ENDOCRINO Vol 1 - Doenças da Tireóide Flashcards
RESIDÊNCIA MÉDICA 2017 (ACESSO DIRETO 1) SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – SP
1 – Paciente tem doença de Graves e chega ao pronto- -socorro com quadro de febre, sudorese excessiva, taquicardia sinusal (160 bpm) e agitação psicomotora. O diagnóstico mais provável e a prioridade inicial do tratamento, neste momento, são, respectivamente: a) Feocromocitoma; introdução de antipirético. b) Crise tireotóxica; introdução de betabloqueador e propiltiouracila. c) Sepse; introdução de antibiótico de amplo espectro. d) Síndrome de abstinência alcoólica; introdução de benzodiazepínico. e) Síndrome neuroléptica aguda; introdução de dantroleno.
Quando um paciente sabidamente portador de hipertireoidismo apresenta exacerbação aguda de sinais e sintomas hiperadrenérgicos e hipermetabólicos, como no caso em tela, nossa primeira hipótese diagnóstica deve ser a de crise tireotóxica (ou “tempestade tireoidiana”). Nesta condição, por algum motivo qualquer (ex.: abandono do tratamento), ocorre um súbito aumento na liberação de hormônio tireoidiano, o que hiperestimula os órgãos e tecidos “alvo”, prejudicando a homeostase do paciente de modo a acarretar risco iminente de óbito! Assim, trata-se de uma verdadeira emergência médica, que precisa ser abordada de maneira agressiva. A conduta está pautada no seguinte: (1) Uso de um betabloqueador, com preferência pelos BB não seletivos e lipofílicos (que cruzam a barreira hematoencefálica, atuando também no SNC). Uma droga que tem todas essas propriedades é o propranolol, que assim é o BB de escolha. Vale dizer que o propranolol ainda tem outra vantagem: em altas doses, ele inibe diretamente a desiodase tipo 1, enzima que converte o T4 (pró-hormônio) em T3 (forma biologicamente ativa) nos tecidos periféricos. (2) Uso de um agente antitireoidiano, com preferência pelo propiltiouracila. Em altas doses, além de bloquear a produção glandular de hormônio, o PTU também inibe a desiodase tipo 1, algo que o metimazol não faz. (3) Uso de glicocorticoide, pelo fato de o catabolismo do cortisol estar aumentado, podendo ocasionar hipocortisolismo relativo em face do aumento da demanda metabólica. Além disso, pode haver um processo concomitante de adrenalite autoimune (doença de Addison), o qual até então não possuía expressão clínica devido à existência de uma reserva adrenocortical suficiente para manter a homeostase numa situação de estabilidade. O aumento na demanda metabólica induzido pela tempestade tireoidiana pode suplantar essa reserva adrenocortical residual, desencadeando um quadro de franca insuficiência adrenal. (4) Uso de alguma solução rica em iodo, como o Lugol (iodeto de potássio). A sobrecarga aguda de iodo pode promover o efeito de Wolff-Chaikoff, um bloqueio bioquímico à produção de hormônio dentro das células foliculares tireoidianas. Vale lembrar que a solução rica em iodo deve ser ministrada 1h após a administração do agente antitireoidiano! Isto é um pré-requisito para a ocorrência do efeito de Wolff- -Chaikoff (quer dizer, a glândula hiperestimulada deve ter sido previamente bloqueada pela medicação para que o referido efeito ocorra). Caso contrário (ministrar o iodo sem bloqueio farmacológico prévio da tireoide), podemos acabar induzindo o efeito de Jod-Basedow, no qual a produção hormonal, por outro lado, aumenta… Enfim, não há uma resposta completa aqui. Mas sem dúvida a melhor opção é a letra B.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2017 (ACESSO DIRETO 1) INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – SP
2 – Mulher de 30 anos, com queixa de fadiga e ganho de peso de 4,5 kg em 5 meses, refere estar fazendo dieta hipocalórica, comendo menos fast-food e mais vegetais. Iniciou academia recentemente, 1 hora, 3 vezes por semana. Porém, mesmo assim, continuou ganhando peso. Nunca fumou. Seu pai faleceu por infarto agudo do miocárdio aos 43 anos. Ao exame: FC = 62 bpm; PA = 130 x 90 mmHg; SatO2: 98% em ar ambiente; ritmo cardíaco regular, sem alteração em palpação de região cervical; TSH = 22; T4L = 0,6; glicose = 85; colesterol total = 290; LDL = 181; HDL = 55; triglicérides = 270. Assinale a alternativa que apresenta a intervenção mais apropriada para o caso: a) Encaminhar à nutricionista. b) Iniciar fluoxetina. c) Iniciar sinvastatina. d) Iniciar levotiroxina. e) Iniciar fenofibrato.
