b) Peritonite bacteriana espontânea é uma hipótese diagnóstica. Deve-se colher cultura de líquido ascítico e iniciar tratamento com cefalosporina de 3ª geração.
c) O paciente apresenta um quadro de encefalopatia hepática. Deve-se investigar e tratar os fatores precipitantes e associar lactulose.
d) Recomenda-se profilaxia secundária para peritonite
bacteriana espontânea.
e) O paciente apresenta um gradiente soro-ascite
≥ 1,1 g/dl sugerindo cirrose hepática como causa da ascite.

A

O GASA deste paciente é 1,2 g/dl, logo, trata-se de ascite transudativa, o que é compatível com o diagnóstico de cirrose hepática, onde a ascite é secundária à hipertensão porta (E correta).
No momento, em associação ao quadro clínico, há
> 250 PMN/ml no líquido ascítico, isto é, há um diagnóstico de peritonite bacteriana espontânea. Temos que complementar a investigação com coleta de culturas
(líquido ascítico e sangue) iniciando imediatamente o
tratamento empírico desta infecção, que é feito com
cefalosporina de terceira geração (B correta).
Todo cirrótico que já teve PBE possui indicação de profilaxia “secundária” (D correta).
A redução do sensório neste cirrótico com ascite e hipertensão portal, num contexto de PBE, certamente representa um componente de encefalopatia hepática que foi desencadeado pela infecção (C correta).
O Child B representa uma cirrose hepática já em fase descompensada. Sabemos que a sobrevida em 1 ano desses pacientes gira em torno de 80% (A incorreta). Resposta certa: A.

84
Q

84 – Quais são os critérios de Child-Turcotte modificados
por Pugh para definir o prognóstico na cirrose hepática?
a) TAP, albumina, bilirrubinas, ascite e encefalopatia.
b) AST, ALT, GGT, TAP e fosfatase alcalina.
c) Ascite, síndrome hepatorrenal, GGT, TAP e bilirrubinas.
d) Encefalopatia, TAP, albumina, bilirrubinas e ALT.

A

A classificação de Child-Pugh é utilizada no estadiamento da doença hepática crônica, sendo
fundamental para determinar o prognóstico do paciente, além de ser utilizado para a decisão de algumas medidas terapêuticas, como o transplante hepático e a colocação de TIPS. Para memorizar suas variáveis, basta lembrar-se de “BEATA” - Bilirrubina, Encefalopatia, Ascite, TAP, Albumina.
Resposta: A.

85
Q

85 – Homem de 40 anos, com hepatite alcoólica, no sexto
dia de internação, inicia quadro de confusão mental, alucinações e oscilação do nível de consciência, variando
entre períodos de agitação e sonolência. Exame físico:
sinais vitais normais; ictérico; emagrecido; escala de coma
de Glasgow 9 com flapping; baço aumentado; fígado
endurecido e ausência de ascite. Exames laboratoriais:
bilirrubinas totais e tempo de protrombina aumentados;
plaquetopenia e hipoalbuminemia. Eletrólitos, função renal e amônia sérica normais. Quanto ao diagnóstico e tratamento, assinale a alternativa CORRETA:
a) Delirium tremens por abstinência alcoólica; benzodiazepínicos.
b) Amônia sérica normal descarta encefalopatia hepática;
benzodiazepínico.
c) Encefalopatia hepática; lactulose e antibiótico.
d) Encefalopatia hepática; restrição proteica e hidratação.
e) Síndrome hepatorrenal incipiente; hemodiálise.

