Hemoglobinopatias - 18m Flashcards

1
Q

Qual a genética envolvida na gênese da doença falcêmica?

A

São 2 genes que codificam a globina beta das Hbs, havendo uma codominância. Quando a pessoa apresenta os genes beta normais, a Hb produzida é a HbA. Quando apresenta ambos os genes com betaS (“sickle”), ou seja, homozigoto SS, há a produçção de HbS SEM PRODUZIR HbA. Quando há heterozigose S, ou seja, apenas 1 gene betaS e 1 beta normal, são produzidas HbS e HbA.

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2
Q

Quais os espectros clínicos da doença falcêmica?

A

Anemia falciforme: quadro grave, homozigoto SS, ausência de produção de HbA (apenas HbS, HbA2 e HbF). Traço falcêmico: quadro leve, bom prognóstico, proteção contra malária, heterozigoto S, produção de HbS e HbA (além da HbA2 e HbF).

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3
Q

Como são produzidas as HbA2 e HbF?

A

HbA2: 2 cadeias alfa e 2 deltas. HbF: 2 alfa e 2 gamas - são produzidas até os 6m e são mais fáceis de produzir do que a HbA2.

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4
Q

Quais as características da HbS que promovem a fisiopatogenia da doença falcêmica?

A

A HbS possui baixa solubilidade (maior hidrofobicidade), fazendo com que ela se polimerize mais facilmente (afoiçando a hc e diminuindo sua deformabilidade). Essa polimerização é precipitada pela hipóxia (a forma HbS-desoxigenada é a que precipita), acidez (efeito Bohr - diminui afinidade da Hb pelo O2 - mais HbS-desox) e a desidratação celular. Além disso, a HbS apresenta instabilidade moelcular, favorecendo a oxidação das estruturas da hc.

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5
Q

Qual a relação das outras Hbs com a HbS?

A

A presença de outras Hbs dentro da hc diminuem a capacidade da HbS em se polimerizar, pois diminui a desoxigenação dela. Isso é especialmente importante no caso da HbF, em que essas Hbs possuem alta afinidade pelo O2 e permitem as HbS se manterem oxigenadas pela maior quantidade de O2 atraída pela HbF. Ou seja, as outras hbs (especialmente a HbF) são protetoras para a polimerização da HbS.

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6
Q

É possível reverter o afoiçamento das hcs? Explique.

A

Sim, uma vez corrigida a condição que promoveu a polimerização e o afoiçamento (hipóxia, acidose e/ou desidratação), a célula pode retornar a seu formato normal. Após um certo período, a hc se torna irreversivelmente em forma de foice.

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7
Q

Quais as consequências das modificações da HbS para a hemácia?

A

Além do afoiçamento dela, a produção constante de radicais livres (mesmo pelas hcs NÃO polimerizadas, mas com HbS) promove estresse oxidativo intracelular constante, promovendo alterações de MP (explica a irreversibilidade do afoiçamento após 15 dias), lise osmótica ou mecânica intravascular, desidratação celular e modificações antigênicas na MP (lesão endotelial, resposta inflamatória e destruição pelo baço).

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8
Q

Quais as consequências da HbS e das hcs com HbS para o organismo?

A

As hcs com HbS são “agentes do caos”: 1) Hemólise (intra e extravascular). 2) Disfunção endotelial. 3) Inflamação crônica (o falcêmico é constantemente inflamado). 4) Fenômenos vaso-oclusivos.

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9
Q

Onde e por que ocorre a hemólise na anemia falciforma (AF)?

A

Extravascular (2/3): presença de moléculas na MP reconhecidas por macrófagos (especialmente esplênicos) e hcs enfoiçadas são fagocitadas. Intravascular: ruptura da célula pelo estresse oxidativo constante.

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10
Q

Como ocorre a disfunção endotelial na AF?

A

Ocorre pela hemólise intravascular, que promove, principalmente, a depleção de NO (antitrombótico, anti-inflamatório e vasodilatador). Além disso, a própria alteração da MP promove uma resposta inflamatória sistêmica crônica, protencializando a disfunção endotelial.

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11
Q

Qual a consequência da disfunção endotelial?

A

Fibrose e hiperplasia dos vasos de maior calibre (favorece trombose in situ), hipercoagulabilidade (tromboses), fenômenos vaso-oclusivos (moléculas de adesão na hemácia alterada e no endotélio).