Os sinais e sintomas apresentados são compatíveis com a hipótese de hipotireoidismo (diminuição da taxa metabólica basal, levando ao ganho inapropriado de peso com tendência à bradicardia e hipertensão diastólica). O laboratório confirma se tratar de hipotireoidismo PRIMÁRIO (falência da glândula tireoide): TSH muito alto (bem acima do LSN, que é de 5 mU/ml) e T4 livre baixo (< 0,9 ng/dl). Que conduta já pode ser tomada? Ora, temos que repor levotiroxina (começar com 1,6 a 1,8 mcg/kg/dia, dose única pela manhã, com estômago vazio). A paciente não precisa ir para o nutricionista, pois já está fazendo uma dieta adequada (hipocalórica e sem fast-food, com aumento na ingesta de vegetais). Não há um diagnóstico de depressão major (humor deprimido a maior parte do tempo, tristeza constante) para justificar o início de antidepressivos como a fluoxetina. A dislipidemia até poderá ser tratada com estatina posteriormente, caso as alterações lipêmicas persistam após normalização da função tireoidiana com a reposição hormonal! A princípio atribuiremos a dislipidemia dessa paciente ao distúrbio tireoidiano de base, logo, espera-se que a normalização do T4 livre seja seguida de normalização da dislipidemia. Fibrato só está indicado se TG > 500 mg/dl, para reduzir o risco de pancreatite aguda. Resposta certa: D.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2017 (ACESSO DIRETO 1) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – RJ
3 – Jovem, 25 anos, é submetido à biópsia excisional de linfonodo cervical de 3 cm, lateral à veia jugular interna direita. No exame histopatológico são encontradas células foliculares tireoidianas. O diagnóstico é: a) Metástase de carcinoma papilífero da tireoide. b) Tireoide ectópica. c) Remanescente de ducto tireoglosso. d) Remanescente do 4o arco branquial.
Células foliculares tireoidianas foram encontradas num linfonodo cervical aumentado (> 2 cm)! Não há como não pensar em malignidade, ou seja, de cara a única resposta possível é a letra A!!!
O carcinoma papilífero de tireoide é a nossa hipótese diagnóstica, já que, além de ser o tipo histológico mais comum de câncer de tireoide e acometer predominantemente pacientes com idade entre 20 e 40 anos, apresenta a clássica disseminação linfática, diferente do carcinoma folicular, que possui disseminação hematogênica.
O papilífero geralmente é encapsulado, cresce lentamente, e se dissemina para linfonodos regionais do pescoço.
Resposta certa: A.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2017 (ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – SC
4 – Paciente do sexo feminino, 40 anos, com história de infecção viral de vias aéreas superiores há cinco dias, quadro de astenia, mialgia e febre baixa. Evolui nas últimas 24 horas para dor na região cervical anterior de moderada intensidade, apresentando piora com a deglutição e com a movimentação do pescoço, irradiação para a região mandibular e para o ouvido direito. Ao exame físico, apresenta taquicardia sinusal (FC = 123 bpm); temperatura axilar 37,8ºC; tremor de extremidade; pele quente e úmida. Tireoide aumentada de tamanho, sem sinais flogísticos na pele ou flutuações. Exames laboratoriais: TSH < 0,01 mUI/L (0,5 a 4,78 mUI/L); T4 livre = 3,1 ng/dl (0,7 a 1,5 ng/dl); VHS = 62 mm/h (0 a 15); e anticorpos antitireoidianos negativos. Ultrassonografia de tireoide sem nódulos. Cintilografia de tireoide com iodo apresentando captação < 1%. Com base no caso clínico, qual o diagnóstico mais provável? a) Tireoidite autoimune (doença de Graves). b) Tireoidite linfocítica subaguda. c) Doença de Plummer. d) Tireoidite de Riedel. e) Tireoidite subaguda dolorosa (tireoidite de De Quervain).
Este é o quadro clássico da tireoidite subaguda, ou tireoidite de De Quervain. Trata-se de um quadro geralmente pós-viral (que costuma se instalar dias após uma IVAS inespecífica), caracterizado por dor cervical anterior, bócio discreto e franca tireotoxicose, com aumento de parâmetros inflamatórios sistêmicos como VHS e PCR. O que acontece nessa doença é o acometimento do parênquima glandular por um processo inflamatório granulomatoso que produz lesão dos folículos tireoidianos, com rompimento dessas estruturas e liberação de hormônio pré-formado estocado no coloide. Logo, não há “hipertireoidismo” propriamente dito, uma vez que a atividade sintética glandular não está aumentada! Ocorre apenas um “vazamento” dos estoques hormonais, justificando a tireotoxicose transitória. A glândula pode estar um pouco aumentada (bócio) e dolorosa, por conta do processo inflamatório local, mas não há flogose intensa (ex.: com flutuação ao toque, que indicaria a presença de um abscesso) a ponto de pensarmos no diagnóstico da rara tireoidite supurativa, uma infecção bacteriana gravíssima.
A tireoidite linfocítica subaguda (Hashimoto) em geral cursa de forma lenta (meses a anos) e completamente assintomática, até que surja franco hipotireoidismo.
Na doença de Graves, o bócio é volumoso e indolor, com frequência acompanhado de comemorativos extratireoidianos como oftalmopatia (exoftalmia).
Doença de Plummer é o adenoma tóxico, isto é, um nódulo solitário e hiperfuncionante que se mostra “quente” (hipercaptante) na cintilografia tireoidiana.