A

A grande dúvida aqui seria entre Delirium Tremens (a forma clássica de encefalopatia que acompanha a abstinência alcoólica) e encefalopatia hepática (a forma clássica de encefalopatia que acompanha a falência hepática). Por que o diagnóstico NÃO PODE SER Delirium Tremens (DT)? Ora, por um simples motivo: cadê as manifestações adrenérgicas intensas?
O DT é caracterizado por desorientação e alucinações
que surgem num paciente alcoólatra após 2-5 dias de
abstinência, porém, obrigatoriamente existe uma importante síndrome hiperadrenérgica, com taquicardia, taquipneia, hipertensão arterial, hipertermia, aumento do índice cardíaco e do consumo metabólico geral de oxigênio. É comum o surgimento de alcalose metabólica significativa, e o aumento do pH plasmático reduz o fluxo sanguíneo cerebral, com risco de crises convulsivas. Também são frequentes múltiplos distúrbios eletrolíticos, como hipocalemia,
hipomagnesemia e hipofosfatemia, o que aumenta o risco de taquiarritmias ventriculares malignas e rabdomiólise (esta última principalmente pela hipofosfatemia grave). A incidência de DT é de aproximadamente 5% dos alcoólatras que param subitamente de beber (ex.: por conta de uma internação hospitalar por qualquer motivo), e a mortalidade média também gira em torno de 5% nos dias de hoje (no passado a mortalidade ultrapassava 30%). O tratamento é feito com medidas de suporte, tais quais oxigenoterapia, hidratação parenteral e correção dos distúrbios eletrolíticos, lançando mão de drogas como os benzodiazepínicos (preferência pela via IV), conforme a necessidade individual de cada paciente. Casos graves e refratários podem requerer sedação com drogas mais potentes, como o propofol ou mesmo os barbitúricos e, obviamente, nestes casos será necessário instituir ventilação mecânica invasiva. Assim, o grande divisor de águas aqui foi a ausência de franca crise hiperadrenérgica, o que permitiu afastar DT e abriu caminho para um diagnóstico seguro de encefalopatia hepática. Repare ainda como o paciente possui diversos estigmas de cirrose, isto é, de falência hepática crônica: icterícia, fígado palpável e “duro”, esplenomegalia, alargamento de TAP e queda da albumina, com plaquetopenia associada (isto é, há indícios tanto de falência hepatocelular quanto de hipertensão porta). O flapping, conquanto seja um sinal clínico relativamente inespecífico de encefalopatia difusa (metabólica), em tal contexto se reveste de grande valor preditivo positivo para um diagnóstico de Encefalopatia Hepática (EH). Além da correção de causas básicas associadas, o tratamento da EH é feito com lactulose (30-120 ml/dia, dividido em 2-4 tomadas, visando manter 2-3 evacuações pastosas diárias) e antimicrobianos orais para reduzir a densidade populacional da microbiota colônica, como a neomicina 2-8 g/dia de 6/6h.
Resposta certa: C.

86
Q

86 – Homem, 56 anos, com diagnóstico de cirrose hepática, chega ao pronto-socorro com hemorragia digestiva alta. Exame físico: regular estado geral; descorado 1+/4+; ictérico 1+/4+; FC = 78 bpm; PA = 112 x 76 mmHg; FR = 28 irpm e ascite. A CONDUTA É:

a) Passagem de balão de Sengstaken-Blakemore.
b) Observação clínica.
c) Realização de ultrassonografia abdominal.
d) Realização de endoscopia digestiva alta.

A

Diante de um paciente que se apresenta com hemorragia digestiva alta, sem dúvida devemos realizar uma Endoscopia Digestiva Alta (EDA) o quanto antes. O objetivo da EDA é confirmar o diagnóstico (que no caso deve ser de rotura de varizes de esôfago), avaliar a coexistência ou não de outras fontes de sangramento, e prover tratamento local endoscópico (ex.: ligadura elástica das varizes). No entanto, a conduta prioritária, que SEMPRE deve ser tomada ANTES da realização
da endoscopia, é a estabilização hemodinâmica do
paciente! Ora, se o paciente já está hemodinamicamente
estável, de forma espontânea (PA sistólica > 90 mmHg, FC< 100 bpm), a etapa inicial da estabilização não é necessária, e podemos partir direto para a EDA. A hemorragia, felizmente neste caso, não deve ter sido de grande monta, daí o doente ter permanecido estável. Resposta certa: D.