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12
Q

Por que ocorre a vaso-oclusão capilar na AF?

A

Adesão das hcs ao endotélio, lentificando o fluxo local, e impactação e empilhamento das hcs alteradas. A estase promove hipóxia e acidose, generalizando o afoiçamento, promovendo a obstrução microvascular.

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13
Q

Quais as consequências para o organismo da vaso-oclusão capilar da AF?

A

É o fator que promove os FENÔMENOS ÁLGICOS da AF. Porém, além disso, promove também disfunção orgânica lentamente progressiva (pequenos infartos teciduais progressivos).

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14
Q

Por que ocorre a inflamação sistêmica na AF?

A

Pela hemólise intravascular e pela isquemia tecidual. A inflamação sistêmica promove ativação e disfunção endotelial, que favorece fenômenos vaso-oclusivos, que infartam mais tecidos e aumentam ainda mais a inflamação (ciclo vicioso).

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15
Q

Quais as alterações laboratoriais da AF?

A

Como qualquer outra anemia hemolítica, a hemólise crônica promove anemia, reticulocitose, aumento de BI e LDH e queda na haptoglobina. Pode haver aumento do VCM pela reticulocitose. Pela inflamação crônica sistêmica, espera-se leucocitose e trombocitose, além de aumento do PCR.

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16
Q

Qual a relação da VHS com a AF?

A

A VHS está sempre baixa nesses pacientes, mesmo com inflamação sistêmica exacerbada, pis as hemácias falciformes promovem isso.

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17
Q

Quais os achados do esfregaço de sangue periférico da AF?

A

Hemácias afoiçadas, policromasia, corpúsculos de Howell-Jolly (sinal de asplenia) e hcs em alvo.

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18
Q

Como confirmar o dx de AF?

A

Eletroforese de hb.

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19
Q

Como e quando fazer o rastreio pré-natal para AF?

A

Através da bx de vilo coriônico em ambos os pais com traço falcêmico ou ambos com homozigose SS.

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20
Q

Como fazer o rastreio neonatal para AF? Quais os significados de cada padrão?

A

Através do teste do pezinho. Normal: FA. Traço falcêmico: FAS. Anemia falciforma: FS.

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21
Q

Perfil de distribuição das Hbs na AF e principais variantes falcêmicas.

A

.

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22
Q

Qual o QC da AF? Quando se inicia?

A

Hemólise crônica + múltiplas disfunções orgânicas: crises álgicas recorrentes (fenômenos vaso-oclusivos). Os principais órgãos alvo são baço, rins, ossos, cérebro, pulmões, pele e coração. O quadro se inicia quando os níveis de HbF começam a diminuir (após 6m de vida).

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23
Q

Quais condutas são capazes de alterar a morbimortalidade da AF (terapia modificadora de doença)?

A

Profilaxia contra pneumococo, reativação da síntese de HbF, hemotransfusão e uso de quelantes de ferro. São as modalidades de tto crônico.

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24
Q

Qual a principal causa de óbito em crianças falcêmicas?

A

A sepse por germes encapsulados (especialmente o pneumococo).

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25
Q

Qual a conduta para evitar/diminuir a morbimortalidade pelo pneumococo?

A

Vacinação antipneumocócica e uso profilático de penicilina.

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26
Q

Em quais casos eu vou fazer a profilaxia para pneumococo?

A

Em TODOS os casos de AF.

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27
Q

Como fazer a vacinação para pneumococo?

A

< 2a: vacina 13-valente em 3 doses com intervalos de 6-8 semanas à partir do 2° mês de vida (2-4-6° meses) com reforço as 12m. Aos 2 e 7 anos aplica-se a vacina 23-valente.

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28
Q

Como fazer a antibioticoprofilaxia para pneumococo?

A

Penicilina V oral iniciada no 2° mês de vida. Em pacientes s/ sepse ou esplenectomia cx, eu paro com 5 anos. Agora caso sepse ou esplenecto, profilaxia ad eternum.

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29
Q

Por que é feita reativação da produção de HbF na AF e como é feito isso?

A

Pois os níveis de HbF são inversamente proporcionais à gravidade da AF (lembrar que a HbF diminui o afoiçamento das hcs). É feita com hidroxiureia.