Tireoidite de Riedel é uma rara condição fibrosante, onde não ocorre bócio por conta da intensa atrofia glandular, fora o fato de ser uma causa de hipotireoidismo, e não de tireotoxicose.
Resposta certa: E.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2017 (ACESSO DIRETO 1) PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG
5 – Em se tratando dos nódulos tireoidianos detectados ao exame clínico, favorece a suspeita de malignidade a concomitância dos seguintes achados: a) Presença de microcalcificações à ultrassonografia e predomínio de vascularização central ao Doppler em paciente de 38 anos, do sexo masculino. b) Presença de calcificações grosseiras, tipo “casca de ovo”, à ultrassonografia e predomínio de vascularização periférica ao Doppler em paciente de 32 anos, do sexo feminino. c) Presença de microcalcificações à ultrassonografia e predomínio de vascularização periférica ao Doppler em paciente de 78 anos, do sexo feminino. d) Presença de calcificações grosseiras, tipo “casca de ovo”, à ultrassonografia e predomínio de vascularização periférica ao Doppler em paciente de 82 anos, do sexo masculino.
A questão pergunta qual afirmativa apresenta mais fatores que indicam malignidade de um nódulo tireoidiano.
- Sexo masculino,
- idade entre 40-50 anos,
- nódulo frio (hipocaptante à cintilografia),
- microcalcificações,
- vascularização central (no Doppler) e
- linfonodomegalia associada.
Vascularização periférica e calcificação em casca de ovo não sugerem malignidade.
Dessa forma, a letra A é a resposta da questão.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2017 (ACESSO DIRETO 1) SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ – CE
6 – Mulher de 25 anos procura aconselhamento médico por ter sido tratada de carcinoma medular da tireoide diagnosticado durante investigação de hipercalcemia. Foi submetida a teste genético para Neoplasia Endócrina Múltipla (NEM), o qual apresentou mutação germinativa patogênica do gene RET. História familiar: pai com neoplasia neuroendócrina pancreática e tia falecida por câncer de tireoide. Ela tem um filho de 4 anos e está preocupada com o risco dele desenvolver neoplasia. Qual a melhor orientação para o filho? a) Tireoidectomia total, se hipercalcemia. b) Dosagens periódicas do nível sérico de calcitonina. c) Monitorização com ultrassonografia cervical periódica. d) Teste genético para NEM e avaliação de mutação do gene RET.
Uma paciente com história familiar de neoplasia neuroendócrina pancreática e neoplasia de tireoide, com diagnóstico prévio de Carcinoma Medular de Tireoide (CMT), descoberto durante investigação de hipercalcemia, sugerindo um quadro de hiperparatireoidismo, deve ser investigada quanto à Neoplasia Endócrina Múltipla (NEM) tipo 2A (CMT, hiperparatireoidismo e feocromocitoma). O Carcinoma Medular de Tireoide (CMT) é esporádico em 80% dos casos, quando acomete mais indivíduos entre a quinta e sexta décadas de vida, sendo em geral unilaterais. Tanto a forma esporádica quanto a forma familiar se associam fortemente às mutações no proto-oncogene RET, como no caso dessa paciente. Este oncogene codifica uma tirosina quinase transmembrana, expresso em uma ampla variedade de células neuroendócrinas e neurais, incluindo as células C da tireoide (parafoliculares), medula adrenal e células ganglionares autonômicas. Cerca de 20% dos casos são familiares, como no caso em questão. Outra forma de expressão das NEM é o tipo 2B, com CMT, feocromocitoma, hábito marfanoide e neuromas de mucosa. A forma isolada do CMT familiar é menos comum. Vale ressaltar que o câncer associado à NEM geralmente é bilateral e multicêntrico. A calcitonina é o principal produto do CMT, funcionando como triagem pré-operatória e avaliação de recidiva no pós-operatório. Voltando à questão, pergunta-se qual o rastreio que deve ser oferecido ao seu filho, de 4 anos. A pesquisa de mutações do RET é imperativa a todos os pacientes e familiares de pacientes com história de CMT, hiperplasia de células C e NEM. Na presença da mutação do gene RET, a tireoidectomia total profilática está indicada. No caso de crianças, aquelas com NEM 2B devem ser submetidas à tireoidectomia ainda no primeiro ano de vida, enquanto aquelas com mutações no códon 634 devem ser operadas antes dos 5 anos de idade. As demais crianças, com outras mutações do RET, deverão ser operadas por volta dos 5 anos de idade. Portanto, nesse caso a pesquisa genética para NEM e a avaliação de mutação do gene RET estão indicadas e, caso confirmadas, a tireoidectomia total profilática deve ser realizada. Resposta da questão: alternativa D.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP – SP
7 – Paciente em sétimo dia de pós-operatório de tireoidectomia total, retorna à consulta ambulatorial referindo alteração de voz. A avaliação fonoaudiológica identificou dificuldade de emissão dos sons agudos. Esta complicação cirúrgica é decorrente de: a) Lesão de ramo externo do nervo laríngeo superior. b) Hipotireoidismo. c) Lesão do nervo laríngeo recorrente. d) Lesão de prega vocal secundária à intubação.