87
Q

87 – Em um paciente portador de cirrose hepática e disfunção renal, o dado, dentre os a seguir, que EXCLUI o diagnóstico de síndrome hepatorrenal é:

a) Proteinúria de 1,5 g/24h.
b) Sódio urinário de 10 mEq/L.
c) Densidade urinária de 1.020.
d) Creatinina sérica de 2,5 mg/dl.

A

Vamos recordar.
Os critérios atualmente utilizados para o diagnóstico de síndrome hepatorrenal são:
–Doença hepática aguda ou crônica com insuficiência
hepática avançada e hipertensão porta;
–Creatinina acima de 1,5 mg/dl que progride em dias ou semanas;
–Ausência de outras causas aparentes de insuficiência
renal (choque circulatório, drogas nefrotóxicas e evidência ultrassonográfica de obstrução do trato urinário);
–Menos de 50 hemácias por ml e proteinúria < 500 mg/24h;
–Ausência de melhora da função renal com expansão
volêmica utilizando albumina venosa (1 g/kg/dia) por
no mínimo 2 dias, após suspensão de diuréticos.
Logo, a presença de uma proteinúria de 1,5 g/24h levanta a suspeita de outras patologias renais que não a síndrome hepatorrenal.
Resposta: letra A.

88
Q

88 – O uso de albumina humana, como parte do tratamento da peritonite bacteriana espontânea em pacientes portadores de cirrose hepática, tem como principal objetivo evitar a seguinte complicação:

a) Ascite refratária.
b) Síndrome hepatorrenal.
c) Encefalopatia hepática.
d) Translocação bacteriana.

A

Um clássico estudo demonstrou que a infusão de albumina humana na dose de 1,5 g/kg de peso no primeiro dia, seguido de 1 g/kg de peso no terceiro dia de tratamento de uma PBE (Peritonite Bacteriana
Espontânea) reduz de forma significativa a chance de surgimento da síndrome hepatorrenal e, consequentemente, melhora o prognóstico quanto à morbimortalidade do evento agudo.
Resposta certa: B.

89
Q

89 – Uma paciente de 66 anos, portadora de cirrose hepática, com ascite volumosa e peso de 62 kg procurou auxílio médico. Foram iniciadas furosemida 40 mg/dl e espironolactona 100 mg/dl, e solicitados exames para o mês seguinte. Estes revelaram Na+ = 132 mEq/L; K+ = 4,9 mEq/L e creatinina = 1,9 mg/dl. Como não houve melhora expressiva da ascite, a conduta mais adequada para se atingir esse objetivo é:

a) Aumentar a dose da furosemida e da espironolactona.
b) Aumentar a dose da espironolactona.
c) Aumentar a dose da furosemida.
d) Realizar paracentese de alívio.

A

Portadores de cirrose hepática e hipertensão portal que não melhoram da ascite após a introdução de furosemida + espironolactona, em princípio, devem ter avaliada a adesão quanto à dieta hipossódica prescrita. Se a adesão for confirmada, pode-se aumentar as
doses dos diuréticos:
(1) até 120-160 mg/dia de furosemida e
(2) até 400-600 mg/dia de espironolactona. No entanto,
existe uma exceção a essa regra (muito frequente, diga-se de passagem): o surgimento de azotemia (disfunção renal). É muito arriscado aumentar de forma agressiva a dose de diurético num paciente cirrótico que apresenta insuficiência renal importante. Logo, para esses doentes, outras condutas podem ser mais adequadas, como a realização de paracenteses de alívio ou implantação de um TIPS. Vale lembrar que na cirrose hepática “descompensada” (Child não A) o melhor tratamento é o transplante ortotópico de fígado.
Resposta: D.