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30
Q

Como fazer a hemotransfusão na AF?

A

2 formas: simples e de troca parcial (exsanguineotransfusão parcial).

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31
Q

Quando fazer a simples e quando fazer a de troca parcial?

A

Ambas podem ser realizadas pontualmente (episódica), porém para tranfusão crônica, usar apenas a exsanguineotransfusão parcial pelo menor risco de sobrecarga por ferro.

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32
Q

Como a transfusão simples altera a Hb?

A

1 bolsa em adultos aumenta a Hb em 1 g/dl. Devo visar um máximo de Hb = 10 e Ht = 30%, pois mais que isso aumenta muito a viscosidade sanguínea.

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33
Q

O que é feito na transfusão de troca parcial?

A

Parte das hcs falcêmicas é remoovida da circulação em troca de hcs normais.

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34
Q

Quais as principais complicações transfusionais?

A

Aloimunização (reação hemolítica tardia), sobrecarga de ferro e infecções virais hemotransmissíveis (HIV, HBV, HCV e HLTV).

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35
Q

Por que é feito quelantes de ferro no paciente com AF?

A

Pois as transfusões contínuas promovem maior risco de acúmulo de ferro (hemocromatose secundária) com suas respectivas complicações (cirrose, miocardiopatia dilatada, insuf pancreática). São eles: deferoxamina (EV) e deferasirox (VO).

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36
Q

Quando indicar cada terapia modificadora da AF?

A

.

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37
Q

Quais outras terapias podem ser realizadas no paciente com AF?

A

Reposição de folato (hemólise crônica - fazer em TODO falcêmico 1 mg/dia) e outras vitaminas, flebotomias (para hiperviscosidade sanguínea), Epo, transplante de MOV (mais eficaz em < 16a).

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38
Q

Qual o tto das manifestações AGUDAS da AF?

A

Hidratação (EVITAR a hiperidratação), O2 (quando SaO2 < 92% - EVITAR a hiperoxigenação), analgesia (incluindo opioides) e ATB (que cubra germes encapsulados - beta lactâmicos -, podendo ou não associar macrolídeos).

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39
Q

Quando fazer ATB na crise aguda de AF?

A

Febre ≥ 38,5, baixa PA, Hb < 5, leuco > 30.000 e SEMPRE que houver síndrome torácica aguda.

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40
Q

Quais as complicações agudas da AF?

A

Crises álgicas (sd mão pé, crise óssea), crises anêmicas (sequestro esplênico, crise megaloblástica, aplásica), sd torácica aguda (STA) e AVE.

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41
Q

Qual a causa das crises álgicas?

A

A vaso-oclusão no interior da MOV produzindo infarto ósseo.

42
Q

Qual a diferença entre a sd mão pé e a crise óssea?

A

Mão pé: 1a manifestação álgica em crianças menores que 2-3 anos (ocorre até essa idade apenas), localizada em extremidadas, faz uma dactilide falcêmica com dor e o rx está normal. Crise óssea: > 3a, ossos longos, há dor mas SEM dactilite e o rx está normal.

43
Q

Quais os fatores desencadeadores das crises álgicas da AF?

A

Cx, desidratação, frio, gestação, álcool, menstruação.

44
Q

Qual a conduta na crise álgica da AF?

A

Analgesia, hidratação (não hiperidratar para evitar hipervolemia iatrogênica - lembrar que esses pacientes com AF costumam apresentar disfunção cardíaca crônica). A hemotransfusão NÃO tem papel no controle da dor.

45
Q

Quais as causas e qual o tto da dor crônica na AF?

A

Ocorre por fraturas vertebrais, osteonecrose da cabeça do fêmur/úmero, úlceras cutâneas. O tto é com opioides, ADT e agentes anticonvulsivantes.

46
Q

Comente sobre a crise anêmica na AF.

A

Como a meia vida das hcs do falcêmico é muito baixa (~17d), a capacidade de produção medular está em seu máximo, fazendo com que qualquer distúrbio que altere minimamente essa produção possa promover a crise anêmica (agravamento da anemia com risco imediato à vida).

47
Q

Qual o achado da crise aplásica na AF e quais suas causas?