A lesão dos nervos laríngeos é uma complicação pós-operatória frequente das cirurgias de tireoidectomia total (risco comparativamente menor nas tireoidectomias subtotais ou lobectomias).
Existem dois nervos laríngeos: (1) superior; (2) recorrente.
O superior é ainda subdividido em ramos externos e ramos internos.
- Os ramos externos controlam músculos extrínsecos envolvidos na MODULAÇÃO DA VOZ, isto é, na habilidade de mudar o tom da voz, tornando-a, por exemplo, mais aguda.
- Os ramos internos têm função sensitiva, e medeiam reflexos em toda superfície laríngea acima das cordas vocais (reagindo, por exemplo, à aspiração de corpos estranhos).
Já o laríngeo recorrente exerce controle motor sobre as cordas vocais.
Logo, o problema apresentado pelo paciente provavelmente é devido à lesão de um ramo laríngeo externo. Resposta certa: A.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP
8 – Mulher de 60 anos, obesa, refere dispneia aos grandes esforços e ortopneia há 2 meses. Exame físico: abaulamento na região cervical direita; função tireoidiana normal. TC de tórax: lesão no estreito superior do hemitórax direito com desvio e compressão da traqueia conforme mostra a imagem. Cintilografia da tireoide com iodo: captante. Assinale a alternativa que apresenta a conduta CORRETA a ser tomada e sua justificativa: a) Conservadora, com orientação para redução de peso e uso de travesseiros altos para dormir, pois a paciente possui alto risco cirúrgico devido à idade avançada e à obesidade. b) Ressecção cirúrgica, visto que a paciente possui um bócio intratorácico e encontra-se sintomática. c) Ressecção cirúrgica, pois todo bócio intratorácico deve ser ressecado, independentemente da idade do paciente, do tamanho da lesão, dos sintomas e dos exames tireoidianos. d) Conservadora, pois trata-se de um bócio intratorácico e os exames de função tireoidiana encontram-se normais.
A história e o exame clínico sugerem e a TC confirma o diagnóstico de bócio mergulhante. A tireoide está tão aumentada de tamanho que invade o estreito superior do tórax e comprime estruturas adjacentes, como a via aérea, trazendo grandes prejuízos para a qualidade de vida do paciente. Logo, há total indicação de ressecção cirúrgica da lesão, visando a alívio sintomático! Resposta certa: B.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP
9 – Homem de 78 anos, assintomático, apresentou, após exames de rotina, os seguintes exames laboratoriais: TSH = 6,7 mUI/L [valor de referência para o método (VR) = 0,4-4,0 mUI/L] e T4L = 1,2 ng/dl (VR = 0,8-1,9). Nega qualquer queixa ou diagnósticos médicos conhecidos. A conduta inicial mais adequada, nesse caso, é: a) Solicitar nova avaliação da função tireoidiana após três meses da data de coleta do TSH alterado. b) Introduzir levotiroxina na dose de 2,2 mcg/kg/dia, devido ao maior risco de doença cardiovascular e mortalidade associados ao hipotireoidismo subclínico nessa faixa etária. c) Introduzir tri-iodotironina, na dose de 1,0 mcg/kg/dia, que é indicada para melhorar a qualidade de vida em idosos. d) Solicitar a dosagem do anticorpo antirreceptor de TSH (TRAb).
Estamos diante de um paciente assintomático, que se apresenta com um TSH elevado e um T4 livre normal, o que sugere o diagnóstico de hipotireoidismo subclínico. No entanto, como pode haver elevações transitórias do TSH, recomenda-se que, antes de firmar este diagnóstico, seja feita uma nova dosagem dos hormônios tireoidianos 1-3 meses após a primeira. Resposta: A.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – RJ
10 – Mulher, 42 anos, apresenta “incômodo na garganta” há alguns dias, sem outros sintomas. Exame físico: aumento da glândula tireoide; superfície lisa; consistência elástica e indolor. Exames laboratoriais: dosagem hormonal encontra-se normal a não ser por um leve aumento do TSH. O diagnóstico mais provável e o exame a ser solicitado, a seguir, são: a) Câncer de tireoide e ultrassonografia da tireoide. b) Doença de Graves e cintilografia da tireoide. c) Tireoidite de Hashimoto e dosagem de anticorpos antitireoide. d) Deficiência de iodo e repetição das dosagens hormonais.
No Ca de tireoide esperaríamos encontrar um nódulo tireoidiano, e não um bócio difuso.
Na doença de Graves temos bócio difuso, porém o TSH está suprimido (hipertireoidismo).
A deficiência de iodo é extremamente rara em nosso meio, pois o sal de cozinha é suplementado em iodo por força de lei nacional.
Enfim, bócio difuso indolor numa mulher adulta é um achado altamente sugestivo de tireoidite crônica, sendo a tireoidite mais comum do mundo a doença de Hashimoto. Sabemos que o Hashimoto evolui para hipotireoidismo, mas antes de chegar no estágio sintomático pode haver um longo período de hipotireoidismo subclínico, onde apenas um discreto aumento de TSH é notado (com níveis de T4 livre normais). A demonstração de autoanticorpos antitireoide, como o anti-TPO (antitireoperoxidase), por exemplo, ajuda a corroborar tal hipótese, já que este marcador está presente em > 80% dos casos.