90
Q

90 – Paciente de 50 anos, portador de cirrose alcoólica,
admitido no PA com confusão mental há 3 dias. Realizado paracentese propedêutica que revelou 720 células com 72% polimorfonucleares. Em relação à história acima, pode-se afirmar, EXCETO:
a) A profilaxia secundária está indicada para todos os pacientes que desenvolveram PBE e pode ser realizada com norfloxacino 400 mg de 12/12 horas por 7 dias.
b) O diagnóstico é uma peritonite bacteriana espontânea
cujo tratamento de escolha é uma cefalosporina de 3a geração EV, por 7 a 10 dias.
c) Deve-se administrar albumina 1,5 g/kg de peso no primeiro dia e 1,0 g/kg de peso no terceiro dia.
d) A PBE é quase que invariavelmente monomicrobiana
e as bactérias mais comumente isoladas são E. coli, K. pneumoniae e S. pneumoniae.

A

O principal agente etiológico de PBE no portador de cirrose hepática é a E.coli, mas outros germes também podem ser encontrados, com destaque para a K. pneumoniae (outra enterobactéria Gram-negativa que transloca do trato gastrointestinal) e o pneumococo (adquirido geralmente a partir do trato respiratório) - D CORRETA.
Todo cirrótico com PBE deve receber albumina humana intravenosa como parte da estratégia de prevenção da síndrome hepatorrenal. A dose que demonstrou nos ensaios clínicos ser plenamente efetiva para aumentar a sobrevida é de 1,5 g/kg no primeiro dia de tratamento, seguida por 1 g/kg no terceiro dia de tratamento (lembre-se: isso não tem nada a ver com a realização de paracentese de alívio) - C CORRETA.
O diagnóstico do caso não pode ser outro que não peritonite bacteriana espontânea: há mais de 250 PMN por ml de líquido ascítico. O tratamento empírico da PBE deve ser feito com cefalosporina de terceira geração, que fornece ampla cobertura contra os principais agentes etiológicos já citados aqui - B CORRETA.
A “profilaxia” com norfloxacino em dose plena (400 mg 12/12h por 7 dias) está indicada para o cirrótico que faz um episódio de hemorragia digestiva alta, mas que ainda não desenvolveu PBE. Se ele JÁ ESTIVER COM PBE, o tratamento deve ser feito com cefalosporina de terceira geração, conforme explicado anteriormente. Resposta certa: A.

91
Q

91 – Homem de 50 anos, etilista, com cirrose, apresenta
Hemorragia Digestiva Alta (HDA). Antecedentes pessoais: apresentou HDA de origem varicosa há 1 mês, com realização de ligadura elástica. Exames laboratoriais: albumina = 2,8 mg/dl; tempo de protrombina – RNI: 3,0; hemoglobina = 7,0 mg/dl. Encontra-se hemodinamicamente estável. Considerando o quadro apresentado, assinale a alternativa CORRETA:
a) Somente deve ser realizada a endoscopia digestiva alta após a correção dos distúrbios de coagulação.
b) Deve-se manter hemoglobina acima de 10 mg/dl por
ser provável HDA de origem varicosa.
c) Deve-se rastrear infecções e, se não houver foco infeccioso, iniciar antibioticoterapia profilática.
d) Como as varizes já foram tratadas previamente com
ligadura elástica e o paciente mantém distúrbio de coagulação, é provável que esse sangramento esteja ocorrendo por causa de úlcera.
e) Deve-se realizar lavagem gástrica com SF 0,9%, prescrever omeprazol 40 mg EV de 12/12h, SF 0,9% EV e
realizar endoscopia digestiva alta após 12h, para garantir
estabilização hemodinâmica.