A

Exacerbação da anemia com reticulocitopenia. A principal causa é infecção da medula pelo parvovírus B19, porém em aldultos é a infecção por Salmonella, pneumococo e outras bactérias. Pode ocorrer também por infarto extenso da MOV (crise álgica, febre, leucoeritroblastose).

48
Q

Qual o tto da crise aplásica?

A

Transfusão simples conforme necessidade.

49
Q

Qual a patogenia do sequestro esplênico?

A

Há um fenômeno vaso-oclusivo que promove o represamento de sangue no interior do baço, “entupindo” ele e promovendo sua congestão (sequestro de hcs) + hemólise esplênica = esplenomegalia.

50
Q

O que caracteriza laboratorialmente o sequestro esplênico?

A

Uma queda nos níveis de hb com aumento da reticulocitose. É comum haver também plaquetopenia

51
Q

Quando ocorre o sequestro esplênico na AF?

A

APENAS até os 5 primeiros anos de vida.

52
Q

Por que o sequestro esplênico ocorre apenas até os 5 anos de vida nos pacientes com AF?

A

Pois após esse período, a maioria das crianças já completou a autoesplenectomia: destruição do parênquima esplênico em decorrência dos infartos progressivos e lentos da AF por fenômenos vaso-oclusivos. O baço desses pacientes, portanto, é totalmente atrófico (“bola de fibrose”), sem condições de fazer um sequestro.

53
Q

Qual minha conduta em caso de sequestro esplênico na AF?

A

ESPLENECTOMIA.

54
Q

Qual a importância do baço na AF?

A

A crianças com AF é hipoesplênica, sendo necessária a profilaxia contra o pnuemococo.

55
Q

É possível haver uma criança com AF > 5a com esplenomegalia?

A

SIM, em crianças que continuam a produzir a HbF -> há menos eventos vaso-oclusivos e menos infartos esplênicos, não havendo essa auto-esplenectomia.

56
Q

Qual a causa de crise hiper-hemolítica na AF?

A

A aloimunização com reação hemolítica tardia.

57
Q

Por que as pessoas com AF são mais predispostas à infecção?

A

Pois apresenta hipoesplenismo, havendo menor capacidade de remover bactérias da circulação, aumentando muito o risco de infecções invasivas por germes encapsulados.

58
Q

Qual infecção é importante e apresenta frequência aumentada na AF? Qual o agente?

A

A osteomielite, principalmente por Salmonella e S. aureus.

59
Q

Qual a relevância da presença de febre no paciente com AF?

A

Febre ≥ 38,5° no paciente com AF deve ser interpretado como infecção por pneumococo até que se prove o contrário, devendo internar o paciente e iniciar ATB (escolha = ceftriaxona; posso usar vancomicina caso resistência).

60
Q

Quais os tipos de AVE que a AF predispõe?

A

AVCi (mais comum, principalmente em crianças - déficits cognitivos) e AVCh (masi comum em adultos - HSA, HCE, … por ruptura de aneurismas - maior incidência na AF).

61
Q

Qual alteração do SNC possui incidência aumentada nos falcêmicos? Explique.

A

A doença de Moyamoya, que é uma hiperproliferação de vasos colaterais a partir de uma grande artéria cerebral, dando o aspecto de nuvem de fumaça saindo da ponta de um cigarro. Essa região é friável e pode sofrer ruptura e/ou trombose com facilidade.

62
Q

Como fazer profilaxia 2ária ao AVE? Comente sobre outras indicações dessa terapêutica.

A

Transfusão de troca parcial crônica (exsanguineotransfusão) - efeito redutor muito rápido na HbS, sendo indicada nas crises vaso-oclusivas potencialmente fatais (STA com insuficiência respiratória, AVEi) ou de alta morbidade (priapismo refratário).

63
Q

Qual a principal causa de óbito em falcêmicos hoje?

A

As complicações pulmonares, como a síndrome torácida aguda (STA). Outras: hipertensão pulmonar, pnm e sequestro pulmonar.

64
Q

O que é a STA?

A

É a presença de infiltrados pulmonares novos no exame de imagem, que se associam a pelo menos 1 dos seguintes achados: febre, tosse, dor torácica, secreção purulenta, dispneia ou hipoxemia. OU SEJA, é extremamente semelhante a uma pneumonia típica.

65
Q

Quais os desencadeantes da STA?

A

Vaso-oclusão capilar pulmonar e infecção. Uma importante em adultos é a embolia gordurosa por crise óssea causada por infarto ósseo.