Resposta certa: C.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – RJ
11 – A patologia tireoidiana associada a níveis altos de calcitonina é o (a): a) Carcinoma medular. b) Tireoidite de Hashimoto. c) Carcinoma folicular. d) Tireoidite de Riedel.
O carcinoma medular da tireoide é uma neoplasia oriunda das células C parafoliculares produtoras de calcitonina. A principal manifestação clínica decorrente do excesso de calcitonina, vale lembrar, é a hiperestimulação do tubo digestivo, que resulta num quadro de cólicas abdominais e diarreia. Resposta certa: A.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO PEDRO – RJ
12 – Com relação aos carcinomas da tireoide, é CORRETO afirmar que: a) O carcinoma de células de Hürthle se comporta mais agressivamente que os outros tumores bem diferenciados. b) As metástases para linfonodos regionais são mais comuns nos carcinomas foliculares que nos papilares. c) O tipo anaplásico, embora seja o mais agressivo destes tumores, é o que melhor resposta apresenta à quimioterapia complementar pós-operatória. d) A variante folicular do carcinoma papilar se comporta clinicamente como carcinoma folicular. e) O carcinoma medular geralmente é um tumor neuroendócrino de crescimento rápido, cuja recidiva após ressecção cirúrgica pode ser rastreada pela dosagem periódica de tireoglobulina.
Vamos analisar as alternativas da questão: a) O carcinoma de células de Hürthle consiste em uma variante mais agressiva do carcinoma folicular (CORRETA). b) A disseminação para linfonodos do carcinoma folicular é incomum, ocorrendo em 8-13% dos casos; enquanto que o envolvimento linfático é relativamente comum nos pacientes com carcinoma papilífero (INCORRETA). c) O prognóstico do carcinoma anaplásico de tireoide é péssimo, sendo a sobrevida média a partir do diagnóstico de 3-7 meses, uma vez que o tumor é extremamente agressivo, levando à ampla invasão local. Nenhuma modalidade terapêutica possui boa resposta (INCORRETA). d) A variante folicular do carcinoma papilífero (10% dos carcinomas papilíferos) possui uma evolução clínica muito semelhante a do papilífero clássico (INCORRETA). e) O rastreio de recidiva do carcinoma medular de tireoide é feito com dosagem periódica de calcitonina e CEA (INCORRETA). Alternativa A correta.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE RIO DE JANEIRO – RJ
13 – Em um paciente em coma mixedematoso, verifica-se redução de algumas funções e componentes fisiológicos, EXCETO de: a) Reserva adrenal. b) Absorção intestinal. c) Sódio corporal total. d) Temperatura corporal.
O coma mixedematoso representa um extremo nas manifestações clínicas do hipotireoidismo. Sabemos que, nesta condição, essencialmente todos os órgãos e tecidos do corpo são afetados de alguma forma, pois a atividade metabólica encontra- -se globalmente (e profundamente) reduzida. Assim, a função de outras glândulas (como a adrenal) está diminuída, assim como a função intestinal (incluindo motilidade e absorção) e a termogênese endógena (hipotermia). Cerca de metade dos pacientes apresenta HIPONATREMIA, porém está errado supor que o sódio corporal total esteja reduzido. Na realidade, tal qual outras formas de hiponatremia, no hipotireoidismo o que acontece é que a capacidade renal de excretar água livre fica comprometida, e o paciente faz uma hiponatremia “dilucional”, mantendo a mesma quantidade de sódio corporal total. Quem se altera é a ÁGUA CORPORAL TOTAL, que fica aumentada. Não se sabe a exata fisiopatogênese da perda na capacidade renal de excretar água livre em portadores de hipotireoidismo. Parece que a queda do metabolismo tubular pode contribuir para isso. Resposta certa: C.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – SC
14 – Dentre os diversos tipos histológicos de tumores malignos da tireoide, qual o tipo mais comumente encontrado? a) Linfoma. b) Carcinoma papilar. c) Carcinoma medular. d) Carcinoma anaplásico. e) Carcinoma de células de Hürthle.
O carcinoma papilífero ou papilar da tireoide responde por 75-80% dos tumores malignos da glândula. Resposta certa: B.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE – RS
15 – Paciente de 45 anos, assintomática, apresentou, à ultrassonografia de tireoide, vários nódulos mistos em ambos os lobos, medindo o maior deles 5 mm de diâmetro. As provas de função tireoidiana foram normais. A conduta mais adequada frente a esse achado é: a) Observação clínica. b) Punção aspirativa com agulha fina das porções líquidas. c) Supressão com levotiroxina. d) Tireoidectomia total. e) Radioablação com iodo 131.