A

Estamos diante de um paciente cirrótico sabidamente portador de varizes esofágicas que evolui com hemorragia digestiva alta. Neste contexto, até que se prove o contrário, a fonte do sangramento deve ser
algum cordão varicoso.
E como devemos proceder?
Inicialmente, a estabilização hemodinâmica é mandatória antes de qualquer medida; no entanto, o paciente da questão já se apresenta estável, o que dispensa maiores esforços nesta etapa.
Em segundo lugar, devemos interromper o sangramento a partir de uma endoscopia digestiva alta (realizando-se escleroterapia ou ligadura elástica), associada à farmacoterapia (octreotida, terlipressina, somatostatina).
O terceiro passo se resume à prevenção de complicações, principalmente a Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE), sendo que a profilaxia desta última é feita com o uso de antibióticos (quinolonas, por exemplo) pelo período de 5-7 dias, sendo que devemos sempre afastar a presença de infecções em curso.
Alternativa C CORRETA.

92
Q

92 – A respeito do sistema porta, é INCORRETO afirmar
que:
a) Nem a veia porta nem suas tributárias possuem válvulas endoteliais.
b) A veia porta é formada pela união das veias esplênica e mesentérica superior, atrás do colo do pâncreas.
c) Na região esofagogástrica, as tributárias esofágicas
da veia gástrica esquerda anastomosam-se com as veias esofágicas do sistema ázigos, propiciando a formação de varizes de esôfago.
d) Na região periumbilical, as veias paraumbilicais no ligamento falciforme anastomosam-se com as veias subcutâneas na parede abdominal anterior, propiciando a formação da “cabeça de medusa”.
e) Na região anorretal, as hemorroidas exuberantes do
portador de hipertensão portal provêm da anastomose
entre a veia retal superior, tributária da veia mesentérica
superior, com a veia retal inferior, tributária da veia mesentérica inferior.

A

A única INCORRETA é letra E:
A veia retal superior drena para a veia mesentérica inferior
e a retal inferior para a veia ilíaca interna e subsequentemente para a veia cava inferior. As outras opções estão CORRETAS e contêm proposições anatômicas verdadeiras. Lembramos que pacientes com hipertensão portal não apresentam risco aumentado de desenvolver hemorroidas em comparação com indivíduos normais. As hemorroidas são tão comuns no portador de hipertensão porta quanto no indivíduo normal.
A alternativa E é a resposta da questão.

93
Q

93 – O diagnóstico de encefalopatia hepática é de exclusão. São considerados fatores desencadeantes dessa entidade:

a) Infecção e uso de betabloqueadores.
b) Infecção e abuso de diuréticos.
c) Hipernatremia e restrição proteica.
d) Uso de sedativos e betabloqueadores.

A

A Encefalopatia Hepática (EH) é um distúrbio funcional do Sistema Nervoso Central (SNC), que é induzido por via metabólica, potencialmente reversível e que aparece no curso de hepatopatias crônicas e agudas. É uma síndrome com diferentes manifestações neurológicas e psíquicas. O diagnóstico é de exclusão, uma vez que não existem métodos específicos para o seu diagnóstico. As causas mais comuns de descompensação no paciente hepatopata que podem provocar encefalopatia são as seguintes: hemorragia digestiva, constipação intestinal, infecções, peritonite bacteriana espontânea, hipocalemia, alcalose metabólica, hiponatremia, hipovolemia, diuréticos, paracentese de grande volume, diarreia osmótica, uso de benzodiazepínicos e psicotrópicos, insuficiência hepática aguda, shunts portossistêmicos (espontâneo, cirúrgicos e TIPS) e hepatocarcinoma.
Assim, a alternativa B é a mais adequada.