66
Q

Qual a evolução da STA?

A

Evolui de forma grave para SDRA (36-48h).

67
Q

Qual o tto da STA?

A

Suporte (hidratação, O2, analgesia) + ATB empírico, transfusão de troca parcial.

68
Q

Quais as complicações hepatobiliares da AF?

A

Colelitíase por cálculos de bilirrubinato de cálcio (cálculos pretos e radiopacos), crise de sequestro hepático e crise hepatocelular aguda.

69
Q

Qual é uma importante disfunção orgânica crônica da AF?

A

A IR terminal (HAS, proteinúria, hematúria, …). Lembrar que promove DRC terminal com rins aumentados ou normais.

70
Q

Quais outras alterações renais da AF?

A

Necrose de papila, GEFS e aumento no risco de Ca medular de rim.

71
Q

Quais as complicações oculares da AF?

A

A retina é um órgão-alvo da AF, promovendo fístulas AV, hemorragias e aneurismas, além de neovascularização (retinopatia falcêmica). Todo falcêmico deve realizar fundoscopia anual

72
Q

Quais as complicações ósseas crônicas da AF?

A

De forma semelhante ao baço, à isquemia constante dos ossos, podendo promover osteonecrose, isquemia do osso cortical (aspecto de “boca de peixe”). Pode ocorrer também osteomielite por Salmonella ou S. aureus e artrite séptica por pneumococo.

73
Q

Quais manifestações crônicas na pele da AF?

A

Úlceras cutâneas crônicas.

74
Q

Quais manifestações crônicas no coração da AF?

A

O estado crônico de aumento de DC promove dialatação das câmaras cardíacas - cardiomegalia, sopros mitrais e tricúspide, baixa reserva cardíaca, congestão pulmonar, IC por microinfartos.

75
Q

Quais as complicações obstétricas da AF?

A

Agrava a doença tanto materna quanto promove riscos fetais.

76
Q

Quais outras crises podem ocorrer na AF?

A

Crises abdominais (isquemia e infarto abdominal), hipertensão pulmonar (por TEP crônico ou ICC), priapismo.

77
Q

Qual a variante falcêmica mais frequente na prática?

A

O traço falcêmico - heterozigose betaS e beta normal.

78
Q

Qual o achado na eletroforese de hb de uma pessoa com traço falcêmico?

A

Cerca de 40% é HbS e 60% HbA, pois a cadeia betaA é mais eletronegativa que a betaS e a ligação preferencial da cadeia alfa fica com a beta A.

79
Q

Qual o QC do traço falcêmico?

A

São essencialmente assintomáticos, não havendo anemia ou crises vaso-oclusivas. A expectativa de vida é idêntica à população normal.

80
Q

O traço falcêmico pode dar manifestações?

A

Sim, especialmente em ambientes com baixa tensão de O2 (escaladas, voos despressurizados). A lesão renal também ocorre invariavelmente (necrose de papila) e há maior risco de ca medular renal.

81
Q

O que é e quais os tipos de talassemias?

A

São hemoglobinopatias em que há a deficiência na produção das cadeias de globina. Pode ser beta ou alfa.

82
Q

Qual a epidemiologia da beta talassemia?

A

Descendentes de países banhados pelo mediterrâneo: italianos, gregos, turcos, franceses, espanhois, …

83
Q

Quais os genes envolvidos na beta talassemia?

A

beta0 (não produz cadeia beta) e beta+ (produz cadeia beta mas em quantidade insuficiente).

84
Q

Quais os tipos de beta talassemia e qual o genótipo de cada tipo?

A

Major (anemia de Cooley): beta0/beta0 (homozigotos beta0) ou beta0/beta+ (duplo heterozigotos). Minor (traço talassêmico): heterozigotos (beta0/beta ou beta+/beta). São totalmente assintomáticos. Intermédia: homozigotos beta+ (beta+/beta+).

85
Q

Qual a fisiopatogenia da beta talassemia?