Paciente assintomática e com função tireoidiana normal, apresenta múltiplos pequenos nódulos dispersos pela glândula, o maior deles tendo menos de 1 cm de diâmetro. Este quadro provavelmente representa o bócio multinodular em uma fase ainda muito incipiente, onde nem sequer houve formação de bócio propriamente dito (aumento global da glândula). Qual deve ser a conduta? Ora, o bócio multinodular atóxico costuma evoluir com o passar dos anos para bócio multinodular tóxico, porém o tratamento deve se pautar pelas manifestações clínicas presentes. Neste caso, onde nem mesmo existe bócio, não há indicação de fazer nada além de observar clinicamente o quadro. Talvez, no futuro, alguma intervenção seja necessária, mas, com certeza, não agora. Resposta certa: A.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR
16 – Paciente do sexo feminino, 40 anos, procura assistência médica devido a dor de garganta de início há 1 semana. Refere episódio de infecção das vias aéreas superiores há 20 dias. Exame físico com oroscopia normal, ausência de linfonodomegalia cervical e palpação da tireoide dolorosa. Exame laboratorial com discreta leucocitose e VHS (eritrossedimentação) = 88 mm. Qual o provável diagnóstico desse paciente? a) Doença de Graves. b) Faringite aguda estreptocócica. c) Faringite aguda viral. d) Tireoidite subaguda (De Quervain). e) Tireoidite de Hashimoto.
Bócio difuso doloroso (lembrando que bócio é qualquer aumento da tireoide), de início recente, associado a marcadores inflamatórios aumentados (leucocitose e VHS alto), principalmente em um paciente com história de infecção viral inespecífica nas últimas semanas (ex.: IVAS), é um conjunto de achados que direciona nosso raciocínio para o diagnóstico de tireoidite subaguda, também chamada de tireoidite de De Quervain. Pode ou não haver tireotoxicose associada, pelo “vazamento” de hormônio pré-formado a partir dos estoques intrafoliculares. O diagnóstico é feito em bases clínicas, considerando justamente os dados apresentados. A biópsia, no entanto, é o método padrão-ouro, indicada somente em casos de dúvida diagnóstica. O achado típico é a inflamação granulomatosa (granulomas não caseosos) do parênquima. O tratamento consiste no uso de AINEs ou corticoide, e a resolução tende a ser espontânea dentro de 2-8 semanas. Resposta certa: D.Bócio difuso doloroso (lembrando que bócio é qualquer aumento da tireoide), de início recente, associado a marcadores inflamatórios aumentados (leucocitose e VHS alto), principalmente em um paciente com história de infecção viral inespecífica nas últimas semanas (ex.: IVAS), é um conjunto de achados que direciona nosso raciocínio para o diagnóstico de tireoidite subaguda, também chamada de tireoidite de De Quervain. Pode ou não haver tireotoxicose associada, pelo “vazamento” de hormônio pré-formado a partir dos estoques intrafoliculares. O diagnóstico é feito em bases clínicas, considerando justamente os dados apresentados. A biópsia, no entanto, é o método padrão-ouro, indicada somente em casos de dúvida diagnóstica. O achado típico é a inflamação granulomatosa (granulomas não caseosos) do parênquima. O tratamento consiste no uso de AINEs ou corticoide, e a resolução tende a ser espontânea dentro de 2-8 semanas. Resposta certa: D.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR
17 – Paciente de 38 anos de idade apresenta nódulo tireóideo palpável em consulta de rotina. A ultrassonografia confirma nódulo tireóideo solitário com 1,2 cm no maior eixo. Traz exame de TSH = 0,2 mUI/L. A conduta indicada neste momento é: a) Monitorização com ultrassonografia. b) Punção aspirativa por agulha fina. c) Cintilografia de tireoide. d) Tireoidectomia parcial. e) Seguimento clínico.
O primeiro passo no algoritmo diagnóstico do nódulo tireoidiano solitário (lesão > 1 cm encontrada fortuitamente) consiste na dosagem dos hormônios tireoidianos. Isso porque o encontro de TSH suprimido (indício de hipertireoidismo) muda a sequência dos exames! Nesta circunstância, o próximo passo é a realização de uma cintilografia de tireoide. Se for demonstrado que o nódulo é “quente”, isto é, hipercaptante de iodo radioativo, o diagnóstico está dado: trata-se da doença de Plummer (adenoma tóxico) uma condição por definição BENIGNA, que tem como tratamento a enucleação do nódulo (após controle do hipertireoidismo com medicamentos, é claro). Caso o nódulo seja “frio”, o próximo passo é a PAAF (Punção Aspirativa por Agulha Fina) que permite análise citopatológica (maligno ou benigno?). Resposta certa: C.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – PI
18 – Em relação ao Carcinoma Medular da Tireoide (CMT), é CORRETO afirmar que: a) A maioria dos casos se apresenta na forma familiar, fazendo parte das síndromes de neoplasia endócrina múltipla dos tipos 2A e 2B. b) As formas familiares têm herança autossômica dominante com alta penetrância. c) O CMT é predominante no sexo masculino e apresenta- se em qualquer faixa etária. d) Apenas calcitonina é secretada. e) Os níveis basais de calcitonina estão sempre elevados, dispensando testes provocativos.