94
Q

94 – Paciente de 50 anos, sexo masculino, deu entrada
no pronto-socorro por hematêmese volumosa (dez episódios nas últimas três horas). Teve o diagnóstico de cirrose alcoólica Child B há um ano e meio e, desde então, mantém-se abstêmio. Trouxe sua prescrição de propranolol 20 mg BID, espironolactona 100 mg MID e furosemida 40 mg MID. O exame clínico revelou: PA: 70 x 56 mmHg; FC: 104 bpm; FR: 40 irpm; SpO2: 88%. Paciente confuso e agitado, hipocorado, com extremidades frias, edema periférico e ascite volumosa. Sobre o manejo desse caso, marque a alternativa INCORRETA:
a) A terapia endoscópica de urgência está contraindicada
no momento pela instabilidade hemodinâmica do paciente.
b) A terlipressina deve ser usada de forma intermitente
enquanto se aguarda a endoscopia digestiva alta.
c) Há indicação de profilaxia para peritonite bacteriana
espontânea com quinolonas ou cefalosporinas de terceira
geração.
d) A terapia endoscópica mais eficaz para o tratamento da hemorragia varicosa é a escleroterapia.

A

Estamos diante de um portador de cirrose hepática descompensada (Child B), de etiologia provavelmente alcoólica, que se apresenta com um quadro agudo de hemorragia digestiva alta associada à instabilidade
hemodinâmica (sinais de hipovolemia grave = hipotensão arterial + taquicardia + taquidispneia + confusão mental). O primeiro passo na conduta terapêutica deve ser a pronta estabilização clínica do paciente, através da obtenção de pelo menos 2 acessos venosos periféricos calibrosos (Jelco 16 ou 14) e, neste caso, intubação orotraqueal + suporte ventilatório mecânico (vômito de sangue + redução do sensório e dificuldade respiratória = indicação de proteção das vias aéreas inferiores devido ao elevado risco de broncoaspiração). Todo portador de HDA + instabilidade hemodinâmica deve ser submetido a uma Endoscopia Digestiva Alta (EDA) dentro das primeiras 12h de internação. No entanto, recomenda-se que a EDA só
seja realizada após o paciente apresentar FC < 100 bpm
e PA sistólica > 100 mmHg. Uma EDA antes da obtenção
desses parâmetros só seria justificada nos raríssimos
casos em que o paciente se mostra absolutamente refratário às manobras de ressuscitação volêmica, com infusão de cristaloides, coloides, hemoderivados e aminas vasoativas (geralmente a EDA nesta situação é feita dentro do centro cirúrgico, com o doente na mesa operatória, como última tentativa de estancar o sangramento antes da realização de uma cirurgia “salvadora”). Logo, como nosso paciente ainda não recebeu nenhuma manobra de ressuscitação volêmica, está ERRADO indicar EDA (afobadamente) neste momento. O tratamento da HDA por ruptura de varizes de esôfago (provável diagnóstico do caso) é feito pela associação de hemostasia endoscópica (após estabilidade hemodinâmica) + infusão de drogas que
reduzem a pressão no sistema porta, como a terlipressina ou a octreotida (doses intermitentes ou infusão contínua após bolus). Além disso, no cirrótico existe indicação de ministrar doses plenas de antibioticoterapia com quinolonas ou cefalosporinas de terceira geração, haja vista o elevado risco de infecções graves a distância, como PBE (risco em torno de 70% sem esta medida). Vale lembrar que também se deve instituir profilaxia da síndrome hepatorrenal, através da infusão de albumina humana na dose de 1,5 g/kg de peso, no primeiro dia, e 1 g/kg de peso, no terceiro dia. Dentre as diferentes técnicas de hemostasia endoscópica para portadores de varizes rotas, aquela que se mostrou mais eficaz e que por isso é considerada de primeira escolha é a LIGADURA ELÁSTICA das varizes.
Logo, resposta certa: D.

95
Q

95 – Ao avaliar um paciente com ascite crônica, um gradiente soroascítico de albumina elevado (> 1,1 g/dl) é
compatível com os seguintes diagnósticos, EXCETO:
a) Cirrose.
b) Insuficiência cardíaca congestiva.
c) Pericardite constritiva.
d) Trombose de veia hepática.
e) Nefrose.