A

A produção insuficiente ou ausente das cadeias beta promovem diminuição da síntese de hb (microcitose, hipocromia e anemia) e sobram cadeias alfa no citoplasma do eritroblasto, que precipitam e destroem os eritroblastos, pois são extremamente tóxicas (eritropoiese ineficaz). As hcs que sobrevivem originam hcs defeituosas (corpúsculos de inclusão - cadeias alfa), que as tornam suscetíveis à fagocitose no baço (hemólise extravascular). Há, ainda, um estímulo para a absorção de ferro intestinal pela eritropoiese ineficaz –> hemossiderose/hemocromatose eritropoiética. A enorme liberação de Epo estimula a eritroipoiese extra-medular.

86
Q

Qual o QC da beta talassemia major?

A

Instalação à partir dos 3-6m (pois nesse faixa não há necessidade de cadeias beta pois há a produção de HbF) de anemia grave, icterícia, hiperplasia eritroide MUITO grande, causando deformidades ósseas talassêmicas (proeminência dos maxilares/fácies talassêmico ou de esquilo, aumento da arcada dentária superior), BAIXA ESTATURA (pois as reservas energéticas estão sendo usadas para a hiperplasia eritroide), litíase biliar, HEPATOESPLENOMEGALIA (eritropoiese extramedular), hemocromatose transfusional.

87
Q

Quais os achados radiográficos da beta talassemia major?

A

Alargamento da cavidade medular e o “hair-on-end” ou cabelos na extremidade.

88
Q

Qual o prognóstico da beta talassemia major?

A

Péssimo, pois, apesar de o déficit de crescimento, infecções e deformidades ósseas puderem ser contornados pela hipertransfusão regular, há o acúmulo de ferro no organismo promovendo hemocromatose transfusional.

89
Q

Qual o laboratório da beta talassemia major?

A

Anemia hipo/micro (VCM < 72, geralmente), laboratório de hemólise. Esfregaço de sangue periférico: anisopoiquilocitose, leptócitos (hc em alvo), eritroblastose (hc nucleada).

90
Q

Comente sobre a beta talassemia intermedia.

A

Quadro mais brando, cronicamente anêmicos, deformidades ósseas, incterícia, litíase biliar e esplenomegalia moderada. Também há acúmulo de ferro progressivo, mas mais lentamente.

91
Q

Qual o laboratório da beta talassemia intermedia?

A

Idem major, exceto pelo grau de anemia.

92
Q

Comente sobre a beta talassemia minor.

A

Entidade BENIGNA, heterozigotos (traço talassêmico), assintomática, descoberta acidental. Microcitose, hipocromia, hc em alvo.

93
Q

Como diferenciar beta talassemia minor de anemia ferropriva?

A

O VCM da beta é muito menor, o RDW está normal e não altera a cinética do ferro. Na ferropriva, o RDW está alterado, bem como a cinética do ferro.

94
Q

Como é feito o dx das beta talassemias?

A

Eletroforese de Hb (altos níveis de HbA2 > 3%).

95
Q

Qual o tto das beta talassemias?

A

Major: hipertransfusão crônica (reduz Epo e a anemia - melhora qualidade de vida e reduz mortalidade), quelantes de ferro, esplenectomia, transplamnte de medula (respondem muito bem). Minor: aconselhamento genético (não exige outro tratamento). Intermédia: depende (hemotransfusão, folato, quelantes de ferro).

96
Q

Qual a relação genética da alfa talassemia com o QC?

A

São 4 genes alfa, sendo que só começa a dar sintomas com a deleção de pelo menos 3 genes.

97
Q

Quais as formas clínicas da alfa talassemia?

A

Minor: 1-2 genes alfa perdidos. Doença da HbH: 3 gentes perdidos. Hidropsia fetal: ausência de gene alfa (4 deleções).

98
Q

Qual o QC de cada forma de alfa talassemia?

A

Hidropsia fetal: incompatível com a vida extrauterina - natimorto ou nascido com hidropsia fetal rapidamente fatal. Há a união de cadeias gama (Hb de Barts), que não liberam O2 para os tecidos pois são muito ávidas por O2. Doença da HbH: hemólise extra-vascular, anemia, esplenomegalia. Minor: assintomáticos com microcitose e hipocromia no hemograma e anisopoiquilocitose no esfregaço.

99
Q

Como é feito o dx das alfa talassemias?

A

Eletroforese de Hb.

100
Q

Qual o tto das alfa talassemias?

A

Feito apenas na doença HbH, podendo fazer quelante de ferro, hemotransfusão, folato, esplenectomia.