O carcinoma medular da tireoide é originário de células parafoliculares ou células C — sendo 80% dos casos esporádicos e apenas 20%, familiares —, as quais têm herança autossômica dominante com alta penetrância (A errada e B certa). As células neoplásicas produzem várias substâncias biologicamente ativas, entre elas a calcitonina (que também é secretada pelas células C normais), ACTH e prostaglandinas (D errada). Acomete mais mulheres na quinta e sexta décadas de vida (C errada). Por conta do fato de a calcitonina muitas vezes ser superestimada pelos testes diagnósticos habituais, os grandes serviços médicos dos Estados Unidos (EUA) preferem não realizar sua medida no contexto do diagnóstico do câncer. Porém, em alguns centros, usa-se o teste provocativo com pentagastrina (não disponível nos EUA) para aferir os reais valores do hormônio em questão (E errada). Resposta: B.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – PI
19 – Em relação à Síndrome de Resistência ao Hormônio Tireoidiano (SRHT), pode-se afirmar que: a) Apresenta herança autossômica recessiva. b) Sempre requer tratamento para obter-se o estado de eumetabolismo. c) Resulta de uma mutação no gene do receptor do hormônio tireoidiano, na maioria dos pacientes. d) Não acomete o coração porque os hormônios tireoidianos atuam por meio dos receptores alfa, não envolvidos na doença. e) Existe um aumento desproporcional do T3 em relação ao T4.
O termo Síndrome de Resistência ao Hormônio Tireoidiano (SRHT) se refere a qualquer condição que resulte em uma diminuição do efeito do referido hormônio nos tecidos. Isso pode acontecer por defeitos no receptor hormonal, bem como no transporte do hormônio (que pode estar reduzido) e em seu metabolismo (que pode estar acelerado). Assim, trata-se de uma síndrome com diferentes mecanismos possíveis! A forma mais comum deste RARO distúrbio é a resistência ao hormônio propriamente dita, isto é, um defeito genético no subtipo beta de receptor nuclear de T3 (forma biologicamente ativa do hormônio tireoidiano) faz com que a ação hormonal se torne reduzida (mas não totalmente bloqueada, haja vista que na maioria dos sobreviventes a resistência é “parcial”) — C certa e D errada. Esta condição tem transmissão autossômica dominante (A errada). Em geral, o próprio organismo é capaz de contornar o problema, aumentando a produção de hormônio até que o efeito adequado seja atingido, ou seja, a maioria dos pacientes é assintomática e não requer tratamento (B errada). Como a produção natural de hormônio está aumentada, há um predomínio do T4 livre em relação ao T3 livre no sangue (E errada). Resposta certa: C.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO DE PERNAMBUCO – PE
20 – Pacientes com crise tireotóxica podem apresentar todos os sintomas abaixo citados, EXCETO: a) Hipotermia. b) Psicose. c) Fibrilação atrial. d) Icterícia. e) Insuficiência cardíaca congestiva.
A hipotermia (T central < 35°C) é uma característica clínica do coma mixedematoso, complicação dos pacientes com hipotireoidismo. Na crise tireotóxica, um dos critérios diagnósticos é a presença de HIPERTERMIA (T central > 37,5°C). Logo, resposta: letra A.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PRESIDENTE DUTRA – MA
21 – Em uma mulher de 30 anos, foram evidenciados os seguintes achados: TSH: 0,001 mlU/L (VR: 0,3-0,5); T3: 300 ng/dl (VR: 70-200); T4 livre: 0,30 ng/dl (VR: 0,7-1,8); captação de iodo radioativo/24h: 3% (VR: 15-30%). Ultrassonografia de tireoide evidenciou nódulo misto de 0,5 mm no lobo direito. Qual a hipótese diagnóstica mais provável? a) Doença de Plummer. b) Tireotoxicose factícia por ingestão de T3. c) Tireoidite aguda. d) T3 toxicose. e) Bócio multinodular tóxico.
O perfil bioquímico apresentado não faz qualquer sentido fisiologicamente falando. A tireoide secreta predominantemente T4, o qual é convertido, nos tecidos, em T3, sendo este a forma biologicamente ativa. Como é possível então haver TSH suprimido, T4 reduzido e T3 aumentado? TSH suprimido e T4 reduzido são indícios de intoxicação exógena pela tiroxina. Ora, se o T3 estiver aumentado nesta situação, fica evidente que a paciente está tomando doses excessivas de T3 puro, isto é, trata-se de uma tireotoxicose factícia pelo T3. Resposta certa: B.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – GO
22 – Paciente de 37 anos apresenta bócio difuso discreto, elevação de T4 livre, supressão de TSH e captação de radioiodo elevada na 2a hora, mas normal da 24a hora. Considerando o caso clínico: a) A tireotoxicose por tireoidite é o diagnóstico mais provável. b) O uso de antitireoidiano por 18 a 24 meses quase sempre leva à cura. c) O anticorpo para o receptor de TSH geralmente está elevado nessa doença. d) A contaminação por iodo deve ser descartada.