A
O GASA (Gradiente Soro-Ascite de Albumina) é o grande “divisor de águas” na investigação diagnóstica das ascites, definindo dois grandes grupos de causas: 
(1) GASA ≥ 1,1 g/dl = ascite transudativa;
(2) GASA inferior a 1,1 g/dl = ascite exsudativa. 
De A a E, todas são causas de ascite TRANSUDATIVA, porém, a letra E (“nefrose” ou “síndrome nefrótica”) representa uma exceção à regra do GASA, pois apesar de ser um transudato tem GASA inferior a 1,1 g/dl. A explicação é a seguinte: na síndrome nefrótica há uma profunda hipoalbuminemia, estreitando a diferença entre a albumina sérica e a albumina do líquido. 
Resposta certa: E.
96
Q

96 – Um paciente de 48 anos de idade interna para investigação de ascite. É realizada paracentese diagnóstica, que revela Gradiente de Albumina Soro-Ascite (GASA) de 1,2 g/dl e nível de proteínas no líquido ascítico > 2,5 g/dl. A principal hipótese diagnóstica é:

a) Síndrome nefrótica.
b) Insuficiência cardíaca congestiva.
c) Cirrose.
d) Carcinomatose peritoneal.
e) Fístula biliar.

A

Temos um paciente com ascite cujo GASA (Gradiente de Albumina Soro-Ascite) é > 1,1, ou seja, estamos diante de um transudato; logo eliminamos as letras D (carcinomatose peritoneal) e E (fístula biliar), já que ambas são causas de ascite exsudativa. O que nos permitirá chegar à resposta definitiva da questão?
A proteína total do líquido ascítico, visto que tanto na
cirrose hepática como na síndrome nefrótica a proteína
do líquido ascítico é extremamente baixa (< 2-1,5), assim
como a albumina sérica, que neste paciente encontra-se
em torno de 3,7. Dessa forma, só nos resta marcar insuficiência cardíaca!
Resposta correta: letra B.

97
Q

97 – Paciente com história de 25 anos de etilismo pesado
dá entrada no pronto-socorro por hematêmese. Na admissão, apresenta-se hipocorado; ictérico; com pressão
arterial = 120 x 70 mmHg; pulso = 100; torporoso. Apresenta ginecomastia e eritema palmar. Abdome globoso, flácido, com macicez móvel. Sem deficit neurológico focal. Qual das assertivas é CORRETA em relação ao caso apresentado?
a) Eletroencefalograma é útil para o diagnóstico.
b) O sangramento gastrointestinal é catártico e, portanto
pode contribuir para melhora da alteração neurológica.
c) A Anastomose Portossistêmica Intra-hepática Transjugular (TIPS) é indicada.
d) Agentes que reduzem a produção de amônia no intestino são indicados.
e) Tratamento com betabloqueadores deve ser instituído
prontamente.