Bócio difuso indolor, numa mulher jovem, por si só já é um indício de provável doença de Graves, a principal causa de hipertireoidismo na prática. A demonstração de TSH suprimido e T4 livre aumentado confirma a existência de excesso de hormônio tireoidiano, e a captação de iodo aumentada nas primeiras horas (mas normal na 24a hora, pois neste momento já houve o clearance do iodo ministrado que não foi captado pela glândula) demonstra a existência de HIPERtireoidismo, isto é, o parênquima tireoidiano está ávido por captar iodo a fim de sustentar a produção aumentada de hormônio. Este último dado, inclusive, afasta a possibilidade de tireotoxicose por tireoidite, haja vista que nas tireoidites a captação está reduzida (o excesso de hormônio é decorrente do “vazamento” do hormônio pré-formado que estava estocado nos folículos, não havendo aumento na produção hormonal — consequentemente, a glândula não está “ávida” por captar mais iodo). O mecanismo fisiopatológico da doença de Graves é a produção de um autoanticorpo direcionado contra o receptor de TSH (TRAb), cuja ligação ao referido receptor exerce efeito estimulatório, gerando o hipertireoidismo. O tratamento puramente clínico da doença de Graves é feito com tionamidas (drogas antitireoidianas), obtendo taxa de sucesso, após 18-25 meses, em cerca de 30-50% dos casos apenas. Numa contaminação por iodo, a captação de iodo radioativo também estaria reduzida, devido a um mecanismo compensatório de redução dos canais de iodo nas células foliculares em resposta ao excesso de iodo exógeno. Logo, resposta certa: C.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 (ACESSO DIRETO DISCURSIVA) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP
23 – Mulher de 75 anos de idade, hipertensa, diabética, em uso de losartana 50 mg/dia e metformina 2 g/dia, há um ano vem com fibrilação atrial, que foi tratada com amiodarona 200 mg e tentativa de cardioversão elétrica sem sucesso. A paciente se manteve em fibrilação atrial e, há 3 meses, passou a apresentar apatia, ganho de peso e constipação. A paciente sempre foi independente para as atividades diárias. Em relação a este caso, responda: qual a sua principal hipótese diagnóstica para este quadro clínico de 3 meses e qual a sua provável etiologia?
Como a amiodarona é uma das drogas mais associadas à disfunção tireoidiana, todo paciente que faz ou fez uso deste antiarrítmico deve ter um baixo limiar de suspeição diagnóstica para problemas tireoidianos diante de sinais e sintomas condizentes com tal possibilidade. É o caso da nossa paciente, que há um ano foi exposta à amiodarona e há três meses vem evoluindo com apatia , ganho de peso e constipação (achados relativamente inespecíficos que, quando presentes em conjunto em um mesmo paciente, ainda mais em uma mulher idosa, devem nos fazer pensar em hipotireoidismo). Sabemos que a amiodarona pode provocar tanto hipo quanto hipertireoidismo, dependendo do fator predisponente. No caso do HIPOtireoidismo, o mecanismo fisiopatogênico geralmente é o seguinte: a amiodarona é uma molécula que contém muito iodo em sua estrutura. Quando o paciente toma amiodarona, ele expõe suas células foliculares tireoidianas a uma grande “carga” súbita de iodo. Fisiologicamente, as células foliculares “se defendem” deste excesso de iodo da seguinte forma: “desligando” a captação de iodo pelos canais da membrana plasmática, além de “desligar” também as enzimas que organificam e incorporam o iodo ao hormônio que será estocado no coloide folicular. Todo este processo é conhecido como efeito de Wolff-Chaikoff. O efeito de Wolff-Chaikoff é transitório quando a glândula é saudável, porém, se já existir previamente algum distúrbio tireoidiano — como a tireoidite de Hashimoto, por exemplo — o efeito de Wolff-Chaikoff tende a ser mais prolongado ou permanente, e a célula folicular não consegue mais “escapar” daquela inibição da captação e síntese de hormônio tireoidiano que foi induzida pela carga aguda de iodo. Muitas vezes o paciente não era hipotireóideo, isto é, seu Hashimoto estava em uma fase subclínica, mas a persistência do efeito de Wolff-Chaikoff acaba desencadeando franco hipotireoidismo com o passar do tempo, pois as reservas endógenas do hormônio se esgotam e a glândula não produz mais hormônio novo, fazendo os múltiplos órgãos e tecidos do corpo começarem a dar sinais de carência do hormônio tireoidiano.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 (ACESSO DIRETO 1) SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS SÃO PAULO – SP
24 – Considere a paciente aqui retratada: Trata-se de mulher cronicamente doente, com tratamento irregular. Dos dados abaixo, os mais prováveis de serem encontrados em sua evolução clínica são: a) Hemoglobina de 7,8 g/L e VCM de 75 fl. b) Pulso de 120 bpm e aldolase elevada. c) Galactorreia e menorragia. d) Hb glicada de 8,7% e obstipação. e) Reflexos profundos exaltados e depressão.
O que podemos notar na foto apresentada na questão? A presença de um rosto arredondado, com nariz e lábios infiltrados, expressão desanimada e rarefação das sobrancelhas, o que é compatível com a fácies MIXEDEMATOSA, característica do hipotireoidismo. Neste contexto, temos que lembrar que o hipotireoidismo cursa com algumas manifestações clínicas envolvendo o sistema reprodutor, como amenorreia ou menorragia e galactorreia. Alternativa C – CORRETA.