A
Hematêmese, icterícia, ginecomastia, eritema palmar e ascite (abdome globoso + macicez móvel), em um paciente com história de 25 anos de etilismo “pesado”, são indícios mais do que suficientes para permitir um diagnóstico clínico de cirrose hepática com hipertensão porta de provável etiologia alcoólica (a famosa “cirrose de Laennec”). Pois bem, sabemos que a Hemorragia Digestiva Alta (HDA), nesse contexto, tem como causa mais provável a ruptura de uma ou mais varizes de esôfago. Vamos pensar juntos. O Eletroencefalograma
(EEG) é útil para o diagnóstico de varizes de esôfago ou cirrose hepática? Claro que não! E por acaso estaria indicado realizar um EEG em nosso paciente, neste momento, só por causa do torpor? Claro que não
também! O rebaixamento do sensório é muito frequente
no contexto das HDA de grande monta em cirróticos,
pois o excesso de sangue que atinge o lúmen intestinal
aumenta a produção de amônia pelas bactérias presentes na microbiota. Esta amônia é absorvida na circulação porta e “by--passa” o fígado cirrótico graças à existência de colaterais portossistêmicos, dirigindo-se diretamente para o cérebro do paciente, onde exerce um efeito tóxico que justifica o quadro clínico de encefalopatia hepática (A e B erradas). 
A colocação de um TIPS (shunt portossistêmico
transjugular intra-hepático) só está indicada na HDA aguda por varizes rotas se o sangramento for persistente e refratário às demais medidas terapêuticas
(ex.: octreotida + hemostasia endoscópica) - C ERRADA.
Os betabloqueadores (ex.: propranolol) são indicados no
tratamento crônico da hipertensão porta, já que reduzem a pressão nesse sistema (ao causarem vasodilatação esplâncnica). No entanto, na fase aguda de uma HDA, ainda mais se houver repercussões hemodinâmicas (ex.: FC > 100 bpm, indicando perda volêmica significativa), os betabloqueadores estão CONTRAINDICADOS! A primeira manobra terapêutica em nosso doente deve ser a ressuscitação volêmica vigorosa, com infusão de salina isotônica em veia periférica de grosso calibre (de preferência através de dois acessos em sítios diferentes). Tal conduta é prioritária em pacientes com HDA que apresentam FC > 100 bpm e/ou PA sistólica < 90 mmHg. A Endoscopia Digestiva Alta (EDA) deve ser realizada nas primeiras 12h da internação! A EDA permite a aplicação de métodos de hemostasia endoscópica (ex.: em varizes
de esôfago rotas, o mais utilizado é a ligadura elástica).
Hoje em dia, nos centros de excelência, para um tratamento mais completo da HDA por ruptura de varizes de esôfago, tem-se conjugado a hemostasia endoscópica à infusão de drogas para reduzir a pressão venosa da circulação esplâncnica, sem repercutir sobre a circulação sistêmica, como é o caso da octreotida. Além disso, para a prevenção da síndrome hepatorrenal deve-se ministrar albumina humana na dose 1,5 g/kg de peso no primeiro dia (em paralelo à infusão de salina isotônica) e 1 g/kg de peso no terceiro dia; para a prevenção de infecções graves, deve-se iniciar antibioticoterapia plena com cobertura contra enterobactérias Gram-negativas (ex.: norfloxacino 400 mg IV de 12/12h por 7 dias). Esta última medida, além de reduzir a incidência de PBE e outras infecções decorrentes de translocação bacteriana (potencializada pela HDA), também é útil para reduzir a densidade da microbiota intestinal e consequentemente a produção de amônia, melhorando desse modo os sinais e sintomas de encefalopatia hepática. 
Resposta certa: D.
98
Q

98 – Assinale a alternativa que completa CORRETAMENTE a frase a seguir. Paciente masculino, 45 anos de idade, com história de etilismo, apresenta quadros repetidos de hemorragia digestiva alta. Sua história clínica sugere fortemente pancreatite alcoólica. A endoscopia digestiva alta mostra varizes de fundo gástrico cujo sangramento foi controlado previamente por medicamentos. Foi realizada uma esplenoportografia que mostrou veia mesentérica superior e veia porta pérvias. A veia esplênica não foi visualizada. O tratamento definitivo mais adequado para este paciente é:

a) Esplenectomia.
b) Anastomose porto-cava laterolateral.
c) Shunt esplenorrenal distal.
d) Shunt mesentérico-cava.
e) Terapia prolongada com betabloqueadores.

A

A questão deixa claro que estamos diante de um paciente com pancreatite crônica. As varizes de fundo gástrico isoladas são francamente sugestivas de trombose de veia esplênica, o que vem a ser confirmado pela ausência de fluxo na venografia. Frente ao quadro de hipertensão portal segmentar por trombose da veia esplênica os tratamentos medicamentosos e a escleroterapia possuem um resultado pobre. O tratamento definitivo é feito através da esplenectomia.
Resposta: letra A.